Deixou-nos Manuel Dias, empresário dos mares e dos vinhos

É com pesar que damos notícia do falecimento de Manuel Dias, fundador e administrador da SAVEN, Sociedade Abastecedora de Navios Aveirense, e co-criador da Lua Cheia em Vinhas Velhas em 2009, juntamente com o seu amigo e enólogo Francisco Baptista. A Francisco, à sua filha Lara Dias, que recentemente assumiu as rédeas da empresa, e […]

É com pesar que damos notícia do falecimento de Manuel Dias, fundador e administrador da SAVEN, Sociedade Abastecedora de Navios Aveirense, e co-criador da Lua Cheia em Vinhas Velhas em 2009, juntamente com o seu amigo e enólogo Francisco Baptista.

A Francisco, à sua filha Lara Dias, que recentemente assumiu as rédeas da empresa, e a toda a sua família e equipa, a Grandes Escolhas transmite as suas condolências. Manuel Dias era, acima de tudo, um amigo.

Jornadas do Peixe Atlântico: a celebração do pescado selvagem no VINUM

TEXTO: Mariana Lopes FOTOS: VINUM A parceria do restaurante VINUM, situado nas Caves Graham’s (da Symington Family Estates), com o grupo basco SAGARDI, já nos vinha a proporcionar as Jornadas do Boi Velho de Trás-os-Montes há seis edições anuais consecutivas. Este ano, e nas palavras de Mikel de Viñaspre (director-geral do SAGARDI, à esquerda na […]

TEXTO: Mariana Lopes

FOTOS: VINUM

A parceria do restaurante VINUM, situado nas Caves Graham’s (da Symington Family Estates), com o grupo basco SAGARDI, já nos vinha a proporcionar as Jornadas do Boi Velho de Trás-os-Montes há seis edições anuais consecutivas. Este ano, e nas palavras de Mikel de Viñaspre (director-geral do SAGARDI, à esquerda na foto), “o foco transitou para o mar”.

No passado dia 28 de Novembro, durante a inauguração das I Jornadas do Peixe Atlântico, que decorrem até 15 de Dezembro no VINUM, Mikel e António José Cruz, único fornecedor de peixe deste restaurante, falaram lado a lado sobre as particularidades do peixe da costa portuguesa e de toda a cadeia que leva o pescado do mar até ao cliente final. António, mais conhecido por Tozé no Mercado Municipal de Matosinhos, conhece as lotas de todo o país como a palma das suas mãos, não tivesse chegado ao mercado com apenas 14 anos. Da compra e venda à preparação do peixe, Tozé domina todas as fases do processo e fez deste produto tão português um sólido negócio. Com a parrilla (grelha) em pano de fundo e junto a uma mesa com dois tamboris frescos, a dupla esmiuçou esta espécie e explicou como identificar um verdadeiro tamboril, o peixe escolhido para a primeira edição destas Jornadas: “O interior tem de ser completamente preto. Há algumas espécies parecidas, com interior branco, que nos são vendidas em muitos locais como tamboril, sem o ser. E tirando esta capa interior preta, tem de ter uma cor rosada.” demonstrou Tozé.

A “parrilla” do VINUM.

Com um exemplar de três quilos e meio na mão, ensinou também que “é um peixe que anda a cerca de 500 metros de profundidade e que aparece com abundância. Apenas em Janeiro e Fevereiro pode ser mais escasso”. O fornecedor, que em menos de 24 horas consegue entregar o peixe ao restaurante, manuseava o bicho com destreza. Mikel Vinãspre acrescentou, ainda, que “o fígado do tamboril é o foie gras do mar”, num apelo para que não seja desperdiçado. “Neste momento, e apesar do que se pode pensar, tanto em Portugal como no País Basco vivemos numa cultura de peixe”, afirmou o especialista da parrilla. Apontando para a grelha, adiantou que antes de lá colocar o peixe, apenas lhe coloca sal grosso. Já durante a assadura é que vai hidratando, aos poucos, com uma mistura de vinho branco, azeite e limão, acabando com um molho ligeiro muito semelhante ao da hidratação. Quando questionado sobre o tempo de confecção, Mikel riu e disse “cerca de 12 minutos, mas isto é uma actividade que tem muito pouco de racional, não há tempos certos para nada”.

Tamboril, pronto a servir.

Depois, o tema transitou para as conservas, um elemento bem presente na carta do VINUM e no menu das Jornadas do Peixe Atlântico. “É impressionante o tamanho da indústria de conservas em todo o Mundo. Mas creio que a costa portuguesa é a mais experiente e clássica nesta matéria”, elucidou Mikel.

O menu especial das Jornadas tem um custo de 100 euros, por pessoa, ou 120 euros com vinhos Symington, cuidadosamente escolhidos por Pedro Correia, enólogo-chefe da empresa. Estará disponível diariamente, até dia 15 de Dezembro, ao almoço e ao jantar, nos horários do restaurante: entre as 12h30 e as 16h00 e as 19h30 e as 24h00.

Forum Anual ViniPortugal: Optimismo, apesar de tudo

Apesar do reconhecimento das fragilidades estruturais e da grande dimensão dos desafios que se avistam para os vinhos portugueses, foi um sentimento de optimismo que prevaleceu das principais conclusões do Forum Anual da ViniPortugal (VP) que este ano se realizou no Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha. TEXTO: João Geirinhas Com a presença […]

Apesar do reconhecimento das fragilidades estruturais e da grande dimensão dos desafios que se avistam para os vinhos portugueses, foi um sentimento de optimismo que prevaleceu das principais conclusões do Forum Anual da ViniPortugal (VP) que este ano se realizou no Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha.

TEXTO: João Geirinhas

Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal.

