A Escolha do Mestre: A arte do lote

A criação de um bom lote é obtida através da sobreposição de componentes com atributos únicos usados para melhorar aspectos como cor, frescura, estrutura ou adicionar características específicas de frutas ou especiarias com a finalidade de realçar sabor, ganhar complexidade, aperfeiçoar o equilíbrio e dar ao vinho melhor qualidade. Fazer o ‘lote’ ou ‘blend’ é […]
A criação de um bom lote é obtida através da sobreposição de componentes com atributos únicos usados para melhorar aspectos como cor, frescura, estrutura ou adicionar características específicas de frutas ou especiarias com a finalidade de realçar sabor, ganhar complexidade, aperfeiçoar o equilíbrio e dar ao vinho melhor qualidade. Fazer o ‘lote’ ou ‘blend’ é simplesmente o acto de misturar diferentes vinhos com o objectivo de obter um produto cuja soma das partes é superior às partes individuais.
Em épocas distantes, diferentes castas eram misturadas na mesma parcela como uma espécie de seguro contra pragas, doenças, guerra ou desafios da natureza, com o objetivo de proporcionar um rendimento regular. Através desse método, ainda utilizado hoje, uvas provenientes de vinhedos mistos, conhecidas como “field blends”, são colhidas, esmagadas e fermentadas em conjunto. Os resultados são menos previsíveis e precisos, mas a combinação dos diferentes estágios de maturação ajuda proporcionar equilíbrio e complexidade.
De certa forma, é possível considerar a maioria dos vinhos como vinhos de lote, pois mesmo no caso de um ‘Single Vineyard’ a fruta é oriunda de diferentes partes do vinhedo cujo microclima específico irá adicionar nuances ao resultado final.
Exceptuando alguns casos específicos, como o vinho do Porto, antes do século XX, quando as leis que supostamente governavam a produção de vinhos raramente eram respeitadas, o acto de fazer lote em vinhos tranquilos tinha pouco a ver com qualidade, chegando mesmo a ser utilizado para fins comerciais ilícitos. Fazer um lote era algo visto como suspeito, quase uma falsificação. Actualmente, o acto de fazer um lote é frequentemente utilizado como uma ferramenta para oferecer um produto de qualidade superior.
Os vinhos de lote elaborados hoje foram lapidados ao longo dos anos e o método de eleboração sobreviveu ao teste do tempo pelo facto de ter produzido bons resultados. O interesse dos consumidores por vinhos distintos tem incentivado os produtores portugueses a lançar vinhos monovarietais, o que tem ajudado viticultores e enólogos a compreender o extraordinário potencial de castas menos conhecidas. A herança histórica, experiência e o extraordinário número de variedades encontradas no território português oferecem um número invejável de componentes que permitem aos produtores demonstrar criatividade e gerar alguns dos melhores e mais interessantes vinhos de lote do mundo. Alguns desses vinhos são misturas regionais clássicas bem estabelecidas, outros são vinhos incomuns, exóticos, capazes de surpreender os paladares mais exigentes.
Estilos e segmentos
A arte do lote é vital tanto na produção dos vinhos mais ambiciosos quanto na criação de vinhos para o dia à dia. Para vinhos mais simples, o lote pode ajudar mitigar imperfeições e suavizar diferenças entre as vindimas, conferindo consistência. Eis porque, na maioria dos países europeus, a legislação permite a adição de até 15% de uma colheita, casta ou origem diferente da que está especificada no rótulo. Carlos Lucas, enólogo e CEO da Empresa Magnum, acredita que fazer um lote para um vinho de entrada de gama pode muitas vezes ser um grande desafio, no sentido em que se torna importante adicionar um elemento vital na equação, ou seja, volume. Não basta apenas ir ao encontro do vinho pretendido, mas é preciso levar em consideração as respectivas quantidades disponíveis e avaliar o que é possível fazer. A exigência de quantidade e consistência que existe no segmento dos vinhos dos primeiros escalões de preço pode tornar o processo de execução de lote desafiante e envolvente.
Para Pedro Correia, enólogo chefe dos vinhos Douro da Symington, fazer lotes para vinhos de entrada de gama significa demonstrar preocupação em manter certo estilo ou perfil pré-determinado da marca, levando em consideração as características do público-alvo. Por outro lado, vinhos premium exigem, além de harmonia, tipicidade e alta qualidade, a capacidade reflectir as características da colheita e do terroir. Como refere Luís Sottomayor, director de enologia da Sogrape no Douro, o lote de um vinho de alta qualidade precisará de componentes com mais amplitude e complexidade e, como tal, vai necessitar uma gama de aromas e sabores mais diversos.
