Quinta das Marias Dão com estilo desde 1991

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] Peter Eckert é suíço e fez carreira em Portugal, no sector dos seguros. Quando pensou reformar-se optou pela compra de uma pequena propriedade no Dão, em Oliveira do Conde, perto de Carregal do Sal. Nunca se […]

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Peter Eckert é suíço e fez carreira em Portugal, no sector dos seguros. Quando pensou reformar-se optou pela compra de uma pequena propriedade no Dão, em Oliveira do Conde, perto de Carregal do Sal. Nunca se arrependeu da decisão e dos 2 hectares iniciais chegou aos 12. Hoje passa mais tempo entre nós do que na terra natal.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Anabela Trindade[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Todos sabemos que nem sempre é fácil ser estrangeiro em terras do interior, mas também já aprendemos que a maior ou menor receptividade depende muito da atitude de quem vem de fora. Peter, com uma simpatia muito contagiante, não teve problemas, “gosto das pessoas e nunca senti qualquer animosidade, sempre me receberam muito bem; estou muito contente por estar aqui e sinto-me em família”. Isso mesmo foi evidente quando fomos almoçar a um pequeno restaurante não muito longe de Oliveira do Conde: recebido como cliente habitual, com a simpatia das gentes do interior, Peter retribui com aquele sentimento do “somos todos cá da terra”, a mesma terra que teve Aristides de Sousa Mendes como figura emblemática.

Passaram 12 anos desde a minha primeira visita à Quinta das Marias. Na altura foi em época de vindima e, se agora voltasse no mesmo período, muito provavelmente iria encontrar os mesmos personagens, amigos suíços que fazem questão de voltar sempre para a vindima. E o médico ginecologista que então me recebeu poderá estar lá de novo que, diz Peter, “faz questão de ser ele a limpar a prensa”. Por aqui é assim, há amigos, há cumplicidades que se prolongam no tempo e há também a boa colaboração de Luis Lopes, enólogo, que após deixar a Quinta da Pellada assumiu a enologia desta propriedade. Vizinhos são também quintas conhecidas: Quinta Mendes Pereira, Magnum Carlos Lucas e União Comercial da Beira.

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Aquando da visita, em fins de Junho, a vinha estava o que se pode chamar um “mimo”: verdejante, bem tratada, com boa carga de uvas, já com os excessos de folhagem cortados e sem sinais de problemas fitossanitários. Mas Peter e Luis sabem que é cedo para grandes conclusões; é preciso esperar, estar atento, acompanhar e, se for caso disso, intervir. Em frente ao portão principal da quinta, onde entre várias bandeiras hasteadas lá está também a da Suíça, fica uma propriedade que Peter adquiriu e onde tem sobretudo o Encruzado plantado. Conta-nos: “quando comecei, apesar de serem só 2 hectares, a CVR obrigou-me a plantar quatro castas brancas e quatro tintas, mas quando essa obrigatoriedade acabou fiquei só com Encruzado.” É verdade, mas não totalmente porque à volta da vinha de Encruzado que fica do lado de lá da rua, existem várias parcelas “alugadas” a um vizinho em regime de comodato, ou seja, o proprietário mantém a posse da terra, Peter não paga nada pelo aluguer e o proprietário se quiser e quando quiser pode vender a parcela. A vantagem é que tem a terra tratada em vez de abandonada. Aí, nessa vinha, Peter e Luis levaram a cabo um programa de re-enxertia por borbulha (aproveitando a cepa original e o competente sistema radicular) tendo então plantado Uva Cão, Barcelo, Bical e Gouveio.

E, do que plantou no início, concluiu que aquelas não eram terras para  a Tinta Pinheira, “não dava nada, nem sequer cor ou aroma, só líquido” mas, ao contrário da ideia que Luis Lopes trazia da Pellada, a Roriz, de que Peter gosta bastante, dá-se aqui muito bem; Luis conclui que foi uma boa surpresa porque “a Roriz aqui não tem os taninos perros que tinha na Pellada”, e entra por isso sempre na Cuvée TT. Num ponto estão ambos de acordo: aqui é terra de Alfrocheiro, uma casta e tanto, que desde o primeiro momento – as primeiras plantações datam de 1991 – nunca foi uma decepção. Já as alterações climáticas e o aumento previsível da temperatura não auguram nada de bom nem para a Jaen (de que ambos são grandes adeptos) nem para a Bical. É provável que no futuro se tenham de fazer mudanças de castas.

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Uma vertical de Touriga Nacional

Na visita à Quinta das Marias, escolhi alguns vinhos para fazer uma prova mais alargada. Peter optou pela Touriga Nacional, mas foi evidente, ao longo de toda a visita, que a Alfrocheiro é também uva da sua eleição e que, contrariando o que por vezes se ouve dizer, também nunca teve nada contra a Tinta Roriz. A prova de 7 vinhos de Touriga Nacional da Quinta das Marias revela que aqui a casta conserva as suas boas características, mesmo em anos diferentes, e a qualidade é também muito consistente. Iniciámos a avaliação pelo Touriga de 2002, evoluído na cor mas muito fino e elegante, um verdadeiro prazer (17,5);  o 2005, mais jovem de aroma, mantém as notas de fruta em calda, com muita expressão e delicadeza apesar da boa garra (17,5); ainda cheio de cor mostrou-se o 2008, combinando as notas florais da Touriga com um toque vegetal de Alfrocheiro (tem 5% desta casta), intensamente gastronómico (17,5); o 2011 é o que mais se evidencia no momento, vigoroso, complexo e rico (18); muito jovem ainda, o 2014 conjuga o floral elegante, com um tom mais sério dado por taninos finos mas bem presentes (17,5); o 2015, afina pelo mesmo diapasão, fino mas estruturado e cheio de classe (17,5). Publicada à parte nestas páginas, a prova do 2016, agora no mercado, e que confirma a enorme consistência dos Touriga da Quinta das Marias.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Conselhos vindos de longe

Na Primavera passada estiveram aqui durante três dias o casal Claude e Lydia Bourguignon, verdadeiros gurus da viticultura e especialistas dos solos, conselheiros de múltiplos produtores em todo o mundo. Vieram analisar o solo, perceber a relação entre os vários tipos de solo e os porta-enxertos usados, dar, em função disso, conselhos sobre podas e nutrição dos terrenos. Para isso fizerem doze buracos no terreno, espalhados em várias zonas da propriedade, em geral com 1,5 m de profundidade e depois da análise muito minuciosa de cada um foram feitas sugestões sobre o que fazer e o que mudar. Sobre as castas plantadas “não quiseram dar opinião, mas gostaram muito dos vinhos”, diz Peter, sobretudo Encruzado, Alfrocheiro e Touriga Nacional. Disseram que a terra era de grande qualidade para plantar vinha, mas que tinha muita areia na primeira parte do solo. Há também alguns problemas de excesso de humidade, e por isso aqui a vinha é de sequeiro. Diz-nos Luis, “temos em solos húmidos problemas de armilária, que é um fungo parasitário do carvalho que ficou na terra; nesses solos algumas cepas morreram e outras originam pouca produção. Há compensações a fazer e há erros que não se devem cometer, é para isso que serve um profundo conhecimento do solo que temos à disposição”.

A experiência foi boa conselheira e assim Peter, ao decidir ficar apenas com o Encruzado, arrancou o Borrado das Moscas (Bical), Malvasia Fina e Cercial. Curiosamente, voltou ao Bical nas re-enxertias do comodato. Nessa vinha havia castas como Semillon e Assaraky, um híbrido feito em Portugal de cruzamento de Assario com Sarak, uma casta que veio da Casa da Ínsua. Diz-nos Luis que “temos Uva Cão do Centro Estudos de Nelas e da Quinta da Passarela. Terrantez não plantámos porque não consegui arranjar varas. Falta-nos a Douradinha que é casta antiga e muito ácida que merece ser plantada”. Da vinha do comodato será posteriormente tirada a Tinta Roriz que lá está e em cujos pés se fez a enxertia. As varas de Touriga Nacional vieram também do Centro de Estudos de Nelas mas, como que a confirmar a tese clássica, “os resultados são muito diferentes conforme a localização e orientação da parcela e, claro, em função do subsolo”, lembra Peter. Se voltássemos aos anos 90, era seguro que as vindimas dos tintos só começavam depois de 5 de Outubro mas “actualmente começamos entre 20 e 25 de Setembro”. Coisas do clima, como é evidente. A produção ronda as 60.000 garrafas, das quais 40% se destinam ao mercado interno e o resto é exportado, sobretudo para o Canadá, Brasil e Macau.

[/vc_column_text][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40686,40687,40688,40689,40690″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O estudo e a atenção

Segundo Peter Eckert, quando na Suíça perguntava a opinião sobre os vinhos portugueses, ouvia invariavelmente que faltava consistência de qualidade e oferta no mercado para o consumidor. Foi nesses dois pontos – qualidade e consistência – que procurou pegar para alterar essa imagem. A prova dos Touriga Nacional que fizemos mostra exactamente essa consistência. Mas isso não surge por acaso: a produção de vinho exige alguns cuidados que Peter faz questão de salientar: a higiene é factor primordial em todos os trabalhos ao longo do ano, a atenção a todos os pormenores exige estar sempre em cima do acontecimento, há que manter uma atitude de estudo e curiosidade sobre o que se passa. O enólogo afirma mesmo que “Peter é estudioso e está sempre interessado nas coisas que lhe digo e ele vai informar-se sobre qualquer assunto e, quando voltamos a falar, ele já sabe muito sobre a matéria”, por isso sente-se habilitado para todas as tarefas da adega.

A vinda de Luis Lopes pode também levar à procura de novos vinhos e novas experiências, como Peter refere: “quero conciliar a linha de continuidade com a produção anterior, mas vamos ter projectos que o Luis vai assumir com ensaios e coisas novas que podemos experimentar”. Coisas novas, lembra Luis, como por exemplo o uso de extracto de grainha como substituto do sulfuroso; “já usámos e vamos agora engarrafar o ensaio a ver como se comporta na garrafa; para já, não ganhou acidez volátil nem brett (fenóis voláteis) o que é bom sinal. Mas vamos ver e vamos aprender”. Peter e Luis afinam claramente pelo mesmo padrão, procurando manter um estilo e um histórico, mas sem enjeitar experimentação e novidades. 27 anos depois do seu nascimento, a Quinta das Marias continua em grande no Dão.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”VINHOS EM PROVA”][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][vc_column_text]

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Edição Nº28, Agosto 2019

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A Santos e Seixo chegou a casa

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] A Santos e Seixo soube criar, em menos de seis anos no activo, uma imagem forte no mundo do vinho português. Enologia cuidada e preços competitivos garantiram o crescimento do projecto, mas faltava-lhe ganhar raízes na […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

A Santos e Seixo soube criar, em menos de seis anos no activo, uma imagem forte no mundo do vinho português. Enologia cuidada e preços competitivos garantiram o crescimento do projecto, mas faltava-lhe ganhar raízes na terra. Em 2019 esse passo foi dado. Começa uma nova era e, com ela, abrem-se novos horizontes.

