Cinco Moscatéis de Setúbal no top 10 do concurso Muscats du Monde

Moscatel Setúbal Muscats Monde

Os produtores de Moscatel de Setúbal Venâncio da Costa Lima, Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões e Bacalhôa Vinhos de Portugal voltaram a figurar no Top 10 do Concurso Internacional Muscats du Monde. A 23ª edição desta competição decorreu nos dias 20 e 21 de Junho, na localidade de Entre-Vignes, na região francesa de Occitânia. […]

Os produtores de Moscatel de Setúbal Venâncio da Costa Lima, Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões e Bacalhôa Vinhos de Portugal voltaram a figurar no Top 10 do Concurso Internacional Muscats du Monde. A 23ª edição desta competição decorreu nos dias 20 e 21 de Junho, na localidade de Entre-Vignes, na região francesa de Occitânia.

Durante os dois dias do concurso, foram provados 167 moscatéis oriundos de 17 países, por mais de 55 jurados internacionais, que atribuíram 55 medalhas, 29 de Ouro e 26 de Prata.

Destacam-se, ainda, as medalhas de Ouro da Casa Ermelinda Freitas, com o seu Moscatel Roxo de Setúbal 2010, e da Venâncio da Costa Lima, com o Rubrica Reserva Moscatel de Setúbal 10 Anos; e as medalhas de Prata da Venâncio da Costa Lima, com o Moscatel de Setúbal Reserva da Família 5 Anos, e da Adega Camolas, com o Moscatel de Setúbal Reserva Barrel Aged 2019.

Para o presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, Henrique Soares, as distinções obtidas no Concurso Muscats du Monde são o reconhecimento das características naturais da região para a produção deste generoso: “O reconhecimento obtido no Concurso Internacional Muscats du Monde, a consistência e o número de medalhas obtidas ao longo dos últimos 15 anos, num concurso com esta dimensão e prestígio, têm tido grande importância para a Península de Setúbal e para a sua histórica Denominação de Origem (no ano em que se contam 116 anos da sua criação), afirmando de forma inequívoca a qualidade dos vinhos generosos que aqui se produzem há séculos e que estiveram na origem da demarcação da região em 1907”.

Muscats du Monde 2023 – Resultados Vinhos Península de Setúbal:

TOP 10 | Ouro – VENÂNCIO DA COSTA LIMA Moscatel de Setúbal Venâncio Costa Lima 2019
TOP 10 | Ouro – COOPERATIVA AGRÍCOLA SANTO ISIDRO DE PEGÕES Moscatel Roxo de Setúbal Contemporal 2013
TOP 10 | Ouro – BACALHÔA VINHOS DE PORTUGAL Moscatel de Setúbal Superior 20 anos 2000
TOP 10 | Ouro – COOPERATIVA AGRÍCOLA SANTO ISIDRO DE PEGÕES Moscatel Roxo de Setúbal Pingo Doce
Top 10 | Ouro – COOPERATIVA AGRÍCOLA SANTO ISIDRO DE PEGÕES Moscatel de Setúbal Pingo Doce
Ouro – CASA ERMELINDA FREITAS Moscatel Roxo de Setúbal Superior 2010
Ouro – VENÂNCIO DA COSTA LIMA Moscatel de Setúbal Rubrica 10 anos Reserva
Prata – VENÂNCIO DA COSTA LIMA Moscatel de Setúbal Reserva da Família 5 anos
Prata – CAMOLAS & MATOS Moscatel de Setúbal Adega Camolas Reserva Barrel Aged 2019

Corktale lança bombons em parceria com produtores da Península de Setúbal

Casa Agrícola Horácio Simões: Bombom de chocolate negro com recheio de caramelo de Moscatel Roxo, damasco e sal fumado; Casa Ermelinda Freitas: Bombom de chocolate negro polvilhado em dourado e grão de café torrado, com recheio de caramelo de café e aguardente velha, criando a ideia clássica do “café com cheirinho”; Bacalhôa: O único bombom […]

Casa Agrícola Horácio Simões: Bombom de chocolate negro com recheio de caramelo de Moscatel Roxo, damasco e sal fumado;

Casa Ermelinda Freitas: Bombom de chocolate negro polvilhado em dourado e grão de café torrado, com recheio de caramelo de café e aguardente velha, criando a ideia clássica do “café com cheirinho”;

Bacalhôa: O único bombom bruto da colecção. Chocolate branco aromatizado com Moscatel de Setúbal 10 anos, amêndoa torrada e laranja. Bombom com coloração azul por ser a cor predominante da marca.

