Moscatel de Setúbal é estrela do menu Local Stars da TAP Air Portugal

A Península de Setúbal e o Moscatel de Setúbal são os protagonistas do novo menu Local Stars, elaborado André Cruz, chef executivo do restaurante Feitoria, e servido na Classe Executiva dos voos de longo curso da TAP Air Portugal, com partidas de Lisboa, durante os meses de Maio e Junho. Esta iniciativa, que resulta da […]
A Península de Setúbal e o Moscatel de Setúbal são os protagonistas do novo menu Local Stars, elaborado André Cruz, chef executivo do restaurante Feitoria, e servido na Classe Executiva dos voos de longo curso da TAP Air Portugal, com partidas de Lisboa, durante os meses de Maio e Junho. Esta iniciativa, que resulta da parceria entre o The Art of Tasting Portugal e a companhia aérea nacional, visa valorizar e promover Portugal e as diferentes regiões através da gastronomia, com destaque para produtos icónicos que simbolizem os sabores regionais. A cada dois meses é seleccionada uma região de Portugal e um chef, escolhido pelas suas fortes ligações a esse território, que elege um produto-estrela que simbolize a região em destaque e que serve, também, de inspiração para o menu de autor. Desta vez, foi o Moscatel de Setúbal.
“Ao darmos as boas-vindas, a bordo dos nossos aviões, ao menu criado pelo chef André Cruz, prosseguimos, na TAP, com a nossa missão de servir, aos nossos clientes, o melhor de Portugal. Entre os vários produtos típicos da Península de Setúbal, temos o Moscatel de Setúbal como produto-estrela, incluído no prato de carne e na sobremesa.”, conta Catarina Índio, head of Inflight and Ground Product da área de Customer Engagement da TAP Air Portugal. É na península de Setúbal que se produz este vinho generoso, caracterizado por um aroma intenso a flores de laranjeira e um sabor meloso e cheio enquanto jovem, que evolui, com a idade, para notas de frutos secos, passas e café. Foi com base nele que o chef André Cruz preparou o menu apresentado a bordo dos aviões da TAP. Tem, como entrada, uma Salada de atum, pickle de cebola de Setúbal, tomate e rabanetes. O prato principal é um Ossobuco de vitela, molho de Moscatel de Setúbal, puré de cenoura e legumes Primavera e a sobremesa um Pudim de leite de ovelha, vinagre de Moscatel de Setúbal e bolacha Piedade.
ViniPortugal revela os melhores vinhos de 2024

Os Melhores Vinhos de 2024 já foram revelados na Cerimónia de Entrega de Prémios da 11ª Edição do Concurso Vinhos de Portugal, iniciativa organizada pela ViniPortugal. O Jantar de Gala decorreu no Mosteiro de Alcobaça, onde foram atribuídos os prémios aos melhores vinhos do ano. Foram 383 medalhas, entre as quais 32 medalhas na categoria […]
Os Melhores Vinhos de 2024 já foram revelados na Cerimónia de Entrega de Prémios da 11ª Edição do Concurso Vinhos de Portugal, iniciativa organizada pela ViniPortugal. O Jantar de Gala decorreu no Mosteiro de Alcobaça, onde foram atribuídos os prémios aos melhores vinhos do ano. Foram 383 medalhas, entre as quais 32 medalhas na categoria de Grande Ouro, 95 de Ouro e 256 de Prata.