Com a presença de quase 400 participantes, oriundos de todas as regiões vinícolas do país, os responsáveis da VP e do Instituto da Vinha e do Vinho que apresentaram comunicações registaram com satisfação em 2019 uma boa performance dos vinhos portugueses, tanto no mercado interno como nas exportações. Confirmando-se como o 9º maior exportador mundial de vinho, tanto em volume como em valor, Portugal afirma-se, nas palavras de Jorge Monteiro, Presidente da VP, como “Um pequeno produtor mundial (é 11º) mas um importante actor no comércio internacional. Competimos mundialmente com os melhores e, apesar de alguns desafios e dificuldades conjunturais do sector as exportações apresentam um crescimento em valor”, acrescentou.

Com efeito, as exportações dos vinhos portugueses cresceram 3,6% em valor em 2019 (dados de Janeiro a Setembro), registando um aumento do preço médio de 3,9% face a igual período do ano passado, prevendo-se atingir no fim do ano um valor superior a 800 milhões de euros. As previsões para 2022 apontam para se atingir o número redondo de 1000 milhões de euros em exportação. Estes números, que incluem o vinho do Porto, assentam no crescimento de alguns mercados tidos como estratégicos: França (onde o vinho Porto tem um grande peso), Estados Unidos, Reino Unido, Brasil e Alemanha formam o top 5 dos destinos dos vinhos portugueses além-fronteiras. Em termos de crescimento regista-se o grande incremento no Reino Unido (+22,4%), aqui por influência da antecipação dos efeitos do Brexit, os Estados Unidos (+7,9%) e Alemanha (+2,5%).
Para 2020, os responsáveis da VP apontam os Estados Unidos, Canadá e China como as maiores apostas promocionais, num total de investimentos de 6,6 milhões de euros, representando 40% do total. Mercados como Angola, Japão, Noruega, Coreia do Sul, Suíça, Rússia e México também têm um plano de promoção específico com um investimento de 1,8 milhões de euros, bem como Brasil e os principais destinos da EU, com ênfase para o Reino Unido e a Alemanha.

No mercado interno, alavancado pelo forte crescimento do turismo que se prevê atingir cerca de 21 milhões de visitantes em 2019, os resultados também são positivos. Considerando apenas os vinhos tranquilos, de 2018 para 2019, verificou-se que houve um aumento das vendas 7% em volume, 9,9% em valor e um crescimento de 2,6 por cento no preço médio do litro de vinho vendido. Evolução positiva também se regista no crescimento da importância do vinho certificado face ao não certificado. Com efeito, apesar do vinho não certificado ter ainda uma maior quota de venda em volume (53,7% contra 46,3%), em valor esta relação está já bastante invertida: o vinho certificado representa 63,6% das vendas face aos pouco mais de 36% do vinho não certificado (distribuição e restauração).

Quanto ao peso de cada uma das regiões produtoras, não se registaram alterações significativas, embora se observem pequenas variações. O Alentejo continua a ser de longe a região campeã de vendas no mercado interno, mas a sua quota em volume diminui ligeiramente de 36,9% para 35,7% em 2019. Diminuições também ligeiras no Douro (de 12,2% para 11,4%), apesar de ter subido um pouco em valor, no Dão (de 5,7 para 5,6%) e em Lisboa (de 4.7 para 4.4%). Em sentido contrário, registaram-se crescimentos de quota nos Vinhos Verdes (18,3 para 18,4%) Península de Setúbal com um crescimento mais acentuado (de 14,9 para 16,5%) e no Tejo (de 4.8 para 5.6%).

Para além das estatísticas e das projecções e tendências para os próximos anos, foi também apresentada a nova campanha de apresentação da marca Vinhos de Portugal/Wines of Portugal em que se procurará consolidar e dar um novo ímpeto ao trabalho desenvolvido sobre a identidade da marca, agora com um novo enquadramento. A ideia forte é, aproveitando o boom turístico, passar a englobar a marca Wines of Portugal num conceito mais alargado da caracterização de Portugal como um dos destinos mais interessantes do mundo.

No entanto, nem tudo são rosas na observação dos grandes desafios que os vinhos portugueses têm pela frente. Focando o tema transversal da sustentabilidade do sector que dominou a principal comunicação do Forum, a cargo do António Marquez Filipe, do Grupo Symington, fica a ideia de que há ainda um longo caminho a percorrer para garantir que a sustentabilidade económica assegure também a sustentabilidade social e ambiental. A grande disparidade existente entre os nossos custos de produção, consideravelmente mais elevados que nos nossos principais concorrentes, e o preço médios dos nossos vinhos nos mercados internacionais, ainda não suficientemente valorizados na percepção da sua qualidade, constitui um problema estrutural que não tem solução fácil a curto prazo.

“Extra! Extra!”, 2011 é ano de Barca Velha

A ser lançado em Maio de 2020, o próximo e icónico Barca Velha ostentará 2011 no rótulo. Oito anos depois desta colheita, a vigésima edição da marca assinada pela Casa Ferreirinha, da Sogrape, é finalmente anunciada, um momento sempre muito aguardado por consumidores e mercados nacionais e internacionais. “O ano de 2011 foi extraordinário, dos […]

A ser lançado em Maio de 2020, o próximo e icónico Barca Velha ostentará 2011 no rótulo. Oito anos depois desta colheita, a vigésima edição da marca assinada pela Casa Ferreirinha, da Sogrape, é finalmente anunciada, um momento sempre muito aguardado por consumidores e mercados nacionais e internacionais.

“O ano de 2011 foi extraordinário, dos melhores de sempre no Douro, intenso e de grande qualidade, pelo que da nossa parte foi só uma questão de paciência até podermos confirmar o potencial que a vindima deixou antever”, descortinou o enólogo Luís Sottomayor (na foto).

Declarado apenas em anos considerados pela Casa Ferreirinha como excepcionais, o tinto Barca Velha é, desde a sua criação em 1952, elaborado com uvas seleccionadas de diferentes altitudes no Douro Superior. A Quinta da Leda, com 160 hectares de vinha, dá hoje origem à maior parte dos vinhos que integram o lote composto pelas castas tradicionais da região.

