Tintos do Dão: Carácter e elegância de uma região histórica

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A região que este ano celebrou 110 anos desde a sua demarcação já foi líder de mercado, quase caiu quase no esquecimento e agora está a renascer com força, novas ideias, produtores e marcas, mas baseando-se na […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A região que este ano celebrou 110 anos desde a sua demarcação já foi líder de mercado, quase caiu quase no esquecimento e agora está a renascer com força, novas ideias, produtores e marcas, mas baseando-se na tradição de sempre, mantendo os seus valores, a sua personalidade e a sua riqueza vitivinícola.
TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Ricardo Palma Veiga
A produção de vinho no Dão é milenar, e os vestígios arqueológicos, como as lagaretas encontradas em vários sítios da região, são testemunhos disto. A filoxera, um temido e imparável insecto que destrói a raiz da vinha, veio parar a Portugal com as videiras americanas em 1867. Para além de dizimar os vinhedos no Douro e a seguir no Dão, originou ainda outro problema que no início até não parecia problemático de todo. Portugal (como também Espanha, Itália e Hungria) tornou-se num dos principais fornecedores de vinhos para famosas regiões francesas, onde a filoxera tinha chegado mais cedo, e os estragos eram substancialmente maiores.
Esta conjuntura comercial impulsionou um enorme desenvolvimento na plantação das vinhas nas regiões, como o Dão e a Bairrada, na década de 80 do século XIX. Em 1882 foi até estabelecida a isenção da contribuição predial de dez anos para a plantação da vinha, e cinco anos para a replantação. Isto levou a que propriedades que cultivavam cereais passassem ao cultivo da vinha sem peso nem medida. As plantações invadiram os terrenos mais férteis e os volumes de produção dispararam.
Por volta de 1900, França deixou de ser o mercado preferencial de exportação, devido ao aumento de produção própria e ao facto de ter encontrado novos fornecedores de vinhos mais baratos, como a Argélia, por exemplo. A procura interna não era suficiente para escoar todo o vinho produzido – uma consequência da crise de abundância.
A conjuntura em Portugal também não era fácil. A vizinha região do Douro sempre teve mais privilégios a nível legislativo, e ao mesmo tempo começou a sentir-se a invasão dos vinhos do Sul (das actuais regiões de Tejo e Lisboa), que sofreram menos com oídio e filoxera e eram significativamente mais baratos.
A necessidade de demarcação da região tornou-se óbvia, o que acabou por acontecer em 1908. Poucos meses antes da queda da monarquia, em 1910, era aprovado o regulamento de produção e comercialização dos vinhos de mesa (chamados à época “vinhos de pasto”) da região do Dão.
Na altura do Estado Novo, o objetivo do Governo era criar cadeias de produção. Como o vinho era considerado um produto agrícola de importância, teriam que ser garantidas condições para que fosse produzido de uma forma estável e na quantidade necessária.
No Dão, sempre dominou o minifúndio. Um patchwork de parcelas minúsculas de cerca de 0,5ha, retalhadas entre florestas, faz 90% de vinha na região. Muitos agricultores que plantavam vinha não tinham capacidade de produzir vinho, nem de vendê-lo. As adegas cooperativas providenciaram equipamento e asseguraram a comercialização do produto acabado. A questão de competitividade não se colocava.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”31998″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A maior parte dos produtores entregava uvas a adegas cooperativas, mas também existiam diversas casas proprietárias de vinhedos que produziam vinho e vendiam a granel para as grandes marcas. A Casa da Ínsua, a Casa da Passarella ou a Casa Santos Costa, por exemplo, produziam vinho desde finais do século XIX e eram famosas junto dos principais engarrafadores. Os responsáveis pela criação das marcas nos anos 60 foram empresas na época chamadas “armazenistas” (correspondendo ao que em França se designa por “negociant”) e que compravam vinho aos pequenos produtores e às adegas cooperativas, engarrafando-o e comercializando-o sob a sua insígnia.
As Caves São João, um dos grandes negociantes em Portugal à data, lançou assim Porta dos Cavaleiros, a seguir ao bairradino Frei João. A Sogrape, que alargou as suas operações para o Dão em 1957, produzia um Dão Reserva conhecido como Dão Pipas e lançou a marca emblemática Grão Vasco, que teve um enorme sucesso. Tal como o Meia Encosta, da Sociedade dos Vinhos Borges, lançado em 1970, ou o Terras Altas, da José Maria da Fonseca.
O próprio Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, liderado pelo engenheiro agrónomo Cardoso Vilhena, que andava a explorar as potencialidades das castas da região, fez vinhos lendários, como os de 1963, 1970, 1975, 1980 e 1983.
O meu sogro costumava dizer “O vinho é do Norte” e para ele existiam só duas regiões – Douro e Dão. Era um consumidor fiel e acredito que muita gente da geração dele assim o era. Mas as gerações mais novas não partilharam desta lealdade e nas décadas 80 e 90 o Dão deparou-se novamente com ampla concorrência dos vinhos de mesa de outras regiões do país.
O Douro apostou em força nos vinhos de mesa, mas Alentejo e Setúbal também apareceram com vinhos em grande quantidade e de qualidade que os produtores do Dão não estavam a conseguir acompanhar. O consumidor virou-se para outras regiões, deixando ao Dão o desafio de se reinventar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Na viragem do século” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Os anos 90 assinalaram grandes mudanças na região. Começaram a aparecer os produtores de quinta com vinhos de excelência (Quinta dos Roques, Quinta da Pellada, Quinta dos Carvalhais, foram os que mais se destacaram na época) e até os negociantes investiram na vinha. Segundo o presidente da CVR do Dão, Arlindo Cunha, a partir de 2005 fez-se sentir a inversão do paradigma. Agora, a pouco e pouco, o consumidor vai (re)descobrindo os vinhos do Dão, começando pelos brancos.