Os desafios do lote
São vários os desafios na hora de fazer um lote, desde limitações de componentes, fatores logísticos, espaço e estabilidade química, dentre outros. Carlos Lucas descreve o lote como a combinação de três factores: inspiração, habilidade técnica e experiência. Todos são cruciais para se obterem vinhos equilibrados e elegantes. Explicado de forma simples, Luís Sottomayor acredita que manter o equilíbrio entre as distintas variedades de uva e, ao mesmo tempo, permitir que as mesmas expressem seus aromas e demonstrem as suas características, são os principais desafios. Na opinião de Pedro Correia o aspecto mais desafiante é tentar encontrar uma combinação perfeita entre os diferentes componentes, de modo que, o resultado seja melhor do que as partes individuais. Além disso, caso haja um perfil organoléptico a manter, o desafio é chegar ao mesmo resultado partindo de um conjunto de componentes diferentes ano após ano. Dependendo do estilo do vinho, existem parâmetros que se tornam mais relevantes na hora de executar o lote. De acordo com Carlos Lucas, a cor é algo importante a considerar independentemente do estilo, mas quando se trata de um vinho tinto é crucial pensar também na estrutura e taninos da mesma forma que quando se trata de um branco, espumante e rosé é importante considerar o perfil aromático e acidez acima de tudo. Fazer um lote para espumantes, para Carlos Lucas, constitui uma arte bastante mais especifica (e, também, especializada). O objectivo é iniciar com uma base neutra e isso requer do enólogo experiência e capacidade de previsão, visto que o vinho ainda deve passar pela segunda fermentação, período de envelhecimento, seguido pelo ‘degorgement’ e adição do ‘licor de expedição’; tudo isso vai alterar o vinho radicalmente antes de ele chegar ao mercado.
Já para Pedro Correia, é importante ter em conta se o vinho tem data de colheita, caso em que o blend deve reflectir as características do ano; ou caso se trate de uma mistura de anos (como acontece num Porto tawny, por exemplo), será fundamental manter inalterado, em cada engarrafamento, o estilo e perfil da marca ou produtor.
Exercendo controlo
Para assegurar sucesso é importante que o enólogo tenha o objetivo claro antes da fruta chegar na adega e que desde o início esteja no controle do processo. Luís Sottomayor considera mais vantajoso fazer o lote o mais cedo possível para que o vinho já nasça com seus componentes ligados, o que pode acontecer mesmo na cuba onde irá fermentar, salvo algumas excepções, pois acredita que sua harmonia será melhor, mais natural e equilibrada. Pedro Correia prefere manter os componentes separados ou fazer uma junção parcial e acompanhar a evolução do lote por cerca de 12 meses dando tempo para uma melhor consolidação da matriz para então fazer nova avaliação antes de definir o blend final, evitando engarrafar demasiadamente cedo. Carlos Lucas recomenda abstrair-se de uma prova muito técnica e prefere pensar em como agradar o consumidor final. Para Pedro Correia, o segredo é nunca ter pressa, ponderar decisões, dar tempo de modo a não tomar decisões precipitadas. Luís Sottomayor diz que “seguir a intuição” é um dos melhores conselhos que já lhe foi dado.
As mudanças climáticas
Melhor análise de parâmetros enológicos e novas tecnologias laboratoriais tem resultado em vinhos de lote de maior precisão e qualidade. Luís Sottomayor complementa dizendo que a grande evolução que aconteceu nos últimos anos está relacionada com a experiência pessoal que torna os enólogos mais aptos e confiantes no seu trabalho, o que consequentemente gera maior índice de sucesso. Para Pedro Correia o aprofundamento do conhecimento das castas, de como evoluem e a capacidade de integração de cada uma delas tem contribuído significantemente para elaboração de vinhos cada vez melhores e mais profundos. Já Carlos Lucas defende que, actualmente, é possível fazer lotes com mais convicção e com características que permitem ao vinho manter-se na garrafa durante mais tempo.
Entretanto, as mudanças climáticas que estamos observando nos últimos anos vão requerer capacidade de adaptação. Além de mudança no perfil da fruta, devemos esperar, também, colheitas irregulares, e que as castas mais frágeis desapareçam. Carlos Lucas prevê que castas capazes de suportar as ameaças climatéricas, e oferecer rendimento adequado, ganharão muito maior expressão, tanto a nível varietal como em lotes. Isso vai exigir mais investigações das castas autóctones, muitas delas ainda não devidamente estudadas. Os lotes serão dominados por castas mais resistentes ao calor, não tanto por estilo, mas por necessidade. Luís Sottomayor concorda que será imprescindível conhecer melhor as castas, suas características e principalmente como respondem às diferentes condições climatéricas, mas acrescenta que Portugal, devido ao seu terroir tão heterogéneo, terá a possibilidade de misturar uvas oriundas de locais com exposições e altitudes distintas para obter o resultado esperado.
