Visitantes das Caves de Vinho do Porto atingem número recorde em 2019

A AEVP – Associação das Empresas de Vinho do Porto, acaba de divulgar que, em 2019, o número de visitantes das Caves de Vinho do Porto certificadas (mais info aqui) bateu um novo recorde, atingindo 1 376 243, número notável que traduz um aumento de 8.8% face ao ano anterior, e de 6.1% em relação […]
A AEVP – Associação das Empresas de Vinho do Porto, acaba de divulgar que, em 2019, o número de visitantes das Caves de Vinho do Porto certificadas (mais info aqui) bateu um novo recorde, atingindo 1 376 243, número notável que traduz um aumento de 8.8% face ao ano anterior, e de 6.1% em relação a 2017 que, até à data, tinha sido o melhor ano de sempre.
De notar que o nível de qualidade e de profissionalismo das Caves é certificado pela SGS, que o classifica como “Exemplar”.
O quadro com todos os números, disponibilizado pela AEVP:
Foto: Real Companhia Velha
Dia dos Namorados: “Experiência na Adega” da Casa Relvas

Com mais um Dia dos Namorados a chegar, a Casa Relvas tem uma sugestão de enoturismo para passar este dia da melhor maneira. Para os maiores apreciadores ou para os mais curiosos do mundo vitivinícola, o produtor de vinhos alentejano apresenta uma proposta original e sugere a “Experiência na Adega”, um voucher disponível em duas […]
Com mais um Dia dos Namorados a chegar, a Casa Relvas tem uma sugestão de enoturismo para passar este dia da melhor maneira.
Para os maiores apreciadores ou para os mais curiosos do mundo vitivinícola, o produtor de vinhos alentejano apresenta uma proposta original e sugere a “Experiência na Adega”, um voucher disponível em duas opções:
• Prova de Castas Portuguesas & Tapas, que inclui visita à adega, prova de castas portuguesas e tapas para duas pessoas – €50
• Almoço na Adega, que inclui visita à adega, prova de vinhos Herdade de São Miguel e almoço, para duas pessoas – €80
Estes vouchers estão disponíveis para compra através do email enoturismo@casarelvas.pt, ou do telefone +351 917 295 358, até dia 14 de Fevereiro de 2020, e com validade até 1 de Dezembro de 2020.
Dois vizinhos que se miram nas águas do Douro

Na terra onde os homens esculpiram montanhas em nome do vinho, o que não falta são belos locais para estar e apreciar um bom copo. Escolhemos dois, um do lado da estrada mais movimentada, o outro na margem oposta do rio Douro. Cada um deles é um miradouro privilegiado dos encantos do vizinho da frente. […]
Na terra onde os homens esculpiram montanhas em nome do vinho, o que não falta são belos locais para estar e apreciar um bom copo. Escolhemos dois, um do lado da estrada mais movimentada, o outro na margem oposta do rio Douro. Cada um deles é um miradouro privilegiado dos encantos do vizinho da frente.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez
Entre a Régua e o Pinhão corre uma das estradas mais cénicas do mundo, a EN222, uns 25 quilómetros de curvas suaves à beira do rio Douro que são, para muitos viajantes, a primeira, e inesquecível, visão que têm da anacrónica paisagem duriense. O rio, antes selvagem, agora domado pelas barragens, flui suavemente mesmo ao lado do asfalto, mas a placidez do espelho de água serve apenas para enfatizar o dramatismo da moldura de encostas talhadas à mão, com as vinhas penduradas sobre o abismo. O vale do Douro é um local mágico e arrebatador.
O mundo há muito que ouvia falar dessas terras longínquas e misteriosas, de onde saíam barcos carregados de pipas, desafiando rápidos e curvas traiçoeiras, rio abaixo, até aos armazéns de Gaia e do Porto onde a alquimia do tempo e a sabedoria dos homens produziam um dos mais espantosos néctares do planeta. O Vinho do Porto era conhecido, mas tudo o resto era apenas um mapa, desenhado ainda nos tempos do Marquês de Pombal, uma mancha de desconhecido num país rústico e periférico.
Mas os tempos mudaram. Hoje o Douro é muito mais do que a história e a sedução do Vinho do Porto. Para começar, porque uma parte significativa da sua produção nos surge agora sob a forma de vinhos tranquilos. Depois, porque os encantos dessas paragens começaram a ser descobertos. Quando, a 14 de Dezembro de 2001, a UNESCO classificou a paisagem natural do Douro Vinhateiro como Património da Humanidade, foi dado o passo decisivo para a afirmação da região como destino turístico.
Hoje, as águas do rio são sulcadas por navios de cruzeiro, as vetustas linhas de comboio ganharam nova clientela, pelas estradas circulam milhares de visitantes. Há até quem chegue de helicóptero às quintas mais selectas, onde superlativas unidades hoteleiras ou alojamentos mais típicos abrem as suas portas, com o copo e o prato sempre sobre a mesa. O vinho moldou esta paisagem arrebatadora e continua a ser o seu grande embaixador, é certo. Mas o Douro do século XXI é uma experiência global dos sentidos.
É uma região enorme, esta que se aninha em torno do terceiro maior rio da Península Ibérica (897km, desde a nascente, a 2160 metros de altitude, na serra de Urbión, Espanha, até à foz, entre o Porto e Gaia) e dos seus afluentes. A Região Demarcada do Douro, criada em 1756 e que reclama o estatuto de mais antiga do mundo, estende-se por cerca de 250.000 hectares, e foi dividida em três sub-regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, progredindo de Oeste para Leste. Começa em Barqueiros, concelho de Mesão Frio, onde a temperatura média anual ronda os 13,8ºC, com uma precipitação média de 1244mm; e vai até Barca d’Alva, já na fronteira com Espanha, onde os extremos de temperatura são mais vincados (a média anual é de 15,5ºC) e chove muito menos (652mm).
Os números e a poesia
A mera observação empírica permite concluir, sem margem para dúvidas, que o movimento turístico é cada vez mais intenso no vale do Douro. Mas há números para sustentar esta percepção. Apesar de as estatísticas oficiais não individualizarem a zona, o relatório anual do Instituto Nacional de Estatística relativo a 2018 destaca o Norte como a região onde se registou um maior aumento de dormidas (8,5%) face ao ano anterior. Sintomaticamente, outra região em que o vinho é cada vez mais um argumento de sedução, o Alentejo, aparece a seguir, com um crescimento de 7,6 por cento. O Norte liderou também no número de novas unidades hoteleiras (mais 10,5%).
