Valle de Passos: O renascer de uma marca

Valle de Passos

O concelho de Valpaços localiza-se no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes, a leste da serra da Padrela, entre os rios Torto e Caldo. Com 31 freguesias e aproximadamente 15.000 habitantes, possui uma altitude média de 600 metros, o que contribui para a produção de vinhos com elevada frescura e mineralidade, fruto também dos seus […]

O concelho de Valpaços localiza-se no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes, a leste da serra da Padrela, entre os rios Torto e Caldo. Com 31 freguesias e aproximadamente 15.000 habitantes, possui uma altitude média de 600 metros, o que contribui para a produção de vinhos com elevada frescura e mineralidade, fruto também dos seus solos graníticos.
A agricultura é uma das principais atividades económicas do concelho. O azeite, a batata, a castanha, o trigo, a fruta e claro, o vinho, são as principais produções agrícolas, sendo também importante a criação de gado. A cultura da vinha e do vinho, para além da importância histórica, assume também uma excecional importância social e económica, pela variedade e relevo das atividades que lhe estão ligadas. O nome de Valpaços, segundo alguns historiadores, é um derivado precisamente do vinho produzido neste vale durante o período Romano, denominado “vinho passum”, que seria um dos grandes vinhos do Império Romano. Daí o nome de vale passum, depois vale passos, hoje Valpaços. Curiosidades históricas que reforçam a aposta do grupo na região, “com o objetivo de fazê-la crescer de uma forma profissional e sustentada, associando o vinho aos enchidos e gastronomia”, reforça o administrador Álvaro Lopes.

A identidade da região

Tudo se iniciou em 2017 com a aquisição da Quinta Dona Adelaide, sala de eventos, ainda hoje palco para esse efeito, que será rebatizada Quinta Valle de Passos, concluindo assim o rebranding. Em paralelo é construído o hotel, cuja abertura coincide com a pandemia, em 2020. A compra da marca Valle de Passos e o lançamento dos primeiros vinhos culmina com a tão aguardada afirmação da presença do grupo Terras & Terroir na região de Trás-os-Montes. “Não conseguimos comprar a quinta e as uvas, mas ficámos com a marca Valle de Passos, identitária da região”, realça Álvaro Lopes. Na calha está previsto, junto ao Olive Nature, a construção de uma adega (neste momento as uvas são vinificadas em Montalegre) e a plantação de vinha própria. Para a criação dos vinhos Valle de Passos foi escolhido o enólogo Francisco Gonçalves, um dos técnicos que melhor conhece os terroirs e as castas de Trás-os-Montes, cuja vasta experiência na região é por demais reconhecida. “Queremos pegar no que é nosso e transportá-lo para a garrafa. Mostrar a identidade da região, pautando pela diferenciação através da utilização das castas que fazem parte dessa mesma identidade”, salienta o enólogo.

Valle de Passos

A Tinta Amarela e a responsabilidade social

Os vinhos são produzidos a partir de uvas adquiridas a viticultores selecionados. São cerca de 10 hectares de vinha, com predominância de Tinta Amarela, alguma Touriga Nacional e Tinta Roriz, enquanto a uva branca provém da freguesia de Carrazedo de Montenegro. A preocupação social é latente, pois trata-se de uma região com baixo rendimento económico, que vive da agricultura e tem muita dificuldade em escoar as uvas. “Pagamos melhor as uvas e ajudamos a alimentar famílias, comprando-as a quem não tem quem as compre”, conta-nos Hugo Fonseca, diretor de produção do grupo. Os primeiros quatro vinhos produzidos têm, por isso, matéria-prima de qualidade, tratada com carinho por quem é da região, com a casta Tinta Amarela como porta-estandarte. É a base de dois tintos e um rosé. O branco é feito de Gouveio, Arinto e Viosinho. “A Tinta, plantada em altitude e nestes solos, permite criar vinhos concentrados, mas simultaneamente leves, com enorme frescura”, destaca o enólogo Francisco Gonçalves. São quatro vinhos de uma boa estreia, que mostram o terroir. “Queremos que sejam vinhos daqui. Tal como os outros que produzimos noutros locais do país, é muito importante que falem o lugar. Esta região está pouco explorada, tem um elevado potencial e somos o primeiro grande grupo a apostar a sério em Trás-os-Montes”, refere Daniel Campos, diretor comercial do grupo. São vinhos gastronómicos, muito frescos, que acompanharam de forma brilhante o almoço preparado com mestria pelo chefe Adão Costa, harmonizando-os com uma seleção de iguarias transmontanas. “É muito importante apresentar qualidade nos vinhos entrada de gama. A base é fundamental para o cliente ficar agradado e querer experimentar novas referências”, remata Álvaro Lopes. E nós concordamos.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

ENOTURISMO: ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM

Enoturismo Aliança

A história da Região da Bairrada remonta a tempos antigos, com evidências sólidas de ocupação humana desde a pré-história. Ao longo dos séculos, esta região encantadora tem sido moldada e influenciada por uma miríade de povos e culturas fascinantes. Desde tempos imemoriais, romanos, visigodos e mouros deixaram a sua marca indelével na rica tapeçaria cultural […]

A história da Região da Bairrada remonta a tempos antigos, com evidências sólidas de ocupação humana desde a pré-história. Ao longo dos séculos, esta região encantadora tem sido moldada e influenciada por uma miríade de povos e culturas fascinantes. Desde tempos imemoriais, romanos, visigodos e mouros deixaram a sua marca indelével na rica tapeçaria cultural da Bairrada. No entanto, não se pode falar sobre esta parte do mundo sem mencionar a tradição de produção de vinho que floresceu nas suas encostas ensolaradas.
A Bairrada situa-se na região centro de Portugal, entre o rio Vouga e o rio Mondego, abrangendo parte dos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria. Com um clima mediterrânico, apresenta invernos suaves e verões quentes e secos. É caracterizada por uma paisagem diversificada, com planícies, colinas e densas florestas de carvalhos. O clima ameno e a proximidade ao oceano Atlântico contribuem para as suas condições ideais para o cultivo das vinhas, sendo que a altitude média, de 200 metros, também influencia a maturação das uvas, resultando em vinhos de qualidade singular.
As vinhas da Bairrada existiam na Idade Média, quando o vinho que originavam era valorizado como um tesouro inestimável, tendo a região desempenhado um papel importante nas rotas comerciais de vinho que percorriam a Europa. A história desta região é verdadeiramente fascinante, e cada pedaço do seu solo conta estórias de uma época passada, que continuam vivas ainda hoje na sua tradição vitivinícola.

A ORIGEM
A influência de diferentes culturas e tradições moldou significativamente a paisagem desta região, dando origem a uma variada e abrangente gama de práticas e técnicas de vinificação. Da influência romana à moura, da era das grandes explorações marítimas ao período de industrialização, diversos acontecimentos moldaram as características e a identidade única dos vinhos Bairrada. Atualmente, a região é conhecida tanto pelas suas tradições enraizadas, quanto pela busca constante por inovação e excelência. Os viticultores da Bairrada preservam as técnicas tradicionais de cultivo e vinificação, ao mesmo tempo que adotam tecnologias de ponta e práticas sustentáveis. Isso traduz-se na produção de vinhos reconhecidos nacional e internacionalmente. A utilização de castas autóctones, aliada ao saber fazer dos viticultores locais, dá origem a vinhos distintos e autênticos, com equilíbrio e aromas complexos. A diversidade do terroir bairradino, com solos argilosos e calcários, contribui para o caráter único e a expressão de cada vinho produzido na região.

TERRAS E TERROIRS
Com as suas colinas ondulantes e vales férteis, a região possui uma beleza natural incomparável. Com condições de solo únicas, a Bairrada oferece um ambiente propício para a produção de vinhos com caráter autêntico. A combinação entre as características geográficas e as condições do solo dá origem a vinhos de sabores e aromas únicos, que os tornam verdadeiramente especiais.

Além disso, a orografia da Bairrada desempenha um papel fundamental na proteção das vinhas, com as suas colinas a abrigarem-nas contra ventos fortes, proporcionando um ambiente mais estável para o seu cultivo. Essa proteção natural contribui para a qualidade e a maturação adequada das uvas. Com verões quentes e invernos amenos, as vinhas desfrutam das melhores condições para o seu desenvolvimento equilibrado ao longo de todo o ano, originando vinhos que combinam harmoniosamente acidez, doçura e complexidade aromática. Em resumo, a paisagem diversificada, as condições do solo e a proximidade ao oceano Atlântico fazem da Bairrada uma região vitivinícola verdadeiramente única. Possuidora de castas intrigantes e complexas de diferentes cores, aromas e sabores, esta região é um caso internacional sério pela longevidade dos seus vinhos, com saliência para os da casta Baga, a joia da coroa da Bairrada. São encorpados e distintos, com uma acidez equilibrada que confere frescor e uma grande capacidade de envelhecimento. Nas tintas destacam-se também a Touriga Nacional, Castelão, Alfrocheiro, Merlot, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, entre outras. Nas castas brancas destacam-se a Maria Gomes, Bical, Arinto, Cercial e Chardonnay.
A par dos vinhos, a Bairrada é também conhecida por ter uma das Sete Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, o Leitão à Bairrada, que origina um caso sério de peregrinação, diria de paragem obrigatória a quem passa perto, para o degustar. Recordo-me bem dessa paixão existir na minha família, que nunca deixava de fazer uma pausa para isso em qualquer deslocação ao Sul. E até mesmo quando as saudades batiam, lá estávamos a degustar o delicioso pitéu num dos bons restaurantes que ficam naqueles “sagrados” cinco km da Estrada Nacional 1, que abrangem os territórios dos concelhos da Mealhada e de Anadia.

A Bairrada é realmente um território abençoado, também pela sua tradição de produzir espumantes com grande carácter, muitos deles com base na sua principal casta tinta, a Baga, o que faz dela um destino único, que me faz feliz. Calcorrear o território em qualquer dos bons “cantos” da região e ouvir a frase celestial, “Vamos beber uma tacinha?”, não se experiencia em mais lado nenhum de Portugal.
Na Bairrada sinto-me em casa. Ao virar da esquina encontro produtores de espumante de nível internacional, o que me enche de orgulho e faz-me voltar constantemente. Imbuído na necessidade de ser feliz e com o sentimento impregnado de saudade de néctares que me preenchem o corpo e a alma, decidi rumar à Bairrada para visitar um dos produtores mais icónicos da Região, diria do país, as Caves Aliança, atualmente designada de Aliança Vinhos de Portugal.

