Taylor’s lança edição comemorativa do 50º aniversário do seu LBV

Taylor's - Alistair Robertson e Adrian Bridge com LBV 1965 e 2015

LBV é o acrónimo de Late Bottled Vintage, um Vinho do Porto que  a  Taylor’s afirma ter dinamizado em 1970 (da colheita de 1965), em resposta a solicitações do mercado. De facto, muitos enófilos pretendiam um “Vinho do Porto de alta qualidade a preço acessível e sem complicações relativamente ao consumo”. As palavras são de […]

LBV é o acrónimo de Late Bottled Vintage, um Vinho do Porto que  a  Taylor’s afirma ter dinamizado em 1970 (da colheita de 1965), em resposta a solicitações do mercado. De facto, muitos enófilos pretendiam um “Vinho do Porto de alta qualidade a preço acessível e sem complicações relativamente ao consumo”. As palavras são de Alistair Robertson, presidente não executivo da Taylor’s e o homem que dirigia os destinos da casa na altura. Os Vintage não só eram mais caros, como precisavam de anos de envelhecimento (em garrafa) e depois a decantação na altura de servir. O LBV, envelhecido durante 5 anos em cascos de madeira, estava mais ‘pronto’ a ser degustado. Diz a história que, na altura, o conceito, apesar de arriscado, teve grande sucesso e acabou por ser seguido por outras casas do Vinho do Porto. Segundo Adrian Bridge, CEO da Taylor’s, “o lançamento do LBV em 1970 desencadeou um grande aumento da procura por vinhos do Porto de alta qualidade”. O interesse começou sobretudo na Grã-Bretanha, mas alastrou rapidamente o interesse para a América do Norte, com os Estados Unidos e o Canadá a tornarem-se clientes muito importantes.
Ainda sobre o LBV, Alistair Robertson explica a filosofia de criação: “o LBV era um vinho de um só ano, de alta qualidade, com preço acessível, pronto a ser e bebido na altura do engarrafamento, sem necessidade de decantação e que podia ser apreciado ao copo, ao longo de várias semanas”.

Taylor’s LBV 1965 e 2015, 50 anos de diferença.

Adrian Bridge continua: “a crescente procura de LBV levou a Taylor’s a fazer grandes investimentos, tendo introduzido métodos e tecnologias paradigmáticas quer na viticultura, quer na enologia, e construído novos armazéns com condições óptimas para o envelhecimento do LBVs. A Taylor’s hoje está presente em 103 mercados”.
David Guimaraens, director Técnico e de Enologia da casa, descreve o estilo LBV da casa: “o Taylor’s LBV é o final perfeito para qualquer refeição, poderoso e autoritário apresenta aromas elegantes, perfumados e florais, com notas dominantes de fruta vermelha e preta onde a cereja preta tem lugar de destaque. Na boca, os sabores a chocolate negro e framboesas e taninos sempre elegantes e bem integrados”.
Para comemorar a efeméride dos 50 anos, a Taylor’s vai lançar o seu LBV 2015 (cerca de 15€ no retalho).

Entrevista a Francisco Mateus: “O bom e barato não serve o Alentejo”

Francisco Mateus, presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana

Em entrevista à Grandes Escolhas, Francisco Mateus, responsável pelo organismo certificador e coordenador do vinho do Alentejo presenteou-nos com uma visão muito lúcida e sem tabus sobre os temas mais actuais que “mexem” com esta grande região vitivinícola. Do mercado de volume às especialidades, das denominações de origem às castas e às novas plantações, da […]

Em entrevista à Grandes Escolhas, Francisco Mateus, responsável pelo organismo certificador e coordenador do vinho do Alentejo presenteou-nos com uma visão muito lúcida e sem tabus sobre os temas mais actuais que “mexem” com esta grande região vitivinícola. Do mercado de volume às especialidades, das denominações de origem às castas e às novas plantações, da sustentabilidade ao Enoturismo, uma longa conversa com muito motivo de reflexão.

TEXTO Luís Lopes FOTOS Mário Cerdeira

Nascido em 1970, o percurso académico de Francisco Mateus passou pelo bacharelato em Engenharia Agro-Alimentar (ramo vinhos) e licenciatura em Gestão, ambos pelo Instituto Politécnico de Santarém, tendo mais tarde concluído a pós-graduação em Direção de Empresas, pela AESE/IESE Business School da Universidade de Navarra.

Iniciou a sua actividade no sector vitivinícola em 1995, no IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, nas áreas do controlo e fiscalização, em Santarém, e posteriormente na gestão de medidas comunitárias de apoio. Ainda no IVV, enquanto director de departamento, integrou a equipa que representou Portugal em Bruxelas na negociação entre estados-membros e Comissão Europeia sobre a reforma da legislação base do sector vitivinícola europeu. Também no IVV, preparou e assegurou a gestão operacional dos dois programas de apoio nacional ao sector do vinho, entre 2009 e 2018. Desde Novembro de 2015 é presidente da direcção da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, com a missão de implementar a estratégia para os Vinhos do Alentejo, potenciando e valorizando a marca “Alentejo” no sector do vinho, a nível nacional e internacional. O Alentejo da vinha e do vinho foi, naturalmente, o tema da nossa conversa.

Grandes Escolhas: O Alentejo continua a ter uma posição absolutamente dominadora no mercado nacional (segundo os últimos dados, cerca de 37% em volume e 40% em valor nos vinhos com certificação regional), mas tem vindo a perder algum peso nos últimos anos. Como avalia a situação actual e sua evolução?
Francisco Mateus: Quando olhamos para a evolução dos números ao longo de um determinado período de tempo, devemos sempre ter em conta o volume de vinho disponibilizado no mercado e o preço a que é vendido. E verificamos que ao longo de 5 ou 6 anos o Alentejo teve boas produções e foi colocando cada vez mais vinho no mercado, mantendo a sua quota em quantidade, mas perdendo alguma coisa em valor. Ou seja, durante anos, o Alentejo “alimentou” o mercado, mas com efeitos ao nível do preço. Acontece que 2016, 2017 e 2018 foram três colheitas sucessivas de quebra de produção na região (algo absolutamente inédito nos últimos 30 anos) e, com menos vinho disponível, os produtores fizeram uma correcção de preço para cima, gerando mais valor. Criou-se assim uma situação em que o mercado nacional cresceu devido ao turismo, há mais vinho a ser consumido, mas o Alentejo tem menos vinho para oferecer, seja internamente, seja na exportação. E também não podemos esquecer que as outras regiões portuguesas também estão a fazer o seu trabalho, não estamos sozinhos no mercado. Tudo isto resulta numa ligeira quebra no volume. Mas é de realçar que o vinho do Alentejo, tendo a enorme quota de mercado que tem, consegue ainda assim ter um preço acima da média, o que é bastante positivo.

