vinho da casa #15 – Vinha de Santa Maria Reserva tinto 2018

vinho da casa #10 – Pedra Cancela Reserva branco 2018

Grupo Amorim apresenta Taboadella, um novo projecto no Dão

A propriedade já tinha sido adquirida pelo Grupo Amorim há dois anos, mas o momento de apresentação da Taboadella ao Mundo finalmente chegou, com adega, centro de enoturismo e vinhos com direcção enológica de Jorge Alves. São oito referências do Dão, de três gamas diferentes: por ordem hierárquica ascendente, os Taboadella Villae, branco e tinto […]

A propriedade já tinha sido adquirida pelo Grupo Amorim há dois anos, mas o momento de apresentação da Taboadella ao Mundo finalmente chegou, com adega, centro de enoturismo e vinhos com direcção enológica de Jorge Alves. São oito referências do Dão, de três gamas diferentes: por ordem hierárquica ascendente, os Taboadella Villae, branco e tinto (€9,90); os quatro Taboadella Reserva Encruzado, Alfrocheiro, Jaen e Touriga Nacional (€15,90); e os Taboadella Grande Villae, branco (€38) e tinto (€59). Nos 40 hectares de vinha, supervisionados pela directora de enologia Ana Mota, estão plantadas as principais castas tradicionais no Dão. Alguma desta área foi, inclusive, restruturada no sentido de substituir castas estrangeiras à região por outras autóctones.

A adega de 2500 m2, perfeitamente enquadrada no ambiente, foi projetada por Carlos Castanheira, uma referência na arquitetura nacional, oferecendo uma capacidade de vinificação de 290 mil litros por vindima.

Luísa Amorim, administradora, explica sobre este projecto situado em Silvã de Cima, concelho de Sátão, num conclave que lembra um oásis de vinha rodeado de floresta: “O investimento na Taboadella é pensado e muito desejado. Há 20 anos que estamos no Douro com a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, mas nunca escondemos que tínhamos pelo Dão uma grande admiração. É uma região clássica de vinhos em Portugal e a primeira a ser demarcada para vinhos não licorosos, e foi aqui nesta região vizinha do Douro que encontrámos este território de altitude detentor de solos de granito e microterroirs de excelência. A Taboadella tem uma mancha de vinha única que permite produzir grandes vinhos, com uma tipicidade notável conseguindo manter este caráter ancestral do Dão que é o que realmente queremos”.

Já aberto diariamente está o enoturismo e a loja da Taboadella, com visitas, provas de vinho e obras de arte regionais.

Uma reportagem completa sobre a Taboadella, com a prova dos oito vinhos, sairá numa das próximas edições da revista Grandes Escolhas.

“Bomcar Mini à descoberta do Dão – Powered by Paço dos Cunhas” é o evento perfeito para amantes de vinho e de automóveis. Já no dia 5 de Julho, numa parceria entre a 19|90 Premium Wines e a Bomcar mini, será possível participar num passeio de Mini pelas vilas de Santar e Moreira, no Dão, contemplando as vinhas e o centro histórico de uma das mais antigas vilas do país. 

O modelo escolhido para a actividade é o Mini Countryman, cedido pela Bomcar, numa aventura que também proporcionará provas de vinho e um almoço no Pátio do Paço dos Cunhas de Santar. As inscrições estão limitadas a 15 Mini, o que equivale a 30 pessoas, e têm um custo de 50€/pax.

A parceria estabelecida prevê ainda, para o futuro e em eventos realizados pela marca automóvel, o fornecimento de serviços de catering pelos restaurantes do grupo – Cabriz, Paço dos Cunhas de Santar e Quinta do Encontro.

Mais informações pelo telefone 232 945 452 e pelo e-mail enoturismo@pacodoscunhas.pt.

Ladeira da Santa: One man (anti) show

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[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Um projecto que começou como escape de fim-de-semana do pai, é agora negócio também do filho. Da ladeira mais solarenga do Dão surgem vinhos cada vez melhores, e a culpa é de um mountain biker incurável.

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Mário Cerdeira

De Coimbra a Tábua, no extremo Sul do Dão, são 60 minutos pelo tenebroso IP3, e é esse o percurso de ida e volta que João Cunha faz praticamente todos os dias. Tem 32 anos e, sendo avesso a toda e qualquer exposição – apesar da cortesia e simpatia que nunca falham – para ele a Ladeira da Santa é, sem sombra de dúvida, o refúgio perfeito. É um “loner”, como se diz em inglês, e mantém o seu grupo de amigos em regime de “poucos e bons”, ao qual se juntou recentemente a cadela Zoumi, uma Border Collie de quatro meses que já é a menina dos seus olhos. João tirou Enologia no Porto e Engenharia Alimentar em Coimbra e, em 2008, fez o seu primeiro vinho na “Ladeira”, como habitualmente chama à propriedade familiar. Quanto à parte “da Santa”, não se sabe bem a razão, apenas que já tinha esse nome quando adquirida pelo seu pai, Arlindo Cunha, nascido em Tábua. Economista e professor da Universidade Católica do Porto, Arlindo Cunha foi Secretário de Estado da Agricultura, Ministro da mesma área e vice-presidente da Comissão Parlamentar da Agricultura, razões mais do que suficientes para que, em 1996, se virasse para a Ladeira da Santa, para “espairecer e largar o stress”: adquiriu o terreno, praticamente todo pinhal, que incluía um hectare do seu sogro e, até 2006 – com ajuda de uma pessoa que tomava conta do sítio, e de um enólogo consultor que lá fez os vinhos até o filho assumir as rédeas – dedicou-se a comprar mais área e a plantar vinha, fazendo vinho “na desportiva” desde 2000. “O bom beirão gosta sempre de ter uma adega”, brincou. Foi então, em 2006, que a família fundou a empresa Ladeira da Santa. Em 2009, João Cunha já lá fazia todos os vinhos da casa, plantando ele próprio cinco hectares de vinha em 2017, através do programa Jovem Agricultor.

