Seja enólogo por um dia com ‘My Own Mélange à 3’

melange a 3

Se sempre quis ter a experiência de ser enólogo por um dia, agora é possível com a mais recente novidade de Mélange à 3 da Sogrape, um vinho moderno, irreverente e divertido que explora a combinação ideal de três castas. O kit ‘My Own Mélange à 3’ oferece a experiência de ser enólogo por um […]

Se sempre quis ter a experiência de ser enólogo por um dia, agora é possível com a mais recente novidade de Mélange à 3 da Sogrape, um vinho moderno, irreverente e divertido que explora a combinação ideal de três castas.

O kit ‘My Own Mélange à 3’ oferece a experiência de ser enólogo por um dia, criando o seu próprio lote de vinho preferido em casa.

Cada conjunto é constituído por três garrafas de 75cl, cada uma com uma das castas que compõe o vinho Mélange à 3- Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro – um funil e proveta de vidro, um salva gotas, duas garrafas vazias de 37,5cl com rótulos personalizáveis e rolhas bartop. Tudo o que necessita para criar um Mélange à 3 com a sua assinatura.

Para provar, experimentar diferentes percentagens, eleger o seu lote preferido e partilhá-lo com amigos e familiares.

O kit My Own Mélange à 3 está disponível no site www.vinhoemcasa.com com um PVP de €40,00.

Warre’s: A história de um LBV diferente

Warre's LBV

Nos últimos 50 anos o LBV – Late Bottled Vintage – ganhou muito espaço no conjunto das categorias do vinho do Porto e, actualmente, quer as grandes empresas, quer os pequenos produtores, assumiram a produção anual deste tipo de Porto. Mas, no meio deste de todas estas marcas, Warre’s e Smith Woodhouse alcançaram um lugar […]

Nos últimos 50 anos o LBV – Late Bottled Vintage – ganhou muito espaço no conjunto das categorias do vinho do Porto e, actualmente, quer as grandes empresas, quer os pequenos produtores, assumiram a produção anual deste tipo de Porto. Mas, no meio deste de todas estas marcas, Warre’s e Smith Woodhouse alcançaram um lugar especial. Fomos saber porquê.

Texto:João Paulo Martins

Fotos: Anabela Trindade/Symington

Comecemos pelo princípio e pelo conceito, uma vez que há alguma confusão no que diz respeito à origem e história desta categoria de vinho do Porto. Por definição, um LBV é um Porto de muito boa qualidade – faz parte das categorias especiais – que é engarrafado entre o 4º e 6º ano a seguir à vindima (data-limite do engarrafamento: 31 de Dezembro do 6º ano). Neste particular distingue-se do Vintage, uma vez que este tem de ser engarrafado entre o 2º e o 3º ano após a colheita. Até aqui não parece haver dúvidas e os consumidores há muito que estão familiarizados com este perfil de Porto. A distinção entre os dois – Vintage e LBV – pode ser de vária ordem; por norma o LBV é mais acessível no perfil, menos concentrado, menos taninoso e, por isso, bebível mais cedo. Mas (há sempre um mas…) o LBV originalmente podia ter sido um Vintage, caso tivesse cumprido a regra da data do engarrafamento. Quer isto dizer que, quando novo, o LBV pode apresentar-se tão poderoso e concentrado como um Vintage mas os 4 anos de estágio amaciam os taninos e levam a um polimento originado pelo estágio em balseiro. Ao Vintage pede-se tempo para que o estágio em garrafa faça o seu papel, no LBV parte desse trabalho está feito quando é engarrafado.

A história do Porto Vintage tem, no entanto, alguns segredos escondidos. O que se passou durante décadas foi que alguns vintages, em vez de serem engarrafados ao 2º ano, eram colocados na garrafa mais tarde. Chamavam-se assim Vintage Late Bottled, exactamente porque não tinham data certa para serem embotelhados. Recordemos que durante grande parte do séc. XX o vintage era exportado em pipa e que competia ao importador proceder ao engarrafamento. Ora esse engarrafamento não tinha data certa para ser feito e os vinhos não tinham, de resto, o selo do então chamado Instituto do Vinho do Porto. Foi só a partir de 1970 que, por força da legislação, passou a ser proibido exportar o vintage em casco, sendo obrigatoriamente engarrafado em Portugal e com selo do Instituto. Assim, o 70 foi o último vintage que ainda foi parcialmente exportado em pipa. Recordo-me de já ter encontrado fora de portas, nomeadamente nos Estados Unidos, vintages dos inícios dos anos 60 sem selo aposto nas garrafas. Embora apressadamente se pudesse pensar que se trataria de uma fraude, em boa verdade não era, uma vez que eram vinhos que tinham chegado ao destino ainda em casco.

Esses Vintages Late Bottled (ver foto) sempre existiram no sector. A propósito desta nossa prova e visita à Symington, soubemos que Peter Symington, hoje retirado e que foi o enólogo da empresa a partir da colheita de 1963, afirmou que sempre se lembrava de ver esses vinhos que, sendo Vintage, eram engarrafados mais tarde. E recordou-nos, por exemplo, os anos de 1954, 58 e 62, todos engarrafados 4 anos após a colheita; embora por norma estas declarações não coincidissem com as declarações dos vintages clássicos, houve excepções, como foi o caso do Dow’s 1945, um dos mais grandiosos vintages clássicos da marca, que também foi lançado como Late Bottled em 1949. Esta coincidência não é estranha, já que sabemos que a percentagem de vinho engarrafado como vintage é sempre muito pequena por comparação com o total da colheita. Pode até perguntar-se porque não aconteceu mais vezes o que aconteceu em 45.