Entretanto, as principais características orográficas da região não mudaram: as montanhas, os rios e os solos continuam a formar o seu terroir de excelência. O que realmente melhorou, no ponto de vista de Arlindo Cunha, é a parte da viticultura: restruturaram-se as vinhas, começaram a plantar em zonas mais secas e mais altas, com melhores condições para produção de vinhos de qualidade. Vieram à região muitos jovens profissionais: enólogos, viticultores e produtores dinâmicos. “Nos últimos cinco anos a produção dos vinhos DO Dão e IG Terras do Dão aumentou 47%”, frisa o presidente da CVR.
O enólogo Manuel Vieira lembra-se do seu início de trabalho na Sogrape, sendo responsável pela Quinta dos Carvalhais. Refere que em 1990, na sua primeira vindima, “as ideias eram muito indefinidas; as castas não eram pensadas”.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][image_with_animation image_url=”31999″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Na altura começaram a aprender sobre as castas em colaboração com o Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas, que estava a desenvolver um grande trabalho neste sentido. “Era importante perceber o que era o Dão e comunicar isto ao consumidor.”
Mais ainda há muito trabalho pela frente, diz Manuel Vieira, pois a região continua a ser “reconhecida pela elite e desconhecida pelo consumidor comum”.
O potencial da região confirma-se também pelo interesse que o Dão tem vindo a despertar em produtores de outras zonas vitivinícolas, sobretudo do Douro. O Grupo Amorim, proprietário da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, adquiriu recentemente a Quinta da Taboadella com adega e cerca de 40 hectares de vinhas a 500 metros de altitude. O projecto da Niepoort no Dão avançou em 2012. O trio de conceituados enólogos do Douro – Jorge Moreira (Poeira), Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão) e Jorge Borges (Wine&Soul) – lançou-se num projecto conjunto que resultou em vinhos M.O.B., produzidos na Quinta do Corujão. Jorge Moreira explica que escolheram o Dão porque queriam fazer um projecto interessante e de excelência numa outra região, sem ser o Douro. O Dão pareceu-lhes desafiante neste sentido. Aqui conseguem-se boas maturações fenólicas com grau de álcool provável mais baixo, preservando a preciosa acidez, e os vinhos adquirem equilíbrio com menos extração.
Estas empresas e figuras incontornáveis no mundo vitivinícola português de certa forma atraíram as atenções dos enófilos para o potencial da região.
O enólogo e produtor Carlos Lucas aponta para a importância de, na viragem do século, terem “dado entrada projetos sólidos”, com novos produtos que aliaram “boa enologia e visão do mercado”. Julia Kemper, Quinta do Sobral, Casa da Passarella, Pedra Cancela, Caminhos Cruzados são alguns dos exemplos que aponta. “Fazem belos vinhos, adaptados ao mercado, sem perder a essência do Dão. O valor de base é muito importante, e o marketing não resolve tudo, porque é a qualidade que fideliza os consumidores. Mas ao acrescentar aqui bom marketing – temos uma grande região!”, diz o produtor.
Até Robert Parker através de Marc Squires, ultimamente tem conferido pontuações a nível de 93-95 aos vinhos do Dão, algo que há 10 anos era impensável.
O enólogo da Casa da Passarella, Paulo Nunes, observa que no início de 2000 os produtores do Dão sentiam-se tentados a apanhar a onda do Novo Mundo, com muita concentração, seguindo perfis de maior valorização no palco internacional. Isto criava uma certa incoerência com o perfil dos vinhos dos anos 60, quando o Dão era chamado “Borgonha de Portugal”. Na sua opinião, os produtores actualmente estão mais fiéis à região: “Estamos mais próximos dos anos 60 agora, em termos de perfis de vinho, do que estávamos na viragem do século.”[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”A grande Touriga Nacional
” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Segundo aos dados do IVV de 2017, a área total da vinha no Dão é de 14.837ha. Destes, cerca de 80% corresponde a castas tintas. Mesmo na fase de reconquista do consumidor, o Dão resistiu ao boom das castas internacionais que se deu um pouco em todas as regiões. Pelo contrário, apostou fortemente na preservação das suas castas tradicionais, tintas e brancas. Como diz Arlindo Cunha: “A principal mudança no Dão foi a continuidade!”
Não se pode falar no Dão sem pensar na Touriga Nacional, a uva identitária da região e que, tudo indica, ali teve origem. O percurso da Touriga Nacional tem algo melodramático. Lembram-se do conto de fadas da Cinderela, que era a filha querida do papá, mas que passados os anos de desprezo da sua madrasta e as filhas desta, tornou-se finalmente uma princesa? É praticamente história da casta. Antes da filoxera, a Touriga Nacional estava muito presente no encepamento regional e era bastante apreciada pelas suas qualidades aromáticas e corantes. No Estudo da Ampelografia Portuguesa de 1865 era de longe a casta mais plantada no Dão, seguida de Alvarelhão e Jaen. A filoxera deu cabo não só das vinhas, mas também da reputação dela, pois a nossa Cinderela não funcionou bem com os enxertos americanos, que era a medida mais eficiente para combater a devastadora praga.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”32002″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A expressão “muita parra e pouca uva” tornou-se num sinónimo da Touriga Nacional, cujo vigor vegetativo comprometia a produção.
O que é que representavam dois cachos pequenos de bagos pequenos (100-150 g) por pé para um viticultor que vendia as suas uvas às adegas cooperativas? Pouca remuneração, claro, pois pagava-se por quilo. Assim começou o desinteresse dos produtores e consequente diminuição de plantações. Os ensaios de Cardoso Vilhena no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão começaram por restabelecer a reputação qualitativa da casta. E o trabalho de seleção clonal, realizado a partir dos anos 80, resolveu o problema da escassez de produção, tornando-a de novo querida dos viticultores.
É uma autêntica trabalhadora nas vinhas, aguenta bem temperaturas elevadas, a sua película grossa protege os bagos do calor, contribuindo com grande nível de polifenóis e fornece muita matéria corante ao vinho. A casta é pouco sensível ao míldio e oídio. Também é resistente às chuvas de Outono.
