Os vinhos dos nuestros hermanos
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A nossa vizinha Espanha não é só um dos principais players no mercado de vinho a nível mundial, como é um dos países do velho mundo mais dinâmicos. A diversidade climática e varietal, investimento, empreendorismo e ambição […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A nossa vizinha Espanha não é só um dos principais players no mercado de vinho a nível mundial, como é um dos países do velho mundo mais dinâmicos. A diversidade climática e varietal, investimento, empreendorismo e ambição são os factores essenciais para o seu sucesso no palco internacional. A amplitude de oferta é impressionante, variando de vinhos de qualidade consistente a preços acessíveis, até vinhos de culto e colecção, cotados nos leilões especializados. As regiões de Rioja e Priorato são bons exemplos desse sucesso.
TEXTO: Valéria Zeferino
De acordo com os mais recentes dados da OIV, Espanha é o país com maior área de vinha plantada (969 mil hectares), a contribuir com 13% das plantações mundiais. Nos cinco primeiros também estão China com 12%, França com 11%, Itália com 9% e Turquia com 6%, tendo em conta que na China e na Turquia apenas 10% e 3% de uva produzida, respectivamente, é destinada à produção de vinho. Em termos de volume de produção, Espanha com 44 milhões de hectolitros ocupa o terceiro lugar, a seguir a França e Itália. Quase metade do vinho produzido vai para exportação, sendo a Espanha o maior exportador de vinho em volume, ficando no 3º lugar em valor, novamente a seguir a França e Itália.
No século passado, a partir dos anos 60 começaram as mudanças radicais em termos de enologia – cubas de inox e controlo de temperatura, o que era particularmente importante para as regiões mais quentes como La Mancha e Levante. Acontece que a modernização traz os benefícios em paralelo com uma certa desvalorização da identidade tradicional. Em muitas regiões, as castas internacionais tomaram o lugar das locais para, no futuro, dar início ao movimento inverso. Nos anos 90, as tendências internacionais assentavam em uvas sobremaduras, muita extracção, muita barrica nova (até 200%!). Ao mesmo tempo os tradicionais estágios prolongados muitas vezes não foram ditados por razões de qualidade, sendo consequência de falta de encomendas.
A produção era, e ainda é, dominada pelas grandes empresas que compram uvas e vinho em todo o país, mas recentemente desenvolveu-se uma nova geração de produtores fortemente orientados para o terroir, que cultivam a sua vinha, experimentam, encontrando o seu próprio conceito e equilíbrio entre o moderno e o tradicional. Há mais de 70 denominações de origem em Espanha, mas apenas duas são distinguidas como DOCa – Denominacione de Origen Calificada, que é considerado de qualidade superior – Rioja e Priorat.
Rioja: história, tradição e fama
É a região vitivinícola de Espanha mais conhecida internacionalmente, com maior peso histórico, grande tradição e com movimento modernista presente. A DOCa Rioja com mais de 65.000 hectares de vinha fica no norte de Espanha, nas margens do rio Ebro, e é dividida em três sub-regiões: Rioja Alta, Rioja Alavessa e Rioja Oriental (chamada Rioja Baja até 2018).
A Rioja Alta é a parte mais ocidental da região com maior área de vinha. Tem altitude mais pronunciada e, mesmo com protecção da Serra de Cantabria, recebe alguma influência Atlântica, providenciando condições mais frescas. A Rioja Alavesa é representada por dois enclaves em Rioja Alta e fica no território de País Basco, na província Álava que originou o seu nome. A Rioja Oriental fica a sudeste da Rioja Alta, onde o clima é mediterrânico com menos precipitação e condições mais quentes.
A proximidade com Bordeaux explica a influência nas práticas de vinificação em Rioja. Na segunda metade do século XIX, quando o míldio e a filoxera devastaram as vinhas em França, os negociantes franceses passaram a comprar vinho em Rioja, onde estas desgraças chegaram muito mais tarde (só em 1901), quando já se aprendeu a lidar com filoxera, usando porta-enxertos americanos. A prática corrente em Rioja naquela altura era a maceração carbónica (hoje também é popular para obter vinhos mais frutados e menos taninosos para consumo mais rápido).
Graças aos técnicos franceses, foram introduzidas as barricas de carvalho de 225 litros. A popularidade de carvalho americano deve-se ao menor custo em comparação com o carvalho francês e ao comércio transatlântico desenvolvido. Hoje em dia, muitos produtores usam também o carvalho francês. O parque de 1.3 milhões de barricas em Rioja deve ser o maior do mundo.
Os tempos de estágio são longos e rigorosamente regulamentados para as categorias tradicionais de Crianza, Reserva e Gran Reserva. Por exemplo, para Crianza tinto é obrigatório um estágio de 2 anos, dos quais 1 ano em barrica; para Reserva – 3 anos, dos quais 1 ano em barrica; para certificar um vinho como Gran Reserva, o estágio terá de ser no mínimo de 5 anos, dos quais 2 anos em barrica. Actualmente, muito dos novos produtores que cultivam vinhas próprias, preferem nos seus vinhos de topo enfatizar o terroir do que preocuparem-se com designativos “reservas” e estágios obrigatórios.
