Editorial Maio: Hard Times

Editorial da edição nrº 97 (Maio de 2025) Um amigo enviou-me cópia de um artigo publicado na revista Time, a 14 de abril último. O título diz praticamente tudo: “Como relaxar e espairecer sem beber álcool”. O artigo assenta na premissa de que a bebida alcoólica é o meio mais utilizado para libertar a mente […]
Editorial da edição nrº 97 (Maio de 2025)
Um amigo enviou-me cópia de um artigo publicado na revista Time, a 14 de abril último. O título diz praticamente tudo: “Como relaxar e espairecer sem beber álcool”. O artigo assenta na premissa de que a bebida alcoólica é o meio mais utilizado para libertar a mente e a tensão após um dia difícil no trabalho. Antes de retorquirmos que isto é coisa de americano e de bebidas espirituosas, pensemos melhor. Mesmo para quem não conhece intimamente a sociedade norte-americana, sobretudo a mais urbana, basta ver um filme ou ler um livro para perceber que o vinho é, naquele e noutros países, (alguns do norte da Europa, por exemplo), mais utilizado neste contexto de “relaxante”, do que como complemento de uma refeição.
“Historicamente assim tem sido”, diz o artigo assinado por Angela Haupt, “mas a maré está a mudar”. Um dos pontos de viragem foi o relatório do Surgeon General (o Director Geral de Saúde lá do sítio), de janeiro passado, afirmando que mesmo pequenas quantidades de álcool podem causar cancro. A peça da Time refere uma recente sondagem que indica que metade dos americanos está a cortar no consumo de álcool, mais 44% do que em 2023.
Contextualizado o “problema”, surge a pergunta: “O que é que podemos fazer para relaxar e espairecer sem beber álcool? Há uma maneira mais saudável de libertar a mente?” Os psicólogos e académicos consultados concordam que é difícil – “pegar num copo de vinho é tão mais fácil do que fazer caminhada ou ir a uma aula de yoga”, diz um – mas que depois de encontrada a “alternativa saudável” – recuperar hobbies antigos, ginásio, meditação, spa, escolher amigos que “não nos pressionam a beber”, são algumas das apontadas – “há um enorme sentimento de libertação”.
Colocar o vinho ao nível das chamadas “drogas recreativas” é algo tremendamente estranho para um consumidor português, espanhol, francês ou italiano. Para o apreciador, o vinho não é um meio para atingir um fim, seja o relaxamento ou, no limite, o oblívio. Nós bebemos vinho porque seus aromas e sabores nos dão prazer. Apreciamos vinho porque nele descobrimos incontáveis nuances e uma complexidade sensorial semelhante à que obtemos ao admirar uma obra de arte ou uma paisagem natural. E não apenas gostamos de o beber, como também de aprender e falar sobre ele, uma forma de enriquecimento cultural. Acontece que o chamado “americano médio” não compreende isto. Nem o compreendem muitos europeus, sobretudo das gerações mais jovens.
O relatório do OIV (o regulador internacional da vinha e do vinho, reunindo 51 países), apresentado no passado dia 16 de abril, mostra o efeito da crescente cruzada contra o álcool e o vinho. Deixo alguns dados relevantes: em 2024 o consumo global de vinho manteve tendência de descida, caindo 3,3% face a 2023 (total de 214 milhões de hectolitros), o valor mais baixo desde 1961; nos Estados Unidos, o maior mercado, o consumo baixou 5,8%; na base do decréscimo geral estarão “factores económicos e geopolíticos que geram inflação e incerteza” (ou seja, o vinho está mais caro – e ainda não chegaram as tarifas de Trump!); também mercados tradicionais caíram “devido à evolução das preferências de estilo de vida, mudanças de hábitos sociais e mudanças geracionais no comportamento do consumidor”. Há boas notícias? Talvez duas: vários países combinam “forte consumo global e muito grande população, oferecendo enorme margem de crescimento”; e, na Europa, Espanha (+1,2%) e Portugal (+0,5%) contrariaram a tendência de queda (haja turismo!). A estes juntaria um outro aspecto positivo, não mencionado no relatório: a comprovada resiliência do sector do vinho europeu, em geral, e português em particular. Vai ser decisiva nos tempos que se avizinham. L.L.