Mais de 70% dos vinhos portugueses nos super e hipermercados são vendidos em promoção. Tendo o Alentejo um peso muito grande nas cadeias de retalho, que impacto acha que esta realidade tem, não apenas na valorização do produto, mas também na imagem global do vinho do Alentejo?
As promoções são um facto, e não quero dizer que não tenham aspectos positivos. Mas dou-lhe a minha opinião enquanto consumidor e observador atento do que se passa no mundo do vinho. Julgo que promoções com percentagens de desconto muito elevadas, não são um comportamento leal para com todos os produtores que estão no mesmo mercado. O Alentejo, de facto, é uma região que vende muito vinho em promoção, mesmo apresentando um preço médio entre os mais elevados. E acredito convictamente que o Alentejo tem uma qualidade, notoriedade e procura tais que não justificam tanta promoção. Penso que era preferível vender um pouco menos e ter o vinho ainda mais valorizado. Quero que as pessoas olhem para o Alentejo como uma região de onde vem qualidade e que essa qualidade merece um preço superior. Seja no mercado nacional seja na exportação. É isso que nos vai garantir o futuro.

Ou seja, o rótulo bom e barato não é algo que queira colar aos vinhos do Alentejo…
Decididamente, não. Eu sei que existe, eu sei que vende, não sou contra o bom e barato, mas a nossa opção em termos de mercado não deverá ser por aí.

Apesar do sucesso dos vinhos alentejanos em Portugal, nos mercados de nicho, que valem pouco em volume, mas são muito importantes para construir marca e valor, o Alentejo parece perder terreno comunicacional e espaço de prateleira nas lojas especializadas, onde outras regiões vão crescendo. Como explica isso e o que é preciso fazer para reforçar a notoriedade dos grandes vinhos do Alentejo nos mercados de nicho?
O Alentejo tem um pequeno número de produtores que representam uma grande quantidade do vinho alentejano que vai para o mercado. Nesses mercados de nicho o foco aponta normalmente para os produtores de pequena dimensão, são produtores com esse perfil que constituem a novidade, a coisa de que se fala. Essa é uma razão.
Mas também, porventura, no mercado de nicho, não estaremos a fazer o trabalho que devíamos. Por exemplo, os vinhos de topo do Alentejo são colocados no mercado, normalmente, com alguma idade, o que diz também da sua qualidade e longevidade. Isso merecia ser evidenciado face à concorrência directa. Acredito que tem faltado algum arrojo, alguma inovação, alguma garra por parte do produtor alentejano para mostrar que os seus vinhos merecem estar no topo, nesses mercados especializados, ao lado dos mais cotados.
Por outro lado, a força que o Alentejo tem na grande distribuição leva a que as lojas especializadas sejam porventura menos trabalhadas pelos produtores.
Francisco Mateus, foto de Mário CerdeiraDito de outra forma, não precisam…
Mas não pode ser assim! Temos que ir bater à porta das lojas de nicho, mostrar o nosso produto, comunicar mais e melhor, trazer os compradores à nossa região, impressioná-los com a nossa qualidade e identidade. Temos de potenciar as marcas fortes, mesmo de produtores pequenos. Há todo um trabalho que o Alentejo em tempos fez e que tem de voltar a fazer. Volto a dizer, os produtores das outras regiões não estão parados…

As especialidades (vinhas velhas, castas antigas, talha…), podem contribuir para reforçar a imagem desse Alentejo “de especialidades”, diverso e diferenciador?
Claro! Vou começar pelo vinho de talha. O talha representa um nicho, uma quantidade muito pequena, apenas cerca de 60 mil litros por ano de vinho de talha certificado. Por outro lado, a talha não é um recipiente de fermentação normal, a talha tradicional, que existe em número limitado, é usada para um só vinho, uma vez por ano. Só este facto diz-nos que o vinho de talha será sempre um produto de nicho. Além de que – e isto é uma opinião pessoal – o vinho de talha tem um local e um momento para ser consumido. Não será um vinho que as pessoas vão comprar num supermercado, pela sua raridade, preço e perfil de aroma e sabor. Mas é um vinho para um consumidor exigente e conhecedor, o tal consumidor de nicho.
Quanto à vinha velha, tenho pena de existirem relativamente poucas no Alentejo. A vinha velha foi desaparecendo com as sucessivas reestruturações. Neste momento, segundo os dados de cadastro de que dispomos, numa área total de aproximadamente 22.500 hectares de vinha, existem cerca de 131 ha com mais de 50 anos e 382 ha com mais de 40 anos. No entanto, apesar de não ser grande, é uma área que têm estado mais ou menos estável na última década e estas vinhas mais antigas podem ajudar a reforçar a tal identidade Alentejo de que estava a falar. Sabemos que as vinhas velhas são um património que deve ser preservado e estimado. Mas só pode ser preservado se quem as tem sentir que geram algum valor. Aí há um trabalho que tem de ser feito, até pela própria CVR Alentejana, na exploração comunicacional das nossas vinhas mais antigas. Temos de passar essa imagem para o mercado. E também acho que precisa existir um conjunto de regras que defina, no Alentejo, qual a idade mínima que a vinha deverá ter para se poder usar na rotulagem a designação vinha velha. Isso iria ajudar os produtores a valorizá-las e mantê-las.
No que respeita às castas antigas e mais raras, a mesma coisa. Outro dia bebi um vinho de Tinta Carvalha (uma casta de que dispomos de pouco mais de 4 hectares no Alentejo) de um equilíbrio extraordinário. Nas brancas temos o Perrum, por exemplo, uma casta antiga, com características muito próprias. Tudo isso ajuda a construir uma imagem diferenciadora.