Hoje já são dez hectares de videiras, cinco de uvas brancas e cinco de tintas, que se estendem pela encosta abaixo, rodeando a casa e a adega, e por outro terreno, praticamente do outro lado da estrada, que desce no sentido oposto, permitindo a João tomar partido de várias exposições solares. Agora é ele que, a título pessoal, é proprietário e arrendatário de todos os vinhedos, vendendo as uvas à Ladeira da Santa. Os solos, complexos e de transição de granito para xisto, apresentam umas aflorações rochosas aleatoriamente distribuídas pelas vinhas que estão viradas a Sul, rodeadas de altos pinheiros e que encaram as serras do Açor e de Arganil, graciosamente pintadas no horizonte, sempre em plano de fundo. E esses blocos de pedra, a par do declive considerável da ladeira, são elementos fundamentais para João Cunha pôr em prática uma das suas maiores paixões, o BTT, ou “mountain biking”. No local, é fácil de ver os percursos idealizados pelo produtor e os obstáculos naturais do terreno, e de perceber que ali, entre as uvas e a bicicleta, João tem tudo o que precisa. Aliás, quando não está a fazer vinho, está a descer alguma coisa, em cima de alguma coisa, com ou sem rodas. Após uma chamada não atendida, já depois da visita à propriedade, a justificação foi “estava a acabar uma pista”, e isso diz tudo.

Arlindo Cunha e João Cunha.

Terroir Ladeira

Esta personalidade livre de João Cunha faz dele várias coisas, e uma delas é a de um enólogo e produtor sem concessões, multifacetado, que trata de quase tudo, desde a vinha à rotulagem, passando pelo principal, os vinhos. Na maior parte do tempo, um autêntico “one man show”. Na verdade, e como contou, “isto subsiste muito à base da amizade. São os nossos amigos que vêm ajudar na poda, por exemplo. Na vindima, contratamos cerca de dez pessoas e vêm uns quarenta amigos vindimar também”. As referências são actualmente cinco, dois brancos e três tintos, com uma produção anual de cerca de 26 mil garrafas. “O nosso objectivo é sermos um produtor familiar e tradicional do Dão, de dimensão média”, explicou Arlindo Cunha. E João complementou: “Não nos preocupamos muito em aumentar os números, queremos fazer um crescimento sustentável”.

O Colheita Seleccionada branco 2018 é um lote de Malvasia Fina (40%), Arinto (30%), Gouveio, Encruzado e Bical, um branco sem madeira, super agradável, aromático e equilibrado, fresco e muito bem feito. Por sua vez, o Encruzado Reserva branco 2018, de perfil cremoso e vegetal, fermentou em inox e parte dele estagiou em barricas usadas e novas (10%) de carvalho francês durante seis meses. Nos tintos, o Colheita Seleccionada 2018 faz maceração longa em lagar durante dez dias e tem Tinta Roriz, Touriga Nacional e Alfrocheiro. O estágio é feito por três meses em barrica e dois meses em garrafa, originando um vinho todo ele silvestre e polido, com grande aptidão para a mesa do dia a dia. Quanto ao Touriga Nacional 2015, este também faz maceração em lagar, durante sete dias, e estagia quase 24 meses em barricas com seis anos e um ano e meio em garrafa. Um vinho igual a si mesmo, bem floral e fino. Por fim, o Grande Reserva 2017 fica em lagar oito dias e estagia um ano em barricas usadas (de um a quatro anos de idade) e seis meses em garrafa, resultando num tinto de fruta profunda, com intensidade e muita elegância.

Todos estes vinhos cheiram e sabem a Dão, com o terroir daquele sítio em Tábua muito evidente, onde a assinatura do enólogo está bem presente, mas não se sobrepõe. Já para não falar da excelente relação qualidade-preço. Os brancos bem frescos, florais e minerais, com a típica Encruzado a conferir estrutura e – quando conjugada com madeira – cremosidade, e os tintos com o pinhal que rodeia a Ladeira da Santa a expressar-se, elegantes e com um lado terroso ténue. E João Cunha entra aqui a tratar das uvas como suas amigas, em tudo o que isso implica – com todo o carinho e atenção, mas sem bajulações – e a utilizar as barricas de uma forma muito precisa, a dar aos vinhos não só o que eles precisam delas, mas também um certo “je ne sais quoi” que só ele sabe entregar, fazendo da Ladeira da Santa um projecto cheio de carácter.

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Edição nº 35, Março de 2020

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Caves Messias: Grandes vinhos, grande família

A Caves Messias é um dos grandes produtores de vinho do nosso país. Com vinhas na Bairrada, onde tem a sede, no Dão e no Douro, a empresa consegue chegar a quase todos os tipos de vinhos e possui um portefólio impressionante. Na sua base continua a estar uma família que cada vez mais alia […]

A Caves Messias é um dos grandes produtores de vinho do nosso país. Com vinhas na Bairrada, onde tem a sede, no Dão e no Douro, a empresa consegue chegar a quase todos os tipos de vinhos e possui um portefólio impressionante. Na sua base continua a estar uma família que cada vez mais alia a discrição à vontade de bem fazer.

TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA Vários provadores da GE
FOTOS Anabela Trindade

Os representantes da família na administração: Gonçalo Lousada, José Vigário, Margarida Valente, Messias Vigário e Henrique Guedes de Campos.