Ao longo de três dias, 29 e 30 de Abril e 1 de Maio, 132 especialistas de referência do sector, dois quais 108 jurados nacionais e 24 internacionais, avaliaram criteriosamente, durante as sessões técnicas, as mais 1.300 referências a concurso. Posteriormente, o Grande Júri, constituído por Bento Amaral, Dirceu Júnior MW, James Tidwell MS, Luís Lopes e Francisco Antunes, avaliou, nos dias 2 e 3 de Maio, as referências distinguidas com Ouros, atribuindo as distinções de Melhores do Ano e Grandes Ouros. O veredicto concluiu, ainda, que a região mais premiada desta Edição foi a Região Douro e Porto, conquistando 16 medalhas. Os Melhores do Ano foram eleitos por categoria:
Melhor do Ano – Julio B. Bastos- Alicante Bouschet Alentejo 2018
Melhor do Ano Licoroso – Graham’s Single Harvest Porto 1974
Melhor do Ano Varietal Tinto – Julio B. Bastos- Alicante Bouschet Alentejo 2018
Melhor do Ano Varietal Branco – Anselmo Mendes Loureiro Private Vinhos Verdes 2020
Melhor do Ano Vinho Tinto (Blend) – Altas Quintas Reserva Alentejo 2019 – Altas Quintas-Expl Agricola e Vinícola
Melhor do Ano Vinho Branco (Blend) – Quinta do Noval Reserva Douro Branco 2022
Melhor do Ano Espumante – Quinta da Lagoa Velha Cuvée Bairrada 2015
O Concurso Vinhos de Portugal é um evento de referência no sector e, em paralelo, um ponto de encontro entre produtores, especialistas, sommeliers e influenciadores nacionais e internacionais que, durante alguns dias, partilham experiências entre si. A iniciativa reforça a posição de Portugal nos mercados externos enquanto país de excelência na produção de vinho.
Os vinhos distinguidos, no Concurso Vinhos de Portugal, com as medalhas Grande Ouro e Ouro, vão ter a presença garantida pela ViniPortugal em eventos internacionais de referência, ainda este ano.
A lista completa de premiados pode ser consultada no site do Concurso Vinhos de Portugal em: https://concursovinhosdeportugal.pt/.
Sogevinus lança quatro novos vintage da colheita de 2022

O grupo Sogevinus anunciou recentemente o lançamento de quatro novos Vintage 2022. Além dos Single Quinta, Kopke Quinta de São Luiz e Burmester Quinta do Arnozelo, também as casas Barros e Cálem declararam vintages do mesmo ano. Os mais recentes lançamentos refletem o longo legado das quatro marcas. De acordo com os registos do Instituto […]
O grupo Sogevinus anunciou recentemente o lançamento de quatro novos Vintage 2022. Além dos Single Quinta, Kopke Quinta de São Luiz e Burmester Quinta do Arnozelo, também as casas Barros e Cálem declararam vintages do mesmo ano.
Os mais recentes lançamentos refletem o longo legado das quatro marcas. De acordo com os registos do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), a Burmester produz vintages desde 1788 e a Kopke desde 1820. Também a Barros, marca histórica assente na portugalidade, e a Cálem, que celebra 165 anos em 2024, contam com vintages declarados ao longo de décadas. As suas primeiras colheitas remontam ao início do século XX.
O quarteto de novos vintages resulta de um ano quente e seco e de uma vindima com uma janela de maturação mais curta, onde o detalhe aplicado a cada parcela e o controlo permanente das uvas foram decisivos para alcançar vinhos com perfis clássicos e intemporais, com grande potencial de guarda. Todos eles envelheceram dois anos nas caves de Gaia antes de serem engarrafados, e são o reflexo do local que lhes dá origem.
Vinhos de precisão e de dedicação, traçados pelo terroir, incluindo a mão do homem, os quatro vintages da Sogevinus apresentam-se na forma de edições limitadas, disponíveis a partir de Setembro. Do Vintage da Kopke foram produzidos 9.500 litros, da Burmester 8.000 litros e, dos outros dois, 4.000 litros.
Extravaganza 2024: a prova continua!