Azeite da Herdade Vale Feitoso vence concurso internacional

O azeite da Herdade de Vale Feitoso foi o vencedor do 14.º Concurso Internacional de Azeite Virgem Extra – Prémios CA OVIBEJA na categoria de Frutado Maduro, competição organizada em Portugal e considerada uma das melhores do mundo. Organizado anualmente pela Associação de Agricultores do Sul (ACOS), com o apoio da Casa do Azeite – […]
O azeite da Herdade de Vale Feitoso foi o vencedor do 14.º Concurso Internacional de Azeite Virgem Extra – Prémios CA OVIBEJA na categoria de Frutado Maduro, competição organizada em Portugal e considerada uma das melhores do mundo.
Organizado anualmente pela Associação de Agricultores do Sul (ACOS), com o apoio da Casa do Azeite – Associação do Azeite de Portugal, a competição teve, este ano, a concurso, 93 amostras de empresas produtoras de Portugal, Alemanha, Israel, Espanha, Grécia, França, Itália, Croácia e Brasil.
Os azeites foram avaliados, às cegas, por um painel de 26 jurados de 10 nacionalidades, presidido pelo professor José Gouveia, um dos grandes especialistas mundiais desta área.
O anúncio e a entrega de prémios decorreram na mais recente Ovibeja, no início de Maio. Os azeite portugueses destacaram-se na competição deste ano, arrecadando nove distinções, duas das quais ouro, uma das quais para o Herdade de Vale Feitoso Azeite Virgem Extra 2024.
A marca tem origem num blend de azeitonas de variedades distintas, entre as quais Cordovil de Castelo Branco, Carrasquenha, Bical e Galega, provenientes de diferentes parcelas, colhidas no início de outubro. No nariz revela um aroma a relva, rúcula e alcachofra. Na boca é bastante intenso e expressivo, com notas amargas e picantes. É indicado para temperar carnes acabadas de sair do forno e peixes grelhados, para além de saladas intensas. Faz sobressair ainda o sabor de uma mousse de chocolate ou de um gelado de frutos secos. Produzido pela Herdade de Vale Feitoso, é comercializado pela Altas Quintas – Exploração Agrícola e Vinícola.
Quinta do Noval declara o Porto Vintage 2023

A Quinta do Noval anunciou recentemente a declaração dos seus Quinta do Noval Nacional Vintage 2023, Quinta do Noval Vintage 2023 e Quinta do Passadouro Vintage 2023. Segundo Christian Seely, director geral da Quinta do Noval, o ano teve “um clima ameno, uma mudança refrescante face à tendência recente”, com um inverno temperado e particularmente […]
A Quinta do Noval anunciou recentemente a declaração dos seus Quinta do Noval Nacional Vintage 2023, Quinta do Noval Vintage 2023 e Quinta do Passadouro Vintage 2023. Segundo Christian Seely, director geral da Quinta do Noval, o ano teve “um clima ameno, uma mudança refrescante face à tendência recente”, com um inverno temperado e particularmente chuvoso que reabasteceu por completo os níveis de água no solo.
A primavera, amena e seca, proporcionou condições ideais ao desenvolvimento da vinha e a uma floração precoce e saudável. Julho e Agosto foram marcados por um clima suave e soalheiro, sem episódios de calor extremo ou stress hídrico, “condições que permitiram uma maturação lenta e homogénea das uvas até Setembro, quando foram vindimadas, chegando aos lagares maduras, saudáveis, com uma expressão aromática limpa, equilíbrio fenólico e frescura ideal”, revela o responsável da Quinta do Noval, acrescentando que “os resultados excecionais em várias parcelas das castas Touriga Nacional, Touriga Francesa e Sousão, na vinha do Nacional e em outras vinhas velhas foram extraordinários”.
Deram origem a vinhos com uma notável pureza de fruta, estrutura e profundidade aromática. “São Portos Vintage de grande elegância, complexidade e equilíbrio, já expressivos na juventude, mas com estrutura e profundidade para envelhecer e evoluir em garrafa durante muitas décadas”, salienta ainda Christian Seely.