TEXTO Luís Francisco
NOTAS DE PROVA Valéria Zeferino
FOTOS Ricardo Gomez

Corria o ano de 2009 quando Alzira Santos, no regresso de um périplo pela América do Sul e EUA, teve uma conversa com Pedro Seixo, filho da sua grande companheira de viagens. “Foi um desafio”, recorda Pedro: “Disse-me que viajava muito, mas era um desconsolo não encontrar vinhos portugueses em lugar nenhum… E que devíamos fazer alguma coisa para mudar isto.” A ideia não pegou logo, mas hoje, uma década depois, facilmente se percebe que deu frutos e a Santos e Seixo, oficialmente registada a 3 de Janeiro de 2014, está em franco crescimento e afirmou-se em poucos anos pela consistência e qualidade dos seus vinhos. A preços bem contidos.
Em 2019, ouvimos falar muito deles. As notícias habituais, com prémios internacionais e críticas elogiosas nas publicações da especialidade; e outras inéditas: a Santos e Seixo passava a ser proprietária de vinhas. Primeiro acrescentou ao seu portefólio uma quinta no Douro (neste momento, com um contrato de utilização por quatro anos, mas a cláusula de compra vai ser accionada – “Não temos dúvidas”) e várias vinhas; depois adquiriu a empresa Encostas do Sobral, em Tomar, região do Tejo. Dois investimentos cujo montante não é partilhado, mas que responderam a necessidades diferentes da empresa, que agora assume a ambição de crescer de forma ainda mais acentuada.
Pedro Seixo está sentado à mesa, no pátio da sua nova quinta duriense, a Quinta do Pinheiro, Casal Agrícola de Cevêr, com a equipa da Grandes Escolhas, rodeado por Pedro D’Orey, director comercial – e “futuro sócio”, garante o líder da Santos e Seixo –, e Luciano Madureira, o enólogo responsável pelos vinhos a Norte (no quadrante Sul, essa função passa a ser assumida por Pedro Sereno, antigo proprietário e enólogo da Encostas do Sobral). Cada um deles é a face humana do que Pedro Seixo explica a seguir: o investimento nesta propriedade do Douro foi “institucional”; a aquisição no Tejo foi “estratégica”. Com a primeira, a Santos e Seixo ganhou uma casa; na Encostas do Sobral encontra uma unidade produtiva estrategicamente colocada a meio do território nacional.
“Este ano estamos a entrar nas Feiras de Vinho das grandes superfícies e o mercado interno pede mais vinho. Estamos também a ganhar muitos clientes novos lá fora, que nos falam com frequência em conhecer a nossa casa”, explica Pedo Seixo. Aumentar a produção, alargando a âmbito da empresa a novos vinhos de gama de entrada, que possam chegar a mais pessoas, é um objectivo assumido. Solidificar a imagem e o estatuto da empresa, é outro.
Luciano Madureira é um duriense de gema, que começou a trabalhar exactamente em Santa Marta de Penaguião, onde se situa o Casal Agrícola de Cevêr. Foi ele quem ajudou Pedro Seixo durante três anos de busca contínua pela região, até que a oportunidade, a paixão e o local certo se encontraram finalmente aqui. A Santos e Seixo queria que a sua casa fosse no Douro, a mais emblemática e respeitada região vitivinícola do país. E já o conseguiu. Por outro lado, também queria que os seus vinhos fossem “bebidos todos os dias, não apenas em dias especiais”. E é neste capítulo que entra em cena o comercial Pedro D’Orey, ex-Casa Santos Lima, como se diz no futebol.
Pedro trouxe consigo a bagagem de um produtor que se afirma pela sua presença internacional, pela capacidade de ir ao encontro do que o cliente quer e por uma política praticamente imbatível na relação qualidade-preço. Na Santos e Seixo, é exactamente isto que quer pôr em prática. E não tem medo das palavras: “No prazo de dois anos, quero dobrar as vendas e passar a fasquia do milhão de garrafas. Tenho todas as condições para o fazer.”

[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40672″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Os vinhos e as pessoas
No seu ano de estreia no mercado, a Santos e Seixo, na altura ainda em colaboração com a Casca Wines, fez 50.000 garrafas com chancela própria e colocou outras 40.000 numa marca da cadeia Pingo Doce. Em 2019, apenas cinco anos depois, pode somar às 300.000 que produziu e engarrafou outras tantas com origem na Encostas do Sobral. Daqui a dois anos deverão ser 1,2 milhões, promete Pedro D’Orey.
Para já, no mercado internacional, que representa 50% do volume de negócios da empresa (sem a Encostas do Sobral, essa percentagem sobe para os 80%), a Santos e Seixo está presente em quase duas dezenas de países ou territórios (Alemanha, Bélgica, Bermudas, Brasil, Canadá, China, Espanha, Estónia, EUA, França, Holanda, Irlanda, Japão, Macau, Nova Zelândia, Polónia, República Checa, Rússia, Suíça). O México juntar-se-á em breve a esta lista e a Ucrânia “pode estar próxima” de seguir o mesmo caminho. O Brasil, a China e a Rússia são os destinos mais relevantes da exportação e a mera dimensão demográfica destes colossos colocava desafios importantes: perante encomendas maciças, a empresa “não podia ficar dependente de terceiros”.
Por “terceiros” leia-se: os donos das vinhas a quem a Santos e Seixo comprava as uvas. Garantir uma dose mínima de auto-suficiência a esse nível tornou-se premente. Em 2019, finalmente, a empresa pode respirar fundo. Detém neste momento cerca de 105 hectares de vinhas próprias, entre Douro e Tejo, para além de outros 60 a 70 de vinhas alugadas, incluindo 35 hectares na zona de Portalegre, de onde saem os seus vinhos alentejanos. Mas o “radar” continua ligado e, nomeadamente na zona de Santa Marta de Penaguião, há sempre disponibilidade e interesse em ouvir propostas para aquisição de pequenas parcelas contíguas às vinhas da casa.
A Santos e Seixo faz neste momento vinhos em cinco regiões: Verdes, Douro, Tejo, Lisboa e Alentejo. Na primeira, com um vinho mais comercial, sob a chancela Rotas de Portugal (transversal a outras regiões nacionais), e um Reserva Alvarinho Santos da Casa, da sub-região de Monção e Melgaço – a ideia é restringir a marca Santos da Casa aos vinhos do Douro, mas este foi um pedido expresso de Alzira Santos a que Pedro Seixo não podia, nem queria, dizer que não…
Salvo essa excepção, o Douro será o berço exclusivo dos vinhos Santos da Casa, mas uma grande novidade está a caminho das prateleiras: os Perspectiva, Colheita e Reserva, que pretendem ser vinhos de gama mais acessível. E, já agora, destapando um pouco o véu, também podemos aguardar pelos néctares-ícone que sairão das vinhas de Luciano Madureira, junto às quais já nasceu a nova adega-boutique da Santos e Seixo. Um destes dias vai ouvir falar de Valle da Estrada…
No Tejo, onde a empresa tem autorização para fazer e engarrafar vinhos de todo o país menos Douro e Algarve, a gama Encostas do Sobral vai manter-se e de lá sairão também outras marcas próprias e vinhos para o portefólio de grandes superfícies. Lisboa entra no rol das propostas Rotas de Portugal e o Alentejo passa a alinhar sob a chancela Duquesa Maria. A gama de vinhos da casa vai dos 2,5 aos 50 euros e a descoberta, num balseiro, de um Tawny muito velho no armazém da Casa Agrícola de Cevêr permite imaginar que daqui a uns anos o intervalo de preços será ainda maior…[/vc_column_text][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40675,40674,40677,40676,40680″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]História de sucesso
Com tudo isto, a empresa já congrega os esforços de 22 pessoas. À cabeça, Pedro Seixo, o líder da equipa, contando sempre com a cumplicidade a capacidade financeira de Alzira Santos, a sócia maioritária; depois, a mulher de Pedro, Cláudia, responsável financeira e de recursos humanos (e a pessoa que toma “decisões mais racionais”). A chegada de Pedro D’Orey trouxe uma nova agressividade comercial e uma mentalidade mais ligada ao consumidor comum; os responsáveis de enologia zelam pela autenticidade e qualidade dos vinhos. “O nosso maior activo são as pessoas”, resume Pedro Seixo.
São elas, portanto, as responsáveis por esta história de sucesso? O director-geral da Santos e Seixo, responde com outra pergunta: “Acha mesmo que esta é uma história de sucesso?” Tudo aponta nesse sentido, reforçamos… “Obrigado, é um elogio que me alegra muito. Mas não sei… ainda não atingi o ‘break-even’… Mas estamos perto.” E, sim, são as pessoas. “Os nossos vinhos têm consistência? É o trabalho dos enólogos”, afirma, apontando para Luciano Madureira, mas não esquecendo o homem que o acompanhou nestes primeiros anos, Paolo Nigra, que agora se desliga da empresa. “Conseguimos dar sempre mais ao cliente sem exagerar nos preços? É a equipa de vendas que faz bem o seu trabalho”, reforça de seguida.
Ao longo destes anos, Pedro Seixo foi construindo “um núcleo duro”, sem o qual, garante, não seria “ninguém”. “Repito: não escondo que o suporte financeiro que me é proporcionado pela Alzira [Santos] é essencial, mas escolher as pessoas certas é o mais difícil e é o que me dá mais gozo fazer. Se esta é uma empresa de sucesso e eu tenho alguma responsabilidade nisso, então foi a de ter escolhido as pessoas certas.”
Acima de tudo, está a atitude: “Tenho um sentido de ética; não é ser ingénuo nos negócios, é ter a noção da dignidade de quem está do outro lado. Dou tudo à minha equipa, mas espero retorno. Sou rápido a tomar decisões, mas a empresa tem de conseguir funcionar sem mim.” Depois, a noção de que só se cresce investindo. As aquisições aí estão, para provar que não estamos apenas a lançar palavras para o ar, mas há outros detalhes que confirmam a aposta: “Por exemplo, só neste ano, o nosso orçamento para viagens e feiras é de 200 mil euros.”
A prioridade será sempre fazer bons vinhos, elegantes e frescos. Pedro Seixo acredita que, no Douro, “as alterações climáticas vão pôr ainda mais o Baixo Corgo [a região mais ocidental e menos seca] no mapa da região” e a busca por vinhas em altitude é sustentada por essa filosofia. Visitamos duas, uma delas contígua à Vinha da Gaivosa, da empresa Alves de Sousa; a outra na zona de Medrões. Na primeira, encostas vertiginosas precipitam-se na direcção do rio Corgo, que corre lá em baixo vigiado pela silhueta negra e imponente do Marão; na segunda, um anfiteatro de extrema beleza fechado ao longe pela Serra das Meadas conduz-nos o olhar pela vasta paisagem duriense, um prodígio da Natureza a que os homens deram um toque de ficção científica. A Santos e Seixo chegou a casa.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Enoturismo e vinhos de quinta
Após anos de busca na região, Pedro Seixo encontrou finalmente o que procurava no Casal Agrícola de Cevêr: uma casa com história, beleza natural e vinhas de elevado potencial. A quinta em si é muito bonita, com jardins em patamares, piscina, uma estrutura moderna para eventos e uma casa com cinco quartos onde já funcionou um agroturismo. A aposta no enoturismo é quase inevitável e as ideias não faltam. Contígua ao núcleo urbano da propriedade, que fica à beira da EN2 mesmo à saída de Santa Marta de Penaguião, existe uma vinha com cerca de um hectare e, ao todo, a quinta agrega 20 hectares de vinhas espalhadas num curto raio de escassos quilómetros. A pequena adega junto à casa, com dois lagares em granito, ficará reservada a experiências de vinificação e actividades turísticas, uma vez que a empresa continuará a contar com a parceria da Rozés no Douro, enquanto a adega agora recuperada junto às vinhas (outros 20ha) partilhadas com o enólogo Luciano Madureira, na localidade próxima de Medrões, funcionará para vinhos de nicho, promovendo uma atmosfera de “château”. A avó de Pedro Seixo era de Ervedosa do Douro e o director-geral da Santos e Seixo lembra-se bem de, em miúdo, andar na vinha e na adega onde se fazia Vinho do Porto. Este é um regresso ao passado com os olhos postos no futuro.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40678″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”EM PROVA” color=”custom” accent_color=”#888888″][vc_column_text]