Em Portugal temos alguns dos melhores vinhos generosos do Mundo. Certamente! E também ótimos eventos dedicados a este tipo de vinho, os casos do Nobre Gosto, em Oeiras, organizado por esta revista e daquele que é o mais antigo, elitista e quase familiar Extravaganza, em Sintra. Já passou algum tempo da sua última edição, mas […]
Em Portugal temos alguns dos melhores vinhos generosos do Mundo. Certamente! E também ótimos eventos dedicados a este tipo de vinho, os casos do Nobre Gosto, em Oeiras, organizado por esta revista e daquele que é o mais antigo, elitista e quase familiar Extravaganza, em Sintra. Já passou algum tempo da sua última edição, mas muitos dos vinhos provados ainda não saíram da nossa cabeça, tanta era a sua qualidade. Depois de eventos dedicados ao Vinho Madeira e Moscatel, a edição de 2024 voltou a centrar-se no Vinho do Porto, paixão maior do organizador, mentor e entusiasta Paulo Cruz. O local, sempre escolhido na vila de Sintra, voltou a ser a Casa dos Penedos, e o evento espraiou-se por três dias.
O primeiro foi totalmente dedicado à empresa J. H. Andresen, com a apresentação dos vinhos a cargo de Carlos Flores, que lidera a companhia (o enólogo é o experiente Álvaro Van Zeller). Foram provados mais de uma dezena de vinhos, de 1991 (o mais recente) a 1900, todos colheitas e todos a grande nível. A par dos vetustos 1910 e 1900, ambos verdadeiramente do outro mundo, destaque maior para os excelentes 1975 e 1963, complexos e cheios de acidez vibrantes.
O segundo dia esteve a cargo da brigada da bem conhecida empresa Symington, com a apresentação capitaneada pelo chefe de enologia Charles Symington, bem secundado por Gonçalo Brito da área comercial. Entre tawnies e vintages, mais novos e mais antigos, destaque para duas garrafas impecáveis de Dow’s vintage 1963, a fazer jus à fama, e o novo lançamento Graham Porto tawny 50 anos, um verdadeiro monumento!
Por fim, no terceiro e último dia de prova, foi a vez da empresa Rozés apresentar as suas categorias especiais, a cargo do enólogo (e enólogo do ano de vinhos generosos para a nossa revista) Manuel Henrique Silva, com a participação especial de António Saraiva, o administrador da empresa, em vários instantes de conversa. Também nesta prova houve muitos momentos altos, desde logo com um fantástico LBV 1983 a dar ares de vintage clássico, e dois magníficos colheitas, de 1950 e 1935! Nota ainda para um brunch vínico no início do segundo dia de provas, organizado pelo enófilo e grande conhecedor Paulo Bento, um momento de grande convívio em redor de garrafas raras. N.O.G.
Lusovini: Castas antigas, novos horizontes

Temos em Portugal muito orgulho em possuir uma enorme variedade de castas autóctones, mas, na realidade, em cada região trabalhamos com uma dúzia delas. Desde os anos 80, quando o fundador da Lusovini, Casimiro Gomes, resolveu iniciar um projecto vitivinícola no Dão, ouvia falar de castas “esquecidas”, das quais nunca encontrou os vinhos para experimentar. […]
Temos em Portugal muito orgulho em possuir uma enorme variedade de castas autóctones, mas, na realidade, em cada região trabalhamos com uma dúzia delas. Desde os anos 80, quando o fundador da Lusovini, Casimiro Gomes, resolveu iniciar um projecto vitivinícola no Dão, ouvia falar de castas “esquecidas”, das quais nunca encontrou os vinhos para experimentar. Até agora.
Em 2015, quando surgiu a oportunidade de adquirir a Vinha da Fidalga, propriedade do século XVIII com 25 hectares em Carregal do Sal, não pensou duas vezes. Ficou logo decidido expandir a selecção para além as castas habituais da região.
Em 2017 começaram a plantar a vinha experimental numa área de cerca de 3,5 ha com variedades minoritárias, algumas praticamente extintas. O processo demorou três anos. Inicialmente escolheram 22 castas, cerca de 1000 pés de cada. “É preciso perceber onde está o ponto crítico de cada casta”, diz Casimiro Gomes.
