Felizes, de copo na mão, a ver Lisboa

A 4ª edição do Trafaria (Com)Prova decorreu mais uma vez nesta zona à beira Tejo, localizada mesmo em frente à cidade de Lisboa. Durante três dias, por lá passou uma considerável multidão a provar uma grande variedade de vinhos. TEXTO António Falcão FOTOS Ricardo Gomez Na verdade, esta iniciativa e organização da Câmara Municipal de […]

A 4ª edição do Trafaria (Com)Prova decorreu mais uma vez nesta zona à beira Tejo, localizada mesmo em frente à cidade de Lisboa. Durante três dias, por lá passou uma considerável multidão a provar uma grande variedade de vinhos.

TEXTO António Falcão
FOTOS Ricardo Gomez

Na verdade, esta iniciativa e organização da Câmara Municipal de Almada, superou as expectativas, atraindo mais de 12.000 visitantes. Foi, aliás, opinião unânime de quem lá esteve que foi um grande ano, uma grande edição. São Pedro deu uma grande ajuda, diga-se de passagem, não enviando demasiado calor, nem excesso de vento ou frio.
Um exemplo era Fernando dos Santos, lisboeta, que, juntamente com a sua mulher, Teresa, aproveitou a travessia de barco para cruzar o Tejo e vir provar bons néctares. “Fiquei surpreendido por esta ser a quarta edição e não ter cá vindo antes. Já estou de saída para jantar mas gostei do sítio, da paisagem e, claro, dos vinhos. E consegui provar um vinho que há muito tempo procurava. Para o ano estou cá outra vez, ai isso de certeza”, confessou-nos este comerciante da capital.
O Trafaria (Com)Prova decorreu assim no Passeio Ribeirinho da Trafaria, entre 31 de Maio e 2 de Junho, e foi produzido pela Vinho Grandes Escolhas. Neste momento já é um evento que se afirma na agenda de eventos da região de Lisboa e acaba assim por atrair também alguns turistas da capital, interessados em provar néctares portugueses.
Na sua 4º edição este é um evento já consolidado onde é possível num ambiente descontraído à beira rio provar vinhos de mais de 30 produtores de todas as regiões vinícolas do país e degustar os afamados petiscos da pequena vila piscatória. Para muitos produtores, o evento acabou por se verificar rentável, já que era possível, em vários casos, comprar vinho directamente no stand. Um dos produtores já não tinha vinho no final de Sábado, mas felizmente ainda tinha tempo de ir buscar mais para o dia de Domingo: “não estava à espera desta afluência”, confessou-nos.

Ao longo dos três dias, a feira foi ainda um pretexto para muitos descobrirem muitos pontos de interesse que a Trafaria esconde e divertirem-se com o extenso programa de animação que a organização da C. M. de Almada preparou.
O Trafaria (Com)Prova tem como objectivo a promoção e a valorização da histórica freguesia piscatória da Trafaria, potenciando a sua oferta gastronómica assente no peixe e marisco. Para além disso, procura-se sensibilizar população para a importância de preservar o seu património cultural e identitário. A localização do evento, no passeio ribeirinho e com a vista deslumbrante sobre o estuário do Tejo e sobre Lisboa são sempre factores de atracção que merecem ser potenciados. Na edição deste ano os mais de 12.000 visitantes, nacionais e estrangeiros, puderam deliciar-se com os aromas dos vinhos e com as delícias preparadas pelos restaurantes locais.
A cerimónia de abertura do Trafaria (Com) Prova contou com a presença da Presidente da Câmara, Inês de Medeiros, acompanhada pelos membros da vereação, que fez questão de visitar todos os expositores de vinho e de petiscos presentes. Grande interesse também despertaram as provas comentadas de vinhos, orientadas pelo crítico Fernando Melo, realizadas na Junta de Freguesia e que registaram um elevado nível de participação.

Trafaria: um sucesso comprovado

A companhia certa, bons vinhos, animação cultural e um panorama espantoso das colinas de Lisboa. O Trafaria (Com)Prova tem tudo o que é preciso para garantir uma experiência muito especial. E esta terceira edição foi tudo isso e muito mais. TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga Há aqui uma senhora com um problema. “Preciso […]

A companhia certa, bons vinhos, animação cultural e um panorama espantoso das colinas de Lisboa. O Trafaria (Com)Prova tem tudo o que é preciso para garantir uma experiência muito especial. E esta terceira edição foi tudo isso e muito mais.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga