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Edição Nº30, Outubro 2019

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Às compras nas avenidas novas de Lisboa

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Chama-se Néctar das Avenidas e, apesar da relativa juventude, é uma loja que tem mostrado saber singrar num mercado cada vez mais difícil. Até porque está afastada dos principais circuitos turísticos da cidade. As suas valências são […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Chama-se Néctar das Avenidas e, apesar da relativa juventude, é uma loja que tem mostrado saber singrar num mercado cada vez mais difícil. Até porque está afastada dos principais circuitos turísticos da cidade.
As suas valências são outras…

TEXTO António Falcão
FOTOS Ricardo Gomez

Néctar das Avenidas pode não ser um nome muito sugestivo e mais do que um poderia mesmo considerá-lo algo kitsch. Mas, na verdade, nomes são nomes e este vem do facto de se situar em plena zona lisboeta das Avenidas Novas. Seriam novas na altura, quando Lisboa se estava a espraiar para lá do Marquês de Pombal, provavelmente há muitas, muitas, décadas atrás.
Quando conheci a garrafeira, não há muitos anos, era uma pequena loja, com um espaço exíguo para o consumidor. Hoje a Néctar das Avenidas está a umas escassas centenas de metros dali, mas o espaço é bem maior e muito melhor iluminado. Quem nos recebe é Sara Quintela, a gestora, tarefa que compartilha com o pai, João Quintela.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]PAI E FILHA NAS PROVAS
O gosto pelo vinho começou exactamente com o pai, quando ambos, ainda Sara era jovem, iam com frequência a provas de vinhos em garrafeiras e a diversos tipos de eventos, incluindo jantares vínicos. “O bichinho foi entrando”, diz-nos Sara. Entretanto, tirou o curso de hotelaria e aproveitou para ampliar os conhecimentos sobre vinho. Já formada, acabou a trabalhar numa empresa de aluguer de automóveis, mas, verdade seja dita, não era propriamente o seu sonho.
Em 2011, o pai decide criar a sua própria loja de vinhos e não tardou muito a desafiar a filha para se juntar a ele. Isto ocorreu em 2013 e Sara ficou radiante com a mudança. “Se tenho um negócio meu, porquê estar a trabalhar para outros?”, pensou Sara. E decidiu entregar-se “de alma e coração”. O pai continua a lá estar diariamente, ou quase, e os dois revezam-se no atendimento aos clientes.
Sempre que possível, são os dois a escolher os vinhos que têm em exposição, mas nem sempre é possível. “Às vezes os lançamentos de novos vinhos surgem durante a hora de expediente e um de nós tem que cá estar”, declara Sara. Com dois filhos, os fins-de-semana estão também complicados para ela. Menos mal que muitos vinhos são provados na própria loja, trazidos pêlos próprios produtores e/ ou distribuidores.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40579″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Parece que pai e filha têm gostos muito idênticos e costumam estar de acordo nos vinhos, mas a concórdia nem sempre se estende aos vinhos tintos mais antigos,  especialmente se exibem muitos sabores terciários, como couros ou notas animais: “o meu pai gosta mais desses vinhos do que eu. Não sou muito fã de vinhos que relincham”, diz Sara com uma gargalhada. Mas, curiosamente, ambos são fervorosos adeptos dos bons brancos com idade.
Por isso não espanta que a Néctar das Avenidas tenha um bom stock de vinhos velhos: “apostamos muito em vinhos antigos, mas temos muito cuidado com o que compramos. Temos que saber onde é que os vinhos estiveram armazenados ao longo dos anos”, declara Sara. E por isso evitam os leilões.
Num dos seus cantos, a loja possui um espaço próprio, quase museu, que engloba um notável conjunto de vinhos velhos. Não estão, contudo, à venda, fazendo parte da garrafeira particular do pai de Sara: “algumas garrafas são primeiras edições, outras estão assinadas pelo produtor ou enólogo”.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]UMA CASA COM MUITAS ACTIVIDADES
Nem só do comércio de vinhos vive a Néctar das Avenidas. Existe muita actividade nesta loja e uma delas ocorre duas vezes por mês: jantares vínicos com produtores. Os restaurantes vão mudando, os produtores também.
O maior evento, contudo, já tem um invejável número de adeptos e ocorre num hotel quase vizinho à Néctar das Avenidas. Como os Quintela são grandes adeptos dos vinhos do centro de Portugal, especialmente Dão e Bairrada, pensaram em fazer um evento com produtores dessas regiões. Afinal, no primeiro ano, 2014, o evento foi apenas com o Dão e teve a co-organização da Comissão Vitivinícola Regional do Dão. Mas foi logo um sucesso. No segundo ano pai e filha decidiram fazer o evento ‘a solo’ e juntaram-lhe a Bairrada. Neste evento entram entre 30 a 40 produtores, desde os mais pequenos a casas de maior tamanho. “Queremos que as pessoas percebam que Dão e Bairrada também existem, não é só Douro e Alentejo”, diz-nos Sara. A gestora elogia o enorme potencial destas regiões e a longevidade dos seus vinhos. E desmistifica a ideia de ainda passa na cabeça de muitos enófilos, de que Dão e Bairrada fazem vinhos complicados, difíceis de beber, especialmente em novos. “O Dão já conseguiu ultrapassar um pouco esta ideia, mas a Bairrada ainda tem algum caminho para andar, especialmente nos tintos”, considera Sara. Que tem tentado converter alguns clientes, normalmente com sucesso, embora outros clientes se mostrem irredutíveis.
Curiosamente, ou não, as prateleiras têm muitos vinhos destas duas regiões. Alguns com 6, 7 ou mais anos de idade.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40580″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]MUITO ESPUMANTE, MAS POUCO CHAMPANHE
Mas Douro e Alentejo são as regiões que mais vendem. A seguir virá o Dão e, pasme-se, os espumantes. “Temos muita variedade e existem fantásticos espumantes nacionais a preços ópti¬mos; em contrapartida, quase não temos champanhes”, garante sara. Néctares estrangeiros, curiosamente, existem poucos: alguns vinhos, os gin’s do Tiago Cabaço, mas nenhum whisky, por exemplo. Destilados, quase só nacionais.
Outra força grande na casa são os produtos dos Açores, e não necessariamente os vinhos. Falamos de compotas, conservas, queijos, chás, bolos, etc. O Bolo Lêvedo vem todas as quintas-feiras. A ligação às ilhas vem das viagens que João fazia noutra vida profissional. Os produtos gourmet não acabam aqui: pode encontrar diversos enchidos de Ponte de Lima e queijos de várias proveniências. E não faltam também muitos acessórios, especialmente copos da Riedel.
Os licorosos não têm grande saída, incluindo o Vinho do Porto. Os clientes portugueses não compram muito e não são muitos os estrangeiros que passam por aqui, até porque a Néctar das Avenidas está um pouco afastada dos circuitos turísticos. Existe um bom conjunto de brasileiros, bons clientes, mas são fundamentalmente já moradores no bairro. Sara gosta muito deles: “sabem de vinho, têm gosto, mas discutem connosco e aceitam a nossa opinião”. Ainda nos licorosos, Sara tem especial¬mente pena do vinho da Madeira, de que é grande fã. E o pai também. “Para nós, é um néctar dos deuses”, graceja ela.
A garrafeira tem uma boa selecção de garrafas Magnum (1,5 litros), como nunca vimos em qualquer outra, com preços dos 13 até aos 240 euros. “Apostamos muito neste formato e vendemos bem”, garante Sara.
A loja tem também presença on-line. O site garrafeiranectardasavenidas.com está a cargo de Sara. Inclui uma loja on-line e funciona, mas pode não ter todo o portefólio, porque, na opinião de Sara, “não há tempo para tudo”.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][heading]AS ESCOLHAS DE SARA QUINTELA[/heading][image_with_animation image_url=”40554″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text css=”.vc_custom_1576515225678{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]

Porta dos Cavaleiros Dão Reserva
branco 1984 – €25
Eu, o meu pai e vários clientes partilhamos da mesma opinião: é um dos melhores brancos portugueses. É incrível a vivacidade que tem após  34 anos! Perfeito! E depois é das Caves S. João, uma casa que nos apoiou desde o início.

[/vc_column_text][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516167462{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]

Quinta das Bágeiras Bairrada Garrafeira
branco 2016
– €21
Situação parecida à anterior. O meu pai conhece o Mário Sérgio há muitos anos e gostamos muito dos vinhos dele. Este é ainda um bebé, mas tem excelente capacidade de evolução. Só tenho pena de não ter cá o 2004…

[/vc_column_text][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516177161{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]

Portal do Fidalgo Vinho Verde
Alvarinho branco 2011 €11
Muita gente não sabe a capacidade de evolução do Alvarinho. Mas como os produtores os lançam novos… O produtor disponibilizou-nos edições antigas e esta é uma delas. Está muito, muito bom.

