QUINTA DOS CASTELARES: O sonho concretizado de Manuel Caldeira

Quinta dos Castelares

Freixo de Espada à Cinta fica no distrito de Bragança. Mas em termos do mapa vínico nacional, pertence à sub-região do Douro Superior. Possui uma área aproximada de 245 km2, sendo limitada, a Norte, pelo concelho de Mogadouro, a Sul pelo concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, a Oeste pelo concelho de Torre de Moncorvo […]

Freixo de Espada à Cinta fica no distrito de Bragança. Mas em termos do mapa vínico nacional, pertence à sub-região do Douro Superior. Possui uma área aproximada de 245 km2, sendo limitada, a Norte, pelo concelho de Mogadouro, a Sul pelo concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, a Oeste pelo concelho de Torre de Moncorvo e a Este pela vizinha Espanha (Província de Salamanca). O rio Douro passa a cerca de 4 km da vila, demarcando, neste concelho, a fronteira entre Portugal e Espanha.
Há diversas explicações para o curioso nome desta vila. Uns dizem que teve origem no nome de um fidalgo godo “Espadacinta”, outros no brasão de um fidalgo leonês que tinha um freixo e uma espada ou, ainda, na lenda que diz que D. Dinis, rei de Portugal, quando fundou a localidade no séc. XIV, amarrou a sua espada a um freixo, antes de se encostar à árvore a descansar. Essa árvore, de grande porte, está há mais 500 anos no largo principal da vila e merece observação atenta.

Para além das amendoeiras em flor que levam muitos visitantes à vila, sobretudo na Primavera, para assistir a tal beleza da terra, há que explorar os diversos miradouros que atestam uma paisagem natural avassaladora. Freixo é também uma vila Manuelina, pintada de monumentos e casas com traços arquitetónicos desse tempo. Na vila pode ainda visitar a Casa Natal de Guerra Junqueiro, onde nasceu o poeta, político e jornalista português, situada na Rua das Flores e onde está a coleção de livros e as pautas da sua Marcha do Ódio. Pode ainda ser visitada a casa da sua família, onde está uma mostra de objetos agrícolas, roupa, utensílios de cozinha, de modo a exemplificar como vivia uma família abastada no século XIX.

O patriarca Manuel Caldeira

É neste contexto histórico, envolvido no Douro Superior, que se materializa o sonho de Manuel Caldeira. Homem da terra, nascido e criado em Freixo, desde muito cedo iniciou a sua vida na agricultura, tendo mais tarde enveredado pela construção civil. Em 2010 lança o desafio ao seu genro, Pedro Martins, de criar uma marca de vinhos própria.

“O Sr. Caldeira começou na agricultura com o pai, que era feitor de algumas quintas aqui. Criou a empresa dele, a sua atividade principal, mantendo sempre o foco na agricultura, e foi adquirindo mais terras, plantando vinhas e diversificando. Em 2010, nós tínhamos cerca de 600 ovelhas, éramos o maior produtor de leite da região e somos dos maiores produtores de amêndoa e azeitona de Freixo de Espada-à-Cinta. Ao todo, neste momento as propriedades com floresta e tudo, rondarão os 600 hectares de terra”, salienta, com entusiasmo, Pedro. Aceite o desafio feito pelo sogro, começa a desenhar as bases de um projeto que avança hoje para os 15 anos de idade, com crescimento sustentado e qualidade reconhecida no mercado. Assim nascia o projeto Quinta dos Castelares.

“Freixo de Espada à Cinta é conhecida pela arquitetura manuelina e tem uma igreja com uma porta fabulosa, que foi a inspiração do rótulo da Quinta dos Castelares. O rio Douro, na região demarcada, começa em Freixo, pelo que também tem destaque no rótulo, bem como a faixa castanha de terra como alusão a Espanha. Esfera Armilar porquê? Não somos família brasonada, mas ela é um símbolo dos Descobrimentos, em que nós portugueses conquistámos o mundo e eu usei esse símbolo, porque também quero conquistar o mundo através dos vinhos”, explica Pedro.

Quinta dos Castelares

Atualmente, este projeto familiar explora cerca de 145 hectares de vinha, distribuídos por três quintas

 Um projeto familiar

Atualmente, este projeto familiar explora cerca de 145 hectares de vinha, distribuídos por três quintas: A dos Castelares, com cerca de 100 hectares; a da Congida, que fica junto à praia do rio fluvial, na parte de cima da barragem de Saucelle, com 10 hectares; enquanto que na parte de baixo da barragem se situa a Quinta da Fronteira, com cerca de 42 hectares, que estava na posse da Companhia das Quintas e foi adquirida em 2017. Lá são produzidos tintos e Vinho do Porto.

“Com a estratégia que implementamos quando, em 2011, começámos com cerca de 70 hectares, números redondos, fomos crescendo ao ponto que chegámos, hoje, aos cerca de 145 ha, porque havia solicitações de mercado para mais vinho e mais segmentos”, conta Pedro Martins. “Em vez de entrarmos na aquisição de uvas, que não sabemos a qualidade que têm, decidimos optar por expandir e ter a certeza de controlar a qualidade da matéria-prima”, explica. E com a aquisição em particular da Quinta da Fronteira foi possível a empresa crescer na produção de vinho do Porto. Hoje tem cerca de 300 pipas de benefício, das quais vende parte a granel.