Cas’Amaro: Perfumes do Alentejo

O lançamento dos tintos da Cas’Amaro do Alentejo, com a marca Implante, decorreu no Casal da Vinha Grande, em Alenquer, a primeira propriedade que Paulo Amaro, o fundador desta casa, empresário com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, adquiriu. Nesse dia foram apresentados, à imprensa, o Implante Tinto […]
O lançamento dos tintos da Cas’Amaro do Alentejo, com a marca Implante, decorreu no Casal da Vinha Grande, em Alenquer, a primeira propriedade que Paulo Amaro, o fundador desta casa, empresário com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, adquiriu. Nesse dia foram apresentados, à imprensa, o Implante Tinto de 2023, um monovarietal de Tinta Caiada e o Implante Tinto de 2022, um vinho produzido com uvas das castas Aragonês, Castelão e Trincadeira, todas plantadas na Herdade do Monte do Castelête, no Alentejo, a segunda propriedade que Paulo Amaro adquiriu, após ter decidido investir no sector vitivinícola. Com 70 hectares, dos quais 48 de montado e 22 de vinha com mais de 30 anos, fica perto de Estremoz e tem um monte que a empresa está a transformar numa unidade de enoturismo com alojamento, que deverá estar pronta no final deste ano.
Aposta no enoturismo
O projecto Cas’Amaro começou a ser construído há nove anos, com a aquisição do Casal da Vinha Grande. Depois foram compradas mais quatro propriedades em outras tantas regiões vitivinícolas portuguesas: Alentejo, Dão, Vinhos Verdes e Douro. “Uma das condicionantes por detrás destas aquisições foi as propriedades terem, para além de vinha, edifícios atractivos com potencialidade para serem reconvertidos em unidades de enoturismo explicou Rui Costa, director geral da Cas’Amaro, durante o evento. Foi essa a filosofia base seguida na aquisição da herdade alentejana, da Quinta da Fontalta, no concelho de Santa Comba Dão, que inclui um solar e 16 hectares de vinha, e também na propriedade da Região dos Vinhos Verdes, com 40 hectares, que integra um solar antigo. No Douro, a Cas’Amaro adquiriu as Quintas de S. João e S. Joaquim, com 18 hectares de vinha e socalcos virados uma para a outra. Apesar de uma das propriedades possuir uma adega, não tinha condições para se vinificar. Por isso, os primeiros vinhos do Douro e Porto produzidos nesta região foram vinificados em Cheleiros. Mas já está a ser pensada a construção de uma adega em Armamar.
Perfil definido
Até hoje, apenas está terminado o projecto de enoturismo da empresa na região de Lisboa, que inclui um restaurante e a unidade de alojamento em Alenquer, com três quartos. E como a empresa só tem adega na região de Lisboa, vinifica em instalações de parceiros nas outras. No Dão, na Adega das Boas Quintas, de Nuno Cancela de Abreu; no Alentejo, na Adega do Monte Branco, de Luís Louro; no Douro, na Adega Dona Matilde, com o apoio do seu enólogo, João Pissarra e, na Região dos Vinhos Verdes, na AB Valley Wines, de António Sousa. “São as mais próximas das nossas vinhas e são geridas por pessoas com quem nos conseguimos identificar, com as quais criámos métodos de trabalho”, explicou o gestor, salientando que, assim, é possível Ricardo Santos, o director de enologia, acompanhar de forma mais próxima de todo o processo, o que é essencial para se produzir, todos os anos, o perfil de vinho definido pela sua equipa para cada região.
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
Campanha de comunicação une Corticeira Amorim à Niepoort

A Corticeira Amorim aliou-se à Niepoort na campanha Proudly Crafted in Portugal, que visa promover a excelência e autenticidade dos produtos criados e desenvolvidos a nível nacional, contribuindo para o prestígio da marca Portugal. A iniciativa une o legado e o know-how de técnicas tradicionais sustentáveis à tecnologia inovadora, dois pilares fundamentais do posicionamento de […]
A Corticeira Amorim aliou-se à Niepoort na campanha Proudly Crafted in Portugal, que visa promover a excelência e autenticidade dos produtos criados e desenvolvidos a nível nacional, contribuindo para o prestígio da marca Portugal.
