Califórnia: Stag’s Leap, um ‘First Growth’ de Napa Valley

Tudo tem um princípio. Podíamos afirmar, com algum critério, que o princípio da história de Stag´s Leap Wine Cellars foi em 1970, com a aquisição da Stag’s Leap Vineyard, mas, na minha opinião, o verdadeiro princípio desta narrativa, assim como para a região de Napa Valley foi, provavelmente, o julgamento de Paris de 1976. O […]
Tudo tem um princípio. Podíamos afirmar, com algum critério, que o princípio da história de Stag´s Leap Wine Cellars foi em 1970, com a aquisição da Stag’s Leap Vineyard, mas, na minha opinião, o verdadeiro princípio desta narrativa, assim como para a região de Napa Valley foi, provavelmente, o julgamento de Paris de 1976.
O julgamento de Paris de 1976 foi uma prova cega de elite, com um júri composto pelos organizadores do evento, os wine merchants Steven Spurrier e Patricia Gallagher, e membros da aristocracia vínica francesa, alguns Chateaux, sommeliers e jornalistas especializados, colocando, lado a lado, Cabernet Sauvignons da Califórnia e First Growth de Bordéus, Chardonnay da Califórnia e Premier e Grand Cru Chardonnay da Borgonha. Tudo às cegas. E o resultado chocou o mundo naquela época!
O The Wall Street Journal escreveu “The 1976 Judgment of Paris had a revolutionary effect, like a vinous shot heard round the world.” E não foi caso para menos. O 1973 Chateau Montelena Chardonnay, de Napa Valley, recebeu a maior honra entre os brancos, enquanto que, nos tintos, o resultado foi o seguinte:
- Stag’s Leap Wine Cellars 1973, Napa Valley
- Château Mouton-Rothschild 1970
- Château Haut-Brion 1970
- Château Montrose 1970
- Ridge Cabernet Sauvignon ’Mountain Range’ 1971 Montebello
- Château Leoville-Las-Cases 1971
- Mayacamas 1971, Napa Valley
- Clos Du Val 1972, Napa Valley
- Heitz Cellars ’Martha’s Vineyard’ 1970, Napa Valley
- Freemark Abbey 1969, Napa Valley
Palavras para quê? Impressionante, certo?
E ainda mais impressionante se torna se tivermos em mente que o vinho vencedor saiu de uma vinha, a S.L.V. Vineyard, plantada em 1970, com apenas três anos, portanto, ao passo que a classificação de Bordéus, e os First Growth, foram estabelecidos em 1855.
Foi, pois, com elevadas expectativas, que fomos ao mais recente espaço de provas da cidade de Lisboa, ainda em soft opening, o 1933 by Garrafeira Nacional, localizado no Hotel Tivoli Avenida, onde provamos cinco vinhos de Stag’s Leap Wine Cellars, importados para o nosso país pela Garrafeira Nacional.
O 1933 by Garrafeira Nacional denota requinte e bom gosto. Além de sala de prova, também funciona como uma pequena loja de vinhos nacionais e internacionais, com uma curadoria altamente especializada, e tem o propósito de se tornar uma referência como espaço dedicado a provas de pequena dimensão, em ambiente exclusivo, para produtores de vinho, bem como para pequenos eventos de iniciativa particular relacionados com vinho. É dada ainda a possibilidade aos clientes do Seen by Olivier, na porta ao lado, de adquirirem a garrafa de vinho da sua preferência e consumirem-na no decurso da refeição no restaurante, mediante o pagamento de uma taxa de rolha. Mas vamos ao que interessa.
Os solos são um misto de sedimentos de xisto, areia, barro, gravilha, rocha e material vulcânico. Quanto ao clima, as encostas rochosas de Palisades reflectem o calor que se faz sentir durante o dia
Dias quentes, noites frescas
Napa Valley é uma AVA (American Viticultural Area), em si mesmo, e tem-no sido desde que recebeu a designação em 1981. Foi a primeira AVA reconhecida na Califórnia e a segunda nos Estados Unidos. Dentro da Napa Valley AVA existem dezasseis outras AVAs aninhadas, mais pequenas, uma espécie de sub-regiões. São elas: Atlas Peak, Calistoga, Chiles Valley, Coombsville, Diamond Mountain District, Howell Mountain, Los Carneros, Mt. Veeder, Oak Knoll District of Napa Valley, Oakville, Rutherford, St. Helena, Spring Mountain District, Stags Leap District, Yountville e Wild Horse Valley.
Os vinhos de Stags Leap District são conhecidos por serem “um punho de ferro, dento de uma luva de veludo”, em virtude da combinação entre a composição dos solos e o clima.
Os solos são um misto de sedimentos de xisto, areia, barro, gravilha, rocha e material vulcânico. Quanto ao clima, as encostas rochosas de Palisades reflectem o calor que se faz sentir durante o dia, aquecendo a vinha, mais do que em outros locais de Napa Valley, beneficiando, no entanto, das frescas brisas marítimas provenientes da Baía de San Pablo, que, juntamente com o vento característico da zona, arrefecem as plantas durante a noite, contribuindo para o equilíbrio dos níveis de açúcar e acidez. Dias quentes e noites frescas ajudam a prolongar o período de vindima sendo estas as condições ideais para variedades de maturação tardia, como a Cabernet Sauvignon.
O objectivo que Warren Winiarski anteviu e definiu como possível consistiu em produzir um vinho no estilo clássico de Bordéus, mas com um sentido de terroir e de identidade 100% Napa Valley
O salto para o mundo
“Stag” significa veado, e “Leap” significa salto. A origem do nome Stag’s Leap não está bem documentada, mas reza a lenda do povo nativo-americano Wappo, que o nome do local se ficou a dever a um veado que, em tempos, perseguido e acossado por caçadores, no limite de um penhasco, preferiu dar o seu “Leap of Faith” (literalmente, salto de fé), em direcção à morte certa, do que ser morto por eles; outra lenda conta a história de um veado que conseguiu iludir toda uma geração de caçadores, desaparecendo sempre, no último instante, através do tal Leap of Faith.