Damasceno: Bombom de chocolate branco e pimenta preta com recheio de caramelo de Moscatel Roxo e infusão de flores e cinco pimentas.

Sivipa: Bombom de chocolate negro em prata com recheio de caramelo de Moscatel Roxo, figo e mel.

António Saramago: Bombom de chocolate negro com recheio de caramelo de Moscatel de Setúbal 10 anos e alcaçuz, tingido a ouro e ornamentado com pérola de chocolate e casca de laranja cristalizada.

Moscatel de Setúbal: Um tesouro a descobrir

O Moscatel de Setúbal é um dos clássicos generosos portugueses, mas a sua notoriedade junto do consumidor está ainda muito distante da sua grandeza enquanto vinho. Merece bem mais do que o que tem, mais reconhecimento, melhores preços, mais visibilidade. Mas apesar disso, a verdade é que continua a crescer em área de vinha e […]

O Moscatel de Setúbal é um dos clássicos generosos portugueses, mas a sua notoriedade junto do consumidor está ainda muito distante da sua grandeza enquanto vinho. Merece bem mais do que o que tem, mais reconhecimento, melhores preços, mais visibilidade. Mas apesar disso, a verdade é que continua a crescer em área de vinha e produção.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Mário Cerdeira

Quando se fala da trilogia dos vinhos licorosos portugueses sempre nos lembramos dos três magníficos, Porto, Madeira e Moscatel de Setúbal. É verdade que há outros, como o Moscatel do Douro e o Carcavelos mas nenhum destes dois atingiu o brilho do generoso de Setúbal. Apesar da fama do Setúbal e dos indicadores que são muito optimistas, não só quanto à área de vinha como em relação às quantidades produzidas, a verdade é que os ventos andam contrários. Os tempos, em Portugal e no mundo, não vão de feição para os vinhos doces. Esta verdade é válida não só aqui como também internacionalmente e as regiões que se notabilizaram pela produção de vinhos com elevado teor de açúcar estão a ressentir-se do menor interesse do público. Acontece com o Vinho do Porto tal como acontece com os Sauternes (França), por exemplo. Em alguns casos consegue-se uma melhor rentabilidade pela subida de preços de categorias mais elevadas (caso do Porto) mas as categorias de entrada dos licorosos nacionais (e europeus) tendem a ter preços pouco prestigiantes. O Moscatel de Setúbal consegue ser algo bipolar em termos de segmentação, com preços muito baixos nas gamas de entrada e, depois, vinhos de gama alta vendidos a valores já condizentes com a sua imagem e qualidade.

A região de Setúbal tem conhecido um renovado interesse dos produtores no Moscatel, um generoso com direito a reconhecimento legal como região demarcada desde os inícios do séc. XX. Durante décadas foi a casa José Maria da Fonseca que, quase em exclusivo, manteve o estandarte do generoso Moscatel de Setúbal. A partir dos anos 80 a J.P. Vinhos (mais tarde Bacalhôa Vinhos de Portugal) passou também a incluir o generoso no seu portefólio e de então para cá, sobretudo já neste século, a maioria dos produtores da região assumiu (e bem) que havia como que a “obrigação cívica” de manter, desenvolver e expandir o Moscatel que deu fama à região.

Henrique Soares, Presidente da CVR de Setúbal, confirmou-nos o crescimento sustentado que a área de vinha destinada à produção de moscatel tem tido. Estamos então a falar de 520ha para a produção do Moscatel de Setúbal e 43ha para o Moscatel Roxo de Setúbal. Na versão Roxo verificou-se um crescimento que fez duplicar a área de vinha em cerca de 3 anos e retirou, de vez, a casta do perigo de extinção em que se encontrava nos anos 80 do século passado. A produção global subiu também de forma permanente e situa-se agora (2019) nos 20 000 hectolitros quando, 4 anos antes, era apenas de 15 000 hectolitros.

Para ser Moscatel de Setúbal com direito à Denominação de Origem o vinho deverá incluir 85% da casta embora, ainda segundo Henrique Soares, a maioria dos produtores opte por ter 100% da casta em cada garrafa. Existia também a possibilidade de se fazer um generoso apenas com 2/3 de moscatel e 1/3 com outras castas brancas – tinha então o nome único de Setúbal (e não Moscatel de Setúbal) mas ao que nos informaram essa prática caiu em desuso e já ninguém a utiliza. Pelo facto da Portaria que actualizou as designações relativas ao Moscatel de Setúbal ser de 2014, é possível que se encontrem no mercado vinhos que apenas indicam “Setúbal” em vez de Moscatel de Setúbal e “Roxo” em vez de Moscatel Roxo de Setúbal.