A casta Tempranillo (que é a nossa Tinta Roriz/Aragonez) é a rainha das vinhas e dos vinhos em Rioja; ocupa 87% da plantação. Outras são Garnacha Tinta, Graciano (a nossa Tinta Miúda), Mazuelo (aka Carignan) e Maturana Tinta. Nos encepamentos brancos predomina a Viura que é o nome local para Macabeo.
Marqués de Riscal é uma das propriedades lendárias da Rioja, e uma das mais antigas, fundada em 1858. Foi o enólogo frances Jean Pineau que tratou da produção no início. O projecto actual inclui o majestoso e futurista edifício “City of Wine” desenhado pelo prestigiado arquitecto Frank Gehry, onde fica o hotel e um restaurante de estrela Michelin.
É uma empresa que concilia uma grande produção com altos padrões de qualidade e faz parte das 50 marcas de vinho mais admiradas do mundo. Para o Gran Reserva utilizam apenas uvas das vinhas com mais de 80 anos de idade (próprias e dos seus fornecedores habituais). É uma das expressões clássicas da Tempranillo. Estagia quase 3 anos em barrica de carvalho francês e mais 3 anos em garrafa antes de ser lançado para o mercado.
La Rioja Alta é também um dos produtores clássicos em Rioja. Foi fundada em 1890 por cinco famílias e gerida por uma mulher, Doña Saturnina García Cid y Gárate. Em 1904 houve uma fusão com a Bodega Ardanza. Ambas as datas são homenageadas nos seus vinhos de topo Gran Reservas 890 e 904.
Conta com 420 hectares de vinhas nas três sub-regiões da Rioja, em conversão para viticultura orgânica, e com uma tanoaria própria. Ao contrário do que é habitual nas casas clássicas da região, não compram nem um bago de uva, e, independentemente da área considerável, toda a vinha é trabalhada manualmente. O Gran Reserva é uma expressão de 90% Tempranillo com mais de 60 anos e 10% de Graciano. Estagiou em barricas de 4º ano de carvalho americano durante 4 anos e foi engarrafado em 2015.
Bodegas LAN foram fundadas em 1972 e em 2012 adquiridas pela Sogrape. O nome LAN representa os iniciais das províncias que compõem a denominação de origem Rioja: Logroño (agora La Rioja), Álava e Navarra.
Possuem 70 hectares de vinha e o resto das uvas compram aos produtores locais. Apostam em estágios longos e gerem o seu enorme parque de 25.000 barricas dos mais diversos tipos de madeira (carvalho francês, americano, húngaro, russo etc.) e até barricas híbridas com aduelas de um tipo de madeira e tampas de outro.
As uvas para o LAN A Mano provêm de uma parcela de 5 ha de vinha situada em Rioja Alta, a uma altitude de 491 metros acima do mar. As vinhas têm 35-40 anos de idade. Tempranillo com 87% predomina no lote, com 9% de Mazuelo e 4% de Graciano. As vinhas tradicionalmente plantadas em vaso, dão apenas 3500 kg/ha. Fez maloláctica em barricas novas de carvalho, onde depois estagiou durante 7 meses e ainda mais 4 meses em barricas novas de carvalho caucasiano.
Priorat: uma pequena grande região
Com a sua paisagem fascinante, encostas íngremes, repleto de terraços, de relance faz lembrar o nosso Douro. É um anfiteatro formado pela serra de Montsant, que proteje a área dos ventos nortenhos. O solo pobre e bem drenado chamado llicorella, é composto por mica parcialmente fragmentada e quartzo o que lhe dá um brilho característico. Tem um pouco mais de 2000 hectares de vinhas, muitas delas velhas plantadas em vaso, sendo Garnacha e Cariñena as castas principais.
Nos anos 80 do século passado, o revolucionário enólogo e produtor René Barbier serviu de inspiração a outros enólogos talentosos que com os seus projectos colocaram o Priorat no mapa das melhores regiões mundiais. Um deles era Alvaro Palacios. É um nome incontornável quando se fala de Priorat (e também de Bierzo). Apesar de ter nascido numa família de produtores em Rioja (e com oito irmãos) Álvaro preferiu seguir o seu caminho ao invés de integrar a empresa familiar.
Estudou em Bordeaux e depois de trabalhar dois anos no Château Petrus, em 1990 comprou a sua primeira vinha no Priorat.
O seu Gratallops é um vinho de vila (vi de vila) com o mesmo nome e que faz parte das 12 zonas de produção no Priorat. As uvas vêm de seis vinhas diferentes. A maioria (85%) do lote é Garnacha com 13% de Cariñena e 2% de castas brancas (Garnacha Blanca, Macabeo e Pedro Ximénez). Estagiou 16 meses em barricas novas de carvalho francês.
Clos Figueras é um projecto do ex-proprietário da importadora de vinhos Europvin com sede em Bordeaux, Christopher Cannan, com a sua filha Anne Josephine. Tudo começou em 1997 com a compra de 10 hectares de uma vinha abandonada, a norte da Gratallops, chamada “Figueras” por ter duas magnificas árvores de figos. O sucesso começou a partir de 2000 com altas pontuações dadas por Robert Parker.