Se Manuel Caldeira é o eterno visionário, Pedro Martins é o homem que atualmente dirige todas as fases da empresa, incluindo a enologia. A admiração do primeiro pelo genro é inegável e a sua paixão pela terra, pelas vinhas e pelos vinhos que ajudou a construir e o projeto que viu crescer sob a sua alçada, transparece no brilho dos seus olhos e deve ser justamente destacada.

São cerca de 500 mil garrafas produzidas anualmente a partir de vinhas que se situam entre os 700 metros de altitude, na Quinta dos Castelares, e os 450 metros de altitude, na Quinta da Fronteira, permitindo assim criar vinhos de perfis distintos. O mercado nacional representa cerca de 60% das vendas, sendo os restantes 40% para exportação. A adega é moderna, ampla e contempla barricas de carvalho francês, húngaro e americano, utilizadas no loteamento dos vinhos. Toda a produção é certificada em modo biológico, o que também diferencia este projeto. Em termos de encepamentos, destacam-se, nas castas tintas, a Touriga Nacional (30% do total plantado), Tinta Roriz, Bastardo, Tinta Francisca, Touriga Franca, Alicante Bouschet e Pinot Noir, enquanto nas castas brancas podemos encontrar Códega de Larinho, Gouveio, Viosinho, Alvarinho, Rabigato, Moscatel e Chardonnay.

Quinta dos Castelares

O caráter do Douro Superior

O portfolio é bastante alargado, com diversas referências distribuídas pelas marcas Quinta dos Castelares e Fronteira, havendo também espaço para vinhos especiais como o espumante 100% de Códega de Larinho (provavelmente o único no mercado desta casta) e outras referências que são já icónicas como o Quinta dos Castelares Sublime, expressão muito particular de um 100% Touriga Nacional, ou o Bicho da Seda, o topo de gama da casa, que apenas sai em anos excecionais e resulta do melhor das vinhas velhas da propriedade.

“A diversidade de barricas permite-nos engarrafar uma nova referência se identificarmos algo especial, mas o segredo está na vinha e nas uvas que possuímos”, diz Pedro Martins. O vinho Bicho da Seda, por exemplo, provém da Vinha do Almirante, um field blend com mais de 60 anos, localizado em altitude.
O objetivo é manter a qualidade e continuar o legado de Manuel Caldeira. É inegável a sua importância e presença mesmo quando está longe, bem como o carinho que todos nutrem por ele, em particular Pedro. “Em 2017 decidi fazer um grande branco ao estilo Borgonha em sua homenagem, um branco gordo mas muito prazeroso”, conta. Mais tarde fez o tinto, que teve origem nas uvas que Manuel Caldeira considera as melhores dos talhões. “Sem ele saber, peguei nessas uvas e criei o Manuel Caldeira tinto”, revela o genro. Ambos, que foram um sucesso comercial, representam muito para a marca e perpetuam para sempre a memória do sogro.

Após a visita às vinhas, às quintas e à adega foi tempo de provar várias referências do extenso portfolio da casa, das quais daremos respetiva nota de prova. A sala de provas é lindíssima, com uma vista fabulosa para as vinhas da Quinta dos Castelares protegidas pela Serra de Poiares. Para fim de festa, fomos testar alguns dos topos da casa à mesa no restaurante Cinta D’Ouro. São vinhos concentrados, eminentemente gastronómicos, expressão do Douro Superior, que brilharam à mesa com o menu preparado pelo Chef Diego Ledesma, com destaque para a salada de perdiz, o bacalhau e uma maravilhosa e suculenta costeleta de carne maturada de comer e chorar por mais. De visita obrigatória!

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Março de 2025)

S. Salvador da Torre: Emancipação do Loureiro

Granvinhos

Analisando os dados referentes às exportações de vinhos oriundos da região dos Vinhos Verdes, em relação logo ao primeiro semestre do ano transato, compreendemos porque motivo esta se mostra cada vez mais atrativa para investimentos de longo prazo. O ano de 2023 havia terminado com um crescimento, em volume, na ordem dos 8%, contabilizando 35 […]

Analisando os dados referentes às exportações de vinhos oriundos da região dos Vinhos Verdes, em relação logo ao primeiro semestre do ano transato, compreendemos porque motivo esta se mostra cada vez mais atrativa para investimentos de longo prazo. O ano de 2023 havia terminado com um crescimento, em volume, na ordem dos 8%, contabilizando 35 milhões de litros, de um total de 90 milhões de litros exportados, e cerca de 11% em valor. O primeiro semestre de 2024 surpreendeu com números pouco usuais para a conjuntura atual, representando, apenas nos dois primeiros meses do ano, um acréscimo de 30% no volume de exportações, o que mostra como a região se encontra dinâmica. Aparte isso, há uma toda uma nova conjuntura de consumo mundial que traz uma evidente vantagem competitiva à região.

 

Granvinhos

 

O interesse da Granvinhos pela expansão além da sua zona de conforto, o Douro, já viria de há uns seis ou sete anos.

 

Perfil mais leve

Aliada à quebra do consumo mundial, há hoje uma busca mais premente por vinhos brancos, com um perfil mais leve e de mais reduzido teor alcoólico, algo que assenta como uma luva aos Vinhos Verdes.