Portugal e os lotes do futuro
A arte de fazer vinhos de lote teve origem há seculos desde quando vinhas plantadas com muitas castas, brancas e tintas, serviam como uma garantia contra desastres naturais e calamidades. Crescente investigação, desenvolvimento das técnicas de viticultura e métodos de vinificação modernos proporcionam hoje aos produtores melhor controle e mais precisão na hora de fazer o lote. Os produtores portugueses, grandes mestres na arte de fazer lote, contam com invejável número de castas para demostrar a sua criatividade e gerar vinhos únicos, o que em muitos casos pode significar uma vantagem comercial formidável. Para consumidores que buscam algo diferente e autêntico, é inegável que os vinhos portugueses oferecem excelentes alternativas. No entanto, os desafios impostos pelas mudanças climáticas certamente exigirão adaptações por parte dos produtores para conseguir manter o estilo, qualidade e a consistência dos vinhos no futuro. Para que isso aconteça é crucial investir tempo, energia e recursos agora. É preciso aprimorar ainda mais a compreensão sobre o comportamento das castas para que no futuro os produtores portugueses continuem sendo os mestres da arte do lote.
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)
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Conde Vimioso Vinha do Convento
Tinto - 2017 -
Quinta da Extrema Edição II
Branco - 2017 -
Monte Branco
Tinto - 2018 -
Taboadella Grande Villae
Tinto - 2019 -
Ribeiro Santo Vinha da Neve
Tinto - 2016 -
Quinta da Leda
Tinto - 2019 -
LV Lobo de Vasconcellos
Tinto - 2019 -
Quinta do Vesúvio
Tinto - 2020 -
AdegaMãe Terroir
Branco - 2017 -
Quinta das Bágeiras Pai Abel
Branco - 2019 -
Pedra Cancela
Branco - 2020 -
Arché
Branco - 2020
Já são conhecidos os vencedores do “Mutante Awards Design at Wine”

A edição inaugural dos mutante awards design at wine, organizados pela revista Mutante e pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, caracteriza-se por um conjunto eclético de candidaturas, com vinhos de todas as regiões vitivinícolas do território continental a concurso, com participação de pequenos e grandes produtores nacionais, ateliers de design especializados e agências […]
A edição inaugural dos mutante awards design at wine, organizados pela revista Mutante e pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, caracteriza-se por um conjunto eclético de candidaturas, com vinhos de todas as regiões vitivinícolas do território continental a concurso, com participação de pequenos e grandes produtores nacionais, ateliers de design especializados e agências generalistas, bem como designers independentes.
O objetivo deste concurso é criar um espaço de reflexão para designers e demais intervenientes no processo de encomenda, concepção, execução e difusão dos projectos de rótulos; Registar, fazer o arquivo e estudo do design de rótulos de vinho e valorizar a produção nacional. Contribuir para a criação de conhecimento específico e incremento da literacia visual aplicada ao design de rótulos e garrafas de vinho.
Depois do primeiro acto, realizado no dia 27 de Junho de 2023, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, uma mesa-redonda onde foi debatido “O papel dos rótulos nos vinhos portugueses”, chegou a hora do concurso nacional de rótulos de vinho. No total foram atribuídas 20 distinções, de 14 produtores e de 10 designers ou estúdios de design.
Foram mais de 100 vinhos a concurso, com o júri a premiar rótulos de tipologias muito diversas e a avaliar a sua integração na garrafa a partir de critérios de qualidade, expressão, criatividade e inovação e conexão emocional.
A escolha dos jurados mostra um panorama diferenciado com vinhos convencionais e vinhos de baixa intervenção a ser premiados, cobrindo um espectro alargado que vai das gamas de entrada aos vinhos premium com uma autoria composta por designers consagrados e novos talentos.
Os resultados podem ser vistos como um espelho do design produzido em Portugal e mostram o potencial estratégico dos rótulos na comunicação dos vinhos na relação com o consumidor.
Nesta primeira edição dos mutante awards design at wine foram premiados três vinhos de cada uma das cinco categorias: Espumantes, Brancos, Rosados, Tintos, e Licorosos. Foram ainda atribuídos três prémios especiais para caixas e dois para conjuntos. Na categoria Aguardentes não foram atribuídos prémios por falta de candidatos.
Seguir-se-á a publicação de um livro (phygital, em papel e digital) com textos resultantes da mesa-redonda, análise dos resultados do concurso, com registo e arquivo fotográfico dos vencedores e de diversos outros candidatos que, mesmo não tendo sido premiados, de alguma forma se distinguem.
O desenvolvimento do projeto poderá ser acompanhado na página da Mutante.