Passando ao mercado de exportação, o Alentejo representa cerca de 20% dos vinhos portugueses com denominação de origem ou indicação geográfica. Como avalia a evolução da exportação ao longo dos últimos anos?
Há um indicador económico muito positivo: a variação de crescimento das exportações é maior do que a variação da certificação. Isto significa que, a cada ano, estamos a exportar um pouco mais entre o volume de vinho disponibilizado no mercado. E, sobretudo, temos aumentado os preços na exportação.
Em termos de mercados propriamente ditos, temos uma grande fatia das nossas exportações em quatro países de fora da União Europeia: Brasil, EUA, Angola e Suíça. Têm sido bons mercados para o Alentejo (a Suíça, em particular, valoriza bem os nossos vinhos) mas sabemos que as oscilações da situação política e económica no Brasil e em Angola têm reflexos no comércio internacional. Depois temos a Polónia, com bons níveis de crescimento, mas a preços inferiores ao que ambicionamos, a França e Benelux, a Rússia, também a crescer, a China, que é um mercado interessante.
Os vinhos do Alentejo chegam a mais de 100 países, há muito por explorar noutros mercados e, de alguma forma, promover a diversificação e evitar a concentração nos quatro mercados que acima referi. Mas isso não é fácil, é preciso fazer escolhas, a capacidade de investimento e de recursos humanos é limitada, sobretudo nas pequenas empresas. Muitas empresas do Alentejo têm pequena dimensão. Num total de cerca de 300 produtores, 13 empresas representam mais de 60% da produção; e mais de metade dos produtores representam menos de 4% do volume de produção. O Alentejo do vinho não é todo formado por grandes empresas, como alguns erradamente acreditam.

O sistema DOC Alentejo assenta em 8 sub-regiões. No entanto, tirando algum movimento que se sente em torno de Vidigueira ou Portalegre, há poucos produtores e consumidores a valorizarem a identidade da sub-região ou a colocá-la nos rótulos. Porquê?
Para lhe responder teria que avaliar região a região. É verdade, em Portalegre há maior utilização do nome da sub-região. Portalegre está a ganhar notoriedade, até porque a maioria das empresas que vieram de fora para o Alentejo elegeram Portalegre como destino. Mas vejo também produtores de Borba e Vidigueira a procurarem comunicar a sua identidade. Há muito vinho de Reguengos a ser comunicado enquanto tal. Já em Moura há poucos produtores, e por isso a sub-região tem pouca visibilidade. O mesmo se passa em Granja-Amareleja. Diria que, porventura, as sub-regiões que utilizam menos o nome na rotulagem serão Évora e Redondo. Mas isso tem a ver com o modelo de negócio e opções de cada um. Para muitos é mais interessante optar exclusivamente pela denominação Alentejo em vez de adicionar o nome da mais pequena unidade geográfica. E outros ainda, podendo utilizar a designação DOC Alentejo, preferem o Regional Alentejano, até por uma questão de flexibilidade, sobretudo nas marcas de maior volume. Por exemplo, se um produtor precisar de comprar vinho ao vizinho e o vizinho só tiver vinho Regional, ficará naturalmente limitado se a sua marca estiver sob a DOC Alentejo.

Uma DOC tem de ter regras e um grau de exigência maior que um IG…
É evidente. Por definição uma Denominação de Origem é algo de conservador. É impensável estar a mexer nas regras de uma DO em cada sete ou dez anos. Podemos fazer ligeiros ajustes ou adaptar as regras à evolução natural das coisas. Mas não podemos recriar uma DO, sob pena de perdermos a identidade. As regras existem para serem aplicadas.

O Alentejo litoral é algo recente no mundo do vinho e o consumidor praticamente não o conhece. No entanto, pode vir a assumir um papel importante no futuro, até num contexto de alterações climáticas. Como vê o investimento de alguns produtores nesta parte menos notória do Alentejo?
Penso que o Alentejo litoral pode vir a tornar-se, no futuro, um daqueles casos que eventualmente justificarão uma alteração às regras da Denominação de Origem. As características especiais que tem, os solos, a influência marítima tão presente, a própria tipologia das castas que estão ali plantadas, tudo isso pode vir a configurar uma nova sub-região. Mas mais importante do que eu achar que pode acontecer, é os produtores que lá estão quererem que aconteça. Se os produtores acham que estão bem assim, porque havemos de estar a mexer nisso?
Penso que essas vinhas litorais são mais um bom exemplo do arrojo e da inovação dos produtores do Alentejo. Os vinhos, nomeadamente os brancos, diferenciam-se claramente dos outros que são produzidos na região e enriquecem a oferta e a diversidade do Alentejo. O investimento que decidiram ali fazer está a dar excelentes resultados e a mostrar um Alentejo diferente, um Alentejo que há 15 anos não existia. Na verdade, há muito Alentejo, é uma região grande e ainda com zonas por explorar.