Contudo, para Jorge Dias, CEO da Granvinhos, as decisões nem sempre se movem pela estrita e absoluta racionalidade. A aquisição da Quinta de São Salvador da Torre possuí essa mesma premissa.

O interesse da Granvinhos pela expansão além da sua zona de conforto, o Douro, já viria de há uns seis ou sete anos atrás, buscando novos projetos para alargar a sua área de influência. Inicialmente, o Alentejo foi aventado como uma hipótese, logo colocada de parte por se entender que não acrescentaria valor e diferenciação ao negócio. Numa perspetiva que alia a racionalidade à emoção, para Jorge Dias apenas duas regiões preenchiam, para si, as virtudes e características que pretendia acrescentar ao grupo: a Bairrada e os Vinhos Verdes. Colocada, por ora, de parte a Bairrada, com um negócio que não chegou a bom porto, o foco passou a incidir sobre os Verdes e, em 2022, surge a hipótese da Quinta de S. Salvador da Torre.

Alguns meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, proprietário da Quinta, e o negócio fez-se, mais uma vez com uma forte carga emocional pelo meio. Jorge Dias mantém, há mais de 30 anos, uma amizade forte com Anselmo Mendes, o enólogo e produtor que, à data, era o consultor do grupo agroalimentar, tendo sido já ele quem, em 2015, planeou a plantação das vinhas na vasta propriedade de Viana do Castelo.

No modelo para o futuro risonho desta quinta, o Loureiro é peça fulcral da engrenagem idealizada pela Granvinhos.

 

Cinco séculos preservados

É um extenso manto verde que envolve a quinta, cuja história remonta a 1512. São cerca de 37 hectares, 30 deles de vinhedos, que compõem uma propriedade totalmente murada, situada na margem direita do rio Lima e apenas 10 km de distância do Atlântico. No centro, e no seu ponto mais alto, ergue-se uma imponente casa senhorial, cuja edificação original remonta às primeiras décadas do séc. XVI, tendo, ao longo dos séculos, sido objeto de diversas intervenções e ampliações, remontando a última a 1925.

Percebendo a singularidade do património que ali se ergue, Jorge Dias entregou a sua reabilitação ao gabinete de arquitetura de Luis Pedro Silva, o autor da conceção do arrojado Terminal de Leixões. Com ele trouxe uma equipa de especialistas de arquitetura de reabilitação e história, vincando a pretensão de seguir, com rigor, uma obra que mantenha uma forte linha de coerência com um passado de cinco séculos.

É ainda na Idade Média que surgem as primeiras referências à Quinta, inicialmente parte integrante do Mosteiro Beneditino de S. Salvador da Torre, que recebeu carta de couto de D. Afonso Henriques em 1129. Ao longo dos séculos foram vários os proprietários que promoveram modificações de monta ao edificado original, destacando-se a família Rocha Brandão, que manteve a quinta na sua posse durante cerca de 400 anos, tendo sido, da sua lavra, a construção do solar, e a capela em devoção a Santo Isidoro, no século XVII, por Bula do Papa Júlio III.

Já no século XX, a quinta é adquirida pelo banqueiro José Carreira de Sousa, que, consigo, traz o arquiteto que, em 1912, ganhou o Prémio Valmor, pela “mais bela casa de Lisboa”, Villa Sousa. Manuel Joaquim Norte Júnior era o mais brilhante arquiteto da sua geração, representando um estilo eclético, com influências do geometrismo e do modernismo inspirado na Arte Nova. Em 1925, o solar acolhe, agora, a sua mais importante e recente obra de reabilitação, mantendo intacta a beleza das suas fachadas. Durante todo o século XX é desenvolvida, de forma mais sistemática e intensiva, a viticultura na Quinta, que chegou a produzir cerca de 120 pipas de vinho branco de qualidade admirada.

Em 1980, é adquirida pela Soja de Portugal, empresa que expande a atividade agrícola à pecuária, transformando a quinta num campo de ensaios nas suas áreas de atuação, tendo-a alienado à Granvinhos em 2022.

A consagração do Loureiro

No modelo para o futuro risonho desta quinta, o Loureiro é a peça fulcral da engrenagem idealizada pela Granvinhos para a sua entrada, com pompa, na região dos Vinhos Verdes. As condições naturais são perfeitas para qualquer modelo, seja ele de maximizar produções ou, como é o objetivo do grupo proprietário, criar vinhos de quinta, de absoluta diferenciação e produções que nunca ultrapassarão os 120 mil litros anuais.

A contiguidade ao Rio Lima e a abundância de água marcaram, durante séculos, o retrato da propriedade murada, com as suas charcas e fonte de mergulho medieval, dona da identidade que acaba por dar cor ao figurativo da marca. A água tem aqui duas vertentes umbilicalmente ligadas pela religião e pelas suas propriedades curativas.