Esta dicotomia entre Vintage e Vintage Late Bottled prestava-se a muita confusão. Havia tradições a manter mas havia que clarificar. Pode dizer-se que era uma tradição mal compreendida ou mal explicada.

Warre’s LBV
Charles Symington é o guardião do templo, onde as velhas garrafas repousam.

A nova era

E foi por causa dos mal-entendidos que mudou a legislação. A partir dos meados dos anos 60 tudo ficou mais claro. Segundo as regras então estabelecidas, não se poderia escrever Vintage em letras gordas e Late Bottled em segunda linha; tudo teria que ser no mesmo tamanho de letra, com a mesma cor e na mesma linha (que é o que vemos hoje nas garrafas); pode parecer um detalhe mas a ideia do legislador foi, creio, evitar a confusão do consumidor. A partir daqui haveria uma clara distinção entre Vintage …ano tal, e Late Bottled Vintage …ano tal. Foi então que começaram a surgir com mais frequência os LBV em dois modelos: um, por alguns chamado de “moderno”, ou seja, que correspondia a vinhos filtrados e estabilizados pelo frio antes do engarrafamento; outro, os não filtrados, que foram tendo vários nomes, como Traditional, Unfiltered e Late Bottled. O primeiro desta nova geração terá sido o Taylor’s 65 que surgiu no mercado em 1970. A mais recente actualização da legislação – Portaria nº 3, de 2022 – autoriza a designação Bottled Matured, Bottled Aged ou Envelhecido em Garrafa para os vinhos que tenham, pelo menos, três anos de estágio em garrafa. São designativos a mais, o que em nada ajuda o consumidor mas o sector do Vinho Porto é fértil neste campo…

Se somarmos os anos de estágio em madeira mais os três anos de estágio em garrafa temos assim vinhos que são colocados no mercado com uma idade entre os 7 e os 9 anos. No caso da família Symington, três marcas ficaram nos “modernos” – Cockburn’s, Graham e Dow’s – enquanto a Warre’s e Smith Woodhouse se conservaram no perfil mais clássico, não filtrados e vendidos, somando os anos de garrafa aos 4 obrigatórios, com um total de 10 a 12 anos de idade.

Entretanto no mercado surgiram alguns LBV de datas anteriores à legislação, de meados dos anos 60, o que veio confundir o consumidor, como o Burmester 1964 ou mesmo o muito antigo Ramos Pinto 1927. Ana Rosas, actual responsável dos vinhos do Porto desta casa disse-nos que este 27 foi o único que puderam provar e comprovar que cumpria os requisitos para se poder chamar LBV mas “a verdade é que todas as casas tinham vinhos deste tipo, eram vintages engarrafados mais tarde”, como nos confirmou. Tudo assim a assegurar que não foi a legislação de meados dos anos 60 que criou a categoria, antes se limitou a regulamentá-la.

O LBV moderno, filtrado e estabilizado, ganhou muito espaço em termos comerciais: é um vinho que aguenta perfeitamente um mês ou mais após a abertura da garrafa, não requer decantação e, assim, está sempre pronto a servir; isso faz dele um óptimo vinho para consumo na restauração. A Taylor’s, por exemplo, tem no seu LBV “moderno” o vinho que mais vende, ultrapassando o milhão de garrafas. E se dúvidas existirem sobre a qualidade destes LBV “modernos”, sugiro a prova do Taylor’s 2017 (Grandes Escolhas: 17 pontos/€15,90).

A originalidade dos LBV Warre’s e Smith Woodhouse decorre do tempo de estágio que têm e que vai além dos 3 anos Bottled Matured exigidos por lei. Têm por isso um lugar à parte na categoria. Relembro aqui várias provas feitas desde há década e meia em que, na categoria LBV, (e às cegas) as amostras Warre’s eras crónicas vencedoras. A esta originalidade junta-se o factor preço que, se compararmos com os vintages, não é só vantajoso, é altissimamente vantajoso para o consumidor.

Foi no final da década de 70 que a Symington começou a comercializar os LBV “modernos”, que foram ganhando força nos anos 80 e às suas marcas adicionou, depois de 2006, o LBV Cockburn’s. Entre Dow’s e Graham‘s a Symington faz 80 000 caixas de 12 garrafas. A quantidade Cockburn’s é residual.

 

Warre’s LBV

 

Notas de prova da vertical ( Nota: os preços não estão indicados pois as referências em questão já não se encontram no mercado, no entanto poderão ser úteis para quem adquiriu em tempos e ainda a guarda na garrafeira!)

18 A

Dow’s

Port LBV 1964

Magnífica cor topázio ainda com leves tons avermelhados. Aroma muito fino, muito focado nos licores de ervas, nos frutos secos, nas madeiras exóticas. Tudo suave e muito elegante. Muita classe na boca, com volume, imensa fruta, mas tudo ainda com muito nervo, um vinho que se mastiga, com grande prazer. Textura sedosa e glicerinada.

17 A

Warre’s

Porto LBV 1969

Engarrafado para o nascimento de Charles Symington. Ainda carregado na cor e com muito boa presença, mais discreto nos aromas, aqui com mais notas de compotas, tabaco e caixa de charutos.  Muito boa prova na boca, com bastante elegância, não muito complexo mas a dar muito prazer a beber, deixa um rasto longo e macio.

17,5 A

Warre’s

Porto LBV 1976

Tonalidades vermelhas com tons de mogno, aroma muito fino, clássicas notas de vintage, com fruta em calda, leves citrinos, tudo muito bem proporcionado. Na boca percebe-se que não é vintage, um pouco mais delgado de corpo mas está muito fino e pode dar imenso prazer se bebido agora. Alguma austeridade ainda marca presença. Classe pura.