Francisco Mateus foto de Mário Cerdeira

Em todas as denominações de origem europeias as castas desempenham um papel fundamental na definição da identidade regional. Uma região é dinâmica, mas, como já referiu, o estatuto de Denominação de Origem pressupõe um certo conservadorismo. Uma das últimas alterações que se fizeram na região, abriu a possibilidade de vender como DOC Alentejo um vinho 100% Syrah ou 100% Touriga Nacional, por exemplo. A designação Regional Alentejano para essas castas “não tradicionais” era insuficiente para os objectivos dos produtores?
As alterações que são feitas à legislação resultam sempre de compromissos. Isto quer dizer que nem sempre se consegue aquilo que se ambiciona, consegue-se aquilo em que é possível gerar acordo. A questão das castas é típica deste tipo de “negociações”, digamos assim, nuns casos consegue-se consenso, noutros não.
Em 1988, na primeira legislação para os vinhos do Alentejo, as castas, os lotes, e muitas outras regras eram diferenciados de sub-região para sub-região. Era tudo muito complexo, para a CVR e para os produtores. Na alteração mais profunda que se fez, em 2010, entendeu-se que isso deveria ser simplificado e as regras para as DOC Alentejo serem iguais nas várias sub-regiões. E houve castas que ficaram numa lista das que devem representar, em conjunto ou isoladamente, 75% do lote, e outras que não podem representar mais de 25% do lote.
Acontece que hoje temos mais informação do que tínhamos nessa data. Importaria talvez olhar para o terreno, ver o que existe, o que está cadastrado, com que resultados em termos de vinhos. Interrogo-me se, hoje em dia, se justifica ainda termos essa situação dos 75/25 generalizada a todas as sub-regiões. Se calhar justificava-se um outro modelo. Por exemplo, dizíamos aos produtores que, quem está dentro de uma sub-região, pode usar o nome da sub-região associado ao DOC Alentejo em determinadas condições; deixa de o poder usar se optar por esta ou aquela casta e aí só usa o nome DOC Alentejo; e se entender colocar lá mais umas outras castas, é livre de o fazer, mas o vinho terá de ser Regional Alentejano. Isso tornaria a regra mais fácil e, sobretudo, colocava a decisão nas mãos do produtor. O produtor, conhece as regras, sabe o que pode ou não pode fazer: se decidir num determinado sentido sabe o que pode comunicar no rótulo. A decisão é sua.

No fundo, é assim que funcionam as mais importantes DO europeias…
Sem dúvida. Não podemos esquecer que as regiões não são imutáveis, há inovação, há mudança. E é bom que de quando em vez apareçam umas castas novas. Nós, no ano passado, introduzimos mais uma meia dúzia de castas no Regional Alentejano… É para isso que serve a Indicação Geográfica por oposição à mais conservadora Denominação de Origem.

A área de vinha do Alentejo teve um enorme crescimento desde a demarcação em 1989. Acha que a região não deve ir muito além dos cerca de 22.500 hectares cadastrados até Agosto de 2019?
Em 30 anos do Alentejo mais recente, o que vemos é que a área de vinha cresceu muito até 2003, estagnou alguma coisa até 2013/2014 e, desde então, tem vindo a crescer. Houve um entendimento por parte dos representantes dos agentes económicos regionais de que o Alentejo deveria fazer crescer a sua área de vinha. Assim, referente a autorizações já atribuídas e com possibilidade de plantação até 2022, permitiu-se um aumento de 3.700 hectares, ou seja, uma variação de 17,9% face a 2014. Tem havido, portanto, uma abertura para plantar novas vinhas. Mas entendo que agora a região tem de olhar muito bem para aquilo que tem, avaliar o potencial de crescimento que existe em termos de autorizações já atribuídas, e pensar na produção e no mercado.

Ou seja, na relação entre a oferta e a procura e o seu reflexo no preço…
Exactamente. De forma muito simples, vejo a coisa assim: estamos a permitir que se aumente a área vitícola para mais 3.700 hectares; isso significa que poderemos aumentar, no mínimo, 15 milhões de litros em produção. Ou seja, em 2023 o Alentejo poderá estar a produzir mais 15 milhões de litros do que 2014. E isto se, até lá, não forem dadas novas autorizações! Há que pensar nas adegas que têm de vinificar e armazenar esse acréscimo e no mercado que vai ter de o receber. Vamos colocar este vinho no mercado para o vender ou para gerar valor que ajude a pagar a instalação da vinha?
Já iniciámos este debate no Conselho Geral da CVR Alentejana, estamos a avaliar a informação e a reflectir sobre o futuro próximo da plantação de vinhas no Alentejo. Em tempos decidimos crescer, acredito que agora é tempo de abrandar, ou mesmo parar, para avaliar os dados disponíveis, fazer um balanço e tomar decisões.

O Alentejo foi a primeira região portuguesa a assumir uma preocupação colectiva e institucional com a sustentabilidade. Para além da compensação mais evidente, que é ter um Alentejo do vinho mais sadio e sustentável, acha que é possível fazer reflectir no mercado (em termos de notoriedade e valor) esse investimento ambiental?
Antes de tudo, acredito convictamente que a viticultura sustentável e a produção sustentável de vinho podem ser o trampolim do Alentejo para os próximos anos, um verdadeiro factor diferenciador da região face às suas congéneres.
Quanto à sua questão: a produção sustentável é valorizada pelo consumidor? Pelo menos em duas geografias, os mercados nórdicos e os Estados Unidos da América, temos visto que sim. Mas a verdade é que, globalmente, é algo que o consumidor normal, o consumidor médio, não valoriza. Comunicar uma vitivinicultura sustentável não é fácil. Primeiro porque as pessoas (mesmo os jornalistas) olham para a palavra sustentabilidade e associam-na à questão climática ou económica. Depois, o que é isso de vinho sustentável? O vinho não é sustentável, a forma como foi produzido sim.
Quando o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo foi lançado, em 2014, apresentámo-lo a vários concursos, com sucesso. Muito em breve vamos receber o prémio de Inovação em Meio Rural atribuído pela Comissão Europeia. O nosso programa não é uma coisa académica, é algo que está no terreno, aplicado pelas empresas. Mas como comunicar tudo isto?
Sabemos que o consumidor valoriza uma certificação. Para o ano vamos ter, atribuída por entidades independentes, a certificação de viticultura sustentável e de produção sustentável de vinho. Vamos passar a ter algo concreto, auditável e verificável, que pode ser apresentado ao importador ou ao consumidor final. Porque o que temos até agora é o trabalho efectivo no terreno, coordenado pelo João Barroso de forma incansável, mobilizando os produtores da região no sentido de introduzirem práticas e modelos sustentáveis. A vitivinicultura sustentável é hoje uma realidade no Alentejo, mas é preciso que isso seja levado até ao consumidor através de uma certificação, um selo.