Constituição do júri:
Emílio Vilar (FBAUL), Maria Ferrand (SAL Studio), Patrícia Serrado (Mutante), Ricardo Bonacho (Food Design Lab e Universidade Europeia), Sandra Vicente (IVV) e Vítor Quelhas (ESMAD IPP)
Mutante Awards Design at Wine – Premiados:
Espumantes
Vinho: Espera Nat Cool 2022 | Produtor: Espera Wines | Design: Nauvegar
Vinho: Quetzal Espumante 2019 | Produtor: Quinta do Quetzal | Design: Studio Eduardo Aires
Vinho: Soalheiro Pet Nat Alvarinho 2022 Produtor: Soalheiro Design: Juliana Pires
Brancos
Vinho: Milmat | Produtor: Mainova | Design: CO+K
Vinho: Rovisco Garcia Branco 2022 | Produtor: Rovisco Garcia | Design: Brava
Vinho: Taifa Branco 2020 | Produtor: Symington Family Estates | Design: Bisarro Studio
Rosés
Vinho: Malhadinha Rosé 2021 | Produtor: Herdade da Malhadinha Nova Design: Studio Eduardo Aires
Vinho: Mateus Rosé Original | Produtor: Sogrape | Design: Stranger and Stranger
Vinho: Rovisco Garcia Rosé 2022 | Produtor: Rovisco Garcia | Design: Brava
Tintos
Vinho: Élevage Tinto 2021 | Produtor: Herdade do Sobroso | Design: RitaRivotti
Vinho: Tapada de Coelheiros Tinto 2019 | Produtor: Herdade de Coelheiros | Design: Studio Eduardo Aires
Vinho: Teixinha Field Blend Tava Tinto 2021 | Produtor: Herdade da Malhadinha Nova | Design: 327 Creative Studio
Licorosos
Vinho: Churchill’s 30 Year Old Tawny Port | Produtor: Churchill’s | Design: Made Thought
Vinho: SVP Moscatel de Setúbal 10 Anos | Produtor: SVP | Sociedade Vinícola de Palmela | Design: CO+K
Vinho: Vale Dona Maria Very Old Porto 1969 | Produtor: Quinta Vale Dona Maria | Design: RitaRivotti
Especiais
Caixa
Vinho: Churchill’s 30 Year Old Tawny Port | Produtor: Churchill’s | Design: Made Thought
Vinho: Élevage | Produtor: Herdade do Sobroso | Design: RitaRivotti
Vinho: Teixinha Field Blend Tava Tinto 2021 | Produtor: Herdade da Malhadinha Nova | Design: 327 Creative Studio
Conjuntos (mínimo de 3 garrafas)
Vinho: Lés-a-Lés | Produtor: Lés-a-Lés | Design: RitaRivotti
Vinho: Mélange à Trois | Produtor: Sogrape | Design: RitaRivotti
O design at wine é um projeto de João Manaia Rato, designer de comunicação, fundador e director da revista Mutante, e de Suzana Parreira, docente do Departamento de Design de Comunicação da FBAUL e autora do blogue “Gourmets Amadores”, no qual o vinho tem sido explorado pela sua pena no contexto gastronómico.
Integrado no CIEBA – Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e com o apoio da revista Mutante, o projeto design at wine celebra os rótulos dos vinhos portugueses, promovendo a sua valorização e a intervenção dos diferentes agentes do setor do vinho na relação com o designers e com o design.
Chocapalha: Uma família, uma quinta, uma adega

A paisagem é convidativa, montes e vales em ligeira ondulação, serras ao fundo, mar não muito longe, terrenos apropriados, vento quanto baste e javalis também por perto. Tudo assim se conjugou para o desenvolvimento de um projecto de família, que assentou arraiais numa quinta em tempos pertença de um inglês e, posteriormente, na posse da […]
A paisagem é convidativa, montes e vales em ligeira ondulação, serras ao fundo, mar não muito longe, terrenos apropriados, vento quanto baste e javalis também por perto. Tudo assim se conjugou para o desenvolvimento de um projecto de família, que assentou arraiais numa quinta em tempos pertença de um inglês e, posteriormente, na posse da família de João Portugal Ramos. Foi em resultado da conjugação feliz de vários factores que a família Tavares da Silva tomou posse da quinta nos finais dos anos 80. E não faltou muito para que Sandra, uma das filhas, já então ligada à enologia, desafiasse o pai para fazer um vinho. Assim começou a história dos vinhos Chocapalha, inicialmente numa adega de garagem (que ainda conheci), e mais tarde apostando numa adega de raiz que comemora agora 10 anos. Motivo mais que suficiente para mostrar o que se tem feito e o que está para vir. À nossa espera estavam os pais de Sandra, Paulo e Alice, a irmã Andrea (economista e directora executiva da casa) bem como toda a equipa da adega e quinta.
Logo no projecto inicial houve castas que marcaram território – Arinto, Castelão e Touriga Nacional, esta última com garfos que se foram buscar ao Dão. O Castelão, dizem-nos agora, “era difícil de vender porque tinha pouca cor. Mas com a mudança do gosto, agora o ter pouca cor é uma vantagem. É incrível como tudo muda tão depressa»”, refere Sandra. A aposta no Arinto revelou-se muito acertada e a área de vinha irá alargar-se. Sandra Tavares da Silva não esconde que «” Arinto é a casta de eleição do meu pai; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo”. Com sorte, dizemos nós, ainda se cruza com um javali, dos muitos que há na zona e que se escondem nos arvoredos que proliferam na propriedade. Apontamos para uma parcela vazia, sem nada plantado e indagamos o que se vai plantar ali; a resposta é desconcertante: nada, aquele terreno vai ficar em pousio por 3 ou 4 anos, dizem-nos! Para que conste…
A Arinto é a casta de eleição de Paulo Tavares da Silva; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo.