No que se refere ao turismo rural e de habitação, outra vez a zona mais setentrional de Portugal a assumir a liderança: o Norte tem mais de um terço (37,8%) da oferta nacional no sector e é também a que regista maior procura no panorama nacional, com 30,1 por cento das dormidas. Mais uma vez, o Alentejo aparece no segundo lugar, com 24,3%. No conjunto do país, os estabelecimentos de turismo no espaço rural e de habitação registaram quase 850 mil hóspedes em 2018, 6,8 por cento mais do que em 2017.
Há procura e a oferta está cada vez mais diversificada. No Douro, os encantos da paisagem e a magia dos vinhos atraem cada vez mais gente e o sector do enoturismo profissionalizou-se a uma velocidade estonteante. Há pouco mais de uma década, contavam-se pelos dedos das mãos as unidades hoteleiras bem estruturadas e quem se “atrevia” a viajar pela região por conta própria facilmente bateria com o nariz na porta de muitas quintas. Hoje, o panorama é completamente diferente. Produtores unem-se para criar rotas comuns, outros colaboram de forma mais ou menos informal; restaurantes, museus e sítios históricos entram nos roteiros; a região abriu as suas portas e por elas passa gente de todo o mundo.
E, no entanto, o Douro continua a ser um espaço de mistérios, de encantamento. Em cada recanto encontramos a paixão dos homens e o rigor austero da Natureza abraçando-se em paisagens inesquecíveis. O Douro Vinhateiro é uma gloriosa insanidade e, à falta de talento próprio, apropriemo-nos da escrita de Miguel Torga: “O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta.”
Vamos até lá.
A Quinta dos Frades é enorme, mas já foi muito maior. Os 200 hectares actuais (75 dos quais de vinha) já foram quase o dobro, até que a barragem de Bagaúste, inaugurada em 1973, fez subir as margens do rio, engolindo de caminho vinhas centenárias. Estamos na margem direita do Douro, a poucos quilómetros da Régua pela EN222, e o portão da propriedade surge-nos um pouco antes da povoação de Folgosa e do seu cais. Entramos e a paisagem parece engolir-nos.
Para quem já esteve no relvado de um grande estádio de futebol, a sensação imediata é que estamos rodeados de anéis de bancadas, mas aqui, junto à adega onde já começaram a chegar as uvas desta vindima, em vez de adeptos ruidosos, o que vemos são plácidas vinhas velhas (cerca de 100 anos) ordenadamente dispostas em linhas sem muros que se alongam até quase fecharem o horizonte. Não há mecanização possível: todo o trabalho tem de ser feito à mão ou com a ajuda de machos.
A quinta está nas mãos da família Ferreira há quatro gerações, mas a sua origem remonta ao século XIII (1256), então propriedade da Ordem de Cister, estabelecida no Mosteiro de Salzedas – os frades, que lhe estão no nome, tinham neste local a possibilidade de produzir vinho, pão e azeite, a que juntavam frutos como as laranjas, os figos ou as amêndoas. Durante décadas, a quinta vendeu a sua produção para grandes casas de Vinho do Porto, mas desde 2008 começou a reservar parte das uvas para as suas marcas próprias, de que faz actualmente cerca de 100.000 garrafas anuais.
Passeamos pela adega, com os seus lagares de granito, o tecto em madeira moderno mas respeitando o visual antigo, uma salinha panorâmica para provas lá ao fundo, os móveis feitos com partes de barricas. É uma adega típica do Douro, desenhada para tirar partido da gravidade, pelo que o patamar inferior é destinado ao armazenamento e lá encontramos 17 balseiros a roçar o século de existência – os maiores têm capacidade para 30.000 litros.
Está na hora de subirmos para conhecer as vinhas, mirar o marco pombalino de 1756 (um dos primeiros a serem colocados na região), provar as uvas e deslumbramo-nos, uma e outra vez, com a grandiosidade da paisagem em volta. Havemos ainda de passar pelo exterior do solar, com o seu jardim romântico, torres com ameias e canhões à porta; e depois vamos saborear os vinhos da quinta numa casa de chá com azulejos mouriscos e um sedutor pátio circular sobre o Douro. Mas é sempre aqui que fica a nossa memória, nesta panorâmica sobre o rio e as encostas que os homens esculpiram.
Do outro lado do rio, mesmo em frente, curioso, as vinhas são diferentes.
QUINTA DOS FRADES
Quinta dos Frades, Folgosa, Armamar
Tel: 254 858 241 | 910 129 112
Mail: enoturismo@predialferreira.pt
Web: www.quintadosfrades.pt
GPS: 41.149134, -7.684180
As visitas carecem de marcação antecipada e a política da quinta é fazer sessões privadas, ou seja, não juntar pessoas que não se conheçam. Mínimo dois participantes, máximo oito, embora já tenham aceite até 12. A quinta está aberta de segunda a sábado e tem dois horários diários para visita, de manhã e à tarde. A prova simples de vinhos custa 15 euros por pessoa; com passeios pela adega e vinhas/marco pombalino passa a 20 euros por pessoa (ou 90 se a opção for provar os vinhos-ícone da quinta). Flexibilidade para acomodar outras pequenas actividades, como passeios pela floresta junto à casa de chá.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
Serão uns 200 metros, em linha recta, mas é preciso recuar um pouco na direcção da Régua, transpor o paredão da barragem e enfrentar as curvas da estrada do outro lado do rio para chegarmos à Quinta dos Murças. Não é nada que assuste, mas fica desde já a informação de que nas Murças existe um barco movido a energia solar que pode ir buscar-nos à outra margem… Isto se não optarmos por chegar de comboio e sair mesmo à porta – a quinta tem acesso directo ao apeadeiro de Covelinhas.
Quando lá chegamos, as silhuetas românticas da Quinta dos Frades estendem-se ao longo do horizonte. Atrás de nós, encosta acima, a paisagem tão diferente que apercebemos quando estávamos do outro lado do rio: a Quinta dos Murças tem as mais antigas vinhas verticais do Douro (a primeira data de 1947). Sim, também há algumas que progridem horizontalmente ao longo da vertente, suportadas pelos característicos muros de pedra, mas a imagem de marca deste local são mesmo as vinhas dispostas perpendicularmente à margem.