ARTE, VINHO E PAIXÃO
As caves Aliança foram fundadas, em 1927, por 11 associados, com o objetivo produzir vinhos de qualidade na região da Bairrada. A empresa passou por diversas fases de crescimento e expansão ao longo das décadas, tornando-se numa das maiores e mais respeitadas adegas da região. Os investimentos realizados em tecnologia e inovação permitiram-lhe aumentar a sua capacidade produtiva e a qualidade dos seus vinhos, consolidando a sua posição no mercado nacional e internacional.

Em 2007 foi adquirida pelo Grupo Bacalhôa, que percebeu o seu potencial de desenvolvimento e crescimento. Para além da profissionalização e da inovação nos produtos e serviços, sem nunca perder de vista a essência e a patine que as caves possuíam, mudou o nome da empresa para Aliança Vinhos de Portugal, salientando assim a sua vocação exportadora, como salienta Paulo Costa, administrador da Bacalhoa Enoturismo, S.A. Mas para integrar um mercado tão competitivo como o dos vinhos e desenvolver atividade de enoturismo, havia que ser inovador e disruptivo. “Neste contexto, a inclusão de momentos culturais traria o toque da diferenciação que procurávamos”, refere. Assim, face ao amor pela arte e cultura e a paixão incontrolável por colecionar de Joe Berardo que, ao longo da sua vida, reuniu muitas peças únicas, algumas relacionadas com a história e cultura portuguesa, o Grupo Bacalhôa decidiu, em boa hora, integrar um espólio significativo de peças dessa coleção nas caves, para constituir o Aliança Underground Museum, desde 2010 um dos projetos mais inovadores de Portugal. Na realidade, “o que se pretende com este empreendimento é que seja conhecido, além-fronteiras, pelo seu caracter distintivo e diferenciador e pela sua simbiose perfeita entre vinhos, arte e cultura, para ser capaz de atrair mercados internacionais”, afirmou orgulhosamente e de forma muito sentida Paulo Costa.

Em conversa fluída, este administrador confessou-me que o Enoturismo é um desafio que nunca pensou experienciar, pois tinha funções noutra área. Abraçou o desígnio de gerir toda atividade com algum ceticismo pessoal, que rapidamente se transformou em paixão. O Grupo Bacalhôa tem já uma forte tradição e experiência nesta atividade, com resultados muito positivos quer na promoção e comercialização de vinhos, quer sobretudo na dinamização das unidades que constituem o Grupo – Bacalhôa Vinhos de Portugal, Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e o Bacalhôa Buddha Eden (somente visitas).
Ao longo dos anos, o acervo foi crescendo e tornou-se num verdadeiro tesouro para a preservação da identidade do país. O espaço conta com oito coleções permanentes, que envolvem áreas como a arqueologia, etnografia, mineralogia, paleontologia, azulejaria, cerâmica e estanhos de múltiplas origens e espécies, num encontro de povos, lugares, crenças e culturas em perfeita simbiose com os vinhos, espumantes e aguardentes produzidos pela empresa, um verdadeiro êxtase de cultura e vinhos. Além disso, as caves promovem regularmente eventos culturais, como concertos, exposições temporárias e espetáculos de dança, sendo um polo de difusão cultural na região.

Através do apoio à arte e à cultura, as Caves Aliança contribuem significativamente para a preservação e promoção da identidade portuguesa, enriquecendo a experiência dos visitantes e fortalecendo os laços com a comunidade local. É neste quadro conceptual que a Aliança Vinhos de Portugal oferece uma experiência de enoturismo completa, incluindo visitas guiadas pelas instalações, onde as pessoas podem aprender a história destas caves até ao dia de hoje, o processo de produção vinho e a importância da região na qualidade dos produtos vínicos finais. Além disso, os turistas podem participar em degustações dos vinhos da Aliança Vinhos de Portugal, tendo uma imersão completa no universo Vitivinícola da região. As visitas são todas orientadas por profissionais formados e capacitados para garantir uma experiência enriquecedora e inesquecível aos visitantes.
Em tom de “provocação”, questionei se estava perante um Museu com Adega ou uma Adega com Museu? “É claramente uma Adega com Museu”, disse, de forma perentória, o enólogo Francisco Antunes, diretor de enologia da Aliança Vinhos de Portugal desde 1993 e responsável pelos vinhos das regiões dos Vinhos Verdes, Douro, Beira Interior, Dão e Bairrada do Grupo Bacalhôa, assim como dos vinhos espumantes e das aguardentes. A Aliança Vinhos de Portugal possui um espaço museológico, onde as galerias que formam as caves de vinhos partilham o espaço com as obras com tempo e sabedoria, esclarece.

“O Aliança Underground Museum tem, sobretudo, a capacidade natural de transportar os visitantes para vários palcos culturais do mundo, na prática para o imaginário universal”, explica Paulo Costa com a convicção de que a empresa contribui decididamente para a imagem positiva e de qualidade da oferta de enoturismo da região e do país.
Mas a atividade de enoturismo só é possível com a preocupação constante de elaborar vinhos de grande nível e de tipologia diversificada, respeitando o passado com a visão necessária e adequada, para ganhar o presente sem nunca descurar o futuro, a médio e longo prazo. Neste âmbito, a Aliança apresenta um portefólio de vinhos diversificado que está ao dispor de quem visita o espaço. Tudo é possível provar. Aqui o cliente é o protagonista da história.

Enoturismo Aliança

CONHECIMENTO E PRAZER
A visita inicia-se na Sala das Artes, onde se realiza a apresentação da empresa e do que os visitantes vão usufruir. Mal se entra nas caves percebe-se, de imediato, que o visitante vai ser elevado para o imaginário, já que a experiência de imersão em obras de arte desperta emoções e proporciona reflexões sobre outras vivências e tradições. O ambiente de um museu convida frequentemente à contemplação, estimulando a imaginação e permitindo uma conexão profunda com diferentes épocas, culturas e ideias.
O percurso desenrola-se por várias coleções: Arqueológica, Etnográfica Africana, Escultura Contemporânea do Zimbabué, Minerais, Paleontológica, Azulejaria, Cerâmica das Caldas e Índia, com realce para as peças únicas e irrepetíveis de Bordalo Pinheiro. Mas as caves servem sobretudo para que os vinhos adormeçam ao som do silêncio, do tempo e da sabedoria.
O mundo maravilhoso dos vinhos em estágio é, de facto, uma experiência sensorial e poética, onde as barricas de carvalho transmitem histórias silenciosas e profundas. Cada uma carrega consigo o mistério do tempo, da transformação e da paciência.

O vinho que repousa nelas não amadurece apenas fisicamente. Também adquire camadas de significado e simbolismo que traduzem o terroir e a sabedoria da enologia. O aroma amadeirado, o ambiente sereno e o conhecimento de que o vinho está em constante metamorfose sugerem uma reflexão sobre a passagem do tempo e a arte da criação. Cada visitante, ao observar as barricas, pode ter sua própria interpretação, criando pensamentos únicos e imaginativos, inspirados pelas promessas de sabor e história que o vinho em estágio guarda. É o que sinto quando atravesso a sala das barricas que guardam os oitocentos mil litros de aguardente, uma visão única que só se pode encontrar aqui.

A Aliança Vinhos de Portugal possui, ainda, cerca de milhão e meio de garrafas de vinho, 70% das quais são espumantes que aguardam pacientemente a sua abertura. São verdadeiras joias líquidas em preparação, à espera do momento certo para se revelarem. O processo de segunda fermentação em garrafa, método clássico que ocorre nestas caves silenciosas, é quase uma dança invisível entre o tempo e a matéria, onde cada bolha captura o espírito da celebração. A paciência envolvida na sua criação reflete o cuidado e a dedicação do enólogo, que compreende que o tempo é o ingrediente essencial para a perfeição. Assim, cada garrafa de espumante é uma obra-prima, aguardando o instante ideal para brindar a vida com sua essência vibrante e inesquecível.

A visita culmina na loja, onde se tem a oportunidade de vivenciar de perto toda a beleza enológica dos vinhos, agora tangível, impregnada de tradições, usos e costumes. Neste espaço, cada garrafa torna-se um reflexo da herança cultural que a moldou, oferecendo não apenas um produto, mas uma conexão direta com a história e os terroirs da região.
A Aliança Vinhos de Portugal, com as suas caves e o museu, oferece uma experiência singular que une vinho, arte e cultura em perfeita harmonia. É um verdadeiro templo do tempo, onde o passado, o presente e o futuro se encontram. Cada barrica e cada garrafa repousa sob a inspiração de obras de arte cuidadosamente selecionadas, transformando a experiência de degustação e prova em algo que transcende o paladar, chegando ao imaginário e à sensibilidade de quem vivencia o local. Não se limita a proporcionar degustações, mas também experiências sensoriais profundas, onde cada visita é uma celebração da vida, do conhecimento e da beleza. É a espetacularidade de um encontro entre o mundo enológico e as artes, elevando a experiência a uma dimensão verdadeiramente memorável.

Enoturismo Aliança

CADERNO DE VISITA

COMODIDADES
– Kids friendly
– Línguas faladas: espanhol, inglês e francês
– Loja de vinhos
– Várias Salas de provas (16 a 100 pax)
– Várias Salas de refeição em regime exclusividade (20 a 300 pax)
– Parque para automóveis – 70 viaturas e três autocarros
– Provas comentadas (ver programas)
– Turismo acessível
– Wifi disponível
– Visita às vinhas (a pedido)

EVENTOS
– Eventos familiares (casamentos, batizados, aniversários)
– Eventos corporativos
– Atividades team building

ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM

OPÇÃO 1 – 6 € p/pessoa
Visita Guiada à exposição Aliança Underground Museum
Duração 01h30
Grátis para crianças até aos 12 anos de idade (inclusive)
Requer número mínimo de 2 participantes

OPÇÃO 2 – 8 € p/pessoa
Visita Guiada ao Aliança Underground Museum
Pãezinhos recheados com Leitão (2 unidades por pessoa)
Flute de Espumante ALIANÇA
Duração 01h30
Requer número mínimo de 2 participantes

OPÇÃO 3 – 27 € p/pessoa
Visita Guiada ao Aliança Underground Museum
Sandes de Leitão (Duas unidades por pessoa)
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto
Espumante Aliança Reserva Tinto Bruto
Duração 02h00
Crianças até aos 12 anos de Idade (50% desconto)
Requer número mínimo de 10 participantes

DIAS – Segunda a Domingo (encerra 1 de janeiro, 25 de dezembro)
IDIOMAS – Português, Inglês, Espanhol e Francês
Requer marcação prévia por telefone, fax ou e-mail. Sujeito a confirmação.