17 A

Warre’s Traditional

Porto LBV 1981

Symington Family Estates

Bons tons vermelhos, ligeiro na concentração mas com muita pureza de frutos vermelhos, discreto mas correcto. Mais interessante na boca, com uma grande delicadeza aromática, com fruta em calda, licorados e com textura fina e muito atractiva. Perfeito para consumir agora com prazer.

17 A

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1984

Pouca concentração na cor, aroma muito fiel às notas de vintage com evolução, com imensa classe. Delgado na boca, frágil mas com tudo no sítio no que respeita a aromas. É o tipo de vinho a que chamamos perfumado. Não vale pelo vigor da boca, vale pelo nariz subtil e delicado.

18,5 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1992

Extraordinária concentração de cor, vigor excelente, aroma ainda muito concentrado, com tudo ainda por desenvolver. É um vinho que marca a fronteira entre os anteriores e esta geração mais vermelha, mais focada nos frutos pretos, mais estruturada. Tudo está em excelente forma e a mostrar que tem muitos anos pela ferente. A mesma sensação na boca, é um LBV que dá imenso prazer a beber, um assunto muito sério. Originalidade que se mantém até hoje.

18 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1994

Inacreditável concentração de cor, um vinho fechado, tenso, com notas químicas que não nos revelam a idade. Ainda tem tudo por descobrir, sendo certo que as notas licoradas são de grande classe. Um vinho que surpreende. Grande prova de boca, com volume, um pouco menos de vigor do que o 92 na boca mas a dizer que temos vinho para décadas.

18 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1995

Cor muito intensa, concentrado e rico, muito negro. No aroma está com notas finas de frutos negros (amoras e ameixas pretas), alguns licores mas com um estilo fechado e cheio de vigor. Muita esteva, amoras, tudo bem atractivo. Grande polimento na prova de boca, ainda com leves taninos que permitem mastigar o vinho, é um estilo cheio de força que assim permanecerá por muitos anos.

18 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 2000

Ainda está na fase ascendente, os aromas ainda não desdobraram, não se nota o envelhecimento. Por aqui estamos em frutas negras e chocolate negro. No estilo ainda fechado e pouco falador, é daqueles casos que é claramente para beber ou guardar. Nota de ginja, de fruta em calda, de mato seco, leve mentol em fundo. Muito bom o volume de boca, um perfil onde o vinho ainda se mastiga, bela textura, com anos pela frente.

17,5 A

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 2003

Muito interessante no aroma, concentrado, assenta sobretudo nos frutos negros, no chocolate negro, rico e muito texturado. Na boca está mais macio e envolvente do que o 2000, parece mais evoluído mas está a dar agora uma boa prova. Provavelmente para beber antes do 2000. Muitos licores, muito atractivo, a beber a solo ou com queijos secos.

17,5 C

Warre’s Bottled Aged

Porto Unfiltered LBV 2015

Ainda em cave a aguardar colocação do mercado. É uma pré prova. Nada no aroma nos diz que estamos perante um LBV e não um vintage: a concentração da cor, a própria tonalidade, escura e densa, tudo ainda fechado, à espera que o tempo em garrafa faça a sua acção. É na boca, pela textura mais macia e sedosa que podemos adivinhar que se trata de um LBV. É um vinho concentrado e rico, que precisará de tempo para se mostrar.

18 C

Warre’s Bottled Aged

Porto Unfiltered LBV 2017

Pré-prova, está ainda na cave da empresa. Muito químico no aroma, muita pimenta, muito estilo Warre’s, pleno de fruta negra, com tudo ainda por desenvolver. Na boca mostra uma bela textura, um perfil fino e bem conseguido, sentindo-se ainda alguns taninos mas já com o perfil macio e elegante que o tempo em casco lhe permitiu.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2022)

Maria de Lourdes Modesto: O adeus a uma grande senhora

Créditos de foto: Monocle / Rodrigo Cardoso Apesar da idade avançada, a morte de Maria de Lourdes Modesto apanhou-me de surpresa. É sempre triste quando parte alguém com quem tivemos uma relação de amizade. Como tantos outros aficionados, conheci a Maria de Lourdes Modesto pelos seus programas de TV e sobretudo pelos seus livros. Fiquei […]

Créditos de foto: Monocle / Rodrigo Cardoso

Apesar da idade avançada, a morte de Maria de Lourdes Modesto apanhou-me de surpresa. É sempre triste quando parte alguém com quem tivemos uma relação de amizade. Como tantos outros aficionados, conheci a Maria de Lourdes Modesto pelos seus programas de TV e sobretudo pelos seus livros. Fiquei muito contente quando, em anos recentes, tivemos oportunidade de privar bons momentos, em sua casa, à volta de um chá e do bolo que sempre preparava para acompanhar o lanche. Sempre curiosa e atenta, nunca deixou que a idade lhe retirasse o gosto pelos livros, pelas coisas boas e novas que a culinária moderna foi trazendo. Gostava com entusiasmo mas, quando entendia, criticava as modernices sem sentido a que assistia e a mistura de conceitos que grassavam nos críticos de formação apressada que com ela se foram cruzando. Sempre disponível para participar em eventos e acções de promoção da gastronomia, sempre atenta ao que faziam os novos Chefes que, diga-se, lhe reconheciam a inspiração e a amizade sempre renovada. Foi a grande senhora da gastronomia portuguesa e serão poucas todas as homenagens que lhe forem prestadas. Fica a herança, o saber e a inspiração.

Obrigado Maria de Lourdes, foi para mim uma honra ter privado consigo tão agradáveis momentos. Até sempre!

