DO MERCADO – Bacalhau

TEXTO Ricardo Felner A tradição tem razões fundas, a tradição é esperta. No Natal come-se muito Bacalhau, mas não, necessariamente, por causa do nascimento do Menino Jesus. É que o bacalhau de Novembro, Dezembro, costuma ser mesmo o melhor. Dois factores contribuem para isso: a altura da pesca e a cura prolongada. É entre Janeiro […]

TEXTO Ricardo Felner

A tradição tem razões fundas, a tradição é esperta. No Natal come-se muito Bacalhau, mas não, necessariamente, por causa do nascimento do Menino Jesus. É que o bacalhau de Novembro, Dezembro, costuma ser mesmo o melhor.

Dois factores contribuem para isso: a altura da pesca e a cura prolongada. É entre Janeiro e Abril que os ‘gadus morua’ desovam nas águas da Noruega, e um pouco mais tarde na Islândia, entre Fevereiro e Maio. Por fazerem grandes travessias, a sua carne fica musculada e particularmente saborosa.

Na Noruega chamam a esta qualidade de bacalhau ‘premium de skrei’. Os skrei nadam centenas de quilómetros (nalguns casos, mais de 1.500 km) desde o Mar de Barents até à costa da Noruega. Na Islândia, chegam do Mar da Gronelândia até às zonas menos profundas e mais quentes da costa.
Ora, os bons bacalhoeiros selecionam os melhores exemplares das pescarias entre o Inverno e a Primavera e reservam boa parte deles para serem curados durante seis meses ou mais e só são postos à venda algumas semanas antes do Natal. Mesmo que não coma todo o bacalhau no Natal, invista nele nesta época. Pode sempre armazená-lo no frio ou mesmo demolhá-lo e congelá-lo, para comer mais tarde.
Escolha os bacalhaus mais rijos, com uma cor palha-amarelada, sem marcas de sangue. Em matéria de calibre, prefira o graúdo e o especial.

Edição n.º32, Dezembro 2019

Favas

DO MERCADO TEXTO Ricardo Dias Felner                       FOTO D.R. A fava é o bicho mau das leguminosas. E não devia ser. Antes das transacções proporcionadas pelas conquistas do Novo Mundo, a fava era o único “feijão” que conhecíamos. Nada mais existia para portugueses e europeus. A […]

DO MERCADO

TEXTO Ricardo Dias Felner                       FOTO D.R.

A fava é o bicho mau das leguminosas. E não devia ser.
Antes das transacções proporcionadas pelas conquistas do Novo Mundo,
a fava era o único “feijão” que conhecíamos. Nada mais existia para portugueses e europeus. A fava andava por cá desde 3.000 anos a.C.
Já devíamos estar habituados a ela e no entanto muita gente torce-lhe o nariz, seja porque é difícil de cozinhar, seja porque é amargosa. A principal culpada disto é a película que protege a fava, grossa e fibrosa, difícil de amaciar.
Uma forma de se atenuar o amargor é retirar a pele e comprar as favas novas, ainda pequenas. Isso acontece em Abril e Maio, normalmente. A fava fresca pequena coze mais facilmente e não precisa de ser demolhada em água. A sua doçura, quando lhe tiramos a casca, pede só um azeite elegante, um dente de alho, eventualmente limão, à maneira do Egipto, onde também entra nos icónicos pastéis falafel, misturada com grão. No Norte de África e em Itália, as favas são por vezes vendidas já sem pele e cortadas pela metade.
Em Portugal, o receituário é muito substancial, desde a desaparecida sopa de fava rica (feita com fava seca, hoje uma raridade), anunciada em pregões pelas ruas de Lisboa até às decadentes favas com entrecosto e enchidos — uma bomba de proteína. Lá em casa, sempre acompanhámos o prato com uma salada de alfaces e coentros, bem regada de vinagre.
A minha receita preferida é contudo a de favas com bacalhau.
Foi-me passada por um amigo beirão e é só isto. Assar o bacalhau
(pode ser no grelhador do forno, sem o deixar secar…), lascá-lo e juntá-lo
às favas previamente cozidas (com rama de alho, se houver). À parte, frigir alhos laminados em azeite abundante e juntar ao tacho. Mexer tudo novamente. No fim, mandar os detractores… à fava.

 

Edição Nº24, Abril 2019

Azeite virgem extra de Galega

TEXTO Ricardo Dias Felner FOTO Ricardo Palma Veiga Porventura já lhe aconteceu provar azeites sem expressão ou mesmo rançosos. É que os azeites também têm uma época. E esta é a melhor época. A colheita de azeitona este ano prolongou-se, extraordinariamente, até Janeiro (normalmente vai de Outubro a Dezembro), pelo que o azeite nacional em […]

TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTO Ricardo Palma Veiga

Porventura já lhe aconteceu provar azeites sem expressão ou mesmo rançosos. É que os azeites também têm uma época. E esta é a melhor época. A colheita de azeitona este ano prolongou-se, extraordinariamente, até Janeiro (normalmente vai de Outubro a Dezembro), pelo que o azeite nacional em Fevereiro está nas lojas no seu máximo esplendor — fresco, aromático, pujante, com todas as suas propriedades intactas.
José Gouveia, o maior especialista na matéria em Portugal, explica o processo. “O azeite não é como o vinho. Com o tempo perde qualidades. A oxidação culmina com o ranço e com a perda de sabor e aromas”, diz este professor (agora aposentado) do Instituto Superior de Agronomia, hoje consultor de algumas marcas nacionais.
Os prazos, contudo, são difíceis de fixar. Na verdade, a legislação não impõe uma validade. Para José Gouveia, a maioria das garrafas aguenta até ao 13º mês, após a extracção. Mas os azeites comportam-se de forma diferente consoante as azeitonas que usam: quanto menos antioxidantes tiverem, sobretudo polifenóis, menos duram.
Uma cultivar pouco resistente é a arbequina, usada nas produções super-intensivas, e que entram na composição de muitas das marcas de grande consumo dos grandes embaladores, como o Azeite Gallo ou a Oliveira da Serra. “Ao fim de seis meses, já eram”, sentencia José Gouveia.
Mas há outra azeitona, mais exclusiva e complexa, que também faz azeites com pouco tempo de vida: a galega. “O azeite de galega em Junho já decresce”, diz José Gouveia, uma das pessoas que mais se bateu contra o abate de oliveiras de galega.
Existente um pouco por todo o país, à excepção de Trás-os-Montes, a galega é difícil de produzir. “É susceptível a pragas, difícil de apanhar — não se desprende facilmente — e menos produtiva.” Mas, como tantas outras coisas difíceis, tem encantos únicos, com as suas notas a maçã, um sabor suave, doce — e uma história que só há pouco tempo José Gouveia descobriu: “De onde viria o nome?, pus-me a pensar. A Galiza não tem oliveiras. Não tem, mas tinha. Os Reis Católicos é que acabaram com o olival da Galiza, antes disso ele espalhou-se por Portugal.”
Não se atrase.

