Vinhos Com Sentido: um evento internacional no Pestana Palace

De 28 a 30 de Março, no Hotel Pestana Palace, em Lisboa, decorre o evento “Vinhos com Sentido”, organizado por Alejandro Chávarro (na foto), sommelier, formador e conhecedor de vinhos com saber adquirido, entre outros locais, na cave de vinhos do restaurante Astrance (2* Michelin), em Paris, que geriu durante anos, antes de se mudar […]
De 28 a 30 de Março, no Hotel Pestana Palace, em Lisboa, decorre o evento “Vinhos com Sentido”, organizado por Alejandro Chávarro (na foto), sommelier, formador e conhecedor de vinhos com saber adquirido, entre outros locais, na cave de vinhos do restaurante Astrance (2* Michelin), em Paris, que geriu durante anos, antes de se mudar para o nosso país. Nesses três dias de Encontro Internacional sobre Solos & Viticultura e masterclasses, irão debater-se os temas mais prementes da viticultura no mundo, haverá lugar a provas de vinhos e champagnes exclusivos, debates e palestras, encontros com produtores, e almoços especiais concebidos por prestigiados chefs – como o de domingo 29, que conta com uma equipa de excepção: Pascal Barbot (Astrance, 2* Michelin), Vincent Farges (Epur, 1* Michelin), André Lança Cordeiro (Essencial, Lisboa), Vasco Coelho Santos (Euskalduna, Porto) e Pedro Inglês Marques (Pestana Palace) irão preparar uma refeição memorável.
Ao longo dos três dias de evento, discutir-se-á a fertilidade de solos e outras problemáticas actuais, pela voz de Dominique Massenot, consultor especializado em fertilidade de solos, agronomia e viticultura biodinâmica; será promovido um encontro com mais de 15 produtores de vinho e de champagne, pioneiros nas suas regiões e com larga experiência na matéria, tendo ainda a possibilidade de conhecer e provar vinhos das regiões do Loire, da Alsácia, da Borgonha, de Itália e de Espanha.
“Um dos objectivos do “Vinhos com Sentido” é poder proporcionar a vários públicos – dos simples enófilos, a sommeliers ou profissionais da hotelaria e da restauração – o acesso a produtores e patrimónios que dificilmente encontramos em Portugal de forma tão concentrada”, explica Alejandro Chávarro, criador da iniciativa e fundador da empresa “Vinhos Livres”, especializada na importação de vinhos estrangeiros.
Os bilhetes podem ser adquiridos no site oficial: eventos.vinhoslivres.com, sendo possível comprar vários tipos de ingresso (para os três dias ou para um único dia). Quem optar pelo dia 28, “Raízes 2020”, dedicado à partilha e procura de soluções para a viticultura biodinâmica, terá acesso a 3 horas de palestra/debate de manhã, almoço, e novas 3 horas de palestra/debate à tarde, pelo valor de 95€. Caso escolha o dia 29, que inclui a masterclass de Champagne e o almoço com os cinco chefs de renome, o preço é de 195€ (com valores diferentes em caso de profissionais ou estudantes de hotelaria). Por fim, caso opte pelo dia 30, em que terão lugar as masterclasses dos vinhos do Loire, Alsácia, Hungria, Itália e Espanha, e a masterclass da Borgonha, com provas comentadas pelos próprios produtores e almoço incluído, o valor é outro ainda. Há 50 lugares para cada dia, e toda a informação pode ser consultada em eventos.vinhoslivres.com.
Foto: Thomas Padilla
Tejo aumenta em 71,8% a certificação dos seus vinhos

Em 2019, a região Tejo certificou mais 71.8% de vinhos face ao ano anterior. Passou assim de 13.5 milhões de litros para 23.3 milhões de litros de vinho certificado, o que corresponde a 38% do volume total de vinho produzido na Região, ou seja, 61 milhões de litros. Se olharmos para o ano de 2019, […]
Em 2019, a região Tejo certificou mais 71.8% de vinhos face ao ano anterior. Passou assim de 13.5 milhões de litros para 23.3 milhões de litros de vinho certificado, o que corresponde a 38% do volume total de vinho produzido na Região, ou seja, 61 milhões de litros. Se olharmos para o ano de 2019, no primeiro trimestre registou-se um aumento de quase 40%, tendo sido o maior de sempre. Número que subiu mais de 30% em todo esse ano.