[/vc_column_text][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516246040{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]

Soalheiro Vinho Verde Alvarinho
Reserva branco 2017€23,50
Gostamos de Alvarinho e, em particular, de Soalheiro. Damo-nos muito bem com a família Cerdeira e com o resto da equipa. Este Reserva está muitíssimo bom, mas será melhor guardá-lo, para beber mais tarde

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516342876{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]

Casa da Passarella O Fugitivo Dão
tinto 2014 €45
(Em garrafa magnum). Temos também uma
excelente ligação com esta casa, com o Paulo
Nunes. O meu pai tem inclusive um projecto de
vinho com ele.
Escolhemos o Fugitivo porque é
uma vinho que sai um pouco da ‘caixa’, mas com
uma incrível elegância. Perfil raro, mas o ser
diferente aqui compensa.

[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516336406{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]

Pintas Douro tinto 2013 – €180
(Em garrafa magnum). Para nós é um dos
melhores vinhos portugueses e gostamos muito
da Sandra e do Jorge, dois seres humanos
fantásticos. E são grandes profissionais e
apaixonados pelo que fazem.

[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text css=”.vc_custom_1576516347916{background-color: rgba(221,186,189,0.33) !important;*background-color: rgb(221,186,189) !important;}”]

HM Borges Madeira Malvazia
mais de 40 anos €260
Não podia faltar um Madeira! Esta é uma das casas
que ainda consegue manter uma boa relação
preço/qualidade.
Fizemos vários eventos com eles.
Este ‘40 anos’ celebra também os 500 anos do
Funchal e…. está mesmo a acabar. E depois não há
palavras para o descrever…

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][fancy_box box_style=”color_box_hover” icon_family=”none” color=”Accent-Color” box_alignment=”left” min_height=”50″]

CONTACTO
Rua Pinheiro Chagas, 50 C, 1050-179 Lisboa
TEL. 215 874 994 | www.garrafeiranectardasavenidas.com
SEGUNDA A SEXTA: 11h às 20h / SÁBADO: 11 às 13:30 (em Julho e Agosto encerram Sábado)

[/fancy_box][vc_column_text]

Edição Nº27, Julho 2019

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Ser Bio Lógico

Recentemente, em conversa com um viticólogo, este dizia-me, em tom alarmado, que as análises de solo de uma vinha biológica a que prestava consultoria técnica apontavam para uma quantidade de cobre 10 vezes superior ao máximo aconselhado. Literalmente, o solo estava, desde há muito, intoxicado com cobre. TEXTO João Afonso Para quem não está dentro […]

Recentemente, em conversa com um viticólogo, este dizia-me, em tom alarmado, que as análises de solo de uma vinha biológica a que prestava consultoria técnica apontavam para uma quantidade de cobre 10 vezes superior ao máximo aconselhado. Literalmente, o solo estava, desde há muito, intoxicado com cobre.

TEXTO João Afonso

Para quem não está dentro do assunto “tratamentos de vinha”, o cobre é um dos principais produtos usados em Modo de Produção Biológico (MPB) e, juntamente com o enxofre, forma a famosa calda bordalesa (bouille-bordelaise, descoberta por Alexis Millardet ainda no séc. XIX), a primeira mistela ou cura a ser descoberta para as doenças criptogâmicas do oídio e do míldio chegadas à Europa em meados do século XIX.

O cobre é um bactericida, algicida e fungicida com aptidão especial para combater o míldio, um fungo que tem algo de alga, já que necessita de água (e não humidade) para se desenvolver. Mas tal como o enxofre, não tem qualquer poder de penetração na planta, como o têm os químicos de síntese usados na actual viticultura convencional. Uma boa chuvada (mais de 10 l/m2) lava estes produtos arrastando-os para o solo ficando a planta desprotegida à espera de nova e urgente pulverização, em especial se o tempo húmido ou chuvoso se mantêm.

Em anos como o 2016 ou 2018, com primaveras extremamente chuvosas e húmidas, um viticultor Bio, consciencioso e previdente, poderá ter feito até 12 tratamentos preventivos, mas, se este viticultor conhecesse o impacto destes tratamentos na vida do solo da sua vinha, teria feito bastante menos. Mas, claro está, arriscava-se a perder parte ou a totalidade da produção ou teria de intercalar tratamentos preventivos com químicos sistémicos (que penetram na planta e são curativos) e perder assim a chancela de “Modo de Produção Biológico”.

Todos os tratamentos, biológicos, biodinâmicos ou convencionais são moléstia para as videiras. São intrusivos: para a defender, atacam-na também, além de acrescentarem compostos e componentes quase sempre indesejáveis ao mosto e vinho final. O ideal para o viticultor, e para os vinhos na generalidade, seria não haver qualquer necessidade de tratamento nas vinhas. Mas tal não é possível, pelo menos em anos de primavera húmida e chuvosa como 2016 ou 2018.

Com a crescente pressão ambiental criada pelo uso de químicos de síntese nos tratamentos fitossanitários da vinha e pela cada vez maior adesão do consumidor a produtos vindos de agricultura “Biológica” (*), tem havido uma lenta mas consistente transição da viticultura convencional, feita com base em químicos de síntese produzidos por multinacionais gigantescas como a Monsanto, Bayer ou Belchim, para uma viticultura dita Biológica com muito menos impacto ambiental com base nos tradicionais e, à partida inócuos, enxofre e cobre. Mas a verdade poderá ser um pouco diferente…

 

A ameaça cobre
Segundo o número de Abril 2019 da Revue des Vins de France, que transcrevemos aqui em parte, a França da vinha “Biológica” anda de candeias às avessas com a Comunidade Europeia que legislou a partir de 1 de Fevereiro de 2019 a permissão de utilização de um máximo de 4 Kg de cobre por hectare e por ano, com um total de 28 kg em 7 anos. Ou seja, pode usar mais cobre nuns anos do que noutros, mas em 7 anos não pode ultrapassar os 28 kg/hectare. A legislação anterior permitia os 6 kg hectare com um máximo de 30 kg em 5 anos.

Esta significativa redução (feita sem avisar ninguém), vem colocar algumas regiões limítrofes, como o Jura, fora da luta biológica contra fungos em anos como o de 2016 que exigem maior quantidade de cobre do que o agora permitido.

A guerra contra o tradicionalíssimo cobre assume proporções políticas e muitos “vignerons” chegam a acusar a EFSA (European Food Safety Authority) de estar mais pronta a proibir o cobre que o tristemente célebre e cancerígeno herbicida glifosato. Quando os viticultores Bio eram 3% dos vignerons franceses, o cobre nunca foi problema. Mas hoje que são 18% o cobre é um veneno a abater – sublinha Patrick Guiraud, presidente da Sudvinbio. E nos corredores de Bruxelas os lobbys da indústria fitossanitária não param de tentar mexer os cordelinhos para acabar com o cobre na vinha – esta é a acusação feita pela vanguarda Bio francesa. Todos teriam preferido uma redução para os 5 kg/ hectare, mas a legislação europeia foi mais castradora.

Longe vão os tempos, da primeira metade do século passado, em que os viticultores franceses chegavam aos 50 kg por hectare de cobre ao ano. Não fora o surgimento dos novos produtos de síntese e o uso e abuso do cobre poderia ter envenenado todos os solos vitícolas de França. No final dos anos 90 a União Europeia legislou e limitou o seu uso a 8 kg / hectare. Em 2006 baixou para os 6 kg e agora para os 4 kg.

 

Proteger ou envenenar?
Para termos uma ideia do que significam estes  números, segundo o Manual de Fertilização das Culturas do nosso INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária), um terreno com valores muito baixos de cobre tem menos de 0,3 mg de cobre por Kg de solo. Com valores baixos, de 0,4 a 0,9 mg, médios de 0,9 a 7 mg, altos de 7,1 a 15 mg e muito altos acima de 15 mg por Kg de solo.

Em França, o organismo publico Groupement d’Interet Scientifique (GIS) SOL, analisou, entre 1998 e 2010, dezenas de milhares de amostra de solos das diversas regiões francesas e concluiu que os solos com mais cobre são os vitícolas e os solos da Bretanha (neste caso por causa do estrume usado na fertilização).

Dos solos vitícolas, os campeões do cobre são Bordéus e o Languedoc-Roussillon, com taxas para lá dos 322 mg/Kg (cerca de 20 vezes acima do máximo aconselhável!). Mas análises mais recentes nos solos da última região, feitas pelo INRA (Institut Nacional de la Recherche Agronomique) de Montpellier, encontraram mais de 1 000 mg/Kg de solo. Muito assustador!

Do cobre que entra no solo, 5 a 10% é absorvido pelos organismos que nele habitam (bactérias, animais, cogumelos, plantas). É o chamado cobre bio disponível. Se a proporção de mg de cobre por quilo de solo é desproporcionada e excessiva, o cobre torna-se tóxico para a vida que ele sustenta.

A natureza do solo também é crucial para a toxicidade do cobre: solos calcários e argilosos têm menos cobre bio disponível pois este liga-se ao mineral, mas nos solos arenosos ou graníticos o cobre solubiliza-se e encontra-se mais bio disponível.

Segundo o INRA, verifica-se uma diminuição da vida microbiana a partir de 30 a 50 mg de cobre bio disponível por quilo de solo ácido e a partir de 50 a 100 mg sobre solos calcários ou argilosos. E é por esta razão que o Biológico pode ser, em anos climáticos extremos, pouco lógico.

Há vários métodos para diminuir a utilização de cobre (tisanas de cavalinha, urtiga e consolda em biodinâmica, ou uso de substâncias que estimulam as defesas da planta) mas nenhum o evita na totalidade. Há que saber gerir o cobre. Ser Bio lógico é ainda mais importante que ser Biológico.

(*) Segundo o último estudo Vinexpo/IWSR, o mercado dos vinhos convencionais terá crescimento próximo do zero a partir de 2022. Pelo contrário o aumento de vendas de vinhos biológicos terá um aumento de vendas de 2 dígitos. Um importador de vinho para EUA prevê que dentro de 20 anos o Bio será a norma (Abril – Revue des Vins de France, B.S.).

O Oídio

Na maior parte do território, o perigo do Míldio e Podridão estão mais ou menos afastados com o tempo seco e quente. Mas o Oídio espreita sempre uma oportunidade de comer parte ou a totalidade da vindima. TEXTO João Afonso De todas as maleitas da vinha, o Oídio é a mais persistente em todo o […]

Na maior parte do território, o perigo do Míldio e Podridão estão mais ou menos afastados com o tempo seco e quente. Mas o Oídio espreita sempre uma oportunidade de comer parte ou a totalidade da vindima.