A quinta tem 155 hectares (48 de vinha), estende-se ao longo de 3,2km de linha de rio e abarca uma diversidade enorme de parcelas, que sobem até cotas bem altas na montanha. Vir para aqui significou o primeiro grande investimento do Esporão fora do Alentejo e a aposta enoturística foi reforçada com a abertura recente de cinco quartos para alojamento. Junto à casa, uma piscina abrigada do vento pisca-nos o olho, mas também se está muito bem na varanda sobre o Douro, ou nos restantes espaços comuns. Os quartos são visualmente simples, condizendo com a atmosfera da casa, mas estão muito bem equipados. A recepção funciona na loja.
Descemos para a adega, com os seus sete lagares em granito, os balseiros e as barricas, enquanto falamos dos vinhos da casa. Fazem-se 700.000 garrafas, contando com a marca Assobio, feita com uvas compradas. Mas se falar é bom, provar é muito melhor. Juntemo-nos a um grupo de representantes de importadores dos EUA para conhecermos melhor o que por aqui se engarrafa. A sala de provas divide o seu espaço em duas áreas: uma de estar, com sofás; a outra de provas, onde encontramos uma grande mesa em madeira (que emula a peça icónica criada para as caves da Herdade do Esporão), estantes com garrafas e um ecrã onde vamos acompanhando o vídeo que nos ajuda a perceber o que temos no copo.
Lá fora, um terreiro com árvores e um repuxo aproxima-nos das águas do Douro. Estamos no final da tarde, o sol está mais suave, os pássaros fazem-se ouvir, as vinhas repousam na sombra das curvas da encosta. Tudo está em descanso nesta paisagem serena, nascida selvagem e amansada pelo suor dos homens.
QUINTA DOS MURÇAS
Covelinhas, Peso da Régua
Tel: 213 031 540 (Esporão)
Mail: reservas.murcas@esporao.com
Web: www.esporao.com/pt-pt/sobre/quinta-dos-murcas/
GPS: 41.153314, -7.688143
O programa de visitas e provas começa na caminhada com prova de vinhos Douro (10 euros por pessoa) e pode ir até aos 50 euros (passeio de barco com prova de vinhos). A visita à adega e vinhas, mais prova de vinhos Douro, custa 20 euros e as refeições saem a 30 euros por pessoa (25 para os hóspedes; crianças: 10 euros). Os quartos single custam 120 ou 140 euros (época baixa/alta), a área familiar (4 pessoas) fica por 230/250 euros, o aluguer da casa completa (10 pessoas) pode ser feito por 600/750 euros.Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
No Douro come-se bem e durante algum tempo a oferta de boa mesa não conseguiu acompanhar a explosão de popularidade da região. Isso, no entanto, está a mudar, com novas propostas a aparecerem e casas mais tradicionais a renovarem-se. Na Régua, a porta de entrada do Douro Vinhateiro, não é difícil encontrar boas estações de serviço para reabastecimento sólido. Deixamos-lhe três opções, uma mais económica e tradicional (Cacho D’Oiro), outra multifunções (Castas & Pratos, que é restaurante, wine bar, loja e lounge) e uma terceira que dispensa apresentações (DOC, do chef Rui Paula). Bom apetite! Acompanhe com vinhos da região e, se lhe apetecer respirar fundo para ajudar a digestão, não se esqueça que o sublime miradouro de S. Leonardo da Galafura é mesmo ali ao lado.
DOC – EN 222, Folgosa, Armamar | Tel: 254 858 123 / 910 014 040 | Mail: doc@ruipaula.com
CACHO D’OIRO – Travessa dos Aflitos 120, Peso da Régua | Tel: 254 321 455
CASTAS & PRATOS– Av. José Vasques Osório, Peso da Régua | Tel: 254 323 290 / 927 200 010 | Mail: info@castasepratos.com
Edição nº30, Outubro 2019
Toda a diversidade do Tejo

Aventurarmo-nos pelo Tejo enoturístico arrisca-se sempre a ser uma experiência incompleta, se a ideia for abarcar numa só tirada toda a realidade de uma região tão vasta e diversificada. Desta vez, porém, fomos à procura de casos especiais. Porque o Tejo descobre-se um bocadinho de cada vez, devagar, ao ritmo das águas do maior rio […]
Aventurarmo-nos pelo Tejo enoturístico arrisca-se sempre a ser uma experiência incompleta, se a ideia for abarcar numa só tirada toda a realidade de uma região tão vasta e diversificada. Desta vez, porém, fomos à procura de casos especiais. Porque o Tejo descobre-se um bocadinho de cada vez, devagar, ao ritmo das águas do maior rio da Península Ibérica.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez
Antes de mais, uma confissão. O título desta reportagem é manifestamente exagerado: ninguém consegue abarcar toda a diversidade da região vitivinícola do Tejo em dois dias. Na verdade, o que procurámos fazer foi ir à procura de locais que simbolizassem toda essa variedade de solos, microclimas, paisagens e realidades que dão origem a um mosaico de vinhos tão diverso. Nesse sentido, o que este título pretende salientar é essa riqueza, pegando em dois exemplos de como o Tejo tem sempre mais qualquer coisa para descobrir.
Antes de mais, a região é bastante grande: 17 mil hectares de vinha produzem cerca de 650 mil hectolitros de vinho, qualquer coisa à volta de dez por cento do total nacional. De Mação, a Leste, até Rio Maior, a Oeste. De Ferreira do Zêzere, a Norte, até Benavente e Coruche, a Sul. Sempre com o rio Tejo como espinha dorsal, a região abarca paisagens acidentadas e lezírias planas, zonas mais urbanas e outras de agricultura intensiva. E um dos pontos de união de todas estas peças do puzzle é o vinho.
No Tejo as vinhas fazem parte da paisagem e da vida das pessoas há milénios. Embora não haja evidências científicas absolutamente incontestadas, estima-se que se terá feito vinho em Portugal pela primeira vez por volta de 2000 a.C., pela mão dos Tartessos, a primeira grande civilização da Península Ibérica, varrida do mapa no século VI a.C. pelos Cartagineses e cuja capital se situaria no estuário do rio Guadalquivir. À boleia de contactos comerciais, a vinha terá começado a ser plantada nos vales do Tejo e do Sado há cerca de quatro mil anos.