Isso leva tempo…
É verdade. Napa Valley , nos EUA, anda nisto há 20 ou 30 anos e há pouco li uma notícia que referia que 99% da área de vinha está certificada como sustentável. Mas o mercado americano está muito atento a isto e eles são muito bons a comunicar. Nós temos de olhar para os bons exemplos e levar isto até ao consumidor. Mas tenho consciência de que é muito difícil passar esta mensagem no mercado nacional no sentido de criar valor. Hoje em dia, a esmagadora maioria do consumidor português dá muito mais atenção à qualidade e ao preço do que ao modelo de produção do vinho. Isso pouco lhe diz.

Embora os chamados millennials e mais ainda os membros da geração Z, ou geração digital, comecem a pensar de forma diferente…
Ora aí está! Esta geração pesquisa tudo pela internet, está muito mais atenta a tudo o que a rodeia, há uma fatia de consumidores que vai querer saber como os bens que consomem foram produzidos. E quando isso acontecer os vinhos do Alentejo estarão na linha da frente.

A rega é, no Alentejo, um factor de qualidade, não apenas de produção. Mas a disponibilidade de água é limitada. Por outro lado, há quem defenda energicamente que sustentabilidade e rega são incompatíveis. Como gerir a escassez?
Eu não tenho qualquer tabu relativamente à rega da vinha. No entanto, regar intensamente com objectivo de aumentar a produção, não é sustentável, pelo consumo da água e pelo ciclo de vida curto que essa vinha terá. Já a rega optimizada é benéfica. Mas a realidade é que temos um problema de acesso à água no Alentejo. Existe um Alqueva, com uma massa de água gigantesca, mas o Alqueva está longe de Évora e de muitas outras zonas. Há produtores de Reguengos, ali ao lado do Alqueva, e que não têm água. Para além do acesso, há o modelo. A rega de precisão é o caminho que temos de seguir. Não digo “devemos”, digo “temos”. Temos de dar à vinha apenas a água que ela necessita para conseguir viver. No fundo, reproduzir as condições de um ano climático normal. Sem água não há vida. Temos obrigação de dar água à vinha quando não chove. Mas para dar água é preciso tê-la. Acredito que é essencial que consigamos reter a maior quantidade possível de água da chuva, sem colocar em causa, naturalmente, a corrente dos rios e ribeiras. Nestes últimos cinco anos, no Alentejo, tem caído menos água e, quando cai, cai em períodos curtos com enorme intensidade. Se nós entrarmos num período continuado de seca extrema, como tem acontecido na África do Sul ou na Austrália, temos de estar preparados. E isso significa usar bem a água que temos e não desperdiçar a água da chuva.

Uma grande parte do Alentejo vitivinícola é mecanizável, mas não apenas as máquinas dependem de pessoas como também nem tudo se resolve com máquina. Como avalia a carência de mão de obra agrícola e o seu impacto no futuro?
Para isso só tenho uma palavra: dramático. Infelizmente não acontece só na agricultura e vitivinicultura, os outros sectores (a hotelaria, por exemplo), também são afectados pela escassez de mão de obra. Ou não há pessoas para trabalhar ou as que existem não estão disponíveis para aquele trabalho. Para o sector do vinho, tudo isto é um desafio. Quando hoje se instala uma vinha já se prevê o nível máximo de mecanização, não apenas a vindima mas também a poda e outras tarefas. Isto pode derivar numa espécie de “robotização” do sector do vinho (com a conotação negativa junto do consumidor que daí advém), mas eu entendo perfeitamente, se fosse produtor faria a mesma coisa. Se não consigo encontrar pessoas para trabalhar, tenho de mecanizar.

Antigamente dizia-se que a vinha contribuía para fixar populações. Mas cada vez mais a mão de obra vitícola é mão de obra imigrante, os naturais continuam a ir embora…
Há dois factores que para isso contribuem. Por um lado, as vias de comunicação são muito melhores. Posso morar na cidade, em Évora, e trabalhar em qualquer parte do Alentejo. Por outro, o trabalho agrícola não é visto como sendo aliciante. Isto pode ter a ver, como é óbvio, com o nível salarial, mas em muitos outros sectores de actividade os salários não são melhores.
Uma das grandes preocupações da CCDR do Alentejo é a questão demográfica. O Alentejo está a ficar velho e a ficar sem gente. É uma área muito grande do território nacional, uma área onde a agricultura é muito importante e uma área onde há empregabilidade. Mas há muito pouca vontade de ir trabalhar na agricultura. Isto merece uma reflexão dos potenciais empregadores e dos potenciais empregados. No meio de tudo isto, há boas notícias. A Universidade de Évora abriu agora um curso de enologia e, pelo que ouvi dizer, esgotou as vagas. Ainda há pessoas a quererem trabalhar nesta área. E a academia está atenta ao que se passa à sua volta. Este curso em concreto reflecte a dinâmica do sector e questões como eficiência energética e enoturismo são temas curriculares.

Francisco Mateus. Foto de Mário Cerdeira

É precisamente de Enoturismo que queria falar, para terminarmos a entrevista. Uma Rota do Vinho funciona como elemento agregador e multiplicador? Ou na realidade, no terreno, o Enoturismo é cada um por si, uns amadores, outros profissionais, uns fechados ao fim de semana outros abertos todo o ano?
É um pouco tudo isso. Falando do caso concreto do Alentejo, temos enoturismos excelentes, temos enoturismos com boas condições e com pouco movimento e temos enoturismos onde não vai ninguém. E depois temos a Rota do Vinho do Alentejo. A sala da Rota, localizada no centro turístico de Évora, procura ser um elemento agregador, um espaço onde se mostra o Alentejo do vinho. Mas nós sabemos que é muito difícil levar os produtores a trabalhar em rede, em conjunto. Seria importante que se criassem grupos de três ou quatro produtores, com características diferenciadas: um tem vinhos de talha, outro uma adega moderna, outro ainda uma vinha antiga, todos com vinhos bem distintos. É evidente que existem no Alentejo produtores que não precisam de nada disto, até pelo grande número de turistas que recebem. Mas muitos outros não acolhem quase ninguém. Porquê? Porque não têm condições? Porque não publicitam? Porque têm a porta fechada ao fim de semana? Porque dizem que é só por marcação, mas, quando se procura marcar, o telefone toca e ninguém atende?
Naturalmente, quando na Rota do Vinho alguém pede sugestões de visitas ou marcações, as pessoas responsáveis contactam aqueles produtores que respondem aos mails e telefonemas, aqueles que sabemos que dão resposta com uma oferta enoturística de qualidade. É muito mau para a imagem do turismo do Alentejo quando alguém vai de carro, levado pelo GPS até um produtor que surge nos guias de Enoturismo, e depois chega lá, toca à porta, buzina, e mais tarde aparece alguém a dizer “o senhor engenheiro não está cá”. Isso é muito mau. Sinceramente, preferia que esses produtores não estivessem na Rota. Portanto, e resumindo a resposta à sua questão, no Enoturismo do Alentejo há elevados níveis de profissionalismo e elevados níveis de amadorismo.

