Porto em Lisboa

As duas maiores cidades portuguesas são, cada vez mais, destinos turísticos universais. Lisboa e Porto estão no topo das preferências dos turistas que nos visitam e, entre os seus muitos argumentos de sedução, a comida e o vinho assumem protagonismo. Mas há uma grande diferença: o Vinho do Porto. Nas margens do Douro, ele é […]
As duas maiores cidades portuguesas são, cada vez mais, destinos turísticos universais. Lisboa e Porto estão no topo das preferências dos turistas que nos visitam e, entre os seus muitos argumentos de sedução, a comida e o vinho assumem protagonismo. Mas há uma grande diferença: o Vinho do Porto. Nas margens do Douro, ele é rei. E na capital? Fomos saber onde, e como, se homenageia o mais conhecido dos vinhos lusitanos por terras de Lisboa.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez
O Vinho do Porto é um dos produtos portugueses mais conhecidos e apreciados no mundo. Não será, até, exagero se dissermos que é “o” produto português, aquele que mais rapidamente se associa à imagem do país lá fora. Sim, há Cristiano Ronaldo e o futebol. E quase nove séculos de história que ajudaram a moldar o mundo como o conhecemos. E o mar, mais as praias de areia e as falésias que o emolduram. Mas o Vinho do Porto apresenta Portugal em todo o planeta. Em grande estilo.
Para quem nos visita, claro, é experiência quase obrigatória conhecer melhor esses néctares que os homens arrancam a uma Natureza austera e implacável. Muitos decidem-se mesmo por explorar o vale do Douro, em busca das raízes profundas do Vinho do Porto. Para os outros, tantos outros, esta “viagem” faz-se de copo na mão, provando e aprendendo com quem sabe abrir as portas desse fascinante mundo.
E há tanto para descobrir. Branco, Ruby e Tawny são os três tipos de Porto e dentro de cada uma dessas categorias há muito por onde escolher. Brancos datados, mais doces ou mais secos, as novas tendências de cocktails, como o Porto tónico. Ruby, Reserva, LBV ou Vintage. Tawny Reserva, Colheita ou com indicação de idade. O Porto é toda uma paleta de cores e sabores à espera de espíritos curiosos que a queiram explorar.
O Grande Porto, claro, é o epicentro desta actividade. As caves de Gaia e as margens do Douro são um incontornável pólo de atracção turística da região. Centenas de milhares de pessoas visitam anualmente as instalações das grandes empresas do sector – e muitas mais serão, certamente, num futuro próximo, com a anunciada aposta, por parte da Fladgate, num grande parque temático do sector, o World of Wine, cuja abertura já foi anunciada para o Verão de 2020.
Então e Lisboa? O que pode oferecer a capital a quem a visita e quer saber mais sobre o grande vinho português? À primeira vista, as notícias pareciam não ser boas: o Solar do Vinho do Porto, que durante anos foi o grande “embaixador” do néctar do Douro, encontra-se encerrado para obras, pelo menos até 2020… Das principais empresas do sector, apenas a Sogrape, com a Sandeman, tinha investido no mercado lisboeta, mas também foi sol de pouca dura. E então surgiu a informação de que a Taylor’s ia abrir um espaço próprio na capital.
O anúncio deste investimento espicaçou-nos a curiosidade: será que o Porto está bem representado em Lisboa? À falta de espaços institucionais, poderiam os wine bars que vão surgindo um pouco por toda a cidade assumir a passagem de testemunho? Fomos à procura de respostas. E regressámos com uma certeza: quem visita a capital tem muitas, e boas, propostas para mergulhar no universo Porto. Vamos conhecer algumas.
Dos espaços que visitámos, este é o mais recente: abriu a 9 de Maio, ali perto do Campo das Cebolas, uma zona cada vez mais turística por força da proximidade com a Praça do Comércio e a colina de Alfama, junto ao novo terminal de cruzeiros. Mesmo ao lado do Chafariz D’El Rei, o edifício da Taylor’s está classificado e isso, se acrescenta ao seu charme, também entrava os planos da empresa para dar mais visibilidade exterior ao seu espaço. Mas adiante, que lá dentro é que se está bem.
No piso térreo, a loja tem um pouco de tudo. Os vinhos, naturalmente, são o prato-forte, mas também encontra¬mos chocolates ou azeite, merchandising da marca (desde t-shirts e bonés até aos puzzles ou chapéus de chuva), bolsas, postais ilustrados, canecas, copos, velas de cera, enfeites de Natal, decanters… Até há meias. E modelos de garrafas para construir em Lego.
Subindo as escadas, entramos na zona de provas. São três salas, de paredes claras e despidas, tirando os cartazes com “cartoons” humorísticos relacionados com a marca, fotos antigas da faina vinhateira, um grande espelho de moldura dourada e o ecrã onde passa um vídeo que nos fala do vale do Douro e da insana teimosia dos homens que ali esculpiram uma paisagem de ficção científica em nome do vinho.
Mesas e bancos de madeira (há 100 lugares disponíveis) espalham-se pelas divisões bem iluminadas, o Tejo entrando pelas janelas, onde há também balcões e assentos que nos fazem pensar de imediato nas célebres namoradeiras. Algumas paredes conservam à vista as pedras originais e notam-se os sinais das arcadas antigas que sustentam o edifício.
A clientela faz-se maioritariamente de turistas estrangeiros, mas, garantem, nota-se uma cada vez maior curiosidade dos portugueses pelo Vinho do Porto, atraídos também pela possibilidade de saborear a copo vinhos cujos preços, à garrafa, estão normalmente fora das possibilidades do cidadão comum, como alguns Vintage e Tawnies velhos – os primeiros são mesmo os mais populares. “São vinhos de que as pessoas ouvem falar, mas não conhecem”, assume Anne Marie Faustino, directora do Centro de Visitas Taylor’s.
Mas a Taylor’s promete não ficar por aqui. Um edifício contíguo foi adquirido pela empresa para aí montar um centro de visitas. O cenário não podia ser mais adequado para emular a atmosfera das caves de Gaia: paredes em pedra, vestígios arqueológicos, abóbadas em tijolo… As obras já começaram.
Aberto todos os dias, das 11h às 19h30.
Não é necessário fazer reserva. Há 15 vinhos disponíveis a copo
(a partir de 5 euros) e uma prova de cinco Porto, entre os quais alguns ícones da casa (40 euros).
RUA CAIS DE SANTARÉM, Nº8, LISBOA
TEL: 218 863 105
MAIL: lisbon@taylor.pt
Há um ano, completo neste mês de Julho, que Lisboa se juntou às cidades do Porto e Paris no universo Portologia. Julien dos Santos, lusodescendente, é o homem por trás deste projecto e é também o dono da Hermitage – no espaço lisboeta, os Vinhos do Porto de entrada de gama são todos desta empresa, abrindo espaço nas categorias superiores para outros produtores, todos pequenos e independentes.
Situada na Baixa, a loja/sala de provas tem 30 lugares disponíveis e a clientela, assume com algum humor Gustavo Luís, o responsável pelo espaço, será “97 por cento estrangeira”. Quem entra pode fazer provas de Vinho do Porto (o cardápio é vasto, desde as provas mais básicas a outras verticais e temáticas – o folheto fala mesmo de “degustações comentadas, de 3 a 30 copos”), adquirir garrafas do generoso e de vinhos tranquilos, mas também queijos, enchidos, compotas, conservas, azeite.
Na parede, uma grande foto do vale do Douro capta de imediato o olhar, que depois se espraia pelas estantes com garrafas, pelas barricas, caixas e mesas de madeira. A de¬coração inclui ainda algumas alfaias agrícolas, decanters, rolhas. O espaço não é grande e acaba por ser dominado pelo balcão frigorífico à direita de quem entra, mas torna¬-se acolhedor e intimista. Bem à medida de um copo ao fim da tarde… “Pela hora do almoço temos algum movi¬mento, mas o período mais intenso é entre as 17h e as 20h”, confirma Gustavo Luís.
