Dois vizinhos que se miram nas águas do Douro

Na terra onde os homens esculpiram montanhas em nome do vinho, o que não falta são belos locais para estar e apreciar um bom copo. Escolhemos dois, um do lado da estrada mais movimentada, o outro na margem oposta do rio Douro. Cada um deles é um miradouro privilegiado dos encantos do vizinho da frente. […]
Na terra onde os homens esculpiram montanhas em nome do vinho, o que não falta são belos locais para estar e apreciar um bom copo. Escolhemos dois, um do lado da estrada mais movimentada, o outro na margem oposta do rio Douro. Cada um deles é um miradouro privilegiado dos encantos do vizinho da frente.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez
Entre a Régua e o Pinhão corre uma das estradas mais cénicas do mundo, a EN222, uns 25 quilómetros de curvas suaves à beira do rio Douro que são, para muitos viajantes, a primeira, e inesquecível, visão que têm da anacrónica paisagem duriense. O rio, antes selvagem, agora domado pelas barragens, flui suavemente mesmo ao lado do asfalto, mas a placidez do espelho de água serve apenas para enfatizar o dramatismo da moldura de encostas talhadas à mão, com as vinhas penduradas sobre o abismo. O vale do Douro é um local mágico e arrebatador.
O mundo há muito que ouvia falar dessas terras longínquas e misteriosas, de onde saíam barcos carregados de pipas, desafiando rápidos e curvas traiçoeiras, rio abaixo, até aos armazéns de Gaia e do Porto onde a alquimia do tempo e a sabedoria dos homens produziam um dos mais espantosos néctares do planeta. O Vinho do Porto era conhecido, mas tudo o resto era apenas um mapa, desenhado ainda nos tempos do Marquês de Pombal, uma mancha de desconhecido num país rústico e periférico.
Mas os tempos mudaram. Hoje o Douro é muito mais do que a história e a sedução do Vinho do Porto. Para começar, porque uma parte significativa da sua produção nos surge agora sob a forma de vinhos tranquilos. Depois, porque os encantos dessas paragens começaram a ser descobertos. Quando, a 14 de Dezembro de 2001, a UNESCO classificou a paisagem natural do Douro Vinhateiro como Património da Humanidade, foi dado o passo decisivo para a afirmação da região como destino turístico.
Hoje, as águas do rio são sulcadas por navios de cruzeiro, as vetustas linhas de comboio ganharam nova clientela, pelas estradas circulam milhares de visitantes. Há até quem chegue de helicóptero às quintas mais selectas, onde superlativas unidades hoteleiras ou alojamentos mais típicos abrem as suas portas, com o copo e o prato sempre sobre a mesa. O vinho moldou esta paisagem arrebatadora e continua a ser o seu grande embaixador, é certo. Mas o Douro do século XXI é uma experiência global dos sentidos.
É uma região enorme, esta que se aninha em torno do terceiro maior rio da Península Ibérica (897km, desde a nascente, a 2160 metros de altitude, na serra de Urbión, Espanha, até à foz, entre o Porto e Gaia) e dos seus afluentes. A Região Demarcada do Douro, criada em 1756 e que reclama o estatuto de mais antiga do mundo, estende-se por cerca de 250.000 hectares, e foi dividida em três sub-regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, progredindo de Oeste para Leste. Começa em Barqueiros, concelho de Mesão Frio, onde a temperatura média anual ronda os 13,8ºC, com uma precipitação média de 1244mm; e vai até Barca d’Alva, já na fronteira com Espanha, onde os extremos de temperatura são mais vincados (a média anual é de 15,5ºC) e chove muito menos (652mm).
Os números e a poesia
A mera observação empírica permite concluir, sem margem para dúvidas, que o movimento turístico é cada vez mais intenso no vale do Douro. Mas há números para sustentar esta percepção. Apesar de as estatísticas oficiais não individualizarem a zona, o relatório anual do Instituto Nacional de Estatística relativo a 2018 destaca o Norte como a região onde se registou um maior aumento de dormidas (8,5%) face ao ano anterior. Sintomaticamente, outra região em que o vinho é cada vez mais um argumento de sedução, o Alentejo, aparece a seguir, com um crescimento de 7,6 por cento. O Norte liderou também no número de novas unidades hoteleiras (mais 10,5%).
No que se refere ao turismo rural e de habitação, outra vez a zona mais setentrional de Portugal a assumir a liderança: o Norte tem mais de um terço (37,8%) da oferta nacional no sector e é também a que regista maior procura no panorama nacional, com 30,1 por cento das dormidas. Mais uma vez, o Alentejo aparece no segundo lugar, com 24,3%. No conjunto do país, os estabelecimentos de turismo no espaço rural e de habitação registaram quase 850 mil hóspedes em 2018, 6,8 por cento mais do que em 2017.
Há procura e a oferta está cada vez mais diversificada. No Douro, os encantos da paisagem e a magia dos vinhos atraem cada vez mais gente e o sector do enoturismo profissionalizou-se a uma velocidade estonteante. Há pouco mais de uma década, contavam-se pelos dedos das mãos as unidades hoteleiras bem estruturadas e quem se “atrevia” a viajar pela região por conta própria facilmente bateria com o nariz na porta de muitas quintas. Hoje, o panorama é completamente diferente. Produtores unem-se para criar rotas comuns, outros colaboram de forma mais ou menos informal; restaurantes, museus e sítios históricos entram nos roteiros; a região abriu as suas portas e por elas passa gente de todo o mundo.
E, no entanto, o Douro continua a ser um espaço de mistérios, de encantamento. Em cada recanto encontramos a paixão dos homens e o rigor austero da Natureza abraçando-se em paisagens inesquecíveis. O Douro Vinhateiro é uma gloriosa insanidade e, à falta de talento próprio, apropriemo-nos da escrita de Miguel Torga: “O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta.”
Vamos até lá.
A Quinta dos Frades é enorme, mas já foi muito maior. Os 200 hectares actuais (75 dos quais de vinha) já foram quase o dobro, até que a barragem de Bagaúste, inaugurada em 1973, fez subir as margens do rio, engolindo de caminho vinhas centenárias. Estamos na margem direita do Douro, a poucos quilómetros da Régua pela EN222, e o portão da propriedade surge-nos um pouco antes da povoação de Folgosa e do seu cais. Entramos e a paisagem parece engolir-nos.
Para quem já esteve no relvado de um grande estádio de futebol, a sensação imediata é que estamos rodeados de anéis de bancadas, mas aqui, junto à adega onde já começaram a chegar as uvas desta vindima, em vez de adeptos ruidosos, o que vemos são plácidas vinhas velhas (cerca de 100 anos) ordenadamente dispostas em linhas sem muros que se alongam até quase fecharem o horizonte. Não há mecanização possível: todo o trabalho tem de ser feito à mão ou com a ajuda de machos.
A quinta está nas mãos da família Ferreira há quatro gerações, mas a sua origem remonta ao século XIII (1256), então propriedade da Ordem de Cister, estabelecida no Mosteiro de Salzedas – os frades, que lhe estão no nome, tinham neste local a possibilidade de produzir vinho, pão e azeite, a que juntavam frutos como as laranjas, os figos ou as amêndoas. Durante décadas, a quinta vendeu a sua produção para grandes casas de Vinho do Porto, mas desde 2008 começou a reservar parte das uvas para as suas marcas próprias, de que faz actualmente cerca de 100.000 garrafas anuais.