TEXTO João Afonso

De todas as maleitas da vinha, o Oídio é a mais persistente em todo o ciclo vegetativo. É um fungo de inspiração golfista, ou seja, até ao último buraco (leia-se última semana antes da vindima) tudo pode acontecer.
O míldio e a podridão necessitam de condições atmosféricas de chuva e humidade mais ou menos extremadas para se manifestarem, mas para o oídio bastam por vezes subtis orvalhadas, ou humidade persistente do ar superior a 40%, para que nos últimos dias se perca uma boa parte da qualidade da vindima.
O nome do bicho é Uncinula necator. Entrou em Inglaterra em 1845 e até 1851 invadiu fulminantemente toda a Europa. O choque foi talvez mais brutal do que o da filoxera, com quebras de produções vitícola aterradoras. Até à década de 50 do século passado o enxofre era a única defesa contra o predador. Hoje temos uma simpática panóplia de produtos sistémicos (penetrantes e circulantes) e, claro está, o velho amigo enxofre nas versões molhável (pulverizações) e pó (polvilhações). Acima de todos os anti-oídio está o arejamento e insolação das uvas. Quanto mais expostos ao ar, ao vento e ao sol estiverem os cachos, melhor se defenderão do fungo.
Orvalhadas e nevoeiros matinais, locais baixos protegidos do vento, são a “sua praia”.
O povo dá-lhe o nome de “cinza”. E é basicamente o que é necessário para o reconhecer – a sugestão de cinza nas folhas e bagos de uva. Há que estar sempre bem atento, principalmente desde a prefloração até ao fecho dos cacho (final do crescimento do bago).

 

Os tratamentos tardios contra o oídio com enxofre, a partir do fecho do cacho, são de evitar, pois este enxofre pode dar origem a sulfídrico no vinho (hidrogénio sulfito), cheiro a esgoto, a ovos podres. Quando as uvas entram na adega com oídio, dependendo do nível de ataque, vão interferir no vinho final com desequilíbrios de prova e um cheiro característico a fungo (ortho cresol). Com uvas brancas deve-se clarificar o mais depressa possível, eventualmente usar um carvão e nas uvas tintas, fazer pouca maceração e retirar o vinho o mais depressa possível das massas.

*Enólogo

Edição Nº25, Maio 2019

 

Vinho, o segredo mais bem guardado da Suíça

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A banca e a relojoaria são tradicionalmente associadas à Suíça, chocolate e queijos são os seus ícones gastronómicos e as montanhas e lagos caracterizam a sua paisagem, enquanto os vinhos suíços são quase incógnitos para o resto […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A banca e a relojoaria são tradicionalmente associadas à Suíça, chocolate e queijos são os seus ícones gastronómicos e as montanhas e lagos caracterizam a sua paisagem, enquanto os vinhos suíços são quase incógnitos para o resto do mundo. Os suíços bebem-no quase todo…

TEXTO Valéria Zaferino

Poucos podem dizer que conhecem ou que já provaram algum vinho daquele país montanhoso. E razão é muito simples: a Suíça exporta apenas 1% de vinho que produz, tudo o resto é consumido no mercado interno. E não se trata de uma actividade recente. A vinha é cultivada na Suíça desde a época dos romanos. Antes da filoxera, que chegou a estas terras em 1871, a área de vinha era o dobro da plantada hoje (30.000 contra quase 15.000 hectares).

ENTRE LAGOS E MONTANHAS
As condições edafoclimáticas da Suíça são moldadas pelos lagos e montanhas. Os Alpes ocupam 61% do seu território, por isso em mui¬tos casos trata-se de viticultura de montanha, com diferentes altitudes e exposições. As vinhas sobem encostas, por vezes vertiginosas, com escadaria de socalcos, o que impossibilita mecanização, dificulta o tra¬balho na vinha e aumenta o custo de produção.
Se em Bordeaux por ano são necessárias cerca de 300 horas/hectare de trabalho, nas vinhas da Suíça este valor vai de 400 a 1500 horas/ hectare (como no nosso Douro, diga-se de passagem). Em contrapartida, os viticultores suíços recebem 4,5-5 francos por quilo de uva. Os vinhos também não são baratos, é difícil encontrar vinho por menos de 10 francos suíços. Em alguns cantões até o preço de Grand Cru é controlado. Por exemplo, segundo um produtor em Valais, o vinho classificado como Grand Cru não pode ser vendido por um preço inferior a 25 francos.
Os lagos também desempenham um papel importante, amenizando a continentalidade do clima e reflectindo o sol através dos grandes espelhos de água. O lago Léman, três lagos interligados (Neuchâtel, Bienne e Morat), de Zurique, de Constance e de Lugano são os maiores.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40497″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]MUITAS CASTAS
A área de vinha na Suíça é apenas cerca de 15 000 hectares (ao nível do nosso Trás-os-Montes ou Dão). A grande surpresa é o número de castas existentes. São 252, das quais 80 autóctones! Nestas últimas também estão incluídas as castas criadas por cruzamentos, como Gamaret e Garanoir (filhas de Gamay e Reichensteiner), Divona e Dívico (filhas de Gamaret e Bronner) entre muitas outras, e híbridos de Vitis Vinifera com outras espécies de videira. Desde os anos 70, o centro de soluções para agricultura na Suíça, Agroscope, é incansável na criação de castas novas com determinadas características e mais resistentes a doenças.
As castas estrangeiras, plantadas antes de 1900, obtiveram o estatuto de tradicionais, por terem grande histórico de plantação no país. É o caso de Pinot Noir, Gamay, Sylvaner, Savagnin entre outras.
O ícone da Suíça vitivinícola é Chasselas (aka Fendant na região de Valais e Gutedel na região de Zurique), a mais importante e mais plantada das castas autóctones, com área de 3.733 hectares, que representa 61% das castas brancas do país. É originária do norte do lago Léman, com referências desde o século XVII, está mais plantada na parte francesa da Suíça, em cantões de Vaud, Valais, Genebra e Três Lagos. Produz vinhos delicados, com certa subtileza, a expressar aro¬mas de flores brancas, pera e limão e apontamentos amanteigados e minerais. Na Suíça até existe um concurso mundial só de Chasselas, organizado desde 2012.
A Petite Arvine é outra das castas autóctones, embora com muito me¬nos expressão (197 ha), que é capaz de produzir vinhos brancos de grande qualidade com aromas citrinos e de ananás, notas salinas e óptima acidez. Dá origem a vinhos tranquilos, espumantes e colheitas tardias.
A Pinot Noir é plantada em todas as regiões da Suíça e já ultrapassou Chasselas em termos de área, ocupando 4070 hectares. É muito utilizada para fazer rosé clarinho, chamado Oeil de Perdrix (Olho de perdiz), onde pode ser adicionada uma décima parte de Pinot Gris; Em Neuchâtel produzem a sua versão branca – Perdrix Blanche.
Gamay é outra casta com uma área de plantação significativa (1277 ha), cuja popularidade anda a oscilar um pouco ao gosto do consumidor. Pinot Noir e Gamay constituem 85% (e Pinot Noir predomina) do vinho Dôle, simples, fresco e frutado, tradicional na região de Valais.