A vontade de descobrir o universo Porto é o sentimento mais comum entre os visitantes que optam por fazer provas. E, por isso, não surpreende que a mais popular seja a que junta seis tipos de Porto diferentes, uma degustação comentada que entreabre a porta para as variações deste vinho tão multifacetado. Mas também há experiências dedicadas a quem quer ir mais longe: Novos vs Velhos; Brancos Secos ou Brancos Velhos são alguns exemplos.
O conceito Portologia parece estar de pedra e cal e, se é ainda cedo para falar de localizações específicas, Gustavo Luís assume que existe a intenção de alargar o leque de espaços. Por agora, são três. Com muito vinho para provar e comprar. Um casal francês entra e prepara-se para descobrir mais sobre o Vinho do Porto; dois jovens, também estrangeiros, pesquisam nas prateleiras um vinho diferente para levar. Lá fora, já se fez noite. E os copos continuam a encher-se de magia.
Aberto todos os dias, das 11h às 24h.
Há mais de 200 vinhos disponíveis para prova e um leque
muito alargado de provas de Vinho do Porto.
RUA DE SÃO JULIÃO, Nº 36, LISBOA
TEL: 210 179 313
E-MAIL: lisboa@portologia.pt
Cláudia (ou Alexandra; ela usa os dois nomes) e Adriana eram jornalistas, mas sentiam-se saturadas da profissão. E ambas gostavam de vinho e gastronomia. Deste ponto de encontro nasceu a ideia de começarem a fazer provas de comida e vinhos portugueses. Ao princípio, em sítios que iam variando; depois, assentaram no seu próprio espaço. A 7 de Dezembro de 2015, nascia a Lisbon Winery. “Tem sido uma aventura”, resume Cláudia.
Fica no Bairro Alto e o Vinho do Porto sempre foi uma opção assumida das duas anfitriãs. “Havia muita gente que dizia que não gostava e quisemos provar que o Porto tinha muito para descobrir. As pessoas ficam agradavelmente surpreendidas, porque bebem coisas bem diferentes do que conheciam”, explica Adriana. A filosofia da casa é servir apenas vinhos de qualidade feitos por peque¬nos produtores. Isso e apostar continuamente em abrir horizontes. “Estamos sempre a renovar a carta”, garantem.
O espaço, com pouco mais de 30 lugares sentados, é informal e descontraído. A parede onde uma ilustração de um cacho de uvas está rodeada de nomes de castas portuguesas (120, no total) chama a atenção à entrada, mas o grande ex-libris está lá ao fundo: uma imponente cisterna do século XVI, classificada, que se estende desde o tecto até abaixo do nível do piso – um pavimento em vidro alinha pelo chão do espaço circundante, possibilitando o experiência de passear por ali desafiando as vertigens.
Quase metade das provas solicitadas – com predomínio evidente de estrangeiros – são de Porto. E não se trata de uma prova qualquer: a prova premium de Vinho do Porto inclui um branco seco, um branco datado, dois Tawnies e um Ruby; mais seis variedades de queijos artesanais, outras tantas de enchidos de porco preto, presunto Pata Negra e compotas tradicionais. Os vinhos são sempre de marcas menos conhecidas – a Messias e a Dalva serão as relativas excepções a esta regra, mas, no caso da segunda, neste momento apenas com um vinho: o extraordinário branco Golden Light, de 1963.
Sinal dos tempos, Cláudia e Adriana assumem elas próprias a condução das provas, face à dificuldade de encontrar pessoal especializado que lhes garanta esse serviço… Não ficam os clientes a perder, por certo. Afinal, e apesar de na maior parte dos casos já serem os produtores a pro¬curá-las para colocarem os seus vinhos, são elas que provam e seleccionam todas as referências que são servidas aqui. Sempre com aquele prazer secreto de descobrir um olhar de espanto em quem leva o copo à boca.
Aberto de terça a sábado, das 15h às 23h.
Há provas diárias às 15h30 e às 17h30 que requerem marcação. Mas pode-se sempre solicitar uma prova à entrada. A Prova Premium de Vinho do Porto custa 65 euros por pessoa.
RUA DA BARROCA, Nº13, LISBOA
TEL: 218 260 132 | 919 292 151 | 914 310 744
E-MAIL: alex@lisbonwinery.com | adriana@lisbonwinery.com
Edição Nº27, Julho 2019
Ali bem perto, também no Bairro Alto, fica o “veterano” dos espaços visitados pela nossa reportagem: o Grapes & Bites abriu portas (e garrafas) em Setembro de 2010. É um espaço de referência no panorama nacional e a sua atenção específica ao Vinho do Porto fica desde logo bem patente na decoração da casa, com pipas a servirem de mesas, garrafas por todo o lado e um armário fechado onde repousam algumas relíquias.
Aproximemo-nos. Estão aqui, ou espalhadas por outras prateleiras e no balcão, ícones como o Scion, da Taylor’s; o Ne Oublie, da Graham’s; Burmester de 1937; Kopke do mesmo ano; Real Companhia Velha 1938; Noval Nacional 2004… Os preços de algumas destas garrafas ascendem aos quatro dígitos – isso mesmo, milhares de euros. Serão algumas das excepções mencionadas pelos responsáveis da casa quando garantem que “quase todos os vinhos podem ser pedidos a copo, excepto alguns casos especiais”. Mas há duas dezenas de referências de Porto na carta, a que se junta uma escolha de vintages e colheitas mais abrangente. E, já agora, o Porto “da casa”, o Branco Grapes & Bites by Andresen.
Também aqui os estrangeiros estão em maioria, apesar de se “notar evolução no interesse dos portugueses pelo Vinho do Porto”, assume Sílvia Mendes, uma das proprietárias. A procura crescente de refeições para grupos no Grapes & Bites, que integra um hostel nos andares superiores, levou à alteração do menu e à configuração do espaço, que se assemelha mais a um restaurante. Mas o forte continua a ser o vinho, com centenas de referências à prova.
O ambiente da sala oscila entre a linha mais moderna das mesas e cadeiras e o toque arcaico das arcadas e pilares que sustentam o tecto. Pelas paredes alinham-se expositores cheios de garrafas, que também se encontram no interior das quatro pipas transformadas em mesas e por cima do balcão, ao fundo da sala. Por aqui organizam-se provas comentadas, almoços vínicos (um por mês), toca-se regularmente música ao vivo.
Há pouco mais de dois anos, surgiu a oportunidade de complementar o Grapes & Bites com mais um espaço. Nasceu assim, no Cais do Sodré (Rua de S. Paulo), The Wine Cellar, um estabelecimento mais pequeno e intimista, com clientela mais diurna e mais portuguesa. A grande superfície vidrada chama a atenção de quem passa e a oferta, sendo menos exuberante do que a da casa-mãe, também pode rapidamente beneficiar da proximidade física dos dois espaços. Em cinco minutos, qualquer garrafa “faz a viagem” a pé…
Aberto todos os dias, das 14h às 2h. Centenas de referências à prova, a maioria das quais com serviço a copo.
RUA DO NORTE, Nº81, LISBOA
TEL: 919 361 171
E-MAIL: info@grapesandbites.com
Às compras nas avenidas novas de Lisboa

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Chama-se Néctar das Avenidas e, apesar da relativa juventude, é uma loja que tem mostrado saber singrar num mercado cada vez mais difícil. Até porque está afastada dos principais circuitos turísticos da cidade. As suas valências são […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Chama-se Néctar das Avenidas e, apesar da relativa juventude, é uma loja que tem mostrado saber singrar num mercado cada vez mais difícil. Até porque está afastada dos principais circuitos turísticos da cidade.