Passeamos pela adega, com os seus lagares de granito, o tecto em madeira moderno mas respeitando o visual antigo, uma salinha panorâmica para provas lá ao fundo, os móveis feitos com partes de barricas. É uma adega típica do Douro, desenhada para tirar partido da gravidade, pelo que o patamar inferior é destinado ao armazenamento e lá encontramos 17 balseiros a roçar o século de existência – os maiores têm capacidade para 30.000 litros.
Está na hora de subirmos para conhecer as vinhas, mirar o marco pombalino de 1756 (um dos primeiros a serem colocados na região), provar as uvas e deslumbramo-nos, uma e outra vez, com a grandiosidade da paisagem em volta. Havemos ainda de passar pelo exterior do solar, com o seu jardim romântico, torres com ameias e canhões à porta; e depois vamos saborear os vinhos da quinta numa casa de chá com azulejos mouriscos e um sedutor pátio circular sobre o Douro. Mas é sempre aqui que fica a nossa memória, nesta panorâmica sobre o rio e as encostas que os homens esculpiram.
Do outro lado do rio, mesmo em frente, curioso, as vinhas são diferentes.
QUINTA DOS FRADES
Quinta dos Frades, Folgosa, Armamar
Tel: 254 858 241 | 910 129 112
Mail: enoturismo@predialferreira.pt
Web: www.quintadosfrades.pt
GPS: 41.149134, -7.684180
As visitas carecem de marcação antecipada e a política da quinta é fazer sessões privadas, ou seja, não juntar pessoas que não se conheçam. Mínimo dois participantes, máximo oito, embora já tenham aceite até 12. A quinta está aberta de segunda a sábado e tem dois horários diários para visita, de manhã e à tarde. A prova simples de vinhos custa 15 euros por pessoa; com passeios pela adega e vinhas/marco pombalino passa a 20 euros por pessoa (ou 90 se a opção for provar os vinhos-ícone da quinta). Flexibilidade para acomodar outras pequenas actividades, como passeios pela floresta junto à casa de chá.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
Serão uns 200 metros, em linha recta, mas é preciso recuar um pouco na direcção da Régua, transpor o paredão da barragem e enfrentar as curvas da estrada do outro lado do rio para chegarmos à Quinta dos Murças. Não é nada que assuste, mas fica desde já a informação de que nas Murças existe um barco movido a energia solar que pode ir buscar-nos à outra margem… Isto se não optarmos por chegar de comboio e sair mesmo à porta – a quinta tem acesso directo ao apeadeiro de Covelinhas.
Quando lá chegamos, as silhuetas românticas da Quinta dos Frades estendem-se ao longo do horizonte. Atrás de nós, encosta acima, a paisagem tão diferente que apercebemos quando estávamos do outro lado do rio: a Quinta dos Murças tem as mais antigas vinhas verticais do Douro (a primeira data de 1947). Sim, também há algumas que progridem horizontalmente ao longo da vertente, suportadas pelos característicos muros de pedra, mas a imagem de marca deste local são mesmo as vinhas dispostas perpendicularmente à margem.
A quinta tem 155 hectares (48 de vinha), estende-se ao longo de 3,2km de linha de rio e abarca uma diversidade enorme de parcelas, que sobem até cotas bem altas na montanha. Vir para aqui significou o primeiro grande investimento do Esporão fora do Alentejo e a aposta enoturística foi reforçada com a abertura recente de cinco quartos para alojamento. Junto à casa, uma piscina abrigada do vento pisca-nos o olho, mas também se está muito bem na varanda sobre o Douro, ou nos restantes espaços comuns. Os quartos são visualmente simples, condizendo com a atmosfera da casa, mas estão muito bem equipados. A recepção funciona na loja.
Descemos para a adega, com os seus sete lagares em granito, os balseiros e as barricas, enquanto falamos dos vinhos da casa. Fazem-se 700.000 garrafas, contando com a marca Assobio, feita com uvas compradas. Mas se falar é bom, provar é muito melhor. Juntemo-nos a um grupo de representantes de importadores dos EUA para conhecermos melhor o que por aqui se engarrafa. A sala de provas divide o seu espaço em duas áreas: uma de estar, com sofás; a outra de provas, onde encontramos uma grande mesa em madeira (que emula a peça icónica criada para as caves da Herdade do Esporão), estantes com garrafas e um ecrã onde vamos acompanhando o vídeo que nos ajuda a perceber o que temos no copo.
Lá fora, um terreiro com árvores e um repuxo aproxima-nos das águas do Douro. Estamos no final da tarde, o sol está mais suave, os pássaros fazem-se ouvir, as vinhas repousam na sombra das curvas da encosta. Tudo está em descanso nesta paisagem serena, nascida selvagem e amansada pelo suor dos homens.
QUINTA DOS MURÇAS
Covelinhas, Peso da Régua
Tel: 213 031 540 (Esporão)
Mail: reservas.murcas@esporao.com
Web: www.esporao.com/pt-pt/sobre/quinta-dos-murcas/
GPS: 41.153314, -7.688143
O programa de visitas e provas começa na caminhada com prova de vinhos Douro (10 euros por pessoa) e pode ir até aos 50 euros (passeio de barco com prova de vinhos). A visita à adega e vinhas, mais prova de vinhos Douro, custa 20 euros e as refeições saem a 30 euros por pessoa (25 para os hóspedes; crianças: 10 euros). Os quartos single custam 120 ou 140 euros (época baixa/alta), a área familiar (4 pessoas) fica por 230/250 euros, o aluguer da casa completa (10 pessoas) pode ser feito por 600/750 euros.Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
No Douro come-se bem e durante algum tempo a oferta de boa mesa não conseguiu acompanhar a explosão de popularidade da região. Isso, no entanto, está a mudar, com novas propostas a aparecerem e casas mais tradicionais a renovarem-se. Na Régua, a porta de entrada do Douro Vinhateiro, não é difícil encontrar boas estações de serviço para reabastecimento sólido. Deixamos-lhe três opções, uma mais económica e tradicional (Cacho D’Oiro), outra multifunções (Castas & Pratos, que é restaurante, wine bar, loja e lounge) e uma terceira que dispensa apresentações (DOC, do chef Rui Paula). Bom apetite! Acompanhe com vinhos da região e, se lhe apetecer respirar fundo para ajudar a digestão, não se esqueça que o sublime miradouro de S. Leonardo da Galafura é mesmo ali ao lado.
DOC – EN 222, Folgosa, Armamar | Tel: 254 858 123 / 910 014 040 | Mail: doc@ruipaula.com
CACHO D’OIRO – Travessa dos Aflitos 120, Peso da Régua | Tel: 254 321 455
CASTAS & PRATOS– Av. José Vasques Osório, Peso da Régua | Tel: 254 323 290 / 927 200 010 | Mail: info@castasepratos.com
Edição nº30, Outubro 2019
Douro tinto, a hora dos magníficos

São grandes tintos do Douro, mas são sobretudo grandes vinhos em qualquer parte do mundo. Em poucas décadas, muitos dos vinhos não fortificados da região saíram de um quase anonimato para se tornarem nomes distinguidos pelos apreciadores de todo o mundo. A viticultura de montanha e a enorme diversidade da região fazem do Douro um […]
São grandes tintos do Douro, mas são sobretudo grandes vinhos em qualquer parte do mundo. Em poucas décadas, muitos dos vinhos não fortificados da região saíram de um quase anonimato para se tornarem nomes distinguidos pelos apreciadores de todo o mundo. A viticultura de montanha e a enorme diversidade da região fazem do Douro um cadinho onde se constrói a excelência.
TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga
A região do Douro parece ter um íman, algo que atrai de forma irresistível quem se aproxima. Não são só os visitantes turistas, são também os profissionais do sector, sejam eles jornalistas, sommeliers, importadores, distribuidores e todos os apreciadores de vinho. A paisagem e as qualidades naturais da região para originar um grande vinho são razões que bastam para que a tal atracção não tenha parado de crescer nos últimos anos. É verdade que há um “visitante de raspão” que passa sem verdadeiramente entrar na região, que vê a paisagem do seu barco de turismo e que não chega a entender nada de nada, mas, e ainda bem, há cada vez mais turistas que querem ver, falar, palmilhar caminhos e descobrir os vinhos do Douro. Para um turismo de qualidade requer-se uma oferta que lhe corresponda e o Douro tem conhecido um enorme desenvolvimento neste campo. Todos beneficiam com isso. O tema da atracção poderia estender-se a uma quantidade de produtos que se dão muito bem na região, desde o azeite aos produtos hortícolas, dos citrinos aos frutos secos. Terra abençoada dizem uns, terra difícil e muitas vezes ingrata dizem os que lá vivem.
A produção de vinho DOC Douro interessa cada vez a mais produtores que tradicionalmente já eram produtores de uvas para Porto. Não se estranha assim que surjam constantemente novas marcas que procuram entrar no mercado em patamares elevados de preço, o que não é fácil. Não é fácil vender, desde logo por falta de empresas de distribuição dispostas a agarrar mais uma marca; e o consumidor precisa de reconhecer uma qualidade continuada à marca para estar disponível para pagar caro por uma garrafa. Muitos desses vinhos são editados em quantidades muito limitadas que, por outro lado, não chegam a todo o país. O tema é de difícil resolução e a oferta de vinhos DOC Douro a preços elevados é muito, muito grande. A qualidade poderá amplamente justificar o que se paga, mas esse não é o único factor a ter em conta na formação do preço de uma garrafa de vinho.
A região continua a produzir mais Vinho do Porto do que DOC Douro, com o Cima Corgo a ser a principal sub-região, logo seguida pelo Baixo Corgo e, bem mais abaixo, o Douro Superior. No total falamos, dados relativos a 2018, de cerca de 38,5 milhões de litros, sensivelmente metade do que a região produz em Vinho do Porto. Já em termos de vinho comercializado, o Douro já suplantou o Porto em virtude da lei do terço que obriga os operadores do Vinho do Porto a apenas poderem comercializar 1/3 do stock. Os vinhos IG Duriense (que conhecemos pelo nome de Vinhos Regionais) têm aqui uma expressão muito pequena, principalmente se comparados com outras regiões do país. Do ponto de vista das variedade de uva utilizadas, as principais são as tradicionais (ver caixa) e as castas vindas de fora (da região ou do país) são raramente plantadas. Temos assim uma área de vinha de cerca de 40 000 hectares aptos à produção de vinhos Douro e um pouco mais de mil agentes (1.082), que vão dos pequenos produtores-engarrafadores aos armazenistas (engarrafadores não vinificadores) e grandes empresas produtoras.
Da produção ao comércio
Os vinhos DOC Douro não são dos mais consumidos entre nós (estão bem atrás do Alentejo e Vinho Verde, por exemplo) mas são dos que têm mais procura em alguns segmentos do mercado, nomeadamente na gama média/alta dos apreciadores. Jaime Vaz, da Garrafeira Nacional em Lisboa, tem cerca de 500 referências de vinhos do Douro. Neste número incluem-se, naturalmente, várias colheitas da mesma marca (Pintas, Quinta do Vale Meão, por exemplo) e se pensarmos apenas em marcas diferentes, diz-nos Jaime, serão cerca de 400. O negócio de uma garrafeira é bem diferente do de uma grande superfície e aqui vêm sobretudo consumidores que são conhecedores e estrangeiros que procuram os grandes nomes da região. Não se estranha assim que cerca de metade dos vinhos que estão disponíveis nas prateleiras se situem numa gama de preço acima dos €40. A procura tem crescido, têm sido acrescentadas novas marcas mas nada que “dê vazão” à quantidade enorme de produtores que aparecem na loja com a expectativa de ali poderem vender os seus vinhos. As mais recentes entradas na lista da Garrafeira Nacional contemplam a Quinta da Vacaria, Quinta da Zaralhôa, Quinta do Côtto e Quinta do Vale da Perdiz (marca Cistus). Conseguir vender é o enorme desafio dos pequenos produtores.
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O negócio dos vinhos na região tem matizes que se têm alterado, tal como as condições climáticas. Tradicionalmente a zona do Baixo Corgo – fértil e com grande pluviosidade – era sobretudo a região onde se faziam vinhos do Porto das entradas de gama, onde se colhiam uvas com baixa graduação e pouca estrutura. A situação está a alterar-se com as mudanças climáticas e, ironicamente, para melhor. Segundo Paulo Ruão, enólogo da empresa Lavradores de Feitoria, a diminuição da chuva no Baixo Corgo veio a beneficiar os vinhos e, onde antes se encontravam vinhos com 11% de álcool hoje vendem-se com 13% e, mais importante, “os vinhos têm mais estrutura também por via de uma melhor viticultura; na zona de Mesão Frio, que está a ser cada vez mais procurada, conseguem-se comprar hoje vinhos de uma qualidade muito superior à que estávamos habituados há apenas 5 anos”. Este fenómeno liga-se directamente às alterações climáticas e, ainda segundo Paulo Ruão, “o desafio do futuro próximo é muito mais a adaptação das melhores castas do que a introdução da rega”.
É também esta a opinião de Manuel Vieira, enólogo consultor, que não se mostra muito preocupado com o futuro uma vez que “há que tirar partido do património de castas que temos e escolher as que melhor possam responder; também a localização das vinhas passará a ter uma importância fundamental e as encostas viradas a norte e as vinhas em altitude que outrora eram consideradas zonas menores, terão no futuro um papel fundamental”. Neste novo quadro é possível que se tenha de tomar mais atenção aos porta-enxertos, escolhendo sobretudo os mais resistentes à seca (que eram os que tradicionalmente e usavam na região) e é provável que algumas castas tendam a perder importância, como a Tinta Barroca, Tinta Amarela e Tinta Roriz. Ainda sobre o tema das castas, quer Manuel Vieira quer Paulo Ruão concordam com a capacidade da Touriga Nacional para responder a estes desafios mas há menos certezas em relação a castas que têm sido muito faladas como a Sousão, que precisa de clima fresco, como nos Verdes (Ruão) e a Alicante Bouschet que produz bem mas ainda é cedo para se perceber se será casta com muito futuro. E castas que antes amadureciam mal (como a Tinta Francisca) estão agora a dar muito boa resposta.
Há aqui um enorme desafio que se coloca às empresa e produtores: pesquisar, estudar e compreender muitas das castas antigas que estiveram “em arquivo” e apenas presentes nas vinhas velhas e que poderão responder bem às mudanças do clima. A região tem, no entanto, uma enorme vantagem, como salienta Paulo Ruão: o solo xistoso que permite a passagem das raízes entre os fragmentos da rocha e a capacidade do xisto de conservar alguma frescura mesmo em ambiente de pouca pluviosidade, são grandes vantagens, é algo de muito original no Douro”.