A vinha domina a paisagem, cobrindo 30 hectares contínuos, cabendo ao Loureiro a maior mancha do vinhedo, com 14 hectares, sobretudo nas cotas mais elevadas da quinta, aí se encontrando também a parcela mais exclusiva, a Vinha dos Castanheiros, de onde são oriundas as melhores uvas da casta. Os solos estratificados permitem uma melhor avaliação da aptidão das suas diversas dimensões e composições – xisto, granito e aluvião – a cada uma das castas ali plantadas. Anselmo Mendes, que já desempenhava funções de consultoria há uma dezena de anos na propriedade, e foi o responsável pela plantação das vinhas atuais em 2015, desenhou-as de modo a delas extrair a máxima qualidade e identidade.

Os resultados começaram a surgir logo em 2023, tendo sido, recentemente, lançado o primeiro vinho com a chancela Quinta de S. Salvador da Torre, um Loureiro estreme, casta que, segundo Anselmo Mendes, encontra ali as condições ótimas para uma expressão de elegância e personalidade muito vincadas. Há, em Jorge Dias, uma crença muito elevada de que a Quinta se transformará, muito em breve, num referencial na região dos Vinhos Verdes. Para tal, afastaram-se ideias de volume, estando apenas a apostar-se na singularidade qualitativa, ensaiada numa componente de sustentabilidade ambiental muito forte que, por ora, passa pela produção integrada.

“Acredito no futuro do Vinho Verde e, em particular, nas castas Alvarinho e Loureiro. É um produto muito bem-adaptado aos novos tempos e hábitos de consumo, que necessita, contudo, de ser valorizado pela ligação às respetivas zonas de produção, bem como à dieta atlântica, na qual Portugal tem uma oferta ímpar”, refere Jorge Dias, Diretor-Geral da Granvinhos.

Para um futuro próximo, está planificada a construção de uma adega para vinificação própria, uma vez que, atualmente, os vinhos são elaborados numa adega externa, crendo-se que esteja concluída em 2027. Para a casa senhorial, cuja reabilitação segue a bom ritmo, ainda não há planos específicos, sendo certo que constituirá peça fundamental para o projeto de enoturismo que o grupo almeja para a Quinta.

Projetos de médio prazo, sob uma orientação disciplinada, mas apaixonada de Jorge Dias, homem cuja dimensão para sonhar e concretizar em nome da valorização do vinho português parece não ter limites.

(Artigo publicado na edição de Março de 2025)

 

Concurso Vinhos de Portugal 2025 é já em Maio

A 12ª edição do Concurso Vinhos de Portugal, que vai decorrer em Maio, reúne perto de 1300 vinhos nacionais. Organizado pela ViniPortugal, o evento distingue, todos os anos, a qualidade e diversidade da produção vitivinícola nacional, através de uma avaliação, realizada em prova cega, por um painel de especialistas de renome.

A 12ª edição do Concurso Vinhos de Portugal, que vai decorrer em Maio, reúne perto de 1300 vinhos nacionais. Organizado pela ViniPortugal, o evento distingue, todos os anos, a qualidade e diversidade da produção vitivinícola nacional, através de uma avaliação, realizada em prova cega, por um painel de especialistas de renome. A competição decorre em […]

A 12ª edição do Concurso Vinhos de Portugal, que vai decorrer em Maio, reúne perto de 1300 vinhos nacionais. Organizado pela ViniPortugal, o evento distingue, todos os anos, a qualidade e diversidade da produção vitivinícola nacional, através de uma avaliação, realizada em prova cega, por um painel de especialistas de renome.

A competição decorre em duas fases. A primeira, que terá lugar nos dias 5, 6 e 7 de Maio no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, um painel de 72 especialistas nacionais e internacionais, incluindo enólogos, sommeliers, jornalistas e wine educators, vão avaliar os vinhos candidatos em sessões técnicas de prova, entre as 9h e as 13h.

Na 2ª fase, que decorrerá nos dias 8 e 9 de Maio em Viseu, o Grande Júri irá eleger os Grandes Ouros e os Melhores do Ano, que serão revelados na cerimónia de entrega de prémios, durante o jantar de 9 de Maio na mesma cidade.
Entre os jurados internacionais, destacam-se nomes de referência no mundo do vinho, como Adam Odor, embaixador da School of Port no Reino Unido; Dong Yeon Ko, eleito 8º Sommelier do Ano na Coreia em 2024; Ketil Sauer, sommelier, jornalista e crítico de vinhos na Dinamarca; Luke Flunders, influenciador digital de vinhos no Reino Unido; Jon Berg, sommelier e autor de cinco livros sobre viagens, gastronomia e vinhos, além de escritor residente num dos maiores sites sobre vinho na Noruega; Gabriela Monteleone, Melhor Sommelier de São Paulo em 2024, curadora e colunista na rádio Novabrasil FM e no Spotify; Natalie Richard, reconhecida personalidade da televisão e jornalista canadiana; Michał Drozdowski, Melhor Sommelier da Polónia em 2024; Yoshiko Senju, Sommelier Sénior Certificado pela JSA e formador na Okyo Aoyama; e Ronald Wortel, editor e colunista da principal revista de vinhos dos Países Baixos, Perswijn.

Mais do que um galardão, o Concurso Vinhos de Portugal é um selo de qualidade e uma plataforma de promoção internacional, já que os vinhos distinguidos com as Medalhas Grande Ouro e Ouro garantem presença em prestigiados eventos internacionais, reforçando a visibilidade e credibilidade do vinho português nos mercados externos.