A importância dos copos

Já lá vão os dias em que qualquer enófilo se arriscava a ir a um restaurante com ambições, pedir um bom vinho e descobrir copos com bojos (ou corpo) de meio balão ou em V. Mais ainda, em casa dos enófilos passou-se um fenómeno semelhante, graças sobretudo à informação que foi passando para o público […]

Já lá vão os dias em que qualquer enófilo se arriscava a ir a um restaurante com ambições, pedir um bom vinho e descobrir copos com bojos (ou corpo) de meio balão ou em V. Mais ainda, em casa dos enófilos passou-se um fenómeno semelhante, graças sobretudo à informação que foi passando para o público e também pela facilidade com que é possível adquirir copos em qualquer grande superfície, com preços para todas as bolsas.
Mas, afinal, tanto copo porquê? Que fascínio exerce o copo nos amantes do vinho? E será que vale a pena gastar dinheiro em copos de qualidade?

Os bons copos fazem a diferença?

Esta é de facto a pergunta do milhão de euros. E, para a responder, nada melhor do quer fazermos uma prova de… copos. São já famosas estas provas, que podemos assistir em alguns eventos de vinhos. Recordo-me de ter ficado estarrecido com a primeira que fiz, já lá vão quase duas décadas. O condutor da prova, um francês que trabalhava com os copos da marca austríaca Riedel, ia-nos pedindo para passarmos os vinhos de uns copos para outros. E depois bastava cheirar e provar. As diferenças eram enormes, especialmente as que separavam os bons copos de vinhos dos modelos vulgares que existiam (e existem) em cafés e restaurantes de poucas ambições. Lembro-me de, na altura, me prometer repetir esta prova, mas desta vez usando de um maior cepticismo, para evitar possíveis sugestões do condutor da prova. E na verdade, ao longo dos anos, repetia esta prova mais três ou quatro vezes.. E a conclusão era sempre a mesma: um copo adequado é fundamental à correcta fruição do vinho.
O enófilo não emborca vinho, degusta-o. Aprecia-o. Desfruta dele.

A técnica dos copos: cheiros e sabores

Para se calcular a influência do copo nos aromas, temos que compreender que, segundo vários especialistas, diferentes aromas ocupam diferentes espaços do copo, consoante a sua densidade. Por exemplo, a parte superior do copo fica com os aromas mais ligeiros (flores e fruta); no meio ficam os aromas de pendor vegetal e mineral, como os terrosos e cogumelos; finalmente, no fundo do copo estão os aromas mais pesados, como o álcool e a madeira. Diferentes copos separam assim os aromas de formas diversas. E, a menos que agite o vinho no copo, diferentes copos fazem realçar diferentes características de determinado vinho.
Vamos agora aos sabores, percebidos pelos sensores que temos na boca.

Ora, desde logo a forma do copo condiciona a posição da nossa cabeça durante a prova. Isto tem também influência na posição de entrada do vinho na nossa boca e na sua chegada aos sensores, como a língua e o palato. Como acontece com a comida ou outras bebidas, os gostos do vinho podem ser separados em vários sabores de base: doce, ácido, amargo e salgado. Ao condicionar a forma da chegada do vinho à boca, o copo de vinho pode fazer realçar uma determinada característica do vinho. Por exemplo, um copo destinado aos brancos ligeiros e frutados de grande acidez, como um Alvarinho ou um Riesling, deve conduzir o vinho para a borda da língua, onde são acentuados os sabores doces (frutados) e diminuir o carácter ácido.

Copos de vinho

Como comprar um copo de vinho?

Primeiro, verifique se o copo tem gravações ou entalhes de qualquer espécie. Isso, e hastes coloridas, são normalmente sinal de copos antigos. A menos que goste muito, passe à frente. Depois, olhe para o copo contra a luz. Deve ser transparente, do cálice até ao pé. Se mostrar laivos esverdeados, isso significa que esse copo é feito com vidro de baixa qualidade. Passe à frente.
Outro sinal de menos qualidade é o bordo do copo arredondado, como se tivesse um micro-pneu a toda a volta. Algumas marcas dizem que é um toque de segurança, mas, na verdade, é uma forma de poupar dinheiro no fabrico. Os bons copos têm o bordo cortado quase recto, como se cortados com uma tesoura.

 

Alguns enófilos aconselham ainda a ouvir o copo. Bata no copo, mais ou menos a meio do bojo, com o nó do dedo ou com uma rolha: se o som resultante, quase como um sino, durar vários segundos, é bom sinal. Quanto mais, melhor. Se a pancada apenas dar um ligeiro som metálico, estes enófilos dizem para passar à frente. Nós não somos tão exigentes….

Mas somos, isso sim, escrupulosos com o sentir do copo nas mãos. Copos muito pesados e/ou desequilibrados tornam-se rapidamente desagradáveis. Por outro lado, a base do copo deve ser estável e estar praticamente ao mesmo nível da parte mais larga do bojo. A haste deve ser o mais fina possível, mas sem comprometer a robustez do copo.
Refira-se que as principais marcas no mercado nacional possuem várias gamas de copos. Os mais caros são feitos à mão por operários especializados, enquanto as versões mais baratas são produzidas com recurso a máquinas. Os melhores vidros/cristais ficam, como é óbvio, nos copos feitos à mão.

Que podemos esperar para o futuro?

Quanto ao futuro dos copos, tanto Ralf Schmidt (gestor da Schmidt-Stosberg) como Joaquim Cândido da Silva, (director-geral da Portfolio Vinhos), acreditam que vai na direcção de unidades cada vez mais leves, mais elegantes, mas, ao mesmo tempo, mais resistentes. Esta tendência para copos de vinho cada vez mais finos vai de encontro ao gosto dos enófilos, que procuram uma elegância de manuseamento que os outros copos não conseguem. O problema está na sua fragilidade. Considerando que alguns deles custam acima dos 50 euros a unidade (como os Zalto, modelo Denk`Art), partir um copo destes é uma dor d’alma.
Ambos os executivos acreditam ainda que o preço dos melhores copos deverá baixar nos próximos anos, graças a avanços na mecanização.

Tenho falta de espaço: o que fazer?