Serras del Priorat é o mais recente vinho da Clos Figueras, de abordagem mais fácil, onde transparece mais a fruta e destinado ao consumo mais rápido, mas, no entanto, mostra as características regionais. Lote de Garnacha (55%), Cariñena (20%), Syrah (15%) e Cabernet Sauvignon (10%). Estagia 7 meses em barricas de carvalho francês de 2º ano de 300 e 500 litros.
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2020)[/vc_column_text][vc_column_text][/vc_column_text][vc_column_text]
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O sonho do Marquês
Não é fácil falar de Rioja sem referir a Marqués de Riscal. E, definitivamente, não se fala de arquitectura de adega sem se apontar este produtor. Um gigante da região, que não poupa na qualidade dos vinhos. TEXTO Mariana Lopes FOTOS Marqués de Riscal O caminho do aeroporto de Bilbau para Elciego, onde se encontram […]
Não é fácil falar de Rioja sem referir a Marqués de Riscal. E, definitivamente, não se fala de arquitectura de adega sem se apontar este produtor. Um gigante da região, que não poupa na qualidade dos vinhos.
TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Marqués de Riscal
O caminho do aeroporto de Bilbau para Elciego, onde se encontram as “bodegas” Marqués de Riscal, faz-se por estradas rápidas rodeadas por grandes aflorações rochosas e vegetação de tons verdes. Uma hora e meia de viagem que dá para lavar a vista, em que o cenário induz uma espécie de acalmia. Entretanto, começamos a pensar nessas rochas e em como será assim o solo da Rioja e da zona onde estão as vinhas da Marqués de Riscal. Errado! À medida que vamos ficando mais perto, começa a aparecer um argilo-calcário bem evidente para nos lembrar que a diversidade também assiste à Espanha vitivinícola.
Bodegas de los Herederos del Marqués de Riscal, é o nome. Em 1858, D. Guillermo Hurtado de Amézaga, o dito Marquês, fundou ali em Elciego a adega que lhes daria origem. O seu filho, D. Camilo, continuou o negócio, um diplomata e editor liberal, proprietário do jornal El Día, que acabou por se apaixonar profundamente pela arte de fazer vinho. Estes não tardaram em convidar um mestre adegueiro francês, Jean Pineau, para que os métodos bordaleses fossem ali aplicados. Na verdade, o sonho de D. Guillermo era construir um autêntico “château” à maneira francesa naquelas terras, que à data tinham o nome Finca de Torrea. Assim o fez, implementando técnicas científicas à frente do seu tempo, tanto na vinha como na adega, e na engenharia dos edifícios. Colocou ao seu dispor, inclusive, uma tanoaria para que o seu vinho descansasse nas melhores barricas.
Em 1862, já estavam a ser engarrafados os primeiros vinhos, bem antes do reconhecimento oficial da Rioja como Denominação de Origem Controlada (em Espanha “Calificada”), que se deu em 1991, apesar de a região em si já existir e produzir há um par de séculos. É uma região com uma área de vinha plantada total de mais de 61 mil hectares, e a Marqués de Riscal, na sub-região de Rioja Alavesa, utiliza uvas de 1500, sendo 500 dos quais próprios e os restantes de fornecedores controlados pela empresa. Mais de metade desses vinhedos, todos de uvas tintas e vindimados manualmente, estão em regime orgânico, apesar das garrafas ainda não o ostentarem e lá não pode faltar, pela importância que tem nesta DOC, a uva Tempranillo (a nossa Tinta Roriz), que representa 92% da produção de Riscal. Predominante, é uma uva de ciclo curto e cultivo sensível, tanto em Portugal como no país vizinho. Depois, a variedade Graciano, de amadurecimento tardio, vigorosa e bastante produtiva, está presente em 7% e confere as notas de bosque aos vinhos. Também a uva Mazuelo, de carácter mais rústico e, actualmente, a desaparecer, se encontra em quantidades residuais, oferecendo frescura e notas especiadas. A Cabernet Sauvignon, por sua vez, também desempenha um papel bastante importante nos tintos destas bodegas, mas a situação não é simples, pois esta casta tão popular no Mundo já não pode ser plantada na Rioja, proibida pelo conselho regulador da Denominação. No entanto, há uma excepção: por ter sido plantada nos solos da Marqués de Riscal muito antes da criação da região vitivinícola, é autorizada a sua utilização nos vinhos desta casa, desde que não conste em rótulos e fichas técnicas e enquanto apenas aquelas parcelas lá plantadas existam. Escusado será dizer que são videiras cuidadas com muita preocupação. Assim, quando se lê “e outras”, no rol de castas escrito numa garrafa deste produtor, já sabemos que estamos perante uma percentagem de Cabernet Sauvignon. Curiosa também é a idade das vinhas: as mais novas com 15 anos e a mais velha de 1902. De facto, é o produtor com mais vinhas de idade superior a 80 anos, em toda a Espanha e, segundo os próprios, “com maior número de vinhas plantadas antes de 1970, em todo o Mundo”.