João Paulo Martins

Grande Prova: Beira Interior 2.0

Beira Interior desafiante

Brancos e tintos desafiantes A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde […]

Brancos e tintos desafiantes

A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde o carácter, a frescura e a elegância são denominador comum.

Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga

A tradição vitivinícola antiga na Beira Interior remonta à época romana, sendo oficialmente demarcada em 1999. Há alguns anos falámos no despertar da Beira Interior, quando surgiram projectos novos a inspirados pelos entusiastas, alguns com raízes na região, outros vindos de fora dela. Enólogos conhecidos, como Virgílio Loureiro, Anselmo Mendes, Rui Madeira, Rui Reguinga ou Patrícia Santos, trouxeram o seu conhecimento, elevaram a qualidade dos vinhos e deram credibilidade à região. O consumidor também despertou, (re)descobrindo uma região antiga na sua versão 2.0 com identidade própria que privilegia frescura e elegância.

Hoje, a região produz mais de 3 milhões de garrafas, apostando cada vez mais na exportação. Nos últimos dois anos a exportação duplicou chegando a 40% de produção. Os principais mercados neste momento são Brasil, Letónia, USA, Canadá, Dinamarca, Bélgica e Holanda, de acordo com os dados da CVRBI. Esta entidade certificadora também assume um papel de promotora da região, apostando fortemente no enoturismo e na internacionalização dos seus vinhos, trazendo potenciais importadores à região através das missões inversas. Nos últimos dois anos foi criada a Rota dos Vinhos da Beira Interior que pretende atrair cada vez mais pessoas ao interior. Até porque a oferta enogastronómica e cultural dentro da região é grande. E não podemos esquecer que das 12 aldeias históricas de Portugal, 11 ficam na Beira Interior.

Identidade geográfica

A altitude, a continentalidade e os solos pobres moldam as condições edafo-climáticas da Beira Interior.  A região estende-se do vale do Douro e Trás-os-Montes no norte ao rio Tejo no sul. Faz fronteira com a Espanha e é separada da Beira Litoral pelas várias formações montanhosas:  Serra da Estrela, do Açor, Gardunha e Lousã, que cortam a influência atlântica, deixando o clima mais seco, com maior amplitude térmica diária e anual.

A continentalidade manifesta-se pelos invernos rigorosos e frios, temperaturas negativas e neve frequente e pelos verões curtos, mas quentes e secos, com muitas horas de sol. A amplitude também ameniza os extremos de temperatura no pico de Verão. As noites frescas criam condições importantes para maturações mais homogéneas e retenção da acidez que mais tarde se traduz na frescura dos vinhos produzidos.

As montanhas e planaltos elevam as vinhas à altitude de 300 a 700 metros, amenizando as temperaturas médias, pois a temperatura baixa 0,6˚C por cada 100 metros.

Os solos são pobres em matéria orgânica e bem drenados, de origem maioritariamente granítica, mas também xistosa em zonas de transição para o Douro, com filões de quartzo e alguma ascendência arenosa.

Existem três sub-regiões, que antes da criação de denominação de origem em 1999, eram três regiões separadas: Pinhel, Castelo Rodrigo e Cova da Beira.

A sub-região de Pinhel com altitude média de 650 metros fica a norte da Guarda e estende-se até Mêda e à serra da Marofa.  A sub-região do Castelo Rodrigo está praticamente colada à de Pinhel, tendo como a linha de separação o rio Côa e uma estrutura montanhosa. Caracteriza-se pelos planaltos a 600 e 750 m de altitude. Ambas as sub-regiões são secas, com precipitação anual raramente a ultrapassar os 500 mm e com grandes amplitudes térmicas.

A Cova da Beira situa-se na zona sul da região, sendo limitada, a Norte, pelas serras da Estrela, Gardunha e Malcata e a sul, pela bacia hidrográfica do Tejo, onde o clima já tem alguma influência mediterrânica. É a sub-região mais extensa da Beira Interior, onde dá para distinguir duas zonas com características um pouco diferentes. Uma mais a Norte, entre as Serras da Gardunha e da Serra, à volta do Fundão e da Covilhã, com a precipitação a variar muito (de 600 a 1.800 mm por ano) em função do relevo. Outra, a Sul da Serra da Gardunha, com temperaturas mais elevadas e de precipitação a rondar os 500-700 mm. Aqui o clima apresenta semelhanças com o Alentejo.

A vindima entre a Cova da Beira e Pinhel pode começar com três semanas de diferença. As geadas de primavera são problemáticas na maior parte da região. Como diz Pedro Carvalho, da Quinta dos Termos, “geada há sempre, a dúvida é se será muita ou pouca”. Por isto as podas são mais tardias, às vezes são feitas em Abril para os abrolhamentos serem mais tarde, não prejudicando a produção em caso de geada.

Castas com carácter

De acordo com os dados do IVV, houve uma diminuição em termos de área plantada nos últimos anos (de 15110 ha para 13874 ha), provavelmente devido  ao abandono da vinha e a algum arranque para plantação de outras culturas. Mesmo que 75% da vinha não tenha DOP/IGP, a área de vinha para vinhos certificados como DOP e IGP aumentou bastante, o que é uma dinâmica muito positiva.

As castas mais plantadas na Beira Interior, segundo o IVV, são Rufete e Siria representando 16,2% e 15,6% da área plantada, respectivamente. O Aragonez também tem uma grande presença na região ocupando 14,5% da vinha.