Daí para cá, muita água passou por estes dois grandes rios da península, mas o vinho manteve-se sempre à tona. Na região do Tejo, no entanto, a longa história não chegou para manter o prestígio dos seus néctares, associados durante décadas à ideia de quantidade e não à qualidade. Produzia-se (e produz-se) muito no Tejo e muitos produtores, engarrafadores ou vendedores a granel de todo o país encontravam aí forma de compor os seus lotes. O vinho do Tejo estava em todo o lado, mas não tinha assinatura.
Os últimos anos trouxeram um movimento de recuperação do estatuto dos vinhos do Tejo, que procuram afirmar a sua qualidade e diversidade no panorama nacional. Para já, apenas cerca de 15 por cento (110 mil hectolitros) da produção é certificada, mas estes números estão em crescendo. E a qualidade vai-se afirmando.
O charme da fidalguia
A proximidade e a facilidade de acesso a partir de Lisboa (navegando o Tejo) levaram a que muitas famílias da aristocracia se virassem para esta região como zona de tempos livres. Nasceram as quintas e os palacetes, respirava-se o ar puro do campo em vez das pestilências da cidade, organizavam-se caçadas, criavam-se cavalos, realizavam-se touradas, comia-se, bebia-se e convivia-se em belas e românticas propriedades, algumas das quais conservaram todo o seu charme até aos dias de hoje.
E é aqui que o enoturismo entra, e em força. Um pouco por toda a região – a uma distância confortável de Lisboa e mais perto do Norte dada a sua posição central no país – produtores de vinho perceberam que os enoturistas hoje em dia são, essencialmente, turistas. Ou seja, não querem apenas conhecer adegas e provar vinhos. A experiência do vinho e da comida pode e deve estar associada a outros argumentos de sedução.
Um dos locais que visitámos nesta reportagem, a Quinta de Vale de Fornos, na Azambuja, é bem um exemplo disso mesmo: naqueles edifícios as forças francesas montaram quartel-general durante as invasões do século XIX e há quem defenda (numa versão ainda rodeada de alguns pontos de interrogação) que Cristóvão Colombo ali pernoitou – e talvez tenha mandado rezar missa – quando regressou das Américas e foi a Vale do Paraíso para se encontrar com D. João II.
Vale de Fornos tem ainda outra característica curiosa, esta directamente ligada ao universo vínico: nos seus 50 hectares de vinha, metade dos quais estão actualmente em remodelação, podemos encontrar os três terroirs típicos do Tejo: o Bairro, característico da margem direita do rio; o Campo, bordejando a linha de água; e a Charneca, na margem esquerda. Em si só, é um retrato da região, mas, curiosamente, podia nem ser, porque a sua localização coloca a propriedade mesmo na fronteira com a região vitivinícola de Lisboa. Foi dada aos proprietários a possibilidade de optar por uma delas e assim se decidiu que seria Tejo.
Um pouco mais a Norte, em Almeirim, também a Falua tem um contributo para dar à diversidade da região. Os solos do Tejo são maioritariamente constituídos por argilo-calcários na margem direita, mais acidentada; por aluviões, no leito do rio e seus afluentes; e por areias, na margem esquerda. Há também uma mancha de xistos perto de Tomar. E, depois, há a Vinha do Convento. Quatro metros de profundidade de pedra rolada, anacronicamente localizada numa colina, longe do curso do Tejo. Uma paisagem singular, talvez única em Portugal. Vamos até lá.
Fundada em 1994 por João Portugal Ramos, um dos nomes incontornáveis da história moderna do vinho português, a Falua passou entretanto a ser controlada maioritariamente pelo grupo agro-industrial francês Roullier, que aqui fez o seu primeiro grande investimento mundial no sector vitivinícola. Mas se a história é relativamente curta, essa contemporaneidade permite à empresa ter instalações modernas e muito funcionais, construídas de raiz aquando do lançamento do projecto. Adequar essa lógica de produção ao apelo enoturístico é agora um dos desafios deste grande (mais de seis milhões de garrafas/ano) produtor do Tejo.
O edifício cinzento-metalizado situado na zona industrial de Almeirim não é, manifestamente, um château… Mas há muito para descobrir lá dentro. Da sala da recepção passamos à nave das barricas, separada da zona social por uma parede em vidro e com acesso à adega do outro lado. O pé alto generoso, a ausência de luz exterior directa e uma climatização exemplar cumprem a dupla função de proporcionar excelentes condições de estágio para os vinhos e criar uma atmosfera especial.
Passeamos pelo meio das barricas e desembocamos na adega, primeiro na zona dos balseiros em madeira, depois através das alamedas de depósitos em inox. A higiene é aqui levada muito a sério, por opção da casa e por imposição das especificações internacionais que estão associadas à exportação para o Reino Unido. O resultado é impecável: não se vê nada fora do sítio, o chão está sempre a brilhar e toda a gente cumpre escrupulosamente as regras de limpeza – o que implica, por exemplo, que haja balneários com chuveiro para os funcionários.
Subimos ao andar de cima, para a sala de provas e refeições, também ela ligada visualmente à nave de barricas por uma parede de vidro. Duas grandes mesas em madeira dominam o espaço, onde também pontifica um ecrã para passar vídeos promocionais. Do lado oposto às barricas, uma varanda abre-se sobre a fachada do edifício. Num terreno lateral, a Falua plantou uma vinha pedagógica, com todas as castas cultivadas pela casa. E são bastantes, em 68 hectares de vinha própria, mais 250 sob gestão, em colaboração com os proprietários.
Mas é no campo que está a impressão mais forte. Ali a dois ou três quilómetros, visitamos a Vinha do Convento, uma extensão de 40 hectares agora cortada pela A13 que desafia a imaginação. Estamos a uns três quilómetros do curso actual do Tejo, mas percebe-se que o rio, em tempos, teve outros planos. A vinha cresce numa colina cujo solo é formado por pedra rolada, típica dos leitos de água corrente, e foi plantada de origem – e à mão – num terreno vazio quando a Falua foi fundada. Uma loucura que deu à região do Tejo um terroir único.