AVENTURE-SE NO MUNDO VÍNICO…

MOMENTO BAIRRADA – 20 € p/pessoa
Aliança Bairrada Reserva Branco
Aliança Bairrada Reserva Tinto
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto

O MUNDO EFERVESCENTE DO ESPUMANTE – 20 € p/pessoa
Espumante Aliança Grande Reserva Bruto
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Rosé Bruto
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto

FRESCURA, CORPO E REQUINTE… – 25 € p/pessoa
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto
Aliança Baga Clássico Tinto Bairrada
Aguardente Antiquíssima Reserva

À CONVERSA COM… – 25 € p/pessoa
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto
Bacalhôa Moscatel Roxo 5 anos
Aguardente Antiquíssima Reserva

CASTAS IMIGRANTES – 25 € p/pessoa
Bacalhôa Greco di tufo Branco
Bacalhôa Chardonnay Branco
Bacalhôa Syrah Tinto
Bacalhôa Merlot Tinto

BACALHÔA PREMIUM – 25 € p/pessoa
Quinta da Bacalhôa Tinto
Quinta da Bacalhôa Branco
Bacalhôa Moscatel de Setúbal Superior

QUINTAS À PROVA – 25 € p/pessoa
Aliança Baga Clássico Tinto Bairrada
Quinta Quatro Ventos Reserva Douro Tinto
Bacalhôa Touriga Nacional Dão Tinto
Quinta da Terrugem Alentejo Tinto

…CASTAS E PERSONALIDADES – 25 € p/pessoa
Bacalhôa Verdelho Branco
Bacalhôa Roxo Rosé
Aliança Baga Clássico Tinto Bairrada

ALIANÇA – “A VELHA AMIGA DE TODOS OS DIAS” – 25 € p/pessoa
Aguardente Aliança Velha
Aguardente Antiqua
Aguardente Antiquíssima Reserva

BACALHÔA SUPER PREMIUM – 35 € p/pessoa
Palácio da Bacalhôa Tinto
Berardo Reserva Familiar Greco di tufo Branco
Bacalhôa Moscatel Roxo Superior

ALIANÇA EXTRA OLD – 35 € p/pessoa
Aguardente XO 10 Anos
Aguardente XO 20 Anos
Aguardente XO 40 Anos

Condições gerais
Provas – definidas para grupos mínimos de 2 pessoas e máximo de 30. Prova comentada por um técnico de Enoturismo. Visita Guiada ao Aliança Underground Museum – Duração – 02h00. Requer marcação prévia (mínimo 24 horas) por telefone ou correio eletrónico. Sujeito a confirmação. Nota: Suplemento Queijo e enchidos: 12 € p/pessoa.

ALIANÇA DE EXPERIÊNCIAS
Uma viagem pelo ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM com experiência vínica ao longo do percurso de quase 1,5 km … 40 € p/pessoa.
• O início de uma viagem pelos túneis subterrâneos onde se respira tradição, história e memórias, e… o encontro de uma surpresa borbulhante! PROVA Espumante Aliança Grande Reserva Bruto com Amêndoa Torrada
• Continuaremos à prova dos sentidos… entre barricas terá a oportunidade de conhecer a casta Baga e o potencial desta região vínica. PROVA Aliança Baga Clássico Tinto com Mini pãezinhos de Leitão
• Termine a sua viagem num local único e imponente. Na Cave de Aguardentes aqueça a alma, sinta os aromas e deixe-se seduzir por 40 anos de história. PROVA Aliança XO 40 Anos com Chocolate negro.

Condições gerais
A atividade decorre em espaço museológico. Definida para grupos mínimos de 10 pessoas e máximo de 100. Orientada por um técnico Enoturismo. Duração 02h00. Requer marcação prévia por correio eletrónico. Sujeito a confirmação

SER ENÓLOGO POR UM DIA
Deixe-se levar pela sua intuição e crie o seu lote de vinho – € 45 p/pessoa
Durante o percurso de visita ao ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM, os participantes serão convidados a encarnar o personagem de um enólogo, com várias tarefas envolvidas… Em constante movimento, aprendizagem e dinâmica os participantes colocam à prova o espírito de equipa.
• Após formação de equipas, é dado a conhecer o Universo do Grupo Bacalhôa, que a Aliança integra desde 2007, e o desafio …
• Terminada a viagem pelo Museu, é proposto o desafio final. É hora de preparar um grande lote de vinho a partir dos monovarietais provados, escolher um nome, criar um rótulo e uma estratégia de marketing para apresentar ao potencial cliente.
• Os premiados são…

Condições gerais
Definida para grupos mínimos de 10 pessoas e máximo de 100. Orientada por um técnico Enoturismo. Visita Guiada ao Aliança Underground Museum. Duração 03h00. Requer marcação prévia por correio eletrónico. Sujeito a confirmação

LOJA DO VINHO
“O local ideal para realizar as suas compras pessoais e profissionais”, um espaço acolhedor onde pode encontrar uma vasta gama de vinhos, espumantes, aguardentes e moscatéis das empresas do Grupo: Aliança, Bacalhôa e Quinta do Carmo. Aberta de segunda a domingo (encerra 1 de janeiro e 25 de dezembro). Horário: 10h00 – 13h00; 14h00 – 18h30.

CONTATOS ENOTURISMO
Sónia Oliveira. Tel.: 234 732 045, Tm: 916 483 544, E-mail: sonia.oliveira@bacalhoa.pt, E-mail: visitas@alianca.pt.

SITE
www.alianca.pt

COMO CHEGAR (A1)
Partida de Lisboa (Cerca de 232 Km) – Saída 14 (Mealhada / Anadia) | Siga em direção a Anadia / Aveiro (N234 – IC2) | Na localidade da Malaposta (rotunda), deverá seguir as indicações para Aveiro (N235) até à saída para Sangalhos.
Partida do Porto (Cerca de 72 Km) – Saída 15 (Aveiro Sul / Águeda) | Siga em direção a Oliveira do Bairro (N235) até à saída para Sangalhos.

QUINTA DO QUETZAL: Deus do Ar, da Terra e da Vinha da Coroa!

Quinta do Quetzal

O Quetzal é uma das aves mais belas do continente americano, sagrada para todas as culturas mesoamericanas, porque neste animal se fundem o céu e a terra. Em várias das suas línguas, o termo pode também significar “precioso” ou “sagrado”. As penas verdes iridescentes na cauda simbolizavam igualmente o crescimento das plantas na Primavera para […]

O Quetzal é uma das aves mais belas do continente americano, sagrada para todas as culturas mesoamericanas, porque neste animal se fundem o céu e a terra. Em várias das suas línguas, o termo pode também significar “precioso” ou “sagrado”. As penas verdes iridescentes na cauda simbolizavam igualmente o crescimento das plantas na Primavera para os Aztecas e Maias, que viam o Quetzal como o “Deus do Ar” e um símbolo de bondade e luz.
A Quinta do Quetzal fica no coração da região do Alentejo, nas encostas da Vidigueira e nas imediações da mais antiga adega romana do Sudoeste da Península Ibérica. O seu microclima e as suas colinas criam as condições ideais para um terroir único, distinto da típica propriedade alentejana. Os solos xistosos, as diferentes exposições solares e altitudes, permitidas pela topografia em colina, e as áreas plantadas com vinhas velhas, formam uma combinação única no cenário da planície alentejana.
A região da Vidigueira é solarenga e quente. Mas, por estar no sopé Sul da Serra do Mendro, beneficia de ventos frescos veiculados pela serra a partir do oceano Atlântico. Estas condições, que se traduzem em elevadas amplitudes térmicas diárias, dão às plantas o calor que precisam para amadurecer as uvas e o fresco para recuperarem. A sua qualidade, aliada a um trabalho de enologia alicerçado na experiência e no conhecimento profundo de cada planta que compõe os 52 hectares de vinha, permite produzir vinhos que expressam verdadeiramente o carácter da região envolvente.

O vinho da empresa estagia no subsolo a uma temperatura naturalmente fresca, e ao som de uma instalação site-specific de Susan Philipsz.

 

A colecção da família

Como elemento fundamental da experiência Quetzal foi criado, de raiz, o edifício que inclui o restaurante, a loja e o Centro de Arte. O xisto que reveste as suas paredes destaca-se e integra-se com fluidez na paisagem envolvente, enquanto o espaço circundante foi concebido para incorporar plantas nativas naturais, de modo a maximizar a experiência do habitat natural do Alentejo.
Cees e Inge de Bruin são colecionadores e patrocinadores de arte contemporânea. Mantêm, há mais de 40 anos, juntamente com a família, uma forte ligação a Portugal. O projecto da Quinta do Quetzal expressa a sua paixão pela cultura, natureza, gastronomia e vinhos portugueses, que gostam de partilhar.

Todos os anos, em colaboração com a sua filha, Aveline de Bruin, organizam uma nova exposição na propriedade, em que o ponto de partida é a colecção privada da família (Coleção de Bruin-Heijn) e as suas ligações ao mundo da arte. Até final do passado mês de Setembro, a exposição colectiva “Echoes of Our Stories” (Ecos das Nossas Histórias) reuniu obras de Claudia Martínez Garay, Diana Policarpo, Jennifer Tee, Agnes Waruguru e Müge Yilmaz. As cinco artistas contaram histórias que nos fazem olhar para o mundo à nossa volta de maneira diferente da perspetiva ocidental dominante e nos ajudam a compreender esse mundo. Elas propuseram novas cosmovisões, alternativas espirituais, curativas e futurísticas, nas quais as rígidas dicotomias humano-natureza, acima-abaixo e centro-margem foram subvertidas.

Mas o Centro de Arte Quetzal também apresenta duas instalações site-specific de Susan Philipsz: “Tomorrow’s Sky” (O Céu de Amanhã) e “Sleep Close and Fast” (Dorme Perto e Profundamente), ambas de 2019, revestindo, a primeira, de elevado valor sentimental e motivo de especial orgulho para Inge de Bruin, assim como, hoje, para os seus filhos. Sobre esta peça, a sua autora salienta que o “pássaro Quetzal é o símbolo desta vinha e uma das características da paisagem envolvente é o seu vazio e silêncio”, acrescentando que imaginou, nesta instalação sonora em três canais, “o pássaro conjurado pelo som, abrindo as suas asas sobre a paisagem ao mesmo tempo que esta se funde com o som”.

Surpresa durante o silêncio

Em frente do Centro de Arte, e do restaurante, com a sua janela imensa, no topo da colina da Vinha da Coroa, com as três árvores, a instalação de som começa a cada dez minutos, surpreendendo quem por lá fica a desfrutar do silêncio e a contemplar a serra do Mendro, a Vidigueira, Vila de Frades, a Ermida de Nª Senhora de Guadalupe e, em dias mesmo limpos, a própria cidade de Beja. Foi neste contexto de arte, vinha e beleza natural que fomos recebidos por Reto Jörg, director geral da Quinta do Quetzal, José Portela, enólogo, e Ricardo Tavares, director comercial.