A Grandes Escolhas percorreu os caminhos da Caves Messias, conduzidos por Gonçalo Lousada, responsável da produção, e Margarida Valente, prima de Gonçalo e responsável de marketing, enoturismo e recursos humanos. Ambos são administradores, tal como mais outros três elementos, cada um deles representando uma das cinco famílias que herdaram o património que começou a ter nome em 1926. Gonçalo e Margarida representam a quarta geração à frente dos destinos da casa, que começou com Messias Baptista, o fundador da empresa (na altura ainda em nome individual). Não se sabe a história completa de Messias, mas Margarida disse-nos que o bisavô começou de baixo. Terá começado a sua fortuna a exportar vinho para vários mercados da Europa. Outra versão fala ainda da venda de aguardente aos produtores de Vinho do Porto, trazida de grandes explorações do Ribatejo. Estas e outras actividades económicas deram-lhe capacidade para começar a adquirir terras e vinhas na sua Bairrada natal. Em 1938 a 1943 constrói a actual sede da casa, na Mealhada, uma estrutura já de grande dimensão, fundamentalmente constituída por caves e armazéns. Poucos anos depois, Messias Baptista oferece um cineteatro ao município da Mealhada. Mais tarde recebe o grau de Comendador.
Ao longo dos anos foi acumulando uma fortuna considerável. Parte da fortuna foi para a compra de terras e casas. Começou na Bairrada, onde se destacou a Quinta de Valdoeiro, na Mealhada, nos anos 40 do século passado. A segunda aquisição foi no Douro, a Quinta do Cachão, em 1956. Dois anos depois, Messias Baptista iria adquirir uma quinta adjacente, a Quinta do Rei, que pertencia a Gonzalez Byass, famoso produtor de Jerez. As duas quintas fundiram-se e possuem cerca de 200 hectares, dos quais 90 estão actualmente ocupados por vinha. E foi exactamente por aqui que começámos a nossa visita.

Rumo a Ferradosa, São João da Pesqueira

A Quinta do Cachão fica no Cima Corgo, mas está praticamente encostada ao Douro Superior. “A próxima freguesia já aí pertence”, diz-nos Gonçalo. E a paisagem não mente, com as fragas e rochas a mostrarem aquele lado mais selvagem tão típico da sub-região mais a Leste. A casa de apoio aos visitantes, sejam ele família ou técnicos, fica mesmo ao lado da adega e tem todos os confortos necessários neste pedaço de mundo afastado de quase tudo. Estamos no fundo de um vale e ao lado está o final de um dos braços da barragem da Valeira, uma das cinco que represam o Douro na sua corrida para o mar (em território português). O efeito estético é muito interessante.
A adega, de aspecto industrial fica logo ao lado e, apesar de estar em colina, na altura da construção, há umas décadas, optou-se por colocar a recepção da uva na base e depois bombar as massas para os respectivos depósitos. Nos dias de hoje seria exactamente ao contrário, para evitar bombas e usar o benefício da gravidade, maximizando a qualidade. Gonçalo pretende reformular em breve a recepção da adega para a parte de cima, nem que seja apenas para as uvas que vêm em caixas, destinadas para os vinhos especiais. Este ano o desafio é ainda comprar alguns lagares e depósitos de pequena capacidade, para tintos e Vintage ainda mais ambiciosos, à semelhança do que fazem na Mealhada.
No exterior está um generoso conjunto de grandes depósitos (de 50 a 150 mil litros) onde estão os vinhos vinificados. Os vinhos por aqui ficam, muitas vezes um ano ou dois, antes de transitar para madeira ou garrafa.


A adega recebe, das vinhas da casa, apenas 180 toneladas de uva tinta e 10 toneladas de branca. Pouca quantidade para a área de vinha, mas existe uma explicação: “preferimos qualidade em detrimento da quantidade”, afiança Gonçalo. No total a adega recebe muito mais uva do que esta, através de contractos com muitos viticultores da região. No total, entram aqui em média, e por ano, 1,6 milhões de quilos. Como a adega foi projectada para o dobro, conseguem-se “fazer as coisas com calma”, garante o director de produção. Cerca de 70% vai para Vinho do Porto, o resto para vinho Douro. Tudo é engarrafado em Gaia.
Por baixo da adega, uma nova construção, com apenas alguns anos: a casa das barricas, que alberga os melhores vinhos tintos da casa. Todos os anos se compram barricas novas, mas predomina a madeira de carvalho francês. João Soares, o enólogo que vem da Mealhada, é o experimentador nato e por isso reina a diversidade de marcas. Por outro lado, a equipa de enologia descobriu que misturar barricas novas e velhas dá melhores resultados.

Um enorme património de tawnies

A enóloga Ana Urbano gere os stocks de um vasto património de Vinho do Porto. Só na Quinta do Cachão estão cerca de 500 mil litros, com datas a começar em 1982. O armazém principal fica a cerca de 2 quilómetros da adega e é constituído por um enorme edifício mesmo junto ao rio. A abertura da porta, no piso inferior, revela-nos um gigantesco pé direito, exibindo um telhado lá em cima, a mais de 10 metros de altura do chão. As retorcidas traves de madeira, de enorme tamanho e espessura, revelam que esta antiga adega está aqui há muitas, muitas décadas. As grossas paredes de pedra e as raquíticas janelas só realçam ainda mais a cinefilia do espaço, que nos leva a mente para séries de grandiosos cenários, como a Guerra dos Tronos ou o Senhor dos Anéis. Encostados à parede, diversos tonéis e balseiros de vários tamanhos e capacidades, até às dezenas de milhar de litros, por exemplo). Cada tonel tem vinhos de um ano só e aqui não há lotes. Este espaço consegue manter-se fresco todo o ano, mesmo quando estão 40 graus lá fora, garante Margarida.
A idade do edifício? Não se sabe ao certo e, pasme-se, não havia registo dele na câmara municipal. Um indício é a data inscrita num dos tonéis: 1853.
Este seria um local óptimo para fazer eventos vínicos e Margarida Valente sabe-o. O grande óbice, está bom de ver, é o afastamento dos grandes centros. A Régua está muito longe e mesmo o Pinhão dista quase uma hora de carro. A viagem por rio, contudo, é bem mais descansada, mas exige a passagem por barragens e respectivas eclusas: as mais próximas são Bagaúste, entre a Régua e o Pinhão, e Valeira, mais acima no rio. Menos mal que aqui não faltam cais de atracagem, incluindo o da Ferradosa. Este será um projecto para o futuro próximo, certamente, até porque uma casa anexa está já projectada para ser convertida em enoturismo. A exploração poderá vir a ser realizada com um parceiro especializado.
Ana Urbano traz-nos, entretanto, para o presente. “Envelhecemos aqui os vinhos, a maioria para fazer tawnies. Quando os vinhos chegam à qualidade que pretendemos, são enviados para Gaia e substituídos por vinho novo”. Ana prefere estagiar os vinhos em Gaia, que é uma zona mais fresca e húmida e os vinhos levam mais tempo a envelhecer.