Muitos enófilos não têm hoje espaço de armazenamento para vários copos diferentes. Se tivermos em conta que cada modelo terá que ser multiplicado pelo potencial número de comensais, mais umas folgas para as quebras, e passamos a falar de largas dezenas de copos. Nos curtos apartamentos de hoje, não há espaço. Ou seja, muitos enófilos são obrigados a escolher um copo de vinho tinto e um de branco. Os copos de tinto poderão servir também para brancos de Inverno, com fermentação/estágio em madeira; e os copos de branco poderão servir para espumantes e vinhos licorosos.

Onde comprar?

Nos dias que correm não é difícil encontrar bons copos de vinho a preços sensatos. Os melhores exemplares são normalmente encontrados nas lojas especializadas, como as garrafeiras. Tem ainda a vantagem de quase sempre obter atendimento especializado e poder ‘brincar’ com os copos antes de os comprar. O único contra é que aqui os copos são quase todos topo-de-gama e, portanto, de boa qualidade, mas infelizmente mais dispendiosos.

As marcas não são muitas: em Portugal dominam a Schott Zwiesel (líder de mercado), Riedel (ou a sua subsidiária Spiegelau) e mais algumas marcas alemãs, francesas e italianas. A germânica Stölzle, uma das maiores do mundo, está agora a entrar no mercado nacional e em várias garrafeiras. Os preços têm uma gigantesca amplitude: desde o simples euro até às dezenas, por cada unidade. Os copos de cristal feitos à mão são os mais caros.

Vale a pena investir em bons copos? A resposta é um inequívoco ‘sem dúvida’: não é um capricho de enochato, é antes, tão simplesmente, senso comum.

Duas perguntas a Joaquim Cândido da Silva

Director-geral da Portfolio Vinhos, empresa que distribui, desde há alguns amos, a marca de copos Riedel, Joaquim está no mercado de vinhos há algumas décadas e assistiu à sua evolução (e à dos copos).

Copos de Vinho
©Anabela Trindade

Em termos de copos, o que aconteceu em Portugal nas últimas décadas?
A evolução do copo está profundamente ligada à evolução da qualidade dos vinhos: hoje os vinhos são muito mais complexos e exigem um copo onde se consigam expressar (…). Tudo isto é, desde há muitos anos, o lema da Riedel, “o conteúdo determina a forma!”.
Que aconselha para quem tenha pouco espaço?
“Para o espectro dos vinhos portugueses, a Riedel tem 2 ou 3 referências que cobrem uma larga maioria dos vinhos: o copo Riesling para a grande maioria dos brancos e o copo de Touriga Nacional (que resultou de uma escolha alargadíssima de produtores portugueses), não só para os vinhos desta casta como para vinhos de lote de várias castas tintas”.

Duas perguntas a Ralf Schmidt

É o gestor da empresa Schmidt-Stosberg, importadora da marca de copos Schott Zwiesel. Desde 2000 que a marca é parceira na feira Vinhos & Sabores (antes, Encontro com o Vinho), organizada anualmente por esta revista em Novembro. São milhares de copos envolvidos durante três dias.

Copos de vinho

Conte-nos como foi o primeiro Encontro com o Vinho…
Foi em 2000, na Gare Marítima de Alcântara. Fiz um acordo com a organização: levava os copos, vendidos juntamente com o bilhete de entrada. Estimava-se que venderíamos, no máximo, 500 copos. Mas, à cautela, levei mil. E três horas antes de fechar o primeiro dia, estava quase sem copos… Havia de facto apetência para os bons copos.

O ano passado, a Schmidt-Stosberg fez duas acções de copos com uma grande cadeia de retalho. Como correu?
As acções correram muitíssimo bem. Cada €160 de compras permitia comprar dois copos a €2,99. Se asa compras fossem de 320 euros, os dois copos eram oferecidos. Até a minha mulher comprou copos (risos). Fornecemos mais de 2 milhões de copos da Schott Zwiesel.

 

Edição Nº22, Fevereiro 2019

 

As incríveis voltas do vinho português

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Muito – e bem – se tem falado do desempenho dos vinhos portugueses nos mercados internacionais. Exportações a subir, prémios em concursos, elogios na imprensa da especialidade, cada vez mais exposição e prestígio. Grandes mercados, grandes palcos. […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Muito – e bem – se tem falado do desempenho dos vinhos portugueses nos mercados internacionais. Exportações a subir, prémios em concursos, elogios na imprensa da especialidade, cada vez mais exposição e prestígio. Grandes mercados, grandes palcos. São boas notícias, mas não contam tudo. Do outro lado da escala há todo um mundo de pequenos negócios para destinos pouco falados. E muitos deles dão belas histórias para contar.

