Estive Lá: Bomfim 1896 with Pedro Lemos

Bomfim Pedro Lemos

Com o “Bomfim 1896 with Pedro Lemos” a oferta gastronómica do Douro, carente em muitos aspectos, ficou bem mais composta. À vasta experiência enoturística da família Symington une-se o reconhecido talento e criatividade de Pedro Lemos, tudo isto num espaço de sonho, pensado de raiz, janela aberta para o rio. Só pode dar certo. Texto: […]

Com o “Bomfim 1896 with Pedro Lemos” a oferta gastronómica do Douro, carente em muitos aspectos, ficou bem mais composta. À vasta experiência enoturística da família Symington une-se o reconhecido talento e criatividade de Pedro Lemos, tudo isto num espaço de sonho, pensado de raiz, janela aberta para o rio. Só pode dar certo.

Texto: Luís Lopes     Fotos: Symington Family Estates

Associada à Dow’s, a Quinta do Bomfim é considerada o berço da família Symington no Douro, merecendo de todos os seus membros uma atenção muito especial. A ligação não é só emocional, a quinta também faz por a merecer. Não apenas pelos vinhos que origina, mas também pela sua beleza natural e localização privilegiada. Num Douro em que as distâncias são, muitas vezes, maiores do que parecem, Bomfim está logo ali, à beira-rio, no final da N222, estrada que liga a Régua ao Pinhão e que alguém já apelidou como a mais bela do mundo.

Fazer ali um restaurante de topo é tentação impossível de resistir. Frederico Mourão, director de enoturismo da Symington não esconde a ambição: “queremos ter o melhor restaurante do Douro”. Para lá chegar, a família Symington conquistou a assessoria de Pedro Lemos e iniciou o percurso com uma espécie de “ensaio geral”, chamado Casa dos Ecos. Montado em quatro semanas e inaugurado em 2019 numa casa situada no alto da Quinta do Bomfim, era para ser um pop-up sazonal Pedro Lemos, destinado a operar apenas na época alta. Mas o enorme sucesso alcançado obrigou ao seu prolongamento no tempo, o que acabou por ser muito importante para formar e manter pessoal enquanto o “Bomfim 1896 with Pedro Lemos” tomava forma.

O novo restaurante Symington abriu no passado dia 10 de junho, após três anos para requalificar e equipar o espaço, o piso superior de um antigo armazém de vinhos (construído, precisamente, em 1896), com magníficas vistas sobre o rio Douro. Mas a sala panorâmica onde se cozinha e come é apenas, literalmente, a ponta do iceberg. Abaixo da superfície está lá tudo o que encontramos nos bastidores de um grande restaurante: despensas, circuitos de entradas e saídas de produtos, câmaras de frio, vestiários, cozinhas de preparação (aqueles locais onde, por exemplo, se cozinham bases durante longas horas ou descascam legumes), equipamentos sofisticados, tudo o que se possa imaginar.

Pedro Lemos e Frederico Mourão descrevem a Casa dos Ecos (que vai reabrir, sazonalmente), como um espaço “de partilha, a cozinha dos caseiros”; já o Bomfim 1896 é o “espaço onde a família da quinta recebe os seus convidados”. A cozinha assenta exclusivamente em forno de lenha e Pedro Lemos revisita o receituário tradicional para criar pratos clássicos, a partir de produtos da época, da terra e do mar. Durante a visita, tive oportunidade de degustar alguns dos pratos desta primeira carta, incluindo “enguia fumada com brioche, maçã e rabanetes” (textura perfeita, intenso e delicado ao mesmo tempo); “vieiras, espargos, beurre blanc” (sal, iodo, amargos vegetais, belo contraste); “arroz cremoso de lavagante” (perfumado, imensamente saboroso, vai tornar-se, certamente, um clássico da casa); “sundae, chocolate e Porto” (complexo, fumado, uma sobremesa de topo). Aberto de terça a sábado, ao almoço e jantar, o “Bomfim 1896” possui uma garrafeira com cerca de 300 referências, onde a exclusividade Symington se aplica apenas aos Porto, estendendo-se a carta a muitos outros produtores do Douro e de outras regiões. A refeição termina com um cheiroso café de balão e um cálice de tawny 10 anos, descansando o olhar no rio, ali em frente.

Bonfim Pedro Lemos(Artigo publicado na edição de Outubro de 2022)

 

Ramos Pinto: Celebrar o passado na vinha da Urtiga

Ramos Pinto Urtiga

A vinha tem mais de 100 anos e está incluída na quinta do Bom Retiro. Foi Adriano Ramos Pinto que a adquiriu em 1933. Frágil mas resistente, a vinha exige, de todos, os cuidados máximos para que a intervenção seja mínima. Uma carga de trabalhos que só a ideia, militante diríamos nós, da conservação do […]

A vinha tem mais de 100 anos e está incluída na quinta do Bom Retiro. Foi Adriano Ramos Pinto que a adquiriu em 1933. Frágil mas resistente, a vinha exige, de todos, os cuidados máximos para que a intervenção seja mínima. Uma carga de trabalhos que só a ideia, militante diríamos nós, da conservação do património, aliada à excelência vínica, pode justificar.

Texto: João Paulo Martins  Fotos: Ramos Pinto

O Verão corria seco mas quando visitámos a vinha da Urtiga o céu resolveu dar um ar da sua graça e brindou-nos com chuva. Da boa e da necessária, embora, como se imagina, já tardia para o que se podia esperar da vindima. Foi ali, mesmo no meio da vinha da Urtiga – parcela que integra a quinta do Bom Retiro – que iniciámos a conversa com a equipa da Ramos Pinto. Para o efeito a empresa deslocou para o centro da vinha da Urtiga uma mesa e uns copos para que o vinho fosse apreciado em seu sitio. A ideia era boa mas não previa a chuva e lá teve de vir uma emissária com chapéus de chuva para que tudo corresse bem. O que ali se passou foi um verdadeiro encontro civilizacional. As cepas, ali à nossa beira, respiravam ainda saúde apesar de serem maioritariamente centenárias; para as interpretar, conhecer, reconhecer e preservar havia ali um tablet onde tudo estava registado, a começar pela geo-localização de cada pé de vinha e as informações adicionais que se revelam da maior importância para a equipa de cuidadores daquela parcela. Que casta é, que vigor tem, quantos cachos produz, em que estádio fenológico se encontra ou a resistência à secura e à seca. Esta tarefa é igual para cada um dos 12 500 pés de vinha que ocupam os 3,4 ha da Urtiga. Temos então patamares com 200 anos, cepas com 100 e tecnologia do séc. XXI que, num futuro próximo, irá também incluir drones de alguma dimensão que farão transporte (caixas de até 40 kg) entre a vinha e a adega.

Bem perto da vinha encontra-se uma mata de medronheiros, reconhecida hoje como a última mancha original das matas de medronheiros que outrora povoavam grandes áreas do Douro. Ali ninguém toca, ali não está previsto plantar nada; apenas numa zona que, entretanto, tinha ficado a descoberto, foram plantadados mais 0,5 ha em velhos patamares pré-filoxéricos, idênticos aqueles onde estivemos sentados a ouvir as histórias da Urtiga. Para quem não está familiarizado com o conceito, os patamares pré-filoxéricos são muito baixos e apresentam-se agora com uma grande “desorganização”, bem diferentes dos muros dos terraços feitos após a filoxera, com os da Quinta do Noval, bem visíveis para quem passa na estrada.
Carlos Peixoto trata das vinhas e, como nos confessou, “adoro este trabalho, já ando cá há 44 anos e não me vejo a fazer outra coisa; ainda me consigo entusiasmar com cada vindima, cada poda, cada nova plantação. Este trabalho que estamos a fazer na Urtiga é notável, é uma revolução que traz para a vinha todos os novos conhecimentos de informática.” A Urtiga, confessa, não estava abandonada mas estava esquecida; “não era colhida quando devia, não tínhamos noção do que aqui havia; foi a partir de 2015 e 2016 que começámos a olhar para esta parcela com olhos de ver”. Jorge Rosas, actual CEO da Ramos Pinto lembra-nos que “em tempos a empresa já teve um Vinho do Porto com o nome Urtiga e que esta vinha era, como todas as vinhas velhas do Douro, usada para fazer vinho para Porto. As castas eram muitas e contámos 63. No entanto a Tinta Amarela é a mais representada e há 7 variedades que, juntas, representam 90% dos encepamentos. Às restantes, chamamos hoje, o sal e pimenta”. Das variedades, muitas delas com nomes estranhos, é sempre possível descobrir mais algumas que nunca tínhamos ouvido falar, como São Saul, Carrega Branco, Tinta Aguiar e Caramela. Ficámos também a saber que “a Tinta Amarela é por norma a casta mais representada nestas vinhas muito velhas”, diz-nos Peixoto.

