Quinta da Atela: O início de uma nova era

Quinta da Atela

Quem circula pela estrada N118 entre Almeirim e Alpiarça, aproximadamente a meio-caminho passa por umas portadas e um muro branco com símbolo da Quinta da Atela e vinhas dos dois lados da estrada. Por trás destas portadas encontra-se uma unidade de produção de vinhos com uma gama bastante completa, uma bem interessante oferta de enoturismo […]

Quem circula pela estrada N118 entre Almeirim e Alpiarça, aproximadamente a meio-caminho passa por umas portadas e um muro branco com símbolo da Quinta da Atela e vinhas dos dois lados da estrada. Por trás destas portadas encontra-se uma unidade de produção de vinhos com uma gama bastante completa, uma bem interessante oferta de enoturismo e várias salas para eventos de 70 a 500 pessoas, e ainda uma casa com quatro suites. Os 600 ha da quinta, dos quais 150 são de vinha, permitem uma exploração diversificada.

Tudo começou há 700 anos
A história da propriedade remonta ao século XIV, tendo os Condes de Ourém como os primeiros proprietários. Os tempos passavam, mudavam-se os donos, nem todos traziam benefício à propriedade. No final do século XX a quinta foi comprada por Isidoro Maria de Oliveira, empresário na área das carnes e fundador da icónica marca Salsichas Izidoro. A revolução de 25 de Abril em 1974 trouxe uma expropriação e ocupação da propriedade que durou uma década, até que foi devolvida ao legítimo proprietário num estado muito degradado. Nos anos 90 do século passado, um membro da família Oliveira, Joaquim Manuel de Oliveira, tomou conta da quinta, investindo na vinha e renovando as instalações. Após a sua morte, em 2012, a propriedade atravessou novamente um período de estagnação.
A mais interessante e promissora história da Quinta da Atela começou em 2017, quando a propriedade foi adquirida pelo casal de empresários Anabela Tereso e Fernando Vicente, administradores da Valgrupo, holding de peso do sector da agropecuária. Ao longo de quase 40 anos construiram praticamente um império verticalmente integrado, incluindo criação, abate e transformação animal, constituído por um total de 32 empresas. A produção de vinho é uma nova página nesta história empresarial.

Quinta da Atela

Há, na propriedade, 20 hectares de uma vinha velha de Castelão com mais de 70 anos, a “Carvalhita”.

 

Uma referência do Tejo
Anabela Tereso ficou à frente do novo negócio. Não se deixou intimidar nem pela dimensão da quinta, nem pela quantidade de melhorias que precisavam de ser introduzidas, nem pelo facto de não ter nenhuma formação em vinhos. Arregaçou as mangas e agarrou o desafio. O objectivo era bem definido: fazer da Quinta da Atela uma referência na região do Tejo (e no país) em termos de enoturismo e produção de vinhos. E não se desviou dele. Quem se casou e começou a trabalhar aos 18 anos, está habituado a conjugar a vida familiar e profissional, tem força de vontade e resiliência suficiente para fazer tudo o que seja necessário para avançar. E a região do Tejo precisa de projectos destes.
Para assegurar a enologia contrataram novamente o reputado e experiente enólogo António Ventura. Novamente, porque o percurso do enólogo já passou pela Quinta da Atela ainda nos tempos do anterior proprietário, de 1997 até 2012, e ainda como consultor até 2016. Em 2020, António Ventura foi convidado por Anabela para assegurar o destino dos vinhos da propriedade, função que continua a assumir com a discrição, a elegância e a eficácia que lhe são conhecidos. Um autêntico “alfaiate” que faz vinhos por medida e ajudou repensar e redefinir a gama e o perfil dos vinhos, de acordo com as espectativas dos proprietários.
A função de enólogo residente e responsável de viticultura é assumida por Filipe Catarino.