Há aqui uma senhora com um problema. “Preciso daquela coisa de Setúbal…”, lança para o grupo de familiares que a acompanha. “Choco frito?”, desconversa o filho. “Não, pá, o vinho. Aquele docinho…” Por entre gargalhadas, o jovem lá se dirige a uma das bancas e regressa com o cobiçado Moscatel de Setúbal. E foi assim no passeio marítimo da Trafaria, nos dias 1, 2 e 3 de Junho, durante o Trafaria (Com)Prova, evento organizado pela Câmara Municipal de Almada e com produção da Grandes Escolhas. Muita gente, belos vinhos e boa disposição.
Durante três dias, e mesmo com a meteorologia a mostrar-se pouco de acordo com o calendário, mais de 13.500 pessoas deslocaram-se ao recinto da feira de vinhos e petiscos, onde três dezenas de produtores deram a provar os seus néctares. Reforçando uma tendência cada vez mais evidente neste tipo de eventos, o público (com presença cada vez mais notória de turistas estrangeiros) confirmou o interesse nos vinhos adquirindo garrafas directamente nos stands – fosse para levar para casa, fosse para abrir e degustar ali mesmo, com amigos e família, numa das mesas instaladas no local.
Foi isso mesmo que fez Helena Rodrigues, 42 anos, profissional de seguros, “apanhada” a sair do balcão da Herdade das Servas com uma garrafa… “Fizemos umas provas, agora decidimos comprar uma garrafa para podermos petiscar à vontade.” Helena estava “atenta” e confirmou no Facebook as datas para regressar a um evento onde já tinha marcado presença no ano passado. E mais não disse, porque as amigas, já sentadas, reclamavam a sua presença. E do vinho, suspeitamos.
Entretidos nas provas estavam Diogo e Katrine, ele de 26 e ela de 23 anos, que se estreavam no Trafaria (Com)Prova. Ela é de Portimão, ele de Leiria, viviam em Lisboa até há pouco tempo, desde Janeiro estão na Costa de Caparica. Avisados por amigos, foram à descoberta. E não estavam desiludidos: “Muito giro, é um bom evento.”
O vento soprava fresco, na tarde de sábado, mas com um casaquinho pelas costas ninguém arredava pé. À medida que a tarde avançava, mais gente ia chegando e o recinto enchia-se de brindes e conversas cruzadas. “Diz ali WC 50 cêntimos!”, admirava-se uma jovem. “Olha, dá-me dois”, disparou um dos elementos do grupo que a acompanhava. Há reencontros que são surpresas – “Olha-me este miúdo… Estás tão grande!” – e outros que nem por isso: “Eh pá, só te apanho nestas coisas!”

Vinho, cultura e entretenimento

Ao fim da tarde, os andarilhos que por ali pairam em fato de banho arcaico às risquinhas amarelas – bóias debaixo do braço e ele ostentando uma bigodaça bem característica dos tempos em que a Trafaria surgiu como destino de praia de muitos lisboetas (na viragem do século XIX para o XX, como se pode apreciar na exposição patente no edifício do presídio) – já mal conseguem passar pelo meio da multidão. Sempre que têm ocasião, interpelam as pessoas para diálogos bem-humorados. Há miúdos que nem querem acreditar naquela visão de gigantes desengonçados.
A coisa torna-se ainda mais animada sempre que passa por ali a Almada Street Band, que vai interpretando clássicos pop-rock em ambiente dixieland. A certa altura, cansados decerto de andarem de trás para a frente, e sem cederem ao conforto do palco instalado num dos extremos do recinto, os músicos formam uma roda e abancam mesmo ali no meio. Há quem dance de copo na mão.
Saindo desta animação, um percurso de menos de 100 metros leva-nos ao antigo Presídio Militar da Trafaria, onde se realizaram as provas comentadas e estão patentes algumas exposições. Antes de lá chegar, porém, há miúdos e graúdos que se entretêm com antigos jogos populares ao longo do caminho. Nas paredes, painéis falam do vinho e das vinhas em Almada. No século XIX ainda eram uma actividade pujante; depois, a filoxera, a mudanças nos mercados e a pressão urbanística ditaram o seu declínio.
Entramos no presídio e, por entre dragoeiros e árvores-da-borracha, sabe bem o silêncio, que convida à fruição das mensagens artísticas por ali semeadas, a começar por uma exposição de fotografias de Luís Ramos. Lá dentro, nas celas e corredores marcados por um passado cheio de histórias, ouvem-se testemunhos de antigos presos, incluindo o “capitão de Abril” Vasco Lourenço. Na capela, que é também sala de provas, as imagens que dão corpo à exposição “Ir a banhos” mostram como era a zona e a sua frequência há mais de um século, quando as paróquias de Lisboa levavam as crianças pobres da cidade a banhos. Na Trafaria, pois então.
A banhos, ninguém terá ido lá fora, que o início de Junho não facilitou, mas havia miúdos a jogar à bola no areal, por entre as embarcações de pesca artesanal, e adultos que se aventuravam em breves caminhadas junto à linha de água, arisca devido à ondulação levantada pelo vento. O sol caminhava para a linha do horizonte e o panorama de Lisboa em contra-luz, na outra margem, era sublime.
Já no caminho para o cais de embarque da Transtejo, para apanhar o barco de regresso, ouve-se outro desabafo: “Ó pá, foi bem fixe! Devia haver mais feiras de vinho.” Pela nossa parte, totalmente de acordo.
Esta foi a primeira edição do Trafaria (Com)Prova sob a tutela do novo executivo camarário, liderado por Inês de Medeiros. A aposta no evento manteve-se e sai reforçada com o balanço “bastante positivo” que a autarquia faz do que viu e sentiu nos dias 1, 2 e 3 de Junho.
“A feira já começa a ter alguma implantação, as pessoas vão passando palavra. E as alterações na organização que pusemos em prática, nomeadamente a redução do horário, foram do agrado dos produtores, que esgotaram, em provas e vendas, os stocks que tinham levado para o evento. Notámos uma presença cada vez mais notória de turistas estrangeiros e sábado foi o dia de todos os recordes.” Paulo Pardelha, director do Departamento de Planeamento Urbanístico e Desenvolvimento Económico da Câmara Municipal de Almada, realça as virtudes mais óbvias da terceira edição do Trafaria (Com)Prova, mas faz questão de salientar os efeitos estruturais da iniciativa: “Esta consolidação do evento está a afirmar a Trafaria como sítio de visita e a atrair gente e investimento. Há cada vez mais edifícios reabilitados ou em processo de reabilitação, os proprietários dos restaurantes estão muito satisfeitos e a feira afirma-se com um perfil global, não apenas uma iniciativa ligada ao vinho, mas também à cultura e ao lazer – no sábado, por exemplo, o Dia Mundial da Criança serviu de pretexto para instalarmos jogos tradicionais.”
Inaugurada pela presidente da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros, e com afluência recorde de público, a terceira edição do Trafaria (Com)Prova já deixa saudades em todos os que nela participaram.

Edição Nº15, Julho 2018