É muito fiel a si própria. Segundo Paulo Nunes, com 12% ou com 14% continua a ser Touriga Nacional. Ela também se comporta muito bem na adega, moldável a diferentes tipos de vinificação e com elevada capacidade de envelhecimento, particularmente em madeira.
Dá excelentes vinhos monovarietais, evidenciando os seus aromas primários pronunciados, e acrescenta riqueza ao lote onde entra (se bem que às vezes puxa a primazia para si e é acusada de “ser muito Touriga Nacional”). É facilmente reconhecível pelo aroma e o consumidor geralmente gosta daquilo que lhe é familiar.
Gostos à parte, não podemos negar que a Touriga Nacional tem um papel fundamental, ao lado do Encruzado, na identidade da região. O Dão não é só Touriga, mas também o Dão não seria o mesmo sem ela. Em termos de plantação actual na região, corresponde a 22%, ocupando uma área de 3191ha.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32004″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Além da Touriga” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Há vida (e castas) além da Touriga Nacional. A Jaen, por exemplo. Casta ibérica, cultivada na região do Dão desde século XIX, na Ampelografia Portuguesa de 1865 já é uma das castas dominantes no concelho de Mangualde. Em 2008 passou a ser a casta com o maior encepamento no Dão, com 2484ha, e continua assim até aos dias de hoje, ocupando uma área de 3528ha, o que corresponde a 24% das plantações da região.
Em Portugal tem pouca expressão fora da região, mas em Espanha, com o nome de Mencia, é responsável pelos vinhos elegantes do Bierzo. O seu nome tem origem espanhola e supõe-se que os peregrinos dos Caminhos de Santiago a teriam trazido até nós. Produz muito, sobretudo em terrenos férteis, pelo que a produção tem que ser controlada para evitar vinhos acídulos e aguados. Apodrece com facilidade, o que obriga a evitar zonas mais húmidas. Mas também não gosta de muito calor e, segundo Paulo Nunes, “tem uma janela de vindima muito pequena, pois com 12% de álcool provável fica muito verde, com 14% muito queimada”. Plantada no sítio certo, origina vinhos com boa cor, delicados em termos de acidez e com aromas florais nos primeiros meses de vida, desenvolvendo fruta vermelha como morango e framboesa.
Quanto ao Alfrocheiro Preto, apareceu no Dão após a filoxera, não se sabe exactamente quando. Tem sinonímias nas terras espanholas, sendo chamada Bruñal em Arribez del Duero, Caiño Gordo na Galiza, Albarín Tinto nas Astúrias e Baboso Negro nas ilhas Canárias. Está disseminada por toda a região, é a quarta casta em termos de plantação, ocupando uma área de 896ha e representando 6% do encepamento. É uma casta precoce, sensível ao calor e ao stress hídrico. Enologicamente proporciona equilíbrio notável entre álcool, taninos e acidez. Produz vinhos de cor e aromas intensos de morango selvagem maduro e amora. Os vinhos geralmente têm bom corpo, taninos firmes, mas delicados. Estando prontos para beber jovens, também envelhecem bem ao longo de vários anos.
Finalmente, a Tinta Roriz. A casta ibérica mais conhecida internacionalmente e que assume nomes diferentes em cada região onde é plantada: Tempranillo em Rioja é o mais popular, Tinto Fino em Ribeira del Duero, Tinta de Toro em Castilla-La Mancha, Ull de Llebre em Catalunha, Cencibel em várias regiões. Pensa-se que foi trazida para Portugal antes da filoxera, entrou pelo Douro e desceu até ao Alentejo, onde se tornou uma das castas mais importantes, com o nome Aragonês. É talvez a mais recente “aquisição” do Dão, onde apareceu já no final do século passado devido ao reconhecimento das suas aptidões pelo Centro de Estudos de Nelas. Em 1983 existiam apenas dois hectares de Tinta Roriz, mas assinalou o maior crescimento na região, ficando em terceiro lugar em termos de área e ocupando agora 2756ha, o que dá 19% da plantação.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]É uma variedade que produz bem, dependendo do clone, clima e tipologia de solo. Facilmente atinge produções elevadas, o que a faz perder drasticamente a qualidade. Quando o ano vitícola corre bem e assegurando produções controladas, origina vinhos de boa cor, intensos, complexos aromaticamente e bem estruturados. Desenvolve aromas de ameixa e frutos silvestres, ganha complexidade com envelhecimento e tem aptidão para estágio em madeira.
Para além destas quatro principais castas tintas, o património vitivinícola do Dão é bastante grande. A Baga tem uma presença relevante, correspondendo a 5% do encepamento, e Rufete, também conhecido como Tinta Pinheira, corresponde a 3%. Alvarelhão e Bastardo eram as mais cultivadas castas tintas a seguir à Touriga Nacional na Ampelografia Portuguesa de 1865, agora encontram-se nas vinhas velhas ao lado de Tinto Cão, Trincadeira Preta (Tinta Amarela), Marufo (Mourisco), Malvasia Preta (Moreto), Cornifesto e muitas outras a salvaguardar o património vitivinícola da região.
Juntando estas castas, ao clima, aos solos, e aos profissionais cada vez mais competentes e empenhados, o Dão é, na verdade, uma região que nasceu para o vinho. O que o Dão precisa agora é de criar a diferenciação, comunicando bem as suas castas tradicionais, e afirmar-se dentro e fora de portas como região de produção de grandes vinhos com frescura, riqueza aromática e notável equilíbrio, Na realidade, já o é.