As suas valências são outras…
TEXTO António Falcão
FOTOS Ricardo Gomez
Néctar das Avenidas pode não ser um nome muito sugestivo e mais do que um poderia mesmo considerá-lo algo kitsch. Mas, na verdade, nomes são nomes e este vem do facto de se situar em plena zona lisboeta das Avenidas Novas. Seriam novas na altura, quando Lisboa se estava a espraiar para lá do Marquês de Pombal, provavelmente há muitas, muitas, décadas atrás.
Quando conheci a garrafeira, não há muitos anos, era uma pequena loja, com um espaço exíguo para o consumidor. Hoje a Néctar das Avenidas está a umas escassas centenas de metros dali, mas o espaço é bem maior e muito melhor iluminado. Quem nos recebe é Sara Quintela, a gestora, tarefa que compartilha com o pai, João Quintela.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]PAI E FILHA NAS PROVAS
O gosto pelo vinho começou exactamente com o pai, quando ambos, ainda Sara era jovem, iam com frequência a provas de vinhos em garrafeiras e a diversos tipos de eventos, incluindo jantares vínicos. “O bichinho foi entrando”, diz-nos Sara. Entretanto, tirou o curso de hotelaria e aproveitou para ampliar os conhecimentos sobre vinho. Já formada, acabou a trabalhar numa empresa de aluguer de automóveis, mas, verdade seja dita, não era propriamente o seu sonho.
Em 2011, o pai decide criar a sua própria loja de vinhos e não tardou muito a desafiar a filha para se juntar a ele. Isto ocorreu em 2013 e Sara ficou radiante com a mudança. “Se tenho um negócio meu, porquê estar a trabalhar para outros?”, pensou Sara. E decidiu entregar-se “de alma e coração”. O pai continua a lá estar diariamente, ou quase, e os dois revezam-se no atendimento aos clientes.
Sempre que possível, são os dois a escolher os vinhos que têm em exposição, mas nem sempre é possível. “Às vezes os lançamentos de novos vinhos surgem durante a hora de expediente e um de nós tem que cá estar”, declara Sara. Com dois filhos, os fins-de-semana estão também complicados para ela. Menos mal que muitos vinhos são provados na própria loja, trazidos pêlos próprios produtores e/ ou distribuidores.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40579″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Parece que pai e filha têm gostos muito idênticos e costumam estar de acordo nos vinhos, mas a concórdia nem sempre se estende aos vinhos tintos mais antigos, especialmente se exibem muitos sabores terciários, como couros ou notas animais: “o meu pai gosta mais desses vinhos do que eu. Não sou muito fã de vinhos que relincham”, diz Sara com uma gargalhada. Mas, curiosamente, ambos são fervorosos adeptos dos bons brancos com idade.
Por isso não espanta que a Néctar das Avenidas tenha um bom stock de vinhos velhos: “apostamos muito em vinhos antigos, mas temos muito cuidado com o que compramos. Temos que saber onde é que os vinhos estiveram armazenados ao longo dos anos”, declara Sara. E por isso evitam os leilões.
Num dos seus cantos, a loja possui um espaço próprio, quase museu, que engloba um notável conjunto de vinhos velhos. Não estão, contudo, à venda, fazendo parte da garrafeira particular do pai de Sara: “algumas garrafas são primeiras edições, outras estão assinadas pelo produtor ou enólogo”.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]UMA CASA COM MUITAS ACTIVIDADES
Nem só do comércio de vinhos vive a Néctar das Avenidas. Existe muita actividade nesta loja e uma delas ocorre duas vezes por mês: jantares vínicos com produtores. Os restaurantes vão mudando, os produtores também.
O maior evento, contudo, já tem um invejável número de adeptos e ocorre num hotel quase vizinho à Néctar das Avenidas. Como os Quintela são grandes adeptos dos vinhos do centro de Portugal, especialmente Dão e Bairrada, pensaram em fazer um evento com produtores dessas regiões. Afinal, no primeiro ano, 2014, o evento foi apenas com o Dão e teve a co-organização da Comissão Vitivinícola Regional do Dão. Mas foi logo um sucesso. No segundo ano pai e filha decidiram fazer o evento ‘a solo’ e juntaram-lhe a Bairrada. Neste evento entram entre 30 a 40 produtores, desde os mais pequenos a casas de maior tamanho. “Queremos que as pessoas percebam que Dão e Bairrada também existem, não é só Douro e Alentejo”, diz-nos Sara. A gestora elogia o enorme potencial destas regiões e a longevidade dos seus vinhos. E desmistifica a ideia de ainda passa na cabeça de muitos enófilos, de que Dão e Bairrada fazem vinhos complicados, difíceis de beber, especialmente em novos. “O Dão já conseguiu ultrapassar um pouco esta ideia, mas a Bairrada ainda tem algum caminho para andar, especialmente nos tintos”, considera Sara. Que tem tentado converter alguns clientes, normalmente com sucesso, embora outros clientes se mostrem irredutíveis.
Curiosamente, ou não, as prateleiras têm muitos vinhos destas duas regiões. Alguns com 6, 7 ou mais anos de idade.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40580″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]MUITO ESPUMANTE, MAS POUCO CHAMPANHE
Mas Douro e Alentejo são as regiões que mais vendem. A seguir virá o Dão e, pasme-se, os espumantes. “Temos muita variedade e existem fantásticos espumantes nacionais a preços ópti¬mos; em contrapartida, quase não temos champanhes”, garante sara. Néctares estrangeiros, curiosamente, existem poucos: alguns vinhos, os gin’s do Tiago Cabaço, mas nenhum whisky, por exemplo. Destilados, quase só nacionais.
Outra força grande na casa são os produtos dos Açores, e não necessariamente os vinhos. Falamos de compotas, conservas, queijos, chás, bolos, etc. O Bolo Lêvedo vem todas as quintas-feiras. A ligação às ilhas vem das viagens que João fazia noutra vida profissional. Os produtos gourmet não acabam aqui: pode encontrar diversos enchidos de Ponte de Lima e queijos de várias proveniências. E não faltam também muitos acessórios, especialmente copos da Riedel.
Os licorosos não têm grande saída, incluindo o Vinho do Porto. Os clientes portugueses não compram muito e não são muitos os estrangeiros que passam por aqui, até porque a Néctar das Avenidas está um pouco afastada dos circuitos turísticos. Existe um bom conjunto de brasileiros, bons clientes, mas são fundamentalmente já moradores no bairro. Sara gosta muito deles: “sabem de vinho, têm gosto, mas discutem connosco e aceitam a nossa opinião”. Ainda nos licorosos, Sara tem especial¬mente pena do vinho da Madeira, de que é grande fã. E o pai também. “Para nós, é um néctar dos deuses”, graceja ela.
A garrafeira tem uma boa selecção de garrafas Magnum (1,5 litros), como nunca vimos em qualquer outra, com preços dos 13 até aos 240 euros. “Apostamos muito neste formato e vendemos bem”, garante Sara.
A loja tem também presença on-line. O site garrafeiranectardasavenidas.com está a cargo de Sara. Inclui uma loja on-line e funciona, mas pode não ter todo o portefólio, porque, na opinião de Sara, “não há tempo para tudo”.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][heading]AS ESCOLHAS DE SARA QUINTELA[/heading][image_with_animation image_url=”40554″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text css=”.vc_custom_1576515225678{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]
Porta dos Cavaleiros Dão Reserva
branco 1984 – €25
Eu, o meu pai e vários clientes partilhamos da mesma opinião: é um dos melhores brancos portugueses. É incrível a vivacidade que tem após 34 anos! Perfeito! E depois é das Caves S. João, uma casa que nos apoiou desde o início.
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Quinta das Bágeiras Bairrada Garrafeira
branco 2016 – €21
Situação parecida à anterior. O meu pai conhece o Mário Sérgio há muitos anos e gostamos muito dos vinhos dele. Este é ainda um bebé, mas tem excelente capacidade de evolução. Só tenho pena de não ter cá o 2004…
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Portal do Fidalgo Vinho Verde
Alvarinho branco 2011 – €11
Muita gente não sabe a capacidade de evolução do Alvarinho. Mas como os produtores os lançam novos… O produtor disponibilizou-nos edições antigas e esta é uma delas. Está muito, muito bom.