Importa salientar que a certificação dos vinhos é uma forma de se valorizar o território, as suas uvas e, consequentemente, os vinhos, potenciando a economia local e o desenvolvimento e fixação das populações, na medida em que estamos assim a garantir que o investimento é feito na região, sendo estes produtos feitos com uvas cultivadas e transformadas na região.
Segundo Luís de Castro, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, “este crescimento exponencial deve-se ao esforço de toda a região e não de apenas alguns agentes económicos e, por isso, estamos todos de parabéns. No entanto, ainda estamos longe do grau de certificação das maiores regiões vitivinícolas portuguesas, que chegam a certificar a quase totalidade do vinho que produzem”.
Na foto: vinhas da Casa Cadaval (por Ricardo Gomez)
Distribuidora Wine Drop “agarra” vinhos Giz

Na apresentação do seu portefólio para 2020, a distribuidora Wine Drop, encabeçada pelo sommelier Mickaël Vieira (que passou por conceituados restaurantes, como DOP ou Pedro Lemos), revelou a sua mais recente novidade: a distribuição exclusiva dos vinhos Giz, de Luís Gomes, pequeno projecto com muito carácter e identidade que assenta em vinhas velhas de Baga […]
Na apresentação do seu portefólio para 2020, a distribuidora Wine Drop, encabeçada pelo sommelier Mickaël Vieira (que passou por conceituados restaurantes, como DOP ou Pedro Lemos), revelou a sua mais recente novidade: a distribuição exclusiva dos vinhos Giz, de Luís Gomes, pequeno projecto com muito carácter e identidade que assenta em vinhas velhas de Baga situadas em Cantanhede, na Bairrada.
A Wine Drop foca a sua distribuição no Centro e Norte de Portugal a trabalhar em representação da “Wines by Heart” que assume a exclusividade a nível nacional de diversos produtores internacionais e nacionais.
No seu portefólio, já são mais de 40, de 10 países diferentes, como Domaine Ponsot e Pierre-Yves Colin-Morey (França), Ferrari, Gravner e Soldera (Itália), La Rioja Alta (Espanha), Markus Molitor (Alemanha), Château Musar (Líbano), De Martino (Chile), e agora o português Giz. Além de chegar às melhores garrafeiras nacionais, está também presente em 16 restaurantes com estrela Michelin.
Já no campo dos acessórios, a Wine Drop junta o copo Gabriel-Glas ao seu portefólio.
Almoço-tertúlia “Do Reino a Coimbra” volta já este fim-de-semana

Será já no próximo sábado, dia 25 de Janeiro, que se realizará a segunda edição do “Do Reino a Coimbra”, ciclo de almoços tertúlia dedicados à cozinha das várias regiões do país, em harmonização com vinhos da Bairrada (e mais alguns). A organização cabe à magazine digital “A Lei do Vinho”, de Miguel Ferreira, numa […]
Será já no próximo sábado, dia 25 de Janeiro, que se realizará a segunda edição do “Do Reino a Coimbra”, ciclo de almoços tertúlia dedicados à cozinha das várias regiões do país, em harmonização com vinhos da Bairrada (e mais alguns). A organização cabe à magazine digital “A Lei do Vinho”, de Miguel Ferreira, numa parceria com o restaurante anfitrião, Cordel Maneirista (na foto), em Santa Clara, Coimbra.
Esta segunda edição será dedicada à abordagem da gastronomia duriense pela pena de Miguel Torga, escritor que teve Coimbra como lar durante muitos anos, aí se dedicando não apenas à escrita, mas também ao exercício da Medicina.
As convidadas especiais serão a historiadora Dina Ferreira de Sousa, autora da obra “Sabores da Mesa na Obra de Miguel Torga”, um livro factual e sentido, com deliciosas abordagens e detalhes da cozinha portuguesa resultantes da sua investigação literária e gastronómica, e a professora Fátima Flores, filha de uma das grandes referências da enologia nacional da segunda metade do século XX, Martins da Costa, e sócia das mais antigas caves em actividade na região da Bairrada, as Caves São João. Dela teremos não só o testemunho histórico sobre as empresas vitivinícolas mais clássicas da região, como também o relato íntimo das tertúlias familiares à mesa com Miguel Torga, grande curioso sobre os vinhos da Bairrada.
O almoço tertúlia será dividido em cinco momentos: “A Chegada”, “O Farnel de Caça e Mata-Bicho”, “A Espera”, “A Aproximação” e “A Montaria”, num retrato da caça e dos pratos durienses igualmente associados àquela actividade.