[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][image_with_animation image_url=”31996″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Nos últimos anos, também têm saído produtos de grande qualidade da região dos Vinhos Verdes, sobretudo a partir da casta Alvarinho, mas também Douro, Dão, Tejo ou Alentejo estão a produzir cada vem mais espumantes e com qualidade muito consistente. Agora é só erguer um flute ou copo ao alto (ou uma tacinha, como dantes de dizia) e… SAÚDE![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Em Prova” title_align=”separator_align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][vc_column_text]
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Dom Daganel
Tinto - 2015 -
Adega da Corga
Tinto - 2015 -
Quinta das Estrémuas
Tinto - 2010 -
Quinta da Ponte Pedrinha
Tinto - 2014 -
Picos do Couto
Tinto - 2012 -
Elpenor
Tinto - 2014 -
Casa Albuquerque
Tinto - 2016 -
Adega de Penalva
Tinto - 2015 -
Vinha Othon
Tinto - 2015 -
Terras de Sto. António
Tinto - 2015 -
Quinta do Perdigão
Tinto - 2012 -
Fonte do Ouro
Tinto - 2015 -
Quinta dos Carvalhais
Tinto - 2015 -
Quinta das Marias
Tinto - 2015 -
Pedra Cancela Signatura
Tinto - 2014 -
Madre de Água Vinhas Velhas
Tinto - 2016 -
Ladeira da Santa
Tinto - 2015 -
Casa de Santar Vinha dos Amores
Tinto - 2013 -
Villa Oliveira
Tinto - 2014 -
Quinta da Pellada Casa
Tinto - 2014 -
Quinta da Falorca Lagar
Tinto - 2014 -
Centenariae Vineae Vinha do Canez
Tinto - 2013 -
Allgo Single Vineyard
Tinto - 2015 -
Varanda da Serra ( Magnum )
Tinto - 2013 -
Teixuga
Tinto - 2014 -
Quinta dos Roques
Tinto - 2015
Edição Nº18, Outubro 2018
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
Recantos do Dão

Há tanta coisa, e sempre tão diferente, para descobrir no Dão que cada incursão tem o sabor de uma aventura única. Desta vez, em três saborosas paragens, confirmamos toda a sedução de uma terra dura no contacto, mas generosa nas dádivas. Vinho e muito mais, de Carregal do Sal a Mortágua, passando por Viseu. TEXTO […]
Há tanta coisa, e sempre tão diferente, para descobrir no Dão que cada incursão tem o sabor de uma aventura única. Desta vez, em três saborosas paragens, confirmamos toda a sedução de uma terra dura no contacto, mas generosa nas dádivas. Vinho e muito mais, de Carregal do Sal a Mortágua, passando por Viseu.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga
Imaginemos um território de forma quase oval, um planalto delimitado por um anel de serras (Buçaco, Caramulo e Arada, a Oeste; Montemuro, Leomil e Lapa, a Norte; Estrela, a Sudeste; Açor, a Sul) e escavado por rios que correm de Nordeste para Sudoeste (Mondego, Dão e Alva, todos tributários da barragem da Aguieira) ou, na metade setentrional da região, de Leste para Oeste (Paiva e Vouga). Parece a descrição de uma fortaleza inexpugnável, mas esta é uma cidadela de portas abertas.
Resguardado da influência atlântica, o Dão é terra de meteorologia severa, com verões quentes e invernos frios, pedra de toque para gentes rijas e vinhos soberbos. Esta foi a segunda região demarcada de Portugal, em 1908 – e a primeira de vinhos não generosos, já que a do Douro foi criada para regulamentar o Vinho do Porto. Durante décadas, os vinhos do Dão, criados em planaltos e encostas invariavelmente enquadrados por floresta, estiveram no topo do prestígio nacional. Depois, perderam identidade, viram outras regiões conquistar protagonismo. Mas a chama nunca se apagou e os tempos mais recentes mostram uma região apostada em recuperar a alma e o prestígio.
Com uma gastronomia bem própria, abundante património histórico e uma paisagem cheia de contrastes e recantos mágicos, a “fortaleza” do Centro de Portugal está à espera de quem queira descobrir os seus encantos. E, numa altura em que o calor volta a apertar e ainda temos bem vivo na memória o horror dos fogos florestais, visitar esta região é também prestar um tributo solidário às suas gentes.
Oliveira do Conde é uma freguesia do concelho de Carregal do Sal com pouco mais de três mil habitantes, mas uma história pelo menos tão antiga quanto Portugal – recebeu foral de D. Dinis em 1286 – e uma série de edifícios que falam desse passado distinto. E é também terra de vinhos, com vários produtores ali sediados. Um deles é a Quinta das Marias, que resulta de um trajecto inverso ao que levou o nome do país aos quatro cantos do globo: aqui, a obra foi feita por um imigrante.
Peter Eckert, suíço, adquiriu a propriedade em 1991, então uns meros quatro hectares, dois dos quais de vinha, completamente ao abandono. A pouco e pouco, foi juntando parcelas ao seu núcleo original e neste momento são já 16 hectares de área total, com 12 de vinha. A primeira adega nasceu em 1995, a segunda foi inaugurada já no século XXI. Ficam uma de cada lado do terreiro de entrada, onde três mastros exibem as bandeiras de Portugal, da Suíça e de Oliveira do Conde. Uma tradição de sempre, aqui.
Um passeio pelas vinhas permite perceber como cada parcela tem características muito próprias – e essa é a inspiração para os vinhos da casa, sempre definidos tendo por base as uvas de cada parcela, que são vindimadas e vinificadas em separado, antes das decisões na adega. Há oliveiras e pinheiros sempre em linha de vista e lá ao fundo a surpresa de encontrar as ruínas de um antigo lagar, com as bacias em granito, as mós e os apoios das varas resistindo ao passar dos anos. O plano é transformar este local numa sala de provas. Promete.
O granito volta a surgir-nos nos lagares do edifício da adega original, hoje reservada para zona de estágio dos tintos e sala de barricas – a vinificação é feita ali em frente na adega mais recente, onde se organiza também o armazém, rotulagem e o espaço de loja para quem desejar adquirir os vinhos localmente. Mas é do outro lado que nos sentamos (ao balcão!) para provar os vinhos e ouvir as suas histórias.