Quinta da Atela

 

O objectivo estava bem definido: fazer da Quinta da Atela uma referência na região do Tejo. Quando Anabela Tereso ficou à frente do novo negócio, não se deixou intimidar. Arregaçou as mangas e agarrou o desafio

 

Muitas castas e um Castelão especial
Um (longo) passeio pelas vinhas num atrelado de trator é uma experiência bem “autêntica”. O pó dos caminhos não alcatroados e o calor habitual para a zona da Charneca na região do Tejo lembra-nos que o trabalho de viticultura numa área com esta dimensão não é fácil. Para além das vinhas deu para apreciar os montados, ver criação de bovinos (que ficaram contentes ao ouvir o som do trator e a pensar que lhes trouxemos comida).
Mais de 20 castas estão plantadas na quinta, entre as típicas da região como a Castelão e Fernão Pires e as internacionais que incluem Chardonnay, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc, Pinot Noir, Syrah, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Marselan e Merlot. Há, também, 20 hectares de uma vinha velha de Castelão com mais de 70 anos (plantada em 1953), a “Carvalhita”. A vinha é antiga, mas nada tem de decrépita e mostra ainda um vigor admirável. É precisamente desta vinha que agora foi lançado o fantástico monovarietal que tivemos a oportunidade de provar durante a visita.
A quinta trabalha exclusivamente com uva própria. O portfólio de vinhos abrange várias gamas, desde Colheita até Grande Reserva, e todas as categorias, desde espumantes até licorosos e uma aguardente vínica velhíssima e mais de 10 vinhos monovarietais, brancos e tintos. No total a Quinta da Atela produz 1,2 milhões de litros, sendo 50% vendido a granel. Vendem praticamente tudo no mercado nacional, começando agora a explorar os mercados de exportação.
Dos lançamentos mais recentes provámos o monovarietal de Sauvignon Blanc, bem conseguido, fresco e crocante, um belíssimo Castelão das vinhas velhas e uma surpresa que a enologia fez à proprietária pela sua determinação e dedicação ao projecto; um vinho que se chama Anabela, com designação de Grande Reserva.

Um tinto de homenagem
António Ventura explicou que “numa prova rotineira das barricas com vinhos em estágio, destacaram-se algumas delas pela excelência dos vinhos que continham, e foi então que nós, equipa de enologia, decidimos que existia ali potencial para um Grande Reserva tinto.” O passo seguinte foi mais difícil: escolher o nome para este novo topo de gama da casa. “Eventualmente, concordámos que o vinho, pelas suas características de excelência, ao nível da qualidade, frescura, intensidade e persistência, tinha tudo para ser uma singela homenagem da equipa à mentora do projeto da Quinta da Atela. Desenvolvemos, assim, o lote em completo segredo, tendo sido apresentado a Anabela Tereso apenas na fase final, e para sua enorme surpresa, com a sugestão de usar o seu nome próprio no rótulo deste belíssimo tinto”. Este vinho obteve a designação de Grande Reserva na câmara dos provadores da CVR do Tejo.
O Sauvignon Blanc é produzido com uvas de duas vinhas – uma plantada em 1999 e a outra em 2018 – instaladas em solos arenosos, pobres e bem drenados. Fermentou e estagiou em inox para preservar os aromas primários típicos da casta, com bâtonnage semanal para conferir mais textura. O Castelão fermentou em pequenos lagares de inox após pré-maceração a frio, por 24h, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês “Allier”, 50% novas e 50% de segunda utilização. O Anabela é um lote de Petit Verdot, Merlot e Syrah em partes iguais, com estágio de 16 meses em barricas de carvalho francês “Vosges” e “Allier”, 70% novas e 30% usadas.

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

Henkell Freixenet compra capital da distribuidora Vinicom

Henkell Freixenet

A Henkell Freixenet, líder mundial na produção e comercialização de vinhos espumantes, com um volume de negócios de 1479 milhões de euros em 2023, reforça a sua posição em Portugal após ter comprado a posição do outro sócio da empresa, Francisco Sousa Coutinho. Fica, assim, com a totalidade do capital da Vinicom, empresa distribuidora no […]

A Henkell Freixenet, líder mundial na produção e comercialização de vinhos espumantes, com um volume de negócios de 1479 milhões de euros em 2023, reforça a sua posição em Portugal após ter comprado a posição do outro sócio da empresa, Francisco Sousa Coutinho. Fica, assim, com a totalidade do capital da Vinicom, empresa distribuidora no mercado nacional.

Francisco de Sousa Coutinho e a Henkell Freixenet fundaram a Vinicom em 2004, com a segunda a deter 49,5 % das acções. Desde então, a distribuidora tem sido o parceiro de distribuição das marcas da Henkell Freixenet no mercado português.