Todos os vinhos da Quinta do Quetzal são produzidos exclusivamente com uvas próprias, numa propriedade dividida em parcelas que definem o carácter da uva juntamente com as suas diferentes exposições solares e tipos de solo, desde os pobres de granito, ao abundante xisto e às terras mais férteis e planas, com alguma argila e algo arenosas.

A propriedade foi adquirida no ano de 2001 e estabelecida por Cees e Inge de Bruin em 2003. Hoje, totaliza 52 hectares de vinha, 70% dos quais com castas tintas (Trincadeira, Aragonez, Touriga Nacional, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Syrah e Petit Syrah) e 30% com brancas (Antão Vaz, Arinto, Verdelho e Roupeiro). Destacam-se cerca de 2,5 hectares de vinhas velhas (com mais de 40 anos), que se caracterizam por uma baixa produção, resultando numa forte concentração de aromas, e cerca de 30 hectares de vinhas com idade avançada (com cerca de 20 anos), que se caracterizam por uma produção de uva moderada e espelham, de forma fiel, o terroir da Vidigueira.

Som de embalar na cave de barricas

Na moderna adega, as uvas são introduzidas, pela pura ação natural da gravidade, num processo de vini¬ficação, que abrange cinco pisos, para reduzir o seu manuseio mecânico e a possibilidade de oxidação. O vinho que originam pode envelhecer gradualmente nas caves que se localizam no subsolo, a uma temperatura naturalmente fresca e ao som da segunda instalação site-specific de Susan Philipsz.

A ideia de “Sleep Close and Fast”, instalação de som de canal único, surgiu depois de Susan ter tido conhecimento que se tocava música para as barricas da Quinta do Quetzal, enquanto o vinho nelas estagiava. “Pensei que esta era uma ideia bonita e assim surgiu, imediatamente, o propósito de cantar uma canção de embalar para as barricas”, explica.
A enologia está a cargo de José Portela, enólogo residente desde o início, que mostra um conhecimento profundo e detalhado do Quetzal, que teve Paulo Laureano, primeiro, e Rui Reguinga, depois, como enólogos consultores. Da vindima de 2024, já finalizada aquando da nossa visita, destacou as boas produções das uvas brancas, na ordem das 6/7 ton/ha, “o bom desempenho da Alfrocheiro, Syrah e Petit Syrah e a boa concentração da Aragonez”. Apenas o Alicante Bouschet se ressentiu “do escaldão da segunda quinzena de Agosto”, e “não houve problemas de grau nem de açúcares.”

A Quinta do Quetzal oferece um portefólio diversificado. Começa nos vinhos Guadalupe, que oferecem um excelente equilíbrio entre elegância e frescura nas suas variedades branca, rosé e tinta, e constituem uma boa escolha em termos de custo-benefício, ideais para o consumo diário. Os Guadalupe Winemakers Selection, nas suas versões branca e tinta, oferecem uma complexidade subtil, tendo sido envelhecidos em barricas usadas. Acrescem duas edições especiais, o Quinta do Quetzal rosé, monovarietal de Trincadeira da Vinha da Coroa, e o Quinta do Quetzal Terroir branco, um single-vineyard de Arinto e Roupeiro, com 15 dias de maceração pelicular e envelhecimento em barricas de acácia.
O Quinta do Quetzal Brut é um espumante fresco e elegante, elaborado através do método tradicional a partir de um lote das castas Arinto, Antão Vaz e Perrum, com estágio de 24 meses sobre borras.

Os ícones da propriedade

Os vinhos Reserva representam a porta de entrada da gama Premium da Quinta. São elaborados a partir das melhores uvas selecionadas nos vinhedos da propriedade e envelhecidos em barricas novas de carvalho francês. Os vinhos Família são os ícones da propriedade, produzidos exclusivamente em anos de qualidade excepcional. Longamente amadurecidos, estes vinhos de edição limitada estão disponíveis em garrafas numeradas, reflectindo o compromisso inabalável da família com a sua visão de produzir vinhos ¬elegantes, que se juntam a arte e gastronomia de excepção.

Por fim, a gama Quetzal Rich constitui a oferta fortificada da Quinta, feita à moda do vinho do Porto através de fortificação com aguardente vínica com 77% de álcool. Nas suas versões Rich White, é produzido a partir de uvas Antão Vaz. Na Rich Red, a partir de Alicante Bouschet, sendo ambos envelhecidos em barricas de carvalho francês durante 16 meses.
“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são”, disse um dia Fernando Pessoa. Talvez seja isto mesmo a experiência Quetzal, a maneira como a família de Bruin sente a Vidigueira, o Alentejo, o vinho e a gastronomia, a propriedade. Nada mais nada menos que a sua representação artística. Brindemos, pois!

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

Rui Reguinga: Um pioneiro na Serra de São Mamede

Rui Reguinga

Tudo começou quando Rui Reguinga contactou com as vinhas e os vinhos de Portalegre logo no início da sua carreira, na sua primeira vindima como assistente de João Portugal Ramos, o consultor da Tapada do Chaves e da Adega Cooperativa de Portalegre na altura. Decorria o ano de 1991 quando recebeu, pela primeira vez, uvas […]

Tudo começou quando Rui Reguinga contactou com as vinhas e os vinhos de Portalegre logo no início da sua carreira, na sua primeira vindima como assistente de João Portugal Ramos, o consultor da Tapada do Chaves e da Adega Cooperativa de Portalegre na altura. Decorria o ano de 1991 quando recebeu, pela primeira vez, uvas das vinhas velhas da primeira, “as únicas que lá existiam na altura” e as do Reguengo, da Adega de Portalegre, “que eram recebidas todas para a mesma cuba, num dia especial seleccionado para isso”, conta Rui Reguinga, acrescentando que foi nessa altura que fez os primeiros contactos com os produtores de uvas locais.

Concretizar um sonho

Anos mais tarde, já no início do segundo milénio, quando decidiu concretizar o sonho, comum a tantos enólogos, de produzir o seu próprio vinho, decidiu iniciar o projecto com base nas vinhas velhas da Serra de São Mamede, que já conhecia tão bem. Não havia, na altura, a informação actual sobre as vantagens de produzir em altitude para atenuar os efeitos das alterações climáticas na vitivinicultura. Mas Rui Reguinga sabia qual era o potencial das vinhas velhas para produzir vinhos de qualidade com menos álcool, mais frescos e grande potencial de envelhecimento. Por isso comprou barricas, pagou “as uvas mais caras do Alentejo na altura” e a uma adega para fazer o vinho, dando os primeiros passos “sem deixar de ter as dúvidas e incertezas de quem é pioneiro”. E foi assim que surgiu o primeiro vinho, um tinto Reserva da colheita de 2004.
Na época, a moda, no Alentejo, era produzir vinhos com muito álcool e maturação. “Por isso, a segunda vinha que adquiri, perto de Marvão, exposta a norte, que tem quatro hectares, não era reconhecida pelo seu potencial”, conta, acrescentando que havia sempre dúvidas sobre o destino a dar às suas uvas quando estava na Adega Cooperativa de Portalegre. “Mas hoje sei que tem grande capacidade para originar vinhos de enorme qualidade, porque produz uvas com acidez e uma boa maturação”, explica.
O tinto de 2004 teve boa aceitação no mercado. Tinha sido feito com base em uvas colhidas o mais maduras possível, para acompanhar a tendência do mercado na altura. “É um vinho com 14% de álcool, mas uma acidez elevada, perto de 7 e um equilíbrio que me incentivou a ficar na Serra de São Mamede até hoje”, revela o enólogo, acrescentando que a aceitação, pelo mercado, de vinhos mais frescos, com o passar dos anos, lhe tirou as dúvidas que tinha em relação à aventura que tinha iniciado uns anos antes. Mas “aquilo que me fez apostar na região foi sobretudo o potencial das vinhas velhas para originarem vinhos com concentração e frescura, aromas com menos fruta, um carácter mais vegetal, com especiarias, e isso foi bem aceite pelo mercado desde o início”, conta Rui Reguinga.

Controlo da viticultura

Depois de verificado o potencial das vinhas velhas da região para originar vinhos distintos, frescos, de altitude, com grande acidez e capacidade de envelhecimento, era preciso investir na marca, e na compra de vinhas para assegurar a manutenção da produção e evitar o efeito da chegada da concorrência à região na potencial escassez da oferta de matéria prima. Rui Reguinga sabia que precisava de fazer isso se quisesse continuar a desenvolver o seu projecto. “Tinha de ser proprietário para controlar a parte da viticultura, porque nem sempre as uvas dos fornecedores estavam em condições para serem transformadas, porque as vinhas não eram acompanhadas e bem tratadas”, explica. Assim, à medida que ia descobrindo vinhas com potencial, alugava-as, fazia o seu maneio cultural, vindimava as suas uvas e avaliava o seu potencial para gerarem vinhos de qualidade. Só depois é que avançava para a proposta de compra. “De preferência irrecusável, mas não superior ao seu valor real”, revela. E foi assim que chegou às suas oito vinhas actuais.
Não sem dificuldades, sem recusas por parte dos vendedores. Mas sempre com paciência da sua parte, sem desânimos, com muitas visitas e o estabelecimento de relações de confiança com os proprietários das vinhas. “Foi num tempo em que isso era, talvez, mais fácil do que hoje, porque há mais competição, mais empresas e pessoas a adquirir vinhas na região, o que tem levado, inclusive, a que alguns dos locais tenham hoje uma ideia errada sobre o valor das suas vinhas”, conta Rui Reguinga, salientando que nem todas têm potencial para gerarem vinhos de qualidade, ou por má localização ou por algumas delas terem também plantadas uvas de mesa. Este foi o caminho feito no campo.