Nos vinhos, estarão representados sete reconhecidos produtores bairradinos – Adega de Cantanhede, Casa de Saima, Caves Messias, Caves da Montanha, Caves São João, Caves Primavera e Quinta dos Abibes – com espumantes, vinhos brancos, tintos e licorosos.
O almoço terá um custo de €37,50 e as inscrições podem ser feitas através dos mails geral@aleidovinho.com ou cordelmaneirista@gmail.com
Symington vai reduzir 50% da sua pegada de carbono até 2030

A Symington Family Estates acaba de se juntar à International Wineries for Climate Action (IWCA) – um grupo de trabalho colaborativo com o compromisso de acelerar soluções inovadoras que possam mitigar os impactos das alterações climáticas, através da descarbonização do sector mundial do vinho. Desta forma, a empresa familiar, o primeiro produtor de Portugal a […]
A Symington Family Estates acaba de se juntar à International Wineries for Climate Action (IWCA) – um grupo de trabalho colaborativo com o compromisso de acelerar soluções inovadoras que possam mitigar os impactos das alterações climáticas, através da descarbonização do sector mundial do vinho. Desta forma, a empresa familiar, o primeiro produtor de Portugal a aderir ao grupo, reforça o seu compromisso em agir face à severidade da crise climática através da implementação de medidas imediatas para a redução das suas emissões de carbono. O objectivo é que todos os membros da IWCA tenham uma estratégia de longo-prazo para a redução em 80% das suas emissões de carbono até 2045, com uma meta intermédia de 50% até 2030.
A par com a Symington Family Estates, juntaram-se também produtores dos Estados Unidos, Chile e Nova Zelândia às duas famílias do vinho que fundaram esta associação, em Fevereiro de 2019: Família Torres (Espanha) e Jackson Family Estates (EUA). Para serem reconhecidos como membros de pleno direito da IWCA, os produtores têm de preencher vários requisitos, para além da redução das emissões totais. Devem, por exemplo, garantir a produção de pelo menos 20% da sua energia eléctrica a partir de fontes renováveis (excluindo a compra de energia renovável certificada). No âmbito do grupo de trabalho, as empresas devem ainda realizar um inventário de emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE) seguindo os requisitos do protocolo nesta matéria, estabelecido pelo WBCSD (World Business Council for Sustainable Development) e WRI (World Resources Institute), abrangendo os impactos directos, indirectos e decorrentes das actividades ao longo da sua cadeia de valores. Adicionalmente, têm de assegurar a sua verificação, por entidade competente, de acordo com a norma ISO 14064. É ainda imperativo demonstrar uma redução de pelo menos 25% de emissões de CO2 por unidade de vinho produzida, usando o ano referência do inventário de emissões GEE.
De acordo com Rob Symington, Director Associado da Symington Family Estates, “as alterações climáticas configuram um dos maiores riscos que a humanidade enfrenta. Precisamos de indivíduos, empresas e governos que respondam à altura a este desafio. Na Symington temos o compromisso de reduzir a nossa pegada de carbono e de trabalhar com os nossos parceiros para a redução das emissões na nossa cadeia de fornecimento. Estamos muito satisfeitos por nos juntarmos à IWCA como membros candidatos, por acreditarmos que o rigor dos seus processos a pode colocar na liderança da resposta do sector mundial do vinho a esta ameaça. Encorajamos outros produtores a juntar-se a nós na introdução de compromissos públicos concretos, com metas mensuráveis, para responder ao desafio da crise climática. Não temos tempo a perder”.
O Melhor do Alentejo: 57 tintos apaixonantes

Provar mais de meia centena de tintos alentejanos de topo é depararmo-nos com um conjunto de vinhos de grande categoria, espelhando conceitos e perfis muito distintos. Entre estilos mais “clássicos” e outros mais “modernos”, o Alentejo é todo um mundo onde a qualidade é o denominador comum. TEXTO Mariana Lopes […]
Provar mais de meia centena de tintos alentejanos de topo é depararmo-nos com um conjunto de vinhos de grande categoria, espelhando conceitos e perfis muito distintos. Entre estilos mais “clássicos” e outros mais “modernos”, o Alentejo é todo um mundo onde a qualidade é o denominador comum.