Editorial Março: Tempo de escolher

Editorial

Editorial da edição nrº 94 (Março de 2025) A excelência é fácil de reconhecer. Difícil é apontar, escolher, dizer “este é mais excelente do que aquele”. Confesso que é uma responsabilidade que, pessoalmente, aceito com algum desconforto. Quantas vezes penso: “porquê este e não aquele”? Felizmente, não escolho sozinho, e o meu voto vale tanto […]

Editorial da edição nrº 94 (Março de 2025)

A excelência é fácil de reconhecer. Difícil é apontar, escolher, dizer “este é mais excelente do que aquele”. Confesso que é uma responsabilidade que, pessoalmente, aceito com algum desconforto. Quantas vezes penso: “porquê este e não aquele”? Felizmente, não escolho sozinho, e o meu voto vale tanto quanto o de qualquer outro membro do núcleo de redactores e provadores desta revista. Mas nem essa diluição de responsabilidades ameniza a sensação de que podemos ter cometido injustiças (e certamente que o fizemos). A consciência, porém, está tranquila, assente na certeza de que procurámos ao máximo ser independentes, rigorosos, justos, dentro da subjectividade que qualquer escolha encerra, ainda mais quando é de vinhos que se trata.

Excelência, portanto, é disso que aqui falamos. Qualificativo que se aplica por inteiro aos 30 eleitos como os melhores vinhos provados em 2024 e, dentro destes, aos cinco grandes vencedores, um por cada categoria. Quem pode negar essa qualidade a monumentos vínicos como o espumante Kompassus Grande Reserva Pinot Noir 2016, o branco Morgado de Oliveira NV, o rosé M Mingorra Tinto Cão 2023, o tinto Barca Velha Douro 2015 ou o fortificado Graham’s Tawny 50 anos?

Em Portugal, regra geral, bebemos os vinhos à mesa. E que mesas experienciámos em 2024! Restaurantes como Plano e Kabuki, em Lisboa, ou Cozinha do Manel, no Porto, são referências, cada um na sua categoria e estilo. Os vinhos ganham em ser bem servidos, harmonizados, sugeridos. Por sommeliers como Gonçalo Patraquim, um profissional de mão cheia que está a criar escola em diversos espaços. E adquiridos em locais emblemáticos como a garrafeira Vinho & Eventos, na Mêda, acompanhados pelas imperdíveis iguarias das lojas Apolónia no Algarve ou degustados em bares especializados como a incontornável Sala Ogival da Viniportugal, em Lisboa, que tanto tem feito pelos vinhos nacionais. Tal como Nuno Mendes, vencedor do troféu David Lopes Ramos, tem feito pela cozinha portuguesa no mundo.

No enoturismo, premiámos a revolução que a Taboadella trouxe à região do Dão. Pelo trabalho absolutamente crucial para a preservação e desenvolvimento do riquíssimo património genético das castas portuguesas, mereceu destaque a PORVID. Quanto a produtores, a Ode Winery, do Tejo, foi fantástica revelação, enquanto a Herdade da Mingorra, no Alentejo, confirmou duas décadas de bem fazer, a WineStone reforçou a sua ambição multiregional, a CARMIM, de Reguengos, veio dizer que sabe conjugar dimensão e especialidades, a madeirense Justino’s viu os seus Frasqueira reconhecidos entre os melhores e a bairradina Kompassus comprovou que qualidade e diferença podem (e devem) andar juntas.

Empresas e projectos de sucesso vivem de pessoas, de grandes profissionais. Como o enólogo Jorge Sousa Pinto, que em muitas casas de Vinho Verde cria belos vinhos respeitando sempre a identidade de cada uma; ou, no lado dos fortificados, Carlos Agrellos, que mantém bem alto o nome icónico da Quinta do Noval. E como não há vinho sem uvas, que dizer de José Luís Marmelo, a quem os hoje famosos Portalegre da Serra de São Mamede tanto devem?

Finalizo, como sempre, com o máximo galardão, entregue a quem ao vinho dedicou uma vida de trabalho exemplar e deixou obra para as gerações seguintes. Domingos Alves de Sousa, é o nosso Senhor do Vinho. Esta é uma escolha que, acredito, não suscita dúvidas, só aplausos.

 

Bacalhôa reorganiza Enologia e cria Relações Institucionais

bacalhôa

O Grupo Bacalhôa anunciou uma reorganização estratégica na sua equipa de enologia que visa reforçar a posição no mercado nacional e internacional. Esta mudança é liderada pelo CEO do Grupo Bacalhôa Luís Ferreira, que assumiu funções no passado mês de dezembro. Segundo comunicado da Bacalhôa, promove-se assim a “renovação geracional na sua equipa de enologia, […]

O Grupo Bacalhôa anunciou uma reorganização estratégica na sua equipa de enologia que visa reforçar a posição no mercado nacional e internacional. Esta mudança é liderada pelo CEO do Grupo Bacalhôa Luís Ferreira, que assumiu funções no passado mês de dezembro.