Os segredos do Setúbal

A casta moscatel existe em inúmeros países, desde a bacia do Mediterrâneo até à África do Sul. Contam-se várias estirpes da casta, há nomes variados e perfis diferenciados. Em Portugal conhecemos duas famílias principais: o Moscatel Galego mais presente no Douro e o Moscatel de Alexandria (ou Moscatel Graúdo) em Setúbal. A variedade Moscatel Roxo é uma mutação do Moscatel Galego. Caracteriza-se pela fraca pigmentação tinta do bago, estando aí a origem do nome. Oficialmente, é considerada uma casta rosada, não tinta.

No modo de fabrico segue-se a técnica dos outros generosos, ou seja, a meio da fermentação é adicionada a aguardente que faz com que o processo fermentativo se interrompa e o resultado seja um vinho doce. Esta doçura, no caso dos vinhos com 20 ou mais anos, com concentração através da evaporação em casco, pode chegar aos 340 gramas/litro. Usa-se na região uma aguardente em tudo idêntica à do Vinho do Porto – tem a obrigatoriedade de ser vínica e ter um teor de álcool compreendido entre os 52 e 86% – mas não existem restrições quanto à origem: pode ser nacional (ou não) e alguns produtores, como a José Maria da Fonseca, têm usado aguardente adquirida quer na zona de Cognac quer na de Armagnac, regiões que, como se sabe, são produtores de espirituosos. A variação do teor alcoólico da aguardente prende-se também com o perfil do produto final, já que o Moscatel de Setúbal pode entre 16 e 22% de álcool.

A tradição da região impôs na vinificação uma maceração pós-fermentativa com as películas das uvas (ricas em aromas e sabores) ainda e já com a aguardente adicionada, processo que se estende por vários meses. Durante este “estágio” a cor do vinho pode ganhar tonalidades cada vez mais carregadas, o que também explica as cores “evoluídas” dos moscatéis novos.

No que diz respeito às barricas para o estágio não existem também limitações nem quanto ao volume nem quanto à origem das mesmas. Assim, tanto se podem usar barricas de pequeno volume, onde o envelhecimento tende a ser mais acelerado, como tonéis de grande dimensão. A Bacalhôa tem utilizado barricas onde anteriormente se estagiou whisky e que são colocadas numa estufa sujeita às variações de temperatura entre Verão e Inverno. Para ter direito à Denominação de Origem o vinho é obrigado a um mínimo de 18 meses de estágio.

O tempo, esse grande educador

Tal como acontece com outros generosos, sobretudo com o Porto Tawny e os Madeira, é o estágio prolongado em tonel ou barrica que confere ao vinho toda a complexidade e qualidade que se lhe reconhecem. É também nesse estágio que a tonalidade escurece, ficando com tons acastanhados. Pode, no entanto, parecer estranho que os vinhos novos, apenas com os 18 meses de estágio obrigatórios por lei, tenham já uma tonalidade muito carregada. Filipa Tomaz da Costa, enóloga da Bacalhôa, esclarece: “tenho várias cubas com o moscatel ainda em contacto com as massas (método que segue a tradição da região) e o vinho já apresenta uma tonalidade que sugere uma prolongada oxidação; por isso é normal que mesmo nos vinhos novos surjam tons mais escuros”. A lei permite, de qualquer forma, a utilização do caramelo como corrector de cor.

Depois desta maceração é o tempo em casco que vai, lentamente, operando as modificações que farão surgir um grande generoso, concentrado, por vezes muito doce, mas muito complexo. Também aqui há quem esteja a inovar e o vinho da quinta do Monte Alegre é sobretudo envelhecido em garrafa, um pouco à maneira do Porto Vintage. Ainda é cedo para se perceber se o resultado justifica a prática.

Na Bacalhôa, há muitos anos que o estágio em estufa é praticado. Filipa Tomás da Costa refere: “Usamos este método sobretudo nos primeiros 10 anos do envelhecimento; depois desse tempo trazemos os cascos para dentro do armazém, embora continuem nas zonas altas mais perto do telhado. Como a massa vínica é muito grande dentro da estufa – apesar das pipas serem de 200 litros – há uma forte inércia térmica e no Inverno podemos ter temperaturas exteriores de 4ºC mas no interior da pipa o vinho apenas varia entre os 10 e 15ºC; no Verão, a temperatura no interior da estufa chega facilmente aos 40º mas o vinho apenas oscila entre os 25 e 28ºC”.