Além do portefólio do grupo formado em 2019, quando a alemã Henkell comprou 50% do capital da espanhola Freixenet, que inclui produtos de origens como Espanha, França, Itália, EUA, Argentina e Austrália, a Vinicom distribui, entre outras, marcas portuguesas como Quinta do Vale Meão, Lavradores de Feitoria, Quinta do Côtto, Howard’s Folly e os vinhos do Porto Blackett.

“Vemos grandes oportunidades de desenvolvimento no mercado para as nossas marcas e de parceiros, como a Freixenet e Mionetto, em conjunto com as do excelente portefólio de marcas de vinhos portugueses”, refere Andreas Brokemper, CEO da aliança germano-espanhola Henkell Freixenet, a propósito da tomada de controlo do negócio da Vinicom.

Editorial Setembro: Sentido de origem

Editorial

Editorial da edição nrº 89 (Setembro 2024) Gosto de vinhos com forte identidade regional, com aquela particular combinação de aromas e sabores que toca as nossas memórias sensoriais e nos remete de imediato para um local, um território, uma origem. Esses denominadores comuns que sentimos no copo são, sobretudo, construídos com base em clima, solo […]

Editorial da edição nrº 89 (Setembro 2024)

Gosto de vinhos com forte identidade regional, com aquela particular combinação de aromas e sabores que toca as nossas memórias sensoriais e nos remete de imediato para um local, um território, uma origem.

Esses denominadores comuns que sentimos no copo são, sobretudo, construídos com base em clima, solo e casta (ou castas). O peso da variedade de uva nesta conjugação é muito importante e o único factor de construção identitária – além do trabalho na vinha e na adega, claro – que depende mais do Homem do que da Natureza. Tão importante é a casta na definição de uma Denominação de Origem que, na tradição vitivinícola europeia, nunca é deixada ao livre-arbítrio do produtor. Ou seja, na prática, quem quiser ser amparado pela protecção e estatuto DOC de Bordeaux, Barolo, Rioja, Bourgogne, Chianti, Champagne, Rueda, etc., tem de se cingir a um conjunto de variedades “tradicionais” previstas na lei, em alguns casos com percentagens mínimas obrigatórias para as mais relevantes. Mas quem quiser usar as castas em que mais confia, não deixa de poder fazer grandes vinhos: terá sempre ao dispor as muito menos restritivas IG (Vinho Regional). No meio de tudo isto, claro, há regiões mais “fechadas” e regiões mais “abertas” quanto à introdução (sempre progressiva e muito escalonada no tempo), de castas externas, sendo que as DOC mais antigas tendem a estar no campo das primeiras e as mais recentes nas segundas.

Sendo a mais antiga do mundo, o Douro é um bom exemplo. Na prova de rosés que publicamos nesta edição, dos 15 vinhos provados, 14 combinam as variedades Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinto Cão (esta última cada vez mais usada para rosés ambiciosos), em conjunto ou em separado. O único (por sinal, belíssimo) que sai fora do “alinhamento” utiliza Pinot Noir e não pode por isso ser Douro, sendo certificado como IG/Regional Duriense. No Douro, o Pinot Noir é apenas admissível para espumante.

Regra geral, nas regiões clássicas, apesar de haver muitas “castas históricas” disponíveis, os produtores utilizam um número reduzido, reforçando assim, mais ainda, a identidade regional. É o caso da Bourgogne onde, com mais de dúzia e meia de uvas brancas e tintas legalmente admissíveis, 90% do encepamento se divide entre Chardonnay e Pinot Noir. Já nos tintos de topo do Douro temos vindo a assistir a um processo de concentração semelhante, com uma nuance, focada em dois modelos distintos: um, maioritário, assenta no blend Touriga Franca/Touriga Nacional, com ou sem tempero residual de outras castas; outro, minoritário, recorre ao field blend de vinhas velhas, onde a localização é, quase sempre, mais importante do que o encepamento.