Segundo comunicado da Bacalhôa, promove-se assim a “renovação geracional na sua equipa de enologia, combinando experiência comprovada com novas perspectivas.” Deste modo, Francisco Antunes passa a assumir funções de Director de Enologia do Grupo Bacalhôa, substituindo assim Vasco Penha Garcia que desempenhou o cargo ao longo das últimas décadas. Francisco Antunes, até agora directo responsável pelos vinhos das regiões dos Vinhos Verdes, Douro, Beira Interior, Dão e Bairrada, alcançou, entre outras distinções, o prémio Enólogo do Ano 2023 da Grandes Escolhas.

Bacalhôa
Vasco Penha Garcia

Vasco Penha Garcia, por seu turno, vai liderar o novo departamento de Relações Institucionais, com o propósito de estreitar laços com parceiros estratégicos e instituições.

Quanto às equipas de enologia da Bacalhôa nas diversas regiões do país, a principal mudança prende-se com a aposentação de Filipa Tomaz da Costa, a decana das enólogas portuguesas e uma figura incontornável do vinho e da Bacalhôa, que após 42 vindimas deixa a direcção da Adega de Azeitão, na Península de Setúbal, continuando embora a oferecer o seu conhecimento à equipa como enóloga consultora. Para o seu lugar foi nomeado João Ramos, enólogo com anteriores experiências em empresas como Esporão e Venâncio da Costa Lima. Magda Costa, até agora, enóloga assistente de Francisco Antunes na Aliança Vinhos de Portugal, em Sangalhos, assume agora a liderança dos vinhos, espumantes e aguardentes, nas regiões do Douro, Beira Interior, Dão e Bairrada. E finalmente, Rui Vieira, na Bacalhôa desde 2022, continuará a desenvolver o seu trabalho como responsável pelos vinhos do Alentejo, na Adega da Quinta do Carmo, em Estremoz.

Cachaça 51 quer levar talento português ao Brasil

Cachaça

A Cachaça 51 anunciou o lançamento do Concurso Cachaça Cocktail Masters by Cachaça 51, em parceria com a Viborel, seu distribuidor em Portugal. A competição, que está a decorrer até 28 de Abril de 2025, destina-se a todos os profissionais de bar e bartenders maiores de idade, residentes em Portugal e desafia os participantes a […]

A Cachaça 51 anunciou o lançamento do Concurso Cachaça Cocktail Masters by Cachaça 51, em parceria com a Viborel, seu distribuidor em Portugal.

A competição, que está a decorrer até 28 de Abril de 2025, destina-se a todos os profissionais de bar e bartenders maiores de idade, residentes em Portugal e desafia os participantes a criar cocktails exclusivos com base na Cachaça 51. O objectivo é incentivar a criatividade, a inovação e a valorização dos sabores brasileiros e ingredientes sustentáveis.

Os oito melhores concorrentes serão selecionados para disputar a grande final, que decorre no dia 20 de Maio de 2025, às 12h30, durante o Lisbon Bar Show, que terá lugar no Meo Arena, Sala Tejo, em Lisboa.

O vencedor do Concurso Cachaça Cocktail Masters by Cachaça 51 receberá uma viagem para uma pessoa a Pirassununga, São Paulo, Brasil, no último trimestre deste ano, para visitar a fábrica da Cachaça 51, além de um kit completo com o portefólio da marca.

O segundo e terceiros classificados serão premiados com vouchers para aquisição de material numa loja profissional parceira do concurso e kits completos da Cachaça 51.

As inscrições devem ser realizadas através do site oficial: www.cocktailmasterscachaca51.pt até 28 de Abril de 2025. Os participantes devem enviar um vídeo que demonstre o seu estilo e criatividade na elaboração de um cocktail original que contenha, no mínimo, 30 ml de Cachaça 51.

O painel de jurados é composto por Pedro Rocha, marketing manager da Viborel, Jorge Mimoso, mixologista, formador e brand ambassador spirits & wines e Joaquim Luís, bar manager do Hotel Marriot Lisboa. Avaliará os cocktails com base nos critérios de sabor, equilíbrio, valorização da Cachaça 51, técnica, eficiência e apresentação. Os oito finalistas serão anunciados no dia 9 de Maio de 2025.

Jorge Alves e Ana Mota deixam empresas Amorim

Jorge Alves

Segundo comunicado enviado às redacções no dia 31 de Março e assinado por Luísa Amorim, responsável pelas empresas vitivinícolas pertencentes ao grupo e à família (Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, Taboadella e Herdade Aldeia de Cima), Jorge Alves e Ana Mota deixaram de colaborar com estes projectos. Terminam, assim, 24 anos de estreita colaboração […]

Segundo comunicado enviado às redacções no dia 31 de Março e assinado por Luísa Amorim, responsável pelas empresas vitivinícolas pertencentes ao grupo e à família (Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, Taboadella e Herdade Aldeia de Cima), Jorge Alves e Ana Mota deixaram de colaborar com estes projectos.

Terminam, assim, 24 anos de estreita colaboração entre estes reputados profissionais e o universo vitivinícola Amorim, para cada um seguir os seus caminhos, mantendo-se embora, como salienta Luísa Amorim, “uma excelente relação de amizade e boa disposição”.

 

Jorge Alves é, além de produtor de vinhos (Quanta Terra, em sociedade com Celso Pereira), consultor de enologia em algumas quintas durienses. E sua esposa, Ana Mota, conhecida pelo seu trabalho na área da viticultura (premiado pela GE, aliás) mantém igualmente um projecto de consultadoria vitivinícola, sustentabilidade, qualidade e logística de adegas.