Foi exactamente ao lado da Stag’s Leap Vineyard (S.L.V.) que Nathan Fay plantou a Fay Vineyard, com Cabernet Sauvignon, em 1961. Quando, em 1970, Warren Winiarski teve o seu momento eureka ao provar um dos Cabernets daí provenientes, de imediato comprou a S.L.V.
e fundou a Stag’s Leap Wine Cellars. O objectivo que Warren Winiarski anteviu e definiu como possível consistiu em produzir um vinho no estilo clássico de Bordéus, mas com um sentido de terroir e de identidade 100% Napa Valley. O Cabernet de Nathan Fay conseguia isso, e, como tal, a vinha ao lado também haveria de tornar isso possível. Anos mais tarde, em 1986, Nathan Fay vendeu a Fay Vineyard a Warren Winiarski.
Existem vinhos no mundo, cuja reputação está tão bem estabelecida, que praticamente vivem no reino do icónico. Stag’s Leap, é um desses vinhos.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)
Herdade dos Grous com estatuto Gold Member da IWCA

Com o Inventário de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para 2024 aprovado por parte da Comissão de Revisão do Inventário da International Wineries for Climate Action (IWCA), a Herdade dos Grous obteve estatuto de Gold Member da referida entidade. O reconhecimento advém do compromisso desta propriedade vitivinícola localizada em Albernoa, no distrito […]
Com o Inventário de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para 2024 aprovado por parte da Comissão de Revisão do Inventário da International Wineries for Climate Action (IWCA), a Herdade dos Grous obteve estatuto de Gold Member da referida entidade. O reconhecimento advém do compromisso desta propriedade vitivinícola localizada em Albernoa, no distrito de Beja, Alentejo, em contribuir para o abrandamento das alterações climáticas através da redução das emissões de CO2 e reduzir o impacto ambiental. Neste contexto, são de salientar as práticas de agricultura regenerativa, que fomentam a comunhão entre a agricultura e a natureza, e favorecem a saúde do solo, bem como a produção de energia renovável, que representou mais de 20% do consumo total, atingiu os 60% em 2024.
Todo este trabalho realizado em torno da medição e da gestão das emissões, tanto na vinha, como na adega, decorre desde 2018, com o auxílio de uma calculadora de GEE desenvolvida pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em colaboração com o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA).
Segundo Luís Duarte, Gerente e Director de Enologia da Herdade dos Grous, “estamos comprometidos em moldar um futuro onde a sustentabilidade está na vanguarda de cada garrafa. O nosso manifesto é uma declaração dos nossos valores comuns, da nossa missão e da nossa dedicação inabalável em fazer a diferença e impactar positivamente as pessoas e as regiões, através dos nossos vinhos.”
Mano a mano: O loureiro e o alvarinho

Aos 31 anos e com formação em gestão, Tiago Mendes já viu muita vindima, ainda que só a partir de 2019 tenha encarado o vinho como actividade profissional, assumindo, hoje, a liderança da área comercial e de marketing na empresa familiar. O seu irmão Gonçalo Mendes, dois anos mais velho, é médico urologista e aproveitou […]
Aos 31 anos e com formação em gestão, Tiago Mendes já viu muita vindima, ainda que só a partir de 2019 tenha encarado o vinho como actividade profissional, assumindo, hoje, a liderança da área comercial e de marketing na empresa familiar. O seu irmão Gonçalo Mendes, dois anos mais velho, é médico urologista e aproveitou a formação científica, para desenvolver o gosto pelas técnicas de produção. Ou seja, um está mais focado na estratégia e no mercado, enquanto o outro está vocacionado para a vinificação e o produto, mas ambos são conhecedores de todas as facetas de uma empresa vitivinícola e devotos admiradores dos grandes vinhos de Portugal e do Mundo.
“Fiz a minha primeira vindima a sério com o meu pai em 2017”, conta Tiago Mendes, “e fiquei deslumbrado com a variedade Loureiro. Achava que produzia vinhos muito perfumados e elegantes, e não percebia porque é que a casta não tinha tanto reconhecimento quanto a Alvarinho, que acabava por viver na sua sombra.” Com 70 hectares de Loureiro no vale do Lima, divididos por seis quintas diferentes, Tiago Mendes entendia que a família devia aproveitar estes recursos para fazer um Loureiro “de parcela”, um vinho de grande ambição, posicionado ao nível dos melhores Alvarinhos. Tanto “apertou” com o pai que, nessa vindima, surgiu o primeiro Anselmo Mendes Private Loureiro. “Inicialmente foi complicado”, confessa Tiago Mendes. “O feedback dos consumidores era positivo e as críticas de imprensa muito boas, mas as vendas, talvez pelo preço pouco habitual num Loureiro, ficavam um pouco aquém. Com o tempo, porém, este Loureiro acabou por se afirmar e, hoje, é uma referência da casta.”
Em 2020, Gonçalo Mendes concluiu os estudos em Medicina. Nos tempos livres dedicou-se a aprofundar os seus conhecimentos teóricos e práticos sobre enologia, acabando por passar muito tempo com o irmão na empresa, em Melgaço, onde Tiago Mendes já estava a trabalhar, fazendo um pouco de tudo.
Foi assim, dessa cumplicidade entre irmãos, que surgiu a vontade de fazer algo deles, com uma identidade própria, que fugisse ao portefólio Anselmo Mendes. Nesse ano, Tiago Mendes voltou a questionar o pai: “por que é que grande parte dos nossos vinhos da casta Alvarinho passam por barrica e o Loureiro não?” Anselmo Mendes tinha algum cepticismo quanto ao comportamento do Loureiro em barrica, temia que prejudicasse a delicadeza e elegância da casta. Mas Tiago Mendes não desistiu e lançou o desafio: “vamos fazer um Loureiro com fermentação e estágio em barrica!” Como pai e como enólogo, não dava para dizer não. E assim se fez, logo nessa vindima um Loureiro estagiado em barrica.