Bastante mais tarde, a Marqués de Riscal chegou à Rueda, começando a fazer vinho branco nesta região em 1972, tendo sido impulsionadora da criação desta Denominação de Origem em 1980. A uva autóctone Verdejo era (e é) a eleita, como não poderia deixar de ser, mas a empresa introduziu ali a francesa Sauvignon Blanc, em 1974, para dela também fazer vinhos monovarietais.
La Ciudad del Vino
Este espírito vanguardista é algo que se perpetuou ao longo das gerações seguintes desta família. Sempre com a ambição de liderar o movimento tecnológico da Rioja, a Marquês de Riscal instalou, em 1995, a primeira mesa de escolha de uva da região. Cinco anos depois, começaram a ampliar as instalações de vinificação, onde trabalham 120 pessoas em permanência, que incluem um pavilhão impactante de 125 depósitos de inox, com capacidade para 20 mil quilos, onde fermentam, separadamente, 10 milhões de quilos de uva, por ano. Os padrões de qualidade da matéria-prima da empresa são altos, e é por isso que a qualidade geral, para tanto vinho, é muito elevada. As uvas que não correspondem a esses padrões, são vendidas a outros produtores, e tudo é aproveitado: várias prensagens com destino a vários vinhos, e as películas das uvas para cosmética e fertilizantes naturais.
Na parte antiga da adega, construída em pedra arenisca, encontram-se depósitos de betão onde toda a pisa é feita a pé. Lá fora, não passam despercebidas as muitas paredes verdes que ajudam a climatizar os labirintos que escondem 37 mil barricas. São todas de 225 litros, pois assim a Rioja o ordena, de carvalho americano (para as gamas mais baixas) e francês (para os vinhos mais ambiciosos).
Em 2006, com a finalização do hotel, todo o recinto foi inaugurado como La Ciudad del Vino. E que hotel! Assinado pelo arquitecto canadiano Frank O. Gehry, é uma autêntica escultura em tamanho gigante, cujas cores ondulantes se vêm de longe, na estrutura de titânio e aço: o rosa, a representar o vinho, o dourado, da malha que cobre a garrafa mais famosa do produtor, e o prateado, que simboliza a cápsula. “Tinha de ser algo que estivesse bem integrado com o terreno, as vinhas, com o povo de Elciego e a catedral. Tinha de ser festivo e apaixonante porque, acima de tudo, o vinho é alegria e prazer”, foi a declaração de O. Gehry. Os 43 quartos de luxo passarão, em breve, a 57, numa experiência que inclui um SPA Caudalie e dois restaurantes premium. Um deles, o Gastronómico Marqués de Riscal, galardoado com uma Estrela Michelin, é conduzido pelo chef Francis Paniego, o primeiro da Rioja com Estrela.
Com as Sierras de la Demanda e de Cantabria em plano de fundo, este hotel e a adega trazem 120 mil visitantes por ano àquele sítio, tendo grande impacto também no turismo da região. Um projecto de mais de 40 milhões de euros, que vale cada cêntimo.
Vinhos surpreendentes
Honrando o legado familiar, Francisco (Paco) Hurtado de Amézaga é o director técnico da empresa, na Rioja, e o seu filho Luís faz a enologia da parte Rueda. São 12 milhões de garrafas, no total, sete na primeira região e cinco na segunda, das quais 60% vai para 103 países. Em Portugal, a distribuidora Vinalda representa seis das referências do portefólio Marqués de Riscal: Sauvignon Blanc Bio branco, Limousin branco, Reserva tinto, Grande Reserva tinto, Baron de Chirel tinto e Proximo tinto. Com a filosofia “drinkability”, este produtor junta quantidade a uma qualidade surpreendente. Só do Marqués de Riscal Reserva, o tinto icónico da casa com a sua malha dourada envolta na garrafa, são feitos 4 milhões de exemplares por ano. Falamos de um vinho já com alguma seriedade. Importante é referir que, em Espanha, um vinho só pode ser Reserva se sair da adega passados três anos do seu ano de colheita, tendo um de ser de estágio em garrafa. De outros mais ambiciosos ainda, como o topo de gama Frank Gehry tinto, são feitas cerca de 3000 garrafas, apenas quando o ano assim o justifica.
Nunca tendo deixado de prosperar, a Marqués de Riscal é um exemplo de um grande negócio gerido de maneira exemplar, desde o vinho ao enoturismo. Fazer milhões é com eles, sem sacrificar qualidade, pelo contrário. Se fosse vivo, o Marquês D. Guillermo haveria de estar orgulhoso.
Edição Nº26, Junho 2019
La Rioja – A arquitectura do vinho
As obras de arquitectura, quase sempre vanguardista, criadas por famosos arquitectos reconhecidos mundialmente, estão a tornar-se um elemento preponderante na paisagem espanhola de La Rioja, uma região com nome de vinho. TEXTO E FOTOS Luís Ramos As novas bodegas de Rioja têm vindo a apostar numa arquitectura diferenciadora, seja por razões directamente relacionadas com práticas […]
As obras de arquitectura, quase sempre vanguardista, criadas por famosos arquitectos reconhecidos mundialmente, estão a tornar-se um elemento preponderante na paisagem espanhola de La Rioja, uma região com nome de vinho.