TEXTO Mariana Lopes FOTOS Mário Cerdeira
O Alentejo tem muitas faces. É como se fosse um prisma que refracta a luz, originando várias cores. A sua multiplicidade de solos, castas, climas e até de conceitos, tornam-no numa região muito rica, apaixonante, diversa, e que transpõe tudo isso para os seus vinhos. Fazer uma prova como esta, de quase 60 tintos do mesmo segmento, já não é um “gira o disco e toca o mesmo”, como seria há uma dezena de anos. São todos diferentes, mesmo que a identidade regional esteja quase sempre presente.
Há duas coisas muito interessantes numa Grande Prova, as curiosas conclusões a que se chega, por comparação, e as várias opiniões, por vezes completamente díspares, das pessoas com quem se fala, quer sejam enólogos ou administradores das empresas. E indagar sobre o que estes pensam sobre as tais conclusões, é ainda mais divertido. Mas vejamos o que se espremeu de tudo isto. Em primeiro lugar, o Alicante Bouschet tem cada vez mais domínio nos lotes, e até em estreme. Mas apesar de uma certa rusticidade habitual na casta, os vinhos que a comportam mostraram-se elegantes, com essa rusticidade bem domada. Pedro Baptista, enólogo da Fundação Eugénio de Almeida e criador de um dos três vinhos melhor classificados na prova, o Scala Coeli Alicante Bouschet, explica que esta casta “acaba por ser muito interessante e importante no Alentejo porque guarda muito bem a acidez, sobretudo na fase de maturação fenólica. Este Scala Coeli, por exemplo, já foi vindimado perto do início de Outubro”, e acrescenta que “por outro lado, esta personalidade de bosque que o Alicante tem, faz dele um vinho muito apelativo”. Quanto à domesticação da rusticidade, afirma que “tem que ver com o momento da vindima e com o saber esperar pelo ponto ideal dos taninos, e para isso é preciso sensibilidade. Além disto, com rigor controlado na produção e solos menos ricos, ele consegue dar a concentração que procuramos, mas também o equilíbrio correcto”.
Já Hamilton Reis, enólogo de Cortes de Cima e de outro dos vencedores da prova, o Cortes de Cima Reserva, concorda com a necessidade de ser controlado na vinha, de forma a produzir menos, mas tem outra convicção quanto à “meiguice” da casta: “O Alicante é uma casta tramada, não é simples como as pessoas dizem. Produz de forma desmesurada e, para ter a identidade que queremos dele, necessita de ter produções menores, entre 7 e 8 toneladas por hectare. Se o deixarmos à solta, pode chegar facilmente às 15”. Na adega, diz ser “um erro extraí-lo demais, porque fica com os tais taninos rústicos. Com maturações delicadas e bem pensadas, e vinificação com engaço, por exemplo, funciona muito bem. É preferível usar um pouco de engaço e acalmar nas maturações. Em vinhas novas, também é difícil obter equilíbrio, tem de ser de uma vinha com alguns anos, para se domesticar a ele próprio. O mesmo acontece com a Touriga Franca”, desenvolveu. Susana Esteban, autora do Procura Vinhas Velhas e também consultora no Monte da Raposinha (produtor do Furtiva Lagrima, que é um 100% Alicante Bouschet), tem uma teoria para esta “tendência”. “O Alicante sempre esteve muito presente nos topos de gama do Alentejo, a questão é que cada vez se fazem melhores vinhos, então há mais com Alicante”. E adiantou que “para o domar, utilizo madeira porque acho que precisa dela, mas com cuidado e, na vinificação, vou mantendo muita atenção à maceração, fazendo uma extracção adequada a cada ano”. Para Luís Patrão, enólogo da Herdade de Coelheiros desde 2016 (o Tapada de Coelheiros Garrafeira ficou no pódio desta prova), é tudo uma questão de identidade. “O Alentejo está a entrar numa nova era, à procura da sua identidade. Neste novo tempo, a identidade para o Alentejo será o Alicante Bouschet. Ele destaca-nos das outras regiões e, talvez por isso, seja essa a tendência”, afirmou. “No caso de Coelheiros, tínhamos muito pouco Alicante mas, agora que eu e esta equipa entrámos, passará a ser a dominante nos vinhos. Terá de ser domesticada através de uma boa viticultura, até de uma condução diferente na vinha. Um factor muito importante é o estágio de barrica e também o de garrafa. É uma casta relativamente neutra de aroma e ganha muito com o estágio em garrafa, onde os terciários começam a aparecer. É isso que a torna não especial”.