Edição n.º32, Dezembro 2019

Quanto custa abandonar o glifosato?

limpeza mecânica de taludes

É o mais usado dos herbicidas e é, sem dúvida, um produto que tem sido importante na viticultura. Em França, o Glifosato vai ser proibido a partir de do próximo ano, devido à sua alegada pegada ambiental negativa e ao facto de poder aumentar o risco de cancro para os humanos. Ora, esta é uma […]

É o mais usado dos herbicidas e é, sem dúvida, um produto que tem sido importante na viticultura. Em França, o Glifosato vai ser proibido a partir de do próximo ano, devido à sua alegada pegada ambiental negativa e ao facto de poder aumentar o risco de cancro para os humanos. Ora, esta é uma mudança significativa, considerando que cerca de 80% das áreas vitícolas francesas usam um herbicida químico (66 % de maneira mista, com corte mecânico); destas, cerca de 75% das explorações usam um produto à base de glifosato!
Por isso, um conjunto de entidades ligadas à vinha juntaram-se para avaliarem o quanto custará abandonar este herbicida e passar a cortar as ervas de forma aparentemente mais sustentável, isto é, com meios mecânicos. Pois bem, os resultados publicados pelo ministério da Agricultura francês indicam que os custos acrescidos dependem, como é óbvio, de vários factores. Assim, os cientistas dizem que o viticultor com vinhas bem espaçadas passa a gastar mais 210 euros por hectare; se as vinhas forem de linha mais apertada, o custo sobe para mais 408 euros/ha. E pode subir ainda mais em regiões onde existem pequenas explorações, como a Alsácia (+553 euros/ha). Nas regiões de maiores explorações vitícolas e planas (por exemplo, Languedoc-Roussillon ou Bordéus), o acréscimo de custos baixa consideravelmente: entre os 115 e os 129 euros por hectare.
Em Portugal estes valores teriam tendência a descer um pouco, essencialmente pelos menores custos de mão-de-obra nacional. Contudo, em situações de viticultura mais difícil, como de montanha (Douro, claro), o custo seria muito mais elevado.

Sara Rodrigues e Matos abre escola de vinhos em Coimbra

Sara Rodrigues e Matos - The Wine House

Para muitos enófilos, Sara é uma conhecida enóloga que trabalhou 9 anos com o produtor Luís Pato e mais 2 anos com a Lavradores de Feitoria. Nos últimos 2 anos, diz-nos ela, “estive a dedicar-me à família”. Pois bem, Sara está de regresso com um projecto próprio, uma escola de vinho em Coimbra, na Urbanização […]

Para muitos enófilos, Sara é uma conhecida enóloga que trabalhou 9 anos com o produtor Luís Pato e mais 2 anos com a Lavradores de Feitoria. Nos últimos 2 anos, diz-nos ela, “estive a dedicar-me à família”. Pois bem, Sara está de regresso com um projecto próprio, uma escola de vinho em Coimbra, na Urbanização Quinta da Portela. A empresa chama-se The Wine House e pretende realizar cursos, mas não só.
A primeira iniciativa será já Domingo, 19 de Janeiro e será constituída por uma sessão de Wine Games. A sessão custa €20 e terá cerca de uma hora de duração. Os Wine Games, diz Sara, “são jogos divertidos à volta do vinho e dos sentidos, que ajudam a perceber por que gostamos dos vinhos que gostamos”. O jogo destina-se tanto a novatos como a especialistas.
Existem vouchers para oferecer a quem quiser. Existirá nova sessão no dia 15 de Fevereiro.
Sara considera que “a maioria das pessoas acha que o vinho é complicado: há muita escolha, os rótulos são confusos, e não sabem por que é se diz que cheira a rosas ou a baunilha de Madagáscar. Como é que algo tão prazeroso pode ser, ao mesmo tempo, tão intimidante?”
Mas a verdade está no gosto pessoal: “ninguém sabe mais sobre ti e do que gostas, do que tu mesmo. E saber porque é que gostamos dos vinhos que gostamos, é o primeiro passo para apreciarmos o vinho de forma livre e despreocupada”, considera a técnica.
A The Wine House tem outras experiências prontas: a 24 de Janeiro será realizada uma prova de seis vinhos de Luis Pato, sob o tema “Redução e Oxidação: fazer vinho com e sem oxigénio”. Custa 40 euros e realiza-se durante duas horas. A 1 de Fevereiro vem outro curso: Os aromas do vinho, com a participação do especialista Francisco Campos. Dia 24 de Fevereiro, novo curso: Os defeitos do vinho, com a participação do sommelier António Lopes. Estes dois eventos duram 2 horas e custam 30 euros cada.
Para além destas actividades, Sara presta assistência a eventos privados. Cada caso será um caso e por isso terá de ser acordado pontualmente. Tudo está explicado em pormenor no site da empresa, em www.thewinehouse.pt

Morreu Pierre Galet, famoso ampelógrafo francês

Pierre Galet quando recebeu um prémio da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, em homenagem ao seu trabalho de décadas com a videira.