TEXTO E FOTOS Luís Ramos
As novas bodegas de Rioja têm vindo a apostar numa arquitectura diferenciadora, seja por razões directamente relacionadas com práticas sustentáveis de produção do vinho, seja pelas suas estruturas adjacentes nas áreas da cultura e do turismo, como hotéis, restaurantes ou museus. Naturalmente que o marketing, só por si, é uma razão suficientemente forte para a entrega de projectos a afamados arquitectos como Frank Gehry, Zaha Hadid ou Santiago Calatrava. A realidade é que as peças de arquitectura contemporânea têm vindo, progressivamente, a tomar conta da paisagem riojiana, com as chamadas bodegas de autor. O negócio do vinho deixou, há muito, de se resumir à simples venda da bebida que se julga ter começado a ser produzida no Cáucaso, há cerca de 8000 anos, e que rapidamente se espalhou por todo o mundo. A quantidade de visitantes, tanto nacionais como estrangeiros, que qualquer uma destas estruturas recebe diariamente impressiona e remete-nos para uma significativa fonte de receitas para além do negócio central que é, naturalmente, a produção de vinho de elevada qualidade. Naturalmente que, sem ela, qualquer um destes projectos não terá viabilidade económica nem futuro traçado no horizonte. O grandioso projecto arquitectónico e empresarial das Bodegas Darien, entretanto falido, é disso um exemplo a reter.
La Rioja
La Rioja é um território com cerca de 100km de comprimento, um grande vale protegido pelas serras de Cantábria a norte e da Demanda a sul, que se estende ao longo do rio Ebro, com uma enorme aptidão para o cultivo da vinha. Trata-se de uma zona de microclimas, condicionada pela orografia que determina a predominância dos ventos e que faz combinar o clima atlântico, graças à vizinhança cantábrica, com o mediterrânico, próprio da zona do vale do Ebro. A isto junta-se a variedade da composição dos terrenos argilo-calcários na zona alta e argilo-ferrosos e aluviais junto aos rios, dando assim origem a um terroir bastante diversificado, que constitui a grande riqueza da região. De certa forma poderá dizer-se que o Rioja beneficiou, no séc. XIX, do aparecimento da filoxera, a praga que devastou progressivamente a vinha em toda a Europa. Com efeito, ela aparece em França logo no início dos anos 1860, mas só chega a Espanha em 1878 (em Portugal, a partir de 1872). Confrontados com a quebra de produção vinícola no seu país, os negociantes de vinho franceses mudam-se para La Rioja e começam a implementar os seus métodos de produção tecnologicamente mais evoluídos, dando origem a um enorme incremento na produção vinícola na região.
Nas adegas de autor combina-se a produção com o enoturismo, ou seja, a visita às instalações, a degustação e a venda do vinho ao público
e, por vezes, também a hotelaria, a restauração, os cursos de provas e os museus temáticos. Geralmente localizadas junto às próprias vinhas, as adegas são quase sempre subterrâneas, preservando a paisagem numa área que poderá ser ocupada por vinha. Esta opção arquitectónica permite ainda
aproveitar a gravidade enquanto parte do processo produtivo, sem necessidade de recorrer à utilização de bombas contribuindo, assim, para uma prática sustentável na elaboração do vinho e para uma maior integridade da uva à chegada às cubas de fermentação. Igualmente importante é a possibilidade de assim se conseguirem ao longo do ano, naturalmente, condições equilibradas de humidade e temperatura, decisivas para uma perfeita evolução do vinho em estágio. Os Rioja, comercializados como Crianza ou Reserva, têm obrigatoriamente um estágio em barricas bordalesas, com capacidade de 225 litros, em carvalho francês, a maior parte, e em carvalho americano 20% a 25%, variando conforme o produtor. Os Rioja são sobretudo tintos (85%) e a casta dominante é a Tempranillo – que, em Portugal, toma o nome de Tinta Roriz, no Douro; e Aragonês, no Alentejo. Poderão ainda encontrar-se na composição destes vinhos outras castas autóctones, como Graciano, Garnacha, Mazuelo ou Maturana tinta. Em viagem recente a La Rioja visitámos seis adegas de média/média-grande produção, que julgamos ilustrativas das várias tendências levadas a cabo na região, resultando todas, embora de forma diferenciada, em projectos de sucesso.
Bodega Marqués de Térran
A Bodega Marqués de Terán, em Ollauri, do arquitecto riojiano Javier Arizcuren, projecto pioneiro a nível mundial baseado na geotermia, consegue uma magnífica simbiose entre a área construída e a morfologia do terreno, resultando num projecto muito harmonioso de integração na paisagem. Na realidade, ela só é totalmente visível do ar, já que 80% da sua área foi implantada num espaço escavado numa colina vizinha da aldeia de Ollauri. A sua arquitectura modernista, com a área envidraçada de recepção da uva na zona mais elevada e uma magnífica vista sobre a povoação e a vinha circundante, faz-nos adivinhar a utilização de novas tecnologias na elaboração dos seus crianzas e reservas. Foi a primeira adega, em todo o mundo, considerada eco-friendly por usar a energia geotérmica no processo de elaboração do vinho. Esta tecnologia, que se serve da temperatura do interior
da crosta terrestre, tem a capacidade de gerar calor no Inverno e frio no Verão, permitindo controlar a temperatura dos depósitos de fermentação
e a temperatura e humidade das caves onde são envelhecidos os vinhos, em barris e, posteriormente, engarrafados. Consegue-se, assim, uma redução de 80% no consumo de energia eléctrica e de emissões de CO2 para a atmosfera. Também na adega, olhando para dentro das cubas de fermentação em inox – que na altura da nossa visita estavam vazias – pudemos observar que estão equipadas com um sistema inovador de pisa da uva. São uma espécie de pás que, ao moverem-se, originam o esmagamento suave e uniforme da massa, evitando também, desta forma, o recurso a bombas para a remontagem.