Depois do Loureiro, o Alvarinho
Durante os meses seguintes o vinho foi sendo provado regularmente, sempre se mostrando à altura das expectativas iniciais de Tiago Mendes e acima das do pai, Anselmo Mendes. O resultado levou Tiago Mendes a incentivar o irmão: “porque não fazeres também tu um vinho?”
Há muito que Gonçalo Mendes perguntava o pai a razão de não realizarem a fermentação maloláctica em alguns Alvarinho da casa: “se há grandes vinhos da Borgonha que são feitos com maloláctica, porque é que nós nunca o fazemos?” Anselmo Mendes, que, ao longo da carreira, já o havia experimentado diversas vezes, nunca ficando convencido – “achava que os vinhos iam ficar ‘aborrecidos’ e perder alguma da tensão que os caracteriza”, conta Gonçalo Mendes – não estava pelos ajustes. Mais uma razão para Gonçalo querer o contrário: “se o Tiago pode fazer um Loureiro com barrica, eu vou fazer um Alvarinho com maloláctica”. E, de novo, assim se fez, na vindima de 2021. E outra vez com sucesso.
Quatro anos depois, os desafios lançados por Tiago e Gonçalo Mendes chegam finalmente ao mercado, trazendo consigo uma história de envolvimento e partilha geracional numa empresa familiar. “Estes vinhos espelham um pouco do que é a segunda geração: queremos dar continuidade e aprender com os nossos pais, mas gostamos de os questionar”, explica Gonçalo Mendes. “No fundo, a base para fazer estes vinhos foi, acima de tudo, fazer aquilo que o nosso pai fez a vida toda: questionar os dogmas que existem no vinho. Quisemos, assim, criar vinhos que tenham a nossa identidade, vinhos ainda não ‘assinados’ pelo nosso pai.”
O Loureiro do Tiago e o Alvarinho do Gonçalo (os vinhos assumiram no rótulo os nomes pelos quais ficaram conhecidos na adega desde que nasceram) são, naturalmente, bastante distintos entre si. E não apenas nas variedades que lhes deram origem.
“Tal como as castas se expressam de forma diferente e cada uma tem uma personalidade própria, também os irmãos assim são”, refere Tiago Mendes. E detalha o que os une e os diferencia: “embora tenhamos nascido e vivido sempre na cidade do Porto, passávamos fins-de-semana e férias em Monção e Melgaço, e crescemos rodeados de adegas e vinhas. Quando éramos mais novos, eu sempre tive muita curiosidade nas marcas, nos rótulos, e achava fascinante que os nossos vinhos estivessem em tantos países. Fui, aos 13 anos, à primeira Prowein com o meu pai! Já o meu irmão, tendo uma formação na área das ciências, sempre teve mais curiosidade pela técnica: em entender para que servia uma cuba, porque é que uns vinhos iam para barrica e outros não, e por aí fora. Quando desenvolvemos a imagem para estes vinhos, explorámos também essas diferenças entre nós.”
A rotulagem dos vinhos foi inspirada no conceito Mar-Montanha. O que caracteriza o Loureiro é o vale do Lima e a proximidade ao mar, enquanto o Alvarinho é o vale do Minho e as montanhas de Monção e Melgaço, daí as diferenças nos rótulos de cada referência: o do Loureiro de Tiago Mendes tem linhas azuis horizontais e o do Alvarinho do Gonçalo Mendes linhas verdes verticais. “Por enquanto, é uma edição limitada, mas é um primeiro passo da segunda geração nos vinhos do projecto familiar. No futuro, mais experiências virão.” Fica a promessa dos manos. Anselmo Mendes tem todas as razões para estar feliz.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)
Nunes Real Marisqueira: O prazer de bem mariscar

Situada entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, a escassos quilómetros do centro de Lisboa, a Nunes Real Marisqueira tem, como trave-mestra do seu prestígio, os produtos do mar. A entrada de ar discreto dificilmente desperta a imaginação para o que se vai encontrar naquele espaço amplo, cheio de cores fortes, a […]
Situada entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, a escassos quilómetros do centro de Lisboa, a Nunes Real Marisqueira tem, como trave-mestra do seu prestígio, os produtos do mar. A entrada de ar discreto dificilmente desperta a imaginação para o que se vai encontrar naquele espaço amplo, cheio de cores fortes, a fazer lembrar um lugar de festa.
A primeira coisa que se vê, pois é impossível não reparar nela, é a banca de mariscos e a cozinha, onde vários profissionais se afadigam, de mãos na massa, a cozinhar para os comensais do dia. Mais à frente, há vários ambientes à escolha, desde o bar e das mesas altas, que sugerem um convívio mais descontraído, ao conforto das mesas redondas envolvidas por sofás altos de veludo, a realçar um ambiente mais íntimo, para refeições entre amigos, por exemplo.
Escolhemos uma mesa para dois, porque era para isso que lá estávamos, para estar e conversar um com o outro em dia de aniversário de casamento. Pelo meio fomos apreciando algo que gosto muito, Anchovas do Mar Cantábrico com pão de cristal, saboreadas bem devagar, ou não tivesse todo o tempo do mundo, para além de um viciante Casco de sapateira recheado e de algumas ostras, às quais nunca resistimos; Amêijoas à Bolhão Pato, um par de Gambas reais grelhadas, por sugestão do chefe de sala e que estavam deliciosas, e Gamba branca do Algarve, porque estou viciado nelas desde jovem. Compro-as sempre que vou a Olhão, mas nem ali nem noutros sítios da costa algarvia ou andaluza as encontro tão grandes, como as que a Nunes Real Marisqueira dispõe, sempre no ponto certo de cozedura, para seduzirem e “obrigarem”, quem lá vai, a voltar. Para companhia, foi escolhido o Alvarinho Ipiranga de 2023, do enólogo António Braga, um grande parceiro de quase tudo o que veio para a mesa, com a excepção das ostras. Uma noite boa e feliz.