Nos tratamentos da vinha estão a ser usados preparados biodinâmicos que são importados de França. Conta Jorge Rosas, “é um modelo que queremos aprofundar, mas sem preocupação de certificação. O caos burocrático que a certificação obriga leva-nos a fazer escolhas: queremos e acreditamos nas práticas mas não nos impomos a certificação e não alinhamos em fundamentalismos. O que é que adianta a vinha ser bio se depois não temos uvas?”, comentou. Uma equipa pequena muito dedicada a esta vinha e muitos cuidados na prevenção das doenças ajudam a que, de uma vinha tão pouco produtiva, saia um tinto que se coloca de imediato no patamar mais alto dos vinhos da empresa. Sobre o tema, Jorge Rosas, secundado por Ana Rato, responsável comercial comentam: “é verdade que colocamos o vinho num patamar muito alto de ambição e preço mas é também porque queremos, exactamente, que ele seja entendido como vinho muito especial que é. Temos mais de 100 mercados para onde vendemos vinho e este será por alocação. Não vai ser nada difícil colocar o vinho, até já houve importadores que nos disseram que podíamos enviar a quantidade que quiséssemos e que o preço não seria problema.”
Na véspera da vindima a equipa faz uma passagem na vinha e retira logo tudo o que não estiver em condições de ser vindimado. No dia seguinte vindima-se, faz-se nova selecção à entrada da adega onde os trabalhos são coordenados pelo enólogo João Luis Baptista. Após desengace, as uvas vão para o lagar para o primeiro corte (lagar com pisa a pé) e depois a manta vai sendo movimentada até ao momento da prensagem. De seguida é conduzido para tonéis de pequenas dimensões e 10% do vinho vai para barricas novas e por lá fica durante 16 meses. É nesta altura que se decide se o vinho tem a qualidade pretendida para ser Urtiga. Caso se entenda que não tem, entrará noutros lotes. O estágio prolonga-se por dois anos depois do engarrafamento. Resultaram, nesta primeira edição, 3100 garrafas, disponibilizadas em caixa individual.

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Pedro Silva Reis: Uma vida na Real

pedro reis real

A Real Companhia Velha é a sua casa. Desde cedo que acompanhou o pai e inevitavelmente entrou muito jovem para a empresa. Hoje, ao comemorar 20 anos na gestão e 40 anos na casa, não tem dúvidas: “nunca tive outro emprego e não me imaginaria a fazer outra coisa.” Foi para comemorar a carreira longa […]

A Real Companhia Velha é a sua casa. Desde cedo que acompanhou o pai e inevitavelmente entrou muito jovem para a empresa. Hoje, ao comemorar 20 anos na gestão e 40 anos na casa, não tem dúvidas: “nunca tive outro emprego e não me imaginaria a fazer outra coisa.” Foi para comemorar a carreira longa e profícua de Pedro Silva Reis que fomos ao Douro e aproveitámos para provar os vinhos que lhe são mais caros.

Texto: João Paulo Martins  Fotos: Real Companhia Velha

Estávamos em 1982 quando Pedro Silva Reis entrou, com 22 anos, para a Real Companhia Velha (RCV), empresa então dirigida pelo pai. A companhia era grande, já tinha quintas enormes e o foco era, como acontecia com todas as empresas do Douro nessa época, o vinho do Porto. Ainda faltava uma década para que se começasse a dar a explosão dos vinhos Douro. Em boa verdade a RCV já tinha uma grande tradição de fazer “vinhos de consumo”, como então se dizia. Não só tinha marcas próprias como herdou também as marcas da Real Vinícola, outra grande empresa do país durante o século XX e que foi, durante décadas, a grande concorrente da RCV. Com a fusão das duas empresas, a RCV ficou com uma carteira de marcas bastante interessante mas também confusa. Muitas delas desapareceram (Grantom, Granléve, Cabido, Lamego) mas outras conservaram-se até hoje (Porca de Murça, Evel) e algumas foram vendidas, como foi o caso da marca Deu-la-Deu que pertencia à Real Vinícola mas que foi vendida à Adega Cooperativa de Monção. À data da entrada de Pedro, já o irmão estava a trabalhar na empresa desde 1979, sempre na área comercial, onde ainda se mantém.

pedro reis real
Pedro Silva Reis, no meio dos filhos, Pedro e Tiago e com o sobrinho Vasco à direita.

Primeiro, o vinho do Porto…

Durante muitas décadas o negócio da RCV foi sobretudo o vinho do Porto das gamas de entrada. Pouco ou nada se falava de Vintage, de LBV ou outras categorias especiais. “A empresa estava vocacionada para o volume, o que fazia de nós muito mais um négociant do que um produtor”, diz Pedro. Declarações de Vintage, clássicos ou não clássicos, não era assunto importante, o que mais se vendia eram os tawnies e rubies correntes. Mas isso não impediu que a empresa fosse acumulando um impressionante stock de vinhos velhos que, agora, em ocasiões especiais, traz ao grande público.
Quando Pedro Silva Reis chegou à empresa vigorava a prática de fazer os vinhos do Porto em autovinificadores. Era uma técnica que tinha sido introduzida no Douro na colheita de 1964, visando a fermentação dos vinhos por métodos mecânicos que dispensassem a pisa a pé. A tal pisa, na RCV, foi mesmo abandonada em 1968. Considerava-se então que a pisa a pé seria uma prática do passado que não voltaria a ser usada. Os anos 80 e 90 foram também tempos conturbados, com a ligação da Companhia Velha à Casa do Douro bem como, anos mais tarde, os problemas que derivaram da relação com os investidores espanhóis que tinham adquirido a quinta de Ventozelo. Mas foram também anos de aprendizagem, uma vez que Pedro Silva Reis cedo se interessou pela prova de vinhos do Porto e essa é, de resto, uma das actividades que ainda hoje faz com mais prazer. Poderia pensar-se que o prazer estaria também na condução dos dois Rolls-Royce que herdou, mas Pedro é peremptório: “aquilo é só para olhar, basta pôr o motor a trabalhar e já começa a dar problemas; acresce depois a quantidade enorme de gasolina que consome; são peças de museu que herdámos, mas nada mais do que isso”.

Depois, os brancos e tintos do Douro

Foi só na segunda metade dos anos 90 que os ventos sopraram de outro modo. Em 1996 foi contratado Jerry Luper, enólogo com créditos firmados na Califórnia, e Pedro Silva Reis criou a Fine Wine Division (1997), pensada para fazer coisas diferentes, inovadoras e que pudessem trazer algo de novo ao mercado. A época correspondeu também ao alargamento da equipa com a entrada de Jorge Moreira para a enologia e Álvaro Martinho Lopes para a viticultura. Experimentar castas de fora foi um dos primeiros desafios. Tirando partido da localização em altitude da quinta de Cidrô, em São João da Pesqueira, nasceu em 1996 o primeiro Cidrô Chardonnay a que se seguiram então as outras castas francesas, como Sauvignon Blanc, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Gewürztraminer e Sémillon, esta entretanto rebaptizada como Boal do Douro. A Fine Wine Division veio a revelar-se um marco na história da empresa porque modificou o tipo de negócio a que a RCV estava habituada: de empresa que fazia volumes em vinho do Porto, a Real passou a ser empresa inovadora nos vinhos DOC Douro e IG Duriense que veio a colocar no mercado. Segundo nos revelou Pedro Silva Reis, estes novos vinhos de Cidrô são já da sua “lavra”, muito tempo antes de se ter tornado administrador, em 2002. Logo da colheita de 1998 saíram dois vinhos emblemáticos, o primeiro tinto Quinta dos Aciprestes 1997 e o tinto Evel Grande Escolha também do mesmo ano. Outra grande novidade foi o Grandjó Late Harvest, um branco a lembrar os vinhos de Sauternes e que tem, literalmente “deixado sem voz” alguns visitantes da Real, como nos contou Jorge Moreira. O nome resulta da junção dos nomes Granja e Alijó. Para Pedro, o grande sonho seria conseguir fazer um Grandjó que se aproxime do de 1925, feito na época por um enólogo francês, no Douro.
A Quinta de Cidrô foi adquirida em 1972 e o palácio que hoje existe foi uma “teimosia” do pai Silva Reis que “levou 30 anos a recuperar, decorar e rechear a casa, de que apenas existiam as paredes exteriores à data da compra. O palácio tinha pertencido ao Marques de Soveral (chegou mesmo a haver na empresa a marca Marquis de Soveral) mas que, entretanto, deu origem à marca Marquis, agora parte integrante do portefólio”, disse-nos.
Criar marcas passa também por ter uvas capazes para os vinhos que se pretendem. A empresa alargou-se em termos de área de vinha? perguntámos. Pedro não hesita em afirmar que “mais do que alargar a área de vinha, o que temos feito é reestruturar grande parte das vinhas e, ao mesmo tempo recuperar as vinhas velhas que achámos que valiam a pena e também recuperar as castas antigas, precisamente dessas vinhas velhas”. Recentemente foram recuperados 138 ha de vinha em todas as quintas (Aciprestres, Carvalhas, Cidrô, Granja e Síbio) e adquiridos mais 23 ha junto às Carvalhas. Com as antigas castas ora recuperadas, quer em brancos quer em tintos, o que se pretende é “fazer vinhos com menos cor, menos álcool e com isso ir ao encontro da tendência actual. Nasceu assim a colecção Séries (em 2002) onde têm surgido vinhos de castas que os consumidores não conheciam e que nos revelam uma pequena parte da enorme riqueza existente no Douro”. O primeiro vinho saiu em 2012.