A Bairrada seguiu um caminho totalmente oposto ao do Douro. Em 2003 abraçou um vastíssimo catálogo de variedades nacionais e estrangeiras – praticamente todas as de que se lembraram – ao invés de as relegar para o IG (convenhamos, o nome – Beira Atlântico – não ajuda nada), tornando-se assim a DOC mais “aberta” de Portugal. Um passo, a meu ver, disparatado e contra o qual me insurgi por diversas vezes. Sem questionar a qualidade das “novas”, temia que a vontade declarada de substituir as uvas clássicas por Cabernet, Viognier, Sauvignon, Merlot, Syrah, Petit Verdot, diluísse completamente a identidade regional. Hoje, a minha indignação de há duas décadas dá-me vontade de rir. Devia ter tido mais fé na região, na resiliência dos poucos produtores que não embarcaram no canto da sereia e no seu exemplo mobilizador. Vinte anos volvidos, a Grande Prova deste mês espelha a Bairrada de hoje: entre 26 tintos, apenas 3 incluem castas provenientes do descontrolo varietal de 2003…. Podia ter poupado o meu latim. LL

 

UTAD apura idade do vinho do Porto pelos seus aromas

A intensidade dos diversos aromas do vinho do Porto contribui para se conhecer a idade deste produto único da Região Demarcada do Douro. Segundo um comunicado da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a molécula soloton, responsável pelo aroma típico dos Portos envelhecidos, funciona como indicador de idade, já que a sua concentração aumenta […]

A intensidade dos diversos aromas do vinho do Porto contribui para se conhecer a idade deste produto único da Região Demarcada do Douro. Segundo um comunicado da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a molécula soloton, responsável pelo aroma típico dos Portos envelhecidos, funciona como indicador de idade, já que a sua concentração aumenta com o tempo nos vinhos do Porto que passam por um envelhecimento oxidativo, como os Brancos e os Tawnies.

A equipa de investigação da UTAD desenvolveu e validou um método para a quantificação específica de sotolon em Vinhos do Porto e também um outro para a determinação precisa e exacta dos outros compostos do aroma dos vinhos do Porto branco e Tawny, ambos publicados na prestigiada revista internacional, Food Chemistry.

“Um vinho jovem tem uma quantidade vestigial de soloton, que não é percetível ao cheirar, enquanto que num vinho do Porto Tawny com indicação de idade de 40 anos, a sua concentração é consideravelmente superior e a sua contribuição para o aroma global do vinho é crucial”, explica a investigadora do Centro de Química da UTAD, Juliana Milheiro. “Dependendo da sua concentração, esta molécula confere, aos vinhos, aromas descritos como caril, amêndoas, nozes, caramelo e açúcar amarelo”, acrescenta.

O perfil aromático dos vinhos do Porto brancos foi estabelecido pela primeira vez neste trabalho e mostrou-se semelhante ao dos vinhos do Porto Tawnies, fornecendo uma base importante para o conhecimento dos compostos responsáveis pelas características aromáticas que definem a sua qualidade. “É essencial para que o setor possa controlar e melhorar a qualidade, permitindo, assim, a definição de parâmetros de qualidade aromática para as diferentes categorias de Vinhos do Porto”, diz ainda a investigadora da UTAD.

Adega de Palmela promove enoturismo em dia de vindima

A Adega de Palmela assinalou a época das vindimas deste ano com “Um dia de vindima na Adega de Palmela”, um programa com visita às vinhas e à adega, que incluiu a participação na vindima e pisa a pé, para além da prova de vinhos, degustação de sabores da região e um almoço na sala de barricas.

A Adega de Palmela assinalou a época das vindimas deste ano com “Um dia de vindima na Adega de Palmela”, um programa com visita às vinhas e à adega, que incluiu a participação na vindima e pisa a pé, para além da prova de vinhos, degustação de sabores da região e um almoço na sala […]

A Adega de Palmela assinalou a época das vindimas deste ano com “Um dia de vindima na Adega de Palmela”, um programa com visita às vinhas e à adega, que incluiu a participação na vindima e pisa a pé, para além da prova de vinhos, degustação de sabores da região e um almoço na sala de barricas.

A recepção aos visitantes começou na Adega de Palmela. Seguiram depois para uma das vinhas dos seus associados, onde foram convidados a participar nas vindimas. Após os cestos estarem replectos de cachos de uvas, foi hora de apreciar os novos branco e rosé da marca Cá Calharás, na companhia de vários petiscos típicos da região de Palmela, como compotas, chouriço, queijo de azeitão, uma opção tradicional em visitas de enoturismo desta adega.