Adega nova, problemas antigos
Foi para comemorar os 10 anos da nova adega que se juntaram na quinta a família e a comunicação social. Passados estes anos, está a acontecer o que era previsível: a adega já não comporta tudo o que é preciso e já se suspira por um espaço que possa albergar mais cubas e mais barricas. Porquê? Porque a filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio. A quinta produz mais do que comercializa, “ainda vendemos muitas uvas, infelizmente pagas a muito baixo preço”, como Paulo Tavares da Silva (oficial de marinha, convertido em agricultor) nos confidenciou, e a produção actual – situada nas 180.000 garrafas -, poderia alagar-se mais. Mas a ideia de conservar os vinhos em cave por longo tempo acaba por impedir esse crescimento. Para termos uma ideia, somos informados que ainda têm em cave as colheitas de 2019, 20 e 21 engarrafadas e a de 22 em barrica, tudo à espera de um dia ir para o mercado. Internamente são distribuídos pela Decante e só vendem no canal Horeca, com a excepção do Corte Inglès e do Supermercado Apolónia, no Algarve. Exportam boa parte da produção e, no caso do Quinta de Chocapalha tinto, as vendas lá fora atingem mesmo 65% do engarrafado.
A casta Arinto é a menina dos olhos de Paulo Tavares da Silva. Ele é, de resto, o verdadeiro guia do processo, apaixonado pela terra e pela vinha, sempre atento e vigilante. Foi do Centro de Estudos de Nelas que trouxe as primeiras varas de Touriga Nacional que aqui plantaram e que depois alargaram a outras castas, como a Viosinho, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Alicante Bouschet e Castelão, por exemplo. Na adega estão a dar cada vez mais uso às barricas usadas e, mesmo comprando apenas 25 a 30 barricas novas por ano, a verdade é que adega das barricas começa a ficar sobrecarregada.
A filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio.
Fizemos uma prova alargada dos vinhos da casa e ao almoço provámos apenas vinhos da colheita de 2013, a colheita que, tal como a adega, comemora agora 10 anos de vida. Foi uma prova e tanto, com os vinhos a mostrarem que 10 anos não é tempo demais para eles, com o Arinto a dar cartas, terpénico e num registo que se poderia confundir, tanto com Alvarinho como com Riesling. Parentescos, quem sabe…
Toda a família presente, pais, irmãs e equipa de enologia e viticultura que mantém o projecto bem vivo. Nos vinhos há novas edições de marcas já consagradas, como Vinha Mãe, os Reserva e o CH (Confederação Helvética) que “é um tributo à minha mãe que é suíça”, diz Sandra. Alice Tavares da Silva, nascida no cantão alemão, o tal que fala uma língua que ninguém entende mas, como nos confidenciou “vou várias vezes por ano à Suíça e acabo por falar a minha língua natal”.
Nas novas edições, destaca-se o Arinto Antigo, um branco de curtimenta que tem longa espera antes de ser comercializado e o Guarita, um varietal de Alicante Bouschet, uma casta bem difícil porque, como lembrou Sandra “é preciso muita paciência porque só nos dá uma pequena janela para fazermos a vindima no ponto certo; se deixarmos passar esses dias fica tudo em passa; e só quando a vinha atingiu os 30 anos é que entendemos que as uvas tinham qualidade suficiente para o vinho ser comercializado como varietal”.
Em final de vindima estavam os lagares com pisa mecânica a trabalhar e na adega a azáfama era a habitual – mangueiras por um lado, água em abundância para tudo lavar, bombas a trasfegar e aquele cheiro característico das adegas onde fermentam as uvas. Tudo normal, portanto…
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)
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Guarita da Chocapalha
Tinto - 2016 -
Quinta de Chocapalha Arinto Antigo Vinhas Velhas
Branco - 2020 -
CH by Chocapalha
Branco - 2020 -
Chocapalha Vinha Mãe
Tinto - 2017 -
CH by Chocapalha
Tinto - 2020 -
Quinta de Chocapalha
Tinto - 2019 -
Quinta de Chocapalha
Rosé - 2022 -
Chocapalha
Branco - 2022 -
Quinta de Chocapalha
Branco - 2021
10 Fortificados com Selo Boa Escolha para este Natal

Aproxima-se a noite da consoada onde a refeição termina muitas vezes com um bom fortificado. Deixamos 10 sugestões com Selo Boa Escolha provados durante o último ano. Desde Portos, a moscatéis, até um abafado e um licoroso. São várias as opções por onde escolher!
Aproxima-se a noite da consoada onde a refeição termina muitas vezes com um bom fortificado. Deixamos 10 sugestões com Selo Boa Escolha provados durante o último ano.
Desde Portos, a moscatéis, até um abafado e um licoroso. São várias as opções por onde escolher!
