Lavradores de Feitoria: Casa nova, vinhos novos

lavradores de feitoria

Fundada em 2000 por 15 viticultores durienses, a Lavradores de Feitoria é um projecto inovador a diversos níveis. Agrupando 20 propriedades, dispersas pelas três sub-regiões do Douro, num total de mais de 600 hectares de vinha, conta desde 2021 com uma nova sede e adega e, desde abril do ano passado, com um centro de […]

Fundada em 2000 por 15 viticultores durienses, a Lavradores de Feitoria é um projecto inovador a diversos níveis. Agrupando 20 propriedades, dispersas pelas três sub-regiões do Douro, num total de mais de 600 hectares de vinha, conta desde 2021 com uma nova sede e adega e, desde abril do ano passado, com um centro de enoturismo. No meio de tanta novidade cabem, claro, novos vinhos e colheitas.

Texto: Luís Lopes       Fotos: Lavradores de Feitoria

O associativismo no sector do vinho é fenómeno raro e, quando acontece, normalmente não dura muito. O projecto Lavradores de Feitoria merece, por isso, forte aplauso, pela longevidade (quase 23 anos!), dimensão (são hoje 53 accionistas, dos quais 16 proprietários de quintas), conceito (lógica de sustentabilidade social, económica e ambiental) e solidez, reforçada pela aquisição da quinta do Medronheiro, em Sabrosa, e a construção da nova sede e adega no local.

Lavradores de Feitoria
A nova adega é também sede e centro de enoturismo.

Na base de tudo isto está um enorme capital de confiança gerada entre todos os intervenientes e que a administração da Lavradores de Feitoria, cujo rosto mais visível é a CEO Olga Martins, procura retribuir. Um exemplo, é o valor base de remuneração das uvas aos produtores associados, sempre acima da média praticada na região, garantindo que cobre o custo de produção, numa lógica de “fairtrade”. A Lavradores de Feitoria tem um sistema de pagamentos assente em três patamares – base, superior e extra (que chega a valer mais do dobro do valor base), como forma de valorizar a qualidade das uvas e, por conseguinte, dos vinhos. O pagamento aos fornecedores 30 dias após a emissão da factura é igualmente um ponto de honra da casa.

Mas falemos de vinhas, adegas e vinhos. E aqui é incontornável o nome de Paulo Ruão, director de enologia da Lavradores de Feitoria desde a vindima de 2005. Para construir uma gama de vinhos segmentada e criteriosa, que abarca lotes, monocastas e vinhos de quinta, a partir de 20 propriedades e 600 hectares, é preciso estar familiarizado com cada um destes terroirs e suas particularidades. Paulo conhece bem as quintas dos sócios da empresa. Para além do acompanhamento periódico anual, visita cada uma das vinhas duas vezes antes da vindima, para fazer controle de maturação e escolher as parcelas que pretende, podendo estas variar de ano para ano.

Quando a empresa nasceu, em 2000, a coisa era muito mais simples: cada quinta fazia o seu vinho e a sua marca. Rapidamente se verificou, porém, a insustentabilidade enológica e comercial do modelo. Hoje, estas propriedades dispersas pelo Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, com uvas de castas bastantes diversas, cepas de todas as idades, plantadas a múltiplas altitudes, com diferentes exposições, numa enorme heterogeneidade de solos, originam apenas duas linhas de vinhos, identificadas como “vinhos de lote”, onde estão as marcas Lavradores de Feitoria e Três Bagos, e “vinhos de vinha”, onde se inserem os clássicos Meruge, branco e tinto, Quinta da Costa das Aguaneiras e, a grande novidade de 2022, Vinha do Sobreiro.

Depois da fase “naif” inicial, a vinificação comum passou a estar concentrada numa adega montada na zona industrial de Paços, em Sabrosa. A ambição de Olga Martins e Paulo Ruão, porém, era outra. Numa empresa assente em quintas e vinhas, fazia sentido ter “uma adega no meio das videiras”. O sonho levou tempo a concretizar. Primeiro, em 2008, foi preciso adquirir, com capitais próprios, a Quinta do Medronheiro. Com 8 hectares de área total, entre os 540 e 580 metros de altitude e exposição sul, 6,5 hectares são de vinha, exclusivamente uvas brancas, Viosinho, Gouveio e Boal, em modo de produção biológica. Depois, houve que ganhar músculo financeiro para construir a adega, inaugurada somente 13 anos depois, em 2021.

Lavradores de Feitoria
O espaço de enoturismo foi inaugurado em abril de 2022.