As primeiras duas castas existiam antes da filoxera, variando um pouco entre as zonas, e expressam mais a região, mas na maior parte dos vinhos entram em lotes. Outras castas antigas são Fonte Cal, Malvasia, Gouveio, Rabigato e Folgasão, nas brancas e Marufo, Bastardo, Tinta Francisca, Donzelinho, entre castas tintas. Com o passar do tempo e novas tendências o encepamento mudou e hoje encontramos na região as castas nacionais de outras regiões (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, por exemplo) e estrangeiras como a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot. Até Sangiovese e Nebbiolo foram plantadas pela Quinta dos Termos a título de experiência.

A casta Rufete, também é conhecida como Tinta Pinheira no Dão e encontra-se em pouca quantidade noutras regiões, ocupando 2% de encepamento do país. Produz imenso, diz o produtor José Afonso, das Casas Altas. Tirando isto, na sua opinião, é bem amiga do viticultor. Antigamente, quando chovia mais no Outono, verificavam-se problemas de podridão a que a casta é sensível, ultimamente nem isto. Na adega tem tendência para aromas um pouco reduzidos, pelo que convém transfegar logo quando acaba a fermentação.

Pela sua grande produtividade, o Rufete ganhou alcunha de “pai dos pobres”. Nas adegas cooperativas chegava a produzir até 20 tn/ha, perdendo completamente a sua identidade e imagem, e nos anos 80-90 acabou por ser renegada na sua terra natal. O proprietário da Quinta dos Termos, João Carvalho, contou uma vez que em algumas adegas cooperativas até nem se aceitavam novos sócios com muito Rufete, dando preferência a outras castas.

O Rufete origina vinhos de grau alcoólico contido, com pouco tanino, cor aberta e acidez média. Plantada nos sítios certos, em solos pobres, com produções controladas a não ultrapassar 6-7 tn/ha, produz vinhos sérios, mas delicados, com frescura e carácter próprio.

A enóloga e produtora Patrícia Santos (Rosa da Mata), refere que, em termos aromáticos, Rufete tem bastante fruta, mas é delicada, nada de excessos. Tem bastante acidez e evolui bem em barrica.

É sempre uma óptima alternativa a vinhos mais extraídos, carnudos e tánicos que são cada vez mais apreciados pelos enófilos, mas nem sempre a cor mais aberta do Rufete é entendida pelo consumidor geral. José Afonso explica que vende os vinhos de Rufete mais aos conhecedores e hotelaria de luxo do que ao consumidor menos informado, embora as pessoas mais antigas da região, que entendiam o vinho como parte da alimentação, aceitassem bem a cor menos intensa.

A casta Síria no nosso país responde por muitos nomes: Roupeiro no Alentejo e Códega no Douro, são os sinónimos oficiais. Para além disto é conhecida como Alvadourão ou Alvadurão no Dão, Malvasia Grossa e Dona Branca em Bucelas e Crato Branco no Algarve. Até na Beira Interior, na zona de Belmonte, e em Portalegre, usava o sinónimo de Alva. Como vemos é bastante comum em várias regiões e ocupa 3% do encepamento nacional. Mas é na Beira Interior que a casta se destaca pela maior frescura e aromas menos terpênicos, mais delicados e focados, mas que duram mais tempo no envelhecimento em garrafa. Segundo Patrícia Santos, a Síria é uma casta muito versátil e expressa de forma identificativa não só a região da Beira Interior, como também cada sub-região. Na zona de Castelo Branco demonstra mais perfume, mas consegue manter a frescura; na zona de Pinhel é mais discreta, mais selecta; na zona de Figueira é um compromisso entre as outras duas.

A Fonte Cal é uma casta originária da zona de Pinhel e praticamente só existe na Beira Interior, sobretudo nos encepamentos antigos. Representa menos de 1% do encepamento da região, mas encontra-se principalmente em vinhas velhas onde existe uma mistura de muitas castas e por isto não se encontra identificada pelo IVV como Fonte Cal. É uma casta vigorosa, mas não muito produtiva. Precisa de mais tempo para amadurecer do que a Síria, mas perde rapidamente a acidez, pelo que a janela de vindima é muito pequena. Por esta razão entrava sempre nos lotes com Síria ou Arinto com mais nervo.

Patrícia Santos refere que na adega a Fonte Cal também não é fácil. Tem tendência para oxidar e perde aromas rapidamente. Como se não bastasse, apresenta instabilidade em termos de tartaratos de cálcio e tem tendência para o pinking (um fenómeno oxidativo do vinho branco, dando origem a uma evolução da cor para um tom cinzento-rosado). A verdade é que continuam a existir muito poucos vinhos monovarietais de Fonte Cal.

Algumas castas antigas da região são pouco conhecidas hoje em dia e trazem alguma polémica quanto à sua origem. E o caso da Callum, vinificada em extreme pela Quinta dos Termos. As opiniões dividem-se e nem os especialistas chegam a um consenso: uns dizem que é uma das castas antigas na zona que era chamada Pinhal Interior, enquanto existe possibilidade de ser a mesma casta chamada Batoca na região de Vinhos Verdes. Também foi referenciada nos distritos de Aveiro, Leiria, Vila Real e Bragança, com os nomes de Sedouro ou Alvaraça. Mas independentemente da sua origem, não há dúvidas que a casta teve sempre presença naquela zona da Beira Interior. Antes da filoxera entrava nos encepamentos de Sertã, Covilhã e Belmonte. O produtor e enólogo Pedro Carvalho conta que Callum já era autorizada para produção de vinhos na antiga Cova da Beira ainda antes de criação da denominação de origem.

Tudo começou quando a Quinta dos Termos adquiriu em 2015 outra propriedade – Herdade de Lousial, onde plantou nos cerca de 2 hectares 92 clones de Callum, provenientes de zonas distintas do pais, incluindo o Minho. Fizeram-se cerca de 1200 garrafas de um vinho único desta casta em 2020 e a experiência foi repetida em 2021, com mais de 3 mil garrafas.