ONG Oikos leva 15 restaurantes a ajudar Moçambique

A Oikos, uma Organização Não Governamental (ONG) portuguesa que trabalha em prol do desenvolvimento, decidiu “celebrar” o Giving Tuesday, dia solidário que acontece sempre a seguir às consumistas Black Friday e Cyber Monday. Em conjunto com quinze restaurantes lisboetas, e com apoio da Zomato, esta iniciativa pretende ajudar as vítimas dos ciclones em Moçambique: hoje, […]

A Oikos, uma Organização Não Governamental (ONG) portuguesa que trabalha em prol do desenvolvimento, decidiu “celebrar” o Giving Tuesday, dia solidário que acontece sempre a seguir às consumistas Black Friday e Cyber Monday. Em conjunto com quinze restaurantes lisboetas, e com apoio da Zomato, esta iniciativa pretende ajudar as vítimas dos ciclones em Moçambique: hoje, dia 3 de Dezembro, estes espaços doarão €1.50 por cada cliente. Em alguns casos, a acção manter-se-á até dia 8 deste mês.

João José Fernandes, presidente da Oikos, explicou que “a Oikos trabalha o tema da segurança alimentar e nutricional desde sempre e há alguns anos em Portugal. Para nós, cozinhar também é liderar e por isso há muito que queríamos envolver os nossos chefs e cozinheiros nacionais nas nossas iniciativas”.

Os quinze restaurantes aderentes: LOCO, Mano a Mano, Avenida SushiCafé, Izanagi, Erva, Essencial, Pigmeu, SOI, Panorâmico by Marlene Vieira, Tasca da Esquina, Boi Cavalo, Plano, O Nobre by Justa Nobre, Akla e Enigma D’Alquimia.

Para ajudar, além de frequentar hoje e até dia 8 um destes espaços, pode aceder a ao site da Oikos e escolher uma das formas de ajuda. A causa pode ainda ser divulgada através das hashtags #semearmocambique #oikos #DaParaMudar #GivingTuesdayPT.

Conservante natural não tóxico para vinhos distinguido pela ANI

O ChestWine, desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Politécnico de Bragança, é o vencedor da distinção Born from Knowledge (BfK), atribuída pela Agência Nacional de Inovação (ANI), no âmbito do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola (PEICA). O projecto, que acumulou o BfK com o PEICA na categoria “Produção, Transformação e Comercialização”, utiliza […]

O ChestWine, desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Politécnico de Bragança, é o vencedor da distinção Born from Knowledge (BfK), atribuída pela Agência Nacional de Inovação (ANI), no âmbito do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola (PEICA). O projecto, que acumulou o BfK com o PEICA na categoria “Produção, Transformação e Comercialização”, utiliza a flor de castanheiro como conservante natural isento de toxicidade para o vinho, que pode ser uma alternativa aos sulfitos adicionados e proporcionar ao consumidor um vinho biodinâmico, diferenciado, e portador de propriedades bioactivas. A ANI considerou o ChestWine como o melhor candidato de base científica e tecnológica a concurso, que lhe valeu o troféu “Árvore do Conhecimento” e um prémio monetário de 5 mil euros.

Colecção – O templo do deus Whisky

A paixão de Alfredo Gonçalves pelo whisky vem desde os seus tempos em Angola, quando começou a juntar garrafas que trazia das muitas viagens ao estrangeiro. Décadas de dedicação criaram um espólio notável do que se vai destilando pelo mundo. Hoje, em Lisboa, mora uma das maiores colecções privadas do planeta de garrafas e artigos […]

A paixão de Alfredo Gonçalves pelo whisky vem desde os seus tempos em Angola, quando começou a juntar garrafas que trazia das muitas viagens ao estrangeiro. Décadas de dedicação criaram um espólio notável do que se vai destilando pelo mundo. Hoje, em Lisboa, mora uma das maiores colecções privadas do planeta de garrafas e artigos ligados ao whisky.

Texto: Luís Francisco
Fotos: Ricardo Gomez

A 20 de Dezembro de 2005, o Livro Guinness dos Recordes emitiu um certificado: “Alfredo Gonçalves, de Lisboa, Portugal, juntou 10.500 garrafas de whisky diferentes e dos mais diversos formatos. A sua colecção está aberta ao público na sua loja Whisky & Co, em Lisboa, Portugal.” Quase década e meia depois, o número de garrafas subiu para perto das 13.000 e, apesar a de entidade que regista os recordes não ter respondido em tempo útil ao pedido de esclarecimento enviado pela “Grandes Escolhas”, esta é, certamente, uma das maiores colecções privadas de garrafas de whisky no mundo.
Alfredo, com 90 anos, continua a frequentar o templo dedicado à bebida que sempre foi a sua paixão, mas a condução dos negócios e a gestão do museu estão agora nas mãos dos filhos. O certificado do Guinness de 2005 continua lá, emoldurado, num dos poucos centímetros quadrados de espaço não ocupado por garrafas ou outros artigos alusivos ao whisky. Actualizá-lo implica a elaboração de um novo dossier e essa é uma tarefa que leva o seu tempo… Apesar da ajuda de Alfredo Gonçalves, cuja memória prodigiosa lhe permite desfazer dúvidas e omissões, os filhos ainda estão a “ganhar coragem” para deitarem mãos à tarefa.
Quem o assume é Luísa Gonçalves, que nos recebe nas instalações da Whisky & Co, ali entre o Campo Pequeno e Entrecampos. Quem entra na loja, bem organizada e de visual bem equilibrado entre a funcionalidade moderna e a beleza rústica de elementos tradicionais, mal pode imaginar o que está lá ao fundo, nas salas por trás do balcão. São três divisões, literalmente forradas a whisky… Um local único, belíssimo, de uma magia muito especial. A verdadeira essência da Whisky & Co. Sim, porque o museu não nasceu por causa da loja; o processo foi exactamente o oposto: existe loja porque havia uma colecção.
À entrada, as melhores e mais prestigiadas marcas estão à venda. Lá dentro, aguarda-nos uma surpresa incrível, marcada desde logo pela divisão inicial, dedicada ao bourbon (whisky norte-americano). Os americanos têm destas coisas e, pelos vistos, adoram engarrafar a sua bebida favorita das mais inacreditáveis formas e feitios.
Há telefones, camiões, botas, peças em porcelana, motivos de Natal, estátuas de Elvis Presley (com música!), Marylin Monroe, uma reconstituição do célebre duelo no OK Corral… E pares que dançam, animais, o Space Shuttle, carros dos bombeiros, tractores, comboios, capacetes, trenós, barcos, carroças, aviões e helicópteros, carrinhos de mão e bicicletas. Nem vale a pena continuar – o melhor será mesmo passar por lá e descobrir, prateleira após prateleira, sala após sala, o mundo incrível das garrafas de whisky que são tudo menos garrafas.