Bodega López de Heredia – Viña Tondonia
A surpreendente estrutura criada pela arquitecta iraquiana Zaha Hadid – falecida em 2016 – colocada estrategicamente à entrada da Bodega López de Heredia Viña Tondonia serve de sala de visitas, sala de provas e loja da mais antiga adega da cidade de Haro. É, antes de tudo, uma sensual peça de design, mas também uma primorosa obra de arquitectura contemporânea, representando um enorme decanter. A peça revela toda a sua beleza quando a luz ténue do fim de tarde deixa sobressair a sua própria iluminação. Aí surge, em todo o seu esplendor, não só a forma exterior como também o seu interior, que aparece realçado, albergando uma jóia que se destaca no espaço e nos transporta para outro tempo, num sublime diálogo com a modernidade da sua envolvente. A jóia é o stand em madeira que Rafael Lopez de Heredia, com a colaboração do arquitecto J. Cabrera y Latorre, concebeu para apresentação dos seus vinhos na Exposição Universal de Bruxelas, em 1910.
Para comemorar o 125º aniversário de Viña Tondónia, os herdeiros de D. Rafael decidiram mandar restaurar o antigo stand, para ser exibido na Feira Alimentária de Barcelona, mas depararam-se com o problema de a peça ter de ser exposta ao ar livre, o que não era minimamente conveniente. Foi então que pensaram que a solução passaria por criar uma estrutura que a pudesse acolher no seu interior. Zaha Hadid foi escolhida pela família para a projectar. Admirada pela espectacularidade e plasticidade das suas obras, a arquitecta foi convida¬da a criar algo escultórico que serviria mais tarde de base a uma estrutura fixa, a instalar junto à entrada da adega, num inovador edifício entretanto criado pela própria Zaha Hadid.
Mais tarde, ao descer à adega, escavada na rocha e separada da vinha pelo rio Ebro, temos a sensação de ter retrocedido no tempo. Os carris continuam assentes no chão do labirinto de túneis que chegam a ter 200 metros de comprimento. Foram aí colocados pelos mineiros para poderem deslocar as vagonetas carregadas com a pedra extraída a 10 metros de profundidade. Hoje servem de guias para fazer rolar as bar¬ricas bordalesas ao longo da adega subterrânea de quase 3500m2, embora já não as façam chegar à estação de caminho-de-ferro contígua, entretanto desactivada, poronde era escoado o vinho produzido na adega.
Temos a sensação de estar a chegar a um enorme parque temático quando, já na Rioja Alta, deixamos Briones à nossa esquerda e entramos na alameda ladeada de ciprestes que dá acesso aos estacionamentos e à majestosa entra¬da da Bodega y Fundación Vivanco. Trata-se de um projecto monumental de estilo neoclássico, da autoria do arquitecto Jesús Marino Pascual, que alberga o fabuloso Museo de la Cultura del Vino – já considerado pela UNESCO o melhor museu do vinho, do mundo –, a adega e o restaurante. Este museu temático é uma referência em pintura, escultura e arqueologia. Descreve a história do vinho desde a sua descoberta, hipoteticamente acidental, até ao actual controlo laboratorial nas adegas, mostra prensas usadas ao longo de séculos, a maior colecção de saca-rolhas que é conhecida (mais de seis mil) e, no exterior, uma vinha com um conjunto de mais de 200 castas de todo o mundo.
A dinastia Vivanco vai agora na sua quarta geração de pessoas dedicadas de corpo e alma ao vinho, como gostam de realçar. Os seus representantes actuais são os irmãos Rafael, enólogo, formado em Bordéus que trata da produção do vinho; e Santiago, poeta, coleccionador e responsável pela fundação e pelo museu.
Para entender o espírito da família Vivanco e do legado que pretendem deixar à humanidade, são reveladoras algumas frases extraídas de uma recente entrevista a Santiago Vivanco: “Para mim o vinho sempre tinha sido muito mais do que aromas, sabores e texturas. Muito mais do que as vinhas e os terrenos onde o meu avô e o meu pai me levavam. Interessava-me o lado humano que havia por trás do vinho e dos 8000 anos de história que tinha partilhado com o Homem” […] “Sentimo-nos agradecidos ao vinho porque ele nos dá de comer e porque há uma cultura em volta do vinho fascinante. O nosso trabalho é dá-la a conhecer.”