Depois, o grupo dirigiu-se às instalações da Adega de Palmela, onde foi apresentado todo o processo de vinificação, desde a recepção das uvas até ao vinho ser engarrafado. Todos os participantes tiveram a oportunidade de participar na tradicional pisa a pé das uvas, que foi seguida de um almoço na cave das barricas, onde o vinho é armazenado nas condições ideais de estágio. Para Teresa Grilo, responsável do Enoturismo da Adega de Palmela, “importam muito experiências como esta, para aprendermos a valorizar mais o que está na base da sustentabilidade do ser humano: a agricultura, neste caso a viticultura”.

Nobre Gosto tem início este fim-de-semana com convidados internacionais

Nobre Gosto

A Grandes Escolhas e o Município de Oeiras organizam a 3ª edição do único evento exclusivamente dedicado a vinhos fortificados e doces. Depois do sucesso das edições anteriores, a iniciativa, organizada pela Grandes Escolhas com o apoio do Município de Oeiras e do Turismo de Portugal, apostou na internacionalização do evento com a presença especial […]

A Grandes Escolhas e o Município de Oeiras organizam a 3ª edição do único evento exclusivamente dedicado a vinhos fortificados e doces.

Depois do sucesso das edições anteriores, a iniciativa, organizada pela Grandes Escolhas com o apoio do Município de Oeiras e do Turismo de Portugal, apostou na internacionalização do evento com a presença especial dos vinhos de Jerez, Espanha, e Tokaj, Hungria, que se juntam aos generosos portugueses em três dias de festa e atividades que pretendem evidenciar a qualidade, distinção e notoriedade dos vinhos fortificados a nível nacional e internacional.

O vinho de Carcavelos, um dos mais antigos vinhos fortificados portugueses, volta a ser o anfitrião de um evento que apresenta um programa diversificado, com provas comentadas, visitas à Adega Villa Oeiras, demonstrações culinárias e masterclasses, além de uma zona de exposição com doces regionais, pastelaria, chocolates e outras iguarias. A entrada é livre e estas atividades realizam-se nos dois dias de evento abertos ao público, sábado e domingo. O primeiro dia, sexta-feira, é dedicado exclusivamente aos profissionais da restauração e hotelaria.

As novas formas de consumir vinhos fortificados, como os cocktails, merecem uma atenção especial. Por isso, o Nobre Gosto terá em permanência um bar que os servirá com base nos licorosos portugueses. Para além disso, haverá uma masterclasse orientada pelo bartender do ano, Wilson Pires, dirigida para profissionais do ramo de frequência livre sujeita a inscrição.

Provas comentadas
Um dos pontos altos do evento são as Masterclasses que permitem, aos interessados, conhecer um pouco mais sobre os vinhos generosos. Realizam-se na Capela do Palácio e têm lugares limitados, sendo necessário adquirir bilhete através da Ticketline. São as seguintes:

– Vinho do Porto: “O maravilhoso mundo dos Porto brancos da Kopke”;
– Vinho Madeira: “Um legado de gerações”;
– Vinho de Carcavelos: “Os surpreendentes Colheita Villa Oeiras”;
– Vinho Moscatel de Setúbal: “O estilo singular dos grandes Moscatel da Bacalhôa”;
– Vinho de Jerez: “Vos e VORS, os Vinhos mais nobres de Jerez”;
– Vinho Tokaj: “Os Vinhos da coleção Confraria Tokaj”.

Este ano o Nobre Gosto apresenta ainda, como convidados especiais, os vinhos de Jerez, Montilla-Moriles, Condado de Huelva, Málaga, Rueda e Tokaj (Hungria).

* A entrada e circulação no recinto do evento é livre, mas o acesso às provas livres será feito exclusivamente mediante compra de copo no valor de 10€.

* As Masterclasses/ Provas Especiais, são momento únicos e exclusivos, cujo acesso ser feito através de compra de bilhete AQUI

* A compra de lugar na masterclass dá direito ao copo para entrada na zona de provas livres do Evento.