FALUA
Zona Industrial, Lote 56, Almeirim
Tel: 243 594 280
Mail: falua@falua.net
Web: www.falua.net
As instalações da empresa estão abertas das 9h30 às 12h30 e entre as 14h e as 17h30. As visitas são agendadas mediante marcação prévia e custam 10 euros por pessoa (visita ao centro de vinificação e sala de barricas, mais prova de três vinhos (gamas Conde de Vimioso e/ou Falua); ou 15 euros por pessoa (inclui ainda visita à Vinha do Convento e prova de cinco vinhos das gamas já mencionadas). No menu há também um Curso de Iniciação à Prova de Vinhos (8 vinhos das gamas Conde Vimioso e Falua), que custa 25 euros por pessoa.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 1,5
AVALIAÇÃO GLOBAL: 16,5
Ali a pouco mais de duas dezenas de quilómetros, na outra margem do rio, a paisagem não podia ser mais diferente. Da modernidade para a tradição, do cascalho rolado para uma variedade de terrenos, dos horizontes abertos para uma paisagem ondulada. Uma alameda arborizada com vinha de ambos os lados conduz-nos a um complexo de edifícios de cor ocre. Um enorme cão dormita lá ao fundo, à nossa frente um portão fechado deixa entrever um terreiro com árvores delimitado por construções térreas e um bloco de maiores dimensões ao fundo.
Há uma porta aberta e por ela entramos no Douro. Perdão, na adega. Mas é tão forte a sensação de estarmos mais a Norte, perante a visão de lagares em granito (escavados à mão no local a partir de ciclópicos blocos únicos) e da organização do espaço, que é quase sem surpresa que ficamos a saber que tudo isto é obra dirigida pela mão certeira de D. Adelaide Ferreira, a Ferreirinha, que ofereceu a Quinta de Vale de Fornos à filha como prenda de casamento. Num dos cantos desta adega velha, ligando com um varandim que permite vista desafogada sobre os gigantescos balseiros (que em breve serão inspecionados, para se saber se podem ser usados), está uma porta que leva directamente à entrada principal da casa. Aqui, o vinho era parte do dia-a-dia.
Descemos as escadas e percebemos pormenores como a existência de um poço e de uma lareira, truques de antanho para climatizar o espaço. As grandes traves em madeira do tecto voltam a trazer-nos o Douro à memória. E saímos para os jardins do palacete, onde, nem de propósito, um faisão se pavoneia nos relvados. O jardim, plantado em socalcos, sobe na direcção da casa principal e estende-se, lateralmente, para a zona de eventos, um grande pavilhão e o pequeno edifício da loja encavalitando-se na encosta sobranceira ao tapete de relva.
Antes passámos por uma velha destilaria, onde varandins em madeira, alambiques antigos, caldeiras e depósitos de água convivem num equilíbrio instável. Espreitamos as vinhas que se estendem, ora em encosta, ora em vales mais férteis. E pressentimos o Tejo lá ao fundo, para lá do vale da entrada da propriedade e por onde sopram constantes as brisas mais frescas que ajudam a temperar o clima mais quente no Verão.
A casa produz quatro tintos e dois brancos – e os vinhos estão agora sob gestão da empresa Encostas de Alqueva, que aqui descobriu um enorme potencial para néctares estruturados e complexos, lotes em que se conjugam castas portuguesas e estrangeiras, mais um varietal de Syrah. Sentemo-nos, portanto, à sombra destas construções seculares, apreciando o silêncio e recordando a história e as histórias do local. De copo na mão, como convém.
QUINTA VALE DE FORNOS
Rua da Olaria, nº48, Azambuja
Tel: 263 402 105 / 919 544 548
Mail: eventos@quintavalefornos.com
Web: www.quintavalefornos.com
A quinta está aberta todos os dias (9h-12h30 e 14h-17h30 aos dias de semana; 10h-17h aos sábados e domingos), excepto nos principais feriados. Exige-se marcação prévia. O leque de opções abre com a prova de vinhos (três vinhos – 7,5 euros por pessoa) e a prova de vinhos com queijos (três vinhos – 15 euros), passando a 20 euros com visita à adega ou vinhas. Almoços e jantares por 30 euros (mínimo 20 pessoas). Almoço com prova de vinhos e visita à adega: 40 euros (mínimo 15 participantes). É possível fazer passeios a cavalo pela quinta (80 euros meio dia, 125 dia completo) e outras actividades mediante solicitação.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
No Verão os dias são mais longos e convém não descurar o abastecimento sólido, por mais que o calor peça líquidos – o ideal é mesmo conjugar os dois. Nesta volta pelo Tejo, e porque o panorama gastronómico da região tem evoluído de forma sensível, não haverá dificuldade em encontrar boas mesas, mas em jeito de ajudinha aqui ficam três sugestões. Em Santarém, a conjugação dos sabores tradicionais com uma apresentação moderna torna o Ho!Vargas um local altamente recomendável. Em Almeirim, será pecado não “atacar” uma sopa da pedra e o local para o fazer é o Tertúlia da Quinta. Se procura algo mais leve, em Aveiras tem o AveiraMariscos, que não se fica apenas pelos frutos do mar… Bom apetite.
- OH!VARGAS – EN3, nº30, Portela das Padeiras, Santarém | Tel: 910 260 743 | Mail: reservas@ohvargas.pt
- TERTÚLIA DA QUINTA – Largo da Praça de Touros, nº 37ª, Almeirim | Tel: 243 593 008
- AVEIRAMARISCOS – Largo dos Combatentes, nº15, Aveiras de Cima, Azambuja | Tel: 263 475 381 | Mail: info@aveiramariscos.com.pt
Edição nº29, Setembro 2019
A face mais Verde do Douro

As regiões de fronteira valem sempre mais do que a soma das partes que ficam de cada um dos lados da linha imaginária. E esta regra torna-se ainda mais evidente quando falamos de vinhos. Nas margens do Douro, mas em terra de Verdes, paisagem, património e mesa sempre posta conjugam-se numa experiência única. TEXTO Luís […]
As regiões de fronteira valem sempre mais do que a soma das partes que ficam de cada um dos lados da linha imaginária. E esta regra torna-se ainda mais evidente quando falamos de vinhos. Nas margens do Douro, mas em terra de Verdes, paisagem, património e mesa sempre posta conjugam-se numa experiência única.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez
Portugal é, todo ele, uma imensa região vitivinícola. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, a vinha faz parte da paisagem, o vinho é objecto de paixões e os dois entrelaçam-se no tecido cultural deste rectângulo à beira-mar plantado. Mas esta “globalização” não se faz de unanimidades nem de padronizações de gostos e sabores. Pelo contrário: cresce e multiplica-se em diversidades que aguçam a curiosidade e enriquecem o retrato geral. Se esta é uma realidade incontornável para quem procura descobrir os vinhos portugueses, ainda mais se acentua quando visitamos as zonas de fronteira entre regiões. Foi o que fizemos desta vez, lançando-nos à descoberta da face mais Verde do Douro.