“Ao longo do tempo, enfrentaram-se muitos desafios e conquistou-se um enorme reconhecimento das nossas marcas”, diz Luísa Amorim no comunicado, acrescentando que irá “prosseguir, com firmeza e serenidade, com uma equipa de enologia nas três empresas, sempre dedicada e empenhada”. E termina, agradecendo “toda a colaboração, disponibilidade e dedicação demonstradas por Jorge e Ana, desejando as maiores felicidades, sucessos pessoais e profissionais” ao casal.

Haut-Brion, a jóia de uma brilhante coroa

Haut-Brion

A empresa Vinitrust, que representa algumas das grandes marcas de vinho em Portugal, organizou uma masterclasse de vinhos da Domaine Clarence Dillon, com presença de Guillaume-Alexandre Marx, o director comercial dos três châteaux emblemáticos do grupo – Haut-Brion, La Mission Haut-Brion e Quintus. O banqueiro norte-americano Clarence Dillon, apaixonado pela França, não hesitou quando recebeu […]

A empresa Vinitrust, que representa algumas das grandes marcas de vinho em Portugal, organizou uma masterclasse de vinhos da Domaine Clarence Dillon, com presença de Guillaume-Alexandre Marx, o director comercial dos três châteaux emblemáticos do grupo – Haut-Brion, La Mission Haut-Brion e Quintus.

O banqueiro norte-americano Clarence Dillon, apaixonado pela França, não hesitou quando recebeu uma proposta para comprar o lendário Château Haut-Brion, na sub-região de Graves em Bordeaux. Com esta aquisição de uma propriedade icónica, um terroir excepcional e um pedaço da história vínica de França, nasceu, em 1935, o Domaine Clarence Dillon, agora gerido pela quarta geração da família, representada pelo Príncipe Robert de Luxemburgo. Em 1983, a família expandiu a sua presença em Bordeaux ao integrar o Château La Mission Haut-Brion, também em Graves, e, em 2011, ao adicionar ao portefólio o Château Quintus, localizado em Saint-Émilion.

 

Haut-Brion

Embora o Château Haut-Brion e o Château La Mission Haut-Brion partilhem raízes e terroirs semelhantes, cada um tem uma identidade distinta

 

Haut-Brion e La Mission, duas expressões de terroir

Poucos nomes no mundo dos vinhos evocam tanto respeito e admiração quanto o Château Haut-Brion. Provavelmente, não há enófilo que não tenha os vinhos desta propriedade histórica na sua bucket list.

Haut-Brion é um dos château mais antigos e célebres de Bordeaux. A produção regular de vinhos teve início em 1521, embora registos históricos indiquem a presença de vinhas na propriedade desde o início do século XV. Ganhou reconhecimento internacional ainda no século XVII, tendo sido mencionado no livro de adega de 1660 do Rei Carlos II e, em 1663, referenciado no famoso diário de Samuel Pepys, um grande apreciador e coleccionador de vinhos, que o descreveu como possuindo “um gosto bom e muito particular, como nunca antes experimentara”.

O Château Haut-Brion foi pioneiro em práticas enológicas que hoje são amplamente adoptadas. Nos meados do século XVII, ao atestar os cascos para evitar oxidação e realizar transfegas regulares, retirando o vinho das borras durante o estágio, era uma autêntica inovação que resultava num vinho final mais limpo e aromático. O estágio prolongado nestas condições permitiu a criação de vinhos mais refinados, com maior complexidade e potencial de guarda.

Localizado em Pessac-Léognan, é a única propriedade fora do Médoc a figurar na famosa Classificação de 1855 como Premier Grand Cru Classé, um dos cinco châteaux no topo absoluto da hierarquia de Bordeaux. Quase cem anos mais tarde foi também incluído na Classificação de Graves, sendo o único château a figurar em duas classificações.

Curiosamente, o branco do Château Haut-Brion, altamente exclusivo e de produção muito limitada (apenas poucas centenas de caixas de 12 garrafas), não consta na Classificação de Graves. No entanto  supera o tinto a nível de preço, sendo o vinho branco mais caro do mundo.

O Château La Mission Haut-Brion também foi fundado no início do século XVI por Jean de Pontac, o mesmo proprietário do Haut-Brion. Mais tarde foi adquirido pela Ordem dos Lazaristas, que manteve a propriedade durante 130 anos. Daí o nome “La Mission”.

Embora não tenha entrado na classificação de 1855, que incluiu apenas os vinhos do Médoc e o incontornável Haut-Brion, de Graves, La Mission Haut-Brion é reconhecido como Cru Classé de Graves. A partir de 1927 juntou ao seu portefólio vinho branco, que continua a ser um dos grandes brancos de Bordeaux, rivalizando com o do Château Haut-Brion.

Ambas as propriedades estão localizadas em Pessac-Léognan, a menos de 500 metros uma da outra, separadas por uma estrada, e têm um terroir semelhante, com diferenças subtis. O solo de cascalho assenta sobre um subsolo de argila, calcário e areia com fragmentos de conchas.