O negócio dos vinhos na região tem matizes que se têm alterado, tal como as condições climáticas. Tradicionalmente a zona do Baixo Corgo – fértil e com grande pluviosidade – era sobretudo a região onde se faziam vinhos do Porto das entradas de gama, onde se colhiam uvas com baixa graduação e pouca estrutura. A situação está a alterar-se com as mudanças climáticas e, ironicamente, para melhor. Segundo Paulo Ruão, enólogo da empresa Lavradores de Feitoria, a diminuição da chuva no Baixo Corgo veio a beneficiar os vinhos e, onde antes se encontravam vinhos com 11% de álcool hoje vendem-se com 13% e, mais importante, “os vinhos têm mais estrutura também por via de uma melhor viticultura; na zona de Mesão Frio, que está a ser cada vez mais procurada, conseguem-se comprar hoje vinhos de uma qualidade muito superior à que estávamos habituados há apenas 5 anos”. Este fenómeno liga-se directamente às alterações climáticas e, ainda segundo Paulo Ruão, “o desafio do futuro próximo é muito mais a adaptação das melhores castas do que a introdução da rega”.
É também esta a opinião de Manuel Vieira, enólogo consultor, que não se mostra muito preocupado com o futuro uma vez que “há que tirar partido do património de castas que temos e escolher as que melhor possam responder; também a localização das vinhas passará a ter uma importância fundamental e as encostas viradas a norte e as vinhas em altitude que outrora eram consideradas zonas menores, terão no futuro um papel fundamental”. Neste novo quadro é possível que se tenha de tomar mais atenção aos porta-enxertos, escolhendo sobretudo os mais resistentes à seca (que eram os que tradicionalmente e usavam na região) e é provável que algumas castas tendam a perder importância, como a Tinta Barroca, Tinta Amarela e Tinta Roriz. Ainda sobre o tema das castas, quer Manuel Vieira quer Paulo Ruão concordam com a capacidade da Touriga Nacional para responder a estes desafios mas há menos certezas em relação a castas que têm sido muito faladas como a Sousão, que precisa de clima fresco, como nos Verdes (Ruão) e a Alicante Bouschet que produz bem mas ainda é cedo para se perceber se será casta com muito futuro. E castas que antes amadureciam mal (como a Tinta Francisca) estão agora a dar muito boa resposta.
Há aqui um enorme desafio que se coloca às empresa e produtores: pesquisar, estudar e compreender muitas das castas antigas que estiveram “em arquivo” e apenas presentes nas vinhas velhas e que poderão responder bem às mudanças do clima. A região tem, no entanto, uma enorme vantagem, como salienta Paulo Ruão: o solo xistoso que permite a passagem das raízes entre os fragmentos da rocha e a capacidade do xisto de conservar alguma frescura mesmo em ambiente de pouca pluviosidade, são grandes vantagens, é algo de muito original no Douro”.
Desafios de futuro
Nos anos mais recentes a região conheceu um novo problema que em 2018 assumiu contornos de tragédia: a escassez de mão de obra na vindima. Os relatos que nos chegaram de produtores que queriam vindimar, tinham gente contratada e que no dia acordado tinham 5 pessoas quando tinham contratado 20 (este número é um mero exemplo) mostra bem o drama que se está a viver. O recurso a mão de obra estrangeira contratada apenas para a vindima não só é, dizem-nos, complicada do ponto de vista legal como tudo se agudiza por serem trabalhadores que vêm de países não produtores que de vinha nada percebem e de vinho não consomem. A solução, ainda com Paulo Ruão, tem duas direcções: pagar melhor a mão de obra e “já em 2019 notámos que por termos aumentado a jorna, tivemos menos dificuldade nos vindimadores e, nas zonas onde for possível, introduzir a máquina de vindimar”. As primeiras experiências no sentido da mecanização da vindima foram feitas pelo grupo Symington e os resultados são animadores. A Lavradores de Feitoria já usou este ano a vindima mecânica na zona vitícola do palácio de Mateus e os resultados, segundo Ruão, foram excelentes: “poder vindimar no dia e na hora que se quer, inclusivamente de noite, é um avanço tremendo; já estamos a rentabilizar a máquina alugando a produtores da zona.”
Charles e Rupert Symington estão a utilizar máquinas de vindimar em zonas difíceis com resultados animadores, sobretudo em patamares de um bardo. Não vai decorrer muito tempo para que se veja a replicação destas experiências.
Uma prova de excelência
Os vinhos que provámos são do melhor que se faz na região e em Portugal. Seria impossível estarem todos na nossa mesa de provas, mas percebe-se muito facilmente porque a região do Douro interessa a cada vez mais wine writers, winemakers, sommeliers e investidores estrangeiros. A originalidade do terroir do Douro é transmitida ao vinho e o que aqui tivemos é uma espécie de “passeio da fama” onde desfilam vinhos de enorme qualidade e carácter, vinhos que nos entusiasmam vivamente. O preço elevado a que muitos são vendidos é a certidão do reconhecimento nacional e internacional e reflecte a relação entre a oferta e a procura. São vinhos de excelência de uma região que, apesar dos desafios que enfrenta, atingiu já um elevadíssimo patamar. Sabendo que, com as condições de solo, clima, património varietal e sobretudo, dinamismo e talento dos seus viticólogos, enólogos e produtores, muito tem ainda para descobrir, crescer e oferecer aos apreciadores.
As tourigas e as outras
Tal como acontece com outras regiões, o Douro tem um universo muito extenso de variedades que podem entrar na composição dos lotes, quer de brancos quer de tintos. Nas vinhas velhas encontramos uma proliferação enorme de castas, algumas delas “esquecidas”, mas actualmente a conhecerem mais notoriedade, como a Alicante Bouschet, a Tinta Francisca, Tinta da Barca ou Tinta Carvalha, por exemplo. No entanto, apesar da escolha ser enorme, a verdade é que a história e a tradição foram impondo como mais importantes um conjunto relativamente restrito de castas. São estas que constituem a espinha dorsal dos tintos da região. Em primeiro lugar a Touriga Franca, desde sempre a casta mais plantada, a que mais adaptada está a um clima de intenso calor estival e de produtividade baixa; depois, a Touriga Nacional, com notável “boom” nos anos 90 e que veio a impor-se como casta diferenciadora, cada vez mais casada com a Touriga Franca. Muitos dos vinhos que avaliámos nesta prova resultam de lotes destas duas castas. A Tinta Roriz surge em seguida, já foi mais apreciada, mas continua a ser uma referência, fazendo parte do “núcleo duro” das castas durienses. Menos usada nos vinhos de topo, mas muito presente na região, a Tinta Amarela (Trincadeira). As castas “de tempero” estão a adquirir cada vez mais importância, como Sousão e Tinto Cão, agora acrescentadas das novas variedades renascidas, como a Donzelinho tinto, Bastardo, Casculho ou Malvasia Preta. A Tinta Barroca está tendencialmente a desaparecer dos vinhos DOC Douro sendo apenas usada para fazer Vinho do Porto. A produtividade, apesar de estar autorizada até aos 55hl/hectare, situa-se por norma nos 30 hectolitros, o que mostra a baixa produção que é característica da região.