A região dos Vinhos Verdes é extensa e muito variada, desde os microclimas de Monção e Melgaço às especificidades de cada rio que a atravessam, das margens do Atlântico às agrestes escarpas do rio Douro, das terras altas aos vales férteis. Há vinhos de produção maciça e pérolas raras, sabores unânimes e experiências diferenciadoras, grandes casas e pequenos produtores. Que todo este mosaico se encaixe num puzzle que construiu uma das imagens mais fortes e abrangentes da indústria vitivinícola portuguesa pode parecer surpreendente, mas é mais uma homenagem à qualidade dos vinhos que por aqui se fazem. O Vinho Verde tem um nome e uma alma.
Essa capacidade para se diferenciar acaba por ficar ainda mais evidente na região de confluência entre os Verdes e o Douro. Andámos por terras de Baião e Resende para confirmar que, apesar da paisagem assumidamente duriense, há um toque de frescura e de mineralidade que autentica a assinatura Verdes. De caminho, não resistimos a uma escapadela até Penafiel, onde vive um dos gigantes da região. Justa homenagem a uma casa com história e património, mas também uma oferta enoturística que surpreende quem fizer as contas e concluir que estamos praticamente às portas da cidade do Porto, a meio caminho entre o mar e a vertigem vertical das terras de Resende.
Mas é aqui, no limite oriental da região dos Verdes, com o Douro contorcendo-se lá ao fundo, que iniciamos o nosso roteiro enoturístico, desta vez marcado também pela presença maciça (e saborosa) de árvores de fruto. A cereja (e a de Resende tem muita e justificada fama) já foi colhida, segue-se a ameixa. Para muitos pequenos produtores, a vinha passa momentaneamente para segundo plano, mas nunca fica esquecida. E isso fica bem evidente na primeira paragem. Um caminho empedrado leva-nos do asfalto até ao terreiro da propriedade. De um lado, uma fila de cerejeiras, do outro, a vinha. Chegámos à Quinta da Massôrra.
A primeira impressão é quase contraditória. Há três cães que nos recebem com os seus latidos, mas percebe-se que o silêncio está apenas a ser beliscado. As casas, cobertas de hera, e o arvoredo envolvem-nos numa calma apaziguadora, mas para além delas a paisagem é dramática, com grandes montanhas no horizonte e desníveis impressionantes até ao rio. Não demora muito até assimilarmos tudo isto numa certeza incontestável: o local é belíssimo!
Rui e Anabela Cardoso gerem uma propriedade familiar com 12 hectares, quatro dos quais cobertos de vinha. O resto é um mar de fruta: cerejas (há 23 variedades, incluindo uma que pode ser colhida logo em finais de Abril) e ameixas, principalmente, mas também toranjas, nêsperas, laranjas, peras… Há visitantes que vêm por causa do vinho e acabam a apanhar fruta; outros procuram a quinta por causa da fruta e acabam a degustar um copo de vinho. Em 2018 passaram por aqui mais de 2000 pessoas.
Depois de uma “excursão” ao pomar, para apanhar ameixas, Rui abre as portas da loja da quinta e fala-nos do seu carácter peregrino: está em funcionamento há quase 20 anos, numa altura em que nem se falava de enoturismo e, a bem da verdade, nem se produzia ainda vinho na Quinta da Massôrra. Por força nas suas funções, à altura, no Instituto do Vinho do Porto, Rui visitou outros países e ficou a conhecer o que os produtores faziam para atrair visitantes. Quando se estabeleceu na quinta, acabou por abrir uma loja onde vendia vinhos dos “vizinhos” e outros produtos locais.
Ao lado, sempre nos baixos da casa principal e abrindo para um pátio panorâmico com a horta em primeiro plano, a vinha e os pomares a seguir e depois uma imensidão de serranias em equilíbrio precário sobre as águas do Douro, está a adega. Pequena (a produção anual anda pelas 10.000/15.000 garrafas), mas funcional, com dois lagares em granito e uma prensa manual no meio, agora já sem uso, mas que acentua o carácter artesanal das instalações.
Cá fora, um tanque com água delimita o fantástico pátio panorâmico, a mesa rodeada de cadeiras, pormenores rústicos de decoração em redor. A cobertura do pátio está forrada a hera, tal como todas as casas, formando um conjunto de grande beleza e tranquilidade – com o bónus de as folhas mudarem de cor ao longo do ano, fornecendo uma experiência visual sempre diferente.
Quem vem aqui não esquece. E pode sempre reavivar a memória com os vinhos da casa. Rui garante que cerca de 60 por cento da sua produção é absorvida, directa ou indirectamente, por quem visita a Quinta da Massôrra.
QUINTA DA MASSÔRRA
S. João de Fontoura, Resende
Tel: 254 871 578 / 965 053 820
Mail: geral@quintadamassorra.com
Web: www.quintadamassorra.com
GPS: N 41º6’32’’ | W 7º 55’ 27’’
Os visitantes são recebidos pelos proprietários, que vivem na quinta, pelo que a propriedade está aberta a visitas todos os dias, sugerindo-se contacto telefónico prévio. No terreiro da casa, pendurada numa árvore, está uma sineta, para avisar da chegada. A visita custa 7,5 euros por pessoa. Possibilidade de organizar outros programas sob consulta.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
Da margem esquerda do Douro para a margem direita. De um projecto enoturístico com quase duas décadas a outro acabadinho de nascer. A Quinta de Santa Teresa, concelho de Baião, é a propriedade mais recente da A&D Wines, juntando-se à Casa do Arrabalde e à Quinta dos Espinhosos. Com 66 hectares (33 de vinha) espalhando-se ao longo de um cotovelo nas encostas que conduzem ao rio Douro, é a maior de todas. E também a mais bonita, graças a um património, natural e edificado, verdadeiramente notável.