A casta Fernão Pires não é muito associada à Beira Interior, ocupando cerca de 1% de vinha, mas tem na zona de Pinhel uma expressão bem interessante. Patrícia Santos ficou fascinada pela performance da casta que em Pinhel mostra uma quase salinidade inexplicável. Compara com vinhos de Sancerre, que, feitos de uma casta aromática, naquela região revelam uma personalidade diferente. No final de fermentação o vinho passa para as pipas de 500 litros, onde permanece pelo menos um ano. A produtora gosta de vinhos com madeira para dar outra dimensão ao vinho, desde que não seja exagerada. Deste vinho produz  apenas 1500 litros, mas faz um vinho de que gosta e que reflecte o terroir.

Na zona de transição para a região do Douro, os solos são xistosos e nota-se grande presença das castas durienses. As vinhas da Casas do Côro, na aldeia histórica de Marialva a poucos quilometros de Mêda, são velhas com quase 100 anos, com produções baixíssimas de 1500 kg/ha e ficam numa altitude de 600 metros. Entre as castas tintas predominam Mourisco e Touriga Franca e nas brancas Rabigato e Códega, aos quais se juntam uvas de Rabigato, Verdelho da Madeira e Donzelinho, provenientes da primeira vinha plantada em 2009.

Projectos novos e antigos

Na Beira Interior nota-se um movimento em direcção à qualidade e valorização da região. Já há produtores de renome, marcas associadas aos vinhos de autor, com personalidade vincada, que começam a ficar emblemáticas para a região, como a Casas de Côro, Biaia, Quinta dos Termos (também é uma das mais antigas) e Rui Madeira, entre outros.

E quase todos os anos aparecem projectos novos de grande dedicação e com propósito. Podem não ter ainda dimensão, mas contribuem para o nível qualitativo da região. Um dos mais interessantes é o de Miss Vitis Wines com marca Bal da Madre. Gil Taveira conta que o projecto começou no Douro pelo seu avó e com ele teve continuação. Há poucos anos resolveu apostar na Beira Interior para fazer vinhos de agricultura biológica, já que a região reúne as condições para isso. Em conjunto com produtores de azeite e mel, entre outros produtos, exportam para o Reino Unido, transportando a mercadoria em veleiros (para reduzir a pegada ecológica). O nome Bal da Madre significa “Vale da Mãe” em língua mirandesa e presta homenagem à mulher e à videira, onde tudo começa. A primeira colheita foi de 2017. O perfil dos vinhos é muito limpo, delicado, com uma simplicidade cativante.

A notoriedade constrói-se com resiliência e dedicação e pequenos projectos por vezes seguem conceitos bem sucedidos, são rapidamente captados pelos radares dos enófilos e propagados, valorizando a imagem global da região.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2022)

 

Trafaria (com) Prova com mais de 7000 visitantes

trafaria com prova

Depois de dois anos de ausência devido à pandemia, a Trafaria voltou a viver momentos intensos com o festival Trafaria (com) Prova que decorreu entre 8 e 10 de Julho numa organização do Município de Almada e produção da Grandes Escolhas. Com a presença de 20 expositores de vinhos, representado várias regiões vinícolas do país […]

Depois de dois anos de ausência devido à pandemia, a Trafaria voltou a viver momentos intensos com o festival Trafaria (com) Prova que decorreu entre 8 e 10 de Julho numa organização do Município de Almada e produção da Grandes Escolhas.

Com a presença de 20 expositores de vinhos, representado várias regiões vinícolas do país e uma presença internacional dos vinhos da Moldávia, a que se juntaram os deliciosos petiscos locais de oito restaurantes participantes e de quatro pastelarias, o evento atraiu muitos visitantes que puderam disfrutar de bons momentos à beira Tejo.

O imenso calor que se fez sentir no fim de semana não desencorajou os participantes e foram muitos os que aproveitaram as condições únicas do Passeio Ribeirinho da Trafaria para passar momentos descontraídos. Para os consumidores mais exigentes as provas de vinho comentadas pelo critico Luís Antunes foram um momento alto e muito participado. Actividades para crianças, actuação de bandas e tunas musicais, teatro de rua e DJs, completaram a oferta de uma festa que foi concebida para agradar a toda a família.

 

Editorial: Ser “vigneron”

Editorial

Fazer vinho exclusivamente a partir das suas próprias uvas tem hoje, em Portugal, muito mais desvantagens do que benefícios. É que, aos enormes constrangimentos de produção que esse modelo obriga, não corresponde um acréscimo efectivo de notoriedade ou valor de marca junto do consumidor. Para este último, são todos produtores de vinho. Mas não é […]

Fazer vinho exclusivamente a partir das suas próprias uvas tem hoje, em Portugal, muito mais desvantagens do que benefícios. É que, aos enormes constrangimentos de produção que esse modelo obriga, não corresponde um acréscimo efectivo de notoriedade ou valor de marca junto do consumidor. Para este último, são todos produtores de vinho. Mas não é verdade.

Vem este tema a propósito de uma das peças desta edição de julho da Grandes Escolhas, a que aborda os extraordinários Garrafeiras brancos da Quinta das Bágeiras e do seu criador, Mário Sérgio Nuno. Alguém que, contra ventos e marés, criou uma marca de referência e que, teimosamente, continua a fazer os seus vinhos exclusivamente a partir das uvas que crescem nas suas vinhas. Mesmo que, para tal, abdique de vender, a bom preço, mais umas boas dezenas de milhar de garrafas por ano. A única compensação: poder, com orgulho e legitimidade, intitular-se “Vigneron” e manifestar isso mesmo nas T-shirt que usa nos eventos e provas de vinho. Mas, feitas as contas, vale a pena?