Serviço refinado
O que diferencia esta casa de outras marisqueiras, para além da frescura do marisco, que Miguel Nunes selecciona com cuidado junto dos fornecedores, é o serviço “refinado, eficaz e atencioso” e a oferta variada de pratos de peixe, incluindo, por exemplo, os Filetes de peixe-galo com açorda de ovas ou o Robalo ao sal. Para quem gosta de petiscar, como eu, sugiro as Puntilhitas (lulinhas fritas), os Chocos à algarvia e, para terminar, o Pica-pau de lombo.
Nunes Real Marisqueira
Rua Bartolomeu Dias, nº 172 E 1400-031 Lisboa
Aberto todos os dias, das 12h30 às 00h00
Tel.: 213 019 899
hello@nunesmarisqueira.pt
Um brinde aos vencedores do Concurso dos Vinhos de Lisboa

Dois vinhos generosos, com a chancela Villa Oeiras, e duas aguardentes vínicas da Adega da Lourinhã recebem a Grande Medalha de Ouro da edição de 2025 do Concurso dos Vinhos de Lisboa. No âmbito dos vencedores da Medalha de Ouro, há 10 categorias a conhecer: Melhor Branco, Melhor Tinto, Melhor Rosé, Melhor Arinto, Melhor Vital, […]
Dois vinhos generosos, com a chancela Villa Oeiras, e duas aguardentes vínicas da Adega da Lourinhã recebem a Grande Medalha de Ouro da edição de 2025 do Concurso dos Vinhos de Lisboa. No âmbito dos vencedores da Medalha de Ouro, há 10 categorias a conhecer: Melhor Branco, Melhor Tinto, Melhor Rosé, Melhor Arinto, Melhor Vital, Melhor Leve Lisboa, Melhor Espumante, Melhor Vinho Generoso, Melhor Colheita Tardia e Melhor Aguardente Vínica. Destaque ainda para os quatro Top-5 divididos em brancos, tintos, Arinto e Leve Lisboa. Ao todo, foram distinguidas 45 referências vínicas entre as 150 provadas por um painel de críticos, especialistas e enólogos.
“Este é um concurso que mais uma vez posiciona e valoriza a qualidade, a consistência, a diversidade e a identidade dos Vinhos de Lisboa, uma das grandes regiões portuguesas, expressão de um carácter atlântico único, cada vez mais reconhecido em Portugal e nos principais mercados de exportação”, afirma Carlos Fonseca, Vogal da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, entidade promotora e organizadora deste desafio vínico.
A lista dos vencedores do concurso:
Grande Medalha de Ouro
Vinhos Generosos
Villa Oeiras Superior branco DOC Carcavelos (Melhor Vinho Generoso)
Villa Oeiras 12 Anos DOC Carcavelos 2010
Aguardentes Vínicas
Clássica 32ª Série Aguardente DOC Lourinhã XO (Melhor Aguardente Vínica)
Matriz Aguardente DOC Lourinhã XO
Top-5
Brancos
Adega da Vermelha Grande Reserva 2021 | Adega da Vermelha
Coragem Chardonnay 2024 | Vidigal Wines
Carlota A Imperatriz Sauvignon Blanc 2024 | QVBFG, Sociedade de Vinhos da Estremadura
Quinta das Cerejeiras Grande Reserva 2022 |Companhia Agrícola do Sanguinhal
Corrieira Juntos Arinto Chardonnay 2023 | Quinta da Corrieira Grande
Tintos
AdegaMãe Terroir 2016 | AdegaMãe
Vinhas do Lasso Garrafeira 2013 | Quinta do Pinto
Peripécia Merlot 2020 | Cerrado da Porta
Troviscal Grande Reserva 2018 | Cerrado da Porta
Adega da Vermelha Grande Reserva 2019 | Adega da Vermelha
Arintos
Quinta do Lagar Novo 2019 | TAG Wine
Carlota A Imperatriz 2021 | QVBFG, Sociedade de Vinhos da Estremadura
CH by Chocapalha 2021 | Casa Agrícola das Mimosas
Casa Santos Lima Oak Aged 6 Months 2023 | Casa Santos Lima
Casa Santos Lima 2023 | Casa Santos Lima
Leve Lisboa
Azulejo branco 2024 | Casa Santos Lima
Mirante branco | Adega Cooperativa da Carvoeira
Azulejo rosé 2024 | Casa Santos Lima
Solar da Marquesa branco 2024 | Casa Agrícola Horácio Nicolau
Félix Rocha branco 2023 | Félix Rocha
Medalha de Ouro
Brancos
Adega da Vermelha Grande Reserva 2021 (Melhor Branco) | Adega da Vermelha
Coragem Chardonnay 2024 | Vidigal Wines
Carlota A Imperatriz Sauvignon Blanc 2024 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura
Quinta das Cerejeiras Grande Reserva 2022 | Companhia Agrícola do Sanguinhal
Corrieira Juntos Arinto Chardonnay 2023 | Quinta da Corrieira Grande
Adega D’Arrocha Reserva Fernão Pires 2023 | Adega D’Arrocha
Quinta do Gradil Reserva 2018 | Quinta do Gradil
Carlota a Imperatriz Fernão Pires 2024 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura
Quinta do Lagar Novo 2019 (Melhor Arinto) | Quinta do Lagar Novo
Carlota A Imperatriz Arinto 2021 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura
CH by Chocapalha Arinto 2021 | Quinta de Chocapalha
Casa Santos Lima Arinto Oak Aged 6 Months 2023 | Casa Santos Lima
Empatia Superior Vital 2023 (Melhor Vital) | Adega da Labrugeira
Adega D’Arrocha Grande Escolha Vital 2023 | Adega D’Arrocha
Tintos
AdegaMãe Terroir 2016 (Melhor Tinto) | AdegaMãe
Vinhas do Lasso Garrafeira 2013 | Quinta do Pinto
Peripécia Merlot 2020 | Cerrado da Porta
Troviscal Grande Reserva 2018 | Cerrado da Porta
Adega da Vermelha Grande Reserva 2019 | Adega da Vermelha
Quinta do Pinto Reserva Touriga Nacional 2019 | Quinta do Pinto
Quinta de Chocapalha tinto 2020 | Quinta de Chocapalha
AdegaMãe Castelão 2021 | AdegaMãe
Reserva das Cortes Reserva tinto 2021 | Paço das Côrtes
Brutalis tinto 2020 | Vidigal Wines
Marquês de Lisboa Alicante Bouschet 2023 |
Chocapalha Vinha Mãe Tinto 2019 | Quinta de Chocapalha
Coragem Touriga Nacional 2021 | Vidigal Wines
Espumantes
Quinta Cerrado da Porta Grande Reserva Arinto 2015 (Melhor Espumante) | Cerrado da Porta