A iniciativa une o legado e o know-how de técnicas tradicionais sustentáveis à tecnologia inovadora, dois pilares fundamentais do posicionamento de Portugal no mercado.
Neste projeto, que valoriza a produção artesanal, as duas empresas promovem a união de produtos nacionais que são representados, neste caso, pelo vinho branco Coche, da Niepoort, produzido com base nas uvas das castas Rabigato, Viosinho e Códega do Larinho, e pela rolha de cortiça natural da Corticeira Amorim, NDtech®, com tratamento de superfície de origem biológica Bee W®, que combina a cera de abelha e a cortiça numa solução que melhora a consistência dos sabores e aromas em vinhos de guarda, como o Coche da colheita de 2023.
Através de um conjunto de filmes, baseados na experiência sensorial transmitida por cada um dos vinhos em associação com o seu vedante, a Niepoort conta histórias que procuram acrescentar valor a estes produtos.
No episódio The Lean Machine destaca-se a precisão artesanal na produção de rolhas naturais e do vinho, em processos que unem tempo, natureza e saber. “Queremos que estes filmes sejam, mais do que simples histórias, experiências que levem quem os vê ao coração da nossa filosofia: respeito pelo terroir, pelo tempo e pelos pequenos detalhes que fazem grandes vinhos”, explica, a propósito da campanha, Daniel Niepoort, responsável de enologia da Niepoort.
A Torre de Anselmo

Anselmo Mendes trabalha a casta há mais de 30 anos, estudando os diferentes solos, exposições e técnicas de vinificação, projetando, como ninguém e de forma pioneira, os vinhos monovarietais de Alvarinho, da sub-região de Monção e Melgaço, quer nacional quer internacionalmente. Consultor de enologia, enveredou pela produção própria em 1997, com a compra de uma […]
Anselmo Mendes trabalha a casta há mais de 30 anos, estudando os diferentes solos, exposições e técnicas de vinificação, projetando, como ninguém e de forma pioneira, os vinhos monovarietais de Alvarinho, da sub-região de Monção e Melgaço, quer nacional quer internacionalmente. Consultor de enologia, enveredou pela produção própria em 1997, com a compra de uma quinta. “Comprei uma pequena quinta em Melgaço, toda em patamares, e comecei a fazer vinho de garagem”, conta.
Um ano depois lança o icónico Muros de Melgaço, fermentado em barrica, uma novidade na região, com uma garrafa troncocónica que o identifica imediatamente. Seguiram-se as experiências com curtimenta, “outra heresia, fermentar um branco como se fosse um tinto”, refere, ou a maceração pelicular – deixar em contacto com película da uva sem deixar que fermente. O seu crescimento enquanto produtor coincidiu com o da notoriedade da sub-região. Monção e Melgaço é diferente das outras sub-regiões do Vinho Verde porque está protegida por montanhas, o que cria uma barreira ao Atlântico e lhe dá uma certa continentalidade climática. A casta Alvarinho sente-se ali em casa. Com a disponibilidade da vinha da Quinta da Torre, o portefólio Anselmo Mendes foi também aumentando e, hoje, há vários vinhos num patamar de preço médio-alto, referências como Expressões, Parcela Única, Tempo ou Private que evidenciam o melhor que esta variedade é capaz de oferecer.
Nos últimos 15 anos, o enólogo dedicou-se a estudar a diversidade de solos desta quinta. tendo identificado oito parcelas associadas a esses diferentes tipos de solo.
A LIGAÇÃO À TERRA
Anselmo Mendes é um homem da terra, dos solos, e hoje explora vários hectares de vinha em duas sub-regiões dos Vinhos Verdes – Monção e Melgaço e Lima. Em Melgaço, onde tudo começou, situa-se a adega. Mas é na Quinta da Torre, em Monção, que se encontram localizados 50 hectares de vinha da casta Alvarinho, a maior área contínua da região (e de Portugal). Não muito distante da Torre localiza-se Rabo de Cuco, com sete hectares de uvas tintas, castas antigas como o Alvarelhão (5ha), Pedral (1ha) e Verdelho-Feijão (1ha), que terão estado na origem dos primeiros vinhos portugueses exportados para Inglaterra, que Anselmo pretende resgatar. “Estas castas tintas dão vinhos claretes muito finos, elegantíssimos. É um tributo ao passado glorioso dos tintos”.