Já Rafael Vivanco admite seguir as pegadas do avô Santiago, reflectindo o seu espírito vitivinícola pioneiro. Faz da investigação e experimentação – tanto dos métodos de cultivo, como do processamento, utilizando castas minoritárias, ou optando pela escolha de diferentes origens da madeira de carvalho para a construção das barricas bordalesas – as ferramentas para criar a personalidade dos seus vinhos.
Ciudad del Vino Marqués de Riscal
A Bodega e Hotel Marqués de Riscal, em Elciego, é o exemplo maior de um projecto adjacente – o hotel e restaurante da autoria do arquitecto canadiano Frank Gehry (autor, entre outros, do famoso Museu Guggenheim de Bilbao) – que veio dar uma enorme visibilidade às adegas.
A unidade hoteleira, bem implantada entre a vinha, as bodegas já existentes (propriedade da família desde o século XIX) e a povoação medieval de Elciego, colocou o maior dos produtores que visitámos – seis milhões de garrafas por ano – nos lugares de liderança do enoturismo mundial. O conjunto tem agora o nome pomposo de La Ciudad del Vino, mas vive essencialmente da fama do arrojado edifício projectado pelo genial Gehry.
Ao visitá-lo sentimos a importância que tem o projecto arquitectónico de Gehry na atracção de um número extraordinário de turistas nacionais e estrangeiros. Poderíamos dizer que aqui se invertem os papéis, passando aquilo que normalmente seria adjacente, a parte hoteleira, a ser a estrela da companhia, embora, naturalmente, sustentada por uma produção vinícola de qualidade, mas massificada.
A Ciudad del Vino, segundo os seus promotores, pretende ser o château espanhol do século XXI. Tenta harmonizar a nível estético e servir de ponte, a nível de conceito, entre as antigas instalações e as mais recentes. As previamente existentes, da autoria do arquitecto Ricardo Bellsola, datadas de 1858, integram uma famosa garrafeira, com exemplares desde a primeira colheita, datada de 1862. Foram completadas por uma nova unidade, permitin¬do a utilização de tecnologias mais avançadas, capazes de garantir a qualidade e uniformidade dos seus vinhos.
O edifício de Gehry compreende um hotel de luxo, um restaurante – com duas estrelas Michelin – e um bistrô, entregues ao mais famoso chef riojiano, Francis Paniego; uma enoteca, um centro de conferências e um SPA (Salute per Aquam) de vinoterapia, que mais adequadamente se deveria chamar SPV (Salute per Vinum).
Com as suas formas características a construção, coberta por chapas de titânio, baseia-se nas três cores que o arquitecto atribui à Marqués de Riscal: o rosa avermelhado do vinho tinto, o dourado da malha característica que envolve as garrafas da marca e o prateado das suas cápsulas.
Conta-se que o repto lançado pelos herdeiros da casa a Frank Gehry para desenvolvimento do projecto de arquitectura terá sido feito perante uma garrafa especialmente aberta para o momento, de Marqués de Riscal de 1929, o seu ano de nascimento. Consta que o gesto terá deixado o arquitecto sem argumentos para refutar o convite.
Bodega Viña Real
A marca Viña Real deve o nome à proximidade das suas vinhas com o antigo Camino Real. Da actual estrada apenas é visível a parte superior de uma construção circular em madeira de cedro escuro, da cor do vinho, em forma de tonel com 30.000m2, implantado numa encosta do Cerro de la Mesa, a cerca de 5km da cidade de Logroño, capital de La Rioja.
É, entre todos os projectos que visitámos, aquele em que o brilhantismo arquitectónico do seu autor, o francês Philippe Maziéres, melhor conseguiu reunir as componentes de harmonia estética, integração no meio ambiente e funcionalidade. O facto de as instalações se situarem a meio da encosta permitiu que fossem escavados na rocha dois túneis gémeos, cada um com capacidade para cinco milhões de garrafas ou 14.000 barris, criando assim as condições de humidade e temperatura ideais para uma boa evolução destes vinhos.
É um projecto que, de uma forma ambientalmente sustentada, servindo-se de equipamento inovador e tecnologia de ponta, visa manter ao longo de todo o processo de produção a elevada qualidade da uva quando vindimada, moldando-a através dos métodos de vinificação e envelhecimento em madeira.
Aqui, a arquitectura serve a actividade – (quase) tudo é feito utilizando a força da gravidade. O edifício, em forma de tonel, com vários andares, alberga a sala de fermentação e constitui o coração da adega. Após a recepção e seu desengaçamento, a uva é depositada nuns grandes depósitos móveis de forma cónica em inox que, por graça, aqui lhes chamam OVI (Objectos Volantes Identificados). O enorme edifício, que constitui a nave de vinificação, com a sua forma redonda permite que uma grua central erga os OVI e os manobre circular e longitudinalmente até os colocar sobre as bocas das cubas de fermentação, também em inox, para que seja feita a transferência da massa. Após a fermentação alcoólica, o vinho é transferido para depósitos de cimento ou para barricas. Como se percebe, todas as fases do processo, até à chegada do vinho às barricas bordalesas, são realizadas utilizando a gravidade, sendo apenas a inicial deslocação dos OVI feita mecanicamente, pela referida grua.