Fluxo de imigração
Se se nota bem a predominância de Alicante Bouschet, também é verdade que castas ditas mais recentes, ou menos tradicionais no Alentejo, desempenham um papel considerável nos lotes da região. A Touriga Nacional, por sua vez, é um bom exemplo disso. É aqui que surge a “velha-nova” questão: a sua presença desvirtua, ou não, o carácter alentejano? Afecta, ou não, a sua expressão? É certo e sabido que esta “top model”, como a apelidou Luís Lopes em editorial antigo, chama a atenção onde quer que esteja, polvilhando notas florais expressivas e por vezes cítricas no aroma dos vinhos, mas será que arrebata sempre tudo o que as outras castas conferem, matando assim um sentido de lugar? Luís Cabral de Almeida, enólogo da Herdade do Peso (Sogrape) e do vinho Essência do Peso, é seguro nas suas palavras: “Eu vou contra a opinião da maior parte dos meus colegas. A Touriga Nacional não é diferente do Cabernet no que toca a marcação, por exemplo. Mas claro, tem de ser utilizada com medida. A preocupação é engarrafar vinhos com carácter regional, obviamente, mas é possível tê-lo com essas castas. No nosso caso, estamos muito contentes com a Touriga Nacional. É de ciclo longo e permite-nos garantir acidez. Na nossa zona, confere um carácter arbustivo e não floral, sempre com elegância de taninos, dando prolongamento em boca. Hamilton Reis concorda, e reforça, dizendo que “no nosso Reserva nunca passei sem ela, embora variando na quantidade. Na sua vertente mais fresca, elegante e precisa, a Touriga Nacional entrega ao meu vinho finesse. Nunca deixamos transparecer a expressão da casta propriamente dita, apenas a sua elegância. A Syrah, por exemplo e também neste vinho, também costuma marcar bastante, mas nós não deixamos que comande. Apenas consentimos que o Aragonez comande. É o piloto aromático do vinho. Para mim, a Touriga Nacional não desvirtua, principalmente se usarmos uma que sabemos ser apropriada para um determinado lote, que nem todas são. Uso-a apenas como casamenteira, agregadora de lote”. Na óptica do produtor, Duarte Leal da Costa, da Ervideira, está convicto das vantagens da casta no Alentejo, atestando que “sou favorável a castas novas que já comprovaram melhorar os vinhos do Alentejo. Se for apenas para ter diferente, como o caso do Pinot Noir, não fazem falta nenhuma. Se a Touriga Nacional veio dar coisas boas aos lotes, como o Alvarinho também o fez, sou completamente a favor. Não é uma monocasta para o Alentejo, mas em lote, sim”. Usando do princípio do contraditório, temos Luís Patrão e Pedro Baptista. O primeiro, refere que a Touriga Nacional “afecta e retira um bocadinho de identidade. Ela domina, é assertiva no nariz. É importante no Alentejo para fazer vinhos de entrada, mais jovens, por exemplo. Mas para um público que procura diferenciação, não”, e acrescenta que “há quatro ou cinco anos, a Touriga estava em todos os lotes, caiu-se no exagero. Em sobrematuração, é tudo menos elegante, entra nas compotas. No Alentejo central, é difícil”. Pedro Baptista, na mesma linha de pensamento, retorque que “a Touriga Nacional talvez seja, das mais recentes, com que temos de ter mais cuidado na utilização nos lotes. É importante salvaguardarmos que as características mais importantes dos vinhos alentejanos estejam lá. No entanto, se houver um controle efectivo, e até institucional, sobre isso, tudo tem lugar”.
Moderno vs. Clássico
Esta questão das castas recentes e das antigas, leva imediatamente a outra. São bem evidentes dois estilos base nos vinhos do Alentejo, um mais moderno, assente na pureza de fruta, onde a Touriga Nacional (e a Syrah) muitas vezes tem um papel, e outro mais clássico, no qual predominam notas balsâmicas, resinas, vegetal seco, especiarias. Seria de esperar que os produtores e os enólogos se identificassem mais com um ou com outro, mas isso acontece com poucos. Hamilton Reis e Duarte Leal da Costa são os únicos com uma preferência clara. “O estilo clássico é o que me diz mais, mas na Cortes de cima faço os dois e no mesmo segmento, dos topos de gama. O Reserva é mais clássico e o Incógnito mais moderno”, diz Hamilton. Duarte Leal da Costa é mais radical: “O nosso estilo é mais o da elegância. O problema dos clássicos poderosos é que ao primeiro copo dizemos ‘uau!’ e ao terceiro estamos enjoados”. Uffa, esta foi forte. Mas ninguém podia ter feito da Ervideira o que ela é hoje sem esta franqueza e pragmatismo. Pedro Baptista fala do caso da Fundação Eugénio de Almeida, e expõe que “sendo o Cartuxa que define a casa, será o estilo mais clássico a prevalecer. Mas quando falamos do Scala Coeli, que tentamos que seja símbolo de vitalidade e de outras interpretações da uva, depende da casta que escolhemos em cada ano. Gosto dos dois estilos porque é uma questão de enquadramento. A minha base, e onde me sinto melhor, é a trabalhar a pureza da fruta e o que ela nos dá”. Luís Patrão também toca nos dois estilos, fazendo essa diferenciação entre gamas. “Acho que há espaço para os dois e gosto dos dois”, declara.