Novas e antigas preciosidades

Outro marco importante do percurso de Pedro Silva Reis nestes 20 anos foi a retoma da produção de espumantes, há muitos anos interrompida. Com o histórico que a empresa tinha – a Real Vinícola foi a primeira empresa a fazer espumante no Douro e durante décadas era famosa a marca Assis-Brazil, a ideia de retomar a produção ganhou força e nasceu assim, em 2011, o espumante Real Companhia Velha, em duas versões – Chardonnay e Chardonnay com Pinot Noir. “Este foi o único produto cujas vendas cresceram durante a pandemia, mas temos limitações (Pinot e Chardonnay não há que chegue) e não podemos crescer mais por enquanto. Estamos a fazer cerca de 12000 garrafas por ano, talvez consigamos chegar às 20 ou 30000”. Disse.
O evento de celebração incluiu um almoço na casa redonda das Carvalhas onde foram provados os novos vinhos cujas notas de prova incluímos neste trabalho. Ao jantar, em Cidrô foram bebidos vinhos de colecção que, em alguns casos ainda podem ser adquiridos nas instalações de enoturismo da empresa, no Pinhão. O momento foi aproveitado para revisitar o Carvalhas branco 2008, feito de Viosinho e Gouveio e que se mostrou numa forma extraordinária (18), bem como o seu congénere tinto 2010, a brilhar muito alto (19); o Evel Grande Escolha 1997 mostrou uma excelente evolução, rico e delicado (18) e, no caso dos vinhos do Porto, um vintage 1997 com muito boa evolução, ainda cheio e rico (18) e um 1938, com pouca cor e aquele brilho fantástico da decadência, o verdadeiro vinho de cheiro (19). O Porto que comemorou os 250 anos da empresa, tem como base um vinho de 1867 e depois tem acrescentos das melhores edições de cada década (1927, 37, 55 e 77): austero, fechado, todo ele sério, com muita fruta em calda. Magnífico. (19,5)
Projectos para o futuro há vários, mas Pedro Silva Reis quer também deixar espaço ao seu filho Pedro que activamente já está na empresa, bem como ao sobrinho e outro filho seu que acabaram de entrar, para criarem os seus próprios projectos. Conta-nos que “o meu filho Pedro está a trabalhar na criação de um tinto super-premium, um vinho icónico que se coloque entre os melhores; estamos bem encaminhados, já há duas colheitas e vamos esperar mais um pouco para ver se temos a consistência necessária. Dentro de dois ou três anos teremos o vinho no mercado. Vamos também continuar com a colecção Séries, onde damos a conhecer castas como Tinta Bastardinha (Alfrocheiro) e vamos procurar crescer na casta Bastardo.”
Pedro conclui: “este clima de inovação, renovação da família e de projectos em marcha, estou em crer que seriam do agrado do meu pai se ele cá voltasse; casa arrumada, sustentabilidade do negócio, arranjo das quintas em termos de visitas e conforto (as obras na casa redonda das Carvalhas são disso um exemplo) e são 20 anos a fazer pequenas coisas que ajudam a que tudo esteja diferente.”
E como pensa terminar a carreira? “Bem, acho que vou acabar na sala de prova a provar vinhos do Porto velhos que é o que mais gosto de fazer”, rematou.

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2022)

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Enoturismo de Outono: Depois da vindima, o descanso…

Enoturismo Outono

Numa altura em que as vindimas ou já acabaram, ou estão quase no fim (dependendo da região e do tipo de vinho), chegou uma nova fase do enoturismo: relaxar, de copo na mão. As vantagens do enoturismo no Outono e Inverno são várias, sobretudo porque estamos em “época baixa”, o que se traduz em menos […]

Numa altura em que as vindimas ou já acabaram, ou estão quase no fim (dependendo da região e do tipo de vinho), chegou uma nova fase do enoturismo: relaxar, de copo na mão. As vantagens do enoturismo no Outono e Inverno são várias, sobretudo porque estamos em “época baixa”, o que se traduz em menos gente e preços geralmente mais baixos, mas também por toda a magia que só estas estações podem trazer, como a paleta de cores quentes, do vermelho ao castanho, que invade as vinhas, ou o cheiro a lareira e fumeiro que paira no ar, e também a paz que transmite o descanso dos vinhos numa sala de barricas ou de tonéis. Aqui ficam cinco sugestões de destino, com e sem alojamento, para os enófilos “fugirem” do buliço do dia-a-dia, nesta época que agora se inicia.

 Texto: Mariana Lopes  Fotos: D.R.

VINHO VERDE
Quinta da Lixa/Monverde Wine Experience Hotel

O Monverde Wine Experience Hotel pertence à Quinta da Lixa (Vila Cova da Lixa, concelho de Felgueiras) e localiza-se apenas a 2,5km desta, em linha recta, na Quinta de Sanguinhedo, em Telões, Amarante. Embora a Quinta da Lixa tenha já um bom programa de provas e visitas, é no Monverde que a oferta premium de enoturismo tem lugar, com a vantagem de estarmos perante um alojamento de luxo, que inclui SPA (centrado na vinoterapia) e um restaurante ao mesmo nível. Aqui, há seis provas de vinho — que vão dos 18 aos 60 euros por pessoa — e cinco experiências, mas apenas uma, bastante “family friendly”, está disponível na época Outono/Inverno.

PROVAS

EXPERIÊNCIA DE OUTONO

Monverde Wine Experience Hotel                                                                           

enoturismo outono
Quinta da Lixa

Website: www.monverde.pt

Localização: Quinta de Sanguinhedo 166, Castanheiro Redondo
4600-761 Telões, Amarante

Contactos: +351255143100 / geral@monverde.pt

DOURO

Quinta de Ventozelo

No concelho de São João da Pesqueira, entre o Pinhão e Ervedosa do Douro, a Quinta de Ventozelo estende-se por uma totalidade de 400 hectares, 200 de vinha. Nos últimos anos, a empresa tem feito grandes investimentos não só a nível da produção, mas também na sua oferta hoteleira e de enoturismo. Hoje, a propriedade tem 29 quartos (recentemente reabilitados, distribuídos por sete edificações distintas), o restaurante e wine bar Cantina de Ventozelo (consultoria do chef Miguel Castro e Silva), provas de vinho (com preços dos 14 aos 40 euros), 7 percursos pedestres com extensões e graus de dificuldade variados e audio-guia (€25), experiências na natureza e actividades cinegéticas, como caçadas fotográficas. No Outono, é também possível participar na apanha da azeitona. Mas é no mais recente Centro Interpretativo/Núcleo Museológico que reside a individualidade e inovação do enoturismo da Quinta de Ventozelo…

CENTRO INTERPRETATIVO/NÚCLEO MUSEOLÓGICO

Este centro, inserido num edifício da quinta construído no século XVIII, foi criado para proporcionar aos visitantes um conhecimento mais aprofundado da região do Douro — do seu património natural, material e imaterial — através de uma experiência sensorial de descoberta de Ventozelo e da sua história. Natalia Fauvrelle, museóloga responsável pelo Centro Interpretativo, explica: “Procurou-se um discurso expositivo, que combinasse o lúdico com o conhecimento e com o rigor científico. Por exemplo, os retratos dos proprietários da Quinta no século XVIII são expostos mostrando o cuidado que houve no seu estudo e restauro. Depois, temos experiências tão simples como andar, a subir e descer dentro do percurso da exposição, de modo a ter a perceção dos declives de que é feita a quinta, e toda a região. Segue-se o mais tradicional desafio de apreensão de aromas e um espaço onde o visitante se pode sentar e contemplar o céu ao longo do dia. Também há um espaço onde se pode ouvir Ventozelo, o silêncio e os seus sons característicos”. Segue-se um passeio que contempla também a capela de Nossa Senhora dos Prazeres, os lagares e a adega, o alambique, as hortas biológicas, os pomares e o jardim das aromáticas, onde também se pode provar o Gin de Ventozelo). Tudo isto é feito com audio-guia e inclui prova de dois vinhos do Porto e um do Douro.

PROVAS

Quinta de Ventozelo

Website: www.quintadeventozelo.pt

Localização: Ervedosa do Douro

5130-135 S. João da Pesqueira

Contactos Enoturismo: +351254732167 / hotel@quintadeventozelo.pt

LISBOA

Quinta do Sanguinhal/Quinta das Cerejeiras

 No Bombarral, a família Pereira da Fonseca detém três propriedades desde o início do século XX, totalizando 140 hectares, sob a “umbrela” Companhia Agrícola do Sanguinhal: Quinta do Sanguinhal, Quinta das Cerejeiras e Quinta de S. Francisco. Nestas três propriedades, a família sempre produziu vinho, vinificando as quintas separadamente, nas respectivas adegas. Mais recentemente, a empresa criou programas de enoturismo para as Quintas do Sanguinhal e das Cerejeiras, focados em proporcionar uma descoberta não só de carácter vínico, mas também histórico, religioso e arquitectónico. Todos os programas podem ser reservados e pagos directamente no website da Companhia Agrícola do Sanguinhal, o que é muito prático.