Whisky do Nepal

Passamos à segunda sala, onde as vitrinas exibem magníficas garrafas e do tecto pendem canecas. Logo à entrada temos o “registo” da família, com uma garrafa do ano de nascença de cada um dos membros – Alfredo e a sua mulher, Alice, numa prateleira; os quatro filhos, noutra; os seis netos, abaixo. Junto à entrada, a secção dedicada aos whiskies japoneses (quem viu o filme “Lost in Translation”, de Sophia Coppola, conhece pelo menos uma: Suntory); no resto do espaço reinam os maltes escoceses e irlandeses.
A colecção está organizada por destilarias e as peças notáveis vão surgindo por todo o lado. Os Family Casks da Glenfarclas de 1952 a 1994, as pequenas amostras que fazem pensar numa loja de perfumaria, algumas garrafas que são armas (adagas, espingardas), outras dedicadas a pilotos de Fórmula 1 (David Coulthard ou Jim Clark, por exemplo), exemplares artísticos em vidro branco modelado nas mais diversas formas (globos, barcos, elefantes, sapatos, etc…).
Mas é na terceira sala, dedicada aos blends, que estão os exemplares mais antigos da colecção. Foi aqui que o museu começou a ganhar forma. “No princípio”, explica Luísa, “tudo isto estava em casa, depois veio para aqui e foi ocupando cada vez mais espaço.” Neste momento, dirá um leigo, não cabe mais nada, mas há sempre maneira de ir arrumando e rearrumando, encaixando mais alguma peça neste puzzle fantástico. E, por falar em peças, eis que deparamos com dois tabuleiros de xadrez de grandes dimensões em que as figuras, claro, são recipientes de whisky.
Num dos cantos, uma área particularmente curiosa da colecção: os whiskies de países menos habituais. Genericamente, há cinco “escolas” de whisky reconhecidas internacionalmente: Escócia, Irlanda, EUA, Canadá e Japão. Mas isso nunca impediu ninguém de emular o seu estilo favorito e isso explica que encontremos aqui rótulos da Áustria, da Argentina, de Angola, do Brasil, da Bélgica, de Marrocos, da Turquia, da Índia, do Chile, da Jamaica, de Cuba, do Egipto, do Butão, da Bulgária, do Nepal, do Laos, do Paquistão, da Tailândia, do Vietname, do Sri Lanka, da Nova Zelândia… Entre muitos outros.
Portugueses, também. Várias garrafas de whisky Ricardo (engarrafado por Celestino Dias Sardinha, de Encarnação, Mafra); ou o Old Anchor, das Fábricas Âncora, em Lisboa. Do “famoso” “whisky de Sacavém” é que nem sinal…
Adiante. Colecção completa da Guerra dos Tronos? Sim. Todos os presidentes dos EUA? Confere. Dezenas de papas diferentes? Estão lá. Rótulos espectaculares com imagens da autoria de pintores escoceses, em séries subordinadas a temas como “The Sea” ou “The Animals”. Um armário de miniaturas. Garrafas envoltas em cabedal, cantis, pequenas barricas, baldes de gelo e caixas sobre os expositores, até chegarem ao tecto. Uma garrafa de Jameson numerada e com o nome “Alfredo Gonçalves” no rótulo.

Tudo começou em Angola

Algumas das peças aqui expostas podem valer muito dinheiro – um leigo dificilmente as distingue no meio de tanta coisa vistosa, mas algumas garrafas da colecção estão avaliadas em milhares de euros. E, no entanto, o museu tem entrada gratuita. “Nunca cobrámos”, explica Luísa. “Para o fazermos, acho que teríamos de oferecer outras condições, tornar a exposição mais didática. Talvez um dia…”
Quem visita a loja pode sempre solicitar a entrada nas salas das traseiras e, mediante disponibilidade de quem está a atender, circular por entre estes testemunhos da universalidade da bebida espirituosa mais popular no mundo. Um casal de jovens noruegueses faz exactamente isso, espantando-se com as peças que surgem a cada passo. Quanto a nós sentamo-nos para conversar um pouco sobre as histórias que estão por trás desta notável colecção.
Alberto Gonçalves já não se sente em condições de enfrentar a exposição mediática, mas Luísa e José Carlos, o outro filho que trabalha na Whisky & Co, recordam que tudo começou nos anos 1960, quando o pai estava em Angola. “Ele gostava muito de descobrir novos whiskies e em Angola não havia muita coisa. Como tinha uma agência de viagens, andava muito pelo mundo e ia comprando umas garrafas. Não se bebia todo e ele foi guardando.” Em 1975, na sequência do processo de descolonização, Alberto e a família regressaram a Portugal e ele conseguiu trazer consigo muitas das garrafas que começara a coleccionar.
“Até 2001, quando a loja abriu, era uma colecção exclusivamente particular. Depois abrimos este espaço e começamos a aceitar visitas, grupos pequenos – e tem de ser assim, porque não pode haver muita gente naquele espaço. Os corredores são apertados e basta um descuido para alguma coisa se partir”, explica Luísa.
No princípio, a maior parte das raridades e peças curiosas eram adquiridas durante as viagens pelo mundo, viagens em que Luísa foi muitas vezes a companhia do pai. Pormenor curioso: por uma razão ou por outra, ela nunca foi à Escócia… “É uma vergonha!”, assume, com um sorriso. A partir do momento em que a loja abriu, a colecção recebeu um grande impulso: fornecedores, amigos, contactos, muita gente começou a contribuir. “E também houve muitas garrafas compradas na Garrafeira Nacional, que a dada altura era o único sítio onde se encontravam algumas marcas.”
De uma maneira ou de outra, Alberto foi juntando artigos ligados ao whisky. Hoje serão perto de 13.000 garrafas e, ainda que sem ver renovado o reconhecimento oficial lavrado por escrito em 2005, esta continua a ser uma das maiores colecções privadas do género no mundo. Imperdível.