A condução das videiras foi delineada em monoplano ascendente, com poda longa por não existir informação técnica sobre a zona de frutificação destas variedades. O acompanhamento do comportamento das plantas na vinha foi um processo de aprendizagem que levou, também, a uma selecção que deixou algumas delas para trás (“ou apodreciam com facilidade, ou não produziam nada”). Hoje mantêm-se, nesta vinha, as 12 castas que conseguiram convencer os responsáveis da viticultura e da enologia: Arinto do Interior, Coração de Galo, Gouveio, Luzídio, Uva Cão, Terrantez, Barcelo, Rabo d’Ovelha, Douradinha, Malvasia Preta, Monvedro e Cornifesto. Este projecto gerou um grande entusiasmo dentro da empresa, conta Casimiro Gomes, sobretudo na altura das vindimas, pois todos queriam acompanhar uma nova história a ser construída.
Uvas no estado puro
Entre 2021 e 2022 fizeram-se microvinificações. Desta última colheita provámos os primeiros cinco vinhos, que saíram para o mercado em quantidades muito limitadas (entre 1000 e 1200 garrafas). A enologia idealizada por Sónia Martins foi a mais neutra possível para “testar as uvas no seu estado puro, como base para recriar muitas outras coisas”. Fermentação e estágio sem madeira, com levedura neutra, sem qualquer tipo de bâtonnage. No final foram retiradas as borras groseiras, com uma ligeira clarificação (com bentonite) e filtração. As uvas tintas foram desengaçadas, manta mexida manualmente duas vezes ao dia no pico da fermentação. A prensagem ocorreu em prensa vertical de madeira, seguida de fermentação maloláctica espontânea, clarificação natural e ligeira filtração antes de engarrafamento. A colheita de 2023 também foi feita nesta óptica, para ter mais anos de comparação e aprendizagem.
Cada um dos cinco vinhos tem uma imagem diferente no rótulo, transmitindo alguma ligação à casta que representa: Terrantez, Uva Cão, Douradinha, Malvasia Preta e Monvedro. O nome pode confundir, mas a variedade Terrantez cultivada no Dão não tem nenhuma ligação genética com a Terrantez da Madeira, nem do Pico, nem da Terceira. É uma casta referenciada na Península Ibérica desde o século XVI, disseminada no século XIX em quase todo o país, do Minho até ao Algarve. A partir do Século XX passou a estar presente quase exclusivamente no Dão, onde em 1986 representava menos de 0,03%. É das castas ainda pouco estudadas. Sabe-se que de ponto de vista agronómico é uma casta de abrolhamento e maturação em época média. Como é muito susceptível ao desavinho e bagoinha, necessita de bom arejamento na zona das inflorescências. Tem um porte retumbante e é assim que aparece no rótulo. Os mostos desta casta apresentam teor alcoólico relativamente baixo e acidez bastante alta. O vinho mostrou um grande equilíbrio num perfil fresco e consensual.
Grande frescura de boca
A Uva Cão é de origem desconhecida. Mas é famosa pela sua elevada acidez. É uma casta muito antiga, mencionada em 1711 por Vicêncio Alarte. No Dão existe principalmente nas vinhas velhas dos concelhos de Tondela e Carregal do Sal. De abrolhamento médio a tardio, tem boa fertilidade, com alguma sensibilidade ao desavinho. Amadurece tardiamente e precisa de estar bem exposta ao sol e em solos com pouca humidade. É resistente ao stress hídrico e aguenta bem as vagas de calor, o que lhe projecta um futuro interessante. Entretanto, foi referido que os mostos são bastante sensíveis à oxidação. O vinho surpreendeu pela sua amplitude aromática e ofereceu uma grande frescura de boca.
A Douradinha é filha das variedades Amaral e Alfrocheiro, mencionada pela primeira vez em 1851 e, depois, em 1880. Referenciada no Dão em 1986, com uma percentagem de plantação muito reduzida, foi desaparecendo ao longo do tempo, sendo hoje uma das castas antigas mais raras na região. Tem cacho com aspecto dourado quando atinge a plena maturação, o que provavelmente originou o nome. Muito sensível à podridão cinzenta, se não estiver bem exposta no período de colheita. Surpreendentemente, apresenta uma acidez ainda mais alta do que a Uva Cão. Este vinho talvez seja mais desafiante, mais intenso na acidez e mais austero na performance aromática.