AS PRINCIPAIS REGIÕES
Valais é a maior e, aparentemente, mais antiga região vitivinícola da Suíça, responsável pela 33% da plantação de vinha no país. Rodeada de montanhas e com solos variados, segue o curso do rio Rhône/Ró¬dano. O clima é seco e solarengo, a contar com 2500 horas de sol e 650 mm de precipitação anuais (a lembrar o nosso Cima Corgo no Douro), é acentuado pelos secos e quentes ventos “Foehn”. Nestas condições, a rega torna-se importante. Felizmente, a água das glaciares não falta, e para colhê-la foram construídos os canais de irrigação chamados “bisses” e muitos deles continuam a ser usados.
A maior parte das vinhas ficam numa altitude de 460-760 metros. A inclinação em certos pontos chega a ser 90% (42˚) e o transporte da uva vindimada só pode ser feito por um sistema de mono¬carril. As castas mais utilizadas em Valais são Pinot Noir, Chasselas e Gamay.
Vaud é a segunda maior região com 26% da área de vinha e é a única na Suíça que produz mais vinho branco do que tinto. Os vinhedos abraçam a margem norte do lago Léman. As vinhas do AOC Lavaux esculpidas em estreitos terraços, são impressionantes e fazem parte do património mundial da humanidade da UNESCO desde 2007. É o reino da Chasselas que expressa bem os diferentes terroirs, provavelmente por isto, nos rótulos figura não o nome da casta, mas sim o nome do local da sua origem, como por exemplo os Grand Crus Calamin e Dézaley, cujos solos argiloso-calcários originam vinhos particularmente expressivos. Pinot Noir e Gamay também estão bem presentes na região, mas dado às novas tendências, as castas Gamaret, Garanoir e Merlot estão a ganhar terreno.
As vinhas na região de Genebra começam a poucos quilo¬metros do centro da cidade e ultrapassam a fronteira com França, sendo que 122 dos 1413 hectares situados no ter¬ritório francês pertencem aos produtores suíços e podem ser certificados como AOC Genebra. Gamay e Chasselas são as principais castas utilizadas, seguidas de Ponot Noir, Gamaret e Chardonnay.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40498″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]TICINO – PARAÍSO PARA ENOTURISTAS
É a região que não se parece com nenhuma outra na Suíça. É a única que fica do lado sul dos Alpes. Para lá chegar é preciso atravessar uma montanha num túnel de 57 km, o mais comprido do mundo. Ou quem não tem pressa, pode ir observando as vistas fabulosas pelas janelas enormes do comboio panorâmico (Gotthard Panorama Express ou Bernina Express).
Com fronteira com o norte de Itália, é um autêntico oasis mediterrânico da Suíça, que se tornou numa zona de fé¬rias por excelência para o resto do país. É uma combinação perfeita da cultura latina com organização suíça.
O clima é mais moderado do que no resto do país. É uma região com sol generoso (2.200 horas por ano), mas também com chuvas frequentes. A precipitação anual fica nos 1600 mm, a lembrar o nosso Minho. Mas as chuvas lá não são prolongadas, caem de repente em grande quantidade. O vento “foehn”, que também sopra nestes lados, ajuda a secar as vinhas depois das chuvas. O granizo é frequente, por isso proteger as vinhas com uma rede especial é quase imperativo.
O Monte Ceneri divide a região pelo sul (Sopraceneri) e norte (Sottoceneri). A parte sul é mais pequena em termos de dimensão, mas tem mais produtores, maior área plantada nas suas encostas pacatas e produz vinhos elegantes e com mais fruta. A parte norte, dado ao seu relevo montanhoso, embora tenha um território maior, tem menos vinha. Nos seus solos pedregosos nascem os vinhos mais austeros que precisam de tempo em garrafa.
Ao contrário de outras regiões da Suíça, onde reina Chasselas, em Ticino a estrela é Merlot, responsável por 80% dos vinhos. A seguir ao surto da filoxera que chegou a Ticino só em 1897, foram iniciados os estudos das castas que melhor se adaptassem e pudessem trazer sucesso à região, superando as videiras americanas (York Madeira e omnipresente Isabella) e castas rústicas autóctones, como a Bondola, por exemplo. Esta perdeu terreno até quase à sua extinção e está agora a atravessar um ligeiro renascimento.
De Merlot, em Ticino faz-se tudo, começando pelos sérios e aveludados tintos, inspirados por Bordeaux, com alguns vinhos a rivalizar com os melhores Merlot do mundo; leves rosés; espumantes e até bastante popular Bianco di Merlot, vinificado em branco. Este corresponde a cerca de 20% de Merlot produzido na região. É mesmo o caso para dizer que a casta foi bem adotada e bem adaptada.
Qualquer enófilo, ao visitar a região, será sempre bem vindo a Casa del Vino Ticino, onde pode obter toda a informação e provar mais de 200 referências, que representam 90% dos produtores da região. Mas não há nada mais enriquecedor do que visitar produtores diferentes em termos de dimensão e filosofia.
A Valsangiacomo Vini é a casa mais antiga em Ticino, fundada em 1831, primeiro como importadora e distribuidora de vinho e a partir do início do século 20 focou-se na produção própria. Já está nas mãos da sexta geração.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40504″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]Família Tamborini, um dos maiores (à medida da região) produtores, possui uma propriedade, Vallombrosa, onde foram plantadas as primeiras vinhas de Merlot em Ticino em 1908. Para além dos 25 hectares de vinha própria, compram muitas uvas a viticultores da região. Esta propriedade ainda dispõe de um conjunto de quartos no conceito Bed&Breackfast, decorados por artistas locais. Em 2012 Cláudio Tamborini foi considerado o enólogo do ano no concurso nacional “Grand Prix des Vins Suisses”. Dois anos antes este prémio foi entregue ao enólogo da Agriloro, fundada em 1981, onde em cada vinho reconhece bem o estilo do produtor.
A aliança de Gialdi e Brivio resultou no maior produtor da região, que produz anualmente cerca de 1 milhão de garrafas. Funciona como negociante: não possui vinhas, mas trabalha com cerca de 320 produtores no Sopraceneri e no Sottoceneri, controlando toda a parte da viticultura.
Cantine Monti é uma pequena empresa familiar com muita alma. Ivo Monti, depois de deixar uma carreira de oficial num cargueiro, encontrou a sua verdadeira vocação junto do seu pai que adquiriu a propriedade em 1976. Uma adega, pequena, mas extremamente funcional e bem pensada, fica numa altitude de 550 metros numa encosta inclinada obrigando a grande exercício físico de quem os visita e lá trabalha. Ainda bem que só têm 4 hectares. Os vinhos produzidos são cheios de personalidade.
A moderna e bem equipada adega da Fattoria Moncucchetto projectada pelo famoso arqui-teto Mario Botta fica a mais de 400 m de altitude e oferece uma vista magnífica sobre dois lagos. E ainda poussuem um espaço elegante para eventos com cozinha à responsabilidade do chef Andrea Muggiano.
A imponente adega de Zanini Vinotierri com uma sala de barricas a lembrar um anfiteatro e outra feita em espiral com 18 metros de profundidade. O seu topo de gama Castello Luigi Rosso de 2,5 ha com 80% Merlot e 20% de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, vinho aristocrata vendido a 139 euros, certamente é um dos melhores de Ticino.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”rgba(221,166,171,0.69)” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Sabia que “][vc_column_text]

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº28, Agosto 2019

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Orlando Lourenço: “Na Murganheira somos tão exigentes quanto as melhores casas de Champagne”

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Os espumantes portugueses devem-lhe bastante, para não dizer quase tudo. Foi muito por “culpa” de Orlando Lourenço e da Murganheira que as bolhas vínicas ganharam estatuto de coisa séria junto dos consumidores, criando-se o embrião de uma […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Os espumantes portugueses devem-lhe bastante, para não dizer quase tudo. Foi muito por “culpa” de Orlando Lourenço e da Murganheira que as bolhas vínicas ganharam estatuto de coisa séria junto dos consumidores, criando-se o embrião de uma cultura de espumante capaz de apreciar este vinho fora dos momentos festivos. Foi com o seu talento e mestria que os espumantes foram pela primeira vez colocados num patamar de qualidade e preço ao nível dos melhores brancos e tintos nacionais. Aos 69 anos mantém-se absolutamente fiel à escola champanhesa, continuando a inovar e a produzir excelência.

TEXTO Luís Lopes
FOTOS Anabela Trindade

Nascido em 1950 numa quinta em Lamego, Orlando Lourenço cresceu rodeado de vinhas e cedo acompanhou o bulício das vindimas. O seu pai já produzia vinhos base para espumante sob supervisão da Raposeira, a quem eram vendidos a granel, numa relação semelhante à que as casas de vinho do Por¬to tinham com os “seus” lavradores. Sua mãe, operária na Raposeira, onde tinha vários familiares, deixou a empresa em 1949 para casar. O mundo do vinho e dos espumantes esteve assim, desde sempre, bem embrenhado na vida de Orlando Lourenço. Mas não pode dizer-se que estivesse destinado a fazer deste mundo o seu mundo.
Em 1972, a cumprir o serviço militar em Angola, veio de férias à sua terra, aproveitou para trabalhar nas vindimas e conheceu o empresário têxtil Acácio da Fonseca Laranjo, dono da Murganheira que havia fundado em 1947. Uma conversa casual levou o jovem furriel Orlando a oferecer-se para colocar em contacto Acácio Laranjo com a manutenção militar em Angola. A Murganheira começou a vender para lá e, reconhecido, o empresário prometeu-lhe emprego e uma pequena quota quando regressasse a casa. Entretanto veio a revolução de Abril de 1974, as empresas de Acácio Laranjo entraram em colapso e Orlando Lourenço decidiu fazer-se à estrada, cursar o magistério primá¬rio e tornar-se professor, actividade que exerceu durante 16 anos e que lhe valeu o carinhoso tratamento de “professor Orlando” para o resto da vida. Entretanto, nas propriedades familiares, continuou a fazer vinho do Porto para vender às casas exportadoras de Gaia.
Mas o destino voltou a bater-lhe à porta em 1985. A família de Acácio Laranjo, entretanto falecido, propôs-lhe a aquisição da Murganheira, então uma pequena empresa que atravessava vários problemas. Dois anos de avaliação e de angariação de recursos financeiros culminaram com a efectivação da compra em 1987. Seguiram-se três anos de estu¬do com o professor Georges Hardy, na Estação Enológica de Champagne, que chegou a vir fazer duas vindimas consecutivas na Murganheira. Em 2002, surgiu a oportunidade de comprar a Raposeira à Pernod Ricard, que queria desfazer-se das unidades de produção em Portugal. O resto é uma história feita de muito trabalho, viagens, estudo, talento e dedicação. E o menino que se fez homem a ver fazer espumante, acabou por se tornar no incontestado grande mestre dos espumantes de Portugal. Vamos ouvi-lo na primeira pessoa.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40472″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]No processo de elaboração de um espumante, qual é no seu entender o aspecto mais determinante para a qualidade e perfil do produto final?
É a prensagem, claramente. Repare, das 6 ou 12 toneladas de uva que enchem as nossas prensas, fazemos cinco tipos de vinho. É essa a mais pura escola champanhesa, o fracionamento do mosto consoante a prensagem. A “premiere pièce”, resultante da lavagem das uvas, da retirada de poeiras e eventuais produtos fitossanitários, não é utilizada para espumante, são cerca de 400 ou 500 litros. Muitos pensam que o primeiro mosto que escorre da prensa é o chamado “tête de cuvée” mas isso é completamente errado. Esse primeiro mosto, analiticamente, é uma desgraça. Os “cuvées” só aparecem depois de descartar¬mos a “premiere pièce”. Temos primeiro o “tête de cuvée” e depois a segunda “cuvée”. Os “cuvées” representam um terço do mosto, o de melhor qualidade, utilizado para fazer os espumantes brutos. Depois, com o início da pressão na prensa, vem o “taille”, que é uma fração bastante grande do mosto (acima de um terço), com mais teor alcoólico, pH mais alto e menos acidez que os “cuvées”, e que é aproveitado para fazer os meio-secos. Finalmente, o “rebêche”, resultado da maior pressão da prensa. No final, juntamos a “premiere pièce” ao “rebêche” e vendemos esse vinho a granel, algumas centenas de milhares de litros por ano. Portanto, apenas uma parte do mosto de cada prensa é utilizado para os nossos espumantes e, no caso dos brutos, por vezes menos de um terço.

Isso faz toda a diferença na qualidade do vinho base…
Sem dúvida. Quando visito algum produtor que faz ou pretende fazer espumante, a primeira coisa que vou ver são as prensas. Só depois vejo a cave. Eu explico sempre isto: a prensagem é essencial, as mesmas uvas fazem cinco vinhos diferentes. A qualidade média do Champagne seria muito melhor se a região tivesse um mercado forte de “meio-seco” e “doce” e pudesse encaminhar para esses vinhos uma grande parte do mosto menos nobre. Como o mercado de “não bruto” representa para Champagne menos de 2%, o resultado é que esses vinhos base menos interessantes entram todos nos espumantes não datados. Os “cuvées” são utilizados sobretudo para os “millesimé”, os vinhos datados.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40474″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]Que características deve ter um bom vinho base para espumante? E o que é para si um grande espumante?
Uma boa base, depois da primeira fermentação, deve ter todo carácter da casta no aroma e uma boca um pouco neutra, de forma a revelar todo o seu potencial com a segunda fermentação. O vinho base deve ter aromas expressivos, mas finos, sem exuberâncias, e uma maior neutralidade de sabor.
Já um grande espumante define-se pelo corpo e pela elegância. No meio disso está a acidez. Procuramos chegar a um corpo cheio, que possa casar com a acidez e a elegância.