TEXTOS Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga e DR

Aconteceu há uns seis anos, em Dusseldorf. No último dia da Prowein, a maior feira de vinhos do mundo, o enólogo e produtor português Anselmo Mendes precisava mesmo de sair mais cedo, para apanhar o avião de regresso a Portugal. Deixou um frappé com algumas garrafas no gelo, copos e folhetos com os contactos. Alguns dias depois, chegou um mail: um importador tailandês tinha passado pelo stand, provou os vinhos, fotografou os que queria e fez uma encomenda de 2000 garrafas… “Isto da exportação envolve sempre muita transpiração, mas este caiu do céu”, ri-se Anselmo, que continua a trabalhar com o despachado tailandês. “Só nos conhecemos pessoalmente passados dois anos!”
Estas e outras histórias ajudam a explicar a presença de vinhos portugueses em mercados tão pouco previsíveis como o Burkina Faso, Aruba, Belize, Bolívia, Cazaquistão, Congo, Fidji, Gabão, Jordânia, Malawi, Mongólia, Panamá, Seychelles, Vietname ou Zimbabwe. Entre muitos outros – mais exactamente, 140. Isso mesmo: em 2017, indicam os dados coligidos pelo Instituto do Vinho e da Vinha, Portugal exportou vinho para 140 países. Em 2016 foram 132. Dos 50 países europeus, por exemplo, só quatro (Mónaco, Montenegro, Macedónia e San Marino) não são mencionados nos documentos oficiais.
Um olhar mais atento aos números disponibilizados pelo IVV mostra que, destes 140 mercados, 39 valeram mais de um milhão de euros, 13 ficaram entre os 500 mil e o milhão, 30 renderam entre 100 mil e 500 mil. E depois há mais 58 cujo volume de negócios não chegou aos seis dígitos. Como bem descreve José Luís Oliveira e Silva, da Casa Santos Lima, “não são estes mercados que pagam as contas ao fim do mês, mas respeitamos todos por igual”. E, muitas vezes, é a presença, por residual que seja, num país que abre as portas de outros.
Que o diga o próprio líder do grande exportador lisboeta, que passou a vender em Creta (Grécia) porque o importador provou os vinhos da Casa Santos Lima em… Curaçau. E o homem que lhes abriu as portas do mercado australiano passou a conhecê-los após uma prova em Londres. Mas o melhor mesmo é “dar corda às pernas” (nas palavras de Paulo Lima, da Enoport) e visitar os países onde há mercado potencial. José Luís Oliveira e Silva vende para a Indonésia depois de a empresa ter estado numa feira em Jacarta e lembra o caso de Guadalupe, um mercado pequeno, mas que visita “regularmente”.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32124″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]As pessoas
O vinho é um produto que se afirma num registo muito emocional e isso traz as pessoas – e não tanto os números – para a primeira linha das decisões. “O cliente da Casa da Passarella que mais cresceu em 2017 e mais vai crescer em 2018 é norueguês. Porquê? Porque tem a mãe a viver em Caminha. Ele trabalha com vinhos espanhóis e italianos, mas um dia veio visitar a mãe e pediu um copo de vinho num restaurante do Porto. O empregado serviu-lhe um nosso e ele, já em Caminha, numa garrafeira, viu o Descoberta e quis levar para o almoço com a mãe. E também para casa, na Noruega, onde, passados uns dias, serviu os nossos vinhos no aniversário de um amigo.” Sucesso total: a história contada por Paulo Nunes, enólogo da Casa da Passarella, começa com pessoas e termina nos números: “Vendemos 75.000 euros a este cliente em 2017 e o objectivo para 2018 é de 200.000.”
Saber receber e saber promover o seu produto são virtudes essenciais. Mas às vezes é preciso ter a sensibilidade para perceber que o melhor é não pressionar. Bernardo Cabral, enólogo e administrador da Companhia das Lezírias, lembra uma ocasião em que não vender foi a melhor forma de vender: “Recentemente, quando esteve cá um grupo de importadores japoneses trazido pela ViniPortugal, nós fomos anfitriões da última visita. Os homens estavam estoirados. Um deles disse-me mesmo: ‘Está a ser a visita mais dura da minha vida…’ Estava esmagado pela sucessão de provas, refeições pesadas, jantares tardios, poucas horas de sono. E eu sei bem o que isso é, pelo que me mostrei solidário e nem tentei vender-lhe nada.” Moral da história: a psicologia invertida deu frutos e, mal chegou ao Japão, o estafado japonês fez de imediato uma encomenda de 10.000 garrafas. “Costuma demorar uns bons dois anos até se criar uma relação destas”, frisa Bernardo Cabral.
Num jantar em Lisboa, foram aconselhados a um cliente vinhos da Herdade do Sobroso. O cliente em questão importava para as Filipinas e não tardou a chegar ao produtor alentejano um mail intitulado “Sobroso in Phillipines”, com a foto de um cavalheiro sorridente empunhando uma garrafa da casa. Junto vinha a pergunta: “Já têm importador para as Filipinas?” Não tinham. Mas agora têm. “Já seguiram duas paletes e em Novembro vou lá conhecê-lo pessoalmente”, revela Sofia Ginestal Machado, administradora da Herdade do Sobroso.
A Quinta de Lagoalva exporta para a Estónia e a explicação para a presença num mercado tão pouco falado é simples, como conta o enólogo Diogo Campilho: “Foi um tipo que veio cá de férias e adorou os vinhos e a forma como foi recebido. Nem sequer era alguém ligado ao mundo dos vinhos, mas agora já está. E, para além dos nossos, já importa para a Estónia vinhos de outro produtor português.” Na Quinta da Badula, recorda Élia Vitorino, a história foi semelhante: “Num programa de vindima aberta tivemos cá uma pessoa que é proprietária de um hotel na Namíbia.” E assim se abriu mais um mercado.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Mateus, o grande embaixador” color=”custom” accent_color=”#888888″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Corria o ano de 1974 e uma revolução num pequeno país europeu acabava de depor uma das ditaduras mais longas da história. No mundo ocidental, os primeiros tempos depois do 25 de Abril acordaram fantasmas de deriva comunista. E se Portugal se transformasse numa nova Cuba? E se, de repente, Portugal e os seus produtos ficassem fora do alcance? Como é que vamos viver sem Mateus rosé?
É uma forma propositadamente irónica de olhar para a situação, mas factos são factos. “Nesse ano”, recorda Miguel Pessanha, administrador da Sogrape e responsável pela enologia do rosé mais vendido do mundo, “os EUA importaram 1,7 milhões de caixas [12 garrafas cada], o dobro do normal, para não enfrentarem quebras de stock…” E talvez esta seja a forma mais evidente de constatar a importância das pequenas garrafinhas ovais no mercado mundial.
Com exportações a rondar actualmente as 20/25 milhões de garrafas por ano (“e a crescer nos últimos dois anos a um ritmo de 2,5% ao ano”), o Mateus rosé continua a ser o grande embaixador do vinho português extra-fronteiras. Vende-se em 125 mercados por todo o planeta, incluindo paragens tão pouco previsíveis como Suazilândia, Maurícias, República Democrática do Congo, Seychelles, Ruanda, Serra Leoa, Burkina Faso ou Antígua e Barbudas. E se fizer um safari na África do Sul, é bem provável que lhe sirvam Mateus.
Criado em 1942, o Mateus não demorou uma década a ser descoberto em Inglaterra, saltando daí para o mundo. Não espanta, por isso, que Miguel Pessanha o encontre bastas vezes nas suas deslocações ao estrangeiro. Em Espanha, perante os elogios que ouvia numa mesa ao lado, apresentou-se e pagou o vinho a um casal espanhol. E durante a sua lua-de-mel, passada em Barbados, o único vinho português à venda era, claro, Mateus rosé. Europa, Américas, Ásia, África, Oceania. Então e na Antárctida, não há Mateus? “Não sabemos, mas talvez na bagagem de algum visitante ou cientista…”
[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32097″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”32100,32101,32102″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”extra-color-1″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Mundo português
E se é verdade que às vezes um bom parceiro de negócio sai de onde menos se espera – “Há um tipo que fabrica filtros para aquários gigantes que nos compra aos contentores para a China”, revela Duarte Leal da Costa, da Ervideira –, também há que reconhecer que a presença de portugueses em qualquer canto do mundo que se preze também pode dar uma ajuda. Ainda que às vezes com umas voltas pelo meio…
“Recentemente”, recorda Hélder Cunha, da Casca Wines, “num jantar vínico em Shangai, conheci uns chineses de Taiwan. Um deles disse-me que se conseguisse estar no sábado seguinte em Taiwan me apresentava um amigo proprietário de restaurantes e que procurava vinhos com o perfil dos nossos. Lá fui. E o tal amigo era um português! Um verdadeiro embaixador do vinho português, devo acrescentar!”
O importador da Enoport para a Namíbia também é português, explica Paulo Lima, da empresa com sede em Rio Maior, que passou os últimos dois anos e meio sediado em Luanda e conhece bem os meandros dos mercados africanos. “Quando chego a um país, contrato um taxista e peço-lhe para me levar às garrafeiras e a partir daí sigo as pistas que surgem. As burocracias podem ser terríveis e entrar num país com amostras às vezes é difícil, mas tudo se resolve.” Para bom entendedor…
Já agora, quem pode aproveitar canais abertos por outros produtos só tem a ganhar com isso. A Adega Mãe sabe que o bacalhau (Riberalves) é um cartão de visita global e o facto de a empresa ser uma das maiores do mundo (adquire entre 8 a 10% da pesca mundial desta espécie) neste ramo joga a favor dos seus vinhos. O produtor lisboeta exporta cerca de 60 por cento da sua produção de um milhão de garrafas e está presente em 30 países, incluindo, por exemplo, Bermudas, Laos ou Ruanda, explica Pedro Azevedo, director comercial e de operações.
Mas o negócio mais “sui generis” da casa nem aconteceu nesses países menos “vínicos”, digamos assim. Foi na China, de onde chegou uma encomenda de vinhos varietais. A Adega Mãe produz 12 varietais, cujos rótulos ostentam em destaque a letra inicial da casta que está na garrafa. E foi esse o argumento vencedor para a viagem rumo ao oriente: a maior cadeia de televisão chinesa, a CCTV, viu naqueles rótulos um excelente pormenor de decoração, replicando a sua sigla com garrafas de vinho. Ou seja, CCTV tanto se pode ler China Central Television como Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Viosinho (ou Viognier). Cortesia do concelho de Torres Vedras, não têm de quê.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Entrevista Mário Neves” color=”custom” accent_color=”#888888″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