A prática de atestar as barricas e passar a limpo nunca se generalizou na região. Na José Maria da Fonseca existiam muito vinhos velhos que já apenas correspondiam a “um fundinho da pipa”, como nos disse Domingos Soares Franco, enólogo da empresa, e tomou-se a decisão (há já alguns anos) de engarrafar todos esses vinhos, tendo-se considerado que apenas estavam a evaporar e que já nada mais havia a esperar do estágio em tonel. Mas, tal como no Vinho do Porto, este estágio pode prolongar-se por mais de 100 anos.

Novas categorias e mais diversidade

A legislação da região permite desde há algum tempo a produção de vinhos com indicação de idade. Assim, no rótulo da garrafa pode vir a indicação 5, 10, 20, 30 e 40 anos. Como muitos operadores ainda não têm vinhos muito velhos a existência de vinhos com as idades 30 e 40 é por enquanto muito limitada.

Pela prova que fizemos verifica-se que a indicação da data da colheita começa a generalizar-se e os vinhos com 5 anos também mostram ser uma categoria que veio para ficar. A designação Superior obriga a um estágio mais prolongado e a uma aprovação como tal na Câmara de Provadores.

Ainda segundo Soares Franco, a aceitação pelo mercado de vinhos com indicação de idade está a ser muito boa, quer em Portugal (que é ainda o principal destinatário) quer no mercado eterno, onde se destacam o Brasil, o Canadá e a Escandinávia.

O grande inimigo do Moscatel de Setúbal é a tendência – que se estende a outros produtos vínicos – de fazer parte dos vinhos que estão permanentemente na mira das grandes superfícies (super e hipermercados)  que jogam com os preços cada vez mais baixos, um verdadeiro rolo compressor que não traz nada de bom para a imagem do Moscatel de Setúbal. O futuro da região, muito mais do que vender cada vez mais barato deverá ser vender cada vez melhor, subindo gradualmente os preços, única forma de tornar trabalho rentável, valorizar a uva e o produtor e dignificar o produto de excelência que é o Moscatel de Setúbal.

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Edição nº 34, Fevereiro de 2020

Moscatel Roxo: De casta extinta, a estrela da companhia

Já se estava quase a rezar pela sua alma quando a casa José Maria da Fonseca resolveu voltar a plantar esta variedade da grande família dos moscatéis. Outros produtores seguiram o exemplo e a casta renasceu. Hoje, deixou de estar na lista das “perdidas para sempre”. TEXTO João Paulo Martins FOTOS Ricardo Palma Veiga A […]

Já se estava quase a rezar pela sua alma quando a casa José Maria da Fonseca resolveu voltar a plantar esta variedade da grande família dos moscatéis. Outros produtores seguiram o exemplo e a casta renasceu. Hoje, deixou de estar na lista das “perdidas para sempre”.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga

A Moscatel Roxo tem história antiga na região se Setúbal, onde sempre conviveu com a variedade branca da mesma casta. Famosa no séc. XIX, esta variedade foi das que mais sofreu com a moléstia da filoxera e deixou de se plantar. Desde sempre foi nas encostas da serra da Arrábida, nos terrenos calcários e nas zonas mais frescas, que a variedade roxa, tal como a sua parente branca, melhor se desenvolveu. A tradição da região terá sido incluir algumas cepas de roxo no meio da vinha do branco. No entanto, enquanto a Moscatel branca proliferou e se tornou a casta do generoso que deu fama à região, a variedade Roxo foi perdendo protagonismo e esteve, por isso, à beira da extinção, o que também por pouco não ia acontecendo ao Bastardo com que se fazia o célebre Bastardinho de Azeitão.
Quanto à origem da casta, parece haver agora mais certezas, identificado que está o seu berço – neste caso, a Grécia. A uva, tida também como mutação do Moscatel Galego do Douro, existe noutros países do Velho Mundo com diversos nomes, mas sempre salientando o lado roxo (ou tinto) do Moscatel.
Tal como nos disse Vasco Penha Garcia (Bacalhôa Vinhos), a casta sempre preferiu terrenos da serra, sobretudo nas encostas viradas a norte, mais frescas. Deste local, onde foi primeiro plantada, a Moscatel Roxo acabou por ser levada para as areias de Palmela quando António Francisco Avillez, então proprietário da J. P. Vinhos, precisou de grandes quantidades de Moscatel para “alimentar” um do ex-libris da casa, o branco João Pires, baseado em Moscatel, que se tornou um estrondoso sucesso quer interna quer externamente. Foi então a partir daí, e estávamos nos anos 80 do século passado, que a casta desceu da serra e chegou às areias. É também por essa razão que hoje muito do Moscatel produzido vem precisamente das areias, embora se continue a produzir nas encostas da serra.