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Soalheiro Vinho Verde Alvarinho
Reserva branco 2017 – €23,50
Gostamos de Alvarinho e, em particular, de Soalheiro. Damo-nos muito bem com a família Cerdeira e com o resto da equipa. Este Reserva está muitíssimo bom, mas será melhor guardá-lo, para beber mais tarde
[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516342876{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]
Casa da Passarella O Fugitivo Dão
tinto 2014 – €45
(Em garrafa magnum). Temos também uma
excelente ligação com esta casa, com o Paulo
Nunes. O meu pai tem inclusive um projecto de
vinho com ele.
Escolhemos o Fugitivo porque é
uma vinho que sai um pouco da ‘caixa’, mas com
uma incrível elegância. Perfil raro, mas o ser
diferente aqui compensa.
[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516336406{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]
Pintas Douro tinto 2013 – €180
(Em garrafa magnum). Para nós é um dos
melhores vinhos portugueses e gostamos muito
da Sandra e do Jorge, dois seres humanos
fantásticos. E são grandes profissionais e
apaixonados pelo que fazem.
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HM Borges Madeira Malvazia
mais de 40 anos – €260
Não podia faltar um Madeira! Esta é uma das casas
que ainda consegue manter uma boa relação
preço/qualidade.
Fizemos vários eventos com eles.
Este ‘40 anos’ celebra também os 500 anos do
Funchal e…. está mesmo a acabar. E depois não há
palavras para o descrever…
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TEL. 215 874 994 | www.garrafeiranectardasavenidas.com
SEGUNDA A SEXTA: 11h às 20h / SÁBADO: 11 às 13:30 (em Julho e Agosto encerram Sábado)
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Edição Nº27, Julho 2019
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Ser Bio Lógico

Recentemente, em conversa com um viticólogo, este dizia-me, em tom alarmado, que as análises de solo de uma vinha biológica a que prestava consultoria técnica apontavam para uma quantidade de cobre 10 vezes superior ao máximo aconselhado. Literalmente, o solo estava, desde há muito, intoxicado com cobre. TEXTO João Afonso Para quem não está dentro […]
Recentemente, em conversa com um viticólogo, este dizia-me, em tom alarmado, que as análises de solo de uma vinha biológica a que prestava consultoria técnica apontavam para uma quantidade de cobre 10 vezes superior ao máximo aconselhado. Literalmente, o solo estava, desde há muito, intoxicado com cobre.
TEXTO João Afonso
Para quem não está dentro do assunto “tratamentos de vinha”, o cobre é um dos principais produtos usados em Modo de Produção Biológico (MPB) e, juntamente com o enxofre, forma a famosa calda bordalesa (bouille-bordelaise, descoberta por Alexis Millardet ainda no séc. XIX), a primeira mistela ou cura a ser descoberta para as doenças criptogâmicas do oídio e do míldio chegadas à Europa em meados do século XIX.
O cobre é um bactericida, algicida e fungicida com aptidão especial para combater o míldio, um fungo que tem algo de alga, já que necessita de água (e não humidade) para se desenvolver. Mas tal como o enxofre, não tem qualquer poder de penetração na planta, como o têm os químicos de síntese usados na actual viticultura convencional. Uma boa chuvada (mais de 10 l/m2) lava estes produtos arrastando-os para o solo ficando a planta desprotegida à espera de nova e urgente pulverização, em especial se o tempo húmido ou chuvoso se mantêm.
Em anos como o 2016 ou 2018, com primaveras extremamente chuvosas e húmidas, um viticultor Bio, consciencioso e previdente, poderá ter feito até 12 tratamentos preventivos, mas, se este viticultor conhecesse o impacto destes tratamentos na vida do solo da sua vinha, teria feito bastante menos. Mas, claro está, arriscava-se a perder parte ou a totalidade da produção ou teria de intercalar tratamentos preventivos com químicos sistémicos (que penetram na planta e são curativos) e perder assim a chancela de “Modo de Produção Biológico”.
Todos os tratamentos, biológicos, biodinâmicos ou convencionais são moléstia para as videiras. São intrusivos: para a defender, atacam-na também, além de acrescentarem compostos e componentes quase sempre indesejáveis ao mosto e vinho final. O ideal para o viticultor, e para os vinhos na generalidade, seria não haver qualquer necessidade de tratamento nas vinhas. Mas tal não é possível, pelo menos em anos de primavera húmida e chuvosa como 2016 ou 2018.
Com a crescente pressão ambiental criada pelo uso de químicos de síntese nos tratamentos fitossanitários da vinha e pela cada vez maior adesão do consumidor a produtos vindos de agricultura “Biológica” (*), tem havido uma lenta mas consistente transição da viticultura convencional, feita com base em químicos de síntese produzidos por multinacionais gigantescas como a Monsanto, Bayer ou Belchim, para uma viticultura dita Biológica com muito menos impacto ambiental com base nos tradicionais e, à partida inócuos, enxofre e cobre. Mas a verdade poderá ser um pouco diferente…
A ameaça cobre
Segundo o número de Abril 2019 da Revue des Vins de France, que transcrevemos aqui em parte, a França da vinha “Biológica” anda de candeias às avessas com a Comunidade Europeia que legislou a partir de 1 de Fevereiro de 2019 a permissão de utilização de um máximo de 4 Kg de cobre por hectare e por ano, com um total de 28 kg em 7 anos. Ou seja, pode usar mais cobre nuns anos do que noutros, mas em 7 anos não pode ultrapassar os 28 kg/hectare. A legislação anterior permitia os 6 kg hectare com um máximo de 30 kg em 5 anos.
Esta significativa redução (feita sem avisar ninguém), vem colocar algumas regiões limítrofes, como o Jura, fora da luta biológica contra fungos em anos como o de 2016 que exigem maior quantidade de cobre do que o agora permitido.
A guerra contra o tradicionalíssimo cobre assume proporções políticas e muitos “vignerons” chegam a acusar a EFSA (European Food Safety Authority) de estar mais pronta a proibir o cobre que o tristemente célebre e cancerígeno herbicida glifosato. Quando os viticultores Bio eram 3% dos vignerons franceses, o cobre nunca foi problema. Mas hoje que são 18% o cobre é um veneno a abater – sublinha Patrick Guiraud, presidente da Sudvinbio. E nos corredores de Bruxelas os lobbys da indústria fitossanitária não param de tentar mexer os cordelinhos para acabar com o cobre na vinha – esta é a acusação feita pela vanguarda Bio francesa. Todos teriam preferido uma redução para os 5 kg/ hectare, mas a legislação europeia foi mais castradora.
Longe vão os tempos, da primeira metade do século passado, em que os viticultores franceses chegavam aos 50 kg por hectare de cobre ao ano. Não fora o surgimento dos novos produtos de síntese e o uso e abuso do cobre poderia ter envenenado todos os solos vitícolas de França. No final dos anos 90 a União Europeia legislou e limitou o seu uso a 8 kg / hectare. Em 2006 baixou para os 6 kg e agora para os 4 kg.
Proteger ou envenenar?
Para termos uma ideia do que significam estes números, segundo o Manual de Fertilização das Culturas do nosso INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária), um terreno com valores muito baixos de cobre tem menos de 0,3 mg de cobre por Kg de solo. Com valores baixos, de 0,4 a 0,9 mg, médios de 0,9 a 7 mg, altos de 7,1 a 15 mg e muito altos acima de 15 mg por Kg de solo.
Em França, o organismo publico Groupement d’Interet Scientifique (GIS) SOL, analisou, entre 1998 e 2010, dezenas de milhares de amostra de solos das diversas regiões francesas e concluiu que os solos com mais cobre são os vitícolas e os solos da Bretanha (neste caso por causa do estrume usado na fertilização).