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Rola Vinha das Marias
Tinto - 2016 -
Quinta de Ventozelo
Tinto - 2016 -
Pacheca Lagar nº 1
Tinto - 2015 -
João & Maria
Tinto - 2014 -
Castello d’Alba
Tinto - 2017 -
Casa Velha
Tinto - 2016 -
Zom
Tinto - 2015 -
Vinhas do Cerval
Tinto - 2013 -
Vale de Pios as Tourigas
Tinto - 2007 -
Terras do Grifo
Tinto - 2015 -
Símbolo
Tinto - 2015 -
Quinta de S. José
Tinto - 2017 -
Quinta dos Quatro Ventos
Tinto - 2014 -
Quinta do Cume
Tinto - 2015 -
Quinta da Côrte
Tinto - 2015 -
Quinta das Brôlhas
Tinto - 2016 -
Passagem
Tinto - 2017 -
Pai Horácio
Tinto - 2015 -
Morvalley
Tinto - 2016 -
Maria de Lourdes
Tinto - 2016 -
Laura
Tinto - 2015 -
Fronteira
Tinto - 2016 -
Flor do Côa
Tinto - 2015 -
Charme
Tinto - 2017 -
Cadão Vinhas Velhas
Tinto - 2014 -
Borges
Tinto - 2015 -
Andreza
Tinto - 2015 -
Vértice
Tinto - 2017 -
Velhos Bardos
Tinto - 2017 -
Vallegre Vinhas Velhas
Tinto - 2015 -
Quinta do Vesúvio
Tinto - 2017 -
Quinta da Romaneira
Tinto - 2017 -
Quinta do Portal
Tinto - 2016 -
Quinta do Pessegueiro Plenitude
Tinto - 2015 -
Quinta dos Lagares VV 44
Tinto - 2014 -
Quinta da Gricha
Tinto - 2017 -
Quinta da Extrema Edição II
Tinto - 2016 -
Quinta do Crasto Vinhas Velhas
Tinto - 2016 -
Quinta da Carolina
Tinto - 2016 -
Monte Cascas Vinhas Velhas
Tinto - 2015 -
Maritávora
Tinto - 2016 -
La Rosa
Tinto - 2017 -
Foz Torto Vinhas Velhas
Tinto - 2016 -
Duorum Old Vines
Tinto - 2017 -
Duas Quintas
Tinto - 2017 -
Dona Matilde
Tinto - 2015 -
Dona Berta Vinha Centenária
Tinto - 2012 -
Cottas
Tinto - 2013 -
Tecedeiras
Tinto - 2017 -
Quinta da Leda
Tinto - 2016 -
Poeira 42 barricas
Tinto - 2016 -
Carvalhas
Tinto - 2017 -
Quinta do Vallado Field Blend
Tinto - 2017 -
Quinta do Vale Meão
Tinto - 2017 -
Quinta do Noval
Tinto - 2016 -
Pintas
Tinto - 2017 -
Lavradores de Feitoria Três Bagos
Tinto - 2015 -
Quinta dos Murças
Tinto - 2015
Edição Nº31, Novembro 2019
A face mais Verde do Douro

As regiões de fronteira valem sempre mais do que a soma das partes que ficam de cada um dos lados da linha imaginária. E esta regra torna-se ainda mais evidente quando falamos de vinhos. Nas margens do Douro, mas em terra de Verdes, paisagem, património e mesa sempre posta conjugam-se numa experiência única. TEXTO Luís […]
As regiões de fronteira valem sempre mais do que a soma das partes que ficam de cada um dos lados da linha imaginária. E esta regra torna-se ainda mais evidente quando falamos de vinhos. Nas margens do Douro, mas em terra de Verdes, paisagem, património e mesa sempre posta conjugam-se numa experiência única.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez
Portugal é, todo ele, uma imensa região vitivinícola. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, a vinha faz parte da paisagem, o vinho é objecto de paixões e os dois entrelaçam-se no tecido cultural deste rectângulo à beira-mar plantado. Mas esta “globalização” não se faz de unanimidades nem de padronizações de gostos e sabores. Pelo contrário: cresce e multiplica-se em diversidades que aguçam a curiosidade e enriquecem o retrato geral. Se esta é uma realidade incontornável para quem procura descobrir os vinhos portugueses, ainda mais se acentua quando visitamos as zonas de fronteira entre regiões. Foi o que fizemos desta vez, lançando-nos à descoberta da face mais Verde do Douro.
A região dos Vinhos Verdes é extensa e muito variada, desde os microclimas de Monção e Melgaço às especificidades de cada rio que a atravessam, das margens do Atlântico às agrestes escarpas do rio Douro, das terras altas aos vales férteis. Há vinhos de produção maciça e pérolas raras, sabores unânimes e experiências diferenciadoras, grandes casas e pequenos produtores. Que todo este mosaico se encaixe num puzzle que construiu uma das imagens mais fortes e abrangentes da indústria vitivinícola portuguesa pode parecer surpreendente, mas é mais uma homenagem à qualidade dos vinhos que por aqui se fazem. O Vinho Verde tem um nome e uma alma.
Essa capacidade para se diferenciar acaba por ficar ainda mais evidente na região de confluência entre os Verdes e o Douro. Andámos por terras de Baião e Resende para confirmar que, apesar da paisagem assumidamente duriense, há um toque de frescura e de mineralidade que autentica a assinatura Verdes. De caminho, não resistimos a uma escapadela até Penafiel, onde vive um dos gigantes da região. Justa homenagem a uma casa com história e património, mas também uma oferta enoturística que surpreende quem fizer as contas e concluir que estamos praticamente às portas da cidade do Porto, a meio caminho entre o mar e a vertigem vertical das terras de Resende.
Mas é aqui, no limite oriental da região dos Verdes, com o Douro contorcendo-se lá ao fundo, que iniciamos o nosso roteiro enoturístico, desta vez marcado também pela presença maciça (e saborosa) de árvores de fruto. A cereja (e a de Resende tem muita e justificada fama) já foi colhida, segue-se a ameixa. Para muitos pequenos produtores, a vinha passa momentaneamente para segundo plano, mas nunca fica esquecida. E isso fica bem evidente na primeira paragem. Um caminho empedrado leva-nos do asfalto até ao terreiro da propriedade. De um lado, uma fila de cerejeiras, do outro, a vinha. Chegámos à Quinta da Massôrra.
A primeira impressão é quase contraditória. Há três cães que nos recebem com os seus latidos, mas percebe-se que o silêncio está apenas a ser beliscado. As casas, cobertas de hera, e o arvoredo envolvem-nos numa calma apaziguadora, mas para além delas a paisagem é dramática, com grandes montanhas no horizonte e desníveis impressionantes até ao rio. Não demora muito até assimilarmos tudo isto numa certeza incontestável: o local é belíssimo!
Rui e Anabela Cardoso gerem uma propriedade familiar com 12 hectares, quatro dos quais cobertos de vinha. O resto é um mar de fruta: cerejas (há 23 variedades, incluindo uma que pode ser colhida logo em finais de Abril) e ameixas, principalmente, mas também toranjas, nêsperas, laranjas, peras… Há visitantes que vêm por causa do vinho e acabam a apanhar fruta; outros procuram a quinta por causa da fruta e acabam a degustar um copo de vinho. Em 2018 passaram por aqui mais de 2000 pessoas.
Depois de uma “excursão” ao pomar, para apanhar ameixas, Rui abre as portas da loja da quinta e fala-nos do seu carácter peregrino: está em funcionamento há quase 20 anos, numa altura em que nem se falava de enoturismo e, a bem da verdade, nem se produzia ainda vinho na Quinta da Massôrra. Por força nas suas funções, à altura, no Instituto do Vinho do Porto, Rui visitou outros países e ficou a conhecer o que os produtores faziam para atrair visitantes. Quando se estabeleceu na quinta, acabou por abrir uma loja onde vendia vinhos dos “vizinhos” e outros produtos locais.