TEMPLOS DE GARRAFAS

No mundo do colecionismo, as quase 13.000 garrafas exibidas nas instalações da Whisky & Co, em Lisboa, são um dos números mais impressionantes a nível mundial. Mas há outros. Em Itália, nos arredores de Veneza, Diego Sandrin, proprietário do bar Lion’s Whisky, exibe uma colecção que pode andar entre os 20.000 e os 25.000 exemplares. O mais famoso museu do género é o The Scotch Whisky Experience, em Edimburgo, que junta quase 4000 garrafas – o espólio pertence à distribuidora Diageo, que o adquiriu ao colecionador brasileiro Claive Vidiz. Em Sassenheim, na Holanda, estão cerca de 3000 garrafas, das mais raras do mundo (o museu, integrado nas instalações de uma empresa de investimentos, adequadamente chamada Scotch Whisky International, exibe a colecção do italiano Valentino Zagatti). Finalmente, e porque isto de ver é bonito, mas beber é ainda melhor, os fanáticos do whisky não podem perder uma visita ao bar do Hotel Skansen, na ilha sueca de Öland: lá poderão escolher entre 1179 marcas diferentes.

 

Edição Nº26, Junho 2019

O engarrafamento

Um dos mais determinantes passos na produção de vinho. Estamos na época do ano em que há “engarrafamentos” nos engarrafamentos de vinho. Todos querem ter cubas ou depósitos vazios para receber a próxima vindima e é uma azáfama de Norte a Sul na compra de garrafas, rolhas e prestações de serviços. Texto: João Afonso O […]

Um dos mais determinantes passos na produção de vinho. Estamos na época do ano em que há “engarrafamentos” nos engarrafamentos de vinho. Todos querem ter cubas ou depósitos vazios para receber a próxima vindima e é uma azáfama de Norte a Sul na compra de garrafas, rolhas e prestações de serviços.

Texto: João Afonso

O engarrafamento tem por fim acondicionar o vinho num vasilhame que assegure a conservação das suas características organolépticas por um período de tempo mais ou menos longo.

Passos e atos

O enxaguamento é o primeiro passo importante do engarrafamento. Deverá ser rápido, eficaz e, acima de tudo, a água utilizada deverá ser de ótima qualidade ou mesmo ser esterilizada ou ozonada.

O enchimento pode ser considerado, como o momento de maior importância no processo de engarrafamento. Deve ser estéril e garantir que o vinho contacta o mínimo com o oxigénio. A enchedora deve manter um débito constante de enchimento, sem reduções ou interrupções e não pode formar espuma dentro da garrafa.

No fim a rolhagem. A rolhadora faz um ligeiro vácuo no gargalo, que evita a oxidação do vinho e pressão no interior da garrafa antes de introduzir a rolha com rapidez. O espaço em vazio deixado entre o vinho e a rolha deve cumprir as normas especificadas no modelo da garrafa.
Com os equipamentos existentes nas linhas de engarrafamento actuais podemos ao mesmo tempo que engarrafamos, ‘pasteurizar’ o vinho, retirar álcool por osmose inversa, retirar acidez volátil, estabilizar o vinho…. Só ainda não se consegue transformar um “entrada de gama” num “super premium”. Mas com tempo….

António Ventura, enólogo

A opinião de António Ventura

Para além de alguma contaminação, que em boa parte está excluída pela grande eficácia dos equipamentos modernos e também pela profissionalização deste sector e respetivos serviços, a grande preocupação num engarrafamento é o oxigénio. Devemos evitar ao máximo a sua intrusão no vinho no ato de enchimento da garrafa, ou com azoto ou com vácuo. Principalmente nos vinhos brancos. Um engarrafamento deficiente de vinho branco não só prolonga muito a chamada “doença de garrafa”, como não permite à posteriori uma recuperação total do vinho sujeito a esse deficiente engarrafamento.

 

 

Edição Nº26, Junho 2019

Escolha do Mestre – Sauvignon Blanc, a casta que o mundo quer adorar

O exotismo da Sauvignon Blanc tem originado um enorme sucesso junto de produtores e consumidores um pouco por todo o mundo. Portugal não é excepção, com resultados muito interessantes, mas há ainda trabalho a fazer no conhecimento da casta no terreno (atenção ao excesso de calor!), de forma a intervir menos na adega e deixar […]

O exotismo da Sauvignon Blanc tem originado um enorme sucesso junto de produtores e consumidores um pouco por todo o mundo. Portugal não é excepção, com resultados muito interessantes, mas há ainda trabalho a fazer no conhecimento da casta no terreno (atenção ao excesso de calor!), de forma a intervir menos na adega e deixar a uva exprimir o local onde está plantada.