Chega, entretanto, Albertino, o homem que toma conta dos vinhos. Quem pense que é só encher os tonéis e esquecer, engana-se. Um Vinho do Porto em estágio dá muito trabalho e as operações não admitem erros. Albertino passa por aqui todos os dias e, de vez em quando tem de arejar um vinho, instruído pela enóloga; ou seja, tira-se o vinho pela torneira de baixo, para um recipiente, e volta para o tonel por cima, através de mangueira. “Quando estão muito tempo fechados, os vinhos do Porto podem ficar com poucos aromas; o arejamento reanima-os”, esclarece Ana. Outra tarefa frequente é, por exemplo, arranjar um tonel que começou a verter e lá se tem que chamar um tanoeiro, coisa nada fácil nos dias que correm.
Fazer os lotes, já em Gaia, é das tarefas favoritas de Ana. Até porque os vinhos podem ser caprichosos. Diz ela que “nunca recuso um lote só porque à primeira parece não funcionar. No dia seguinte pode estar muito diferente e…. muito melhor. Os vinhos têm que casar…”. A técnica de laboratório da casa, Ana Maria, ajuda nesta tarefa.

Vinha no Cachão

Depois de adquirida, a quinta foi alvo de uma grande reestruturação. As castas típicas do Douro, claro, mas já separadas por talhões. Esta quinta terá sido mesmo a pioneira no Douro neste sistema de gestão da vinha. De esses tempos até hoje, a vinha foi sofrendo reestruturações, a cargo das gerações seguintes. Ana consegue assim fermentar casta a casta e depois fazer blends. É quase tudo tinto, excepto um bocadinho de Malvasia e Rabigato. Esta região é muito quente para brancos, afirma Ana. A maior vinha ocupa uma boa parte do monte de Santa Bárbara, encimado por uma capela, a mais de 300 metros de altura. A enorme vinha estende-se até ao rio, quase 200 metros mais abaixo. A plantação mais recente foi um pouco de Sousão, há dois anos, para se conseguir “um pouco mais de acidez”, diz Ana. No total estamos a falar de cerca de 90 hectares, uma vinha de tamanho considerável no Douro e um património invejável. O maior desafio aqui é, cada vez mais, a falta de mão-de-obra, especialmente na vindima. Este problema, diga-se de passagem, é neste momento transversal a todo o Douro.

Rumo à Mealhada

Saímos do Douro em direcção ao sul, para a Mealhada. Pelo meio, mais ou menos, fica a Quinta do Penedo, a operação Dão da Messias. Junto à Aldeia de Carvalho, Mangualde, esta quinta foi adquirida pela Messias em 1999 e pouco tempo depois estava em reestruturação, com as castas mais típicas do Dão. No portefólio da casa, o Dão ocupa pouco espaço, até porque a área de vinha é aqui a mais reduzida de todas as regiões: tem apenas 20 hectares de vinha, que dá origem a três tintos e um branco.

Os enólogos João Soares e Ana Urbano, e o técnico de viticultura Manuel António.

Chegamos finalmente à Bairrada, onde o destino é de imediato a enorme Quinta do Valdoeiro, uma das maiores áreas contíguas de vinha da região, com 70 hectares de videiras. Esta quinta tem a particularidade de ser atravessada pela linha de comboio da Beira Alta, que separa a vinha em duas partes. Um enorme edifício vê-se ao longe, mas não é a adega. Eram construções de uma antiga exploração de gado.
Para o visitante, esta vinha é de facto de uma beleza surpreendente, também pela sua extensão e morfologia, instalada num vale de colinas suaves, entrecortado aqui e ali por pinhal. Que contraste face ao tom rústico e selvagem do Douro! Em vez de xisto, o solo aqui é predominante argilo-calcário. O clima é também muito diferente, marcado substancialmente pela proximidade ao Atlântico, a uns meros 35 quilómetros: “é mais temperado que no Douro”, atira-nos Messias Vigário, administrador e responsável comercial da casa. Ou seja, menores amplitudes térmicas e muito mais humidade, dois factores que fazem muita diferença no vinho (sobretudo na acidez), mas, no caso da humidade, costuma colocar aqui grande pressão de doenças fúngicas, muito mais do que no Douro. Mas longe vão os tempos em que se faziam de 12 a 14 tratamentos; nesta altura fazem menos de metade, uma maravilha em termos económicos e ambientais.
Conseguir maturações completas é o outro grande desafio. A casta tinta rainha da Bairrada, a Baga, é das menos exigentes, porque se conseguem excelentes vinhos com graus alcoólicos abaixo dos 13,5 graus. Outras castas tintas precisam de maior grau, mas, verdade seja dita, os últimos anos têm ajudado, com épocas de vindima secas. Outro ponto a favor é a recente máquina de vindimar, que consegue fazer 5 a 6 hectares por dia. “Foi um alívio, porque em alguns anos isto era um sufoco com falta de mão-de-obra”, garante José Vigário, o administrador da casa com o pelouro financeiro. Manuel António acrescenta: “antes tínhamos 60 pessoas a vindimar e levávamos mais de 20 dias a apanhar… hoje fazemos tudo em metade do tempo”. A máquina tem outra enorme vantagem: colher as uvas mais próximas do ponto óptimo de maturação, uma etapa crucial para a qualidade dos vinhos. Sem ter medo da chuva, o eterno problema nesta região (e em outras). Manuel António e Gonçalo Lousada adoravam levar a máquina para o Douro, mas tal não é possível, claro, pela inclinação do terreno.