HORÁRIOS:

20/09 (exclusivo para profissionais): Abertura às 17h

21/09 Sábado : 15:00 às 21:00

22/09 Domingo : 15:00 às 19:00

Quinta da Atela aposta ainda mais no enoturismo

Quinta da Atela

A Quinta da Atela, produtor de vinho da região vitivinícola do Tejo, acaba de lançar um novo programa de enoturismo que promete conquistar os amantes de vinho e os entusiastas do turismo rural, que procuramum refúgio no coração do país. Com uma história que remonta ao século XIV, apropriedade de Alpiarça abre agora as suas […]

A Quinta da Atela, produtor de vinho da região vitivinícola do Tejo, acaba de lançar um novo programa de enoturismo que promete conquistar os amantes de vinho e os entusiastas do turismo rural, que procuramum refúgio no coração do país.
Com uma história que remonta ao século XIV, apropriedade de Alpiarça abre agora as suas portas para oferecer uma experiência imersiva, onde os visitantes podem explorar as vinhas e a Reserva Natural do Paul da Gouxa em buggy todo-o-terreno ou no reboque do trator, participar em qualquer uma das três provas de vinhos disponíveis e conhecer de perto o processo de produção. Nesta aventura por paisagens a perder de vista, a Quinta da Atela convida adescobrir pontos de interesse natural e arqueológico como o maior Salgueiro Negral da Península Ibérica ou o Cabeço da Bruxa. São 600 hectares de natureza no seu estado mais puro.

E para quem vem de longe, ou apenas quer passar a noite na calmaria do campo, a restaurada casa centenária, ainda com a “traça” original, oferece quatro suítes e piscina exterior. Para juntar estadia e experiências de enoturismo, a Quinta da Atela sugere um dos dois pacotes que incluem uma noite, tour pela propriedade, prova ou piquenique e um momento cultural ou de visita à adega.

Quinta da Atela

www.quintadaatela.pt

Estrada Nacional 118, km78 – 2090-219 Alpiarça

O Tempo dos vinhos por Luís Antunes

tempo dos vinhos

O vinho é um produto agrícola de ciclo muito longo. Na sua produção, o tempo do vinho, o ciclo da vinha, é um ano. Podemos fazer um zoom-out para percebermos que quando se planta uma vinha — e uma vinha pode produzir vinho durante muitas décadas—, essa decisão afectará muitos destes ciclos anuais. A decisão […]

O vinho é um produto agrícola de ciclo muito longo. Na sua produção, o tempo do vinho, o ciclo da vinha, é um ano. Podemos fazer um zoom-out para percebermos que quando se planta uma vinha — e uma vinha pode produzir vinho durante muitas décadas—, essa decisão afectará muitos destes ciclos anuais. A decisão de arrancar ou reconverter uma vinha velha é, então, obviamente, uma decisão de peso, que tem impacto durante muitas décadas no estilo do vinho a produzir. Uma vinha velha não se define apenas pela sua idade. Também se define pelas castas que inclui em cada parcela, pela condução das vinhas que, trazendo mais ou menos energia do Sol para cada cacho, pode representar mais maturação ou mais frescura no vinho que ali se produz.

O ciclo vegetativo anual é também uma consequência dessas decisões de fundo. Uma casta de ciclo longo vai amadurecer mais devagar, preservando melhor os preciosos ácidos enquanto reúne os açúcares no amadurecimento, garantindo assim um equilíbrio que o consumidor depois agradece. Uma casta de ciclo mais curto ajuda a que o amadurecimento chegue antes que os orvalhos do Outono apodreçam as uvas. Cada sítio quer assim as suas escolhas, provando que o terroir inclui sempre o homem, não apenas os solos, climas, exposições solares e castas. Decisões antigas com fé reafirmada em cada vindima.

Na vindima é o tempo que acelera. As semanas são cheias de dias, as uvas não esperam, as fermentações têm tempos críticos. Os dias são cheios de acção, é a colheita, a fermentação, a limpeza, muita limpeza, as trasfegas, os lagares, as mantas regadas, mil-e-uma tarefas para cuidar dos vinhos que se fazem, libertar espaço para os vinhos que se vão fazer, cuidar dos vinhos já feitos. Ainda por cima, nestes tempos de turistas e visitantes, há sempre gente a entrar e a sair, jornalistas, curiosos, apaixonados do vinho, parceiros comerciais, tempo ocupado, ainda tempo para cuidar disto tudo, refeições para serem cozinhadas, e apreciadas com os vinhos de anos passados, sonhando com os anos futuros.