(na foto: Pierre Galet quando recebeu o Grande Prémio da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, em homenagem ao seu trabalho de décadas com a videira). Muita gente apelidou-o como o “pai da ampelografia”. Fosse ou não correcto, a verdade é que Pierre Galet era um ampelógrafo de renome internacional. Recorde-se que a ampelografia, […]

(na foto: Pierre Galet quando recebeu o Grande Prémio da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, em homenagem ao seu trabalho de décadas com a videira).

Muita gente apelidou-o como o “pai da ampelografia”. Fosse ou não correcto, a verdade é que Pierre Galet era um ampelógrafo de renome internacional. Recorde-se que a ampelografia, na definição da Wikipédia, “é a disciplina da botânica e da agronomia que estuda, identifica e classifica as (…) castas de videira com base na descrição morfométrica das características dos vários órgãos da planta”. Pierre Galet nasceu no Mónaco, mas cresceu no sul de França e estudou viticultura na Universidade de Montpellier. Mais tarde ascendeu ao posto de Maître-Assistant de Viticultura na Ecole Nationale Supérieure Agronomique de Montpellier.
O seu primeiro livro sobre ampelografia, “Précis d’ampélographie pratique”, foi publicado em 1952 e recebeu o Grande Prémio Universitário da Feira internacional da Vinha e do Vinho. Alguns anos mais tarde, Galet ampliou esta obra para um conjunto de quatro volumes e 3.500 páginas. O conjunto tomou o nome de “Cépages et vignobles de France”. Até ao fim da sua vida, que durou 98 anos, Pierre Galet publicou ainda algumas outras obras sobre vinha e suas doenças.

Bom balanço para a Ervideira em 2019

Ervideira vista de cima

Duarte Leal da Costa já acabou de fazer as contas ao ano de 2019. E certamente ficou contente com o que apurou: no conjunto do ano, a Ervideira facturou mais de 2,5 milhões de euros, o que equivale a um crescimento de 12% face ao período homólogo de 2018. O director executivo da Ervideira produziu […]

Duarte Leal da Costa já acabou de fazer as contas ao ano de 2019. E certamente ficou contente com o que apurou: no conjunto do ano, a Ervideira facturou mais de 2,5 milhões de euros, o que equivale a um crescimento de 12% face ao período homólogo de 2018. O director executivo da Ervideira produziu 600.000 garrafas de vinho em 2019. Destas, exportou 25%, para 18 países. A quota para exportação desceu, mas existe uma razão. Duarte diz que foi devido ao crescimento das vendas no mercado nacional e no Enoturismo e na verdade não tendo houve quebras de vendas em quantidade e valor, apenas em percentagem.
O aumento da facturação teve sobretudo a ver com a consolidação do posicionamento junto dos vinhos topo de gama – mais de 50% da facturação passa pelos vinhos da gama Conde D’Ervideira (premium e super-premium) e ao comportamento das “Ervideira Wine Shop” – que tiveram um crescimento acima dos 20%, com a facturação a ultrapassar a barreira dos 600 mil euros. Recorde-se que a Ervideira possui três lojas: uma na adega, ao pé da povoação de Vendinha (Reguengos de Monsaraz), outra em Monsaraz e ainda outra em Évora.
Duarte Leal da Costa acredita que “2020 será um ano de viragem. É o ano que se assinala não só a entrada da 5ª geração na empresa, mas também a aquisição da totalidade do capital social ao resto da família, num processo que envolveu um investimento de 2 milhões de euros”. A Ervideira passa agora a uma estrutura de capital social com três sócios, encabeçada por Duarte Leal da Costa e os seus dois filhos (a 5ª geração), mantendo-se assim a totalidade apenas num ramo da família.
O ano de 2019 foi igualmente marcado pela renovação do website, com especial destaque para a criação do clube de fãs online e da plataforma de e-commerce, que permite adquirir vinhos on-line directamente ao produtor.
Para 2020 e anos seguintes, a Ervideira quer “continuar a incutir um ritmo elevado no que diz respeito à inovação e à comercialização dos vinhos Ervideira, focando muito em vinhos de gama elevada”, comenta Duarte Leal da Costa. E acrescenta que “a empresa vai apostar num reforço ao nível dos recursos humanos. A grande novidade para 2020 será a expansão dos espaços de Enoturismo em pontos turísticos do país, estando já prevista uma abertura para breve”.

Como elaborar um Plano de Controlo Analítico

Gostaria de saber como pode organizar melhor o seu modo de produção de vinho? Pois bem, a Vinideas está a promover um pequeno curso de um dia (9h00 às 18h00), que se vai realizar dia 29 de Janeiro no Régia-Douro Park, em Vila Real. O curso será ministrado por Gérard Sanchez, da empresa francesa Groupe […]

Gostaria de saber como pode organizar melhor o seu modo de produção de vinho? Pois bem, a Vinideas está a promover um pequeno curso de um dia (9h00 às 18h00), que se vai realizar dia 29 de Janeiro no Régia-Douro Park, em Vila Real.
O curso será ministrado por Gérard Sanchez, da empresa francesa Groupe ICV, que mostrará numerosos estudos práticos que permitirão entender a razão pela qual a análise é uma ferramenta de decisão e de antecipação essencial para a qualidade dos vinhos. No curso ficará a conhecer e entender os principais parâmetros analíticos a monitorizar, desde a maturação das uvas até à aprovação dos vinhos para engarrafamento, passando pelas diferentes etapas da fermentação e estágio. Serão ainda apresentadas as análises químicas e microbiológicas.
Segundo a Vinideas, este curso destina-se sobretudo aos quadros técnicos com funções nas áreas de controlo de qualidade, produção, e/ou regulação – Viticultura e Enologia, empresas fornecedoras, estudantes e outros profissionais ligados ao setor.
Pode obter mais informações e inscrever-se no site do curso.