QUINTA DO SANGUINHAL

Esta propriedade proporciona uma visita completa e guiada (+ prova de vinhos), que passa pelos jardins do século XIX, pelas vinhas, pela destilaria do séc. XIX (onde se produziram aguardentes vínicas e bagaceiras durante 100 anos), por “um dos maiores e mais antigos lagares da Península Ibérica” (com prensas de fuso e vara, a mais antiga a datar de 1871), e pela cave de envelhecimento, “uma das mais antigas da região de Lisboa ainda em utilização” com 36 tonéis de carvalho português e mogno. Aqui, há duas variações do programa:

QUINTA DAS CEREJEIRAS

A visita, com prova de vinhos, da Quinta das Cerejeiras, contempla o exterior da casa de Abel Pereira da Fonseca (fundador da Companhia Agrícola do Sanguinhal), projetada pelo arquitecto Norte Junior (primeira metade do século XX), a capela Madre de Deus (século XVI) com as paredes e abóbada forradas a azulejos do século XVII, o jardim da casa e o núcleo museológico, composto por uma adega com tonéis de carvalho e vários objectos e equipamentos antigos, ligados à história da produção de vinho da empresa. No momento da escrita deste artigo, estava disponível uma modalidade: visita guiada e prova de 2 vinhos da Quinta das Cerejeiras, com duração de 30 a 45 minutos (€5 pax).

enoturismo Outono
Quinta do sanguinhal

Website: www.sanguinhal.pt

Localizações:                                                                             

2540-216 Bombarral

Quinta das Cerejeiras
2544-909 Bombarral

Contactos Enoturismo: +351262609199 / +351914493231 / enoturismo@sanguinhal.pt / ana.reis@sanguinhal.pt

PENÍNSULA DE SETÚBAL

Casa Museu José Maria da Fonseca

 A José Maria da Fonseca foi fundada há mais de 180 anos, estando hoje na sétima geração da família Soares Franco. A sua Casa Museu, em Vila Nogueira de Azeitão, actual local do enoturismo da empresa, foi residência da família até aos anos 70, tendo sido construída no século XIX e restaurada em 1923, pelo arquitecto suíço Ernesto Korrodi. Visitá-la, é também entrar em toda a mística da produção e estágio dos moscatéis, onde os cheiros e e as madeiras velhas combinam na perfeição com a estação outonal. Há muitas e distintas provas disponíveis, e todas incluem a visita, que tem início na Sala Museu, com uma breve explicação sobre a história da empresa, seguindo-se passagem pelo jardim e descoberta das três adegas: a Adega da Mata, onde estagia o vinho Periquita; a Adega dos Teares Novos, palco da Confraria do Periquita; e a Adega dos Teares Velhos, onde repousam os moscatéis mais antigos da José Maria da Fonseca.

Há várias modalidades de prova que conjugam vinhos brancos, tintos e Moscatéis de Setúbal: as Premium, dos 8 aos 19 euros; e as Super Premium, dos 18 aos 36 euros. Mas são as Provas Especiais, o Programa Família e a Experiência “Um dia com a nossa Família”, que se destacam neste Outono.

PROVAS ESPECIAIS (incluem visita):

PROGRAMA FAMÍLIA:

EXPERIÊNCIA “UM DIA COM A NOSSA FAMÍLIA”:

Casa Museu José Maria da Fonseca                                                         

Enoturismo Outono
Fachada da Casa Museu José Maria da Fonseca

Website: www.jmf.pt

Localização: Rua José Augusto Coelho 12A
2925-538 Azeitão

Contactos Enoturismo: +351212198940 / enoturismo@jmfonseca.pt

ALENTEJO

Herdade do Rocim

 A Herdade do Rocim é já uma referência incontornável da região da Vidigueira, quer pela qualidade e diversidade dos vinhos como pela beleza da propriedade e da sua moderna (mas perfeitamente integrada na paisagem) adega. A oferta de enoturismo do Rocim, por sua vez, convida a imergir na cultura vitivinícola tradicional alentejana, com propostas muito interessantes e originais, entre as quais se destaca a Amphora Wine Tour e a sugestão do produtor para esta estação: Brunch de Outono ou Bucha Alentejana de Outono.

PROVAS:

BRUNCH DE OUTONO OU BUCHA ALENTEJANA DE OUTONO:

AMPHORA WINE TOUR:

Herdade do Rocim                                                                                     

Website: www.rocim.pt

Localização: Estrada Nacional 387
7940-909 Cuba

Contactos Enoturismo: enoturismo@herdadedorocim.com / +351935683517

 

Grande Prova- Alentejo tinto Potência com elegância: afinal é possível…

Alentejo tinto

Ao pensar num topo de gama do Alentejo, imediatamente no nosso imaginário surgem vinhos poderosos, carnudos, macios e densos. A qualidade nem se coloca em causa, está lá por defeito. Entretanto, existem muito mais estilos nos vinhos que representam a crème de la crème da região. E descobrimos vários nesta prova de mais de cinco […]

Ao pensar num topo de gama do Alentejo, imediatamente no nosso imaginário surgem vinhos poderosos, carnudos, macios e densos. A qualidade nem se coloca em causa, está lá por defeito. Entretanto, existem muito mais estilos nos vinhos que representam a crème de la crème da região. E descobrimos vários nesta prova de mais de cinco dezenas de tintos alentejanos.

Texto: Valéria Zeferino Fotos: Ricardo Palma Veiga

 

Sendo o Alentejo extenso e muito heterogéneo em termos de solos e clima, a diversidade dentro da região é enorme. Para além das zonas quentes e mais áridas, tem o litoral, temperado pela influência atlântica e Portalegre, onde altitude em combinação com um clima continental, confere uma frescura própria aos vinhos. Não é por acaso que nos últimos anos assinalou-se um investimento nesta zona. As serras de São Mamede, do Mendro, de Ossa moldam as condições microclimáticas dos territórios adjacentes. A falha da Vidigueira com escarpas orientadas no sentido Este-Oeste permitem que os ventos do Atlântico empurrem o ar frio, promovendo o arrefecimento significativo do ar à noite. Luís Cabral de Almeida, responsável pela enologia na Herdade do Peso, conta que isto acontece quase todos os anos: as temperaturas de dia podem chegar a 38-39˚C e à noite caem até 15-17˚C o que tem um efeito benéfico na composição das uvas.

O calor e a água (ou falta dela)

O clima quente e seco do Alentejo, em certa medida, beneficia os produtores. Luís Cabral de Almeida que já trabalhou noutras regiões onde a Sogrape tem produção, como o Douro, Dão e até na Argentina, considera o Alentejo uma região consistente, com baixa carga de doenças. Não é por acaso que no Alentejo há muita produção biológica. As características da região e a sua fama junto do consumidor motivam alguns produtores de outras regiões a investir no Alentejo. É o caso do projecto da Symington na Quinta da Fonte Souto em Portalegre e da Costa Boal na Quinta dos Cardeais, entre os mais recentes.

Por outro lado, a seca é capaz de comprometer não apenas a quantidade e a qualidade de uma ou outra colheita, mas colocar em causa a sobrevivência das videiras, pois na falta de água esta não tem forma de buscar os nutrientes do solo e distribuí-los de forma correcta na própria planta. Por isto, a rega é indispensável em muitas partes do Alentejo, sobretudo nos solos mais pobres e com baixa retenção de água.

Contudo, a rega não visa proporcionar à videira um acesso desmedido à água. O equilíbrio da área foliar e rega controlada são essenciais, sublinha Luís Cabral de Almeida. Até à fase do pintor (quando os bagos ganham cor) dá-se água à videira (quando a chuva não vem) para obter os nutrientes do solo, e construir a área foliar para garantir actividade fotossintética. A partir do pintor, limita-se a água, para a videira investir na maturação da fruta.

Por exemplo, o enólogo Pedro Hipólito tem um sistema de rega instalado na Herdade da Mingorra, pronto para qualquer eventualidade, mas nas vinhas velhas não tem sido preciso. Tem 7 talhões que nunca foram regados.

Entretanto, no Alentejo ainda existem vinhas de sequeiro, mas estas encontram-se plantadas em áreas muito especiais. Como conta António Maçanita, há zonas na região, onde as águas freáticas ficam mais perto da superfície, permitindo que as raízes das videiras possam chegar até lá. O produtor e enólogo Luís Louro, que em 2004 iniciou o seu projecto do Monte Branco, também tem algumas vinhas em sequeiro. Estas estão implantadas em solos mais profundos e relativamente férteis, num xisto argiloso, que tem melhor capacidade de retenção do que o xisto normal.

Tudo no sítio e momento certos

As castas certas no sítio certo + momento de vindima + filosofia do produtor: é este o segredo do sucesso. Conseguir potência no Alentejo é fácil, juntar a elegância, às vezes, é um desafio. Nos topos de gama a tentação de criar vinhos poderosos é natural e as principais castas também ajudam. A triologia de Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira que predominam nos lotes de há 30 anos, proporcionam muita estrutura e potência, diz António Maçanita, enólogo e produtor com projectos em várias regiões do país. Cabernet e Syrah também ajudam à festa. As castas “mais fracas” como Castelão ou Alfrocheiro não são das mais presentes nos topos de gama. Mas há excepções.

Repetindo as palavras de Luís Louro, um vinho é um produto de vinha e filosofia. O principal foco é nas castas certas e na época de colheita. A principal preocupação é “colher maduro, mas nunca sobremaduro”.

António Maçanita partilha a sua experiência, referindo que Castelão, Tinta Carvalha e Alfrocheiro têm muita tolerância para o momento da vindima, enquanto o Moreto não. As castas tânicas como Aragonez, Alicante Bouschet ou Syrah se não forem vindimadas maduras, são verdes e difíceis.

As castas certas por vezes já se encontram numa vinha, sobretudo numa vinha velha bem adaptada ao local e que expressa o seu carácter único. Tivemos alguns exemplos interessantes nesta prova. O Chão dos Eremitas Os Paulistas, da Fita Preta, por exemplo, com as castas (curiosamente, não misturadas, o que facilita a vindima) Tinta Carvalha, Moreto, Castelão, Alfrocheiro e Trincadeira, plantadas há 50 anos.

A Vinha da Ira, da Mingorra, é uma pequena parcela de 2 ha, plantada nos anos 80. É um resultado da selecção massal  de uma vinha mãe da Vidigueira. Chamava-se o Talhão de Alfrocheiro e no início fez muita confusão, porque quando a uva chegava à adega, era óbvio que não se tratava só de Alfrocheiro, até porque tinha muita uva tintureira. Em 2004 fizeram uma biblioteca genética das castas que tinham nesta vinha e estavam lá 12 variedades misturadas, onde 50% era Alicante Bouschet, também Aragonez, Touriga Nacional entre outras. O Alfrocheiro só representa 7% da vinha. Vindima-se tudo junto e o Alicante Bouschet serve de referência para a colheita.