O valor das vinhas velhas

Mas depois de produzido o primeiro vinho, da colheita de 2004, foi preciso abrir garrafas, fazer provas junto de clientes e consumidores, para o apresentar, e também todo o potencial da Serra de São Mamede para gerar vinhos distintos e de qualidade. “Hoje em dia há mais produtores a fazer o mesmo, o que é benéfico para mim e para a região, mas este foi um trabalho que tive de iniciar sozinho, com as vantagens e desvantagens de ser pioneiro”, salienta o enólogo.
Uma das primeiras dificuldades foi demonstrar que os vinhos de vinhas velhas, que produzem pouco, têm de ser valorizados por isso, pela sua raridade, e pela sua qualidade e características distintas. “De outra forma, o projecto não era rentável e não fazia sentido, dado que este é um negócio e não um hobby”, explica Rui Reguinga. Não foi fácil fazer isso no início, numa altura em que a Adega Cooperativa de Portalegre colocava vinhos DOC Portalegre “a preços baixos, o que gerava alguma confusão no mercado e dificuldades para vender o meu produto”. Foi preciso muita perseverança, muito do chamado “trabalho de comunicação e marketing dos pequenos produtores, que não tem dinheiro para mais”, que passa por abrir garrafas e fazer provas com os clientes, para explicar os vinhos, a sua história e estórias, para firmar o seu nome e dos vinhos da serra no mercado.
Hoje Rui Reguinga tem 15 hectares na Serra de São Mamede, cinco dos quais de vinhas muito velhas, a partir das quais produz entre 10 e 12 mil das cerca de 50 mil garrafas de vinho da região que comercializa. A maior parte são vinhos “Terrenus Clássico”, como Rui Reguinga gosta de lhe chamar, enquanto o restante são vinhos de pequenas produções. O Clos dos Muros, propriedade com 0,6 hectares, produz apenas cerca de 1300 garrafas de vinho, por exemplo.

Rui Reguinga

A descoberta dos brancos

No início, o enólogo focou-se na produção de vinhos tintos. Diz que até se esquecia que tinha castas brancas nas suas vinhas, e que oferecia as suas uvas ao responsável pela viticultura, que produzia vinho de talha com elas. Só fez o primeiro ensaio de produção de branco em 2008, porque achava, até aquele momento, que não tinham potencial para a produção de qualidade. “Mas estava completamente enganado”, afirma, acrescentando que uma das desvantagens de ter sido pioneiro na região foi não ter descoberto, desde logo, aquilo que estava mesmo à frente dos seus olhos: “o potencial da serra para a produção de grandes brancos”. O final do primeiro ensaio, feito com base num field blend (lote de uvas de várias castas colhidas em simultâneo no campo) de uvas brancas, mostrou isso, dando origem “a um branco extraordinário, com boa acidez, complexidade, boca e grande potencial de envelhecimento, tal como os tintos”, conta.
Ainda hoje Rui Reguinga está à procura de vinhas. Por isso, quando alguém o contacta para oferecer as suas, não deixa de as ir ver, como aconteceu este ano, em que vinificou uvas de uma vinha “rodeada de árvores, perdida na serra”. Mas sem pressa, porque hoje o seu projecto “está equilibrado financeiramente, para o número de garrafas que produz e preço médio por unidade”, diz o enólogo. Mas se as vinhas valerem a pena, vai continuar a investir nelas.

Rui Reguinga

A gestão do tempo

Tal como ontem, ainda hoje a parte mais difícil do seu trabalho é a gestão do tempo. Mesmo que tenha criado uma equipa em que delega muito trabalho. E embora a sua aprendizagem agronómica e a sua carreira tenham tido a enologia como foco principal, “a viticultura é inevitável”. Por isso, vai acompanhando a vinha o mais de perto possível, aproveitando os conhecimentos sobre a sua protecção e maneio que aprendeu na universidade e foi melhorando com o tempo, até porque as vinhas velhas têm de ser mantidas e recuperadas. Como é evidente, a vindima mantém-no focado na adega. A seguir, viaja. Vai visitar os mercados externos para fazer provas para os seus importadores e mostrar as novas colheitas. “É um trabalho constante, porque eles gostam da nossa presença e os mercados podem ser perdidos se os deixamos um pouco mais abandonados”, explica, salientando a importância da proximidade ao mercado no sector dos vinhos, que “têm de ter uma cara por detrás”. Foi, há bem pouco, que abriu o seu enoturismo, um espaço com aquele ar sedutor de uma tasca de província de outros tempos, ao lado da sua pequena adega e bem perto das ruínas de Ammaia, grande cidade romana, em São Salvador da Aramenha. É apenas mais um dos sítios onde vale a pena ir, de uma região com muito para visitar.

Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024

 

 

WineStone com os olhos no topo: Alentejo, Douro, Verdes, Lisboa…

Ligada ao grupo José de Mello, o Winestone Group integra, no seu portfolio, as marcas Ravasqueira (Alentejo), Quinta de Pancas (Lisboa), Paço de Teixeiró (Verdes), Quinta do Côtto (Douro) e Krohn (Vinho do Porto). Foi num ambiente de celebração que fomos recebidos na Quinta do Retiro Novo, onde pontificam os lendários tonéis dos vinhos do […]

Ligada ao grupo José de Mello, o Winestone Group integra, no seu portfolio, as marcas Ravasqueira (Alentejo), Quinta de Pancas (Lisboa), Paço de Teixeiró (Verdes), Quinta do Côtto (Douro) e Krohn (Vinho do Porto). Foi num ambiente de celebração que fomos recebidos na Quinta do Retiro Novo, onde pontificam os lendários tonéis dos vinhos do Porto Krohn e que “em breve fruto da modernização das instalações em curso produzirá também vinhos Douro”. Para o CEO da empresa, Pedro Pereira Gonçalves, “celebrar o primeiro ano da Winestone e podermos partilhar e dar a provar os novos vinhos, é um motivo de enorme satisfação. Queremos estar nas regiões mais importantes de Portugal, criando bases sólidas para o futuro, ambicionando figurar, a curto/médio prazo, no top três do setor dos vinhos, sendo um agente ativo também na promoção além-fronteiras. É o nosso primeiro evento neste local e de comemoração.”
Uma das grandes diretrizes do grupo é a de manter e honrar o legado, inovar e potenciar, sempre com o respeito pelas gerações, preservando o sentido de lugar de cada casa e a identidade de cada quinta, transportando assim a sua autenticidade. Para isso, conta com uma jovem equipa de enologia, local, coordenada a nível nacional pelo experiente David Baverstock.
Com os olhos postos em 2025, a empresa apostará na continuidade da “reorganização de portefólio, reestruturação do património vitivinícola e capacitação de recursos humanos”, e prepara um “investimento relevante” na Quinta do Retiro Novo (Douro) e na Quinta de Pancas (Lisboa).

O kick-off na Ravasqueira

Foi na Ravasqueira onde tudo começou, ou não tivesse sido esta a primeira propriedade adquirida pelo grupo José de Mello. Só este ano o investimento foi de seis milhões “na capacitação das infraestruturas produtivas, espaço e equipamento”, entre outros “em linhas de engarrafamento” no centro de vinificação, uma fatia de um investimento global de 30 milhões de euros em aquisições e recapacitação de ativos, salienta Pedro Pereira Gonçalves. Os vinhos estão cada vez mais afinados e num patamar de qualidade superior, em resultado do trabalho de precisão da enóloga residente, Ana Pereira. Destaque, na prova efetuada, para o sofisticado Ravasqueira Espumante de 2015, produzido exclusivamente da casta Alfrocheiro, o Ravasqueira Alvarinho, fresco e citrino, com complexidade pouco comum fora de Monção e Melgaço ou o tinto 100% Touriga Franca, com uma fruta muito pura e gulosa. Entre outros vinhos naturalmente, como por exemplo os “clássicos” Vinha das Romãs. Qualidade inegável.

Winestone

Foi na Ravasqueira onde tudo começou, ou não tivesse sido esta a primeira propriedade adquirida pelo grupo José de Mello

 

Paço de Teixeiró e Quinta do Côtto

Pertencentes anteriormente ao grupo Champalimaud e hoje no seio da Winestone, ambos são projetos com muita tradição e identidade. Sob a batuta da enóloga Mafalda Machado, ganham novo fôlego, a recuperação de referências clássicas e a criação de novas.
A Quinta do Côtto, situada entre Mesão Frio e Peso da Régua, possui uma localização privilegiada com vinhas ancestrais, muitas delas com mais de 100 anos, plantadas entre os 120 e os 430m de altitude. Um terroir onde se produzem há mais de 50 anos alguns dos vinhos mais icónicos da região, repletos de elegância e frescura, o que se veio a comprovar na prova efetuada, onde, nos tintos, se mantém a aposta nos monovarietais Bastardo e Sousão – vinhos realmente especiais e nos lendários Grande Escolha e Vinha do Dote – tintos arrebatadores. Mas é nos brancos que reside a maior novidade, com o regresso dos Côtto Branco e Côtto Reserva branco para completar o portfolio.
O Paço de Teixeiró é a casa da casta Avesso. Situado em Baião, este terroir único está localizado em solos xistosos, ao contrário da maioria dos produtores de Vinho Verde. É o local perfeito para produzir vinhos brancos minerais e de acidez crocante, principalmente a partir das castas Avesso, Loureiro e Alvarinho. A criação da nova gama Teixeiró (blend, Avesso e Alvarinho), com uvas adquiridas a produtores locais, dá origem a “vinhos leves, frescos e acessíveis”, enquanto a gama Paço de Teixeiró acrescenta, ao já seu carismático Avesso, um outro vinho feito exclusivamente da casta Loureiro “permitindo, assim, exprimir as castas por si só, num terroir de eleição”, salienta Mafalda. Mas a grande novidade é a criação, pela primeira vez, de um vinho branco de parcela, o Paço de Teixeiró Vinha de Sousais, um branco delicioso e que dará seguramente que falar, mostrando, na plenitude, a parcela especial que lhe deu origem

Winestone

Quinta de Pancas, legado de Lisboa

Fundada em 1945, a Quinta de Pancas fica uma propriedade histórica que remonta ao século XV. Com uma área total de 75 hectares, tem mais de 60 hectares de vinhas situadas em Alenquer, a 35 quilómetros a leste do Oceano Atlântico. As vinhas estão plantadas numa paisagem protegida pela Serra de Montejunto. Com Vasco Costa à frente da enologia, o objetivo passa por resgatar o legado de “um terroir único, que produz alguns dos melhores Cabernet Sauvignon e Chardonnay de Portugal”. Para já assistimos a uma imagem mais clean e renovada da marca, onde pontificam branco, tinto e rosé, todos reserva, com enorme frescura e equilíbrio, e os monovarietais Chardonnay e Cabernet Sauvignon, num recomeço auspicioso. Ainda em projeto está a construção de uma nova adega, que nascerá de uma intervenção nos edifícios contíguos aos utilizados atualmente. “Queremos dar, à Quinta de Pancas, uma adega como ela nunca teve e transformá-la numa marca de referência da região de Lisboa.”, salienta Pedro Pereira Gonçalves.