A adega fica cá em baixo, junto à estrada, mas é preciso cumprir mais algumas curvas para alcançarmos a casa principal, primeiro, e as instalações de enoturismo, lá no alto. Um pavilhão de estrutura metálica e paredes de vidro paira sobre a piscina para acolher os visitantes. Esta original palafita, de onde se vislumbra o rio e se espraia o olhar por serranias e casario, está assente sobre uma laje que transformou a piscina de saltos num enorme reservatório de água. Ao lado, as piscinas para adultos e crianças estão operacionais.
Para quem visita a quinta, é aqui que tudo começa e acaba. Mas, pelo meio, há muito para conhecer. E deslumbrar. Ao longo da estrada empedrada que percorre toda a propriedade deparamo-nos com muros ciclópicos que sustentam os terraços de vinha, encontramos jardins e hortas, algumas pequenas construções, bicharada surpreendente (a quinta funciona em regime biológico), tanques e minas de água. E até damos de caras com um colossal pé de videira pré-filoxérico, com mais de 200 anos e que cobre uma área aproximada de 20 metros quadrados. Em 2018, produziu 230kg de uva da casta Avesso – alguém se deu ao trabalho de contar todos os cachos… e eram 580!
Mais velha é a videira do que a casa da quinta, que data de 1951. Aliás, com vinhas a rondar os 100 anos, percebe-se que esta sempre foi terra de vinho. O Douro começa logo ali acima, a escassos metros das últimas vinhas da quinta, onde o terreno deixa de ser granítico e passa a ser de xisto. Bate certo.
Ao fundo, um bosque promete frescura e belos cenários naturais para passear. Mas o que os homens construíram mostra-se bem à altura da generosidade da Natureza: jardins românticos, recantos e escadarias que proporcionam privacidade e silêncio, estátuas, fontes, painéis de azulejo. Se isto não é o cenário ideal para um hotel de charme, então não percebemos nada do assunto… “Um dia!”, prometem os proprietários.
Até lá, é preciso partir quando termina a visita. Há quem se faça desentendido e vá ficando de copo na mão – de vez em quando, alguns até se atiram à piscina…
QUINTA DE SANTA TERESA
Rua de Arufe, 530; Loivos da Ribeira, Baião
Tel: 229 419 378/9
Mail: info@andwines.pt
Web: www.andwines.pt
A quinta está aberta para provas e visitas todos os dias, das 10h às 18h; ao fim-de-semana solicita-se marcação antecipada. O número máximo sugerido de participantes por grupo é de 12 pessoas. A prova com visita à quinta custa 15 euros por pessoa (20 euros com tapas) e há duas provas standard: Monólogo e Avesso, ambas com três vinhos. O visitante pode, no entanto, escolher entre os diferentes vinhos do portefólio da casa. Outros programas e actividades mediante consulta.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 1,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18
A coerência é uma virtude, mas quando levada ao extremo pode tornar-se limitativa. E, por isso, viramos costas à zona de transição entre Verdes e Douro e internamo-nos assumidamente na primeira, rumo a Penafiel, onde, com o Porto a meia hora de distância, encontramos um dos mais notáveis jardins portugueses. E muito mais, como se há-de relatar. Estamos na Quinta da Aveleda.
Em 2018, passaram por aqui 27.000 visitantes, a que se podem juntar outros 23.000 que optaram por visitar apenas a loja. São números impressionantes, mas ainda muito longe do potencial deste local. Os jardins são espantosos – dez hectares (é um dos maiores jardins privados do país) de floresta variada (120 espécies, incluindo exemplares gigantes), recantos ajardinados (há, por exemplo, 90 espécies diferentes de camélias), lagos, espaços abertos e construções pitorescas, povoados por uma fauna riquíssima, que até inclui uma raposa.
Quatro em cada cinco visitantes não são portugueses, o que motiva a equipa de enoturismo da Aveleda a apostar mais na divulgação interna deste local mágico. É que, para além dos jardins, há todo um património edificado que justifica a visita. Uma cozinha tradicional, a cocheira (com carruagens, arreios e outros aprestos da arte equestre), o imponente terreiro da eira, a loja e sala de provas, a vetusta Adega Velha onde, ao som de música monástica, repousam as aguardentes, em centenas de pipas de madeira. Há torres com ameias, paredes cobertas de hera, espigueiros, alpendres e varandas panorâmicas, chaminés incríveis. Em redor, uma centena de hectares de vinha recorda-nos que tudo isto foi construído à volta do vinho.
O enoturismo na Aveleda começou há muito tempo, nos anos 1960/70, apenas porque os donos dos hotéis na costa entre Esposende e Espinho convenceram os proprietários – a família Guedes – a abrirem portas a visitas e provas, para criarem programas que pudessem diversificar a experiência proporcionada aos seus hóspedes. Mas este regime semi-informal só começou a mudar há cerca de quatro anos, com a crescente aposta no sector.
Hoje, a Aveleda é um mar de tranquilidade e beleza, mas também um caldeirão de ideias e projectos. Novos espaços, novas funcionalidades, criação de núcleos museológicos nas casinhas do jardim (algumas delas transportam-nos de imediato para a terra dos hobbits), mais e melhores programas. Mas, na essência, já está tudo lá: uma belíssima moldura natural e arquitectónica para uma experiência vínica de grande qualidade. A apenas meia hora da cidade do Porto, nunca é de mais repetir.
QUINTA DA AVELEDA
Rua da Aveleda, nº 2, Penafiel
Tel: 255 718 242 / 255 718 266
Mail: enoturismo@aveleda.pt; loja.aveleda@aveleda.pt
Web: www.aveleda.pt
GPS: 41.208511 | -8.308196
Visitas guiadas todos os dias às 10h, 11h30, 15h e 16h30, com marcação antecipada. O custo está incluído no das provas de vinho, que podem ir desde os 10 euros por pessoa (Standard – três vinhos) até aos 70 euros por pessoa (Exclusiva – quatro vinhos, mais aguardente). Refeições entre 40 e 80 euros por pessoa, harmonizações entre 5 e 15 euros por pessoa. Há vários programas especiais no menu, incluindo o Momentos Aveleda (64,5 euros com almoço) ou o Make Your Own Wine (40 euros). A quinta acolhe eventos e organiza workshops. A loja está aberta de segunda a sábado (9h-13h/14h-18h).