Texto: Dirceu Vianna Junior MW

São poucas as pessoas capazes de distinguir entre um Sancerre e um Pouilly-Fumé ou discernir entre as sub-regiões neozelandesas de Awatere e Wairau numa prova à cega. Enquanto a uva Riesling é capaz de expressar o terroir com facilidade, a Sauvignon Blanc é uma casta maleável, onde as decisões tomadas pelo enólogo durante a vinificação são muitas vezes o factor dominante no estilo do vinho. Entre os melhores atributos da casta Sauvignon Blanc estão as suas impressionantes qualidades aromáticas juntamente com seu frescor penetrante. O sucesso global pode ser atribuído, pelo menos parcialmente, à reação dos consumidores entediados com estilos tradicionais de Chardonnay pesados, demasiadamente amadeirados e que actualmente buscam um perfil mais leve. É impossível ignorar na Sauvignon Blanc a incrível capacidade de expressar aromas e sabores exóticos que saltam do copo, dançam no paladar e deixam um final de boca persistente e refrescante. Esta é a razão pela qual a área total de vinhedos plantados no mundo em 2000 representava 65.000 hectares (ha), atingiu 110.000 ha uma década mais tarde e as plantações desta antiga casta continuam crescendo. A primeira menção ocorreu em 1534 sob um de seus sinónimos “Fiers” no Vale do Loire. Como Sauvignon, há uma menção específica no início do século XVIII em relação à pequena vila de Margaux, em Bordéus. A casta é conhecida por vários sinónimos, incluindo Blanc Fumé e Sauvignon Fumé no Loire. Na Áustria e na Alemanha é referida como Muskat-Silvaner e na Califórnia como Fumé Blanc, um termo inventado por David Stare de Dry Creek Vineyard em Sonoma.
Evidências históricas juntamente com análises de DNA sugerem o Vale do Loire como o berço da casta que nasceu devido ao cruzamento entre um pai desconhecido e Savagnin, portanto Sauvignon Blanc é meio irmão da casta Verdelho e genéticamente próximo à Sémillon. Além de ter alcançado fama por conta própria, Sauvignon Blanc, juntamente com Cabernet Franc, são os pais da Cabernet Sauvignon. É provável que esse cruzamento tenha ocorrido na região de Bordéus no século XVIII.
Sauvignon Blanc possui pele esverdeada, bagos pequenos e cachos compactos. É altamente vigorosa, mas relativamente fácil de cultivar. Brota tarde e amadurece cedo. Porta-se bem em climas ensolarados, mas não gosta de calor excessivo. Responde melhor quando plantada em porta-enxertos de baixo vigor e solos não muito férteis. A Sauvignon possui uma variedade de clones com personalidades distintas. Existem mais de 20 clones registados na Universidade de Davis na Califórnia, no entanto estima-se que a maioria das plantações na Califórnia e no mundo assentam no clone Wente FPS 01, originário do Chateaux d’Yquem.

Zambujeira Velha, Cortes de Cima

Os estilos clássicos de França e Nova Zelândia

A região do Vale do Loire, em França continua sendo a grande referência com exemplos puros, elegantes e expressivos oriundos das famosas vilas de Sancerre e Pouilly-Fumé. Entre os produtores de Sancerre destacam-se Alphonse Mellot, Domaine Lucien Crochet e Domaine Vacheron. Bons exemplos de Pouilly Fumé incluem Chateau de Tracy e Domaine Didier Dagueneau. Os vinhos destas denominações tornam-se cada vez mais caros e consumidores astutos buscam alternativas nas denominações vizinhas de Menetou Salon, Reuilly, Quincy e Coteaux du Giennois, bem como Sauvignon de Touraine, onde é possível encontrar vinhos leves e elegantes por uma fracção do preço, como Domaine Joël Delaunay. Sauvignon Blanc é cultivado no clima marítimo de Bordéus onde é possível encontrar vinhos leves, elegantes e bem feitos na sub-região de Entre-Deux-Mers, mas os melhores exemplos estão em Graves e Pessac-Léognan. Esses vinhos podem conter proporções de Semillon e Muscadelle e frequentemente são fermentados e envelhecidos em carvalho produzindo um estilo mais exuberante que além de envelhecer bem, se porta bem com comida. Domaine de Chevalier, Smith-Haut-Lafitte e Haut Brion Blanc são exemplos clássicos. Sauvignon é plantada perto da vila de Chablis sob a denominação de St Bris, onde produz vinhos notoriamente secos, magros com alta acidez e persistentes notas minerais. Um facto surpreendente é que a maioria dos 29.000 ha de Sauvignon Blanc plantados em França se encontram em Languedoc-Roussillon, região mais conhecida pelos seus tintos.
Semelhante ao Alicante Bouschet que teve origem em França e foi adoptado por Portugal, onde produz excelentes vinhos, a casta Sauvignon Blanc encontrou a sua segunda casa na Nova Zelândia, onde foi plantada pela primeira vez na década de 1970. O estilo pungente foi bem recebido pelo consumidor internacional e o país tem sido extremamente bem-sucedido, o que resultou num aumento significativo nas plantações, que hoje atingem 21.400 ha. O solo e as condições climáticas são perfeitos. O clima é ensolarado e seco, mas não excessivamente quente. Os solos pesados produzem vinhos herbáceos a partir de uvas que amadurecem mais tarde. As vinhas plantadas em solos mais pobres e rochosos amadurecem mais cedo, transmitindo notas tropicais exuberantes com nuances minerais. Marlborough, no extremo norte da Ilha Sul, é tida como referência para esse estilo, mas as plantações estão espalhadas por todo país, particularmente Martinborough, Gisborne, Hawkes Bay e Waipara Valley. De forma geral, os Sauvignon da ilha do Norte são mais maduros, com notas de frutas de caroço e melão em comparação aos vinhos do sul que tendem a ser mais leves com notas herbáceas. Entre os bons produtores destacam-se Clos Henri, Craggy Range, Dog Point, Greywacke, Huia, St. Clair, Seresin Estate, Vavasour, Villa Maria e novo projeto de Steve Smith MW chamado Smith & Sheth.