Dos solos vitícolas, os campeões do cobre são Bordéus e o Languedoc-Roussillon, com taxas para lá dos 322 mg/Kg (cerca de 20 vezes acima do máximo aconselhável!). Mas análises mais recentes nos solos da última região, feitas pelo INRA (Institut Nacional de la Recherche Agronomique) de Montpellier, encontraram mais de 1 000 mg/Kg de solo. Muito assustador!
Do cobre que entra no solo, 5 a 10% é absorvido pelos organismos que nele habitam (bactérias, animais, cogumelos, plantas). É o chamado cobre bio disponível. Se a proporção de mg de cobre por quilo de solo é desproporcionada e excessiva, o cobre torna-se tóxico para a vida que ele sustenta.
A natureza do solo também é crucial para a toxicidade do cobre: solos calcários e argilosos têm menos cobre bio disponível pois este liga-se ao mineral, mas nos solos arenosos ou graníticos o cobre solubiliza-se e encontra-se mais bio disponível.
Segundo o INRA, verifica-se uma diminuição da vida microbiana a partir de 30 a 50 mg de cobre bio disponível por quilo de solo ácido e a partir de 50 a 100 mg sobre solos calcários ou argilosos. E é por esta razão que o Biológico pode ser, em anos climáticos extremos, pouco lógico.
Há vários métodos para diminuir a utilização de cobre (tisanas de cavalinha, urtiga e consolda em biodinâmica, ou uso de substâncias que estimulam as defesas da planta) mas nenhum o evita na totalidade. Há que saber gerir o cobre. Ser Bio lógico é ainda mais importante que ser Biológico.
(*) Segundo o último estudo Vinexpo/IWSR, o mercado dos vinhos convencionais terá crescimento próximo do zero a partir de 2022. Pelo contrário o aumento de vendas de vinhos biológicos terá um aumento de vendas de 2 dígitos. Um importador de vinho para EUA prevê que dentro de 20 anos o Bio será a norma (Abril – Revue des Vins de France, B.S.).
Apologia do esclarecimento

Saber o que se come, perceber o que se bebe, percorrer as muitas veredas das harmonizações de comidas com bebidas torna claro sobretudo que depois do muito que já se sabe, está quase tudo por fazer. Há que abraçar sempre o inteiramente novo. TEXTO Fernando Melo Cena 1. Reunião do I Capítulo da Confraria do […]
Saber o que se come, perceber o que se bebe, percorrer as muitas veredas das harmonizações de comidas com bebidas torna claro sobretudo que depois do muito que já se sabe, está quase tudo por fazer. Há que abraçar sempre o inteiramente novo.
TEXTO Fernando Melo
Cena 1. Reunião do I Capítulo da Confraria do Arroz Carolino das Lezírias Ribatejanas. Melhor, criação da dita confraria, em Benavente, com honras de desfile, apadrinhamento formal pelas muitas confrarias enogastronómicas presentes e almoço com uma notável demonstração das muitas possibilidades culinárias da gramínea. O biónico José Maria Lino metido na mesma luta desde que o conheço, já vai para uma década, de pugnar por que a centelha criativa de quem cozinha não se extinga, antes ganhe força e fogo redobrados, sempre com o arroz carolino de permeio. Notável a sua paixão, comovente a forma como se empenha na pedagogia em contínuo, sem esmorecimento.
Cena 2. Visita à fábrica do bacalhau Giraldo, em Bilbau. É pouco conhecido do grande público, pois não tem venda a retalho, mas bem conhecido dos cozinheiros nacionais, representado pela Qualhouse, conhecida pela excelência dos produtos do seu portfólio. Já visitei alguns outros produtores de bacalhau e as diferenças não eram muitas, no domínio da transformação do pescado, mas os detalhes foram chamando a atitude e em vez de resistir, com uma atitude do tipo o que é que eu estou aqui a fazer, decidi acompanhar e vestir a pele do aluno diligente. Foi imediato o contacto com uma realidade verdadeiramente orientada para o negócio, pontos de sal afinados a gosto, cortes diversos das diversas partes do bacalhau, lombos altos e baixos, bacalhau preparado para tempura, dezenas de soluções ali apresentadas, tudo orientado para a produtividade e qualidade. Completamente fora da minha zona de conforto, assisti à excelência de produto e serviço, de superação difícil.
Cena 3. Jantar da Confraria da Cerveja no Hotel Intercontinental Cascais-Estoril, organizado pela À Mesa Com, o mesmo é dizer Fátima Moura e Teresa Santos, a primeira autora de reconhecidos pergaminhos a segunda conhecedora e cultora de cerveja e do produto português. O tema do jantar era o mar, e o chef Miguel Laffan foi o autor e executante de um menu extravagante a todos os níveis, sobretudo pela proposta da harmonização com cervejas, actividade complexa e com mais interrogações que certezas. A questão principal está na forma como o nosso palato percebe os amargos, a acidez e os polifenóis de uma cerveja, termos que também se aplicam ao vinho mas que na verdade não têm muitos pontos de contacto. É certo que no vinho se usa e abusa do termo acidez, mas existe uma terminologia estabelecida que nos permite contar um vinho a alguém, em poucas palavras, pelos vis¬tos na cerveja também. Ficou na memória umas maravilhosas migas de berbigão harmonizadas com total eficácia com uma witbier – cerveja branca. Total disparo de sabor, experiência totalmente inédita para mim, serenou-me a proficiência do chef Laffan no assunto, tudo explicado por ele e entendido por mim.
As três situações relatadas têm e denominador comum da novidade, e indicam o mais que óbvio colorido da vida de quem frequenta o edifício da comunicação sem preconceitos. No confortável universo da harmonização de vinhos com comida, sem querer deixamo-nos cair na vulgaridade e dizemos quase sempre o que se espera ouvir. O caso do arroz não enfrenta adamastores menores, está instalada a noção de bondade do arroz agulha porque o carolino tem tendência para empapar. Ora empapar to¬dos empapam, há que saber trabalhá-lo e levá-lo ao ponto certo. Fazemos isso na carne, no peixe, nos legumes e nos ovos, por que não fazê-lo também com o arroz? Grosso modo, vamos na terceira geração de chefs inovadores nas nossas cozinhas e estão a forçar um desenvolvimento inédito na nossa história, que é levar o conhecimento até ao limite e sujeitá-lo ao paradigma das raízes e proximidade. Temos de ser simples, e ao mesmo tempo temos de estar em constante aprendizagem, com espírito aberto. Ainda há bem pouco tempo, o arranque de cada campanha de arroz era feito com grãos lançados por uma avioneta, de¬pois por competição desenvolvia-se a planta, o conhecimento da variedade que se estava a semear era inexistente, a nossa expectativa mudou e tornámo-nos mais exigentes; agora queremos e podemos saber tudo. Seja em que domínio for, estamos obrigados a cultivar-nos e a saber mais, procurar esclarecimento em todas as frentes. A extraordinária obra “Peixes de Portugal”, de Maria José Costa (Edições Afrontamento, Julho 2018) elenca praticamente todas as espécies portuguesas com que nos relacionamos e uma boa forma de o usar é estudar uma delas por semana. Pode acontecer por curiosidade querermos estudar com mais pormenor um certo peixe, ainda há dois meses quis saber mais sobre o ruivo e fui dar com um manancial considerável de informação sobre o simpático e cabeçudo peixe. Daí podemos saltar para outras variedades e de repente estamos na espiral ascendente do conhecimento, só temos de nos sentir bem por isso. Penso que mesmo os fãs de bacalhau conhecem o formato triangular da versão seca e salgada, e que o peixe propriamente dito é pouco ou nada conhecido. Mas isso é outra conversa.