Quinta do Valdoeiro.

É neste contexto que trabalham João Soares e o técnico de viticultura Manuel António, que estão juntos na Messias há mais de 18 anos, um caso raro de longevidade nesta fileira. E conseguem produzir todos os anos um belo portfolio de vinhos, desde espumantes até tintos, com uma notável consistência de qualidade. Mesmo no Valdoeiro colheita, cuja produção chega às 60 ou 70 mil garrafas. Este que é, diz João Soares, o “grande desafio enológico: fazer 3 ou 4 mil garrafas de um vinho especial não é muito difícil aqui no Valdoeiro”.
As uvas vão para a sede da casa, na Mealhada, onde as instalações possuem tudo o que é necessário para produzir bons vinhos e espumantes. Produzir e, acrescentamos, armazenar, especialmente no caso dos espumantes, que precisam de muito tempo em garrafa antes de irem para o mercado. Não espanta assim que a Messias tenha em stock mais de um milhão de garrafas de espumante, um negócio “importantíssimo e em crescimento” para a família, nas palavras de Messias Vigário. Sem contar com o Vinho do Porto, o sector ‘espumantes’ representa 30% da facturação e tem tido muito sucesso também na exportação. Messias Vigário diz que, pela Europa fora, os enófilos começam a conhecer e gostar do espumante português.
Alguns deles aparecem na Mealhada, onde hoje têm melhores condições para serem recebidos. A casa fez obras recentes na recepção e possui uma elegante loja com espaço, num piso superior, para fazer algumas provas.

Vasto portefólio

Uma parte do que é vinificado na Messias não vai para produtos da casa. Em particular no Vinho do Porto, onde o negócio vai para a venda de vinho a grandes casas. Uma parte do vinho feito com uvas do Douro, contudo, fica nos armazéns, em Gaia. Vai para marcas da casa, brancas e tintas, e em todos os estilos. Os tawnies, contudo, têm especial destaque. É por isso que a Messias possui uma das mais vastas colecções de ‘colheitas’, com data de vindima. Uma parte está até disponível para aquisição no site da empresa, com datas que recuam até 1962. Por lá estão também quatro tintos emblemáticos. Destacamos três deles: um é o Triunvirato, lote de vinhos do Douro, do Dão e da Bairrada. Outro vinho invulgar chama-se Dados, um Douro feito na colheita de 2009 em parceria com o enólogo espanhol Javier Rodriguez. Não teve continuidade. Finalmente, o Clássico, o Baga da Bairrada que apenas é feito em anos de enorme qualidade.


De resto, o portefólio é enorme e só uma pequena parte foi aqui avaliada. O grande objectivo estabelecido para o futuro pelos seus timoneiros, José e Messias, é ir subindo paulatinamente a qualidade dos vinhos e, ao mesmo tempo, o seu valor no mercado. A equipa de gestão, incluindo os técnicos, sabe que este desafio não é fácil: implica pequenas afinações em todo o processo, melhorias constantes, e, claro, alguma sorte, em especial no clima. A exportação tem ajudado, com 65% dos vinhos a ir para o estrangeiro. A Alemanha é, de longe, o maior mercado, e com pouca ajuda do chamado ‘mercado da saudade’. Ou seja, os alemães gostam mesmo dos vinhos da casa.

A caminho do século

O percurso da Caves Messias sempre foi discreto, mas o observador mais atento percebeu que os vinhos que daqui têm saído, sejam eles Douro, Dão ou Bairrada, generoso ou espumante, mostram um trabalho cada vez mais sério e sustentado em experiência e conhecimento. A empresa continua a singrar e apresta-se para fazer um século de actividade em 2026. Pode parecer que ainda falta muito, mas não é assim. Não é cedo, por exemplo, para preparar um Vinho do Porto, um tinto muito ambicioso ou um espumante com estágio ‘sur lies’. A família sabe-o e, em conjunto com os técnicos, já estão a preparar “qualquer coisa”. João Soares não adianta mais, mas será certamente algo em grande. E faz bem, porque a casa Messias merece-o.

 

Edição nº 34, Fevereiro de 2020

Dão tinto: prazer e carácter por menos de €8

Têm um preço muito conveniente, são grandes companheiros da refeição e deixam-nos saudades. São os tintos do Dão que continuam, passado mais de um século, a serem o que sempre deles esperámos: vinhos elegantes, envolventes e com sentido regional. TEXTO João Paulo Martins FOTOS Ricardo Gomez Foi no longínquo ano de 1908 que o Dão […]

Têm um preço muito conveniente, são grandes companheiros da refeição e deixam-nos saudades. São os tintos do Dão que continuam, passado mais de um século, a serem o que sempre deles esperámos: vinhos elegantes, envolventes e com sentido regional.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Gomez

Foi no longínquo ano de 1908 que o Dão ganhou foros de região demarcada mas só depois do 25 de Abril a região adquiriu novo impulso. Neste sentido pode dizer-se que seguiu de perto o movimento que, a partir daquela data varreu todas a regiões, criou organismos e estabeleceu regras precisas do que se podia ou não produzir. A fama que então já tinha e que vinha do início do século XX manteve-se e os consumidores sempre lhe notaram a qualidade dos vinhos. E numa época – anos 70 e 80 – em que ainda tudo estava por fazer, o Dão marcava presença no mercado com o selo da região demarcada.