Cá fora, à saída, procura-se uma sombra para o derradeiro relance pela paisagem. Estamos num planalto, a cerca de 300 metros de altitude, com o Mondego a correr a Sul e o Dão a Norte. No horizonte perfilam-se algumas das serras que vigiam este território: Açor, Gardunha, Estrela. Com um bocadinho de esforço, podemos perceber o volume cilíndrico da construção no alto da Torre. Quando há neve, funciona como um verdadeiro farol.
QUINTA DAS MARIAS
R. Portela, 34, Oliveira do Conde, 3430-364 Carregal do Sal
Tel: 935 807 031 / 964 828 669
Mail: eckert@sapo.pt / quintadasmarias@icloud.com
Web: www.quintadasmarias.com
GPS: 40.442634, -7.967985
A quinta está aberta a visitas das 9h às 12h e entre as 14h e as 17h, mas a flexibilidade é a palavra de ordem. Tanto nos horários como nos preços a praticar, sob consulta e dependente do número de participantes e dos vinhos a provar. Por razões logísticas, a dimensão dos grupos está limitada a 25 pessoas. O programa normal inclui visita às vinhas e à adega, seguida de prova.
Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 3
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
Rumamos a Norte. Mas, indo nós a caminho de Viseu, havemos de parar antes de lá chegar… Junto à pequena localidade de Soutulho fica o Hotel Rural Quinta do Medronheiro, na margem oposta à do planalto de Viseu, confinando com um rio (o Pavia, afluente do Dão) que continua a lutar contra a poluição e em linha de vista com duas grandes vias rodoviárias (o IP3, em viaduto, e a A25). Pode um local tão “urbano” ser um paraíso bucólico de sossego e comunhão com a Natureza? Pode, pois. Porque houve quem soubesse criar as condições para que quem chega sinta que está a entrar num mundo diferente.
A propriedade tem 37 hectares e assenta a sua actividade em três vertentes principais: três hectares de vinha, um salão de eventos (situado no andar superior da adega, com vista panorâmica) e o hotel rural. Este acomoda 16 quartos em três edifícios contíguos, interligados por um delicioso labirinto de escadarias em pedra, canteiros ajardinados e telheiros de madeira. Ao fundo, a piscina. Lá dentro, o restaurante, que funciona apenas por marcação, para refeições e provas de vinhos.
Aqui a regra é o sossego. Sim, há bicicletas para quem queira dar uma volta e os passeios a pé são altamente recomendados, mas a ideia base é estarmos quietos. A ler, a beber um copo de vinho da casa (há tinto e dois espumantes e para breve estão prometidos um branco e um rosé, todos com enologia de Hugo Chaves), ou simplesmente a ver passar o tempo – de olhos abertos ou fechados…
Mas, por mais sedutora que seja a perspectiva de não fazer nada quando o calor aperta, há tanto para ver que seria pena não pôr os pés ao caminho. As vinhas, os jardins que ladeiam as quatro salas para casamentos e outras cerimónias, os carreiros junto aos prados e pelo meio do arvoredo (muitos medronheiros, nada comuns na região, mas que dão o nome ao local), os penedos de granito, a lagoa lá no alto, as vacas que por ali pastam e os três cavalos que passeiam pela propriedade em regime semi-selvagem.
Fomos encontrá-los junto ao rio. O Oloroso, veterano que até já deu nome a um dos vinhos da casa, a égua Violeta e o jovem Riscado pastam na zona mais fresca, junto às águas que correm por entre as pedras. Dois moinhos de água surpreendentemente bem conservados ilustram uma tradição local, mas estão desactivados e os planos de recuperação deste património ancestral esbarram na má qualidade das águas do rio. Pena, porque esta podia ser a paisagem perfeita.
HOTEL RURAL QUINTA DO MEDRONHEIRO
Quinta do Medronheiro, Soutulho, 3510-744 São Cipriano, Viseu
Tel: 232 952 300 / 968 817 437
Mail: geral@quintadomedronheiro.pt
Web: www.quintadomedronheiro.pt
GPS: 40º37’26.817’’N / 7º57’59.106’’W
O hotel funciona todos os dias do ano, com 16 quartos de diversas tipologias e preços que vão dos 80 euros (duplo standard) aos 115 euros (apartamento T1). Sob reserva, organizam-se jantares com sabores típicos da região (25 euros por pessoa, mais bebidas); as provas de vinhos, com lanche regional, custam 15 euros por pessoa.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2
Venda directa (máx. 3): –
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18*
* Média ponderada; a filosofia do local não contempla a existência de loja.
E, por falar em paisagem, é impossível não nos arrepiarmos com o cenário que nos espera nas margens da barragem da Aguieira. Estamos a caminho de Mortágua e as cicatrizes do horrível incêndio de Outubro do ano passado acompanham-nos durante quilómetros, arrasando tudo de alto a baixo – não fossem os rebentos espontâneos de eucalipto, que já alcançam um bom metro de altura, e poderíamos imaginar-nos nas encostas de um vulcão…
Mas o fogo não chegou às suaves encostas de vinhas que nos levam até à adega da Quinta da Giesta, da empresa Boas Quintas, onde nos aguarda uma surpresa. Entramos na sala da loja e um ecrã gigante saúda: “A BOAS QUINTAS dá as boas-vindas à Revista Vinho Grandes Escolhas; Luís Francisco e Ricardo Palma Veiga.” São uns queridos, mas claro que isto é especial para jornalistas… Mas não, não é. Sempre que possível, é uma atenção reservada a quem visita esta quinta com vista para Mortágua.
Da loja saímos para a vinha, onde pontificam as castas tradicionais do Dão (Touriga Nacional e o Encruzado à cabeça), mas também outras, incluindo os primeiros pés de Arinto de Bucelas plantados na região – influência evidente do perfil generalista do homem-forte da casa, o enólogo Nuno Cancela de Abreu, que faz vinho em quase todo o país. Aqui e ali descortinamos ninhos em madeira e também caixas para os morcegos, que são os predadores naturais da traça da videira.