Felizes, de copo na mão, a ver Lisboa

A 4ª edição do Trafaria (Com)Prova decorreu mais uma vez nesta zona à beira Tejo, localizada mesmo em frente à cidade de Lisboa. Durante três dias, por lá passou uma considerável multidão a provar uma grande variedade de vinhos. TEXTO António Falcão FOTOS Ricardo Gomez Na verdade, esta iniciativa e organização da Câmara Municipal de […]
A 4ª edição do Trafaria (Com)Prova decorreu mais uma vez nesta zona à beira Tejo, localizada mesmo em frente à cidade de Lisboa. Durante três dias, por lá passou uma considerável multidão a provar uma grande variedade de vinhos.
TEXTO António Falcão
FOTOS Ricardo Gomez
Na verdade, esta iniciativa e organização da Câmara Municipal de Almada, superou as expectativas, atraindo mais de 12.000 visitantes. Foi, aliás, opinião unânime de quem lá esteve que foi um grande ano, uma grande edição. São Pedro deu uma grande ajuda, diga-se de passagem, não enviando demasiado calor, nem excesso de vento ou frio.
Um exemplo era Fernando dos Santos, lisboeta, que, juntamente com a sua mulher, Teresa, aproveitou a travessia de barco para cruzar o Tejo e vir provar bons néctares. “Fiquei surpreendido por esta ser a quarta edição e não ter cá vindo antes. Já estou de saída para jantar mas gostei do sítio, da paisagem e, claro, dos vinhos. E consegui provar um vinho que há muito tempo procurava. Para o ano estou cá outra vez, ai isso de certeza”, confessou-nos este comerciante da capital.
O Trafaria (Com)Prova decorreu assim no Passeio Ribeirinho da Trafaria, entre 31 de Maio e 2 de Junho, e foi produzido pela Vinho Grandes Escolhas. Neste momento já é um evento que se afirma na agenda de eventos da região de Lisboa e acaba assim por atrair também alguns turistas da capital, interessados em provar néctares portugueses.
Na sua 4º edição este é um evento já consolidado onde é possível num ambiente descontraído à beira rio provar vinhos de mais de 30 produtores de todas as regiões vinícolas do país e degustar os afamados petiscos da pequena vila piscatória. Para muitos produtores, o evento acabou por se verificar rentável, já que era possível, em vários casos, comprar vinho directamente no stand. Um dos produtores já não tinha vinho no final de Sábado, mas felizmente ainda tinha tempo de ir buscar mais para o dia de Domingo: “não estava à espera desta afluência”, confessou-nos.
Ao longo dos três dias, a feira foi ainda um pretexto para muitos descobrirem muitos pontos de interesse que a Trafaria esconde e divertirem-se com o extenso programa de animação que a organização da C. M. de Almada preparou.
O Trafaria (Com)Prova tem como objectivo a promoção e a valorização da histórica freguesia piscatória da Trafaria, potenciando a sua oferta gastronómica assente no peixe e marisco. Para além disso, procura-se sensibilizar população para a importância de preservar o seu património cultural e identitário. A localização do evento, no passeio ribeirinho e com a vista deslumbrante sobre o estuário do Tejo e sobre Lisboa são sempre factores de atracção que merecem ser potenciados. Na edição deste ano os mais de 12.000 visitantes, nacionais e estrangeiros, puderam deliciar-se com os aromas dos vinhos e com as delícias preparadas pelos restaurantes locais.
A cerimónia de abertura do Trafaria (Com) Prova contou com a presença da Presidente da Câmara, Inês de Medeiros, acompanhada pelos membros da vereação, que fez questão de visitar todos os expositores de vinho e de petiscos presentes. Grande interesse também despertaram as provas comentadas de vinhos, orientadas pelo crítico Fernando Melo, realizadas na Junta de Freguesia e que registaram um elevado nível de participação.
O Oídio

Na maior parte do território, o perigo do Míldio e Podridão estão mais ou menos afastados com o tempo seco e quente. Mas o Oídio espreita sempre uma oportunidade de comer parte ou a totalidade da vindima. TEXTO João Afonso De todas as maleitas da vinha, o Oídio é a mais persistente em todo o […]
Na maior parte do território, o perigo do Míldio e Podridão estão mais ou menos afastados com o tempo seco e quente. Mas o Oídio espreita sempre uma oportunidade de comer parte ou a totalidade da vindima.
TEXTO João Afonso
De todas as maleitas da vinha, o Oídio é a mais persistente em todo o ciclo vegetativo. É um fungo de inspiração golfista, ou seja, até ao último buraco (leia-se última semana antes da vindima) tudo pode acontecer.
O míldio e a podridão necessitam de condições atmosféricas de chuva e humidade mais ou menos extremadas para se manifestarem, mas para o oídio bastam por vezes subtis orvalhadas, ou humidade persistente do ar superior a 40%, para que nos últimos dias se perca uma boa parte da qualidade da vindima.
O nome do bicho é Uncinula necator. Entrou em Inglaterra em 1845 e até 1851 invadiu fulminantemente toda a Europa. O choque foi talvez mais brutal do que o da filoxera, com quebras de produções vitícola aterradoras. Até à década de 50 do século passado o enxofre era a única defesa contra o predador. Hoje temos uma simpática panóplia de produtos sistémicos (penetrantes e circulantes) e, claro está, o velho amigo enxofre nas versões molhável (pulverizações) e pó (polvilhações). Acima de todos os anti-oídio está o arejamento e insolação das uvas. Quanto mais expostos ao ar, ao vento e ao sol estiverem os cachos, melhor se defenderão do fungo.
Orvalhadas e nevoeiros matinais, locais baixos protegidos do vento, são a “sua praia”.
O povo dá-lhe o nome de “cinza”. E é basicamente o que é necessário para o reconhecer – a sugestão de cinza nas folhas e bagos de uva. Há que estar sempre bem atento, principalmente desde a prefloração até ao fecho dos cacho (final do crescimento do bago).
Os tratamentos tardios contra o oídio com enxofre, a partir do fecho do cacho, são de evitar, pois este enxofre pode dar origem a sulfídrico no vinho (hidrogénio sulfito), cheiro a esgoto, a ovos podres. Quando as uvas entram na adega com oídio, dependendo do nível de ataque, vão interferir no vinho final com desequilíbrios de prova e um cheiro característico a fungo (ortho cresol). Com uvas brancas deve-se clarificar o mais depressa possível, eventualmente usar um carvão e nas uvas tintas, fazer pouca maceração e retirar o vinho o mais depressa possível das massas.
*Enólogo
Edição Nº25, Maio 2019
Ser sustentável

Vivemos numa sociedade de consumo o que implica, por um lado, delapidação de recursos naturais e, por outro, desperdício. A produção de bens alimentares (vinho incluído) não foge a esta regra. O que mudou, sobretudo na última década, foi a consciência ambiental, e hoje em dia a preocupação de muitos consumidores e produtores esclarecidos passa […]
Vivemos numa sociedade de consumo o que implica, por um lado, delapidação de recursos naturais e, por outro, desperdício. A produção de bens alimentares (vinho incluído) não foge a esta regra. O que mudou, sobretudo na última década, foi a consciência ambiental, e hoje em dia a preocupação de muitos consumidores e produtores esclarecidos passa por minimizar os efeitos da nossa pegada no planeta.
TEXTO Luís Lopes
Convenhamos, o conceito de sustentabilidade não é algo inteiramente claro aos olhos do apreciador de vinho. Para muitos, a sustentabilidade junta-se no mesmo saco a um vasto conjunto de sub-categorias, muitas das quais pouco ou nada têm a ver com sustentabilidade. O mais recente trabalho da Wine Intelligence (empresa de referência que realiza estudos de mercado um pouco por todo o mundo) define nada menos do que 13 categorias naquilo que baptizou de índice SOLA (acrónimo de “sustainable, organic and lower alcohol”). Listadas por ordem de interesse e oportunidade em 15 diferentes mercados (incluindo o português), são elas: vinho orgânico, vinho produzido de modo sustentável, vinho de comércio justo, vinho amigo do ambiente, vinho sem conservantes, vinho sem sulfitos, vinho de adega com neutralidade carbónica, vinho de baixo teor alcoólico, vinho “laranja”/curtimenta, vinho biodinâmico, vinho sem álcool, vinho vegan, vinho vegetariano. Por aqui se vê que pegada de carbono, orgânico, sulfitos, vegan (e ainda podíamos juntar aqui os chamados “vinhos naturais”, que ninguém sabe bem o que são) se misturam num caldeirão de conceitos que traduzem algo bastante vago e indefinido, mas que poderíamos resumir como “vinhos alternativos”.