As regras que se impuseram na altura foram claras: quem quisesse plantar vinha tinha de cumprir alguns requisitos e nos tintos apontava-se, basicamente, para quatro castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro e Jaen. A variedade Jaen era a mais plantada na região, logo seguida da casta Baga, a mesma que hoje conotamos com a Bairrada. Quatro décadas depois, uma muito elevada percentagem dos tintos da região mantém aquelas quatro variedades como as eleitas, quase em exclusivo. Nesta prova há nove vinhos que têm aquela composição e um outro que, além das quatro, ainda tem Rufete. Foi assim durante uns bons anos mas cremos que actualmente se está a caminhar num sentido um pouco diferente; a Jaen está a perder terreno nos lotes da região e assim, as restantes  – Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro – estão a surgir cada vez mais em trio em vez do tradicional quarteto.

Fomos tentar perceber o porquê e Manuel Vieira, enólogo com muita experiência na região, diz-nos que a Jaen é uma boa casta mas que funciona melhor para ser usada a solo num determinado tipo de vinho; “gera vinhos mais abertos de cor, mais joviais e que nem sempre acrescenta grande coisa em lote com as outras três. Para mim o grande lote da região são mesmo as restantes castas tintas desde que a Touriga Nacional tenha um peso maior, uma vez que é casta mais completa que temos no Dão”. Ficamos então num trio onde entra a mal-amada Tinta Roriz, uma variedade que tem adeptos e detractores. Pelo que pudemos observar, a Roriz tem comportamentos diversos conforme a localização da vinha, mas, se colocada nos terrenos mais pobres e bem arejados, pode dar um bom contributo para o lote de tintos. Peter Eckert, da Quinta das Marias é dessa opinião e a Roriz faz parte do seu trio de eleição. A tradição falava muito também de uma variedade hoje meio escondida: a Tinta Pinheira ou Rufete. Manuel Vieira volta à carga: com pouca cor e pouca estrutura, a Tinta Pinheira perde no lote mas, com as novas tendências de vinhos abertos, menos escuros e pouco álcool, a casta pode conhecer um certo renascimento. E foi por ser menos rica que foi arrancada na Quinta dos Carvalhais e também na Quinta das Marias.

O carácter regional

Tida como uma das regiões onde se nota um maior equilíbrio nos vinhos, o Dão tem quase tudo o que é preciso para fazer um belo tinto: tem solos graníticos, pobres em matéria orgânica que geram vinhos de boa concentração ainda que de baixa produção; tem dois rios – Dão e Mondego – que definem sub-regiões e marcam o perfil dos vinhos, algo que Paulo Nunes, enólogo na Quinta da Passarela, afirma categoricamente: “se comparamos por exemplo a zona de Silgueiros ou a zona da Serra da Estrela vemos que nesta última estão a começar as vindimas quando na outra estão já a acabar”. Em todas as sua sub-regiões o Dão gera vinhos de muito boa acidez que, em geral, não requerem qualquer correcção. Mas o facto de a região estar rodeada de montanhas leva a que haja uma maior protecção em relação à influência marítima. Paulo, que também faz vinhos na Bairrada salienta a menor intervenção que é necessária no Dão, onde as doenças fito-sanitárias têm menor expressão.

Mas não é tudo: as castas disponíveis aqui são uma importante ajuda para os enólogos quando chega a hora de fazer o lote. Salienta Manuel Vieira que “a diversidade que temos à disposição ajuda imenso quando se faz um lote e o perfil específico de cada casta permite resultado mais completo, ao contrário por exemplo do Douro onde há mais semelhança entre as principais variedades”. Se a isto juntarmos a disponibilidade de água no solo, a altitude, as 2500 horas de sol/ano e as noites frescas que se fazem sentir mesmo em pleno Verão temos um quadro completo que nos ajuda a entender melhor a região do Dão.

No que respeita aos tintos é também curioso verificar que algumas das castas mais plantadas na região não aparecem nas indicações dos contra-rótulos. É o caso da Baga, a segunda mais plantada a seguir à Jaen, e a Trincadeira que também é omissa nos rótulos embora tenha mais área de plantação que a Alfrocheiro e poucas foram as vezes que foi comercializada como varietal. Já nos brancos acontece algo de parecido porque a Fernão Pires, por exemplo, tem o dobro da área de vinha da Encruzado e, no entanto, é provável que poucos consumidores associem aquela variedade ao Dão.

O Dão e o mercado

Apesar de todas as suas qualidades, o Dão não está nas primeiras escolhas dos consumidores nacionais, situando-se actualmente em 5º lugar, atrás do Alentejo, Vinhos Verdes, Setúbal e Douro mas, se analisarmos apenas o consumo na restauração, está em 4º lugar nas preferências do mercado. No entanto, a região tem feito uma grande aposta nos vinhos DOP em detrimento dos Regionais (IGP) e a região está em 2º lugar atrás de Vinho Verde e Douro nas regiões que maior percentagem de vinhos DOP vendidos. No 1º trimestre de 2019, dados disponibilizados no site do IVV, nota-se uma pequena subida dos vinhos IGP e descida nos DOP mas ainda é cedo para conclusões.

O Canadá e o Brasil são os destinos principais dos vinhos do Dão; a China está em franco crescimento e os EUA em queda. Segundo informação da CVR do Dão, um problema com um importador nos EUA foi quanto bastou para que as vendas se ressentissem de imediato. A região conheceu uma completa mudança desde os anos 90 do século passado quando cresceram os produtores engarrafadores, diminuiu o número dos armazenistas (que compravam vinho a granel e o engarrafavam com as suas marcas) e fecharam algumas adegas cooperativas. Mudou assim, e muito, o panorama regional e hoje, para além de empresas grandes que marcam a região, como a Sogrape e Dão Sul, por exemplo, o Dão é campo fértil para empresas de média dimensão (casos de Lusovini, Caminhos Cruzados, Magnum-Carlos Lucas, Álvaro Castro, entre outros) e ainda muitos pequenos produtores, numa conjugação de experiências e ideias inovadoras.