“Hoje o que se compra em todo o mundo é estilo”

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][vc_column_text]Começou em 1978 e foi director internacional da Aliança, agora no grupo Bacalhôa Vinhos de Portugal, durante 40 anos. Ao cabo de décadas a vender vinhos nos mercados internacionais, Mário Neves está quase a reformar-se, mas diz que se retira com a mágoa de ver que o vinho português não consegue afirmar marcas e estilos a nível global. Histórias tem muitas e até está a pensar escrever um livro de memórias.

Quantos países já visitou?
São tantos, perdi-lhes a conta! Mas sei que fiz quatro voltas ao mundo completas. Se estava na Ásia ou na Austrália, regressava à Europa pela América. Viajei por toda a Ásia, Américas do Norte, Central e Sul, África menos. Uma das primeiras viagens que fiz, na Aliança, foi visitar todas as ilhas das Caraíbas. Nessa altura, finais da década de 70, princípios de 80, havia um mercado muito forte para os rosés portugueses (Mateus, o nosso Casal Mendes, o Lancer’s e vários outros), que tinham grande fama nos EUA – éramos o segundo exportador mundial para os EUA, a seguir à França. Chegou a haver 70 marcas de rosé português no mercado norte-americano, hoje encontra-se uma garrafa ou outra nos supermercados…[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32112″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]É por isso que eu sou céptico quando se diz que a situação do vinho português está melhor do que nunca, nessa altura havia marcas reconhecidas à escala global e vejo muito menos isso nos dias que correm. Precisamos de criar marcas fortes, seja pelas regiões, seja pelas variedades de uvas. Exportamos mais do que no passado, mas continuamos a ter uma posição frágil face aos nossos concorrentes.

Onde foi mais fácil e mais difícil vender o seu vinho?
Nessas décadas de 70, 80 e 90, era fácil vender rosés, nomeadamente nas Caraíbas. É preciso estar atento às oportunidades. Mas às vezes também é preciso ter sorte. Tenho muitos episódios curiosos e até gostaria de escrever um livro sobre essas memórias de trabalho… Por exemplo, uma vez no Brasil, não sei se estava em Florianópolis ou Porto Alegre, decidi fazer uma visita à Argentina, onde não havia qualquer vinho português no mercado, tirando um ou outro Porto. Percebi que não havia rosé à venda na Argentina e começámos logo a exportar rosé para lá. Acabei por vender 20 contentores nesse ano para a Argentina. Infelizmente, esse mercado acabou, devido à oscilação da moeda do país.
África é muitas vezes falada quando se lembram episódios curiosos…
Certo dia, um nigeriano que vivia em Maiorca contactou-me para importar rosé português para África. O curioso é que ele, para além de importador de produtos alimentares e também importador de produtos químicos, ainda tinha uma terceira actividade: era agente de jogadores de futebol. Chegou a ter um excelente jogador no Boavista [o ponta-de-lança Ricky]… Comprou-me dois contentores de vinho para a Nigéria – tinha de ser pagamento imediato e ele pagou os cerca de 30.000 dólares em notas. E só duas é que eram falsas!

Qual é a importância do chamado “mercado da saudade” nas nossas exportações?
Portugal exportou em 2017, de vinhos tranquilos (sem Porto), cerca de 375 milhões de euros. Uma percentagem significativa vai para os portugueses que vivem lá fora, o que significa que ainda temos muito a fazer para nos afirmarmos nos mercados internacionais. Somos um país difícil de perceber para os estrangeiros…
Costumo dizer que o meu negócio não é vender vinhos; hoje o que se compra em todo o mundo é estilo. E os vinhos portugueses não têm um estilo, salvo raras excepções – talvez a mais notável seja a dos Verdes: seja qual for a marca, o consumidor sabe o que vai beber. A nível de castas, a Baga consegue isso: podem não ser os melhores vinhos, mas são os mais autênticos. Faltam-nos castas que sejam reconhecidas em todo o mundo. O Alvarinho, sim, mas muito a reboque de Espanha e do seu Albariño… A Touriga Nacional tem boa imagem, mas faltam mais marcas para lhe dar visibilidade – isto tem de ser um trabalho conjunto, ninguém pense que vai ter sucesso sozinho.