Adega Mãe

Sauvignon Blanc nas Américas…

Nos Estados Unidos, as primeiras plantações de Sauvignon Blanc foram introduzidas na adega Cresta Blanca em Livermore Valley, na Califórnia. Devido à aversão dos consumidores americanos pelo caráter herbáceo e alta acidez, os produtores desenvolveram um estilo chamado Fumé Blanc. Os vinhos são mais maduros, encorpados, enriquecidos por estágio em carvalho e muitas vezes contêm açúcar residual. Segundo a Universidade de Adelaide, existem cerca de 6.600 ha de Sauvignon nos EUA, principalmente em Sonoma, Napa e Vale Central. O Estado de Washington faz bons exemplos, mas é no Vale de Santa Ynez que o efeito do nevoeiro ajuda refrescar o clima e criar Sauvignon Blanc com mais delicadeza, tensão e frescor. Entre os melhores exemplos encontram-se Araujo Eisele, Chalk Hill, Duckhorn e Robert Mondavi To Kalon, um dos melhores exemplos de Sauvignon Blanc do mundo. Logo ao norte, no Canadá, bons exemplos de Sauvignon podem ser encontrados na Península de Niágara e na Colúmbia Britânica, como Clos du Soleil e Burrowing Owl Estate Winery.
O Sauvignon Blanc é uma das castas brancas mais importantes do Chile com 15.200 ha plantados, embora historicamente a varietal tenha sido confundida com Sauvignon Vert (Muscadelle) e com Sauvignonasse (Friulano na Itália). Essas castas ainda representam uma proporção significativa das plantações em Curicó e Maule e estão sendo gradualmente substituídos pelo verdadeiro Sauvignon Blanc. Em termos de estilo, os vinhos tendem a mostrar notas tropicais e sabores herbáceos geralmente com mais corpo do que os exemplos da Nova Zelândia. Os melhores vêm do Vale de Leyda e Vale de San Antonio, a poucos quilómetros do Oceano Pacífico. Entre os melhores produtores do Chile estão Casa Marin, Amayna, Montes, Matetic, Errázuriz, De Martino e Laberinto. Apesar de ser uma varietal menos difundida na Argentina, produtores como Zorzal, Pulenta Estate, Doña Paula e Finca Sophenia merecem reconhecimento. No Brasil, a casta mostra potencial na região de altitude de Santa Catarina com a Vinicola Thera a produzir um exemplo convincente.

Niagara, EUA

…e no resto do Mundo

A África do Sul tem uma longa história com Sauvignon Blanc. O estilo combina a exuberância de frutas dos vinhos do novo mundo com a elegância do velho mundo. As plantações estão distribuidas por várias regiões, especialmente Stellenbosch, Walker Bay e Elgin, totalizando cerca de 9.500 ha. Alguns dos melhores produtores são Mulderbosch, Klein Constancia, Neil Ellis, Strandveld, De Grendel, Diemersdal, Steenberg e Graham Beck. Na Austrália, o Sauvignon Blanc tem-se tornado popular devido ao sucesso da Nova Zelândia. Apesar da maioria das regiões serem demasiadamente quentes, existem cerca de 7.000 ha plantados. Um dos melhores é feito por Shaw e Smith em Adelaide Hills. Outros bons exemplos podem ser encontrados na Tasmânia e partes mais frias de Victoria e New South Wales. A parte oeste do país é responsável por um estilo distinto, onde a Semillon frequentemente faz parte do lote ajudando produzir vinhos mais encorpados como Cape Mentelle. A Itália possui cerca de 4.000 ha de Sauvignon Blanc, principalmente espalhados no nordeste do país, Alto Adige e Friuli. A Espanha tem uma área de plantação semelhante à Itália, apesar de que as condições climáticas sejam demasiadamente quentes para essa varietal. Existem plantações principalmente em em Castilla-La Mancha e Rueda. Outras regiões da Europa onde Sauvignon é encontrado inclui Roménia, Moldávia, Suíça, Eslovênia, República Checa, Rússia e Alemanha, especialmente em Württemberg, Franken e Pfalz. A região de Styria na Áustria é responsável por vinhos subtis e cremosos e a Hungria é fonte de Sauvignon Blanc de boa qualidade e preços acessíveis.

Nova Zelândia

A Sauvignon Blanc e o estilo português

Dados do Instituto da Vinha e do Vinho mostram que a parcela mais antiga de Sauvignon Blanc em Portugal foi estabelecida pela Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima em 1977. Actualmente existem 1.305 ha espalhados pelo país, predominantemente no Alentejo (383 ha), Tejo (328 ha) e Lisboa (222 ha). O desejo de explorar o potencial da casta dentro das características climáticas portuguesas foi um dos motivos que levaram produtores a plantar Sauvignon Blanc. Francisco Baptista, enólogo e sócio da empresa Saven, explica que a Sauvignon Blanc em Barcelos, região dos Vinhos Verdes, apresenta características similares às da baía de Arcachon, em Bordéus. Devido à sua proximidade ao oceano atlântico e solos mais profundos origina vinhos frescos. Outro motivo do interesse pela casta foi tentar capitalizar na oportunidade comercial. Paula Fernandes, enóloga residente da Quinta da Boa Esperança, explica que no início do projeto, pensando na internacionalização da marca, optaram em plantar a casta pelo facto de ser reconhecida internacionalmente acreditando que poderia ser uma vantagem comercial.
Vasco Rosa Santos, enólogo responsável pelos vinhos do Monte da Ravasqueira refere que o estilo do Sauvignon da casa é fruto da experiência adquirida em adegas Neo-Zelandesas. O objectivo é simplesmente reflectir as características da casta e buscar um perfil fresco com notas herbáceas, caracter cítrico e mineral. Paula Fernandes cita a região de Sancerre no Vale de Loire como inspiração e adianta que em Lisboa os solos argilo-calcáreos e o clima moderado com influência atlântica imprimem aos vinhos estrutura, acentuada acidez e mineralidade. Pedro Lufinha, Director Geral da Quinta da Alorna, diz que não procura estilo específico, mas gosta dos componente exóticos, tropicais e, ao mesmo tempo, aprecia o lado vegetal e mineral da casta. O importante é que o vinho seja harmonioso. Para isso, o controlo da maturação e o momento da colheita da Sauvignon Blanc, mais do que em muitas outras castas, é crucial, explica Pedro. Após a vindima manual as uvas são desengaçadas e vão directamente à prensa sem qualquer maceração pelicular. A fermentação é mantida numa temperatura de cerca de 17 a 18ºC e feita com leveduras selecionadas que possuem melhor capacidade de revelar os tióis. O vinho permanece em inox até a data do enchimento.
Na adega do Monte da Ravasqueira, o enólogo Vasco Rosa Santos prefere inibir as enzimas responsáveis pela oxidação dos compostos aromáticos, usando baixa temperatura desde a hora do esmagamento. A temperatura de fermentação é cerca de 4 ou 5 graus mais baixa em comparação ao Sauvignon Blanc da Quinta da Alorna. Subsequentemente as borras finas são colocadas em suspensão para dar melhor textura e corpo ao vinho.