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CTX Superior
- 2014 -
Moscatel de Setúbal SVP
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Moscatel de Setúbal SVP
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Moscatel de Setúbal SVP
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Velhotes
Fortificado/ Licoroso - -
Alorna
Fortificado/ Licoroso - -
Alambre
Fortificado/ Licoroso - 2019 -
Quinta da Alorna Abafado 5 Anos
Fortificado/ Licoroso - 2016 -
Soneto
Fortificado/ Licoroso - -
Soneto
Fortificado/ Licoroso -
Emirates revela carta de vinhos para os seus voos em 2024

A Emirates dá a conhecer, a partir deste mês, a sua nova selecção de vinhos que estará disponível a bordo dos seus voos em 2024, dando continuidade ao investimento numa área que, no ano passado, ultrapassou os 186 milhões de Dirhams (50 milhões de dólares). Os armazéns da Emirates em França albergam, atualmente, cerca de […]
A Emirates dá a conhecer, a partir deste mês, a sua nova selecção de vinhos que estará disponível a bordo dos seus voos em 2024, dando continuidade ao investimento numa área que, no ano passado, ultrapassou os 186 milhões de Dirhams (50 milhões de dólares). Os armazéns da Emirates em França albergam, atualmente, cerca de 6 milhões de garrafas de vinho, sendo que algumas só serão servidas em 2037.
Novos vinhos a bordo da Emirates
Nos próximos meses, a Emirates irá apresentar uma selecção dos melhores vinhos brancos da Borgonha, incluindo os Premier e Grand Crus, como Montrachet 2011, Chevalier-Montrachet 2013 e Corton-Charlemagne 2014, além dos Grand Crus como Échezeaux, Clos Vougeot e Chambertin.
A Emirates tem como critério para a selecção de vinhos um processo altamente detalhado, escolhendo rótulos que são conhecidos por se destacarem tanto em terra como no ar, monitorizando constantemente os resultados. Os principais factores considerados incluem o conteúdo da fruta, a acidez, os níveis de tanino e a influência do carvalho, assim como a maturidade do vinho, que impacta diretamente os níveis de tanino. Muitos dos vinhos escolhidos são produzidos para serem apreciados após um envelhecimento significativo, sendo que a adega da Emirates inclui vinhos que datam da colheita de 2003. Os vinhos de Bordéus escolhidos para a Classe Executiva passam por um período mínimo de envelhecimento de 8 a 10 anos, enquanto os da Primeira Classe recebem um mínimo de 12 a 15 anos de envelhecimento, todos eles armazenados nas instalações da companhia aérea em França. Os vinhos são seleccionados quando estão prontos para serem servidos a bordo e estrategicamente posicionados em todo o mundo.
Vinhos de classe mundial para cada classe de cabine
Cada uma das quatro cabines da Emirates apresenta uma selecção de vinhos distinta, que é actualizada de duas em duas semanas para garantir que os passageiros habituais têm ao seu dispor uma carta de vinhos variada.
Na Classe Económica, a Emirates oferece um vinho tinto e um vinho branco, ambos de qualidade indiscutivelmente elevada. As adições recentes incluem vinhos “AOP” e “Biodinâmicos” de M. Chapoutier, Domaines Baron de Rothschild, um Sauvignon Blanc sul-africano do campeão da sustentabilidade, a família Gabb, e o vinho tinto Antinori Santa Cristina. A AOP é uma norma da União Europeia (UE) semelhante ao sistema AOC francês, realçando a origem geográfica dos vinhos e os métodos de produção específicos. A vinificação biodinâmica dá ênfase a uma agricultura holística e sustentável e a uma intervenção mínima pós-colheita, criando vinhos conhecidos pela sua expressão terroir pronunciada.
Na Premium Economy, a Emirates serve vinho espumante vintage, vinho tinto premium e vinho branco premium. Os exemplos incluem o Château La Garde 2011, o Cloudy Bay Sauvignon Blanc e o Domaine Chandon 2016 – um vinho espumante que é exclusivo da Emirates Premium Economy.
Na Classe Executiva e na Primeira Classe, a Emirates adapta as suas seleções de vinhos a seis regiões: Reino Unido e EUA; Europa; África; Médio Oriente; Australásia e Ásia. Esta abordagem permite que a Emirates ofereça uma selecção de vinhos alinhada com as preferências de paladar dos passageiros de cada zona, possibilitando que os passageiros provem vinhos das regiões que vão visitar. A Emirates também oferece vinhos do Porto de qualidade superior, incluindo vinhos do Porto Tawny vintage, como o Graham’s de 1979 e o Dow’s de 1981.
The Macallan revela colaboração inovadora com Stella e Mary McCartney

The Macallan anunciou uma colaboração com Stella e Mary McCartney. Unidos pela curiosidade, respeito e admiração pela natureza, a fotografa e a estilista uniram-se à marca de Whisky Escocês para a co-criação de uma linha de artigos de decoração e da terceira edição da The Harmony Collection – um lançamento anual de edição limitada que […]
The Macallan anunciou uma colaboração com Stella e Mary McCartney. Unidos pela curiosidade, respeito e admiração pela natureza, a fotografa e a estilista uniram-se à marca de Whisky Escocês para a co-criação de uma linha de artigos de decoração e da terceira edição da The Harmony Collection – um lançamento anual de edição limitada que tem como génese o tema da sustentabilidade. The Macallan Harmony Collection Amber Meadow, a terceira edição desta trilogia, tem um sabor inspirado no amor das irmãs McCartney pela Escócia e o objectivo comum por um mundo mais sustentável.