Essa procura de um vinho mais estruturado, encorpado, não poderá conduzir por vezes a teores alcoólicos elevados e menor acidez e frescura?
Se nós queremos espumantes com muito estágio, como é o perfil dos Murganheira, temos de ter uma sólida estrutura no vinho. Em Champagne o teor alcoólico “oficial” anda pelos 12,5% mas há uma margem autorizada de mais 0,8%. O que significa que os grandes Champagne tem sempre mais de 13% de álcool mesmo que não o indiquem. Nós andamos por aí, 13% ou 13,5%, mas em alguns anos atingimos 14%, porque a acidez era de tal forma elevada que necessitávamos de mais maturação. Aqui conseguimos boas maturações e vinhos encorpados com 9 g/l de acidez total e pH abaixo de 3. Champagne bem gostaria de ter estas condições naquele terroir…[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Quais são as suas castas preferidas para espumantizar?
Começando pelas tintas, gosto muito da Touriga Nacional, espumantizada em branco, acho que resulta de forma fantástica. Aprecio bastante, também, o Pinot Noir e a Touriga Franca. A Tinta Roriz é mais caprichosa, mas em alguns anos comporta-se muito bem. Já vi bons resultados de Alvarelhão e gostei igualmente de alguns Baga, não todos, mas entre eles há vinhos excelentes.
Nas castas brancas destaco o Chardonnay. O problema é que temos vários Chardonnay em Portugal, e dependendo do viveirista que fornece as plantas, obtêm-se resultados bem distintos. Na obtenção de um grande vinho base de Chardonnay o terroir é absolutamente fundamental, não resulta bem em todo o lado. Temos em estágio algumas experiências interessantíssimas com Sauvignon Blanc, vinhos cheios de frescura e elegância. Das variedades tradicionais da região evidencia-se a Malvasia Fina e o Gouveio. Já experimentámos o Rabi-gato, que é uma casta ácida, o que em si mesmo é bom, mas depois falta-lhe a estrutura…

Há quem diga que, em Portugal, por muito bons espumantes que façamos com as castas nacionais, o Chardonnay e o Pinot Noir são sempre imbatíveis. O que pensa disso?
Globalmente, estou de acordo. São castas difíceis de trabalhar no clima português, de uvas pequenas, que amadurecem com muita rapidez e exigem muita atenção para não as deixar passar do ponto ideal. Mas depois oferecem uma finesse, uma elegância, classe e qualidade extrema ao vinho.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][image_with_animation image_url=”40477″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Existe um estilo Raposeira e um estilo Murganheira? Como é que os define?
Sem dúvida que existem dois estilos distintos nestas casas. A Murganheira assume um estilo 100% champanhês, em todo o processo de produção, desde a viticultura à espumantização, passando pela elaboração do vinho base. A grande diferença entre a Murganheira e as boas casas de Champagne está, obviamente, no terroir, que origina perfis de vinho diferentes. De resto, somos tão exigentes quanto as melhores casas de Champagne.
Quando cheguei à Raposeira foi preciso fazer uma revolução qualitativa. Decidi implementar as mesmas técnicas usadas na Murganheira, nomeadamente o fracionamento do mosto e a exclusão do “rebêche”. Mas enquanto na Murganheira vinificamos 42 castas separadas na Raposeira isso não é possível, separamos apenas o Pinot, o Chardonnay, as Tourigas Nacional e Franca, o resto é vinificado em conjunto. Também no que respeita ao estágio, na Raposeira os espumantes passam menos tempo sobre as leveduras da segunda fermentação. Isso induz um estilo que poderia classificar como mais “português”, recuperando aquilo que era tradição na Raposeira que eu conheci nos anos 60 e 70. O objectivo da Raposeira é oferecer ao apreciador uma excelente relação qualidade-preço, é assumir a marca como o grande espumante natural de Portugal.

Quais são as regiões que identifica como tendo especial potencial para produzir espumantes de qualidade?
Estou na minha região, e acredito que Távora-Varosa, atendendo às castas, à altitude média da vinha, exposição solar, solo, é uma região de excelência para espumantes. Mas não tenho dúvidas que na Beira Interior, Douro e Trás-os-Montes, desde que as vinhas estejam acima dos 450 metros, se podem fazer muito bons espumantes. A Bairrada não está a essa altitude, mas tem castas perfeitamente adequadas ao clima mais atlântico que ali se sente, sendo por isso obviamente uma região predestinada para espumantes de qualidade.
No Alentejo é bem mais difícil. Fiz espumantes na Tapada do Chaves e ali era preciso vindimar no início de Agosto para conseguir álcool e acidez adequados. Mas as uvas precisam que o Verão passe por elas, e naquela região, colhidas com 11% ou 11,5% graus, não mostram o que é preciso para fazer um grande espumante. No equilíbrio entre álcool, corpo, fruta, acidez, há alguma coisa que falta, sobretudo ao nível do pH.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40479″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]Como avalia a cultura de espumante em Portugal? Acredita que a maioria dos consumidores de espumante sabem a diferença, por exemplo, entre o método clássico e a cuba fechada?
Grande parte não sabe, efectivamente. Mas também lhe digo que uma casa como a Murganheira tem muitos milhares de clientes fiéis, que sabem e valorizam o que fazemos. Há muito mais gente a saber de espumante do que possamos pensar. A construção de uma cultura de espumante em Portugal deve-se, quanto a mim, a dois factores. Um, sem falsas modéstias, acredito que esteja no trabalho que tem sido feito pela Murganheira. E o outro, no trabalho feito por si (e pelos seus colaboradores) enquanto jornalista e formador desde há três décadas.

Obrigado, pela parte que me cabe, mas não sei se será bem assim…
Não tenha dúvidas disso. Em 1989/1990 ninguém sabia o que era espumante, acredite. Só se bebia meio-seco e doce e apenas nas festas e aniversários. Poucos apreciavam um espumante como aperitivo ou acompanhando uma refeição, era um produto sazonal, vendia-se na Páscoa e no Natal. Não há qualquer comparação com o merca¬do e a cultura de espumante que temos hoje.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40486″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]Mas o crescimento do mercado de espumante também tem efeitos perversos. Como vê o facto de encontrarmos no mercado espumantes método clássico vendidos a 3 euros?
Vejo isso com grande apreensão, quer enquanto produtor quer enquanto presidente da Comissão Vitivinícola de Távora-Varosa. A nossa região não está a praticar esses preços. E não percebo como é que alguém pode praticá-los e ganhar dinheiro. Provavelmente, paga-se um preço miserável aos fornecedores de uva; provavelmente, são excedentes de vinhos brancos comuns que funcionam como vinho base; provavelmente, 70% do que é vendido como método clássico (entendido como segunda fermentação na garrafa, com leveduras livres) na verdade, não o é, são vinhos feitos com leveduras imobilizadas.
As leveduras imobilizadas são uma grande descoberta, facilitam muito os processos e permitem fazer espumante por todo o lado, mas por alguma razão estão proibidas em Champagne. O espumante que resulta deste método nada tem a ver com o espumante originado pelo contacto e estágio prolongado com as leveduras livres. E eu conheço bem os resultados das leveduras imobilizadas porque a empresa que as desenvolveu e comercializou pediu-nos, logo no início, colaboração para as testar e fizemo-lo ao longo de vários anos. Os resultados dos testes nunca nos convenceram, o espumante feito com leveduras imobilizadas ficava muito longe do nível de qualidade do verdadeiro método clássico, sobretudo para espumantes com estágio prolongado. E para fazer um espumante de meia dúzia de meses, então mais vale fazer em cuba fechada, é mais barato, mais eficiente e o resultado qualitativo é idêntico ao obtido com as leveduras imobilizadas. A cuba fechada, ao menos, não engana ninguém e até tem um nome bonito, Charmat…[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Acha que a distinção, na rotulagem/embalagem, entre método clássico com leveduras livres e espumante com leveduras imobilizadas deveria ser evidente?
Claro que sim! E posso desde já anunciar-lhe, em primeira mão, que esta casa vai promover, em conjunto com outras que queiram aderir, a criação de uma entidade privada que possa certificar o método clássico em toda a sua pureza. Não quer dizer que os espumantes baratos que por aí andam sejam maus produtos, nada disso. Mas são gato por lebre. Vamos fazer tudo para criar um nome e uma entidade certificadora que ofereça uma garantia de genuinidade, uma garantia de que o vinho é feito pelo método clássico verdadeiro.
Leveduras livres e remuagem constituem o método de Champagne, o genuíno método clássico. Se a legislação é omissa neste aspecto, se o Instituto da Vinha e do Vinho não se quer meter no assunto, então teremos que ser nós, os produtores, a defender, promover e certificar o método clássico em toda a sua pureza. E a garantir que o consumidor sabe o que está a comprar e a beber.

A fermentação com leveduras livres e o estágio prolongado estão interligados. A Murganheira tem-se salientado pelo estágio singularmente prolongado que faz aos seus espumantes. O tempo que o vinho leva sobre as leveduras que importância assume no resultado final?[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][image_with_animation image_url=”40481″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O estágio prolongado permite-nos fazer uma coisa fantástica: selecionar para os espumantes brutos o melhor vinho base possível. Os vinhos base para um espumante jovem são distintos daqueles que escolhemos para um espumante que vai ficar guardado em cave ao longo de muitos anos. Depois, o repouso sobre as leveduras livres afina o vinho de uma forma absolutamente única, a todos os níveis, bolha, aroma, sabor, equilíbrio. E o estágio prolongado faz, efectivamente, parte intrínseca do estilo Murganheira, da nossa identidade enquanto casa produtora.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]De entre os grandes espumantes que já fez ao longo da sua vida, qual foi aquele que mais o surpreendeu pela positiva, aquele que mais excedeu as suas expectativas?
O Murganheira L’Esprit de la Maison, que agora colocámos no mercado, em garrafa magnum, e que resulta de um lote de Pinot Noir, Pinot Meunier e Pinot Blanc. Este é o de 2011, mas fizemos também nas vindimas seguintes e o resultado é fantástico. E temos aí outras coisas muito interessantes, com três ou quatro anos de estágio, mas que só vão ver a luz do dia daqui a sete ou oito anos.
Mas gosto especialmente do nosso Assemblage, integralmente feito com castas portuguesas, brancas e tintas, vendido com 10 ou 12 anos de idade e que evidencia toda a nobreza do nosso terroir e do estilo Murganheira.