Na propriedade do vale do Lima, a Loureiro tem grande preponderância e representa 55 hectares, sendo os restantes 15 ha da casta Alvarinho. “Esta é a sub-região com maior influência atlântica de toda a região dos Vinhos Verdes, na qual a casta Loureiro se exprime de forma única. É também uma casta fascinante, capaz de produzir brancos de eleição”, refere o enólogo. Fortemente ligado à região e à terra, Anselmo dá grande importância ao estudo dos solos e suas texturas: “neste momento utilizamos o método de condutividade elétrica para estudarmos os solos. Identificamos oito texturas diferentes de solo na Quinta da Torre e este método permite-nos obter mais dados, mais rapidamente, tirando assim melhor partido do terroir” explica. Ao seu lado e na gestão da empresa desde sempre, está a esposa, Fernanda Grilo, a que se junta o filho Tiago Mendes. Anselmo sempre foi alguém que gosta de ensinar, transmitir conhecimento e dar liberdade a quem trabalha consigo, pelo que conta na enologia com a colaboração de duas jovens e promissoras enólogas Ângela Silva e Joana Moutinho. Inovação continua a ser o caminho – sempre.
Ao seu lado e na gestão da empresa desde sempre, está a esposa, Fernanda Grilo, a que se junta o filho Tiago Mendes.
QUINTA COM HISTÓRIA
A Quinta da Torre, localizada em Monção, conta uma história de seis séculos, por onde passaram várias famílias nobres com ligações reais, cujos registos atestam a presença de vinhas na propriedade. Após várias sucessões na família, a partir dos séculos XVII e XVIII, a casa intensificou a produção de vinho, cultivo do milho, do linho e do azeite. Em 2008, Anselmo Mendes começa por tratar os 12 hectares de vinhas desta quinta algo abandonada pelos proprietários da altura e, de imediato, apaixona-se, reconvertendo-a em seguida, e plantando mais 30 hectares de vinha ao longo dos anos seguintes. É só em 2016, porém, que concretiza a sua aquisição, para a renovar depois profundamente, mantendo os seus traços históricos e distintivos.
O enoturismo está a funcionar em pleno, e quem quiser ficar a conhecer melhor este espaço rodeado de espigueiros, camélias, oliveiras milenares e uma paisagem de cortar a respiração, poderá pernoitar numa das cinco suites disponibilizadas para o efeito. Com um total de 50 hectares de vinha da casta Alvarinho, com o rio Gadanha, afluente do rio Minho, a passar na quinta e uma grande diversidade e riqueza de solos, é o berço dos grandes vinhos da casta Alvarinho de Anselmo Mendes. As vinhas estão entre os 50 e os 100 metros de altitude e os solos, de origem granítica e de texturas de aluvião e terraços fluviais, têm provas dadas, ao longo dos anos, pois exprimem a finura e elegância da casta Alvarinho.
Nos últimos 15 anos, o enólogo dedicou-se a estudar a diversidade de solos desta quinta. tendo identificado oito parcelas associadas a esses diferentes tipos de solo. O seu “centro de experiências”, com oito cubas, uma por cada parcela, e duas barricas por parcela, permite-lhe estudar as expressões diferentes da casta. “O conhecimento de cada parcela é importantíssimo.
A triagem e escolha dos melhores cachos deve ser feita na vinha. Tudo conjugado, resultará num vinho de elevada qualidade”, defende.