Winestone

A magia dos Vintage da Krohn

Para fim de festa estava destinado o ponto alto do dia, com a prova dos Vintage Krohn numa viagem de mais de 60 anos, entre 1960 e 2022. Se a Krohn é sobejamente conhecida pela qualidade dos seu Porto Colheita, ficou claro que, nos Vintage, a magia também está presente. Vintages deliciosos, em que o equilíbrio doçura/acidez foi notório em toda a prova. Assim, tivemos oportunidade de apreciar o 2022, ainda em amostra de cuba, naturalmente nesta fase bastante exuberante nas notas de fruta vermelha e preta, mas com frescura e elegância, a prometer muito. O Krohn Vintage 2017, de um ano clássico, tem fruta de muita qualidade, notas de esteva e perfumes florais, taninos lineares, saboroso expressivo, com a profundidade e intensidade desta vindima (18,5 pontos). Já o Vintage de 2003 revela cor negra bem carregada, aromas concentrados de fruta madura e algum fruto seco, num registo encorpado e carnudo (17,5). Em grande forma o 1970, muito complexo, fruto seco, café, notas de farmácia e vinagrinho a engrandecer um conjunto de final extremamente longo (19). A prova terminou em beleza com o Krohn Vintage 1960. Seis décadas em garrafa num Vintage delicado e etéreo, que exibe discretas notas de especiarias sobre um fundo de aroma de caramelo e noz, e algum vinagrinho. Mais morno que o 1970, mas igualmente esplendoroso (19).
No conjunto, a Winestone pode hoje orgulhar-se de deter cinco marcas de prestígio que correspondem a outras tantas denominações de origem espalhadas pelo país vinícola. E, tendo em conta o objetivo anunciado de chegar ao top três nacional em volume e faturação, certamente não vai ficar por aqui…

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024

Enoturismo: Quinta do Paral

Quinta do paral

Estar ali, naquela mesa de madeira de beira de piscina, manhã cedo, pelo menos para um dia de férias, de lazer, a olhar aquela paisagem de árvores, jardins e vinha, enquanto se escuta o som dos pássaros, origina uma sensação de paz reconfortante. Foi assim que me senti, privilegiado, enquanto saboreava distraidamente a fatia de […]

Estar ali, naquela mesa de madeira de beira de piscina, manhã cedo, pelo menos para um dia de férias, de lazer, a olhar aquela paisagem de árvores, jardins e vinha, enquanto se escuta o som dos pássaros, origina uma sensação de paz reconfortante. Foi assim que me senti, privilegiado, enquanto saboreava distraidamente a fatia de pão com cheiro a Alentejo que escolhera, nesse dia apenas ornamentada com fiambre e manteiga que me foi trazida à mesa. Era o que me estava a apetecer naquele momento, a seguir ao par de figos, fruta da época que comi primeiro, na companhia de uma pequena fatia de salmão fumado porque é algo que me tenta sempre.

Enquanto esperava pelos ovos mexidos que, no Wine Hotel da Quinta do Paral, são feitos à medida dos desejos dos clientes, tal como outras coisas de comer, pensava que aquele sítio era perfeito para estar a ler um dos muitos livros que gosto que me façam companhia na minha mesa de cabeceira, ou mesmo para talvez começar a escrever mais um. E eis que chegaram, à mesa onde estava sozinho por ser bem cedo de manhã, uns ovos mexidos com ar bem mais estéticos que os meus, mas igualmente saborosos e com a textura certa. Fui apreciando tudo devagar, como sempre na companhia de leite com café, neste caso da variedade arábica com torra feita na casa. Senti-me bem, um pouco sem vontade de partir em direcção a Lisboa, onde o trabalho me esperava. Mas tive de ir…, com vontade de voltar.

 

Casa histórica é hotel temático

Conheço o Luís Leão, director geral e enólogo da Quinta do Paral, onde se integra este Wine Hotel, ou seja, hotel temático de vinho, já há alguns anos. E lembro-me de visitar a propriedade ainda muito no início do projecto, quando os alicerces se estavam a levantar e o hotel ainda era um sonho em início de concretização.

A grande casa, histórica, hoje com um cunho mais alentejano e um ar elegante, já existia. Mas foi impossível imaginar que se iria tornar naquele edifício de charme equilibrado, com ar de que esteve sempre ali, escondido da estrada por muro branco ornado, por cima, a telha e tijoleira. Uma casa de alguém que gosta de receber.

É verdade que os quartos espaçosos, confortáveis e com vista para as vinhas, como não podia deixar de ser num hotel vínico, são aquilo que se poderia esperar de um hotel de cinco estrelas, ali ou num lugar qualquer. Mas, no seu interior, há pequenas coisas que são diferentes, na forma como o cimento surge nas paredes como fosse pedra, na leveza das portas que separam o quarto da casa de banho e roupeiro, no estilo discreto dos móveis e tudo o que é iluminação eléctrica já que, de dia, basta deixar entrar a luz exterior para ver tudo o que lá está e apreciar os pormenores.

A dormida tinha sido boa, apesar de os bons sabores do jantar de inspiração alentejana me tivessem levado a abusar um pouco da comida, porque foi difícil resistir.

Tudo tinha começado pela manhã do dia anterior, após ter cruzado o portão da quinta por onde entram os automóveis dos hóspedes. Às boas vindas dos porteiros, ou trintanários, sucedeu-se o convite para deixar a viatura a seu cargo com as malas, com a mensagem que eles iriam tratar de tudo: de arrumar o carro, apanhar as bagagens e levá-las para o quarto onde iria ficar.

Fiquei um pouco surpreendido pelo inesperado, mas o sorriso do meu interlocutor e o ar de que aquilo era habitual por ali convenceram-me a entregar as chaves do meu Honda, e a embarcar num buggy semelhante aos usados nos campos de golfe, aqui chamado de club car, para ir com ele até ao edifício principal da propriedade, onde ficam a maioria dos quartos, percorrendo um túnel de estrutura metálica, ornamentado por vinhas de mesa, sobretudo de uva moscatel, dir-me-ia ele pelo caminho. “A partir da próxima vindima, os hóspedes até poderão ir colhendo algumas para saborear pelo caminho”, foi-me explicando. E eu aceitei a coisa como certa, pela convicção demonstrada. E até me lembrei que comer, hoje, uvas frescas de Moscatel era coisa rara, já que vai tudo, ou quase tudo, para a produção de vinho.

 

 

Quinta do paral
Luís Leão, 53 anos, enólogo e director geral da Quinta do Paral.

Por causa das vinhas velhas

A distância não era muita, mas o veículo foi andando devagar, com a calma suficiente para poder ir dando pela paisagem de relvados, pequenos lagos e árvores, dispostos de forma equilibrada, e pela aproximação da casa principal, aquela que tinha albergado a residência de verão da Condessa de Santar antes de ser vendida em 2017 ao seu actual proprietário, o empresário alemão Dieter Morszeck, 72 anos. Ex-presidente e neto do fundador da marca de malas de luxo Rimowa, entretanto vendida, divide o seu tempo entre a fundação que criou em 2016, os seus negócios na Suíça e Estados Unidos e a produção de vinhos na Vidigueira. Na altura da aquisição, e como contou Luís Leão, 53 anos, enólogo e director geral da Quinta do Paral, tinha o intuito de vinificar algumas parcelas de uvas de vinha velha que tinha comprado na zona de Vila de Frades. “Foi no dia da aquisição que nos conhecemos”, disse, salientando que a quinta, de 85 hectares, tinha 30 de vinha. Depois da visita que fizeram à propriedade, foi logo decidido aproveitar toda a sua parte rústica, o edifício que é hoje o bloco principal do hotel. Em 2017, a Quinta do Paral não tinha stocks de vinho, e o portefólio foi logo delineado na altura, com base naquilo que Dieter Morszeck e o seu filho, Thomas, 40 anos, agrónomo de formação, gostavam. “Mas não foi esquecido o terroir da Vidigueira, com as suas castas autóctones e os perfis de vinhos que origina”, salienta Luis Leão.

A aposta nas vinhas velhas, que inicialmente ocupavam apenas 1,5 hectares, mantém-se. “Hoje, a empresa dispõe de 15 ha de um total de 23 ha de vinhas velhas plantadas na Vidigueira antes de 1962”, revela o enólogo, acrescentando que a sua produção vai sobretudo para o Quinta do Paral Vinhas Velhas, um dos ex-libris do actual portefólio da casa, que integra mais de uma dezenas de marcas, incluindo espumantes e licorosos.  “Também são feitos para serem consumidos, no hotel vínico, pelos seus clientes que, com certeza, também o procuram porque gostam de vinhos e deste tipo de ambiente”, defende Luis Leão, acrescentando que muitos vão até aquele lugar, que fica bem perto da Vidigueira, para estar retirados e terem uma vida calma, de férias ou pausas prolongadas de fim de semana. “Foi a pensar nisso que o projecto do hotel foi desenhado, porque aquilo que queremos é que se sintam, cá, como se tivessem sido convidados para visitar a nossa casa, a Quinta do Paral”, explica o director geral do projecto. Era assim que me sentia na manhã do dia seguinte à entrevista, depois de ter saboreado a gastronomia de inspiração alentejana criada, para o Wine Hotel, pelo chef José Júlio Vintém, proprietário do restaurante Tomba Lobos, em Portalegre, e consultor da Quinta do Paral.

Alentejo no prato e no copo

Já tinha tido o prazer de saborear vários petiscos e pratos da cozinha deste grande conhecedor do Alentejo e da sua gastronomia, e nunca mais me esqueci do seu Rabo de boi com puré de castanhas e da sua inigualável Sopa de peixe do rio, coisa que só me acontece quando a comida é mesmo muito boa. Segundo me contou, a ideia que lhe foi transmitida por Dieter, a sua mulher, Lily, e Luis Leão, na primeira conversa que tiveram, é que as pessoas chegassem às mesas do hotel e identificassem, na carta, a cozinha alentejana. Mas também queriam “que houvesse um pouco de internacionalização na oferta”. Na primeira, o pão é elemento preponderante, tal como o azeite, na produção de sopas, ensopados, alguns guisados e migas. Mas também há escabeches, cozidos e outros guisados, cozinha de tacho sempre bem temperada, muitas vezes também com uma ou mais ervas de cheiro em que a região é rica. Para chegar à segunda, a cozinha internacional, José Júlio optou por oferecer, aos hóspedes, opções com menos gordura do que as tradicionais e apresentar os pratos sem as espinhas e ossos habituais numa Sopa de Cação ou num Guisado de Borrego, por exemplo.