Tempos houve em que acreditei que sim. Quando comecei a escrever sobre vinhos, em 1989, a estrutura de produção, em Portugal, estava perfeitamente definida. Havia as adegas cooperativas, que vinificavam as uvas dos cooperantes; havia os armazenistas puros, que não vinificavam (e eram muitos, acreditem!), compravam vinho feito que engarrafavam com a sua marca; havia os armazenistas “híbridos”, que faziam o mesmo que os anteriores mas também vinificavam, compravam uvas e, por vezes, até tinham algumas vinhas; havia os viticultores, que vendiam uvas e, muitas vezes, também faziam vinho para vender a granel aos armazenistas; e havia os produtores-engarrafadores que, genericamente, correspondiam aos então chamados “vinhos de quinta” que começavam a ganhar notoriedade. Este conceito de fazer vinho a partir de uvas de uma só quinta mexeu bastante com o mercado dos anos 90: eram vinhos bem mais cotados e mais caros do que os de “armazenistas”. Significava que eram melhores? Nuns casos sim, noutros não. Mas os consumidores tinham por eles mais respeito e estavam dispostos a pagar mais.

Com o tempo, tudo isto se diluiu. Hoje, para o apreciador, mesmo o mais exigente, tudo entra no mesmo saco com a etiqueta “produtor de vinho”, incluindo os “marketeiros” que assinam rótulos de vinho que nunca produziram. No entanto, a legislação existe e é bem explícita. A inscrição obrigatória, no IVV, para o exercício de atividade no sector vitivinícola, determina em que categoria, ou categorias se está. Alguns exemplos, resumidos, da lei. “Armazenista: pratica o comércio de vinho a granel ou engarrafado”; “Negociante sem estabelecimento: compra e vende vinhos engarrafados sem dispor de instalações para a sua armazenagem” (aqui caberiam muitas das marcas de nicho hoje reverenciadas em restaurantes da moda…); “Produtor: produz vinho a partir de uvas obtidas na sua exploração ou compradas” (aqui se insere a esmagadora maioria das empresas nacionais); “Vitivinicultor-engarrafador: elabora vinho a partir de uvas produzidas exclusivamente na sua exploração vitícola” (é o que, em França, se chama “vigneron”). As empresas podem inscrever-se em mais do que uma categoria, mas a lei determina que a inscrição como vitivinicultor-engarrafador é incompatível com a inscrição como armazenista ou como produtor. Ou seja, é o que tem as mãos “atadas”, sem vantagens óbvias.

Ao contrário do que, até junho de 2019, era obrigatório colocar nas cápsulas de todos vinhos franceses (R de “recoltant” ou N de “negociant”) e que ainda hoje se mantém em diversas AOC, como Champagne (aqui até de forma bem mais rigorosa), em Portugal essa obrigatoriedade nunca existiu. Resultado: os poucos “vigneron” que ainda existem entre nós vão fazendo contas à vida e percebendo que não compensa insistir nesse ideal romântico, mas pouco rentável, de usar só as uvas que criam. São vinhos melhores do que os outros? Não necessariamente. Mas num mercado que, tantas vezes, paga irracionalmente a diferença, esta é uma diferença que merece ser paga.

Editorial da edição nº 63 (Julho 2022)

Séries RCV- A engarrafar o futuro

Séries RCV

Tudo começou com um Rufete de 2010, e hoje são já 13 varietais. O projecto Séries, da Real Companhia Velha, tem sido um autêntico esboço do presente e do futuro dos vinhos não fortificados da empresa. Um estudo aprofundado do potencial vitícola e enológico de cada casta antiga do Douro. Texto: Mariana Lopes Fotos: Real […]

Tudo começou com um Rufete de 2010, e hoje são já 13 varietais. O projecto Séries, da Real Companhia Velha, tem sido um autêntico esboço do presente e do futuro dos vinhos não fortificados da empresa. Um estudo aprofundado do potencial vitícola e enológico de cada casta antiga do Douro.

Texto: Mariana Lopes

Fotos: Real Companhia Velha

No Douro, estão reconhecidas cerca de 150 castas autóctones autorizadas para produção de vinho. Só nas vinhas velhas, encontram-se várias dezenas de variedades diferentes, umas mais populares e amplamente utilizadas nos vinhos de hoje, e outras já consideradas raras, existentes em pouca quantidade, algumas com excelentes aptidões na adega. Isto é mais do que razão para se tirar partido prático desta riqueza varietal, e é mesmo isso que a Real Companhia Velha está a fazer com o projecto Séries. “A grande vantagem das vinhas velhas do Douro não é apenas a idade, é, precisamente, a diversidade de castas que lá encontramos, como as familiares Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, naturalmente a Touriga Nacional, mas também outras muito interessantes como Tinta da Barca, Cornifesto, Malvasia Preta, Donzelinho Branco, Donzelinho Tinto… castas estas que produzem, e que se mostram adaptáveis às condições austeras do Douro”, sublinhou Pedro O. Silva Reis, Fine Wine Manager da empresa com sede em Vila Nova de Gaia, na apresentação dos novos Séries. Na verdade, foi esta diversidade que inspirou o nascimento desta gama de ensaios, onde se exploram diferentes técnicas na adega, castas e abordagens: em 2002, depois de várias visitas a campos ampelográficos do Douro, a equipa técnica da Real Companhia Velha inspirou-se e iniciou a aposta na recuperação de mais de 30 variedades autóctones. Séries RCV

Na Quinta do Casal da Granja, em Alijó, estão as brancas Alvarelhão Branco, Alvaraça, Branco Gouvães (ou Touriga Branca), Esgana Cão, Donzelinho Branco, Moscatel Ottonel, e Samarrinho. Já as tintas Bastardo, Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Preto Martinho, Cornifesto, Rufete, Tinta da Barca, Tinta Francisca e Tinto Cão, são da Quinta das Carvalhas, junto ao Pinhão. Quase todas foram plantadas pela empresa em parcelas estremes com área mínima de um hectare, para serem estudadas quanto ao comportamento agronómico e avaliado o seu potencial em vinhos varietais. Como explicou Jorge Moreira, responsável de enologia da Real Companhia Velha, foram “também às vinhas velhas à procura das castas mais antigas, para as vinificar separadamente”.