A região tem mostrado que mesmo nas gamas de entrada e no patamar até aos 8/10 euros pode produzir vinhos de bom gabarito e a nossa prova demonstra isso mesmo. A qualidade média é muito boa, nota-se que há uma preocupação em originar vinhos equilibrados e intensamente gastronómicos. Paulo Nunes é claro: “nesta gama de preço o Dão permite fazer vinhos com muita qualidade, desde que não se abuse nem das extracções nem da madeira em excesso”. Ora neste painel a esmagadora maioria dos vinhos apresentou, de facto, aquela que é a mais notória característica da região: bom equilíbrio entre acidez/álcool, com taninos macios e muito elegantes (segundo Manuel Vieira a presença da Roriz justifica-se exactamente pela contribuição tânica), com resultados muito positivos. As classificações reflectem essa qualidade média bem elevada: estes são vinhos amigos do consumidor, um verdadeiro porto-seguro na hora da escolha. São também excelentes opções para os restauradores pela ampla margem de associação vinho/comida que permitem.

Com razoável visibilidade nas grandes superfícies e boa presença na restauração os tintos do Dão têm tudo para agradar ao apreciador exigente.

VINHOS EM PROVA

Edição Nº28, Agosto 2019

Quinta das Marias Dão com estilo desde 1991

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Peter Eckert é suíço e fez carreira em Portugal, no sector dos seguros. Quando pensou reformar-se optou pela compra de uma pequena propriedade no Dão, em Oliveira do Conde, perto de Carregal do Sal. Nunca se arrependeu da decisão e dos 2 hectares iniciais chegou aos 12. Hoje passa mais tempo entre nós do que na terra natal.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Anabela Trindade[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Todos sabemos que nem sempre é fácil ser estrangeiro em terras do interior, mas também já aprendemos que a maior ou menor receptividade depende muito da atitude de quem vem de fora. Peter, com uma simpatia muito contagiante, não teve problemas, “gosto das pessoas e nunca senti qualquer animosidade, sempre me receberam muito bem; estou muito contente por estar aqui e sinto-me em família”. Isso mesmo foi evidente quando fomos almoçar a um pequeno restaurante não muito longe de Oliveira do Conde: recebido como cliente habitual, com a simpatia das gentes do interior, Peter retribui com aquele sentimento do “somos todos cá da terra”, a mesma terra que teve Aristides de Sousa Mendes como figura emblemática.

Passaram 12 anos desde a minha primeira visita à Quinta das Marias. Na altura foi em época de vindima e, se agora voltasse no mesmo período, muito provavelmente iria encontrar os mesmos personagens, amigos suíços que fazem questão de voltar sempre para a vindima. E o médico ginecologista que então me recebeu poderá estar lá de novo que, diz Peter, “faz questão de ser ele a limpar a prensa”. Por aqui é assim, há amigos, há cumplicidades que se prolongam no tempo e há também a boa colaboração de Luis Lopes, enólogo, que após deixar a Quinta da Pellada assumiu a enologia desta propriedade. Vizinhos são também quintas conhecidas: Quinta Mendes Pereira, Magnum Carlos Lucas e União Comercial da Beira.

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Aquando da visita, em fins de Junho, a vinha estava o que se pode chamar um “mimo”: verdejante, bem tratada, com boa carga de uvas, já com os excessos de folhagem cortados e sem sinais de problemas fitossanitários. Mas Peter e Luis sabem que é cedo para grandes conclusões; é preciso esperar, estar atento, acompanhar e, se for caso disso, intervir. Em frente ao portão principal da quinta, onde entre várias bandeiras hasteadas lá está também a da Suíça, fica uma propriedade que Peter adquiriu e onde tem sobretudo o Encruzado plantado. Conta-nos: “quando comecei, apesar de serem só 2 hectares, a CVR obrigou-me a plantar quatro castas brancas e quatro tintas, mas quando essa obrigatoriedade acabou fiquei só com Encruzado.” É verdade, mas não totalmente porque à volta da vinha de Encruzado que fica do lado de lá da rua, existem várias parcelas “alugadas” a um vizinho em regime de comodato, ou seja, o proprietário mantém a posse da terra, Peter não paga nada pelo aluguer e o proprietário se quiser e quando quiser pode vender a parcela. A vantagem é que tem a terra tratada em vez de abandonada. Aí, nessa vinha, Peter e Luis levaram a cabo um programa de re-enxertia por borbulha (aproveitando a cepa original e o competente sistema radicular) tendo então plantado Uva Cão, Barcelo, Bical e Gouveio.

E, do que plantou no início, concluiu que aquelas não eram terras para  a Tinta Pinheira, “não dava nada, nem sequer cor ou aroma, só líquido” mas, ao contrário da ideia que Luis Lopes trazia da Pellada, a Roriz, de que Peter gosta bastante, dá-se aqui muito bem; Luis conclui que foi uma boa surpresa porque “a Roriz aqui não tem os taninos perros que tinha na Pellada”, e entra por isso sempre na Cuvée TT. Num ponto estão ambos de acordo: aqui é terra de Alfrocheiro, uma casta e tanto, que desde o primeiro momento – as primeiras plantações datam de 1991 – nunca foi uma decepção. Já as alterações climáticas e o aumento previsível da temperatura não auguram nada de bom nem para a Jaen (de que ambos são grandes adeptos) nem para a Bical. É provável que no futuro se tenham de fazer mudanças de castas.