Segundo Luís Leão, “a gastronomia do hotel foi simples de definir, porque as três unidades de restauração do hotel, o bar de apoio à piscina, o restaurante e a loja da adega, têm uma oferta pensada sobretudo para acompanhar vinhos alentejanos”. É feita com base nos produtos da época, como o borrego, os cogumelos, os espargos, aproveitando também aquilo que a Vidigueira tem de bom, como os queijos ou o pão. Ou seja, é gastronomia regional com algum apontamento ou outro que podem ser encontrados noutros lados. Isso garante que os vários restaurantes desta unidade “ofereçam várias experiências ligadas à cozinha e gastronomia alentejana”, salienta Sofia Moreira, directora do hotel garantindo que “tanto se pode fazer um jantar um pouco mais formal, como ir para as vinhas e fazer um fogo de chão, uma comida de tacho, como um cozido de grão”.

Os produtos usados, esses, são de preferência de bem perto, das hortas e pomares a pouco quilómetros do hotel, para além da carne e do peixe de rio e de mar, o pão, queijo, enchidos e presuntos que complementam a riqueza da oferta gastronómica alentejana. A carta de abertura é de Primavera/Verão. Mas José Júlio Vintém e a sua equipa já estão a trabalhar na carta de Outono/Inverno. “O objectivo, na Quinta do Paral, é que todos os pratos servidos sejam parceiros perfeitos dos vinhos da Quinta do Paral, porque este é um Wine Restaurant de um Wine Hotel, e não há uma boa refeição sem um bom vinho”, defende o chef.

Paz e tranquilidade

Quem tem procurado o Wine Hotel da Quinta do Paral tem origem internacional, mas também portuguesa. Sofia Moreira, a sua directora, salienta que os clientes, para além de gostarem da tranquilidade que o espaço lhes oferece, também apreciam a sua comida e vinhos e procuram conhecer os costumes locais, “as gentes de cá”. E foi a pensar também nisso, que a equipa selecionada para cuidar dos hóspedes é maioritariamente da zona e tem formação em turismo e restauração. “Aqueles que não a têm foram sendo formados em casa, já que começámos a contratar as pessoas bastante cedo e temos elementos da equipa há quase um ano connosco”.

Já tiveram tempo para aprender o objectivo do projecto e a sua filosofia, para além dos padrões de funcionamento da Leading Hotels of The World, cadeia ao qual esta unidade alentejana está associada. Tem uma série de standards que têm de ser cumpridos pelos hotéis independentes que têm esta chancela, “sobretudo porque muitos dos clientes do mercado norte-americano principalmente, nos chegam por esta via”, explica a responsável.

 

O hotel é o destino

“A ideia central deste projecto é a propriedade seja um lugar de retiro, onde se pode sentir a paz e tranquilidade alentejana”, defende Sofia Moreira. “De tal forma, que quem está não sente necessidade de sair”, acrescenta, resumindo aquilo que oferece o seu hotel. “É evidente que há a possibilidade de fazer actividades fora, tal como visitas às Minas de São Cucufate, ao Museu interpretativo do Vinho de Talha em Vila de Frades, ou ir até Évora”, diz, Mas salienta que a experiência que ela e a sua equipa têm tido é que o cliente que procura o Wine Hotel da Quinta do Paral quer sobretudo descansar, e procura a tranquilidade que se sente quando lá está, sem ter necessidade de se deslocar para fazer nada, porque encontra tudo o que precisa dentro de portas.

 

Quinta do paral

CADERNO DE VISITA

 ENOTURISMO

 COMODIDADES

– Carregamento para carros elétricos

– Línguas faladas: português e inglês

– Loja de vinhos

– Sala de provas com capacidade para 10 pessoas na adega

– Sala para eventos no hotel com capacidade para 100 pessoas

– Parque para automóveis

– Provas comentadas

– Turismo acessível

– Wifi na Adega

– Wifi geral e por quarto no Hotel

– Visitas à Adega

– Menu de enoturismo para todos os clientes

– Menu experiência para os hóspedes do hotel

– Visitas às vinhas por marcação

 

EVENTOS

– Possibilidade de criar o próprio evento, mediante pedido antecipado

– Possibilidade de fazer eventos para empresas no hotel

– Possibilidade de fazer provas cegas a pedido

PROVAS

De segunda a sábado, por marcação. As visitas à adega são gratuitas, mediante disponibilidade e têm a duração de 35 minutos.

 Prova de vinhos I: Estate Bottled  – €15/pax (30 minutos)

Degustação de três vinhos Quinta do Paral Estate Bottled: branco, tinto e rosé.

Prova de vinhos II: Brancos – €25/pax (30 minutos)

Degustação de três vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Superior branco e Quinta do Paral Reserva branco.

Prova de vinhos III: Tintos – €25/pax (30 minutos)

Degustação de três vinhos:  Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior tinto e Quinta do Paral Reserva tinto.

 

VINHOS E SABORES

Prova Clássica – €30/pax (mínimo 2 pessoas, 35 minutos)

Degustação de cinco vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco e Quinta do Paral Superior tinto, mais produtos regionais.

Prova Premium – €45/pax (mínimo 2 pessoas, 50 minutos)

Degustação de sete vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco, Quinta do Paral Superior tinto, Quinta do Paral Reserva branco e Quinta do Paral Reserva tinto, mais produtos regionais.

Prova Signature €55/pax (mínimo 2 pessoas, 60 minutos)

Degustação de nove vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco, Quinta do Paral Superior tinto, Quinta do Paral Reserva branco, Quinta do Paral Reserva tinto, Quinta do Paral Vinhas Velhas branco e Quinta do Paral Vinhas Velhas tinto, mais produtos regionais.

Prova Origem €100/pax (mínimo 4 pessoas, 90 minutos)

Degustação de cinco vinhos: Quinta do Paral Vinhas Velhas branco, Quinta do Paral Vinhas Velhas tinto; Quinta do Paral Origem Antão Vaz, Quinta do Paral Origem Perrum e Quinta do Paral Vinho de Talha tinto, mais produtos regionais.

 

HORÁRIO GERAL

Loja:

HORÁRIOS DE VISITA COM PROVA

Por marcação. No momento, por disponibilidade.

 

HOTEL

Menu de experiências para hóspedes do hotel, todos os dias, por marcação, sujeito a disponibilidade

Prova Clássica (mínimo duas pessoas, 75 minutos)

Visita à adega e prova de quatro vinhos da coleção Quinta do Paral, acompanhada por uma seleção de queijos e enchidos alentejanos.

Jantar Privado (mínimo duas pessoas, 90 a 120 minutos)

Jantar privado com menu de degustação exclusivo e harmonização de vinhos Quinta do Paral nos espaços interiores ou exteriores do hotel, incluindo a preparação do jantar e decoração exterior à luz das velas, se solicitado.

Oficina da Cozinha (mínimo duas pessoas, 90 a 120 minutos)

Para descobrir os mistérios da cozinha alentejana com os chefs da casa, incluindo a preparação e degustação de um menu com três petiscos portugueses e um prato principal, com harmonização selecionada de vinhos Quinta do Paral. Inclui um passeio sensorial no jardim de aromáticas do hotel.

Amantes de Vinho (mínimo duas pessoas, 60 a 90 minutos)

Esta experiência inclui a visita à adega e a degustação de seis dos vinhos mais exclusivos da casa na companhia de uma selecção de petiscos tradicionais.

Piquenique no campo (mínimo duas pessoas, das 12:00 às 16:00)

Uma refeição com uma coleção de sabores locais, servidos nas vinhas da propriedade ou num espaço do jardim, com tudo o que é necessário para um piquenique inesquecível, sobre uma manta alentejana e com vista para a paisagem da quinta.

Contemplando o céu noturno (mínimo duas pessoas, 60 a 90 minutos, de maio a setembro)

Uma refeição gourmet sobre idílica cama balinesa no meio das vinhas, para observar o céu noturno e contemplar as estrelas.

Passeio a cavalo pelas vinhas (mínimo duas pessoas 60 a 90 minutos)

Passeio a cavalo pelas vinhas da propriedade com guia equestre.

Évora Cidade Museu (duas a seis pessoas)

Passeio privado à descoberta dos segredos do centro histórico da cidade, Património Mundial da Unesco. Inclui transfer privado e visita guiada a pé, se solicitada.

Descobrindo o Alqueva

Passeio privado à medida para descobrir o maior lago artificial da Europa. Esta Experiência inclui transfer ida e volta. Passeios de barco, piqueniques e outros serviços disponíveis a pedido.

 

QUARTOS*

A Quinta do Paral disponibiliza seis tipos de alojamentos, equipados com todo o tipo de comodidades, incluindo um minibar com seleção de iguarias do Alentejo, oferta de chá com infusão exclusiva e máquina de café com lote produção própria.

Superior Room (€450)

Com cerca de 24m2, estes quartos localizam-se no piso superior do pátio, na ala histórica da propriedade e oferecem amplas vistas panorâmicas sobre os jardins e as vinhas.

Deluxe Terrace Room (€500)

Com cerca de 30m2, estes quartos localizam-se no piso térreo, na ala histórica da propriedade e têm um terraço que dá para os seus jardins.

Privilege Junior Suite (€550)

Suites em open space, com cerca de 80 m2, localizadas no átrio central da propriedade. Inspiradas nos traçados arquitetónicos alentejanos, com imponentes arcos em tijolo rústico, oferecem todas as comodidades de um apartamento.

Signature Terrace Suite (€800)

Suites em open space com cerca de 100 m2, de arquitetura com majestosas estruturas em celósia de composição artesanal. Oferecem vistas diferenciadas para os jardins ou para o horizonte de vinhas.

Charm Apartment (€1000)

Alojamento composto por três unidades, com áreas entre 30 a 50m2, e quartos que se distinguem pelos seus arcos e abóbadas de inspiração romana. Todos os quartos remetem para uma atmosfera intimista que lembra a visita a uma sala de barricas.

Manor House (€2000)

Renovada casa de famílias nobres do século XIX, em tempos propriedade da Condessa de Santar, este espaço exclusivo é composto por quatro quartos, uma cozinha, sala de estar e de jantar.

* Preços aproximados por dia e alojamento

 

BARES E RESTAURANTES

A Quinta do Paral dispõe de três espaços distintos para se desfrutar a gastronomia e cultura vinícola da Vidigueira e do Alentejo: o The Wine Restaurant, onde se pode desfrutar de uma refeição confecionada com produtos locais na companhia dos vinhos da Quinta do Paral, o The Estate Lounge, onde se podem saborear refeições ligeiras ou gourmet, no interior ou à beira da piscina, e o The Grape Rooftop, espaço privilegiado do piso superior do restaurante, com vista para as vinhas e oeste, onde se pode assistir ao pôr do sol na companhia de uma bebida.