A Collection for The Macallan by Stella and Mary McCartney, apresenta uma colecção de edição limitada de onze peças de lifestyle concebidas pelas irmãs e habilmente realizadas por mestres artesão. O amor das irmãs McCartney pela Escócia já é antigo, significando um lugar de conforto e nostalgia, um regresso a casa. O trabalho em parceria com The Macallan é inspirado pelas memórias da sua casa escocesa na costa ocidental e do tempo passado em The Macallan Estate, transportando os amantes de Whisky para a beleza natural da Escócia. As suas criações são inspiradas nas florestas, no mar e na beleza e força do rio Spey. Esta colaboração celebra os valores partilhados por The Macallan e The McCartney, com o amor e o respeito pela natureza em primeiro plano.
Para assinalar esta profunda ligação com a terra, as caixas de transporte e os rótulos das garrafas desta edição limitada, foram feitos a partir dos restos dos prados ceifados na Escócia, destacando a reutilização de materiais naturais para criar beleza a partir de recursos em fim de vida. Para adornar as caixas de transporte, fotografias de The Macallan Estate, captadas por Mary McCartney, encontram-se nas laterais das mesmas.
A Colecção é inspirada na natureza: os tons verdes representam a The Macallan Estate, os tons âmbar foram inspirados na cor natural do whisky, e a cor vermelha, que é sinónimo de The Macallan, honra o profundo respeito da marca pela tradição e pelo artesanato.
The Macallan Harmony Collection Amber Meadow tem um PVP de 199,99€ e está à venda em garrafeiras especializadas em Portugal continental, como também em restaurantes de fine dinning seleccionados.
Vinhos de Lisboa elegeram os melhores da região

O Concurso de Vinhos de Lisboa 2023 revelou, recentemente, os seus vencedores, numa cerimónia que teve lugar na Quinta da Pimenteira. Houve medalhas de Excelência, de Ouro e de Prata, e ainda medalha para o Melhor Arinto e para o Melhor Vital. Nos prémios de Excelência, o Azulejo 2022, da Casa Santos Lima, foi o […]
O Concurso de Vinhos de Lisboa 2023 revelou, recentemente, os seus vencedores, numa cerimónia que teve lugar na Quinta da Pimenteira.
Houve medalhas de Excelência, de Ouro e de Prata, e ainda medalha para o Melhor Arinto e para o Melhor Vital. Nos prémios de Excelência, o Azulejo 2022, da Casa Santos Lima, foi o Melhor Branco; Nevão Leve rosé 2021, da Adega Cooperativa da Labrujeira, o Melhor Leve; Quinta do Gradil Tannat 2021, o Melhor Tinto; Quinta do Rol VSOP, a Melhor Aguardente Vínica DOP Lourinhã; e Empatia Vital branco 2022, da Adega da Labrujeira, foi o Melhor DOP de Lisboa. A lista completa dos vencedores e medalhas pode ser consultada AQUI.
A entrega de prémios contou com a presença do Vereador Ângelo Pereira, da Câmara Municipal de Lisboa, Instituto da Vinha e do Vinho, Confrarias da região, Direcção Regional de Agricultura de Lisboa e Vale do Tejo, autarcas e CIM Oeste, Turismo de Portugal, jornalistas e enófilos convidados e produtores da região vitivinícola de Lisboa.
“Com este evento celebrámos, mais uma vez, o trabalho dos viticultores de Lisboa e o sucesso da Região Demarcada, bem como projectos que primam pela excelência na promoção, divulgação e serviço dos vinhos da região, e homenageámos, com o prémio de Mérito de Carreira, o Enólogo João Melícias”, comenta a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, organizadora do Concurso dos Vinhos de Lisboa.