Entramos pela adega, moderna e equipada para fazer face às ambições de uma empresa que aponta este ano ao milhão de garrafas. Aqui não encontramos cave de barricas (essa fica na casa de família de Nuno Cancela de Abreu, no centro de Mortágua), mas somos conduzidos ao salão onde se realizam as provas. E é por esta altura que começam as “dificuldades”…
Porque embarcamos em duas enriquecedoras experiências: O Jogo dos Aromas e O Meu Vinho. Na primeira, é preciso identificar os aromas em vários vinhos, usando, para comparar, uma caixa com 88 (!) essências diferentes e uma cábula com as famílias de fragrâncias que podemos encontrar no vinho. O segundo é mais “mãos na massa”: depois de provarmos três castas a solo (Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz), vamos compor o nosso próprio lote e engarrafá-lo. De caminho, se houver crianças no grupo, elas terão desenhado um rótulo. Isso e escrito uma carta para si próprios, que meterão numa garrafa com instruções para só a abrirem daí a cinco anos. Imaginação ao poder.
BOAS QUINTAS
R. Quinta da Gandarada, 14, 3450-335 Mortágua
Tel: 231 921 076 / 925 873 805
Mail: wines@boasquintas.com / rita.mendes@boasquintas.com
Web: www.boasquintas.com
Visitas das 10h às 12h e entre as 14h e as 18h, de segunda a sexta-feira, solicitando-se marcação antecipada com dois dias de antecedência. Visitantes sem marcação ou em horários diferentes e ao fim-de-semana ou feriados ficam sujeitos à disponibilidade da equipa. Há três níveis de prova de vinhos, com preços entre 4,5 euros e os 15 euros por pessoa. O Jogo dos Aromas fica por 20 euros por participante, com prémios por bom desempenho e prova de cinco vinhos; O Meu Vinho custa 25 euros por pessoa, incluindo prova de cinco vinhos e a garrafa criada na ocasião.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5ESTAÇÃO DE SERVIÇO
O Dão é uma manta de recantos e um puzzle de paisagens e experiências. Por isso, não se leve a mal que a nossa recomendação para abastecimento sólido contemple um leque vasto de boas mesas, noutras tantas localidades. E se nunca ouviu falar de lampantana, não deixe de visitar a última das propostas…
ZÉ PATACO – Rua do Comércio, 124, Canas de Senhorim; 232 671 121; restaurantezepataco@gmail.com
3 PIPOS – Rua St. Amaro, 966, Tonda, Tondela; 232 816 851; 3pipos@gmail.com
PALACE – Rua Paulo Emílio, 12, Viseu; 232 284 758; palace.viseu@gmail.com
ALDEIA SOL – Avenida do Reguengo, 281, Vila Meã, Mortágua; 231 929 127; aldeiasol@sapo.pt
Edição nº17, Setembro 2018
A nova casa do Pedra Cancela

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Em Carregal do Sal, no Dão, há uma propriedade que se distingue pelo enquadramento paisagístico e diversidade da flora que rodeia os vinhedos. A Vinha da Fidalga será daqui em diante a “base” da Pedra Cancela, marca […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Em Carregal do Sal, no Dão, há uma propriedade que se distingue pelo enquadramento paisagístico e diversidade da flora que rodeia os vinhedos. A Vinha da Fidalga será daqui em diante a “base” da Pedra Cancela, marca bandeira da Lusovini.
TEXTO Mariana Lopes
NOTAS DE PROVA Luís Lopes e João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Os vinhos Pedra Cancela têm sido produzidos com uvas da família Gouveia e outras propriedades na região do Dão, entre Viseu, Nelas e Mangualde. No ano 2000 a marca estreou-se pelas mãos do professor de viticultura e enólogo João Paulo Gouveia, a quem se juntou mais tarde a enóloga Sónia Martins, sendo que os Pedra Cancela são hoje parte integrante do projecto Lusovini, do qual ambos são sócios.
Naturalmente, com o crescimento e consolidação da marca principal da empresa, houve necessidade de lhe dar maior enquadramento vitícola, e isso concretizou-se na aquisição de uma propriedade com 25 hectares em Carregal do Sal. A Vinha da Fidalga é um refúgio onde a Lusovini já plantou quinze hectares de videiras e irá plantar mais cinco. “Queríamos cultivar castas que o Dão estava a perder e outras essenciais para os nossos vinhos”, esclareceu Sónia Martins, referindo-se ao conjunto de variedades que seleccionaram para a Vinha da Fidalga, algumas já em extinção na região e outras ainda mais inusitadas. Nesses quinze hectares foram inseridos Alfrocheiro, Aragonez, Barcelo, Cerceal-Branco, Encruzado, Terrantez do Dão, Touriga Nacional e Uva Cão; e nos próximos cinco surgirão Arinto do Interior, Douradinha, Gouveio, Malvasia Preta e Monvedro.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”27750″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Para o efeito, o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão foi um parceiro importante. No seu catálogo de castas recomendadas para a região podemos encontrar informações sobre algumas destas variedades pouco conhecidas: a Barcelo tem um potencial alcoólico elevado e acidez média, originando vinhos frutados e expressivos no aroma, sendo “muito semelhante ao Encruzado” e conferindo delicadeza e equilíbrio aos lotes; a Uva Cão tem também um teor alcoólico provável elevado mas a sua acidez é também alta, resultando em vinhos frutados, vivos e com riqueza ácida, com boa evolução em garrafa. Já a Douradinha (assim denominada pela cor dourada dos bagos), vinda da região dos Vinhos Verdes, é uma casta bastante tardia de produção elevada, cujos vinhos são contidos no aroma.