MORADA

Quinta do Paral, Vidigueira

Tel.: 284 441 620

Site: www.quintadoparal.com

E-mail: loja@quintadoparal.com / reservations@quintadoparal.com

Facebook: @quintadoparal

Instagram: @quintadoparal_portugal

 

Sovibor: Mamoré de primeira grandeza

Sovibor

A sede da Sovibor fica no centro de Borba, em instalações com mais de dois séculos e foi estabelecida em 1968, em resultado da fusão de dois negócios de vinhos de famílias diferentes. Produz vinhos a partir de 80 hectares de vinhas próprias, mais 120 de parceiros, uma parte significativa das quais de vinha velha. […]

A sede da Sovibor fica no centro de Borba, em instalações com mais de dois séculos e foi estabelecida em 1968, em resultado da fusão de dois negócios de vinhos de famílias diferentes. Produz vinhos a partir de 80 hectares de vinhas próprias, mais 120 de parceiros, uma parte significativa das quais de vinha velha.
Chegou a ser uma das maiores empresas da região, mas, com o tempo, foi perdendo relevância e o seu negócio entrou em decadência até ser adquirido, em 2014, pelo empresário Fernando Tavares, proprietário da distribuidora Sotavinhos, que opera a nível nacional. Depois dessa data foram feitos investimentos na melhoria das instalações, e do processo de vinificação e engarrafamento da adega, que permitiram, à empresa, seguir novos padrões de qualidade e criar novas marcas de vinho. “A Mamoré de Borba, criada em 2015, é a nossa referência premium”, conta Rita Tavares, filha de Fernando Tavares e enóloga residente da empresa. Inclui uma gama alargada de vinhos e vinhos de talha, bagaceiras e aguardentes vínicas.
A apresentação da nova colheita do topo de gama tinto, o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020, decorreu no restaurante Magano, em Lisboa, um lugar de sabores e aromas apropriado para um evento deste tipo, como se notou na parceria de dois dos petiscos que vieram para a mesa no início com o novo Mamoré de Borba Reserva branco 2023, as saladas de bacalhau com grão e de polvo, que se equilibraram muito bem com a sua textura, volume e frescura de boca, ou os sabores e aromas do cabrito assado no forno, que fizeram grande parceria com o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020.

 

“A marca Mamoré de Borba, criada em 2015, é a nossa referência premium”, diz Rita Tavares, enóloga residente da empresa

 

Sovibor

O conforto das vinhas velhas

Trata-se somente da segunda colheita desta referência, o topo de gama da Sovibor, produzido a partir das vinhas velhas de sequeiro desta casa. Segundo António Ventura, enólogo consultor da empresa, estão situadas numa zona caracterizada por uma precipitação superior à média do resto do Alentejo, a uma altitude de 420 metros, onde existem sobretudo solos xistosos e argilo-calcários. “As vinhas velhas em causa vegetam sobre xistos castanhos, que são porosos, o que contribui para que se sintam confortáveis, porque têm grande capacidade de retenção da água”. Após a vindima, as uvas destinadas a produzir o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020 são refrigeradas em camião frigorífico, pisadas a pé em lagar de mármore duas vezes por dia, com maceração pré e durante a fermentação que decorrer durante 48 e 72 horas. O estágio em madeira durou 18 meses, em barricas de carvalho francês de Allier e de Vosges de 300 e 500 litros, de primeira e segunda utilização, antes do engarrafamento. É um tinto que se pode beber agora ou durante muito mais tempo e merece as honras de figurar como estrela de primeira grandeza, não apenas do portefólio Sovibor, mas entre os vinhos do Alentejo.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)

Vinha das Penicas: A colocar Sicó no mapa

Vinha das Penicas

A sub-região das Terras de Sicó, localizada na Beira Atlântico, possui uma rica história vitivinícola que remonta a séculos. Esta área, que inclui partes dos concelhos de Condeixa-a-Nova, Penela, Alvaiázere, Ansião, Pombal e Soure, é conhecida pelas suas vinhas antigas e pelo cultivo de castas tradicionais. Durante a era romana, a viticultura já era uma […]

A sub-região das Terras de Sicó, localizada na Beira Atlântico, possui uma rica história vitivinícola que remonta a séculos. Esta área, que inclui partes dos concelhos de Condeixa-a-Nova, Penela, Alvaiázere, Ansião, Pombal e Soure, é conhecida pelas suas vinhas antigas e pelo cultivo de castas tradicionais.
Durante a era romana, a viticultura já era uma atividade próspera na região, em redor de Conímbriga, uma das maiores cidades romanas de Portugal, situada no coração das Terras de Sicó. O cultivo da videira e a produção de vinho sempre estiveram profundamente enraizados na economia familiar destas comunidades. No entanto, ao longo do tempo, as dificuldades económicas e a migração das populações para as cidades levaram ao abandono de muitas vinhas.

A região é marcada por um relevo cheio de encostas e vales. A Serra da Lousã, a leste, contribui para as suas amplitudes térmicas, com altas temperaturas de dia e noites frescas. A Serra de Sicó, embora seja de altitude mais baixa, oferece alguma protecção dos ventos atlânticos e cria diferentes exposições solares. De um modo geral, o clima é menos atlântico e chuvoso nas Terras de Sicó do que na Bairrada. Os solos são essencialmente argilo-calcários com afloramentos de xisto. Estes calcários, formados em antigos ambientes marinhos durante o período Jurássico e Cretácico, quando a Serra de Sicó estava submersa, são ricos em conchas fossilizadas que muitas vezes se encontram nas vinhas.

Paixão pela casta Baga

Terras de Sicó foi delimitada, em 1993, como sub-região da região das Beiras que, na altura, também enquadrava a Beira Alta e a Beira Litoral. Na reorganização institucional do sector, em 2011, passou a fazer parte da IG Beira Atlântico. Nos últimos cinco anos nota-se uma dinâmica nesta sub-região e já existem 15 produtores certificados. É esta a terra de Alberto Almeida, nascido numa pequena aldeia no concelho de Coimbra, onde desde cedo teve contacto com as práticas agrícolas. O seu pai e avô produziam vinho para consumo familiar, e foi nas vinhas que Alberto passou uma boa parte de sua infância, nos anos 70, brincando e participando nas actividades do campo. Naquela época, achava o trabalho na terra muito duro e, assim que pôde, rumou para a cidade em busca de uma vida diferente.
Alberto trabalha na área de saúde mental. É psicodramatista e conduz sessões de terapia em grupo. No entanto, ao aproximar-se dos 30 anos de idade começou a sentir uma nostalgia crescente do campo e da cultura da terra, que “já não era vista apenas na perspectiva de dureza, mas também de magia”. Essa saudade levou-o a juntar-se aos grupos de provas e visitar eventos vínicos, o que lhe ajudou a desenvolver o gosto próprio pelos vinhos elegantes e frescos. Foi neste contexto que descobriu a casta Baga, pela qual se apaixonou.

Em 1997, Alberto decidiu voltar às suas raízes e mudou-se para Podentes, onde descobriu vinhas centenárias que despertaram a sua vontade de reviver o património vinícola da região. Começou por comprar duas parcelas de vinha e agora já tem cinco, de dimensões variadas, de 0,5 até 1 ha. O minifúndio era uma realidade naquele território, e as vinhas suportavam a economia familiar outrora. As castas que tem são as da Bairrada antiga (antes de entrada de castas estrangeiras) e de uma parte do Dão, excluindo a Touriga Nacional. Normalmente estão misturadas, algumas com metade de variedades brancas misturadas com tintas, outras com 90% de castas tintas, onde predomina a Baga. Curiosamente, a Grand Noir está bastante presente nos encepamentos. Presumivelmente “terá sido trazida na altura de construção de caminhos de ferro, há 120-130 anos”, supõe Alberto.

Castas antigas predominam

Como as Terras de Sicó nunca tiveram uma grande expansão comercial, a sub-região ficou imune ao boom de castas estrangeiras, que se sentiu noutras regiões do país. Alberto valoriza muito este facto e, para preservar o seu encepamento histórico, está a fazer a enxertia com o matérial genético das próprias vinhas.
Antigamente, na época da produção familiar, era comum os pisos térreos servirem de adegas. É numa casa destas que, em 2006, começou as primeiras microvinificações. Autodidata e experimentalista, o ainda jovem produtor percebeu que “não é possível fazer vinho sem entender absolutamente nada”. Foi colhendo algum conhecimento técnico através das formações organizadas pela Estação Vitivinícola da Bairrada, para além da muita conversa com os enólogos e produtores. Experimentando diferentes métodos de extracção, tempos de cuba e de estágio, tipos de carvalho (testou, por exemplo o carvalho americano, que não o convenceu), construiu um perfil de vinhos com que se identificou.

Os processos são rudimentares, com improvisos técnicos e investimento limitado. Devido à idade avançada das vinhas não aramadas, a mecanização não é possível e muito trabalho no terreno é feito pelo próprio. A vinificação ocorre em lagar com leveduras indígenas, para o estágio usa barricas de carvalho francês usadas. O seu objetivo “não é criar vinhos excêntricos, mas sim transmitir emoção e desafiar sensações”.

Com pouca pressa e muita paciência, Alberto fez o seu percurso de mais de uma década a experimentar e ensaiar, sem perder de vista o objectivo de lançar um dia o seu próprio vinho certificado. As primeiras colheitas lançadas para o mercado foram um branco e um tinto de 2017 e um espumante de 2018. Agora também tem um branco de curtimenta que chama “À moda antiga”, com 12 dias de fermentação em lagar com películas.
O espumante resulta de uma primeira monda de todas as parcelas. As uvas para o curtimenta são vindimadas uma semana depois nas mesmas parcelas, e um pouco mais tarde colhe uvas para o vinho branco, que tem um contacto pelicular de dois dias em lagar e um estágio posterior em barricas usadas e deposito de cimento.

O projecto tem muito a ver com o seu criador, desde o perfil dos vinhos até à imagem dos rótulos singela, quase naïf, com umas conchas que parece terem saído de um livro para crianças. “Eu brincava com estas conchas na minha infância, na vinha do meu pai. O rótulo é pessoal e tem muito significado para mim. Toda a construção de imagem é pessoal”, explica Alberto.
A produção resume-se a 10 mil garrafas e, este ano, Alberto Almeida estima chegar aos 15 mil. “Não acredito ter condições para crescer pela quantidade de garrafas, o que me obrigava a ir aos limites físicos e de estrutura. Não consigo expandir a adega. Prefiro ir pelo caminho de valorização da marca. Sei que é um jogo de paciência.”
“É demasiado grande para ser um hobby e demasiado pequeno para ser um negócio”, diz o produtor na brincadeira, enquanto procura, não só alcançar os objectivos pessoais, mas também contribuir para colocar a sub-região Terras de Sicó nos mapas vitivinícolas de Portugal, sobretudo no imaginário do consumidor.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)