A importância do equilíbrio
Praticamente todos os vinhos da prova têm um grau alcoólico de elevado a bastante elevado. Muitos com 14,5%, alguns com 15% e até dois com 16%. Mas o que é surpreendente é a frescura transversal a todos estes tintos, mesmo com evidentes maturações. Para Susana Esteban, é o factor “serra” que lhe dá o equilíbrio. “No meu caso, é o terroir, a serra de São Mamede, e isso foi o que me cativou nela. São solos de granito, o que também contribui em muito para a frescura deste Procura Vinhas Velhas”, explicou. Luis Cabral de Almeida toca num ponto em que todos estão de acordo, a viticultura: “Cada vez temos melhor viticultura. O grande desafio do Alentejo é mostrar que se fazem vinhos de alto nível e de grande equilíbrio, e isso está a conseguir-se agora. O negócio de vinho barato no Alentejo está a desaparecer, porque já todos percebemos que temos de trabalhar muito perto da vinha e vindimar na altura certa, sobretudo. Antigamente, nesta região, estava tudo vendido à partida, não se pensava como agora. Hoje, os produtores e enólogos têm de se virar para dentro da vinha, perceber o que lá há e o que é preciso fazer para produzir vinhos mais caros, e isso são vinhos que têm obrigatoriamente de ter grande equilíbrio. No Alentejo, dois dias de atraso na colheita podem significar um desequilíbrio total”. Pedro Baptista fala de exposição solar e da sua experiência no biológico (a FEA tem 160 hectares em produção bio, 35 dos quais certificados), defendendo que “o álcool no Alentejo é sempre um assunto presente. Fazer vinhos que atinjam um grau de maturação completo sem álcool elevado é muito difícil. Mas a questão aqui é o equilíbrio ácido. Por exemplo, neste Alicante do Scala Coeli (talhão bio) há uma exposição Norte que o protege do excesso de calor, e isso conta muito. Se tivermos condições de solo, exposição, castas, e um bom equilíbrio entre a área foliar e a quantidade de fruta, está aqui a resposta. E outro factor: pela minha experiência de 12 anos no biológico, já constatei que a percepção de acidez é muito diferente nesse modo de produção. A percepção de acidez e frescura é mais directa, mais óbvia, mais limpa”. Hamilton Reis, por sua vez, desmistifica o conceito de frescura, e afirma que “tem a ver com os taninos, se forem bem trabalhados, dão frescura ao vinho. As pessoas muitas vezes confundem tanino com acidez do vinho. Os taninos bem casados entregam muita frescura e reactividade de boca. Daí o engaço ser tão interessante para o Alicante. Engaço bem maduro, claro”. A fugir da tendência, e como não poderia deixar de ser, está o Conde d’Evideira Private Selection, com apenas 13%. Na prova, ficou ao lado de grandes vinhos com álcool bem mais elevado. A isso, Duarte Leal da Costa responde que “apenas é preciso saber trabalhar. Na Ervideira, em finais de Julho, começamos a fazer o gráfico de evolução da maturação das uvas. Temos capacidade de vindima e de vinificação, então podemos controlar tudo, e quando entendemos que as uvas estão no ponto ideal de maturação, ordenamos a colheita ao campo. Não é o que o campo manda, mas o que a adega manda por análise do que se passa no campo”.