Em Portugal, só as regiões garantem escala?
Sim, mas veja-se: o Alentejo faz 100 milhões de litros, mas a grande diferença é que no Alentejo usam-se 60 variedades de uva e, por comparação, um caso de sucesso recente, Rueda faz 100 milhões de litros só com uma variedade, o Verdejo. Ou seja, a região garante um estilo e constrói uma marca. Alentejo e Douro são regiões em que é muito difícil construir marca, porque não há um estilo definido, não são regiões homogéneas.
Como vê os esforços para recuperar algumas castas tradicionais?
Se calhar precisávamos era de um trabalho ainda maior ao nível da selecção clonal. É precisa mais investigação na área da viticultura. Por exemplo, os Açores têm um clima semelhante ao da Nova Zelândia, que não existia nos mercados internacionais há 30 anos e agora exporta 1000 milhões de dólares só com uma uva [Sauvignon Blanc]. Mas por causa da maneira como se fazia o vinho antigamente não era possível afirmar o vinho dos Açores. Agora, com um trabalho fundamentalmente de viticultura, a região está a aparecer no topo.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][image_with_animation image_url=”32118″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A vaga de popularidade de Portugal de alguma forma ajudou no seu trabalho?
Nos vinhos… ando nisto há 40 anos, estou prestes a reformar-me e não estou feliz. Veja-se o que se passa nos supermercados: dezenas de marcas a surgirem quase todos os dias, o nível de preços é terrivelmente baixo. Não estamos a acrescentar valor no vinho que produzimos…

Como é que se vende então o vinho português?
De muitas maneiras. E também é preciso ter sorte. Em Londres, há uns 12/15 anos, apareceu-me um indiano que, após 15 minutos de conversa, comprou-me um contentor de vinho. E até brincou comigo: “Você nem acredita que eu lhe vou comprar tanto vinho!” E era isso mesmo, fiquei completamente espantado com a facilidade do negócio.
Também já vendi vinhos a pessoas que conheci às duas da manhã… Aconteceu em Verona, com o comprador da maior cadeia de lojas da Áustria; e em Bordéus, no final da Vinexpo, no jantar da Confraria de Bordéus, quando me apareceu um cavalheiro que se apresentou como comprador de uma das maiores cadeias de supermercados da Bélgica… já tínhamos os dois bebido de mais nessa noite, mas começou aí uma boa relação comercial, que durou vários anos.

O verdadeiro vendedor nunca dorme, portanto.
(Risos) É isso, quem dormir pode perder grandes oportunidades![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”extra-color-1″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº18, Outubro de 2018

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CHINA, O Império do vinho

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Na China está em curso uma autêntica revolução do vinho, com o número de consumidores e apreciadores a crescer a bom ritmo, estimulando assim o interesse comercial dos países exportadores tradicionais, entre eles Portugal. Isto apesar dos […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Na China está em curso uma autêntica revolução do vinho, com o número de consumidores e apreciadores a crescer a bom ritmo, estimulando assim o interesse comercial dos países exportadores tradicionais, entre eles Portugal. Isto apesar dos baixos preços praticados e das barreiras de um mercado geograficamente muito vasto, complexo e difícil. Por outro lado, além de importar vinho, a China já é um dos maiores produtores mundiais…