Bodega Ísyos
A primeira bodega de autor construída na região, em plena Rioja Alavesa, é visível de muito longe, como se de uma enorme escultura se tratasse. O edifício, de forma alongada, projectado pelo arquitecto valenciano Santiago Calatrava, tem uma impressionante fachada de 196 metros de comprimento, integralmente revestida a madeira de cedro e rematada por uma reluzente cobertura ondulante, em alumínio.
Assim como houve o propósito de prestar uma homenagem aos deuses egípcios relacionados com o mundo do vinho, Isis e Osíris, criando o nome Ísyos, também a arquitectura presta uma homenagem ao vinho na sua fachada em madeira, como os barris, e na cobertura de forma ondulante, como a linha que se pode imaginar delineada ao longo das bases ou dos topos das barricas quando, vistas de frente, se encontram deitadas e alinhadas lado a lado na adega.
A primorosa implantação da Bodega Ísyos, tendo como fundo a serra de Cantábria e de frente para a colina onde se encontra a belíssima povoação medieval de La Guardia, em plena Rioja Alavesa, faz com que, ainda distantes, tenhamos de nos deter na estrada para a admirarmos.
No edifício, de um dos lados no piso superior, é feita a recepção da uva que depois entra para a adega, obrigando a um procedimento em que, certamente, a arquitectura poderia ter dado um melhor contributo para agilizar o processo produtivo. A partir daqui já o trajecto que o produto percorre até à expedição, na outra extremidade do edifício, é feito em vários níveis. É deslumbrante a adega onde estagia a maior parte do vinho, em barricas bordalesas. Uma majestosa catedral com o tecto formado por enormes traves de madeira de abeto da Escandinávia dispostas, também, de forma ondulante. Um incrível vão amplo, sem qualquer pilar ou viga de sustentação a interromper um espaço onde o silêncio nos permite, de tempos a tempos, sentirmos os aspersores a funcionar para, de uma forma, diga¬mos, artificial regularem a temperatura e a humidade do lugar.
As barricas bordalesas em carvalho francês, na sua grande parte, mas com algumas também em carvalho americano, que o enólogo Roberto Vicente escolhe criteriosamente, conferem importantes características aos seus vinhos. A madeira de carvalho, embora impermeável, permite a circulação de oxigénio através dos seus poros, mas não é toda igual. Na realidade, as pipas que ali podemos observar são encomendadas a tanoeiros espanhóis ou franceses. Muitas vezes determinados lotes de árvores estão reservados desde a sua plantação por determinado tanoeiro, já que este ou aquele terroir onde irão crescer lhes irá conferir qualidades que o enólogo irá escolher mais tarde para imprimir características especiais ao vinho que está a criar.
Como vimos, o vinho constitui um maravilhoso mundo feito de diversos pormenores que, no fim, fazem toda a diferença. Por isso, aquelas roseiras à beira da vinha não foram plantadas apenas pela sua beleza. Trata-se efectivamente de uma planta mais sensível às pragas (sobretudo oídio e míldio), que facilmente irá denunciar uma doença que, de seguida, se não forem tomadas medidas atempadamente, atacará a vinha. São as guardiãs da vinha, à roda da Bodega Ísyos.
Edição Nº24, Abril 2019
Rioja criou base de dados sobre a videira e o vinho
Chama-se docuvin.es e quer afirmar-se como uma importante referência em matéria de conhecimento no mundo da viticultura e vinho. Para isso, os organizadores compilaram toda a espécie de documentos, que neste momento chegam perto das 55.000 referências. A maior parte são artigos de revista (cerca de 53.000), livros (1.200) e teses de universidade (730). Um […]
Chama-se docuvin.es e quer afirmar-se como uma importante referência em matéria de conhecimento no mundo da viticultura e vinho. Para isso, os organizadores compilaram toda a espécie de documentos, que neste momento chegam perto das 55.000 referências. A maior parte são artigos de revista (cerca de 53.000), livros (1.200) e teses de universidade (730). Um pouco mais de metade está em espanhol, mas existem ainda artigos em inglês (23 %), em francês (13 %) e em italiano (9 %). Em português há muito pouco… mas dada a proximidade das duas línguas, muitos técnicos e investigadores lusos poderão tirar partido desta ferramenta.
O reitor da Universidade da Rioja, Julio Rubio, apresentou o projecto, dizendo que se trata de “uma referência mundial para a investigação, inovação e, no geral, para a geração de conhecimento à volta da videira e do vinho “. O site abarca cinco âmbitos científicos principais: Vitivinicultura, Tecnologia Alimentar, Agronomia, Produção vegetal e Edafologia e Química agrícola. É intenção dos promotores duplicar, até 2019, o número de referências disponíveis. Entre as suas funcionalidades está a pesquisa documental avançada (com filtros), pesquisa específica de revistas, de teses, a possibilidade de seleccionar documentos e exportá-los em vários formatos, guardar pesquisas, receber alertas de revistas, de pesquisas guardadas e criar listas de referências para compartilhar.
O DocuVin é um esforço importante de três entidades espanholas da zona da Rioja: a própria autoridade local (Gobierno de La Rioja), a Universidad de La Rioja, através da Fundação Dialnet e o Instituto de las Ciencias de la Vid y el Vino, com sede na Rioja. (AF)