Na verdade, é óptimo que as pessoas procurem coisas diferentes, que fujam do chamado “mainstream”. Mas seria ainda melhor que não se confundissem gostos, modas, ou tendências, com algo tão fundamental para a vida de todos nós quanto a sustentabilidade.
A começar, desde logo, pelos dois conceitos mais atractivos para os novos consumidores: sustentável e orgânico são coisas distintas. É possível ser-se orgânico sem se ser mais sustentável (sobretudo ao nível da pegada de carbono, além da polémica questão do cobre) e é possível ser-se mais sustentável sem aderir ao orgânico. O orgânico é um dos vários caminhos para a sustentabilidade e, tal como todos os outros, um caminho com desafios difíceis e buracos escondidos. Não existe um modelo perfeito, isento de danos colaterais. A sustentabilidade é, antes de mais, equilíbrio. E esse equilíbrio deve atravessar toda a fileira do vinho, desde a uva até ao copo do consumidor. Uma viticultura sustentável tem de estar associada a uma adega sustentável, a uma embalagem sustentável, a uma logística sustentável, a um comércio sustentável, no fundo, se quisermos, a um modo de vida sustentável.
Os vinhos “amigos do ambiente” são negócio de presente e de futuro. Mas mais do que estampar no rótulo da garrafa uma certificação ambiental que ajude a comunicar um produto diferente, é a consciência ambiental, ao nível do individuo, das empresas, da sociedade, que é realmente importante. Um cada vez maior número de produtores de vinho acredita, verdadeiramente, que não pode e não deve desenvolver o seu negócio prejudicando o meio ambiente, a sua sustentabilidade e, em última análise, o futuro das gerações vindouras. Ou seja, opta pela protecção ambiental por convicção, e não por ser “trendy” ou por ser um mercado em crescimento. Da mesma forma que cada vez mais consumidores optam por vinhos produzidos por empresas amigas do ambiente, não porque sejam melhores vinhos mas, sobretudo, porque se preocupam.
Os ganhos ao nível da sustentabilidade conseguem-se através da educação, promovendo uma consciencialização e uma cultura ambiental individual e colectiva. Nesse sentido, o sector do vinho, tendo embora muito para melhorar, tem também boas razões para se orgulhar do muito que já foi feito. Cabe-nos a nós, consumidores, fazer a nossa parte.
Edição n.º28, Agosto 2019
Vinho, o segredo mais bem guardado da Suíça

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A banca e a relojoaria são tradicionalmente associadas à Suíça, chocolate e queijos são os seus ícones gastronómicos e as montanhas e lagos caracterizam a sua paisagem, enquanto os vinhos suíços são quase incógnitos para o resto […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A banca e a relojoaria são tradicionalmente associadas à Suíça, chocolate e queijos são os seus ícones gastronómicos e as montanhas e lagos caracterizam a sua paisagem, enquanto os vinhos suíços são quase incógnitos para o resto do mundo. Os suíços bebem-no quase todo…
TEXTO Valéria Zaferino
Poucos podem dizer que conhecem ou que já provaram algum vinho daquele país montanhoso. E razão é muito simples: a Suíça exporta apenas 1% de vinho que produz, tudo o resto é consumido no mercado interno. E não se trata de uma actividade recente. A vinha é cultivada na Suíça desde a época dos romanos. Antes da filoxera, que chegou a estas terras em 1871, a área de vinha era o dobro da plantada hoje (30.000 contra quase 15.000 hectares).
ENTRE LAGOS E MONTANHAS
As condições edafoclimáticas da Suíça são moldadas pelos lagos e montanhas. Os Alpes ocupam 61% do seu território, por isso em mui¬tos casos trata-se de viticultura de montanha, com diferentes altitudes e exposições. As vinhas sobem encostas, por vezes vertiginosas, com escadaria de socalcos, o que impossibilita mecanização, dificulta o tra¬balho na vinha e aumenta o custo de produção.
Se em Bordeaux por ano são necessárias cerca de 300 horas/hectare de trabalho, nas vinhas da Suíça este valor vai de 400 a 1500 horas/ hectare (como no nosso Douro, diga-se de passagem). Em contrapartida, os viticultores suíços recebem 4,5-5 francos por quilo de uva. Os vinhos também não são baratos, é difícil encontrar vinho por menos de 10 francos suíços. Em alguns cantões até o preço de Grand Cru é controlado. Por exemplo, segundo um produtor em Valais, o vinho classificado como Grand Cru não pode ser vendido por um preço inferior a 25 francos.
Os lagos também desempenham um papel importante, amenizando a continentalidade do clima e reflectindo o sol através dos grandes espelhos de água. O lago Léman, três lagos interligados (Neuchâtel, Bienne e Morat), de Zurique, de Constance e de Lugano são os maiores.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40497″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]MUITAS CASTAS
A área de vinha na Suíça é apenas cerca de 15 000 hectares (ao nível do nosso Trás-os-Montes ou Dão). A grande surpresa é o número de castas existentes. São 252, das quais 80 autóctones! Nestas últimas também estão incluídas as castas criadas por cruzamentos, como Gamaret e Garanoir (filhas de Gamay e Reichensteiner), Divona e Dívico (filhas de Gamaret e Bronner) entre muitas outras, e híbridos de Vitis Vinifera com outras espécies de videira. Desde os anos 70, o centro de soluções para agricultura na Suíça, Agroscope, é incansável na criação de castas novas com determinadas características e mais resistentes a doenças.
As castas estrangeiras, plantadas antes de 1900, obtiveram o estatuto de tradicionais, por terem grande histórico de plantação no país. É o caso de Pinot Noir, Gamay, Sylvaner, Savagnin entre outras.
O ícone da Suíça vitivinícola é Chasselas (aka Fendant na região de Valais e Gutedel na região de Zurique), a mais importante e mais plantada das castas autóctones, com área de 3.733 hectares, que representa 61% das castas brancas do país. É originária do norte do lago Léman, com referências desde o século XVII, está mais plantada na parte francesa da Suíça, em cantões de Vaud, Valais, Genebra e Três Lagos. Produz vinhos delicados, com certa subtileza, a expressar aro¬mas de flores brancas, pera e limão e apontamentos amanteigados e minerais. Na Suíça até existe um concurso mundial só de Chasselas, organizado desde 2012.
A Petite Arvine é outra das castas autóctones, embora com muito me¬nos expressão (197 ha), que é capaz de produzir vinhos brancos de grande qualidade com aromas citrinos e de ananás, notas salinas e óptima acidez. Dá origem a vinhos tranquilos, espumantes e colheitas tardias.
A Pinot Noir é plantada em todas as regiões da Suíça e já ultrapassou Chasselas em termos de área, ocupando 4070 hectares. É muito utilizada para fazer rosé clarinho, chamado Oeil de Perdrix (Olho de perdiz), onde pode ser adicionada uma décima parte de Pinot Gris; Em Neuchâtel produzem a sua versão branca – Perdrix Blanche.
Gamay é outra casta com uma área de plantação significativa (1277 ha), cuja popularidade anda a oscilar um pouco ao gosto do consumidor. Pinot Noir e Gamay constituem 85% (e Pinot Noir predomina) do vinho Dôle, simples, fresco e frutado, tradicional na região de Valais.