Na Herdade do Peso, da Sogrape, o conceito do vinho Parcelas é diferente do Reserva, ou do Revelado, que têm que ter um determinado perfil. Os vinhos da gama Parcelas podem ter um perfil próprio em função do ano, explica Luís Cabral de Almeida. Por exemplo o Parcelas Block 21 é 100% Alicante Bouschet.

Dos produtores entrevistados, há unanimidade que o futuro passa muito pelas castas de ciclo longo: Touriga Nacional, Petit Verdot, Tinta Miúda, como exemplo.

A filosofia do produtor começa na escolha de terrenos e castas e acaba na abordagem na adega e até no tempo do estágio em garrafa antes de lançar para o mercado. Os produtores como Julian Reynolds ou Luís Louro não abdicam deste estágio o que sempre se reflecte no momento da prova.

Os estilos dos tintos do Alentejo

 Normalmente fala-se de dois principais estilos de vinhos no Alentejo: um clássico (mais balsâmico, com bosque e resinas, com vegetal seco e até uma certa rusticidade) e um moderno, de grande polimento, com fruta mais imediata, mais intensa e mais presente.

Na realidade, o Alentejo é muito mais do que isto. Depois de provar mais de 50 vinhos, eu diria que existem quatro estilos: dois clássicos – um que consegue aliar potência à elegância (vinhos profundos, perfeitos em cada momento de contacto) e outro onde a potência predomina, com vinhos muito extraídos e alcoólicos, mornos e quase doces (secos tecnicamente, mas pela sensação da doçura de fruta sobremadura e muita presença de barrica). Estes últimos são bem-feitos e impactantes, impressionam ao primeiro gole, mas a partir do segundo o entusiasmo diminui.

Nos vinhos de estilo dito “moderno”, também há duas variações. Um é mais sensual e consensual, guloso, com fruta bonita, encorporando normalmente as “castas melhoradoras” no lote, como a Syrah ou Touriga Nacional. Uma espécie de Novo Mundo no Alentejo.

O outro “novo” estilo do Alentejo é uma regressão ao passado, dando protagonismo às castas antigas, com fruta simples e pura, sem o lustro da Touriga ou Syrah. Podem não ser tão consensuais, mas têm muito bom senso na sua essência, são pensados, ensaiados e bem interpretados. São elegantes com estrutura, extremamente precisos e sofisticados.

Com isto não pretendo dizer que tem que se excluir castas ou estilos. Há gostos para tudo. As tendências vêm e vão, e o que é realmente bom acaba por perdurar.

Castas: as nossas, as outras e o Alicante Bouschet

 De acordo com o cadastro da CVR Alentejo, nos últimos dez anos a área de vinha tem crescido, tendo aumentado 4.003 hectares (21%) e em 2021 ocupou 23.277 ha. As castas tintas predominam com 79%. A vinha nas sub-regiões D.O. representa 72% da área total do Alentejo e 74% da produção total de uvas da região.

Nas castas tintas é notória a importância adquirida pelo Alicante Bouschet, que aumenta em área e representatividade na região e, com menor intensidade, também a Syrah e Touriga Nacional. Em diminuição estão as castas Aragonez, Trincadeira e Castelão, que perdem área e expressão na área vitícola.

As castas dividem-se em dois polos principais: portuguesas típicas do Alentejo (Aragonez, Trincadeira) ou vindas de outras regiões como a Touriga Nacional ou Touriga Franca, e estrangeiras como o Cabernet Sauvignon, a Syrah ou o Petit Verdot.

E depois há Alicante Bouschet que é a casta estrangeira mais portuguesa. Entrou no país há mais de 100 anos e ganhou a cidadania e reconhecimento que nunca teve no seu país natal. Luís Cabral de Almeida compara o percurso do Alicante Bouschet em Portugal como o do Malbec na Argentina: ambas as castas são de origem francesa e ambas encontraram a sua expressão máxima nos países de adopção. Hoje, Alicante Bouschet é parte importante da tipicidade dos vinhos do Alentejo e está em franco crescimento na região, sendo a segunda tinta mais plantada.

Para Luís Louro, Alicante Bouschet é uma casta fantástica que conjuga potência e acidez se for colhida a tempo. Tem uma parcela na zona de sequeiro que dá óptimos resultados.

Para Luís Cabral de Almeida, Alicante Bouschet é a garantia de fruta, cor e sabor, mas há que lhe aumentar a complexidade. Considera que não adianta forçar a extracção através de remontagens, por exemplo, pois vai-se extrair o que tem de bruto e agressivo. Prefere aplicar o engaço maduro na fermentação, que confere ao vinho tanino de meio de boca, diferente do tanino da madeira que é mais lateral.

Frederico Rosa Santos sublinha que as uvas de Alicante Bouschet têm de estar bem maduras e muitas vezes só amadurece a parte fenólica com o grau alcoólico alto. Não se dá bem em todo o lado. Mais a sul de Beja é demasiado quente para o Alicante e a ondas de calor em Julho ou Agosto fazem com que não amadureça. Fica bem de Estremoz para cima.

Das castas portuguesas, Aragonez continua a ser a uva mais plantada (com 23% de encepamento), mas não é de todo a mais amada. Muitos produtores reconhecem as suas limitações, começando por ser altamente sensível à produção. Se não for controlada, não consegue amadurecer a parte fenólica e apresenta taninos verdes e duros. Também precisa de amplitudes térmicas significativas.

Pedro Hipólito, enólogo da Herdade da Mingorra, conta que quando temperatura se mantém durante algum tempo acima dos 35˚C, a videira fecha os estomas e deixa de funcionar. Ainda por cima, como se sabe, o Aragonez com o stress hídrico sacrifica folhas o que faz difícil a sua maturação posterior.

Usar o clone certo também é importante. Frederico Rosa Santos conta que quando decidiram plantar Aragonez na propriedade da família, foram buscar o clone de Tinta de Toro num viveirista em Navarra. A vinha, no seu máximo, produz 4 tn/ha.

A Trincadeira, outrora muito popular, mantém-se em 3º lugar com 14,9% de encepamento, mas está a perder posição. Os enólogos são da opinião que com produções elevadas, perde todo o carácter e torna-se muito vegetal, fazendo lembrar um “mau Cabernet do Alentejo”. É capaz de produzir excelentes vinhos mas tem que se descobrir o seu ponto de equilíbrio. A casta também não gosta do stress hídrico, embora o aguente melhor que o Aragonez mas, se for preciso, vai buscar água aos bagos desidratando-os.

Já Luís Louro defende esta casta polémica, afirmando que cada vez gosta mais dela. No lote com Alicante Bouschet tira-lhe a brutalidade. Basta 15% e já se nota a diferença, diz.

A Touriga Nacional é a 5ª casta mais plantada no Alentejo, ocupando 8% de encepamento e com tendência a crescer. Há muitos argumentos a favor, começando por ser de maturação longa o que traz vantagens no Alentejo. Frederico Rosa Santos reconhece que a casta aguenta muito bem a seca, e o bago está sempre túrgido. Aromaticamente agradável, mas às vezes no Alentejo torna-se um pouco enjoativa, com violetas em excesso e canela.

Ainda se fala pouco da Tinta Miúda que representa apenas 0,5% de encepamento da região, mas já há produtores atentos a esta casta. Luís Louro gosta dela porque é poderosa, com concentração e intensidade, é menos rústica do que o Alicante Bouschet, tem classe.

Das castas estrangeiras mais recentes destaca-se claramente a Syrah, cujas plantações têm vindo a crescer e que hoje em dia fica no 4º lugar com 12%.

Frederico Rosa Santos não tem dúvidas que Syrah se dá bem em todo o lado, variando em estilo. Pedro Hipólito repara que até num ano bem difícil como este, teve uma boa evolução. Luís Louro reconhece que é uma casta fácil, melhoradora, mas acha que se impõe muito e tira a identidade aos vinhos. António Maçanita admite que Syrah em monocasta pode expressar o terroir e é capaz de ser interessante, mas no lote marca demasiado. Melhora sim, mas desvirtua o perfil, como a Touriga Nacional.

Embora o Cabernet Sauvignon tenha chegado ao Alentejo mais cedo do que a Syrah e ocupe uma área significativa (4,4% do encepamento, 7ª casta mais plantada) a sua presença está lentamente a diminuir. Faz parte de muitos lotes, mas não identifica a região.

Pedro Hipólito explica isto pelo ciclo do Cabernet Sauvignon ser relativamente curto para o Alentejo. Com um tipo de taninos próprio e o lado herbáceo, a casta necessita de tempo de maturação. E no Altentejo os ciclos estão a encurtar. Antigamente vindimava-se de Setembro até quase início de Outubro e agora começa-se no início de Agosto. O Cabernet pode ter 15% de álcool e continuar vegetal o que de todo não se enquadra no perfil dos vinhos que procuram. Por isto, na Herdade da Mingorra, que fica a 15 km a sul de Beja, numa zona muito quente, acabou-se com o Cabernet Sauvignon.

Frederico Rosa Santos sempre teve reticências relativametne ao Cabernet no Alentejo. É demasiado quente para a casta, acredita. Os bagos relativamente pequenos rapidamente transformam-se em passas. Mas reconhece que em bons anos beneficia alguns lotes.