Quinta do Carvalhido – Paixão e razão: duelo de titãs

Os primeiros registos documentais da Quinta do Carvalhido datam de 1909, com assinatura de Sancha Augusta Almada Menezes Pimentel, Viscondessa de Barcel e trisavó dos actuais proprietários, Maria de Fátima Drummond Borges, herdeira da quinta em 2013, e o seu marido Pedro Drummond Borges. A pequena propriedade, que até ao início dos anos 70 tinha […]
Os primeiros registos documentais da Quinta do Carvalhido datam de 1909, com assinatura de Sancha Augusta Almada Menezes Pimentel, Viscondessa de Barcel e trisavó dos actuais proprietários, Maria de Fátima Drummond Borges, herdeira da quinta em 2013, e o seu marido Pedro Drummond Borges. A pequena propriedade, que até ao início dos anos 70 tinha produzido vinho do Porto para outras casas, estava nessa altura em estado de abandono, mas Pedro Drummond Borges, toda a vida gestor de empresas tecnológicas, viu para além da cabeleira — neste caso vinha — despenteada, e apaixonou-se assolapadamente. “Pus-me a pensar no que poderia fazer daquilo, porque ter a quinta em mau estado não era hipótese para mim”, diz-nos o empresário, com o entusiasmo de quem conta as peripécias de uma aventura que acabou em bem. Para tomar a decisão mais informada e perceber o real potencial das vinhas, que totalizavam apenas cinco hectares (só um aproveitável no momento), chamou o viticólogo José Miguel Teles. “Ele disse-me que teríamos de reconverter a maioria das parcelas, mas que conseguiríamos fazer, inicialmente, umas seis mil garrafas de tinto DOC Douro”. Assim, entre 2014 e 2015, começaram a tratar de reconverter 2,7 hectares, concluindo uma plantação em 2017 e outra em 2018, “já com castas estudadas e a pensar no nosso projecto”, revela Pedro Drummond Borges. “Mas estava a fazer tudo isto sem ter a noção exacta ou certeza de qual seria meu objectivo… Não poderia ser só eu a dedicar-me ao projecto, se era para o levar adiante. Tenho cinco filhos, e na altura decidi colocar a família a par do esforço que estava a fazer, sobretudo financeiro…”, recorda.
O passo seguinte foi contratar um enólogo. “Um bom enólogo, para fazer vinhos de topo”, sublinha Pedro Drummond Borges, “não sei fazer as coisas de forma amadora”, atira. O escolhido foi Francisco Baptista, sócio e responsável de enologia no projecto Lua Cheia-Saven, cuja adega serviu, até 2022, inclusive, para produção dos vinhos da Quinta do Carvalhido. Estavam as condições criadas para avançar com o primeiro vinho, Carvalhido tinto 2017, que viria a ser lançado em 2020, com imagem da autoria de Rita Rivotti. “O negócio do vinho, falando em linguagem de gestor, é um negócio de “cash flow”, e se não o tivermos, estamos tramados. Antes do nosso primeiro vinho sair para o mercado, tive produzir fazer também em 2018 e 2019… E pensei ‘agora tenho este bebé de 1500 garrafas nas mãos, o que faço com ele?’, mas a verdade é que as vendi num ápice”, confessa o produtor. Devagar, devagarinho, foi mantendo essa quantidade de produção, até que em 2021 começou a perceber que a aventura tinha pernas para andar. Depois de tomar a grande decisão de recuperar toda a quinta, incluindo os edifícios, chamou o filho Tiago, que deixou o seu trabalho na Tabaqueira para se dedicar à Quinta do Carvalhido no início de 2022, altura em que o projecto arrancou em força. Em 2022, produziram-se ali 13500 garrafas, e o objectivo é crescer rapidamente para as 25 mil. O gestor é assertivo nas palavras: “Não quero ficar com vinho por vender e dizer que vendo tudo. Sou muito cuidadoso nestas coisas. Ou faço segundo os cânones, ou não faço. Um passo de cada vez, tudo muito bem analisado”.
Os primeiros meses de 2022 foram também o momento em que a recuperação da antiga adega ficou finalizada, um empreendimento pessoal de Pedro Drummond Borges. “Achei que era uma grande mais-valia, não económico-financeira, mas de imagem, porque a adega é lindíssima. Ainda não pudemos vinificar lá em 2022 por falta de equipamento, pois tinha apenas uns pipos muito velhos, que ainda cheiravam a vinho”, explica. Já em 2023, a Quinta do Carvalhido começa a produzir na sua adega reabilitada e devidamente equipada. Por agora, estão no mercado cinco vinhos — Carvalhido branco, rosé e tinto; e Quinta do Carvalhido branco e tinto — e depois da prova percebemos que, quando disse que não fazia coisas amadoras, Pedro Drummond Borges não estava a mentir: elegância, frescura e complexidade não lhes falta, com os topo de gama Quinta do Carvalhido a deixar uma fortíssima impressão, surpreendente dada a juventude do projecto. O branco, lote de Viosinho, Rabigato e Arinto, fez doze horas de maceração pré-fermentativa e acabou a fermentação em barricas de 300 litros de carvalho francês, de 4º e 5º uso, onde estagiou nove meses sobre borras finas, com bâtonnage. O tinto, por sua vez, junta Touriga Nacional e Touriga Franca e estagiou doze meses em barricas novas. Estas três castas brancas e duas tintas são, actualmente, as predominantes na quinta.
No sentido de aumentar a produção, a família comprou, recentemente, mais duas propriedades com vinha, também no rio Tua, tal como a Quinta do Carvalhido. Estão as duas prontas a produzir, mas uma delas terá de ser, em parte, reconvertida. Com estas aquisições, o projecto duplicou a área de vinha, totalizando agora doze hectares. Segundo Pedro Drummond Borges, poderá haver novidades também ao nível dos métodos de vinificação, mas o produtor não revela mais. Não quer atrair má sorte nem garantir o que ainda não está garantido, mas os olhos brilham enquanto nos deixa o “teaser”. É a voz do gestor racional a falar, e deixamos que assim seja.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)