Ao lado, sempre nos baixos da casa principal e abrindo para um pátio panorâmico com a horta em primeiro plano, a vinha e os pomares a seguir e depois uma imensidão de serranias em equilíbrio precário sobre as águas do Douro, está a adega. Pequena (a produção anual anda pelas 10.000/15.000 garrafas), mas funcional, com dois lagares em granito e uma prensa manual no meio, agora já sem uso, mas que acentua o carácter artesanal das instalações.
Cá fora, um tanque com água delimita o fantástico pátio panorâmico, a mesa rodeada de cadeiras, pormenores rústicos de decoração em redor. A cobertura do pátio está forrada a hera, tal como todas as casas, formando um conjunto de grande beleza e tranquilidade – com o bónus de as folhas mudarem de cor ao longo do ano, fornecendo uma experiência visual sempre diferente.
Quem vem aqui não esquece. E pode sempre reavivar a memória com os vinhos da casa. Rui garante que cerca de 60 por cento da sua produção é absorvida, directa ou indirectamente, por quem visita a Quinta da Massôrra.
QUINTA DA MASSÔRRA
S. João de Fontoura, Resende
Tel: 254 871 578 / 965 053 820
Mail: geral@quintadamassorra.com
Web: www.quintadamassorra.com
GPS: N 41º6’32’’ | W 7º 55’ 27’’
Os visitantes são recebidos pelos proprietários, que vivem na quinta, pelo que a propriedade está aberta a visitas todos os dias, sugerindo-se contacto telefónico prévio. No terreiro da casa, pendurada numa árvore, está uma sineta, para avisar da chegada. A visita custa 7,5 euros por pessoa. Possibilidade de organizar outros programas sob consulta.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
Da margem esquerda do Douro para a margem direita. De um projecto enoturístico com quase duas décadas a outro acabadinho de nascer. A Quinta de Santa Teresa, concelho de Baião, é a propriedade mais recente da A&D Wines, juntando-se à Casa do Arrabalde e à Quinta dos Espinhosos. Com 66 hectares (33 de vinha) espalhando-se ao longo de um cotovelo nas encostas que conduzem ao rio Douro, é a maior de todas. E também a mais bonita, graças a um património, natural e edificado, verdadeiramente notável.
A adega fica cá em baixo, junto à estrada, mas é preciso cumprir mais algumas curvas para alcançarmos a casa principal, primeiro, e as instalações de enoturismo, lá no alto. Um pavilhão de estrutura metálica e paredes de vidro paira sobre a piscina para acolher os visitantes. Esta original palafita, de onde se vislumbra o rio e se espraia o olhar por serranias e casario, está assente sobre uma laje que transformou a piscina de saltos num enorme reservatório de água. Ao lado, as piscinas para adultos e crianças estão operacionais.
Para quem visita a quinta, é aqui que tudo começa e acaba. Mas, pelo meio, há muito para conhecer. E deslumbrar. Ao longo da estrada empedrada que percorre toda a propriedade deparamo-nos com muros ciclópicos que sustentam os terraços de vinha, encontramos jardins e hortas, algumas pequenas construções, bicharada surpreendente (a quinta funciona em regime biológico), tanques e minas de água. E até damos de caras com um colossal pé de videira pré-filoxérico, com mais de 200 anos e que cobre uma área aproximada de 20 metros quadrados. Em 2018, produziu 230kg de uva da casta Avesso – alguém se deu ao trabalho de contar todos os cachos… e eram 580!
Mais velha é a videira do que a casa da quinta, que data de 1951. Aliás, com vinhas a rondar os 100 anos, percebe-se que esta sempre foi terra de vinho. O Douro começa logo ali acima, a escassos metros das últimas vinhas da quinta, onde o terreno deixa de ser granítico e passa a ser de xisto. Bate certo.
Ao fundo, um bosque promete frescura e belos cenários naturais para passear. Mas o que os homens construíram mostra-se bem à altura da generosidade da Natureza: jardins românticos, recantos e escadarias que proporcionam privacidade e silêncio, estátuas, fontes, painéis de azulejo. Se isto não é o cenário ideal para um hotel de charme, então não percebemos nada do assunto… “Um dia!”, prometem os proprietários.
Até lá, é preciso partir quando termina a visita. Há quem se faça desentendido e vá ficando de copo na mão – de vez em quando, alguns até se atiram à piscina…
QUINTA DE SANTA TERESA
Rua de Arufe, 530; Loivos da Ribeira, Baião
Tel: 229 419 378/9
Mail: info@andwines.pt
Web: www.andwines.pt
A quinta está aberta para provas e visitas todos os dias, das 10h às 18h; ao fim-de-semana solicita-se marcação antecipada. O número máximo sugerido de participantes por grupo é de 12 pessoas. A prova com visita à quinta custa 15 euros por pessoa (20 euros com tapas) e há duas provas standard: Monólogo e Avesso, ambas com três vinhos. O visitante pode, no entanto, escolher entre os diferentes vinhos do portefólio da casa. Outros programas e actividades mediante consulta.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 1,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18
A coerência é uma virtude, mas quando levada ao extremo pode tornar-se limitativa. E, por isso, viramos costas à zona de transição entre Verdes e Douro e internamo-nos assumidamente na primeira, rumo a Penafiel, onde, com o Porto a meia hora de distância, encontramos um dos mais notáveis jardins portugueses. E muito mais, como se há-de relatar. Estamos na Quinta da Aveleda.
Em 2018, passaram por aqui 27.000 visitantes, a que se podem juntar outros 23.000 que optaram por visitar apenas a loja. São números impressionantes, mas ainda muito longe do potencial deste local. Os jardins são espantosos – dez hectares (é um dos maiores jardins privados do país) de floresta variada (120 espécies, incluindo exemplares gigantes), recantos ajardinados (há, por exemplo, 90 espécies diferentes de camélias), lagos, espaços abertos e construções pitorescas, povoados por uma fauna riquíssima, que até inclui uma raposa.
Quatro em cada cinco visitantes não são portugueses, o que motiva a equipa de enoturismo da Aveleda a apostar mais na divulgação interna deste local mágico. É que, para além dos jardins, há todo um património edificado que justifica a visita. Uma cozinha tradicional, a cocheira (com carruagens, arreios e outros aprestos da arte equestre), o imponente terreiro da eira, a loja e sala de provas, a vetusta Adega Velha onde, ao som de música monástica, repousam as aguardentes, em centenas de pipas de madeira. Há torres com ameias, paredes cobertas de hera, espigueiros, alpendres e varandas panorâmicas, chaminés incríveis. Em redor, uma centena de hectares de vinha recorda-nos que tudo isto foi construído à volta do vinho.
O enoturismo na Aveleda começou há muito tempo, nos anos 1960/70, apenas porque os donos dos hotéis na costa entre Esposende e Espinho convenceram os proprietários – a família Guedes – a abrirem portas a visitas e provas, para criarem programas que pudessem diversificar a experiência proporcionada aos seus hóspedes. Mas este regime semi-informal só começou a mudar há cerca de quatro anos, com a crescente aposta no sector.
Hoje, a Aveleda é um mar de tranquilidade e beleza, mas também um caldeirão de ideias e projectos. Novos espaços, novas funcionalidades, criação de núcleos museológicos nas casinhas do jardim (algumas delas transportam-nos de imediato para a terra dos hobbits), mais e melhores programas. Mas, na essência, já está tudo lá: uma belíssima moldura natural e arquitectónica para uma experiência vínica de grande qualidade. A apenas meia hora da cidade do Porto, nunca é de mais repetir.