Uma estrela em ascenção é o Petit Verdot que se dá lindamente no Alentejo e agora ocupa 1,9% da plantação. Para Frederico Rosa Santos foi uma agradável surpresa depois de a ter provado durante um estágio em Bordeaux, onde não tem condições para amadurecer bem a parte fenólica, ficando muito dura e difícil. Por cá, a casta apresenta tanino maduro, sensação de boca e corpo, fica muito mais completa e equilibrada. E pode produzir imenso sem diminuir a qualidade. António Maçanita está de acordo e diz que o Petit Verdot funciona como um relógio suíço, sem problemas sanitários, muito no registo de Alicante Bouschet, ou seja, não marca demasiado, não passa por cima do perfil da região.

Os tintos do Alentejo, como se vê, são em si mesmo um mundo. Feito de corpo, maturação, vigor, mas também elegância, finura, frescura. Os estilos abundam, a qualidade também. É bom que assim seja: nenhum apreciador sai insatisfeito.

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2022)

 

Lynch-Bages e Xisto 20 anos de união

xisto união

O justamente famoso Rei dos Leitões, na Mealhada, serviu de palco para um “confronto” amigável de dois grandes vinhos – Château Lynch-Bages de Bordeaux e Xisto da Roquette & Cazes do Douro – onde os vencedores foram todos os presentes neste jantar memorável organizado pelo Club Direct Wine. Texto: Valéria Zeferino   Foto de abertura: Anabela […]

O justamente famoso Rei dos Leitões, na Mealhada, serviu de palco para um “confronto” amigável de dois grandes vinhos – Château Lynch-Bages de Bordeaux e Xisto da Roquette & Cazes do Douro – onde os vencedores foram todos os presentes neste jantar memorável organizado pelo Club Direct Wine.

Texto: Valéria Zeferino   Foto de abertura: Anabela Trindade

Já não é a primeira vez que o Raul Riba D’Ave organiza eventos de grande nível e interesse didáctico destinados aos enófilos, como o “Barca Velha 2011 contra Vega Sicilia 2011” ou “Mini Julgamento de Paris”, onde se comparou numa prova cega 3 vinhos franceses e 3 vinhos da California. O objectivo destes eventos é abrir os horizontes, provando e desfrutando o melhor do que se faz por cá e no mundo.

Esta noite dedicada a duas grandes regiões, Bordeaux e Douro, e onde o único intruso foi o espumante de boas-vindas Sílica Super Reserva, abriu com o vinho branco orgânico Michel Lynch 2021 (90% de Sauvignon Blanc e 10% de Semillon) a acompanhar na perfeição as vieiras com salicórnia e vinagreta de maçã. Com o bacalhau com trufa e cogumelos em manteiga de alho negro alinhou o Roquette & Cazes 2019 com 18 meses em barrica de carvalho francês de 2º e 3º ano.

Mas as duas estrelas da noite, uma bordalesa e outra duriense, eram o Château Lynch Bages e o Xisto, ambos de 2018. Há muito que os une – os seus criadores, a ambição associada, o profissionalismo de quem os faz e, consequentemente, o nível de qualidade mundial. Também são evidentes os factores que diferenciam estes grandes vinhos – a região, as castas, as condições em que são feitos. Pauillac com o seu clima marítimo, solos de argila e areia misturadas com cascalho, onde se procura uma boa drenagem e o Douro Superior com clima mediterrânico continental e solos de xisto, onde a capacidade de retenção ganha importância pela falta de água, não têm mesmo nada em comum.

Raul Riba D’Ave apresentou o Château Lynch Bages que pertence à família Cazes desde o final da 2ª Guerra Mundial. A propriedade faz parte da mundialmente conhecida Classificação de Bordeaux de 1855, elaborada com base nos preços dos vinhos na altura. Os châteaux ficaram arrumados em 5 níveis, de Premières Crus com vinhos mais reputados e caros até Cinquièmes Crus no último nível do ranking. Os Grand Crus Classé correspondem apenas a 2% do vinho produzido em Bordeaux, mas fazem-lhe o nome.

O Château Lynch Bages em 1855 integrou no Cinquièmes Crus. Desde então, a Classificação mantém-se inalterada (com apenas duas modificações). É ponto assente entre profissionais e apreciadores que a hierarquia de antigamente está completamente desajustada do mercado actual e não reflecte a realidade de hoje, na qualidade e no preço.  Assim, existem châteaux no 5º nível que praticam (e o mercado aceita) os preços bem acima do seu patamar e, como é o caso do Lynch Bages ou Pontet Canet, acima de muitos Deuxièmes Crus, porque a sua qualidade e reputação supera largamente a classificação oficial.

O 2018 foi um ano bom em Bordeaux, onde o bom significa um ano quente. O lote é tipicamente bordalês da margem esquerda, com 72% Cabernet Sauvignon, 19% Merlot, 6% Cabernet Franc, 3% Petit Verdot. Depois da habitual longa maceração, estagiou em barricas de carvalho francês (75% novas) durante 18 meses.

O Château Lynch Bages 2018 é concentrado e sólido no aroma, com sugestões de mirtilo, chocolate negro e pimenta preta, deixando transparecer algumas bagas vermelhas e ervas aromáticas. Tanino magistral, corpo monolítico, muito íntegro, com textura em camadas e imensa frescura. No sabor revela nuances de eucalipto, belíssima fruta fresca, café verde um toque savory. Persiste no acompanhamento de prato, elevando-o.

Da amizade e parceria entre a família Roquette, já há muito ligada ao Douro através da Quinta do Crasto, e a família Cazes, proprietária do Château Lynch Bages em Pauillac, nasceu o projecto Roquette & Cazes em 2002. Este ano faz 20 anos. O responsável de enologia do lado português é Manuel Lobo, que também é o enólogo da Quinta do Crasto, e do lado francês, Daniel Llose, o enólogo do Lynch Bages. A ambição de produzir um grande vinho no Douro não perseguiu a ideia de fazer uma réplica de Bordeaux, mas sim, explorar o potencial do Douro Superior.

Manuel Lobo apresentou o Xisto 2018, explicando que só é feito em anos verdadeiramente excepcionais. No Douro há colheitas mais difíceis onde não é possível atingir a qualidade para um vinho de topo.

O lote é típico duriense com Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz – todas vinificadas em separado em cubas troncocónicas para promover a extração mais homogénea em todas as partes da manta quando fazem a délestage. Procuram concentração e complexidade com elegância. O estágio decorreu em barricas de 225 litros do fornecedor do Château Lynch Bages durante 20 meses.

Tudo isto resultou num vinho com aroma profundo de amora madura, eucalipto, esteva, notas terrosas, algum couro e leve cogumelo. Refinado de sabor e corpo possante com polimento magistral, fruta pura e madeira perfeitamente integrada. Com este gabarito todo, não peca por falta de frescura a acompanhar a refeição, termina expressivo e muito longo.

Ambos os vinhos se fizeram grandes aliados ao prato principal de saboroso cordeiro com queijo de cabra e pimentos. Finalizámos com um belíssimo Sauternes de Château Siduiraut 2010, feito também por Daniel Llose, a acompanhar a sobremesa – créme brulée com alperce e merengue.

Dedicada à distribuição de vinhos internacionais e portugueses, com um grande portefolio a contar com referências das regiões mais emblemáticas do Velho e do Novo Mundo, a Direct Wine também atua na área de formação WSET até ao nível 3. Já o Club Direct Wine idealizado por Raul Riba D’Ave reúne os entusiastas do vinho em torno de novas experiências. A diferença de preço entre as duas estrelas da prova reflecte, sobretudo, a notoriedade internacional de cada marca e região: o Château Lynch Bages anda entre €180 e €200€ e o Xisto custa cerca de €80, um valor já bem acima da média dos vinhos de topo em Portugal.

(Artigo publicado na edição de Outubro 2022)

Editorial: Turismo no Douro, ilhas na paisagem

Editorial

Dizer que o potencial turístico do Douro é enorme, tornou-se lugar-comum. Mas eu continuo a pensar que esta região ainda não é destino de viagem tão perfeito quanto a fazemos crer. Faltam muitas peças no puzzle, entre elas, gastronomia, urbes bonitas e organizadas, oferta em rede, espaços verdes, arte e cultura, enfim, tudo aquilo que […]

Dizer que o potencial turístico do Douro é enorme, tornou-se lugar-comum. Mas eu continuo a pensar que esta região ainda não é destino de viagem tão perfeito quanto a fazemos crer. Faltam muitas peças no puzzle, entre elas, gastronomia, urbes bonitas e organizadas, oferta em rede, espaços verdes, arte e cultura, enfim, tudo aquilo que um destino turístico ambicioso deveria ter.

Editorial da edição nº 67 (Novembro 2022)

Não me interpretem mal, adoro o Douro. De tal forma que, apesar de visitar a região, em trabalho, várias vezes por mês, ainda lá regresso nas férias com a família para passar uns dias. Mas a questão é mesmo essa. Dificilmente “aguento” mais do que dois ou três dias a olhar a paisagem, com pouco mais para ver e fazer.