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Uma vertical de Touriga Nacional

Na visita à Quinta das Marias, escolhi alguns vinhos para fazer uma prova mais alargada. Peter optou pela Touriga Nacional, mas foi evidente, ao longo de toda a visita, que a Alfrocheiro é também uva da sua eleição e que, contrariando o que por vezes se ouve dizer, também nunca teve nada contra a Tinta Roriz. A prova de 7 vinhos de Touriga Nacional da Quinta das Marias revela que aqui a casta conserva as suas boas características, mesmo em anos diferentes, e a qualidade é também muito consistente. Iniciámos a avaliação pelo Touriga de 2002, evoluído na cor mas muito fino e elegante, um verdadeiro prazer (17,5);  o 2005, mais jovem de aroma, mantém as notas de fruta em calda, com muita expressão e delicadeza apesar da boa garra (17,5); ainda cheio de cor mostrou-se o 2008, combinando as notas florais da Touriga com um toque vegetal de Alfrocheiro (tem 5% desta casta), intensamente gastronómico (17,5); o 2011 é o que mais se evidencia no momento, vigoroso, complexo e rico (18); muito jovem ainda, o 2014 conjuga o floral elegante, com um tom mais sério dado por taninos finos mas bem presentes (17,5); o 2015, afina pelo mesmo diapasão, fino mas estruturado e cheio de classe (17,5). Publicada à parte nestas páginas, a prova do 2016, agora no mercado, e que confirma a enorme consistência dos Touriga da Quinta das Marias.

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Na Primavera passada estiveram aqui durante três dias o casal Claude e Lydia Bourguignon, verdadeiros gurus da viticultura e especialistas dos solos, conselheiros de múltiplos produtores em todo o mundo. Vieram analisar o solo, perceber a relação entre os vários tipos de solo e os porta-enxertos usados, dar, em função disso, conselhos sobre podas e nutrição dos terrenos. Para isso fizerem doze buracos no terreno, espalhados em várias zonas da propriedade, em geral com 1,5 m de profundidade e depois da análise muito minuciosa de cada um foram feitas sugestões sobre o que fazer e o que mudar. Sobre as castas plantadas “não quiseram dar opinião, mas gostaram muito dos vinhos”, diz Peter, sobretudo Encruzado, Alfrocheiro e Touriga Nacional. Disseram que a terra era de grande qualidade para plantar vinha, mas que tinha muita areia na primeira parte do solo. Há também alguns problemas de excesso de humidade, e por isso aqui a vinha é de sequeiro. Diz-nos Luis, “temos em solos húmidos problemas de armilária, que é um fungo parasitário do carvalho que ficou na terra; nesses solos algumas cepas morreram e outras originam pouca produção. Há compensações a fazer e há erros que não se devem cometer, é para isso que serve um profundo conhecimento do solo que temos à disposição”.

A experiência foi boa conselheira e assim Peter, ao decidir ficar apenas com o Encruzado, arrancou o Borrado das Moscas (Bical), Malvasia Fina e Cercial. Curiosamente, voltou ao Bical nas re-enxertias do comodato. Nessa vinha havia castas como Semillon e Assaraky, um híbrido feito em Portugal de cruzamento de Assario com Sarak, uma casta que veio da Casa da Ínsua. Diz-nos Luis que “temos Uva Cão do Centro Estudos de Nelas e da Quinta da Passarela. Terrantez não plantámos porque não consegui arranjar varas. Falta-nos a Douradinha que é casta antiga e muito ácida que merece ser plantada”. Da vinha do comodato será posteriormente tirada a Tinta Roriz que lá está e em cujos pés se fez a enxertia. As varas de Touriga Nacional vieram também do Centro de Estudos de Nelas mas, como que a confirmar a tese clássica, “os resultados são muito diferentes conforme a localização e orientação da parcela e, claro, em função do subsolo”, lembra Peter. Se voltássemos aos anos 90, era seguro que as vindimas dos tintos só começavam depois de 5 de Outubro mas “actualmente começamos entre 20 e 25 de Setembro”. Coisas do clima, como é evidente. A produção ronda as 60.000 garrafas, das quais 40% se destinam ao mercado interno e o resto é exportado, sobretudo para o Canadá, Brasil e Macau.

[/vc_column_text][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40686,40687,40688,40689,40690″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O estudo e a atenção

Segundo Peter Eckert, quando na Suíça perguntava a opinião sobre os vinhos portugueses, ouvia invariavelmente que faltava consistência de qualidade e oferta no mercado para o consumidor. Foi nesses dois pontos – qualidade e consistência – que procurou pegar para alterar essa imagem. A prova dos Touriga Nacional que fizemos mostra exactamente essa consistência. Mas isso não surge por acaso: a produção de vinho exige alguns cuidados que Peter faz questão de salientar: a higiene é factor primordial em todos os trabalhos ao longo do ano, a atenção a todos os pormenores exige estar sempre em cima do acontecimento, há que manter uma atitude de estudo e curiosidade sobre o que se passa. O enólogo afirma mesmo que “Peter é estudioso e está sempre interessado nas coisas que lhe digo e ele vai informar-se sobre qualquer assunto e, quando voltamos a falar, ele já sabe muito sobre a matéria”, por isso sente-se habilitado para todas as tarefas da adega.

A vinda de Luis Lopes pode também levar à procura de novos vinhos e novas experiências, como Peter refere: “quero conciliar a linha de continuidade com a produção anterior, mas vamos ter projectos que o Luis vai assumir com ensaios e coisas novas que podemos experimentar”. Coisas novas, lembra Luis, como por exemplo o uso de extracto de grainha como substituto do sulfuroso; “já usámos e vamos agora engarrafar o ensaio a ver como se comporta na garrafa; para já, não ganhou acidez volátil nem brett (fenóis voláteis) o que é bom sinal. Mas vamos ver e vamos aprender”. Peter e Luis afinam claramente pelo mesmo padrão, procurando manter um estilo e um histórico, mas sem enjeitar experimentação e novidades. 27 anos depois do seu nascimento, a Quinta das Marias continua em grande no Dão.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”VINHOS EM PROVA”][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][vc_column_text]

[/vc_column_text][vc_column_text]

Edição Nº28, Agosto 2019

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