AS PRINCIPAIS REGIÕES
Valais é a maior e, aparentemente, mais antiga região vitivinícola da Suíça, responsável pela 33% da plantação de vinha no país. Rodeada de montanhas e com solos variados, segue o curso do rio Rhône/Ró¬dano. O clima é seco e solarengo, a contar com 2500 horas de sol e 650 mm de precipitação anuais (a lembrar o nosso Cima Corgo no Douro), é acentuado pelos secos e quentes ventos “Foehn”. Nestas condições, a rega torna-se importante. Felizmente, a água das glaciares não falta, e para colhê-la foram construídos os canais de irrigação chamados “bisses” e muitos deles continuam a ser usados.
A maior parte das vinhas ficam numa altitude de 460-760 metros. A inclinação em certos pontos chega a ser 90% (42˚) e o transporte da uva vindimada só pode ser feito por um sistema de mono¬carril. As castas mais utilizadas em Valais são Pinot Noir, Chasselas e Gamay.
Vaud é a segunda maior região com 26% da área de vinha e é a única na Suíça que produz mais vinho branco do que tinto. Os vinhedos abraçam a margem norte do lago Léman. As vinhas do AOC Lavaux esculpidas em estreitos terraços, são impressionantes e fazem parte do património mundial da humanidade da UNESCO desde 2007. É o reino da Chasselas que expressa bem os diferentes terroirs, provavelmente por isto, nos rótulos figura não o nome da casta, mas sim o nome do local da sua origem, como por exemplo os Grand Crus Calamin e Dézaley, cujos solos argiloso-calcários originam vinhos particularmente expressivos. Pinot Noir e Gamay também estão bem presentes na região, mas dado às novas tendências, as castas Gamaret, Garanoir e Merlot estão a ganhar terreno.
As vinhas na região de Genebra começam a poucos quilo¬metros do centro da cidade e ultrapassam a fronteira com França, sendo que 122 dos 1413 hectares situados no ter¬ritório francês pertencem aos produtores suíços e podem ser certificados como AOC Genebra. Gamay e Chasselas são as principais castas utilizadas, seguidas de Ponot Noir, Gamaret e Chardonnay.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40498″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]TICINO – PARAÍSO PARA ENOTURISTAS
É a região que não se parece com nenhuma outra na Suíça. É a única que fica do lado sul dos Alpes. Para lá chegar é preciso atravessar uma montanha num túnel de 57 km, o mais comprido do mundo. Ou quem não tem pressa, pode ir observando as vistas fabulosas pelas janelas enormes do comboio panorâmico (Gotthard Panorama Express ou Bernina Express).
Com fronteira com o norte de Itália, é um autêntico oasis mediterrânico da Suíça, que se tornou numa zona de fé¬rias por excelência para o resto do país. É uma combinação perfeita da cultura latina com organização suíça.
O clima é mais moderado do que no resto do país. É uma região com sol generoso (2.200 horas por ano), mas também com chuvas frequentes. A precipitação anual fica nos 1600 mm, a lembrar o nosso Minho. Mas as chuvas lá não são prolongadas, caem de repente em grande quantidade. O vento “foehn”, que também sopra nestes lados, ajuda a secar as vinhas depois das chuvas. O granizo é frequente, por isso proteger as vinhas com uma rede especial é quase imperativo.
O Monte Ceneri divide a região pelo sul (Sopraceneri) e norte (Sottoceneri). A parte sul é mais pequena em termos de dimensão, mas tem mais produtores, maior área plantada nas suas encostas pacatas e produz vinhos elegantes e com mais fruta. A parte norte, dado ao seu relevo montanhoso, embora tenha um território maior, tem menos vinha. Nos seus solos pedregosos nascem os vinhos mais austeros que precisam de tempo em garrafa.
Ao contrário de outras regiões da Suíça, onde reina Chasselas, em Ticino a estrela é Merlot, responsável por 80% dos vinhos. A seguir ao surto da filoxera que chegou a Ticino só em 1897, foram iniciados os estudos das castas que melhor se adaptassem e pudessem trazer sucesso à região, superando as videiras americanas (York Madeira e omnipresente Isabella) e castas rústicas autóctones, como a Bondola, por exemplo. Esta perdeu terreno até quase à sua extinção e está agora a atravessar um ligeiro renascimento.
De Merlot, em Ticino faz-se tudo, começando pelos sérios e aveludados tintos, inspirados por Bordeaux, com alguns vinhos a rivalizar com os melhores Merlot do mundo; leves rosés; espumantes e até bastante popular Bianco di Merlot, vinificado em branco. Este corresponde a cerca de 20% de Merlot produzido na região. É mesmo o caso para dizer que a casta foi bem adotada e bem adaptada.
Qualquer enófilo, ao visitar a região, será sempre bem vindo a Casa del Vino Ticino, onde pode obter toda a informação e provar mais de 200 referências, que representam 90% dos produtores da região. Mas não há nada mais enriquecedor do que visitar produtores diferentes em termos de dimensão e filosofia.
A Valsangiacomo Vini é a casa mais antiga em Ticino, fundada em 1831, primeiro como importadora e distribuidora de vinho e a partir do início do século 20 focou-se na produção própria. Já está nas mãos da sexta geração.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40504″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]Família Tamborini, um dos maiores (à medida da região) produtores, possui uma propriedade, Vallombrosa, onde foram plantadas as primeiras vinhas de Merlot em Ticino em 1908. Para além dos 25 hectares de vinha própria, compram muitas uvas a viticultores da região. Esta propriedade ainda dispõe de um conjunto de quartos no conceito Bed&Breackfast, decorados por artistas locais. Em 2012 Cláudio Tamborini foi considerado o enólogo do ano no concurso nacional “Grand Prix des Vins Suisses”. Dois anos antes este prémio foi entregue ao enólogo da Agriloro, fundada em 1981, onde em cada vinho reconhece bem o estilo do produtor.
A aliança de Gialdi e Brivio resultou no maior produtor da região, que produz anualmente cerca de 1 milhão de garrafas. Funciona como negociante: não possui vinhas, mas trabalha com cerca de 320 produtores no Sopraceneri e no Sottoceneri, controlando toda a parte da viticultura.
Cantine Monti é uma pequena empresa familiar com muita alma. Ivo Monti, depois de deixar uma carreira de oficial num cargueiro, encontrou a sua verdadeira vocação junto do seu pai que adquiriu a propriedade em 1976. Uma adega, pequena, mas extremamente funcional e bem pensada, fica numa altitude de 550 metros numa encosta inclinada obrigando a grande exercício físico de quem os visita e lá trabalha. Ainda bem que só têm 4 hectares. Os vinhos produzidos são cheios de personalidade.
A moderna e bem equipada adega da Fattoria Moncucchetto projectada pelo famoso arqui-teto Mario Botta fica a mais de 400 m de altitude e oferece uma vista magnífica sobre dois lagos. E ainda poussuem um espaço elegante para eventos com cozinha à responsabilidade do chef Andrea Muggiano.
A imponente adega de Zanini Vinotierri com uma sala de barricas a lembrar um anfiteatro e outra feita em espiral com 18 metros de profundidade. O seu topo de gama Castello Luigi Rosso de 2,5 ha com 80% Merlot e 20% de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, vinho aristocrata vendido a 139 euros, certamente é um dos melhores de Ticino.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”rgba(221,166,171,0.69)” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Sabia que “][vc_column_text]
- O chamado Vinho dos Glaciares é um vinho branco sujeito ao estágio oxidativo tipo solera (mantido durante muitos anos em grandes cascos, que de tempos em tempos são atestados com vinho novo). É produzido apenas num vale, Val d’Annivers, no centro do cantão de Valais e feito de um blend de castas, incluindo a autóctone Rèze.
- As vinhas de Visperterminen numa altitude de 1100 metros ficam entre as mais altas da Europa e foram poupadas da filoxera que não conseguiu lá chegar. Aqui ainda hoje existem vinhas não enxertadas de Savagnin Blanc, chamada nesta zona Païen.
- A vinha mais pequena do mundo, em termos de dimensão, fica numa aldeia medieval Saillon, na região de Valais, e contem apenas 3 videiras
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
Edição Nº28, Agosto 2019
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