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18,5
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Os ares do campo abrem o apetite e nem só de vinho vive o Homem… Por isso, aqui ficam duas sugestões para reabastecer o corpo e a alma enquanto vagueamos por terras dos Verdes com vista para o Douro. Muito mais haveria para escolher, mas desta vez destacamos um restaurante urbano e outro rural. Em Penafiel, a Casa Sapo promete surpreender quem julga que já viu de tudo à mesa e exibe uma bela colecção de camisolas de futebol autografadas. Na Gralheira, a 1100 metros de altitude, o Recanto dos Carvalhos recebe-nos numa das terras mais altas de Portugal, por entre uma paisagem verdadeiramente magnífica. Leve fome, traga belas recordações.
- CASA SAPO – Lugar da Estrada, nº 24; Irivo, Penafiel | Tel: 255 752 326
- RECANTO DOS CARVALHOS – Gralheira | Tel: 255 571 566 / 962 020 038 | GPS: 41.003960 – 7.969811
Edição nº28, Agosto 2019
Revista Condé Nast considera Alentejo um dos 6 destinos de 2020

A Condé Nast Traveler, revista norte-americana de viagens e lifestyle, publicou um artigo onde classifica a região do Alentejo como um dos seis destinos vinícolas a não perder no próximo ano. A região portuguesa fico ao lado de Lombardia e Sicília em Itália, Western Cape na África do Sul, Vale Willamette no estado de Oregon […]
A Condé Nast Traveler, revista norte-americana de viagens e lifestyle, publicou um artigo onde classifica a região do Alentejo como um dos seis destinos vinícolas a não perder no próximo ano. A região portuguesa fico ao lado de Lombardia e Sicília em Itália, Western Cape na África do Sul, Vale Willamette no estado de Oregon (EUA) e Península do Niágara no Canadá. Cinco dos maiores especialistas em vinho nos Estados Unidos foram questionados sobre onde planeavam estar na sua passagem de ano e o Alentejo foi um dos destinos eleitos. O resultado são seis regiões do mundo com muito para explorar, tanto ao nível do enoturismo, como de toda a sua envolvente.
Laura Ginnatempo, autora do artigo, visitou o Alentejo em 2017 e descreve a região como próxima de Lisboa e do Algarve, cuja principal atracção é o enoturismo. A especialista destaca ainda a oferta heterogénea de excelentes vinhos.
Para Francisco Mateus, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, “É um orgulho este reconhecimento de um meio tão reputado, que confirma que o Alentejo continua a encantar e a marcar quem por cá passa. Esta é mais uma importante menção para o turismo do nosso Alentejo e uma prova que estamos a fazer um excelente trabalho”.
Quinta da Pacheca brilha nos prémios Best of Wine Tourism

O complexo enoturístico da Quinta da Pacheca, em pleno Douro vinhateiro, é o vencedor absoluto português dos prémios «Best of Wine Tourism 2020», uma competição a nível mundial promovida pela “Rede de Capitais de Grandes Vinhedos – Great Wine Capitals Global Network”. O prémio foi atribuído pelo júri internacional, numa cerimónia que teve lugar na […]
O complexo enoturístico da Quinta da Pacheca, em pleno Douro vinhateiro, é o vencedor absoluto português dos prémios «Best of Wine Tourism 2020», uma competição a nível mundial promovida pela “Rede de Capitais de Grandes Vinhedos – Great Wine Capitals Global Network”.
O prémio foi atribuído pelo júri internacional, numa cerimónia que teve lugar na cidade francesa de Bordéus, seguindo-se agora a etapa da eleição do preferido do público, cuja votação termina a 21 de Novembro.
O projecto enoturístico da empresa conheceu um impulso maior em 2018, com a inauguração dos wine barrels, suites em forma de pipos gigantes, que são já um ex-libris na oferta de estadia na região. Dentro de poucos meses, a Quinta da Pacheca estará equipada com uma nova ala do actual The Wine House Hotel, dotada de mais 24 quartos. Completarão a oferta um spa com tratamentos de vinoterapia, uma piscina exterior, um novo restaurante e uma nova sala de provas, com maior capacidade de lotação.
Wine & Soul abriu enoturismo no Douro

Pouca gente conhecerá esta empresa produtora de vinhos, mas se falarmos em Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges, ou nos vinhos Pintas e Guru, o caso muda logo de figura. O casal vive em Vale de Mendiz, freguesia do concelho de Alijó, onde tem a adega da empresa familiar, a Wine & Soul. […]
Pouca gente conhecerá esta empresa produtora de vinhos, mas se falarmos em Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges, ou nos vinhos Pintas e Guru, o caso muda logo de figura. O casal vive em Vale de Mendiz, freguesia do concelho de Alijó, onde tem a adega da empresa familiar, a Wine & Soul.
Jorge e Sandra apostaram na qualidade das instalações e do serviço, o edifício onde já funcionava a adega, no centro da típica aldeia duriense, foi totalmente recuperado mantendo a traça típica da região. Além dos investimentos e reestruturação nos escritórios, caves e adega, já existentes, a Wine & Soul recuperou um edifício contíguo, para acolher agora os visitantes e proporcionar diversas experiências e zonas de lazer.
O novo enoturismo possui salas de provas, um terraço com vista para o Vale do Pinhão, loja de vinhos, vendas à porta, e diversos percursos, com visita guiada às instalações. Os visitantes podem seleccionar visitas à adega com antigos lagares de granito, às caves de estágio dos diversos vinhos e às vinhas.
Quanto à prova de vinhos, pode escolher um vinho a copo, ou uma experiência de degustação com provas comentadas, que variam entre os 30€ e os 150€ e contam com vinhos icónicos como o Pintas, Guru, Pintas Character, Pintas Porto Vintage ou Quinta da Manoella Vinhas Velhas.
Se quiser fazer reserva, sugere-se 24h úteis de antecedência, para o email: enoturismo@wineandsoul.com. As visitas podem ser feitas em Inglês, Francês, Espanhol e, claro, Português. Os dias são de Segunda a Sexta-Feira, das 10h às 12h e das 14h às 17h. Ao fim-de-semana , apenas sob consulta.
Sandra e Jorge querem alargar a actividade a outros projectos, ampliando a oferta e mantendo a consistência e identidade, que a Wine & Soul tem sabido criar e desenvolver. Mas, para já, as novidades estão no segredo dos deuses.