Talhada para generoso
A casta Roxo, de película levemente rosada, está talhada para ser vinho generoso. Penha Garcia adianta que “é uma casta que não perde aroma com a aguardentação e, logo na altura da fermentação, desenvolve um notório aroma a pétalas de rosa que a distingue da sua congénere branca; mas, no entanto, esse lado floral pode dissipar-se com o envelhecimento em casco”. “Assim”, explica, “em dois vinhos com bastante idade já pode ser mais difícil distinguir.” No entanto, em prova cega, o Moscatel de Setúbal tende sempre a ser mais extractivo e mais potente, com mais corpo e mais notas amargas; dominam as notas citrinas de laranja e mel. Já no Moscatel Roxo é sobretudo o lado mais elegante e fino que se mostra, com uma delicadeza que se conserva por muito tempo.
Dentro da adega, o Roxo não se distingue em relação ao Moscatel de Setúbal e a vinificação não tem particularidades de realce, como referiu Domingos Soares Franco (José Maria da Fonseca). Faz-se uma maceração pós-fermentativa entre dois a três meses – na Bacalhôa até Fevereiro do ano seguinte, mais longa na José Maria da Fonseca. Nos produtores antigos, quando em cada casa se fazia o generoso e só depois é que era vendido, acredita-se que a aguardente usada era a que era produzida pelo próprio. Na região era muito habitual que quem produzia vinho também destilava, mas hoje o rigor que se exige ao uso da aguardente é bem superior ao que acontecia outrora, quando proliferavam os alambiques locais.
Os moscatéis têm ainda um problema por resolver: muitos deles turvam na garrafa após algum tempo. É um problema sério que tem afectado muitos produtores e que Domingos Soares Franco confessa ter custado à sua empresa dois anos de investimento e investigação para se conseguir resolver a contento. No entanto, pela prova que fizemos foi evidente que, no conjunto, a região não tem o assunto resolvido e na própria Comissão Vitivinícola nos foi dito que não há qualquer programa neste momento pensado para encontrar soluções. Terão de ser os próprios produtores a assumir a resolução e a tarefa não se afigura nada fácil. A turbidez não tem reflexos no aroma ou sabor, mas o aspecto visual fica francamente prejudicado. Tive nesta prova várias gradações de turvação, embora a maioria das amostras se apresentasse com grande limpidez.
Mais do que chamar-se Moscatel de Setúbal ou Moscatel Roxo de Setúbal, é o nome Setúbal que deverá ser promovido, sobretudo a nível internacional. Tal como o nome Porto identifica um vinho fortificado, também Setúbal deverá identificar vinho do mesmo tipo, neste caso feito de Moscatel. E a verdade é que este magnífico vinho generoso português ainda não possui, dentro e fora de portas, o reconhecimento que a sua qualidade merece.
A legislação actual, de 2014, tipificou duas designações do Moscatel, como Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo de Setúbal. No entanto, para os vinhos rotulados antes de 2014, podemos encontrar unicamente a designação “Roxo”, até então autorizada.
Existem dois tipos de denominação (DO) que os vinhos podem ostentar: a DO Setúbal apenas obriga a que no lote de castas a Moscatel (quer seja de Setúbal, quer Roxo) esteja apenas presente em 67% do lote: para o uso da DO Moscatel de Setúbal ou Moscatel Roxo de Setúbal já tem de ter 85% da casta.
A aguardente a utilizar tem de ser vínica, com uma graduação compreendida entre 52 e 86%, podendo também ser usado álcool vínico a 96%. Com frequência é usada a aguardente a 77%, tal como é habitual no Vinho do Porto. No final, a graduação alcoólica tem de se situar no intervalo entre os 16 e os 22%.
A designação Superior obriga a aprovação específica na Câmara de Provadores e os vinhos têm de ter a idade mínima de 5 anos. Desde 2015 são permitidas as indicações de idade de 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 Anos, desde que os vinhos tenham no mínimo

Edição Nº20, Dezembro de 2018