Deixem-me despachar a heresia de uma vez, para ficar o assunto arrumado. As quintas do Douro são hoje, no seu conjunto, a mais impactante oferta enoturística que temos em Portugal. A paisagem vinhateira, classificada Património da Humanidade desde 2001, o rio e seus afluentes são, só por si, motivo mais do que suficiente para que centenas de milhar de turistas ali acorram em cada ano e, cada vez mais, em todas as estações do ano. Muitos destes polos de enoturismo estão no patamar da excelência, pelo cuidado e profissionalismo colocado no espaço e na oferta (provas, visitas guiadas, passeios, etc.), num modelo que, em vários casos, se estende à gastronomia e hotelaria de qualidade. Estas quintas procuram, geralmente, ser autossuficientes em termos de “ementa turística”, para que o visitante não sinta a necessidade de dali sair. E, na verdade, a única justificação turística para sair de uma quinta é ir visitar outra quinta.

Atentemos na seguinte situação. Cheguei a uma propriedade esplendorosa, com uma oferta enoturística de primeira linha. Fiz as provas acompanhado por guias competentes, passeei pelas vinhas, visitei a adega, comprei na loja, já dormi a sesta no quarto do hotel. Ao fim da tarde, sento-me numa espreguiçadeira, frente ao rio, com um livro na mão e descanso os olhos no monte que se avista na outra margem enquanto aguardo pelo jantar. Lindo. No segundo dia, repito o programa, com algumas variantes: subo até ao ponto mais alto da vinha, onde ainda não tinha estado, faço uma outra prova, mas agora com Porto e, antes do jantar, sento-me novamente na espreguiçadeira com o livro, o rio e o monte em frente. Ao terceiro dia, para mim, chega. Quero ir petiscar fora, usufruir de uma bonita esplanada ou jardim, conversar com os locais, passear por ruas pitorescas, comprar pão e queijos, visitar um museu, um castelo, um atelier de artesanato, jantar num bom restaurante com comida local e regressar à quinta/hotel sem sobressaltos. O problema: tudo o que acabei de elencar, e que qualquer enoturista tem como garantido a cada passo na Toscana, no Loire, em Rioja… ou no Alentejo, é coisa muito, muito rara no Douro.

As quintas têm reforçado a oferta gastronómica e actividades “intramuros”, é o seu papel, mas ao mesmo tempo tornam-se cada vez mais “ilhas”, sem contacto com o exterior. Podiam (e deviam) desenvolver o trabalho em rede, para que o turista possa saltar de quinta em quinta, diversificando caras, comida, paisagem. Mas não podem inventar esplanadas, jardins, ruas pitorescas, museus, vida urbana.

Os números contrariam, evidentemente, esta visão pessimista. Nunca o Douro teve tanto turista a circular, por terra ou por água (os primeiros ainda deixam o dinheiro na região, os segundos nem isso, fica tudo nas ilhas flutuantes). Mas é preciso olhar além, a médio e longo prazo. A extraordinária paisagem vinhateira e a qualidade dos vinhos e das quintas não serão suficientes para garantir o futuro do turismo duriense se não houver autenticidade local a envolver tudo. Para que a galinha dos ovos de ouro não acabe por definhar um dia, seria bom que produtores e autarquias reconhecessem e identificassem as carências e trabalhassem em conjunto para as resolver.

 

Entrevista: Diogo Lopes, o enólogo de quem se fala

Diogo Lopes

Aos 44 anos de idade, Diogo Lopes é hoje um dos nomes mais falados e unanimemente apreciados da “moderna” enologia portuguesa, emprestando o seu talento a sete distintos projectos vitivinícolas e com mais alguns em carteira. Para comemorar a sua 20ª vindima (na verdade, são 21, contando com a actual), encontrámo-nos à mesa para conversar […]

Aos 44 anos de idade, Diogo Lopes é hoje um dos nomes mais falados e unanimemente apreciados da “moderna” enologia portuguesa, emprestando o seu talento a sete distintos projectos vitivinícolas e com mais alguns em carteira. Para comemorar a sua 20ª vindima (na verdade, são 21, contando com a actual), encontrámo-nos à mesa para conversar e abrir algumas garrafas que espelham o seu trabalho e a sua visão do mundo do vinho.

Texto e Notas de Prova: Luís Lopes      Fotos: D.R.

Lisboeta de nascimento (1978), foi o entanto o campo e não a urbe que o motivou para escolher a profissão. Entre 1999 e 2004 estudou Engenharia Agronómica no Instituto Superior de Agronomia com especialização em Viticultura e Enologia. E foi enquanto estudante que visitou o primeiro Encontro com o Vinho, então ainda realizado em Santa Apolónia, com o fito de conhecer “as pessoas do vinho” e em particular os que mais admirava, João Portugal Ramos e Anselmo Mendes. Com este último, acabaria depois por estabelecer uma estreita relação pessoal e profissional que se estende intocada até aos dias de hoje. Quando Diogo Lopes menciona o “Mestre” (assim, com maiúsculas), já toda a gente sabe a quem se refere. A primeira vindima como estagiário ocorreu em 2001, da adega dos Vinhos Borges, na Lixa. Nunca mais falhou uma: 2002 com Anselmo Mendes, em Monção; 2003 em Napa Valley, na Califórnia; 2004 na Quinta de Lourosa (propriedade do seu orientador final de curso, professor Rogério de Castro). No âmbito, precisamente, desse trabalho final de curso, passou o ano de 2004 entre a Bairrada e os Vinhos Verdes integrado no projecto Lusocastas, que visava estudar os diferentes sistemas de condução para as principais castas portuguesas nessas regiões. Rogério de Castro e Amândio Cruz foram os seus coordenadores e cimentou-se aí uma paixão pela terra, pela videira, que se desenvolveu nos anos seguinte e que marca claramente o seu trabalho enquanto enólogo. Na vertente enológica, os conhecimentos foram aprofundados com uma pós-graduação em Enologia na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica no Porto.

O percurso enquanto profissional “à séria” (ou seja, enólogo residente) iniciou-se em 2005, em Cabeção, na Sociedade Agrícola do Vale de Joana, onde Anselmo Mendes era consultor. Ficou em Cabeção até 2010, começando aí um percurso de consultorias em parceria com “o Mestre” que o levaram ao Couteiro-Mor e, mais tarde, à Adega Mãe, ainda hoje, porventura, o projecto que mais visibilidade lhe trouxe e continua a trazer. Vieram outros, entretanto, alguns de onde já se desligou (Morais Rocha, na Vidigueira e Herdade de Vale D’Évora, em Mértola) e outros onde se mantém em plena actividade e com máximo empenho: Vinhos Magma (na Terceira, Açores, com Anselmo Mendes), Cazas Novas (em Baião, na maior vinha de Avesso – 36 ha – onde trabalha em parceria empresarial com a família proprietária, Cunha Coutinho, e dois outros sócios), Herdade Grande, na Vidigueira, Kranemann Wine Estates, no Vale do Távora, Douro e Herdade do Freixo, Redondo.

Já muito com que se entreter, mas Diogo Lopes não vai ficar por aqui. O enólogo admite ter “em construção” três novos projectos: um, em Melides, “8 ha de uma vinha de sequeiro muito especial”; outro em Alvito, “20 ha de vinha numa das mais históricas propriedades do Alentejo”; e um outro na Beira Interior, “com o meu primo, no projecto Vale do Griz, 6 ha apenas com castas regionais”.

Mas quem é, na verdade, Diogo Lopes? Quais as suas referências, o que o motiva, que vinhos ainda quer fazer? Foi o que fiquei a saber após algumas horas de conversa e mais de uma dúzia de vinhos provados (e, em boa parte, bebidos…). Segue a entrevista.

O que o fez encarar a vinha e vinho como carreira profissional? 

Nasci em Lisboa mas tive uma infância com uma base rural muito forte. Na verdade, férias para mim era ir ter com os meus avós à Beira e participar nas diversas actividades agrícolas. Eles eram agricultores, faziam um pouco de tudo, mas a vinha e o vinho eram o orgulho máximo do meu avô. Eu penso que a motivação deve ter vindo daí. Estudei no Colégio Militar, ainda fui para a Academia Naval para seguir o curso de oficial de Marinha, mas após um ano, a paixão pela Agronomia era muito maior. E então resolvi ingressar no ISA. Dentro do curso, foi só após ter travado conhecimento com o professor Rogério de Castro que a decisão de apontar baterias para a Viticultura e Enologia foi tomada. Foi ele quem me conduziu à conversa com o Anselmo Mendes para fazer o primeiro estágio de enologia em 2001. E a partir daí tudo se desencadeou.

Os primeiros anos na profissão, muitas vezes, definem o modo de estar de um profissional.  Onde mais aprendeu, o que o surpreendeu, que influências teve? 

O curso de Agronomia é fundamentalmente teórico. Os meus primeiros anos a “meter a mão na massa” serviram muito e foram fundamentais para ter contacto com os aspectos práticos do trabalho como enólogo. Na verdade, um enólogo faz muito mais coisas do que só a enologia pura… Há os aspectos burocráticos com as CVR, as encomendas de materiais para engarrafar, a própria manutenção dos equipamentos, gestão do pessoal. Nos primeiros anos creio que todas as semanas aconteciam coisas que eu nunca tinha feito. Desafios pequenos, mas onde é preciso encontrar soluções práticas e rápidas.