O Dão a recuperar património
A Malvasia Preta é originada por cruzamento natural de Alfrocheiro com Cayetana Blanca (Sarigo). Com primeira referência em 1866, está mais presente no Nordeste de Portugal. Na região, figura em 1986 como “Negro Mouro”, com uma presença próxima dos 4% de plantação. Transmite acidez bastante elevada e aroma com fruta mais imediata e fácil de gostar.
A casta Monvedro é a filha de Alfrocheiro com outro progenitor desconhecido. Presente na região em quantidades diminutas (em 1986 menos de 0,01%), é medianamente produtiva, abrolha cedo e amadurece tarde. Mostrou-se bastante sensível às vagas de calor. Por isso precisa de estar numa zona mais fresca e sombria. Sensorialmente, é um caso para dizer: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. É menos consensual, com carácter muito próprio que exige uma prova atenta e alguma paciência para o descobrir.
É importante acrescentar que, depois da prova, todos os vinhos se portaram muito bem à mesa. São vinhos de nicho, alguns mesmo únicos no país (e no mundo!). Quando começarem a surgir mais, será muito bom sinal: o Dão a recuperar o seu património e a basear nele o seu futuro.
(Artigo publicado na edição de Março de 2024)
Ljubomir Stanisic lança nova gama de vinhos: Mestiço é mistura com amor

Ljubomir Stanisic é cozinheiro, sim. Mediático apresentador de programas de gastronomia, tem três restaurantes e muitas paixões. O vinho é uma delas. Há mais de 15 anos que os cria como um prato de comida: misturando as quantidades certas, buscando o equilíbrio mas também a surpresa – e às vezes até o choque. No seu […]
Ljubomir Stanisic é cozinheiro, sim. Mediático apresentador de programas de gastronomia, tem três restaurantes e muitas paixões. O vinho é uma delas. Há mais de 15 anos que os cria como um prato de comida: misturando as quantidades certas, buscando o equilíbrio mas também a surpresa – e às vezes até o choque.
No seu primeiro restaurante em Cascais (2004-2008), começou a brincar aos casamentos. Entre o copo e o prato. O vinho e a comida. Rapidamente passou da cozinha à vinha. Fincou o pé no acelerador e entrou pelo país adentro. Bateu à porta de amigos, furou pelas suas adegas. Alentejo, Douro, Lisboa, Açores, Serra da Estrela, Minho, Dão, Madeira. Não interessava tanto onde, mas com quem. A fusão foi sempre feita entre amigos.
Em 2024, quis tornar este amor mais sólido. Decidiu escrever muitas cartas de intenções e encerrá-las dentro de cada garrafa. Para se beberem tantas convicções quanto estados de espírito. Com um abecedário de propósitos, cheio de letras, cheio de sonhos, construíram-se estes novos líquidos. Vindos de muitas latitudes – Douro, Côa e Alentejo, só para começar. Feitos de virtudes e vicissitudes, assumindo os “defeitos” e as imperfeições, sem fronteiras terrestres nem morais.
Mestiço é mistura. De defeitos e feitios. De vícios e vicissitudes. De Norte, Sul, Este e Oeste. O blend não se faz só de uvas. Faz-se de histórias, de amigos. Que discutem e riem. Discordam e brindam. Juntos. No vinho como na vida. Luís Louro e Inês Capão (Adega Monte Branco), Mateus Nicolau de Almeida e Teresa Ameztoi (Mateus Nicolau de Almeida), Luís Pedro Cândido, Dirk e Daniel Niepoort (Niepoort) dão rosto a este manifesto. Aceitaram os desafios. E o vinho aconteceu!