OIV publica código de práticas enológicas

Este é uma espécie de código de práticas autorizadas e/ou recomendadas nas adegas de toda a União Europeia. O código foi publicado no Jornal Oficial da União Europeia (edição C409, de 5 de Dezembro) e está disponível em todas as línguas da comunidade. A fonte é a Organização Internacional do Vinho, ou OIV. Em Junho, […]

Este é uma espécie de código de práticas autorizadas e/ou recomendadas nas adegas de toda a União Europeia. O código foi publicado no Jornal Oficial da União Europeia (edição C409, de 5 de Dezembro) e está disponível em todas as línguas da comunidade. A fonte é a Organização Internacional do Vinho, ou OIV.
Em Junho, a União Europeia emitiu novas regras para simplificar e clarificar práticas enológicas na União Europeia. Esta publicação veio na sequência disso mesmo.
E de facto, as regras foram agora apresentadas de uma maneira mais simples e fáceis de ler. Os assuntos tratados vão da maceração carbónica até à “tiragem numa cuba fechada”. Pelo meio, o documento fala dos vários tipos de fermentação, tratamentos feitos ao vinho, pasteurização e, por exemplo, várias maneiras de acidificar (ou o contrário) o vinho.
O documento tem cerca de 40 páginas e permite aos enólogos identificar mais rapidamente práticas autorizadas e/ou recomendadas, bem como todos os requisitos relacionados com essas práticas.
Pode puxar o documento, em formato pdf, do seguinte endereço:
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=OJ:C:2019:409:FULL&from=PT

Curso de Marketing de Vinhos na Universidade do Minho

Vai decorrer já em Janeiro e Fevereiro de 2020 a 5ª edição do Programa Executivo em Marketing de Vinhos da UMinhoExec. Este curso é realizado em parceria com a ViniPortugal e decorrerá em Braga, no campus da universidade. O curso, de 50 horas, dirige-se a empresários do sector, e procura reflectir sobre os fundamentos do […]

Vai decorrer já em Janeiro e Fevereiro de 2020 a 5ª edição do Programa Executivo em Marketing de Vinhos da UMinhoExec. Este curso é realizado em parceria com a ViniPortugal e decorrerá em Braga, no campus da universidade. O curso, de 50 horas, dirige-se a empresários do sector, e procura reflectir sobre os fundamentos do Marketing de Vinhos numa abordagem competitiva a nível internacional. O programa aborda temas como a segmentação do mercado, a política de produto e marca, gestão de preços, técnicas de venda e comunicação, distribuição e internacionalização, bem como de enoturismo.
As aulas são em regime pós-laboral: quintas-feiras, sextas-feiras (18h30 às 21h30) e sábados (09h às 13h). O valor do curso é de 910 euros, mas apenas se fizer a sua inscrição até ao dia 3 de Janeiro. Depois fica mais cara.
Mais informações sobre o curso podem ser consultadas na página do curso.

Qual a influência de diferentes decanters num vinho?

Prova de decanters Schidt-Stosberg

Beber um bom vinho e apreciá-lo na sua plenitude é uma atitude que tem muito a ver como uma série de condicionantes. A temperatura de serviço, por exemplo, é um factor determinante para a correcta apreciação de um vinho. O próprio copo é importante, como podemos constatar depois de fazermos várias ‘provas de copos’. Decantar […]

Beber um bom vinho e apreciá-lo na sua plenitude é uma atitude que tem muito a ver como uma série de condicionantes. A temperatura de serviço, por exemplo, é um factor determinante para a correcta apreciação de um vinho. O próprio copo é importante, como podemos constatar depois de fazermos várias ‘provas de copos’.
Decantar um vinho, especialmente tinto e em particular vinhos ainda fechados e/ou taninosos, pode ser outra manobra que o vai alterar positivamente para o nosso usufruto. Hoje, já toda a comunidade enófila sabe isto. Mas será que existem outras variáveis a descobrir? A mente inquieta de Ralf Schmidt um dia congeminou que o formato do próprio decanter pode fazer diferença. E vai daí, o proprietário da Schmidt-Stosberg teve a ideia de fazer uma prova de decanters no último dia da feira Grandes Escolhas Vinhos e Sabores. Refira-se que a Schmidt-Stosberg, representante oficial da marca do fabricante Schott-Zwiesel, tem vários decanters no seu portefólio.
O orientador da prova foi o sommelier Luis de Almeida Cambra, do restaurante Largo do Paço, em Amarante. Na mesa, para além de Ralf, estava Manuel Malfeito Ferreira, professor no Instituto Superior de Agronomia, e João Silva e Sousa, conhecido enólogo que oficia sobretudo no Douro. Maria João de Almeida, jornalista, estava também presente e deu a sua opinião.
A prova foi bem interessante porque envolveu um único vinho tinto, Howard’s Folly, passado através de vários decanters. Um deles continha o vinho da garrafa, que infelizmente teve de ser passado para decanter porque tinha depósito. Mas não foi agitado, o que aconteceu nos decanters de prova. Teríamos ainda agradecido que o vinho de controlo pudesse vir de uma só garrafa, por exemplo uma com 3 litros, que seria suficiente. Assim teríamos a certeza de que o vinho era exactamente igual.

No final, eram várias as opiniões que circulavam sobre as diferenças do decanter de controlo para os outros. Considerando as vacilações que observámos, as diferenças não eram de todo óbvias. Ou seja, a existirem, seriam subtis. Mas fica para confirmação em nova prova, com uma preparação mais exigente.
Muito interessante foi ainda a discussão sobre a decantação: um dos sommeliers da sala referiu que prefere decantar vinhos novos, porque é um risco fazê-lo com os vinhos velhos. Luis Cambra concordou e acrescentou que só faz a decantação em poucos casos no restaurante onde trabalha. E acrescentou: “cada vinho é um vinho e não existem receitas universais”. A decisão de decantação passa ainda pelo tempo disponível e pela vontade do cliente. João Silva e Sousa referiu ainda uma experiência com Vinhos do Porto e uma prova abarcando várias décadas, ocorrida no Canadá: “os vinhos dos anos 40 estavam mortos ao fim de 30 minutos após a decantação”.
No final da sessão, ficou a sensação de que o tema estará longe de estar esgotado. Melhor ainda para o anfitrião, Ralf Schmidt, que terá oportunidade de repetir a prova e fazer avançar o conhecimento sobre o tema. (António Falcão)