Como é que se sente ao introduzir uma determinada inovação numa vindima (em termos de castas, lotes, vinificação, etc.) e saber que os resultados desse esforço criativo só vão ser colocados à apreciação do mercado daí a 10 ou 12 anos?
Eu não sou precipitado. Como sabe eu cheguei de muito baixo ao espumante e tive algum sucesso muito novo. E nunca me envaideci com isso. Tenho sido muito pressionado por compradores no sentido de vender espumantes mais jovens. Está fora de questão. Se eu já não estiver cá para recolher os louros, estarão os meus filhos e a minha nora (a enóloga Marta Lourenço) e estarão apreciadores que irão beber esses espumantes e críticos e jornalistas que irão escrever sobre eles. Os meus netos ainda são muito pequeninos. Têm tempo de amanhã usufruir de tudo isso. Eu não fiz mais do que a minha obrigação.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Adega de Cantanhede: 65 anos de Bairrada

A Adega de Cantanhede facturou o ano passado 7,3 milhões de euros, mais 2 milhões que o anterior recorde. Neste momento, é o maior produtor da Bairrada e o que mais vende vinhos DOC. Nos últimos anos tem acumulado prémios para os seus vinhos, cujo número ultrapassa já o meio milhar. Um panorama risonho que […]

A Adega de Cantanhede facturou o ano passado 7,3 milhões de euros, mais 2 milhões que o anterior recorde. Neste momento, é o maior produtor da Bairrada e o que mais vende vinhos DOC. Nos últimos anos tem acumulado prémios para os seus vinhos, cujo número ultrapassa já o meio milhar. Um panorama risonho que nada faz suspeitar que, há menos de 10 anos, a empresa esteve à beira do precipício…

Em 2010 entrava Vitor Damião e uma nova direcção. Vitor não quis falar muito do que encontrou, mas sabemos apenas que chegou a avalizar pessoalmente empréstimos à cooperativa. A situação foi melhorando a pouco e pouco e em 2011 entra Osvaldo Amado, que acabou por fazer muito mais do que mera consultoria de enologia, desenhando toda a estratégia de produção, encaixada no resto das estratégias empresariais (comercial, financeira, etc). Foi ele o obreiro do que Vitor Damião chama de “coerência na qualidade dos vinhos”, que leva depois à fidelização do consumidor. Os vinhos de topo começam a aparecer: O Foral de Cantanhede, o Grande Reserva, o Reserva Baga. E vendem-se, apesar de alguns preços bem elevados. As uvas, que valiam 20 cêntimos o quilo, são agora pagas, no mínimo, a 35 cêntimos. E quando começa uma vindima, a adega tem as contas saldadas do ano anterior. Outro pormenor relevante: os gestores bancários, que fugiam da adega, começam a visitá-la… Muita coisa mudou, de facto, em menos de uma década.

Cantanhede tem 525 associados activos, que entregam uva. No total, contudo, são quase o triplo, porque muita gente quer manter o estatuto de associado para ter descontos na loja. No total, os associados possuem cerca de mil hectares de vinha, mas é quase tudo em minifúndio: o maior associado tem cerca de 12 hectares e é a Santa Casa da Misericórdia local.

Uma riqueza de vinha

Deixamos a gestão e vamos com a equipa até às Covas de Vale Maior, uma zona onde se avista um mar de parcelas de vinha. Estamos naquela que poderá ser considerada como uma das melhores zonas de Baga (e não só) da Bairrada. Vitor Damião fala do quadrilátero Ourentã, Cordinhã, Póvoa da Lomba e Pocariça, que terá “a maior mancha de vinha contínua da Bairrada; pelo menos de Baga”. Na verdade, são cerca de 1.300 hectares de solos argilo-calcários, onde a Baga se dá muito bem. Não é só o solo a brilhar: as condições climatéricas também aqui são diferentes, como nos diz Vitor Damião: “a proximidade ao mar [20 km] dá-nos frescura e maturações lentas, que a Baga gosta”. Uma boa parte destas vinhas são de associados da Adega de Cantanhede, e algumas têm mais de um século. Esta é uma riqueza que a direcção não ignora e por isso cativou, se assim se pode dizer, uma parte: “Temos cerca de 50 hectares de vinhas cadastradas onde fazemos uma espécie de gestão própria”, confessa Osvaldo Amado. Para o futuro virá daqui um vinho especial, mas o enólogo não quer levantar o véu…

É um dos membros da direcção, Albino Costa, que nos mostra as vinhas. “Estes terrenos são maravilhosos”, diz Albino, que admira o facto de aqui não se verem pedras à superfície, ao contrário de ali ao lado. Tem mais argila que calcário, diz Vitor Damião. Albino leva-nos a conhecer uma parcela com mais de 100 anos, com as cepas todas retorcidas pela idade. Revela que o solo argiloso conserva melhor a humidade e dá de beber à planta nos dias de grandes calores e seca. Os últimos anos têm sido benéficos, neste aspecto, para a Baga, sobretudo por causa da vindima sem chuva.

Ainda assim, logo a seguir ao pintor, a adega instalou mais de 80 postos de controlo de maturação, com duas pessoas em permanência. É com base nestes resultados que a equipa técnica determina a data de vindima e avisa o respectivo associado com alguns dias de antecedência. Com vindimas manuais, o grande inimigo é aqui a chuva, que ataca a Baga e a faz apodrecer rapidamente. Por isso há sempre folga nas marcações e nunca se sabe se é preciso acelerar. A adega recebe entre 5 e 7 mil toneladas de uva por ano, mas já chegou aos 9 mil, em outros tempos: “muita gente aproveitou os subsídios da CEE ao arranque de vinha”, diz-nos Vitor Damião.

Baga e Arinto são as estrelas da casa

A Baga representa cerca de 40% da uva que entra em Cantanhede. É usada para tintos, claro, mas também para espumantes e rosés. O espumante é uma das estrelas da casa, produzido em muita quantidade (cerca de 40% da produção total!) e a Baga cai aqui que ‘nem ginjas’: “a sua acidez natural é cada vez mais procurada”, diz Osvaldo. Cantanhede produz espumantes desde 5 até 27 euros a garrafa e já tem desistido de negócios porque o comprador queria pagar menos.

Durante a vindima, as uvas são analisadas à chegada e o preço pago passa por mais do que o quilo e o grau alcoólico potencial. Um aparelho chamado WineScan dá mais parâmetros e eles são contabilizados no preço final. Ou seja, uvas com pouca qualidade não levam benefício de preço. E depois, existem castas que podem ter majorações, como a Baga e o Arinto.

Osvaldo é talvez o maior fã de Arinto em Portugal: “não tenho dúvidas de que é a melhor casta branca portuguesa; é amiga do agricultor e do enólogo. Consigo Arintos de muito boa qualidade com 8, 10 ou mesmo 12 toneladas por hectare”. Das castas brancas, Cantanhede tem cerca de 30% em Arinto, mas Osvaldo ficaria feliz se tivesse o dobro. Outra casta branca típica da região é o Bical, e é defendida pelo presidente: de facto, Vitor Damião nunca esqueceu que vinhos com esta casta ganhavam primeiros prémios em concursos locais. Mas, verdade seja dita, Osvaldo só em 2018 achou que o Bical tinha qualidade para se estrear a solo. Este vinho tem 12 meses de estágio, mas o Arinto tem 18 meses! Osvaldo acha que só ganham com isso e, sejamos francos, estamos a falar de tiragens relativamente pequenas, se comparadas com os vinhos mais vendidos.

Uma adega sempre modernizada

Na adega faz-se muita experimentação e Osvaldo delega muita coisa em Ivo Almeida, o enólogo residente. Nenhum procedimento é executado (uma colagem, uma filtração, lotes…) sem antes ter sido testado e avaliado economicamente. Por isso, o bem equipado laboratório tem trabalho todos os dias, a todas as horas. Os lotes são feitos ao gosto do consumidor, mas cada vinho tem o seu padrão e estilo, previamente definido.
Ao longo dos anos a adega tem investido bastante em equipamentos para melhorar a qualidade. O sistema de frio é novo e, por exemplo, foi adquirida uma enorme prensa pneumática de vácuo, ideal para prensar as uvas para os espumantes de Baga. Não falta sequer um belo parque de barricas, muitas delas novas.

Nos próximos tempos Cantanhede vai comprar uma segunda linha de engarrafamento e fazer uma nova estação de tratamento de águas.
As caves onde repousa o espumante, adaptadas em grande parte de antigos depósitos, está muito bem arranjada, não só a nível de condições de temperatura como de estética. Existe um outro espaço de armazenamento, mas como é térreo, tem que ter ar condicionado. Em qualquer momento, Cantanhede tem, pelo menos, 200.000 garrafas em estágio.

Como as perspectivas apontam para o crescimento, Cantanhede quer também expandir a área da adega. A oportunidade surgiu logo ao lado, num terreno com vários enormes balões de cimento. Para o visitante fará tudo parte de Cantanhede, mas não é assim. Este espaço pertence ao Instituto da Vinha e do Vinho e está sem utilização. Mas fazia muito jeito à cooperativa para armazéns. A adega tem estado a negociar com o instituto público que gere esta venda, mas o preço pedido é, segundo Vitor Damião, “muito alto”.

De Cantanhede para o mundo

Se a área comercial e da distribuição foram ‘revitalizadas’ desde 2010, provavelmente a que levou maiores mudanças foi a de exportação. Em 2010 estava nuns magros 10%, hoje representa 35% da produção, mas é para aumentar. Brasil, Rússia e Canadá são os maiores mercados e, em média, os preços para exportação são mais caros que para o mercado nacional. Maria Miguel é a principal responsável por esta área.
A bem arranjada loja da casa dá também uma boa ajuda. Traz à memória as velhas mercearias finas ou mesmo farmácias, com os seus bonitos armários e estantes de madeira. Já cá está há muitos anos e de facto é uma mais-valia para a casa: Vitor Damião diz-nos que saem daqui cerca de 400.000 euros de vinho (e não só) por ano. Muito bom, considerando que os preços ao público não são mais baixos que os que se conseguem encontrar nas grandes cadeias de retalho. Mas o público adere: “temos uma grande preocupação em ter os vinhos com a melhor relação preço/qualidade”, diz Osvaldo.

Agora que tudo começa a entrar nos eixos, a direcção aponta também para os arranjos exteriores da adega. Alguma coisa foi feita, mas muito mais acontecerá nos próximos anos. Outra área onde Cantanhede tem apostado é nas certificações de qualidade. A mais recente, ainda a decorrer, é a certificação IFS Food, muito exigente e rigorosa, mas que ajuda a abrir portas em mercados internacionais. Obras, equipamentos, procedimentos, muita coisa teve que ser alterada, garantiu-nos Vitor Damião.

O que mudou em Cantanhede em menos de uma década é de facto impressionante. E uma lição do que é possível fazer com trabalho, dedicação e profissionalismo. Hoje, a cooperativa tem um invejável portefólio de vinhos e goza de uma notoriedade como nunca: “A imagem da adega é muito boa, tanto na região, como no país e mesmo a nível internacional”, assegura Vitor Damião.

Edição Nº28, Agosto 2019