Com a família Niepoort, no Douro, Ljubomir produziu os Mestiço Bravo, Viçoso (brancos) e Maduro (tinto). Na Mateus Nicolau de Almeida, em pleno Côa, criou um Bruto (branco) e um Sólido (tinto). Do Alentejo, da Adega Monte Branco, trouxe cinco vinhos: Curioso, Atrevido (brancos), Perigoso, Amoroso e Raro (tintos). Uns são mais simples, outros mais complexos, uns clássicos, outros punk.
Os produtos Mestiço estão à venda através da distribuidora Temple Wines e na loja online do chefe Ljubomir: www.ljubomirstanisic.pt
Para breve, está previsto o lançamento de outras bebidas Mestiço, entre vinhos, cervejas e destilados.
TEJO: ODE WINERY

Muitas interpretações ao longo dos séculos tem tido esta Ode, dirigida a uma mulher, Leucónoe. Na verdade, diz tão somente que não sabemos que vida nos espera para além da morte, os deuses sabem o que nos convém ainda que não o entendamos, por isso, aproveita o dia que passa. No fundo, tecnicamente, Ode é […]
Muitas interpretações ao longo dos séculos tem tido esta Ode, dirigida a uma mulher, Leucónoe. Na verdade, diz tão somente que não sabemos que vida nos espera para além da morte, os deuses sabem o que nos convém ainda que não o entendamos, por isso, aproveita o dia que passa. No fundo, tecnicamente, Ode é uma composição poética lírica, que se caracteriza pela eloquência e elevação de estilo, sobre um determinado assunto solene ou digno de registo, podendo versar sobre os temas mais diversos, sejam eles heroicos, amorosos, trágicos ou, porque não, vínicos! É também uma palavra quase universal, entendível por uma imensidão de idiomas.
Uma Ode ao Tejo?
Fundada por uma família local em 1902, em Vila Chã de Ourique, ampliada e completamente remodelada em 2000, com a utilização e integração dos melhores equipamentos de processamento e armazenamento, e novas instalações de enoturismo, a agora baptizada Ode Winery passou por vários momentos até ser adquirida, em 2022, pelo Grupo Immerso Collective.
A Immerso Collective é uma empresa com foco no luxo e sustentabilidade, criada por David Clarkin, australiano, o qual conta com mais de trinta anos de experiência em investimento e desenvolvimento imobiliário de futuro, nos mercados asiático e australiano, e Andrew Homan, igualmente australiano, advogado de formação mas com vasta experiência em diferentes indústrias, nomeadamente na gestão de fundos de investimento imobiliários. Os projectos desenvolvidos pela Immerso, pretendem sempre dinamizar a região e a comunidade em que se inserem de forma integrada, desde propriedades comerciais e residenciais a ofertas mais direcionadas para o turismo, numa perfeita ligação entre o cuidado e respeito pelo ambiente e os altos padrões de luxo e conforto. A empresa começou a operar em 2021 em Portugal, primeiro país europeu em que está presente, com a aquisição da agora designada Ode Winery, Farm & Living.
Por sua vez, Jim Cawood, também ele australiano, é o “Director of Wines and Good Times” da Ode, conforme consta no seu cartão profissional. Anfitrião por excelência, apaixonado pelo projecto e pelo terroir Ode, tem mais de 30 anos de experiência em todas as vertentes do negócio do vinho, tendo sido sommelier, importador, distribuidor e retalhista, e também produtor em Espanha.
Jim confessou-nos que um dos motivos que os levou a apostar neste terroir onde está inserida a Ode foi a sua semelhança com o clima e o pH dos solos de Hunter Valley, situado a norte de Sydney, no Estado de Nova Gales do Sul, uma das principais regiões vinícolas da Austrália, com uma longa história ligada à viticultura que remonta ao Século XIX, reconhecida internacionalmente pelas variedades Sémillon e Shiraz.