Além do factor “F”, de frescura, temos o factor “M”. Nestes topos de gama, é cada vez mais reduzida a percepção de madeira, isto é notável, principalmente se tivermos em conta o segmento de preço e que praticamente todos a têm. Luís Patrão justifica: “O Alentejo, nesta nova fase, percebeu que o exagero não era o caminho. A procura é cada vez mais pelo que vem da vinha, com discrição no uso da madeira. Todos os meus vinhos passam por madeira, em todas as regiões em que trabalho, mas esta nunca se sente. Hoje, a aposta de Coelheiros é nos foudres. Quando tive de renovar o parque de barricas desta casa, foi a melhor forma que encontrei, os formatos grandes, fazendo também estágios longos”. Hamilton Reis fala de um “shift” na maneira de operar das tanoarias e algo que muitas vezes é esquecido: a higiene. “Essa tem sido a evolução do paradigma dos vinhos, até a nível nacional. A madeira é cada vez mais para entregar complexidade, profundidade e reactividade. Consegue-se com menos carvalho novo, muito menos americano do que no passado e tempos de contacto com as barricas muito menores. Existem tanoarias, bosques e tostas cada vez mais adequados aos dias de hoje. Temperaturas também muito mais controladas e baixas, o que dá muito menos impacto aromático de barrica. Todos nós temos vindo a baixar a percentagem de madeira e também a higienizar muito mais as madeiras”, expõe. Luís Cabral de Almeida passou a utilizar tonéis, e apenas utiliza barricas para o Syrah, porque “os 3000 litros não estragam o sentido de origem, mas dão estrutura. O tonel respeita o que queremos engarrafar, os taninos e a acidez da uva, e não interfere, apenas ajuda a amadurecer. O Essência do Peso é o primeiro a ser lançado estagiado nos tonéis (a parte do Alicante Bouschet)”. Pedro Baptista reforça a importância das tostas, “estamos a trabalhar com tostas longas, ditas borgonhesas, mais suaves. Por vezes, fazemos alguma bâtonnage nos tintos, o que também permite essa melhor integração. Há um respeito pelo vinho muito grande”.
Todos os enólogos e produtores têm um input útil e relevante a dar, sobre todas estas matérias e mais algumas. Pudesse-se entrevistar todos os da região, ficaríamos completos, retirando o melhor de cada contribuição. Quase como uma geringonça do vinho, em bom. Talvez um dia.
O Alentejo é o perfeito exemplo da dispersão cromática, um autêntico arco-íris na sua diversidade e qualidade. Estes 57 tintos topos de gama são a prova disso. Infeliz aquele que pensar o contrário.
Nota: A disposição dos vinhos encontra-se aleatória.
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Torre do Frade
Tinto - 2008 -
Rosa Santos Família
Tinto - 2015 -
Poliphonia
Tinto - 2015 -
Monsaraz Gold Edition
Tinto - 2017 -
Mingorra
Tinto - 2015 -
Herdade Perdigão
Tinto - 2016 -
Herdade da Rocha
Tinto - 2015 -
AR
Tinto - 2016 -
Aldeias de Juromenha
Tinto - 2015 -
Quinta da Fonte Souto
Tinto - 2017 -
Quetzal
Tinto - 2015 -
Paulo Laureano Vinhas Velhas
Tinto - 2016 -
Nunes Barata
Tinto - 2013 -
Monte do Pintor
Tinto - 2017 -
Monte da Contenda
Tinto - 2017 -
Monte Cascas
Tinto - 2015 -
Inevitável
Tinto - 2017 -
Herdade Paço do Conde Winemakers Selection
Tinto - 2016 -
Herdade do Moinho Branco
Tinto - 2015 -
Herdade Grande
Tinto - 2015 -
Herdade da Calada Baron de B
Tinto - 2014 -
Herdade das Servas
Tinto - 2015 -
Freixo Family Collection
Tinto - 2015 -
Comenda Grande
Tinto - 2014 -
Bombeira do Guadiana
Tinto - 2016 -
Blog
Tinto - 2016 -
Adega de Borba
Tinto - 2015 -
Tapada do Chaves
Tinto - 2014 -
T Quinta da Terrugem
Tinto - 2014 -
Herdade do Rocim Clay Aged
Tinto - 2017 -
Ravasqueira Premium
Tinto - 2014 -
Perescuma nº1
Tinto - 2015 -
Morais Rocha
Tinto - 2013 -
Malhadinha
Tinto - 2015 -
Herdade dos Grous
Tinto - 2016 -
Herdade do Sobroso
Tinto - 2017 -
Herdade de São Miguel The Friends Collection
Tinto - 2015 -
Essência do Peso
Tinto - 2017 -
Esporão Vinha do Badeco
Tinto - 2014 -
Conde d’Evideira Private Selection
Tinto - 2017 -
Comendador Leonel Cameirinha