Quinta Cerrado da Porta Grande Reserva Chardonnay 2019 | Cerrado da Porta
Adega de São Mamede Reserva Branco 2022 | Adega de São Mamede
Colheitas Tardias
Quinta das Marés by Santa Bárbara 2021 (Melhor Colheita Tardia) | Lés a Lés
Generosos
Villa Oeiras 7 anos DOC Carcavelos | Município de Oeiras
Aguardentes
Quinta do Rol VSOP Aguardente DOC Lourinhã | Quinta do Rol
Medalha de Prata
Romeira 2024 (Melhor Rosé) | Quinta da Romeira
Rua da Betesga Reserva Tinto 2020 | Adega Moor
Talismã Reserva Branco 2024 | Adega Cooperativa da Labrugeira
Casa Santos Lima Oak Aged 6 Months Chardonnay 2024 | Casa Santos Lima
Colossal Chardonnay 2024 | Casa Santos Lima
Casa Santos Lima Arinto 2023 | Adega Moor
Félix Rocha Arinto Reserva 2021 | Félix Rocha
A Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa engloba os Vinhos IGP Lisboa e as DOC de Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Óbidos, Encostas D’ Aire, Lourinhã, Carcavelos, Colares e Bucelas. Este território vitivinícola agrega 10 mil hectares de vinha certificada, o que se traduz em vendas anuais de 69 milhões de garrafas, com a exportação a registar os 80% para cerca de 100 países.
E se o vinho fosse menos caro nos restaurantes?

Esta é uma realidade comum, que tanto afeta o consumidor, como prejudica o consumo consciente e sustentado de vinho nos espaços de restauração. Mas, afinal, por que motivo o vinho é mais caro nos restaurantes? E mais importante ainda: poderá esta realidade ser diferente, sem comprometer a rentabilidade do negócio? Vamos explorar esta questão com […]
Esta é uma realidade comum, que tanto afeta o consumidor, como prejudica o consumo consciente e sustentado de vinho nos espaços de restauração. Mas, afinal, por que motivo o vinho é mais caro nos restaurantes? E mais importante ainda: poderá esta realidade ser diferente, sem comprometer a rentabilidade do negócio? Vamos explorar esta questão com uma análise clara, justa e através de propostas construtivas.
Porque é que o vinho é mais caro nos restaurantes?
A valorização do vinho na restauração é uma prática comum em todo o mundo e, muitas vezes, assume proporções que afastam o consumidor. Vamos analisar alguns dos vários fatores que influenciam os preços:
- a) Margem comercial: a margem praticada pode variar entre 200% a 400%. Um vinho comprado por 5€ pode surgir facilmente na carta por 15€ a 25€. Esta margem cobre custos operacionais, desperdícios, impostos e, em muitos casos, ajuda a compensar as baixas margens dos pratos.
- b) Custo de armazenamento e stock: o vinho ocupa espaço, exige condições específicas (temperatura, humidade, luz), e nem sempre roda com rapidez. O capital investido em stock parado também é um risco que o restaurante tenta compensar com o preço final.
- c) Perdas e desperdício: uma garrafa aberta que não é vendida até ao fim pode representar perda total. É o maior risco quando temos vinhos a copo. A margem tem de cobrir este possível desperdício.
- d) Custo do serviço: bons copos, sommelier, formação da equipa e serviço de qualidade são diferenciadores. Este conjunto de factores tem um custo real que precisa de ser refletido.
- e) IVA elevado: em Portugal, o vinho é tributado com IVA de 23% na restauração. No retalho, é tributado com IVA de 13%. Esta diferença impacta diretamente no preço final ao consumidor, no restaurante.
- f) Necessidade de margem nos restaurantes pequenos: muitos restaurantes vivem com margens reduzidas na comida e usam o vinho e as bebidas como forma de equilibrar a rentabilidade global do serviço.
Por conseguinte, a valorização do vinho não surge de forma arbitrária. Resulta, isso sim, de uma série de condicionantes económicas, logísticas e fiscais.
O Impacto da margem elevada no consumo
Apesar de compreensíveis, estas práticas têm efeitos colaterais claros:
Menor consumo por parte do cliente: muitos evitam pedir vinho à refeição ou limitam-se ao jarro ou à garrafa mais barata.
Desinteresse em vinhos mais valiosos: vinhos de gama média e alta ficam esquecidos na carta por terem preços pouco atrativos ou, até mesmo, proibitivos.
Perda de oportunidade de valor: um cliente que gasta menos em vinho não representa apenas menos receita; representa menos prazer, menos partilha e menor experiência.
O vinho não deve ser encarado como um extra; pode, isso sim, ser o fio condutor de uma refeição memorável. Contudo, quando o preço se impõe como barreira, perde-se a oportunidade de criar fidelização e valor.
Boas práticas e alternativas sustentáveis
O caminho não passa por eliminar a margem, mas por ajustá-la com estratégia. Aqui ficam algumas sugestões:
- a) Margens mais realistas: em vez de aplicar uma margem linear a toda a carta, importa considerar escalas variáveis. Vinhos mais baratos podem ter margens mais altas, enquanto os de gama média podem ter margens menores, tornando-se mais acessíveis e com maior rotação.
- b) Cartas inteligentes e curadas: menos referências, maior conhecimento sobre os produtos, melhor formação da equipa. Uma carta bem pensada pode rodar melhor e exigir menos margem, ganhando valor no volume.
- c) Parceria com distribuidores competentes: em Portugal, o contacto direto com o produtor ainda é limitado, mas um distribuidor com boa curadoria e apoio ao restaurante pode criar valor.