Sancerre, França

Um sucesso no mercado

No que respeita ao desempenho comercial dos Sauvignon Blanc portugueses, Francisco Baptista mostra-se positivo e explica que no mercado nacional o vinho é vendido maioritariamente em locais turísticos principalmente Algarve e Lisboa, mas 88% da produção é comercializada no mercado externo. O mesmo acontece com o Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc onde 60% da produção é vendida no mercado externo, especialmente Irlanda, Polónia e Rússia. Ao invés, tanto as vendas da Quinta da Boa Esperança como da Quinta da Alorna são dominadas pelo mercado nacional, 80% e 75% respectivamente. Devido ao seu potencial gastronómico e à facilidade do consumidor estrangeiro em identificar a casta, o vinho é comercializado principalmente no canal HORECA. Comparando a qualidade do Sauvignon Blanc português com de outros países, Vasco Rosa Santos considera a qualidade muito boa e realça o perfil diferente do dos famosos vinhos do Loire e Marlborough. Na sua opinião, o Sauvignon Blanc nacional raramente é influenciado por madeira, portanto é mais acessivel. Paula Fernandes está convencida que Portugal tem capacidade de produzir excelentes Sauvignon Blanc. Apesar de ser um país de pequena dimensão, mostra condições distintas e cada uma dessas regiões possui microclimas onde podem ser produzidos Sauvignon Blanc de estilo “Novo Mundo”, com aromas tropicais, untuosos e com acidez menos marcada, até vinhos com perfil mais clássico, como os do Vale de Loire, com mineralidade, acidez vincada e aromas elegantes e cítricos. Sendo assim é capaz de agradar qualquer tipo de consumidor, o que se torna uma vantagem competitiva.

Loire, França

O futuro

Levando em consideração tendências comerciais e ameaças trazidas pelas mudanças climáticas, Pedro Lufinha faz uma análise sensata, declarando que a casta não deixará de existir, mas também não será auspiciosa tendo em conta o vasto património vitícola e a preferência do consumidor português pelas castas autóctones que o país oferece. Paula Fernandes considera o Sauvignon como uma casta de clima fresco e acredita no seu poder de adaptabilidade. Sendo assim a tendência será sua transição para latitudes mais elevadas e locais mais próximos do mar, onde as amplitudes térmicas são menores e o índice de humidade mais elevado, como é o caso da região de Lisboa.
Apesar dos Sauvignon Blanc portugueses ainda não apresentarem uma personalidade definida, ao contrário dos clássicos franceses ou neo-zelandeses, a qualidade dos Sauvignon Blanc nacionais, de forma geral, é solida. Além de satisfazer a demanda do mercado interno é capaz de aventurar-se no comércio internacional. Mas embora sejam elaborados com competência, ainda não estão no patamar de qualidade dos grandes clássicos mundiais. De forma geral, os estilos ainda são muito heterogéneos e manifestam sobretudo a filosofia do enólogo. Até vinhos da mesma região reflectem mais as decisões tomadas na adega do que o terroir que lhes deu origem. Produtores que apostaram na casta precisam continuar valorizando a qualidade acima de tudo, para evitar competir com Sauvignon Blanc de países onde os custos de produção permitem atingir faixas de preço inferiores, como é o caso do Chile. Para assegurar sucesso ao longo prazo, é preciso ir em busca de uma personalidade própria. E para isso é necessária paciência e muito trabalho. Trabalho que vai gerar conhecimento e confiança. Confiança para interferir menos e fazer o máximo para que a casta consiga expressar da melhor forma o terroir português.

Edição Nº26, Junho 2019

Fórum Anual Vinhos de Portugal vai discutir exportações e mercados estratégicos

O desempenho das exportações dos vinhos portugueses, a evolução, expectativas e condicionantes do mercado nacional, e o Plano Sectorial de Marketing e Promoção para 2020 da ViniPortugal, vão ser dados a conhecer no Fórum Anual Vinhos de Portugal. O evento, uma iniciativa da ViniPortugal, realiza-se no dia 4 de Dezembro, a partir das 9h, no […]

O desempenho das exportações dos vinhos portugueses, a evolução, expectativas e condicionantes do mercado nacional, e o Plano Sectorial de Marketing e Promoção para 2020 da ViniPortugal, vão ser dados a conhecer no Fórum Anual Vinhos de Portugal. O evento, uma iniciativa da ViniPortugal, realiza-se no dia 4 de Dezembro, a partir das 9h, no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha (na foto).

Em 2018, Portugal ocupava o 9.º lugar no ranking mundial de países exportadores de vinhos, atrás da Nova Zelândia e à frente de países como África do Sul e Argentina. Nesse ano, Portugal exportou mais de 803 milhões de euros em vinhos, um aumento de 3% face a 2017. É objectivo da ViniPortugal que as exportações dos vinhos portugueses cheguem aos mil milhões de euros em 2022.

Promovido anualmente pela ViniPortugal, o Fórum Vinhos de Portugal pretende ser um momento de análise e de debate sobre a realidade do sector vitivinícola nacional, com o contributo de entidades reguladoras e de promoção, produtores e convidados de áreas relevantes, e o palco para a apresentação da estratégia de promoção nacional e internacional dos Vinhos Portugueses para o ano seguinte.