Apenas a título de curiosidade, o vinho Parcela Única resulta exclusivamente da vinha do Paço. O vinho A Torre é, no fundo, o resultado do melhor de cada parcela da Quinta da Torre, com predominância das parcelas Olival, Paço, Torre e Rainha. Um vinho que apenas sairá para o mercado em anos considerados excecionais, como foi 2019. O Crème de la crème! Hoje, a Quinta da Torre é um símbolo na história de Monção, pelo seu passado e seu terroir de excelência. Aqui nasce o vinho A Torre, que presta homenagem à memória secular deste lugar e ao apaixonado e visionário que não a deixou perder-se no tempo.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
Casa Havaneza celebra 161 anos

A Quinta do Senhor da Serra Belas, antiga Casa Senhorial dos Marqueses de Belas, no concelho de Sintra, acolheu a comemoração do aniversário da Casa Havaneza, a loja de charutos mais antiga de Portugal e uma das mais antigas do mundo. Estabelecida em 1864 por Henry Burnay, Conde Burnay, no Largo do Chiado, em Lisboa, […]
A Quinta do Senhor da Serra Belas, antiga Casa Senhorial dos Marqueses de Belas, no concelho de Sintra, acolheu a comemoração do aniversário da Casa Havaneza, a loja de charutos mais antiga de Portugal e uma das mais antigas do mundo. Estabelecida em 1864 por Henry Burnay, Conde Burnay, no Largo do Chiado, em Lisboa, num espaço criado uns anos antes por comerciantes de origem belga, comemora, este ano, 161 anos, os mesmos que faz o vetusto Diário de Notícias, jornal que tem acompanhado a vida do país e de várias gerações de portugueses até aos dias de hoje.
Fica na Baixa de Lisboa, quase em frente da estátua de Fernando Pessoa, discreta numa rua que mudou muito desde que foi criada, mas atractiva e ainda cheia de charme. Era lá que se iam comprar charutos cubanos em 1864 e é lá que se vão comprar agora. Os clientes são diferentes, mas o motivo é o mesmo.
Para celebrar o aniversário, a Empor, empresa proprietária da Casa Havaneza e distribuidor exclusivo da Habanos em Portugal, organizou um jantar especial onde estiveram presentes aficionados do charuto, clientes e amigos fiéis da Casa Havaneza, que, ao longo destes anos, escolheram o espaço como local de eleição para desfrutar de momentos únicos.
A noite decorreu num ambiente acolhedor e festivo, animada por um saxofonista e um grupo musical cubano, que contribuíram para a criação de uma atmosfera agradável e única. Durante o evento foi também projectado um vídeo, contado pela voz e gestos do pintor Luís Vieira-Baptista, autor da pintura “Adamastor”, apresentada durante o evento e criada para celebrar a nova edição regional de charutos Saint Luis Rey Adamastor, a 8ª Edição Regional de Portugal, acabada de chegar ao país.
No final da festa teve lugar o tradicional corte do Bolo de Aniversário, seguido de um brinde com Champagne Taittinger Brut Reserve para celebrar os 161 anos da Casa Havaneza.
Adamastor é uma figura mítica da mitologia greco-romana, mencionada pelo poeta Luís de Camões na sua obra épica Os Lusíadas, onde representa o gigante do Cabo das Tormentas, hoje Cabo da Boa Esperança, que, segundo o autor, afundava as embarcações que se aventuravam a cruzá-lo quando circundavam o continente africano. A edição regional mais recente da Habanos para Portugal homenageia este personagem da epopeia aos Descobrimentos portugueses, mas também à sua força e persistência.
As edições regionais Habanos são exclusivas para um mercado específico. Em cada caixa de San Luis Rey Adamastor há também uma pequena impressão digital e um QR code que conduz ao vídeo com a interpretação da pintura Adamastor”, pelo seu autor, Luís Vieira-Baptista.
Real Companhia Velha: Real de inspiração asiática

A apresentação destes vinhos esteve a cargo de Pedro Silva Reis (filho) e do enólogo Jorge Moreira. A ideia era provar especialidades, algumas delas com castas estrangeiras. O tema, hoje mais pacífico do que já foi, foi abordado por Silva Reis, que relembrou alguns factos históricos. Até 1960, a Real Companhia Velha não tinha um […]
A apresentação destes vinhos esteve a cargo de Pedro Silva Reis (filho) e do enólogo Jorge Moreira. A ideia era provar especialidades, algumas delas com castas estrangeiras. O tema, hoje mais pacífico do que já foi, foi abordado por Silva Reis, que relembrou alguns factos históricos. Até 1960, a Real Companhia Velha não tinha um pé de vinha e as melhores uvas iram sempre para Vinho do Porto. Foi com a chegada de Jerry Luper, enólogo americano com quem Jorge Moreira começou a trabalhar, que se fizeram as primeiras plantações de castas francesas, sempre naquele balanço de dúvida entre porquê? e porque não? Luper defendia que também seria possível fazer grandes vinhos tranquilos, além do Vinho do Porto, e Silva Reis sente-se à vontade no assunto porque, recordou, “ninguém tem feito mais do que a Real Companhia Velha para a recuperação e valorização das antigas castas do Douro e ignorar estas castas de fora também poderia ser um absurdo”.