Sónia Martins disse ainda que “o objectivo é fazer vinhos diferentes, com coisas antigas” e daqui depreendemos que o número de referências Pedra Cancela irá aumentar, assim que as vinhas estejam aptas.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”27749″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Casimiro Gomes, fundador da empresa, já andava a “namorar” aquele pedaço de terra desde 1990. O arvoredo lá presente é invejável, composto por cedros, oliveiras, carvalhos americanos, nogueiras, aveleiras e outras mais. A pintalgar o solo, pelo meio das jovens videiras, está uma mistura de leguminosas em flor (trevo, serradela, etc.) que João Paulo e Sónia decidiram semear, para que estas captem o azoto atmosférico e o fixem no solo. Com planos para remodelar a casa antiga lá “esquecida”, Casimiro quer, num futuro próximo, fazer da Vinha da Fidalga um ponto de enoturismo importante do mundo Pedra Cancela. “Será a vinha de referência do nosso projecto”, garantiu.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
Edição Nº14, Junho 2018
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Dão, uma região em busca do seu estilo

A Escolha do Mestre Não é segredo ou novidade que a qualidade dos vinhos do Dão vem crescendo nos últimos anos. A região oferece vinhos únicos, interessantes e intrigantes e com isso tem conquistado óptimos resultados em competições nacionais e internacionais. Por esse motivo achei por bem ir em busca de vinhos tintos do Dão […]
A Escolha do Mestre
Não é segredo ou novidade que a qualidade dos vinhos do Dão vem crescendo nos últimos anos. A região oferece vinhos únicos, interessantes e intrigantes e com isso tem conquistado óptimos resultados em competições nacionais e internacionais. Por esse motivo achei por bem ir em busca de vinhos tintos do Dão que realmente oferecem boa relação entre custo e benefício para aquecer as longas e frias noites de inverno.
TEXTO: Dirceu Vianna Junior MW
FOTOS: Ricardo Palma Veiga
Após tomar a decisão passei a refletir sobre a região. Qual é o seu papel? O tem a oferecer ao consumidor? Quais os seus diferenciais? E será de facto uma região onde poderíamos guiar consumidores em busca de vinhos de bom custo benefício?
O Dão é uma região em transição. Em vários projetos nota-se uma preocupação em reconverter vinhedos e modernizar adegas. Enólogos experientes esbanjam confiança enquanto os profissionais mais jovens demostram criatividade e com isso aumenta o número de produtores que se destacam. Além disso as empresas de grande porte parecerem estar cada vez mais preocupadas em fazer vinhos de qualidade ao invés de quantidade – e isso é importante para que a região continue crescendo em prestígio.
A região possui uma rica história para contar, porém esse passado nem sempre é auspicioso pois muitos consumidores ainda continuam com a percepção de que o Dão é uma região de vinhos elaborados quase só por cooperativas e empresas de grande porte. Algumas falhas do passado ainda não foram totalmente apagadas da mente do consumidor e para algumas pessoas a região ainda não possui vinhos com um perfil claramente definido. Certamente existe um trabalho a ser feito em relação à comunicação.
A região caracteriza-se pela elevada diversidade edafoclimática e predominância de castas autóctones que, juntas, combinam para fazer vinhos autênticos. Os estilos de vinhos tintos variam desde exemplos mais leves e elegantes até vinhos encorpados e com taninos firmes. Em comum os vinhos apresentam frescor e estilo de frutas frescas e vibrantes. É comum ouvir comparações com vinhos da Borgonha, apesar de os vinhos do Dão geralmente apresentarem mais cor, perfil de fruta mais escura e estrutura mais firme. Examinando as minhas notas de prova dos últimos anos, confesso que raramente encontrei um vinho do Dão que tenha perfil suficientemente semelhante para ser confundido com um leve e delicado Savigny-lès-Beaune, um subtil e perfumado Volnay, um elegante Chambolle-Musigny ou com um exótico, encorpado e sedoso Gevrey-Chambertin, por exemplo.
Talvez o que o Dão tem mais em comum com Borgonha será a complexidade de uma região extremamente fragmentada e, aliado a isso, os desafios impostos por esses minifúndios, incluindo o custo elevado da viticultura. Por esse motivo eu questionei a minha decisão de buscar vinhos de bom custo/benefício na região do Dão: será realmente uma boa aposta para o consumidor? A resposta é enfaticamente “sim”, pois oferecer um vinho que tenha boa relação entre custo e benefício é indispensável para todo e qualquer produtor. Isso não significa necessariamente que o vinho deva ser um produto de baixo custo. Essa relação pode ocorrer em qualquer faixa de preço, contando que o consumidor tenha a percepção de que está recebendo bom retorno pela quantia de dinheiro que está saindo de seu bolso.
Qualidade, preço, perfil
Acredito que os vinhos listados abaixo oferecem uma relação adequada entre custo e beneficio. São vinhos elegantes, com óptimo frescor, cujo uso da madeira é bem julgado e sem excessos. A região, de modo geral não cedeu à pressão global de fazer vinhos alcoólicos e excessivamente amadeirados.
Quando bem feitos os vinhos do Dão reflectem muito bem a região, exibindo frescor e aromas intensos e intrigantes que incluem notas de frutas escuras, ervas secas, pinho, eucalipto e especiarias doces. Esses aromas selvagens e exóticos arrancam o consumidor das suas cadeiras e transportam-nos até à região. São vinhos que expressam o terroir do Dão e mostram-se realmente inigualáveis. Apesar das suas merecidas qualidades, o obstáculo principal em relação aos vinhos na região é o facto de os taninos muitas vezes pareceres firmes demais para o consumidor internacional, que frequentemente não tem tempo, espaço ou paciência para envelhecer as suas preciosas garrafas e acabam consumindo vinhos demasiadamente jovens e muitas vezes sem comida. Enfim, os vinhos são consumidos cedo demais, antes de poderem mostrar as suas reais qualidades e atingir o seu potencial.