Tinto - 2015 -
Bojador
Tinto - 2015 -
Alyantiju
Tinto - 2017 -
Adega Mayor Reserva do Comendador
Tinto - 2015 -
Zambujeiro
Tinto - 2015 -
Procura Vinhas Velhas
Tinto - 2015 -
Preta Cuvée David Booth
Tinto - 2015 -
Marquês de Borba
Tinto - 2015 -
Marmelar
Tinto - 2014 -
J de José de Sousa
Tinto - 2015 -
Gloria Reynolds
Tinto - 2009 -
Furtiva Lagrima
Tinto - 2015 -
Dona Maria
Tinto - 2014 -
Tapada de Coelheiros
Tinto - 2012 -
Scala Coeli
Tinto - 2016 -
Cortes de Cima
Tinto - 2014 -
Quinta do Paral Vinhas Velhas
Branco - 2017
Edição n.º32, Dezembro 2019
Vinhos do Alentejo aumentaram 3,8% nas vendas em 2019

De acordo com dados da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), a região do Alentejo colocou no mercado um volume correspondente a 117,4 milhões de garrafas de vinho certificado DOC Alentejo e Regional Alentejano, um aumento de 3,8% face a 2018. O volume total foi de 88,2 milhões de litros, entre vinho tinto, branco e rosé. […]
De acordo com dados da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), a região do Alentejo colocou no mercado um volume correspondente a 117,4 milhões de garrafas de vinho certificado DOC Alentejo e Regional Alentejano, um aumento de 3,8% face a 2018. O volume total foi de 88,2 milhões de litros, entre vinho tinto, branco e rosé.
As vendas incluíram 70% de vinhos da colheita 2018, 21% da colheita 2017, 5% da colheita 2016 e 4% de colheitas anteriores, com os meses de fevereiro, abril e maio a terem maior actividade comercializadora com quantidades médias de 12,5 milhões de garrafas por mês. As vendas de vinho branco e rosé em 2019 foram as mais elevadas dos últimos cinco anos e representaram, respectivamente, 21% e 2% do total, numa quantidade de 24,7 milhões de garrafas nos brancos e 2,2 milhões de garrafas nos rosés. Os vinhos tintos, que foram 77% do total, chegaram a 90,5 milhões de garrafas, menos 7 milhões do que a média dos cinco anos entre 2014-2018. O vinho Regional Alentejano representou 78% da comercialização e o DOC Alentejo 22%, tendo o DOC registado crescimentos mais significativos nos vinhos originários das sub-regiões de Portalegre (+38%) e da Granja-Amareleja (+17%).
Para Francisco Mateus, presidente da CVRA, “Estes resultados revelam que a região está dinâmica e que as produções em cada ano influenciam o potencial comercial dos produtores, dado que a vindima de 2018 teve mais produção o que possibilitou mais vendas em 2019, situação que não se tinha verificado nos três anos anteriores”. Sobre o crescimento dos vinhos brancos e rosés, o presidente da CVRA adianta que “É uma evidência que o Alentejo está a afirmar-se nestas categorias e a conseguir cativar os consumidores, uma tendência que observamos desde há alguns anos com a importância de brancos e rosés a aumentar ano após ano desde 2014”.
Dia dos Namorados: “Experiência na Adega” da Casa Relvas

Com mais um Dia dos Namorados a chegar, a Casa Relvas tem uma sugestão de enoturismo para passar este dia da melhor maneira. Para os maiores apreciadores ou para os mais curiosos do mundo vitivinícola, o produtor de vinhos alentejano apresenta uma proposta original e sugere a “Experiência na Adega”, um voucher disponível em duas […]
Com mais um Dia dos Namorados a chegar, a Casa Relvas tem uma sugestão de enoturismo para passar este dia da melhor maneira.
Para os maiores apreciadores ou para os mais curiosos do mundo vitivinícola, o produtor de vinhos alentejano apresenta uma proposta original e sugere a “Experiência na Adega”, um voucher disponível em duas opções:
• Prova de Castas Portuguesas & Tapas, que inclui visita à adega, prova de castas portuguesas e tapas para duas pessoas – €50
• Almoço na Adega, que inclui visita à adega, prova de vinhos Herdade de São Miguel e almoço, para duas pessoas – €80
Estes vouchers estão disponíveis para compra através do email enoturismo@casarelvas.pt, ou do telefone +351 917 295 358, até dia 14 de Fevereiro de 2020, e com validade até 1 de Dezembro de 2020.