Com 30 anos de experiência no Douro, hoje já se sabe onde estão as melhores vinhas em função da exposição e altitude, onde cada casta dá melhores resultados, onde se podem fazer vinhos mais leves e que vão ao encontro das tendências da moda, e onde estão as melhores parcelas para Porto. Agora é não estragar e não inventar onde não é preciso.
Tensão e austeridade
Os espumantes apresentados incluíram uma estreia, o Blanc de Blancs de 2019, um vinho que teve três anos de estágio antes do dégorgement. O facto de ser Chardonnay, dizem-nos, permite fazer um vinho com oito gramas de acidez e um pH de 3.1, “algo muito difícil, se estivéssemos a falar de Gouveio”, referiu o enólogo. O Grande Reserva, sendo de 2014, incluiu, na cuvée, vinhos de reserva, de 2011 e 2012. A base são vinhas velhas e faz-se uma vindima precoce para espumante, conseguindo-se, assim, mostos de menor graduação e acidez mais elevada, mas com boa tensão e austeridade (de inspiração Krug, confessaram…), algo que a madeira também ajudou.
O Marquis branco é feito com Sauvignon Blanc, variedade plantada em 1993 que, segundo Jorge Moreira, requer solos azotados. Isso obriga a um mapeamento da vinha, linha a linha, e só as melhores são vindimadas para este vinho. Ano após ano têm sido sempre as mesmas as usadas. O vinho estagiou por oito meses em barricas usadas e teve anteriores edições em 2014 e 2018. O Cabernet Sauvignon que entra no tinto foi plantado pela primeira vez em 1993. Esta marca é a sucessora da Grantom, essa sim uma marca muito antiga na casa. Esta nova versão, em ligação com a Touriga Nacional, teve a primeira edição em 2001. Anteriormente existia um Marquis de Soveral tinto, que fazia parte do portefólio da Real Vinícola.
O Grandjó Late Harvest é um vinho branco cuja produção, apesar da boa vontade e investimento da empresa, está sempre totalmente dependente das condições climáticas, as que permitem que se forme uma podridão que não seja acética. Fala-se em investimento, porque se deixam cerca de 2 ha de vinhedos por vindimar à espera de que o tal “milagre” se opere. Como se pode ver pelas edições que teve, houve muitos anos em que os tais 2 ha produziram uvas para deitar fora. A nova era do Grandjó Late Harvest, nascido na quinta da Granja, iniciou-se com a colheita de 2002 e, de lá para cá, foi editado em 2004, 05, 06, 07, 08, 12, 13 e, agora, com a colheita de 2021. É feito a partir da casta Boal, por coincidência a mesma casta que em Sauternes (França) se chama Sémillon, e daí este poder ser um DOC Douro.
Balanço perfeito
À mesa pudemos provar Quinta do Cidrô Marquis branco 2014, a mostrar-se ainda em boa forma. Por curiosidade, provámos também um Marquis de Soveral (era então o nome que ostentava no rótulo) de 1964, que se revelou uma boa surpresa apesar de ter sido preciso abrir várias garrafas até encontrar algumas ainda com saúde. Nos tintos provámos ainda um Marquis de 2001, que se bateu muito bem com a carne Wagyu.
De salientar o excelente trabalho de sommelerie feito com estes vinhos em relação ao menu, com o perfeito balanço que foi encontrado entre texturas e aromas. Pode parecer fácil mas dá trabalho. Muito trabalho.
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)

