QUINTA DA AVELEDA
Rua da Aveleda, nº 2, Penafiel
Tel: 255 718 242 / 255 718 266
Mail: enoturismo@aveleda.pt; loja.aveleda@aveleda.pt
Web: www.aveleda.pt
GPS: 41.208511 | -8.308196
Visitas guiadas todos os dias às 10h, 11h30, 15h e 16h30, com marcação antecipada. O custo está incluído no das provas de vinho, que podem ir desde os 10 euros por pessoa (Standard – três vinhos) até aos 70 euros por pessoa (Exclusiva – quatro vinhos, mais aguardente). Refeições entre 40 e 80 euros por pessoa, harmonizações entre 5 e 15 euros por pessoa. Há vários programas especiais no menu, incluindo o Momentos Aveleda (64,5 euros com almoço) ou o Make Your Own Wine (40 euros). A quinta acolhe eventos e organiza workshops. A loja está aberta de segunda a sábado (9h-13h/14h-18h).
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18,5
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Os ares do campo abrem o apetite e nem só de vinho vive o Homem… Por isso, aqui ficam duas sugestões para reabastecer o corpo e a alma enquanto vagueamos por terras dos Verdes com vista para o Douro. Muito mais haveria para escolher, mas desta vez destacamos um restaurante urbano e outro rural. Em Penafiel, a Casa Sapo promete surpreender quem julga que já viu de tudo à mesa e exibe uma bela colecção de camisolas de futebol autografadas. Na Gralheira, a 1100 metros de altitude, o Recanto dos Carvalhos recebe-nos numa das terras mais altas de Portugal, por entre uma paisagem verdadeiramente magnífica. Leve fome, traga belas recordações.
- CASA SAPO – Lugar da Estrada, nº 24; Irivo, Penafiel | Tel: 255 752 326
- RECANTO DOS CARVALHOS – Gralheira | Tel: 255 571 566 / 962 020 038 | GPS: 41.003960 – 7.969811
Edição nº28, Agosto 2019
Quinta da Pacheca brilha nos prémios Best of Wine Tourism

O complexo enoturístico da Quinta da Pacheca, em pleno Douro vinhateiro, é o vencedor absoluto português dos prémios «Best of Wine Tourism 2020», uma competição a nível mundial promovida pela “Rede de Capitais de Grandes Vinhedos – Great Wine Capitals Global Network”. O prémio foi atribuído pelo júri internacional, numa cerimónia que teve lugar na […]
O complexo enoturístico da Quinta da Pacheca, em pleno Douro vinhateiro, é o vencedor absoluto português dos prémios «Best of Wine Tourism 2020», uma competição a nível mundial promovida pela “Rede de Capitais de Grandes Vinhedos – Great Wine Capitals Global Network”.
O prémio foi atribuído pelo júri internacional, numa cerimónia que teve lugar na cidade francesa de Bordéus, seguindo-se agora a etapa da eleição do preferido do público, cuja votação termina a 21 de Novembro.
O projecto enoturístico da empresa conheceu um impulso maior em 2018, com a inauguração dos wine barrels, suites em forma de pipos gigantes, que são já um ex-libris na oferta de estadia na região. Dentro de poucos meses, a Quinta da Pacheca estará equipada com uma nova ala do actual The Wine House Hotel, dotada de mais 24 quartos. Completarão a oferta um spa com tratamentos de vinoterapia, uma piscina exterior, um novo restaurante e uma nova sala de provas, com maior capacidade de lotação.
AETERNUS: Um vinho para a eternidade

TEXTO João Geirinhas Como celebrar a vida de um Homem que se confunde com a sua obra? Como homenagear o empresário que marcou uma época? Mais importante que tudo, como eternizar o nome de um Pai? Luísa Amorim, CEO da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, pensou que a melhor maneira de o conseguir […]
TEXTO João Geirinhas
Como celebrar a vida de um Homem que se confunde com a sua obra? Como homenagear o empresário que marcou uma época? Mais importante que tudo, como eternizar o nome de um Pai? Luísa Amorim, CEO da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, pensou que a melhor maneira de o conseguir seria fazer um vinho. Não mais um vinho, que desses e bons já os fazia com metódica regularidade. Desta vez teria de ser um vinho que marcasse a diferença, que fosse sublime, claro, mas que transportasse consigo toda a emoção que a saudade amplia e que o enlevo da filha exigia.
Como dizia o Poeta, o homem sonha e a obra nasce. O vinho é o Aeternus e Américo Amorim o homem que o inspira. Da colheita de 2017, data da sua morte, um vinho quer vencer a lei da vida e desafia assim a eternidade. Luísa explica que “Américo Amorim sabia que o futuro só tinha lugar se preservássemos a história de um lugar. Adorava o Douro, os socalcos centenários, e os quilómetros de muros de xisto”, amava o vinho de tal forma que quando vendeu a empresa produtora que detinha na altura, quis conservar esse pequeno pedaço de paraíso que era a Quinta Nova e o entregou à mão cuidadora da filha Luísa, intuindo que esta garantia a continuidade do legado. Luísa desafiou a equipa de viticultura liderada pela Ana Mota e entusiasmou o enólogo Jorge Alves na tarefa de conceber e produzir o vinho que cumprisse o desígnio.
Tinha de ser um vinho raro. De um ano quente e seco como o Douro nos presenteia. Feito a partir das vinhas centenárias das encostas xistosas da Quinta Nova. A produção, baixíssima, não chega a meio quilo por planta e a concentração era evidente. A vindima foi precoce, como se a natureza tivesse pressa em apresentar o seu fruto. Daí para a frente, os dados estavam lançados e o vinho cumpria o seu destino. Os 12 meses de estágio em barricas novas de carvalho francês burilaram o perfil. E as provas sucessivas acabaram por afinar o conjunto. Pouco mais que 3500 garrafas que estarão no mercado a €140. Desvendado ali, na noite da sua apresentação perante dezenas de convidados, na casa que foi da família e que é hoje da Fundação Albertina Ferreira de Amorim, Aeternus é mais que um vinho, é sobretudo a sua circunstância e quando o comentamos não podemos esquecer isso. Evoca o Douro clássico, mas transcende a região porque projecta a emoção de uma memória que é viva e que se quer perene. Eterna, é claro.
Vinicom “agarra” vinhos Montez Champalimaud

A distribuidora Vinicom passa agora a distribuir, em exclusivo, os vinhos Quinta do Côtto, do Douro, e Paço de Teixeiró, dos Vinhos Verdes, referências da casa Montez Champalimaud. Miguel Montez Champalimaud, actual administrador da empresa, revela que, com esta parceria, pretendem “reforçar o projecto de reposicionamento dos vinhos da Quinta do Côtto e Paço de […]
A distribuidora Vinicom passa agora a distribuir, em exclusivo, os vinhos Quinta do Côtto, do Douro, e Paço de Teixeiró, dos Vinhos Verdes, referências da casa Montez Champalimaud.
Miguel Montez Champalimaud, actual administrador da empresa, revela que, com esta parceria, pretendem “reforçar o projecto de reposicionamento dos vinhos da Quinta do Côtto e Paço de Teixeiró”, e acrescenta: “Estas são duas marcas que beneficiam de uma enorme reputação junto do consumidor, pelo que procurámos um parceiro dinâmico e dedicado que partilhasse não apenas a nossa ambição, mas sobretudo os nossos valores e filosofia”.