- d) Opções por copo com sistema de preservação: investir em sistemas, como o Coravin ou semelhantes permite servir vinhos mais caros a copo sem risco de desperdício.
- e) Educação do cliente: cartas com informação clara, storytelling sobre o vinho, origem, produtor e harmonização. Uma carta que educa gera confiança e valor percebido.
Com boas práticas, é possível reduzir as margens e, paradoxalmente, aumentar o consumo e o lucro final. É a diferença entre vender duas garrafas com muita margem ou 10 com margem mais moderada.
Benefícios de um modelo mais acessível
Fidelização do cliente: preços justos aumentam a perceção de valor e a satisfação.
Aumento de ticket médio: se o vinho se torna mais acessível, o cliente pede mais vezes.
Mais rotação de stock: reduz o capital imobilizado e melhora a gestão.
Criar cultura de vinho: torna-se um hábito, valorizando toda a cadeia sem se tornar um luxo ocasional.
Conclusão: um convite ao equilíbrio
O vinho é cultura, prazer, partilha. Mas também é negócio e, como em todo o negócio, o segredo está no equilíbrio: margens justas, experiência positiva, relação de confiança entre restaurante e cliente. Não se trata de abdicar do lucro, mas de pensar a longo prazo. De transformar cada refeição com vinho num momento que fideliza. Num país produtor, onde o vinho faz parte da identidade, não faz sentido continuar a tratá-lo como um produto de luxo inalcançável. O convite fica feito aos restauradores: vamos refletir sobre a forma como tratamos o vinho nas cartas. E se, em vez de pensar em quanto mais podemos ganhar com cada garrafa, pensássemos em quantas mais podemos vender?
Por: Helder Cunha* Enólogo e produtor de vinho
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)
O churrasco perfeito

O sucesso é uma estrela de muitas pontas e cada pormenor conta para o resultado final. Ao mesmo tempo, há que garantir a condução de calor correcta a cada peça e em cada momento. E há que garantir o maior prazer de todos os momentos. Não há churrascos aborrecidos e a toada é sempre de […]
O sucesso é uma estrela de muitas pontas e cada pormenor conta para o resultado final. Ao mesmo tempo, há que garantir a condução de calor correcta a cada peça e em cada momento. E há que garantir o maior prazer de todos os momentos. Não há churrascos aborrecidos e a toada é sempre de festa. Jamais esquecerei a iluminação que foi conviver em plena Andaluzia com um grupo de amigos argentinos.
Para nós, portugueses, o churrasco é actividade essencialmente ao ar livre, mas percebi que, para eles, é uma questão de sobrevivência e nutrição. Aprende-se tudo na escola primária e pratica-se ao longo de toda a vida. Um argentino sabe atear lume em qualquer recipiente, e sabe como grelhar a carne no ponto certo. Provavelmente vem do tempo das pampas e das grandes transumâncias de gado bovino, em que a necessidade de sacrificar uma ou duas peças para alimentação do pessoal levou ao desenvolvimento da técnica. Nesse caso específico, falamos do próprio lume de chão. É notável.
A nossa cozinha de pastor contempla em certa medida essa mesma actividade, mas a uma escala incomparavelmente inferior. E quando muito, sacrificava-se uma peça com lume de chão, no entanto, tendencialmente, foi sempre a grelha em casa ou nos telheiros, o lugar supremo do processamento. Aquilo a que chamamos cozinha de pastor é, ao fim e ao cabo, uma cozinha de proximidade, feita a partir de ingredientes simples e minimalista na execução.
Há a questão dos legumes que melhor acompanham as diferentes peças de carne. E ligada a esta, a interrogação sobre as saladas e os molhos a que queremos chegar
O prazer de planear
Um bom churrasco exige um conjunto de preparações prévias. Claro que o mais importante se prende com as carnes sacrificiais propriamente ditas, mas os acompanhamentos não são menos importantes. Além disso, pêssego, ananás, melancia e manga, por exemplo são frutos que reagem bem ao calor das brasas. Por que não os incluir? Emeril Lagasse, o mítico e mediático cozinheiro de New Orleans temperava e trabalhava os pêssegos da mesma forma que a carne de porco. Foi com ele que perdi o medo de passar as metades do fruto pelo forno a 200 ºC.
Depois, há a questão dos legumes que melhor acompanham as diferentes peças de carne. E ligada a esta, a interrogação sobre as saladas e os molhos a que queremos chegar. Aqui, o meu pensamento foge para Paris, para uma experiência excepcional entregue aos cuidados do chef tri-estrelado Alain Passard. Ficou para sempre na memória a forma como ele abordava a raiz de aipo e como explicava, ao mesmo tempo, que se trata de uma peça que não tem eixo preferencial e, consequentemente, não tem orientação possível para o corte. Genial a forma como, mais tarde, pude ver as combinações possíveis com mel de acácia. Talvez por isso, passei a incluir o legume em praticamente todos os pratos de base vegetal. Aconselho vivamente. Assim como aconselho não utilizar a mesma grelha com peças de natureza diferente.
O chef Rui Teixeira, da Peixaria, em São Jacinto, utiliza cada grelha apenas uma vez por dia. De facto, a contaminação de cheiros e sabores é a maior ameaça quando o que está em causa é conseguir resultados inexcedíveis. E nem sempre a peça ideal de carne é o maior desafio. Um simples tomate pode ser bem mais difícil de controlar, pois absorve praticamente tudo por onde passa. Nesta fase, tudo é importante, mas aligeiremos, que vamos passar ao assunto central. Está na altura das opções definitivas e de dar a primazia ao mais importante.
O osso que liga ambas as partes tem a forma de “T”, o que inevitavelmente baptizou uma das peças mais conhecidas de bovino. Vem de 1843 a designação
O acém redondo é maravilhoso e reage muito bem ao calor intenso das brasas
Ao trabalho!
Para organizar o churrasco fui ter com Cláudio Couceiro Cipriano, proprietário e CEO do Grupo C’s, em Antes, Mealhada. A solidez dos seus conhecimentos e a vasta experiência na actividade de corte e desmanche de carcaças fazem com que o ouvir seja sempre uma grande instrução. Além, claro, de um imperativo de consciência, que visa sempre sabermos o que comemos. Para o jovem sábio Cláudio Couceiro Cipriano, um bom churrasco tem pelo menos oito elementos fundamentais.