A presença de Merlot e Cabernet Sauvignon nas vinhas do Haut-Brion é igual, 45% de cada, e o resto é Cabernet Franc, conta o director comercial. Desta forma diminui a dependência de uma casta só e consegue-se a flexibilidade necessária para manter a consistência dos vinhos independentemente do ano. Para além dos 51 hectares com castas tintas, três hectares são dedicados às variedades brancas: Semillon e Sauvignon Blanc. No La Mission Haut-Brion, com 25 hectares, há alguma prevalência do Cabernet Sauvignon. As mesmas castas brancas são plantadas numa área com mais de quatro hectares.

Guillaume-Alexandre Marx confirma que os efeitos do aquecimento global já são perceptíveis, resultando em colheitas com maior maturidade e consistência. Por enquanto, não está previsto alterar as variedades plantadas. A equipa monitoriza de perto o desempenho de cada parcela vinificada, e, quando percebem que alguma não apresenta um bom desempenho ao longo de alguns anos, optam por deixá-la em repouso por três anos antes de replantá-la, geralmente com a mesma variedade. Em alguns casos, contudo, há uma substituição de Cabernet Sauvignon por Merlot, ou vice-versa, de acordo com as condições observadas.

A viticultura nos châteaux não é certificada como orgânica, mas os seus responsáveis procuram actuar de forma mais ecológica possível, reduzindo o número de tratamentos, não usando insecticidas e promovendo a biodiversidade.

Abordagem enológica e consistência

Nas propriedades com uma rica história e tradição é essencial preservar os valores e o legado ao longo das diferentes épocas. No Château Haut-Brion e La Mission Haut-Brion, a continuidade e a consistência são garantidas pela sucessão da responsabilidade enológica, actualmente nas mãos de Jean-Philippe Delmas, a terceira geração da família Delmas.

Embora as técnicas de vinificação sejam semelhantes em ambos os châteaux, a seleção das uvas e o blend final são cuidadosamente ajustados para realçar os estilos únicos e característicos de cada propriedade.

A vindima começa em Setembro e acaba no início de Outubro. O primeiro a vindimar é sempre o Haut-Brion. “Vinificamos separadamente por parcelas”, conta o director comercial. Ao completar a fermentação alcoólica e maloláctica, a cada depósito/parcela é atribuido o nível de qualidade com base na prova sensorial: 1 – primeiro vinho, 2 – segundo vinho, 3 e 4 – para vender. Guillaume-Alexandre Marx explica que, ao contrário de muitos châteaux, a abordagem não se baseia nas parcelas em si, mas na qualidade que entregam em cada ano e na possível combinação. “Simplesmente lotear todas as melhores parcelas nem sempre se traduz num grande vinho. Por vezes uma parcela que, sozinha, não dá grande prova, contribui com algo muito particular ao conjunto final. E estas decisões são tomadas na sala de provas entre as quatro pessoas”, conta Guillaume-Alexandre Marx. As sessões de loteamento decorrem entre meados de novembro e de dezembro, mais cedo do que em muitos outros châteaux.

O estágio em barrica dura entre 16 e 18 meses, sendo ajustado com base em provas regulares. Para o primeiro vinho utilizam normalmente 75% de barricas novas e 30% para o segundo. As barricas são, em grande parte, fabricadas na tanoaria própria, e cerca de 20% são adquiridas, geralmente à Seguin Moreau.

Embora o Château Haut-Brion e o Château La Mission Haut-Brion partilhem raízes e terroirs semelhantes, cada um tem uma identidade distinta. Haut-Brion é a expressão suprema de elegância e finesse, enquanto La Mission Haut-Brion exibe uma força sedutora e uma opulência marcante.

Ambos os châteaux produzem o segundo vinho: tintos Le Clarence de Haut-Brion e La Chapele de La Mission Haut-Brion e um branco La Clarté de Haut Brion, feito com as uvas das duas propriedades.

No Château Haut-Brion e La Mission Haut-Brion, a continuidade e a consistência são garantidas pela sucessão da responsabilidade enológica, actualmente nas mãos de Jean-Philippe Delmas.

 

Château Quintus – o novo nome em Saint-Émilion

Após a aquisição pela Domaine Clarence Dillon, em 2011, a propriedade foi renomeada para Quintus. A área de vinhas foi ampliada de 15 hectares iniciais para os atuais 45 hectares, através da incorporação de duas propriedades próximas do château. A composição das vinhas é predominantemente da casta Merlot (75%), com o restante a ser ocupado por Cabernet Franc. O antigo Cabernet Sauvignon, presente nas vinhas, foi gradualmente substituído por Cabernet Franc. A idade média das videiras ronda os 30 anos, embora algumas parcelas sejam quase centenárias.

A filosofia de vinificação é conduzida pela equipa liderada por Jean-Philippe Delmas. O processo é orientado pelo equilíbrio, evitando extração excessiva ou o uso exagerado de barricas, onde a madeira nova geralmente não ultrapassa 50%.

Em 2022, a Domaine Clarence Dillon organizou uma prova cega com 8 colheitas do Château Quintus, onde estas foram avaliadas lado a lado com os vinhos icónicos de Saint-Émilion, como o Château Angélus, Château Ausone, Château Cheval Blanc, Château Figeac e Château Pavie. Apesar da forte concorrência, o Château Quintus mostrou-se à altura dos grandes nomes.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)