Os produtores deveriam reflectir e considerar seriamente refinar o perfil e estilo de vinho para determinado segmento do mercado, sem sacrificar o carácter e tipicidade. Caso optem por fazer vinhos para serem apreciados cedo, o que parece estar acontecendo na grande parte dos casos devido à realidade comercial do negócio, o processo de extração deve ser feito mais delicadamente. Assim sendo, esses vinhos certamente dariam mais prazer ao consumidor na hora de beber. Talvez assim pudéssemos voltar a pensar em fazer comparações com sedosos tintos da Borgonha, pois elegância e frescor os vinhos do Dão possuem em abundância.
Por outro lado, se o objetivo for realmente elaborar vinhos de guarda, os produtores deveriam considerar o exemplo dos grandes produtores de Brunello di Montalcino ou Piemonte e realmente fazer vinhos de guarda, vinhos estruturados, envelhecê-los nas suas próprias adegas, lançá-los no momento adequado e cobrar o preço que reflicta o trabalho, tempo e investimento necessário para elaborar grandes clássicos. Não existe motivo para que os produtores do Dão não mostrem mais ambição e se empenhem para fazer alguns dos melhores vinhos de guarda do planeta.
A região tem muito a oferecer ao consumidor, mas ficar no meio termo em relação ao seu estilo é perigoso. Potencial a região tem (e muito!) e isso já está comprovado. Basta examinar os resultados de concursos nacionais e internacionais dos últimos anos e nota-se que a região do Dão regularmente triunfa quando comparada com regiões vizinhas. Lembro-me quando há pouco tempo tive o privilégio e a responsabilidade de selecionar 50 Grandes Vinhos Portugueses para o mercado brasileiro. Vinhos de todas regiões integraram a lista final. Fiquei impressionado com a relação entre custo e beneficio oferecido por vários vinhos da região dos Vinhos Verdes ou com a consistência dos vinhos do Douro, mas entre os vinhos que mais me chamaram a atenção estavam os vinhos do Dão, devido à sua alta qualidade, carácter e personalidade distinta.
Comunicar mais e melhor
Além de melhor clareza com relação ao estilo dos vinhos, o que pode ajudar a região dar os próximos passos? Na opinião de pessoas que vivem e conhecem a região intimamente, existe um longo caminho a percorrer. José Perdigão, proprietário da Quinta do Perdigão, acredita que o trabalho de educação e divulgação deve iniciar-se dentro do próprio país. Observa frequentemente a falta de conhecimento dos consumidores quando presente em eventos nacionais e acredita que aulas básicas de iniciação à prova dos vinhos asseguradas por enólogos, críticos e sommeliers seria um bom início. Paulo Nunes, enólogo da Casa da Passarella, acredita que a região sofre devido ao facto de não ter escala para fazer grandes campanhas publicitárias e a solução é fazer um trabalho intenso de comunicação juntos dos canais específicos. Deve ser um trabalho muito focado, comparável ao trabalho feito pelos missionários na idade dos Descobrimentos, diz ele. Para Sandra Alves Soares, que está à frente da sua empresa familiar, Soito Wines, a solução para pequenos e médios produtores que não dispõem de recursos financeiros para investir em grandes campanhas de marketing é trazer consumidores para a região e tornar os seus vinhos mais visíveis, levando quem prova a associar o vinho às pessoas, à região, às tradições, à história e à paisagem vitícola. Trata-se de dar a conhecer e vender o vinho pela região, não apenas colocar o produto lá fora ao lado dos outros, como sendo apenas mais um vinho.
Pedro Mendonça, director executivo da Comissão Vitivinícola da Região do Dão (CVRD), defende que a região não é tão desconhecida em termos internacionais como muitos pensam, mas concorda que existe muito trabalho a desenvolver em termos de divulgação. Por esse motivo a CVRD está no processo de desenvolvimento de um plano estratégico de comunicação para os próximos 10 anos que pretende abranger o consumidor final, media e trade.
O que é que o Dão tem a oferecer e qual a mensagem que a região deve tentar passar ao consumidor? Pedro Mendonça acredita que as influências mediterrânica, atlântica e continental ajudam a proporcionar um ambiente único, sem paralelo em qualquer outra região no mundo. Influências climáticas, juntamente com as principais castas da região, como Touriga Nacional e Encruzado, ajudam formar um carácter regional fortemente distintivo com base na elegância e, além disso, os vinhos destacam-se também pela sua inquestionável capacidade de envelhecimento.
Para Lígia Santos, jovem CEO da adega familiar Caminhos Cruzados, o Dão tem tudo isso a oferecer e muito mais. A região precisa divulgar projectos familiares, tradicionais, sustentáveis focados na qualidade e produções controladas. Para Lígia, a região exibe uma identidade forte que não tem cedido a perfis internacionais, mantendo o foco nas suas castas e na sua tradição. Lígia vai além e diz que para consumidores que procuram vinhos diferentes, que refletem o local onde são feitos, que são elegantes, perduram e melhoram no tempo e que são ideais para a mesa, não há região como o Dão. Em conversa com produtores locais é fácil constatar a energia, paixão, orgulho e confiança de quem está trilhando o caminho certo.
Sem dúvida a região tem vinhos excelentes, diferentes e muito a oferecer aos consumidores que buscam vinhos distintos e autênticos. No entanto, o estilo precisa de ser refinado e feito com mais precisão para se assegurar que o consumidor tenha uma grande experiência toda a vez que optar por uma garrafa de vinho da região. Existem várias e boas ideias de grandes profissionais do que fazer e de como fazer para comunicar com o consumidor. Será que numa região fragmentada, onde ainda se detectam comportamentos um pouco individualistas, é possível atingir consenso e trabalhar em conjunto para o bem comum? Esperamos e acreditamos que sim. Sendo assim, mais garrafas de vinho do Dão irão aparecer nas mesas dos consumidores, não apenas em Portugal, mas também em vários cantos do mundo.