tempo dos vinhos

Quando a coisa abranda, as decisões podem ser mais espaçadas, mas não são menos importantes. Estágios, lotes, marcas, rótulos, engarrafamentos, rolhas, vendas. Um vinho que se estagia na adega é um vinho que tarda mais em vender. Fica o empate de capital, fica o espaço e vasilhame para o guardar, e às colheitas seguintes que se queiram fazer. Um estágio que se faça em barrica obriga a investir em barricas, o que, para além do custo delas próprias, inclui o custo da mão de obra para as cuidar. As vasilhas não podem ficar a meio e, por isso, quanto menores, mais mão de obra exigem. A sofreguidão destes trabalhos acelera quando se fazem as fermentações malolácticas, mas depois abranda até ao Verão seguinte. Aí vêm os engarrafamentos e o planeamento da próxima vindima. Vendas, transportes.

E neste ciclo de produção entra em jogo o consumidor. Que vai comprando vinho ao longo do seu ano, com os seus tempos, se calhar mais rosés e brancos no tempo quente, mais tintos e fortificados no tempo frio. E comprando, vai abrindo e bebendo. Quando? Ora, diz-se como lenda que o tempo médio que decorre entre a compra de uma garrafa e a sua abertura e consumo é cerca de duas horas. Tempo curto, nem sei como arrefecem os brancos. Se calhar compram já fresco. Por mim, aprecio um vinho bebido no seu tempo próprio. No auge da sua evolução.

 

Ao longo dos anos têm melhorado muito os vinhos brancos portugueses e os melhores já são agora postos à venda com alguns anos de estágio, uma cortesia do produtor que os aproxima desse tempo ideal. Mas mesmo quando são postos à venda ainda no ano da sua vindima, muitas vezes sou eu que faço questão de os estagiar devidamente. O meu melhor exemplo talvez seja o Alvarinho de Monção e Melgaço. Tão bom de beber logo que sai, tão melhor de o degustar com alguns anos. Muitas vezes escondo uma caixa de garrafas na garagem, esperando esquecer-me dela para a ir buscar anos mais tarde. Se, das seis garrafas, duas evoluírem demasiado, vale a pena, que as outras quatro mais do que compensam. E um truque para as outras duas é bebê-las com um queijo de ovelha curado, a combinação tradicional que quase caía em esquecimento.

Os tintos sempre aguentaram melhor a espera e também esses os faço esperar. Prefiro comprar menos variedade e mais garrafas de cada vinho. De Bordeaux costumava comprar sempre uma caixa de 12, e nunca as abria antes de 8 ou 10 anos. Aí uma garrafa por ano, para avaliar a evolução do vinho. Se estava de urgência, acelero o ritmo, se não, abrando. Um vinho antigo, nunca o decanto. O vinho que esperou muito tempo com pouco contacto com o ar fica guloso de oxigénio quando se tira a rolha. Tira-se então a rolha com cuidado, saca-rolhas de lâminas, e deixa-se respirar aquele nadinha de vinho do gargalo. Depois serve-se com poucos safanões a garrafa toda, para cada comensal apreciar no copo o seu bouquet. Decantar é só para vinhos novos, para lhes amaciar os taninos espigados. Mas é sempre melhor esperar que o tempo lhes arredonde as arestas.

tempo dos vinhos

Mas para nenhum vinho é verdade que “quanto mais velho melhor”. Mesmo os fortificados mais poderosos, grandes Portos ou Madeiras, devem ser bebidos no seu tempo certo. Esperar demasiado pode prejudicar o vinho, deixemos essas longas esperas para quem conhece melhor essas artes, os enólogos que nas caves os envelhecem e loteiam, que os provam continuamente para colocar na garrafa no tempo certo. Um grande Porto vintage envelhece longamente na garrafa e podemos fazê-lo nós em casa, mas não convém esperar demais. Também aqui é preciso ir provando, pois vale sempre a pena conhecer o que temos na garrafeira, convidar uns amigos e abrir as garrafas. Um Porto tawny e especialmente um Madeira podem envelhecer para sempre, mas não necessariamente melhorar em garrafa na nossa cave. Por isso é dar-lhe, não esperar mais do que o devido.

De princípio a fim falei sempre de tempo, do tempo dos vinhos. Espirais de tempo, grandes e pequenas, que envolvem terras, cepas, uvas, mostos, lagares, cubas, barricas, garrafas, vinhos, copos. Que nos envolvem a nós e à nossa vida. Agora, é tempo de ir beber um vinho.  LA

(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)