Picanha. A picanha parece feita de propósito para se sacrificar nas brasas. Encontramo-la em qualquer rodízio gaúcho, montada em espeto, para depois fatiar para o prato do cliente. A melhor forma de processar na grelha é justamente essa. Cortar em peças grossas com a parte mais gorda sempre presente e espetar de forma a que a gordura fique do lado mais exterior. Nesta e noutras peças, jamais salgar antes de grelhar. Na picanha, fazê-lo pode ter o efeito dramático de secar prematuramente as peças. Há que ter sempre em conta a reação inevitável da carne crua, desvirtuando-a, quando ela deve ser tratada nas palminhas. A maioria dos falhanços do amador está aqui e devem ser evitados a todo o custo. Há quem prefira fatiar logo a picanha e, depois, levar a grelhar, e isso não está inteiramente errado. A tolerância a falhas e singularidades, contudo, é maior quando partimos de peças maiores, e quanto maiores melhor, para enfrentar o calor sem risco de chamuscar. É fundamental grelhar até ao bom ponto – leia-se rosado – e evitar, a todo o custo, passar demasiado a carne.
Costeleta em T. Também conhecida como T-Bone. Quando cortada a preceito, apresenta vazia de um lado e lombo do outro. O osso que liga ambas as partes tem a forma de “T”, o que inevitavelmente baptizou uma das peças mais conhecidas de bovino. Vem de 1843 a designação, obviamente da responsabilidade dos Estados Unidos, com especial menção ao estado do Oregon, onde é conhecido como Oregon steak ou bife de Oregon. Está em vias de ganhar honras de certificação, mas lá como cá, o assunto não é simples. Os passos para lá chegar são diversos e tortuosos. O que faz deste corte único de carne famoso é a riqueza de sabor e a bondade acrescida pelo trabalho da grelha. O lado mais pequeno do T-Bone é, nada mais, nada menos, que o filet mignon, celebrado e amado entre os grandes apreciadores de carne. Grelhado a contento e com respeito, o T-bone é sinónimo de felicidade e rendimento de sabor. Em Itália é conhecido como bife Fiorentina e é obtido de gado muito seleccionado. É um emblema importante da cozinha clássica italiana e pesa cerca de 1,5 quilos. Por cá, é conhecido como costeleta em T e Cláudio Couceiro Cipriano tem muita procura no seu talho.
Ossinhos. Demorei algum tempo a perceber o que seria esta peça, que, para o nosso herói, é de importância primordial para o êxito do churrasco. Pedi para ver a peça e constatei que se trata da tira das costelas. É cortada como na Argentina e processa-se como a tira de entrecosto de porco. Grelha maravilhosamente bem e o sabor é dos mais marcantes dentre todas as peças sacrificadas. Parece-me que, quanto mais tempo for exposta junto às brasas mais mortiças, melhor. A alquimia do sabor ganha muito com essa exposição prolongada e, no final, os ossos e a carne são muito fáceis de separar. Atrevia-me a rebatizar esta peça como tira, mas, no caso, gosto de respeitar a indicação do mestre. É a minha peça favorita do churrasco e não tiro os olhos dela enquanto grassam o fumo e o calor. Admite e pede marinada prévia, apesar de isso ser, evidentemente, uma questão de gosto.
Naco do acém redondo. O acém é composto por três partes distintas: acém comprido, acém redondo e coberta de acém. Os dois primeiros são cortes ditos de primeira categoria e variam no ponto de extração, ou corte, quanto à proximidade do pé. Extrai-se também do acém a que é conhecida como cobertura, que grelha muito bem, mas dá mais sabor e textura a estufados longos e, por isso, é muitas vezes o seu destino. O acém redondo é maravilhoso e reage muito bem ao calor intenso das brasas, além de possuir mais gordura entremeada que o acém comprido. Quando Cláudio Couceiro Cipriano fala de naco, refere-se a uma peça alta e mais resistente às brasas. Ao mesmo tempo, oferece-se à transformação e criação de sabor. O resultado é fantástico e suculento. Os bifes à cortador são extraídos lés-a-lés destas partes mais ricas. Uma delícia, para resumir. A ideia, em termos de churrasco, é dar-lhe a exposição necessária, e depois do proverbial período de repouso, reduzi-la a fatias contra o veio. No prato, serão o céu, tanto em sabor como em textura.
Confesso que, sempre que há frango numa celebração braseira, também não dispenso uma coxa ou asa de um bom exemplar. Come-se com a mão e os mais novos adoram
Frango de churrasco. Pois é! Cláudio Couceiro Cipriano não dispensa o bendito frango no elenco do churrasco. Confesso que, sempre que há frango numa celebração braseira, também não dispenso uma coxa ou asa de um bom exemplar. Come-se com a mão e os mais novos adoram. Como de resto é o caso com o frango de churrasco enquanto staple food familiar. Curiosamente, ganhou fama e reputação entre nós, principalmente com o regresso à pátria das comunidades das antigas colónias. Lisboa em particular, tem diversas bases de prédios convertidas em churrasqueiras. Angola e Moçambique trouxeram-nos a grande glória que é a cafriela, cuja base é justamente a grelha nas brasas. Leva depois uma passagem pelo tacho, seguindo-se o forno para acabar. A variante moçambicana leva leite de coco e é conhecida como zambeziana. As patas de frango são deliciosas quando processadas nas brasas. Tasquinha-se à mão, com um dip picante ao lado. Como aliás toda a cafriela. Fez muito bem o grande Cláudio Couceiro Cipriano chamar a atenção para as virtudes e a bondade do frango no churrasco.