O projecto, da autoria do arquitecto Belém Lima, assenta numa estrutura e paredes exteriores em betão armado pré-fabricado, com um padrão texturado onde impera a cor do xisto. Os painéis isolados e de grande eficiência térmica, associados à produção de energia através de painéis fotovoltaicos e ao tratamento de águas, avolumam a vertente de sustentabilidade da empresa. A adega possui todo o equipamento moderno expectável numa instalação destas. Porém, a pisa a pés em lagar de granito, que Paulo Ruão exige para alguns vinhos de topo, continua a ser feita nas quintas dos produtores accionistas. Para além da parte produtiva, o edifício comporta ainda os escritórios da empresa e a área dedicada ao enoturismo, inaugurado em abril de 2022. Também aqui, a Lavradores de Feitoria procura fazer diferente, privilegiando as visitas personalizadas, a cargo de Eduardo Ferreira, exímio contador da história do Douro e das estórias dos vinhos e das gentes…

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2023)

 

Lavradores tornam-se adultos

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TEXTO João Paulo Martins

Jornalistas eram vários, escritores e apreciadores de vinho outros tantos, todos no Clube de Jornalistas para tomar conhecimento das novidades da empresa dirigida por Olga Martins, CEO, e Paulo Ruão, enólogo. Ao evento também não faltou António Barreto, que integra o Conselho Fiscal da empresa. Nem todos os que estiveram ligados ao arranque da Lavradores fazem agora parte do projecto, como Jorge Dias (Gran Cruz), mas um deles, Dirk Niepoort, continua, ao menos, sentimentalmente ligado, já que foi também ele que participou no take-off da empresa e ajudou a desenhar um dos vinhos emblemáticos do portefólio, o Meruge. Fenando Albuquerque (Palácio de Mateus) foi também figura preponderante no arranque e ainda se mantém ligado, fornecendo uvas das duas quintas, nomeadamente as que integram o branco Três Bagos Sauvignon Blanc, provenientes das vinhas que circundam o palácio, em Vila Real.
Com arte, saber, paciência e autoridade, Olga tem de gerir 17 sensibilidades e outros tantos temperamentos, tantos são os lavradores que, nas 20 quintas e 600 hectares de vinha de que dispõem, contribuem para os vinhos da casa. A paciência e a autoridade, segundo Olga, explicam-se facilmente: todos querem vender as uvas à empresa o mais caras possível e todos querem depois ter dividendos cada vez mais altos. A juntar a esta equação de resolução difícil acresce a gestão das vontades de quase todos em ter no portefólio vinhos com o nome das suas próprias quintas. Tudo isto numa região e num país em que a palavra associação e o verbo negociar são de difícil conjugação. Há assim muito mérito no equilíbrio que se tem conseguido e nos resultados obtidos mas foi “o caminho das pedras”, disse Olga, com os ânimos a serenarem quando os bons resultados apareceram de imediato e tudo isto apesar dos reveses que há uns anos quase levaram à perda do mercado norueguês – pelo volume que representa, é o mais importante para a Lavradores.
O sucesso da Lavradores, com um modelo organizativo inédito no Douro, criou na região um interesse junto de outros produtores. “Temos uma lista de espera e vamos mesmo ter de admitir mais produtores e quintas, porque estamos a ficar apertados em termos de fornecimento de uvas”, diz Olga. A empresa não faz Vinho do Porto e muitos destes lavradores têm de cumprir o benefício, o que, segundo Paulo Ruão, em anos como 2018 levou a que alguns produtores colhessem primeiro para aquele fim e só depois tenham entregue à Lavradores; isto fez com que “tenham entrado uvas com 17º de álcool provável, o que torna depois o trabalho muito difícil”, disse.
Para comemorar a maioridade a Lavradores apresentou um tinto especial, feito de Tinto Cão e apenas comercializado em magnum (700 garrafas), com a particularidade de ser uma garrafa especialmente leve para o formato magnum, algo de novo no mercado português. Trata-se de um tinto feito de uvas da Quinta de Pias, em lagar, com engaço (em que permaneceu dois dias), sendo depois transferido para barrica nova, onde ficou durante 18 meses sobre borras. No momento provou-se também de novo o Tinto Cão de 2006, de que já existem poucas garrafas – mostrou uma óptima saúde e capacidade para enfrentar o futuro.
E, como que em jeito de celebrar a maioridade, vai arrancar a construção da nova adega, também na zona de Sabrosa. Quem sabe, para o ano, temos adega nova…[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Edição Nº20, Dezembro de 2018

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