O solo rico em calcário, onde estão implantadas as vinhas da Ode, permite o cultivo de uma grande variedade de castas, desde as locais Arinto, Fernão Pires, Alvarinho, Touriga Nacional, Tinta Barroca, a variedades internacionais como a Sémillon, Viognier, Pinot Gris, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah. A menos de uma hora de Lisboa, a Ode Winery localiza-se em pleno coração ribatejano, no concelho do Cartaxo e nasce em 2022 com o objectivo de dar outra dimensão à região, à sua cultura do vinho e, sobretudo, com o desejo de elevar o patamar qualitativo e a percepção do consumidor sobre a realidade dos vinhos do Tejo.
Integrado num projeto maior, designado Ode Winery, Farm & Living, tem cerca de 96 hectares, onde estão inseridos os 22 hectares de vinha, responsáveis por dez vinhos produzidos até ao momento, cinco brancos e cinco tintos, que marcam pelo seu carácter diferenciado, equilíbrio, e boa qualidade da fruta, aliada uma acidez fresca vinda do Tejo, sempre ali tão próximo.
Neste momento, a ODE Winery apresenta dez referências: os brancos Ode Semillon 2022, Ode Viognier 2022, Ode Fernão Pires 2022, Ode Arinto 2022, Ode Enóloga Arinto Fernão Pires 2022; e os tintos Ode Touriga Nacional 2022, Ode Quarteto 2022, Ode Lagares Touriga Nacional 2022, Ode Amphora Alicante Bouschet 2022, Ode Única Touriga Nacional 2023.
Num país com tradição de lote, na Ode a cultura é claramente internacional e monovarietal, o que não deixa de ser extremamente interessante também, vermos castas como a Viognier, por exemplo, tradicionalmente com baixa acidez, a receberem uma vida nova e toda uma frescura vinda do Tejo.

Sob a coordenação da enóloga Maria Vicente, com mais de 20 colheitas no seu percurso profissional, sendo a maioria delas no Tejo, a Ode Winery segue os princípios orgânicos, sustentáveis e regenerativos para garantir solos saudáveis, matéria orgânica positiva e um ambiente livre de doenças, estando a Certificação Orgânica e Biológica prevista para 2025.
Para além da vinha e adega, complementam o projecto Ode as vertentes Farm & Living. A Ode Farm simboliza o respeito pelo ambiente, com foco na sustentabilidade, conservação e desperdício mínimo. É na quinta que são cultivadas não só as vinhas, mas também outros produtos utilizados no espaço de restauração da Ode Winery, Farm & Living, seguindo os valores da agricultura sintrópica, uma abordagem inovadora à agricultura sustentável. Este método regenerativo enfatiza a diversificação de espécies vegetais, que imitam a estrutura e a função dos ecossistemas naturais para gerar ciclos de crescimento autossustentáveis. Na Ode Farm, os visitantes podem, não só ver a utilização de práticas sustentáveis, mas também vivê-las. A Ode Living integra não só o espaço de eventos, um salão com mais de 1000m², como o restaurante Cellar Door, de inspiração asiática, onde se juntam os sabores portugueses, asiáticos e do mundo na cozinha, oferecendo uma experiência diferente do habitual nesta região. Adicionalmente, no Cellar Door o menu e os ingredientes são de acordo com a estação do ano, e vários dos ingredientes utilizados são plantados na quinta, numa aposta num conceito de “farm to table” – da quinta para a mesa. Para dar suporte a todas estas valências está projectado um resort de luxo, com vários modelos de alojamento. Tudo a menos de uma hora de Lisboa! E, nem de propósito, no próprio dia em que decorria a nossa visita, recebeu-se a notícia de que a aprovação do projecto havia finalmente sido emitida pelas entidades competentes. Um dia para recordar, portanto!