Famosa pelos seus vinhos do Porto, a Real Companhia Velha arrancou com o seu projecto de vinhos não fortificados — chamado Fine Wine Division — em 1996, ano em que resolveu “apostar na produção de grandes vinhos do Douro”, referiu o enólogo. “Começámos a melhorar a forma como tratávamos da vinha para termos uvas de qualidade, e a apostar em novas técnicas de vinificação, mais cuidadas e precisas. Sentimos necessidade de perceber, entre a enorme panóplia de castas que tínhamos, o que é que cada uma representava”, desenvolveu. Assim, ainda no final dos anos 90 e já com o “bichinho” dos estudos varietais, a empresa começou a engarrafar vinhos monocasta com as marcas Porca de Murça e Quinta de Cidrô, como Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Chardonnay, ou Cabernet Sauvignon. “Poucos se mantiveram, mas foram importantíssimos para percebermos as nuances de cada uma das castas na vinha e na adega, e permitiu-nos das um grande salto qualitativo”, explicou Jorge Moreira.

Séries RCVCom primeiro lançamento em 2012, de um Rufete 2010, as Séries contam já com 13 referências, algumas com mais de uma edição, o que totaliza mais de 30 vinhos, incluindo brancos, tintos e espumante. No recentemente inaugurado The Editory Riverside Hotel, em Santa Apolónia, foram lançadas as mais recentes colheitas dos Donzelinho Branco, Bastardo, Rufete, Malvasia Preta e Cornifesto; e também a novidade absoluta, um Tinta Amarela, cujas uvas têm origem na Quinta dos Aciprestes. Como “teaser” do que sairá em breve, provou-se um Samarrinho de 2019 e um Branco Gouvães de 2018.

“Isto é algo que teve um grande impacto na Real Companhia Velha. Os Séries marcaram muito a nossa forma de produzir vinho, criaram-se técnicas na adega muito a pensar nas uvas que estamos a vinificar, como uso ou não de engaço, maior ou menor extracção, remontagens… no fundo, aprendemos muito com este projecto”, afirmou Pedro Silva Reis, e Jorge Moreira rematou: “O que se passa aqui são as bases do futuro da Real Companhia Velha. Estamos entusiasmados, nunca fizemos vinhos tão bons, e falo de nós e do Douro em geral. Os Séries são, hoje, as sementes para fazer mais tarde vinhos ainda melhores. São lições que aprendemos, de conhecimento e de prazer”. Para “adoçar a boca”, a dupla revelou ainda que, na calha, está um Tinta da Barca e um Moreto…

(Artigo publicado na edição de Maio 2022)

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Dora Simões é a nova presidente da direcção da CVR dos Vinhos Verdes

Dora Simões Presidente

Duas mulheres eleitas para a liderança no mandato 2022-2025 Dora Simões acaba de ser eleita para o cargo de Presidente da Direcção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) para o triénio 2022-2025, contando com Óscar Meireles e Rui Pinto como Vogais, em representação do Comércio e da Produção, respectivamente. Natural do […]

Duas mulheres eleitas para a liderança no mandato 2022-2025

Dora Simões acaba de ser eleita para o cargo de Presidente da Direcção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) para o triénio 2022-2025, contando com Óscar Meireles e Rui Pinto como Vogais, em representação do Comércio e da Produção, respectivamente.

Natural do Porto e licenciada em English for International Business pela University of Central Lancashire, no Reino Unido, Dora Simões conta com um percurso profissional de mais de 25 anos em que se destacam funções de relevo no sector dos vinhos, desde gestão de Marketing na Europa Central da Ernest & Julio Gallo Winery, à Direcção-Geral da ViniPortugal ou a Presidência da Direcção da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), onde lançou e desenvolveu o Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) que constitui uma referência a nível nacional e internacional. Dora Simões foi eleita por unanimidade para suceder a Manuel Pinheiro, Presidente da Direcção da CVRVV durante cerca de duas décadas, na qual assumiu 7 mandatos.

Pela primeira vez, a CVRVV conta com duas mulheres na liderança da Região, com Celeste do Patrocínio a assumir a Presidência do Conselho Geral, numa instituição em que historicamente a Direcção dos Departamentos é maioritariamente assumida no feminino.

“É um enorme orgulho e uma grande responsabilidade assumir a liderança de uma Região que se posiciona com diferenciação pela qualidade e que tem sido um exemplo a nível nacional e na promoção da marca Vinho Verde em mais de uma centena de mercados externos. Esta Direcção tem como missão manter esse crescimento nas exportações e no mercado nacional, reforçando o papel pioneiro que a CVRVV tem tido no desenvolvimento de ferramentas de apoio aos viticultores, na promoção do trabalho de produtores e engarrafadores e no aumento da base de consumidores dos vinhos desta Região única no Mundo”, destaca Dora Simões, Presidente da Direcção da CVRVV.