TEXTO: Paulo Narciso
FOTOS DR

“Os chineses interessam-se, cada vez mais, por vinho e sobretudo por vinho importado”, afirma Edward Ragg, professor universitário, crítico de vinhos e fundador da Dragon Phoenix Wine Consulting, uma das mais reputadas firmas de consultadoria de vinho na China. “Nos últimos dez anos assistimos a um crescimento sustentado de consumidores urbanos com um genuíno interesse pelo vinho”, acrescenta o consultor inglês que, desde 2007, ensina na universidade de Tsinghua (Pequim), “mas o mercado de vinho importado é ainda pequeno, na verdade não é muito maior do que o holandês. Quando se compara a dimensão geográfica e populacional entre a China e a Holanda é fácil concluir que ainda há muito para crescer no maior país asiático.”
Um dos muitos sinais de que tudo está a mudar no mercado chinês são as crescentes parcerias que alguns potentados ocidentais do vinho estão a estabelecer na China: Remy Martin, Pernod Ricard ou Moet&Chandon/LVMH são algumas das marcas presentes no mercado através de joint-ventures com companhias chinesas.
E Portugal? Que papel poderá ter um país pequeno – quando comparado com a vastidão geográfica da China – num mercado que conhecemos desde o século XVI? Tal como no século de quinhentos enviámos naus ao Império do Meio, também agora os produtores portugueses começam a enviar os seus vinhos sem se intimidarem com a forte concorrência de outras potências vinícolas europeias, como a França, Espanha ou Itália. É preciso conquistar terreno no complicado mercado chinês e saber encontrar a fórmula para agradar ao, cada vez mais, sofisticado paladar dos consumidores chineses das “novas” classes média e alta, que facilmente pagam 100 euros por uma garrafa de vinho.
“O mercado da China, por razões culturais essencialmente, é ainda um mercado de abordagem difícil, admito que para todos os países exportadores de vinho. Temos feito incursões que nos permitem melhorar o conhecimento sobre o mercado, consumidores e intervenientes no circuito”, afirma Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal. “Temos trabalhado a presença em feiras especializadas – Hong Kong Wine Fair, Prowine Xangai, por exemplo – e temos organizado anualmente Grandes Provas de Vinhos de Portugal.”
Com quase todas as previsões a afirmarem que a China ultrapassará, em 2020, as vendas de vinho da França e Inglaterra juntas e estando em jogo o valor de 21,7 mil milhões de dólares, é fácil perceber a atração que o mercado chinês exerce sobre os produtores portugueses. “Estudos recentes indicam que, até 2020, 75% do crescimento do consumo mundial de vinho em valor vai estar no mercado chinês, portanto é um mercado claramente a apostar. É um mercado onde já estamos bem presentes e queremos continuar a fomentar e fazer crescer essa presença”, afirma Vítor Santos, da Casa Ermelinda Freitas. Para a conquista do mercado chinês, a casa de Palmela aposta sobretudo no prestígio dos seus tintos. Salientando a dificuldade de comunicação e as exigências alfandegárias, que variam de porto para porto, como as principais dificuldades encontradas no mercado chinês, Vítor Santos sublinha “a dimensão e a grande apetência do mercado para vinho português devido à imagem de qualidade que Portugal tem na China”.
Para João Gomes da Silva, administrador de Marcas e Mercados da Sogrape, as principais dificuldades, quando se pensa no mercado chinês, são “a falta de conhecimento dos vinhos portugueses e a ausência de informação precisa sobre o mercado local”. Mas, por outro lado, salienta a oportunidade que aquele mercado oferece em termos de dimensão com os seus “mais de 300 milhões de potenciais consumidores se tivermos em conta (apenas!) 20% da população total” e também o facto de estarmos perante “uma economia em franco crescimento que se revela aberta ao prestígio dos vinhos importados”.
Com experiência no mercado de Macau desde 2000, a DFJ exporta anualmente para aquele território cerca de 30.000 garrafas de vinho, na sua maioria tintos da região de Lisboa. “O mercado de Macau e províncias chinesas vizinhas está saturado de vinhos importados de todo o mundo e a preço muito baixo”, afirma Luís Gouveia, da direcção comercial e marketing da DFJ. Para a marca sediada no Cartaxo, Macau vale, em média, 20.000 a 30.000 garrafas por ano. “Os consumidores até aos 30-35 anos gostam de vinhos mais frutados, jovens e com açúcar residual ou uma percentagem de álcool elevada, por isso gostam dos vinhos do Alentejo e da região de Lisboa, onde a DFJ tem a maioria da sua produção”, salienta Luís Gouveia.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”image_grid” images=”30656,30665,30654″ layout=”3″ gallery_style=”1″ load_in_animation=”none”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Produção a crescer
A revolução do vinho na China está a ter grandes repercussões não só no mercado da importação, mas também no da produção local. O aumento de consumo de vinho pelos chineses está a ter impacto na maneira como ele é produzido e a qualidade tem vindo a subir de ano para ano. A produção está concentrada em quatro grandes companhias, que dominam cerca de 60% do mercado: Great Wall (fundada em 1983), Dragon Seal (1987), Huandong (1985) e Changyu (a mais antiga, fundada em 1892). Abaixo destes colossos da produção, situam-se os médios e pequenos produtores chineses que tentam sobreviver num mercado inflacionado pela importação.
Ningxia, província situada a 1200 km de Pequim, é uma das mais recentes zonas de produção de vinho na China e uma das mais promissoras candidatas a região “premium”. Servida pelas águas do rio Amarelo, pelo ar seco do deserto próximo e situada a uma altitude de 1200 metros, Ningxia é uma espécie de ‘ground zero’ dos aspirantes a grandes produtores de vinho chinês. Hoje em dia contam-se 207 companhias ali situadas.
É aqui que encontramos uma das mais aclamadas e promissoras marcas de vinho chinês, a Silver Heights, fundada, em 2006, por Emma Gao (chinesa, enóloga, formada na região de Bordéus) e Thierry Courtade (francês, descendente de uma longa linha de produtores de vinho). O casal de enólogos trabalha com Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay para produzir vinhos ‘premium’, um pouco ao estilo dos da região de Bordéus.
Ema Gao, 40 anos, confirma o crescente interesse dos seus compatriotas pelo vinho: “Os chineses estão cada vez mais interessados em aprender, provar e apreciar vinhos. O vinho está a tornar-se uma bebida do dia-a-dia, em vez de ser consumido apenas em ocasiões especiais.” Mas num país habituado, há séculos, a beber cerveja, vinho de arroz e licores, a nova moda ainda não chegou a todos: “Há ainda grandes zonas do país onde não se bebe vinho e pouco ou nada se sabe sobre ele. Há mesmo quem não saiba que o vinho é feito a partir de uvas.”
Produzindo cerca de 60.000 garrafas/ano, Ema Gao aposta em quatro variedades de vinho e a mais prestigiada – Emma’s Reserve – recebeu 91 pontos do incontornável Robert Parker e rasgados elogios de Jancis Robinson (com uma classificação de 17/20). As vendas ficam quase todas entre Pequim, Xangai e Hong Kong. A próxima meta é exportar para o vasto mercado asiático vizinho e mais tarde, quem sabe, chegar ao Velho Mundo. Ao contrário de muitos dos seus colegas produtores, Ema Gao não teme os vinhos importados: “Um dos factores que tem ajudado os produtores chineses tem sido a crescente oferta de bons vinhos importados e colocados no mercado a um preço acessível. Isto obrigou-nos a aumentar drasticamente a qualidade dos nossos vinhos.”
Há pouco mais de um ano, Ema esteve em Portugal e aproveitou para provar vinhos portugueses: “São magníficos. Uma das castas – Touriga Nacional – é incrível. Que tamanha concentração de sabores e uma variedade tão grande de aromas. Espero um dia levar esta casta para a China.”
Os últimos anos têm revelado muitas e grandes novidades no mercado chinês do vinho. E como será o futuro? Será a China uma aposta sólida para os produtores portugueses?[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”image_grid” images=”30658,30666,30669″ layout=”3″ gallery_style=”1″ load_in_animation=”none”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Moderar entusiasmo
Para Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, o mercado chinês “deve ser encarado com entusiasmo moderado porque há manifestamente uma procura de grandes volumes, para os quais Portugal não tem uma grande capacidade de resposta; e, por outro lado, uma procura de vinhos baratos, para os quais não conseguimos ter preço”.
No entanto, Jorge Monteiro não deixa de acreditar nas potencialidades do mercado chinês: “Julgo que pode vir a ser um mercado com interesse para vinhos diferentes, como os nossos, mas isso levará tempo. A China apresenta taxas de crescimento elevadas, tendo a exportação de vinhos portugueses crescido 24,1% em valor. Trata-se de uma boa taxa de crescimento, mas quando, ao mesmo tempo, dispomos de mercados mais próximos, com cultura de vinho, em que a língua não é uma barreira, disponíveis para pagar mais – e refiro-me por exemplo ao Luxemburgo, Suíça ou mesmo a Rússia – vale a pena questionar a oportunidade de se trabalhar um mercado longínquo, extenso, com elevadas barreiras culturais e linguísticas.”
João Gomes da Silva, da Sogrape, assume-se mais optimista e prevê um crescimento global do volume de vinho importado na China e “uma crescente ‘premiuminização’, fruto da pressão de consumidores cada vez mais bem informados, que irão conhecendo melhor as virtualidades dos vinhos portugueses”.
Para Luís Gouveia, da DFJ, a evolução do mercado na China dependerá “muito da protecção que o Governo chinês entender dar ao vinho da China, hoje um dos maiores produtores mundiais e cuja qualidade vem subindo em cada nova colheita”. E profetiza: “A procura de vinhos por um euro continuará e o consumo de vinhos muito caros de Bordéus e Borgonha aumentará.”
“Não faço a menor ideia” – é assim que Edward Ragg perspectiva a evolução do vinho na China. “É um mercado que muda muito rapidamente. Não vejo a China a exportar grandes quantidades de vinho, mas apenas quantidades limitadas de alguns ‘super-premium’. A China não é o país mais indicado para produzir vinho por muitas razões, incluindo as climáticas. Resumindo: não vejo a China a ter um papel muito significante na exportação de vinho.”
Se há coisa que os chineses têm demonstrado, ao longo da história, é a sua grande capacidade de adaptação e aprendizagem (que alguns apelidam de “cópia”). Enquanto vai abrindo o seu mercado ao vinho do Velho Mundo, a China continua a aprender com os melhores. Até onde isso a levará no mundo do vinho? Talvez a resposta esteja num dos muitos provérbios chineses: “O segredo de andar sobre as águas é saber onde estão as pedras!”[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”image_grid” images=”30663,30660,30667″ layout=”3″ gallery_style=”1″ load_in_animation=”none”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”#efefef” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”O “gosto chinês””][vc_column_text]Ouve-se muitas vezes falar de um tal gosto chinês como sendo diferente do gosto ocidental. Mas para o consultor e professor da Universidade da Agricultura de Pequim, Demei Li, não existe um “gosto chinês” – os gostos variam em função de hábitos gastonómicos e estes variam em função da região. Por exemplo, no norte e leste da China come-se comida salgada, mas nas regiões a oeste os habitantes gostam da comida picante e no sul da China mais picante ainda. Na costa leste, as preferências gastronómicas recaem sobre o peixe e marisco, mas algures lá no meio disto sobressai o gosto pelos sabores doces. O vinho ideal para acompanhar toda esta enorme variedade gastronómica não pode ser sempre o mesmo. Outra consideração é a cor do vinho. Os chineses bebem 75% de vinho tinto, 15% de branco e apenas 5% de rosé e 5% de espumantes. O vinho tinto é considerado superior em qualidade ao vinho branco, logo não podem ser vendidos pelo mesmo preço. Mas nas regiões ao longo da costa o consumo de vinho branco tem vindo a crescer.
Valéria Zeferino[/vc_column_text][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº17, Setembro 2018