Já Duarte Sousa Coutinho, director comercial da Vinicom, assume ser “um enorme privilégio poder integrar os vinhos da casa Montez Champalimaud no nosso portefólio, que se vê agora reforçado. Ambas as marcas são detentoras de uma longa história e de muito prestígio no mercado nacional, pelo que é a nossa responsabilidade garantir que serão trabalhadas com rigor e um profundo respeito. Esta é, aliás, a nossa filosofia há mais de 15 anos”.
O Legado de um Homem

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] Mais do que um lançamento, uma homenagem. O Legado tinto 2014, sétima edição do seu género, chegou como celebração de Fernando Guedes, o seu criador. TEXTO Mariana Lopes Para todos os que aqui estão, este é […]
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Mais do que um lançamento, uma homenagem. O Legado tinto 2014, sétima edição do seu género, chegou como celebração de Fernando Guedes, o seu criador.
TEXTO Mariana Lopes

Para todos os que aqui estão, este é o seu legado e foi ele que nos reuniu à volta desta mesa”, foi a premissa deixada por Fernando Cunha Guedes (à direita, na foto), actual presidente da Sogrape e filho de Fernando Guedes, o sonhador do vinho a que chamou Legado. “Isto foi o que ele deixou para os que vêm a seguir. Um homem que era a nossa fonte de inspiração e motivação, que era o nosso grande amigo”, rematou.
Quando em 2006 o patriarca desafiou o enólogo Luís Sottomayor (à esquerda, na foto) para fazer este tinto, fêlo porque a vinha o despertou para tal. Na Quinta do Caêdo, em Ervedosa do Douro, a vinha centenária de oito hectares dispõe-se em socalcos num cenário deslumbrante, um anfiteatro esculpido solo abaixo que, pela sua idade e imponência, só poderia ser inspirador de algo maior. Com produções muito baixas (apenas um ou dois cachos por videira), esta vinha pré-filoxérica é trabalhada apenas à mão e com a ajuda de um macho, o que já dá uma ideia da especificidade do local e do equilíbrio natural que a Sogrape pretende manter. Todas estas características, juntamente com uma exposição a Poente e sol generoso, contribuem para o ADN do Legado, fazendo dele um vinho que é espelho da sua origem e da vinha que lhe dá matéria.
Vinificado na adega da Quinta da Leda, no Douro Superior, e estagiado durante 24 meses, em barrica nova, nas caves de Vila Nova de Gaia, o Legado tinto 2014 tem Touriga Franca, Touriga Nacional, Donzelinho, Tinta Roriz, Tinta da Barca, Rufete, Tinta Amarela, Tinta Bar¬roca, e outras em quantidade residual. Luís Sottomayor confessou: “Falar sobre este vinho é muito fácil, porque não há nada de artificial nele. A única preocupação que temos é vindimar, que é a única alteração à natureza que fazemos. O que o marca é a personalidade e o carácter, apenas divergindo o ano de colheita. Não há segredo nenhum”. E é verdade, ao Legado o que não falta é carácter, pois só um vinho assim consegue este fantástico equilíbrio com a barrica nova. Sobre o ano que foi tudo menos típico e fácil, Luís explicou que se contornaram os efeitos das adversidades neste vinho fazendo-se três vindimas, tendo sido duas delas executadas antes das chuvas de meados de Setembro que afectaram a colheita das uvas tintas em quase todas as regiões. O resultado é um tinto superelegante e fino, mas pleno de personalidade e complexidade.
“É o primeiro Legado que apresento sem a presença de um homem que, tal como este vinho, tem personalidade, carácter, elegância e presença”, disse Sottomayor. “Faz jus ao Sr. Fernando Guedes”.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]Edição Nº25, Maio 2019
Lua Cheia em tom de Bronze

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] De uma quinta em Vale Mendiz e de uma vinha de Barcelos, surgem agora o tinto Quinta do Bronze e o Maria Bonita Barrica Loureiro. Dois vinhos que mostram muito bem a versatilidade da Lua Cheia […]
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De uma quinta em Vale Mendiz e de uma vinha de Barcelos, surgem agora o tinto Quinta do Bronze e o Maria Bonita Barrica Loureiro. Dois vinhos que mostram muito bem a versatilidade da Lua Cheia em Vinhas Velhas e do enólogo Francisco Baptista.
TEXTO Mariana Lopes FOTOS cortesia do produtor
Como tantas estórias do mundo do vinho, esta começa com um “bicho atrás da orelha”. O projecto Lua Cheia em Vinhas Velhas (LCVV) iniciou-se em 2009, fruto da paixão de dois bairradinos, Francisco Baptista e Manuel Dias, pela região do Douro, com vinhos brancos da zona de Murça. Em 2010 já tinham adega, em Martim, e em 2012 já faziam Alvarinho em Monção. Um ano depois, puseram pé no Alentejo e, em 2015, no Dão. Daí nasceram marcas já bem consolidadas como Lua Cheia, Andreza, Poseidon, Maria Bonita, Maria Papoila ou Insurgente, entre outras. Mas foi algures entre todas essas aventuras que teve início a que deu origem aos dois novos vinhos, lançados em Março.
“Queríamos adquirir uma propriedade para tintos, uma que fosse mesmo nossa”, contou Francisco Baptista, enólogo da LCVV. Esse desejo foi concretizado em 2012, com a compra de 12 hectares de vinha (agora já são mais) em Vale Mendiz, no Cima Corgo do Douro. Na altura eram vinhas com 15 e 30 anos, a 350 metros do rio, das quais Francisco e Manuel queriam fazer um vinho que se identificasse com a sua filosofia, um tinto menos pesado, com equilíbrio. Desde o início que fizeram vários ensaios: começaram pela zona mais baixa e foram subindo, até encontrarem a identidade que procuravam. Mas só com a colheita de 2015 sentiram que acertaram no perfil e na qualidade, surgindo daí o Quinta do Bronze tinto 2015. De Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinto Cão, este vinho estagiou em barricas durante 24 meses e esteve um ano em garrafa, tendo sido feitas cerca de 6 mil garrafas. Recentemente, Francisco Baptista deu início à limpeza de ruínas presentes na quinta e, para sua surpresa, encontrou lagares de xisto e prensas, tudo muito antigo. A propriedade tem também uma vinha centenária, da qual o enólogo aproveita material vegetativo, para reprodução.

A génese do Maria Bonita Barrica Loureiro 2017 é também ela curiosa. Em 2011, a LCVV fez uma parceria com um hospital psiquiátrico, e uma ordem religiosa de Barcelos, que tinha vinhas nos seus terrenos. A primeira resolução foi reabilitar os vinhedos e plantar Loureiro. “Queríamos que os pacientes se sentissem num espaço bonito e à vontade para passear naqueles 34 hectares de vinha”, contou Francisco Baptista. Trinta desses hectares são, neste momento, de Loureiro e quatro de Sauvignon Blanc e Alvarinho. Por trás do hospital-convento, havia patamares de Loureiro com 35 anos e Francisco decidiu fazer algo diferente dessa uva: fermentou-o em barricas usadas, vindas do Douro. Assim, este Maria Bonita estagiou oito meses nessas barricas e mais oito em garrafa, materializando-se em 2 mil exemplares.
A Lua Cheia em Vinhas Velhas tem já uma multiplicidade de faces, é certo, mas ainda não fica por aqui. Francisco Baptista descortinou, entusiasmado: “Estamos prestes a fazer Baga, na Bairrada. Para nós, faz todo o sentido”.
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[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]Edição Nº24, Abril 2019