(Artigo publicado na edição de Março de 2024)
“Vigneron” é em Junho, nas Bágeiras

Os franceses chamam vigneron àquele que faz o vinho exclusivamente com as uvas que cria na sua propriedade. No país onde o conceito nasceu, o chamado “vigneron independant” recolhe, junto do mercado e do consumidor, um estatuto de singularidade e exclusividade muito especiais. Em Portugal, essa qualificação existe igualmente na lei, embora com um nome […]
Os franceses chamam vigneron àquele que faz o vinho exclusivamente com as uvas que cria na sua propriedade. No país onde o conceito nasceu, o chamado “vigneron independant” recolhe, junto do mercado e do consumidor, um estatuto de singularidade e exclusividade muito especiais. Em Portugal, essa qualificação existe igualmente na lei, embora com um nome bastante mais rebuscado e pouco “sexy”: vitivinicultor-engarrafador. O problema é que ninguém sabe o que isso é. Pior: nos últimos anos, por desconhecimento ou aproveitamento, vários agentes do sector têm usado o designativo de vigneron para assim qualificar os produtores de pequena dimensão, muitos deles não possuindo sequer vinha ou adega. Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, há muito que se revolta contra aquilo que considera, nas suas palavras, “abuso e publicidade enganosa”. E manifesta frequentemente essa atitude na comunicação institucional das Bágeiras, onde faz questão de explicar o que é, efectivamente, um vigneron. O produtor bairradino não está sozinho nessa luta e, ciente disso, resolveu organizar um evento que congrega “verdadeiros vigneron” em torno de uma causa comum: “valorizar o que há de mais pessoal e genuíno no mundo do vinho – fazê-lo somente com uvas próprias.”
O evento “Vigneron, As Nossas Uvas, Os Nossos Vinhos”, está assim agendado para o próximo dia 22 de Junho, na Quinta das Bágeiras, Fogueira, Sangalhos. O propósito de Mário Sérgio é acolher, na sua adega, cerca de duas dezenas de produtores que partilham a mesma filosofia – inscritos na categoria vitivinicultor-engarrafador do Instituto da Vinha e do Vinho – que irão apresentar os vinhos aos visitantes (consumidores, imprensa, profissionais de restaurantes e lojas especializadas) num evento onde as provas comentadas e a gastronomia também marcam presença. “Ser vigneron”, diz, “significa conhecer cada parcela, cada casta, cada videira, acompanhar o ciclo da vinha, faça sol, chuva, frio ou calor.” Além disso, acrescenta, “um vigneron trabalha sem rede: fazemos mais vinho quando temos mais uva, ou ficamos sem vinho se nos acontecer uma desgraça na vinha. Ao contrário de outros que compram a uva e o vinho que quiserem e onde quiserem, nós, por vontade própria, não o podemos fazer. Isso tem de valer alguma coisa. Um vinho de vigneron é, verdadeiramente, a cara de quem o fez, de quem tomou todas as decisões, da cepa até à garrafa.”
Mas, no copo, o que distingue estes vinhos dos outros? Mário Sérgio tem também resposta para isso: “Não são melhores nem piores, são diferentes. Criamos vinhos genuínos, vinhos de que sabemos exactamente a origem, vinhos que espelham a forma como trabalhámos a vinha e os efeitos que o ano climático teve naquelas uvas. São vinhos sem compromissos, vinhos que são tão nossos quanto as nossas uvas. Acreditamos que isso faz a diferença”, remata.
Os nomes já confirmados metem respeito, e abarcam casas de diferentes dimensões – “vigneron não tem a ver com tamanho, tem a ver com princípios, com uma forma de estar no mundo do vinho”, acentua o organizador – e distintas origens, de norte a sul do país. Por ordem alfabética, vão marcar presença os produtores António Selas, Casa de Cello, Casa da Passarella, José Madeira Afonso, Júlio Bastos, Quinta da Alameda, Quinta da Atela, Quinta das Bágeiras, Quinta da Boa Esperança, Quinta de Chocapalha, Quinta da Falorca, Quinta da Pedreira, Quinta do Perdigão, Rui Reguinga, Tapada de Coelheiros e Vale dos Ares. A coisa promete… L.L.