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Fórum ViniPortugal 2018: Vinho português continua a desbravar mundo

exportações vinho português

TEXTO Mariana Lopes O Convento de São Francisco, em Coimbra, foi, pela primeira vez, palco do já recorrente Fórum ViniPortugal. No dia 29 de Novembro, o sector ficou a conhecer, de forma aprofundada, os dados mais recentes sobre as exportações portuguesas de vinho, a conjuntura do mercado nacional, os planos de marketing, para 2019, das […]

TEXTO Mariana Lopes

O Convento de São Francisco, em Coimbra, foi, pela primeira vez, palco do já recorrente Fórum ViniPortugal. No dia 29 de Novembro, o sector ficou a conhecer, de forma aprofundada, os dados mais recentes sobre as exportações portuguesas de vinho, a conjuntura do mercado nacional, os planos de marketing, para 2019, das várias CVR e da ViniPortugal, uma avaliação do enoturismo nacional e a prosperidade de alguns mercados asiáticos.

A sessão abriu com Luís Medeiros Vieira, Secretário Geral da Agricultura e Alimentação, que sublinhou o facto de o sector do vinho apresentar resultados excepcionais, “continuando a afirmar-se como um sector de sucesso em Portugal”. Lembrou, ainda, os fenómenos climatéricos que influenciaram negativamente a produção das vinhas, este ano, e referiu que serão cada vez mais frequentes. Reforçou, assim a necessidade de tomar medidas de protecção, como “fazer um seguro contra o escaldão, como já bastantes produtores fizeram”.

Portugal continua a ser o 9º maior exportador mundial de vinho, segundo dados do IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, apresentados por Maria João Dias. No entanto, Portugal e Grécia reduziram a sua produção no último ano, num Mundo que produziu aproximadamente 297 milhões de hectolitros. Apesar disso, este foi o único parâmetro em que Portugal regrediu, tendo a exportação crescido 4% em volume, 5% em valor e 1,3% no preço médio, face ao ano transacto. Isto significa que houve uma excelente recuperação depois do período problemático no mercado angolano. Actualmente, França, Estados Unidos e Reino Unido são os três principais destinos dos vinhos portugueses, países para onde vai 33% do vinho exportado. Em França, crescemos 12,9% em volume e 7,8% em valor em 2018. De notar é o facto de, de 2013 a 2017, Portugal ter aumentado as suas exportações para os EUA em 41%. No Reino Unido, o país cresceu, neste período, 9% em valor e exportou a um preço médio superior ao que o Reino Unido importa. Embora o Vinho do Porto tenha um peso ainda grande neste mercado, esta categoria de vinho decresceu ligeiramente, tendo aumentado a exportação de vinho tranquilo para o Reino Unido. Isto aplica-se, também, a outros mercados, onde vemos especificamente a exportação de tranquilo português a aumentar os seus números. Apesar de ficar fora do pódio, o Brasil é um mercado em evidência, com os vinhos portugueses a terem um desempenho muito positivo, com um crescimento de 19,8% em valor e um aumento de 11,2% no preço médio em 2018 face a 2017. Isto é a melhor performance no TOP 10 dos principais mercados de destino dos vinhos portugueses, que inclui ainda países como Alemanha, Canadá, Bélgica, Países Baixos, Angola e Suíça. Em conjunto, estes mercados representam 72% da exportação nacional. Para o mercado Alemão, de cada vez maior importância, Portugal exportou mais 14% em valor e 22% em volume, naquele período de cinco anos. Na Suíça, o crescimento foi de 7,2% em volume e 9,4% em valor.


E no horizonte de 2021, quais são os mercados com maior potencial? China, Coreia do Sul e Polónia são os mais atractivos a médio prazo, de acordo com um estudo do IVV que avaliou as taxas de crescimento dos últimos anos. De 2013 a 2017, Portugal aumentou as suas exportações para a China em 100%. Já para a Coreia do Sul, o número chega aos 510% no mesmo período, em volume, e 44% em valor. A Polónia, por sua vez, recebeu mais 35% em volume de vinho português, com um acréscimo de 46% em valor. Bastante relevante no estudo deste mercado são também os 50% de aumento de vinho tranquilo certificado português.

Quanto ao mercado nacional, verificou-se que o valor está concentrado na restauração e o volume na distribuição e, no somatório destes dois mercados e falando de vinho certificado, tanto o valor como o volume, e também o preço médio, aumentaram. Num país onde se vende mais tinto do que branco, a venda de garrafa representa 70%, sendo que o mercado é liderado pelo Alentejo, embora com decréscimo de 2%, seguido do Douro, que cresceu, e, em terceiro lugar, a Península de Setúbal, que também está ligeiramente mais presente do que em anos anteriores.
Tendo em conta tudo isto, a ViniPortugal propôs-se a investir nos mercados internacionais, em 2019, 6,5 milhões de euros, com ênfase nos Estados Unidos, que representarão 20% do esforço de investimento. Canadá e Brasil são os que vêm a seguir e México e Dinamarca as novas apostas.

Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, concluiu: “O nosso país encontra-se em 9º lugar no ranking mundial, atrás da Nova Zelândia e à frente de países como África do Sul e Argentina. Importa continuar a trilhar este caminho, consolidando os mercados onde temos crescido, de forma visível ao longo dos últimos anos, e apostando em novos mercados, com uma postura competitiva e profissional. A diversificação de mercados tem de continuar a ser uma prioridade para os vinhos portugueses. Temos de sair da chamada ‘zona de conforto’ e alocar tempo, energia e recursos para sermos bem-sucedidos em mercados mais exigentes”.