E agora entro na parte das influências. Tenho tido a sorte de me cruzar com muita gente e “beber” muitos ensinamentos, mas tenho de relevar um nome: Anselmo Mendes. O Anselmo Mendes sempre me ajudou a criar e a ter um método que seja desbloqueador e descomplicador de situações. Isso foi uma enorme ajuda. Mas o Mestre significou muito mais do que uma primeira oportunidade. Significou testemunhar os processos de experimentação que levava, em particular, em torno do Alvarinho. De um momento para o outro dei por mim a fazer estudos de fermentação em carvalho de diferentes florestas, com diferentes tostas, à procura das expressões mais genuínas das castas. E essa ideia da experimentação e da procura do que é mais genuíno ficou para sempre; acho que define muito do que continua a ser o meu trabalho. Agora dou por mim a fazer testes e mais testes e a descobrir o potencial do Avesso, ou do incrível Viosinho de Lisboa; o Vital em madeira e no ovo de cimento; os Pinot atlânticos; o Sousão e os Potes de Barro da Vidigueira, o carácter vulcânico dos Biscoitos.

Seja porque os anos e o clima mudam, seja porque a viticultura evoluiu, seja porque temos um património brutal de castas por potenciar em Portugal, a nossa atividade de enologia é dinâmica e uma descoberta permanente. E a minha descoberta começou com o Mestre! E depois achamos que fazemos um grande vinho, metemo-nos no avião, vamos à Borgonha e a Sancerre, ou vamos à Rioja, à África do Sul, ou mesmo ao novo mundo, Oregon, Napa, Mendoza… e somos surrados por novas influências, novas inspirações, que nos motivam sempre uma experiência… As viagens “vínicas” servem para apreender imenso.

 

Alentejo, Lisboa, Douro, Vinhos Verdes e Açores são as regiões onde Diogo Lopes espraia o seu talento.

 

Iniciou a carreira na vindima de 2001, um ano de boas memórias. O que mais o marcou nessa vindima? 

Foi uma experiência incrível na Borges. Até ali, as minhas vindimas eram as feitas na Beira, nos lagares do meu avô. Na Borges tudo era enorme. Tudo muito mais mecânico e muito mais prático. Lembro-me que logo no meu primeiro dia, trabalhámos mais de 12 horas e adorei. O cheiro da fermentação do Loureiro é algo que nunca mais irei esquecer…

Ao longo de quase 21 vindimas feitas (contando com esta que vai a meio) quais as que lembra pela positiva e pela negativa e porquê? 

2002 pela negativa. Aquilo foi chuva sem parar durante todo o setembro. 2014 também foi muito complicado, estava tudo no ponto mas depois começou a chover e estragou muita coisa. Pela positiva, 2012 e 2017. Anos perfeitos em equilíbrio. Nestes anos só é preciso não estragar, mesmo. Isso sim, é intervenção mínima!

Trabalha hoje em diversos produtores e distintas regiões (Alentejo, Lisboa, Douro, Vinhos Verdes e Açores) cada uma com suas características. Do ponto de vista de enólogo, o que destaca em cada região e quais os principais desafios/dificuldades? 

É super-desafiante trabalhar em regiões tão diferentes. Cada uma tem o seu lado especial e temos de nos adaptar para sabermos tirar o melhor. Na região de Lisboa, a influência do Atlântico é talvez a característica mais diferenciadora e temos de saber aproveitá-la de modo a ter vinhos carregados de autenticidade. O maior desafio é a mentalidade dos viticultores locais que, por vezes, ainda estão muito vocacionados para produzirem volume em detrimento da qualidade. Mas essa mentalidade vai mudando aos poucos. Lisboa é, quanto a mim, a região do continente mais genuinamente atlântica e isso espelha-se na originalidade e qualidade dos seus vinhos, em particular nos brancos. Acredito que a região tem tudo para vir a afirmar-se a nível nacional (na exportação já é um sucesso, mas sobretudo com vinhos de entrada de gama) e para contribuir de forma muito consistente para a afirmação dos vinhos brancos portugueses no mundo. Assim consigamos confirmar todo o potencial existente e alavancar essa grande marca que é o próprio nome Lisboa.

No Douro, destaco a magia das vinhas velhas. As vinhas velhas são um legado que nos foi deixado pelos nossos antepassados e temos de o saber interpretar. A maior dificuldade na região, é a escassez de mão de obra. Todos os anos vejo o rancho das pessoas que vindimam connosco e vejo-o a envelhecer, não há renovação e isso é muito, muito preocupante. Trabalhar num Douro de altitude e virado a Norte (como é o caso da Kranemann) também é desafiante, temos sempre de gastar mais tempo a explicar os vinhos. São, na verdade, vinhos de um outro Douro…

O que gosto mais no Alentejo? A resposta pode chocar alguns, mas aí vai: a maturação das uvas. Contrariamente ao que se podia pensar, considero que o Alentejo tem um clima perfeito para o amadurecimento das uvas. Ficamos com vinhos com uma belíssima estrutura tânica e muito fáceis de beber. Uma das grandes ameaças, no entanto, é o aquecimento global, os fenómenos extremos são cada vez mais constantes e impactam directamente na qualidade final das uvas. A falta de água é outro desafio constante.

Na ilha Terceira e na região de Biscoitos, temos a originalidade dos vinhos vulcânicos. São vinhos verdadeiramente diferentes, com notas únicas e que nos transportam para a ilha. São os Açores em estado puro e sem qualquer tipo de máscara. Ali, a maior dificuldade tem sido a luta contra a pressão imobiliária, que nos Biscoitos é constante e tem levado a um grande abandono da vinha.  A par de Carcavelos, os Biscoitos são, certamente, a DO mais ameaçada do país.

Finalmente, na região dos Vinho Verde, a revelação está no Avesso. Mais uma casta branca portuguesa de enorme potencial, que se tem mostrado sempre muito interessante nos diferentes processos de vinificação, com e sem madeira. E que expressa uma zona muito específica, Baião, que carece também de ser valorizada. A grande dificuldade está em explicar que este é um Vinho Verde diferente, longe do “gás e açúcar” com que muitos o identificam. Mudar essa percepção nem sempre é fácil.

Com tantos projectos, regiões, vinhos são muitas as variedades de uva que lhe passam pelas mãos. Quais as que mais gosta e porquê? 

Nas brancas, o Arinto e o Viosinho. Na verdade, quase que destacava todas as castas brancas, pois é a minha convicção que temos o maior património de castas brancas do mundo, todas carregadas de originalidade.  Mas adoro a versatilidade do Arinto, é uma casta que dá para fazer quase tudo e para melhorar quase tudo. Facilita imenso o meu trabalho.

O Viosinho é talvez a variedade branca com que mais trabalho e a uva que mais expressão tem ganho nos meus projectos. Quando vindimada no ponto óptimo, enriquece muito os vinhos, com estrutura e mineralidade.

Nas tintas, a Touriga Franca, do Douro ao Alentejo, entra sempre nos lotes dos melhores tintos que faço. É uma casta desafiante e que pode originar vinhos emblemáticos. Tenho de destacar também o Sousão, a casta que mais me surpreendeu nos últimos anos, com vinhos verdadeiramente originais.

Um enólogo consultor relaciona-se com vários produtores, com diferentes dimensões, objectivos, posicionamentos de mercado e, até, personalidades, pois as empresas são, sempre, as pessoas que as compõem. Como é lidar com tudo isto no dia a dia?  

Creio que se construiu uma certa imagem do enólogo enquanto estrela do sector, uma espécie de tipo que vive apenas a parte mais glamourosa do trabalho, que não dá cavaco a ninguém, mas a realidade é outra: a nossa responsabilidade tem de ser transversal. Temos de ter a humildade de nos saber integrar nos desafios da gestão, da viticultura, da produção e das vendas, porque sem sustentabilidade no negócio não existe futuro. A competência do enólogo também se manifesta na capacidade de entender os projectos que abraça e as pessoas com que se relaciona. Superamos desafios todos os dias, partilhamos opiniões diferentes muitas vezes, mas é possível alinharmos as ideias e concretizar objetivos que realizem todas as partes. Eu tenho um certo privilégio que é poder trabalhar em equipas que funcionam muito bem. E aqui tenho de ressalvar um ponto: equipas de dezenas de pessoas (desde os que andam de enxada nas vinhas, ou de mala de viagem cheia de vinhos, perdidos em aeroportos) que estão nos bastidores, mas que são cruciais. E nós, enólogos, somos apenas mais um elemento na máquina.

Enquanto enólogo tem um estilo, um perfil de vinho que é o “seu”? E procura que esse perfil seja evidente nos vinhos que trabalha ou tem em linha de conta o terroir, o objectivo comercial (e até o gosto pessoal) do seu cliente produtor? 

Eu tento sempre que os vinhos sejam uma expressão do local de onde vêm. Acho fundamental que o enólogo tente respeitar o terroir; quando trabalhamos com diversos produtores a última coisa que quero é que se diga que os vinhos são todos iguais. Mas também admito que possa haver pontos comuns, pois enquanto técnico privilégio sempre a acidez natural e o equilibro dos vinhos e tento tomar decisões que vão ao encontro disso mesmo. E naturalmente, as decisões são sempre coordenadas com os produtores com que trabalho, pois os vinhos têm de corresponder às expectativas que eles têm.

Que vinho (tipo/categoria/região) ainda não fez e gostaria de fazer? 

Gostava muito de fazer um vinho em Colares, em chão de areia. São vinhos sempre inebriantes, salgados, com máxima expressão Atlântica. Espero um dia conseguir fazer um.

Mais tarde ou mais cedo, boa parte dos consultores acabam por tornar-se também produtores, em maior ou menor escala. A produção faz parte do seu plano? 

Sempre tive o sonho de fazer um vinho na Beira Interior, na terra dos meus avós. Foi aí que tudo começou para mim e um dia destes haverei de lá chegar. A propriedade já existe e a realização desse sonho está para mais breve do que já esteve…

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2022)

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