Tiras de entremeada. É parte interessante e fundamental num bom churrasco. Escusado será dizer que não há outlet churrasqueiro que não tenha no cardápio uma boa entremeada. Talvez seja boa ideia deixar, para a etapa final do nosso churrasco, as tiras de entremeada. É uma forma de glorificar a carne de porco nos nossos redutos familiares. Claro que existe sempre a opção de pura e simplesmente grelhar nas brasas as fatias, mas espera-nos glória bem maior em cozinhar previamente a baixa temperatura as finas peças deliciosas. O ideal seria cozinhar primeiro em vácuo e a baixa temperatura. É a arte ao alcance de poucos, bem sei, mas a impressão em boca é mesmo muito boa. Não impede, antes beneficia ganhar crocância nas brasas logo a seguir. O fumo é o veículo ideal da transformação alquímica que se dá no nosso prato. Vai ver como no palato se desfaz e transforma em iguaria dos deuses. A experiência nada tem a ver com a entremeada grelhada directamente a partir da fase crua. Este é, de resto, um dos pressupostos da cozinha modernista, em que o resultado final se consegue por passos iniciais ou intermédios como este. Além disso, quem dispensa uma boa entremeada?
Salsicha fresca. Este pequeno e sápido ingrediente tem uma capacidade notável de se converter em iguaria deliciosa. Se pensarmos no modelo clássico e ancestral de salsichas enroladas em couve lombarda, depressa nos precipitamos para esta solução, quando não para a fritura directa em sertã a alta temperatura. A verdade é que o churrasco gosta da salsicha fresca, e esta gosta muito do churrasco. A insistência de Cláudio Couceiro Cipriano em incluir o pequeno ensacado faz todo o sentido, pois representa uma grande ponte de sabores, aromas e texturas. Com o tempo e os ingredientes adequados, poderá mesmo vir a produzir as suas próprias salsichas frescas. Utilizando ingredientes naturais e fresquíssimos, a exposição ao calor das brasas vai resultar em mais sabor e riqueza de texturas. E no dia do churrasco, vai dar por si a procurar com ansiedade as salsichas passadas pelas brasas.
Chouriça. Gosto muito de chouriço de Goa, que é, porventura, o enchido mais picante e, ao mesmo tempo, mais saboroso de toda a nossa salsicharia. Curiosamente, foi a partir de várias experiências culinárias, com a simpatia e a paciência de amigos goeses, que me apercebi do potencial de sabor que está contido em cada chouriço. Em certas preparações, é mesmo o único tempero necessário para temperar um cozido inteiro. O chouriço de carne, ou chouriça, tem o mesmo papel temperador na totalidade do churrasco. Pode processar-se no início e reservar-se para a fase de finalização de toda a empreitada. Será sempre o toque salino e especiado de que precisa para a fruição perfeita do seu churrasco. Apenas há que escolher a chouriça perfeita. O esforço será vastamente recompensado.
Este pequeno e sápido ingrediente tem uma capacidade notável de se converter em iguaria deliciosa
E o vinho?
Os argentinos têm muita sorte em ter ao seu alcance a casta Malbec. Parece que nasceu nas pampas, ao lado da montagem de lume de chão em que tradicionalmente se sacrificam carcaças de bovino. Tem força e, simultaneamente, elegância, e, sobretudo, tem a grande virtude de não interferir no sabor da carne grelhada. Antes acrescenta, com notas especiadas e de madeira, que acrescentam à noção de complexidade que desejamos e se nos instala na alma. Tenho feito diversas experiências neste capítulo e há dois perfis vínicos que se mostram eficazes na assessoria vínica de um bom churrasco.
O primeiro é um Aragonês alentejano, com pouca ou nenhuma madeira, conseguindo vingar pela frescura e pelo sabor resultante da fusão do vinho com o palato. O segundo é um Cabernet Sauvignon marítimo, da Península de Setúbal, com estágio de seis anos em barricas de carvalho francês. Importante mesmo é fazer as suas próprias experiências e, acima de tudo, explorar as explorações a que se prestam. E não se esqueça jamais da importância de ousar enveredar por caminhos inteiramente novos. Boas experiências!
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)
Soluções tecnológicas, em nome do futuro da enologia

A Enartis, que faz parte do Esseco Group e é líder mundial no desenvolvimento e fornecimento de produtos e tecnologias para a indústria enológica, anuncia o acordo assinado para a aquisição da Parsec, empresa italiana especializada na produção de sistemas de controlo para a vinificação e o envelhecimento de vinhos, graças às tecnologias patenteadas e […]
A Enartis, que faz parte do Esseco Group e é líder mundial no desenvolvimento e fornecimento de produtos e tecnologias para a indústria enológica, anuncia o acordo assinado para a aquisição da Parsec, empresa italiana especializada na produção de sistemas de controlo para a vinificação e o envelhecimento de vinhos, graças às tecnologias patenteadas e instaladas em mais de 30 países. Esta união estratégica surge na sequência da aquisição da portuguesa Winegrid, em 2023, e tem como ponto de partida a criação de um polo de competências agregador a nível mundial.
Eis o passo para a concepção de uma plataforma, com a capacidade de reunir e oferecer soluções integradas e tecnologicamente avançadas, desde a recepção da uva até ao engarrafamento, a todas as adegas do mundo. O objectivo consiste em optimizar cada fase de produção no que à eficiência, à sustentabilidade e à qualidade diz respeito.
No âmbito deste novo capítulo, Giuseppe Floridia, Director Executivo da Parsec, manterá o cargo. De acordo com o comunicado, declara: “escolhemos a Enartis, porque encontramos neles a nossa visão e uma profunda vocação para a inovação.” A estas palavras, Samuele Benelli, Director Executivo da Enartis, acrescenta a importância de ambas estarem alinhadas com a “mesma cultura de serviço ao cliente”, bem como “as competências extraordinárias da equipa da Parsec, aliadas à nossa presença global, criarão um potencial incrível.”
Piermario Ticozzelli, Diretor Comercial da Enartis, vai mais longe: “a complementaridade entre as competências das duas empresas representará um poderoso motor de crescimento, capaz de gerar novas oportunidades de negócio. Juntos, nos tornaremos o parceiro estratégico para as vinícolas de todo o mundo que olham para o futuro.”


















