Casa Ermelinda Freitas eleita produtor europeu por sommeliers ingleses
A Casa Ermelinda Freitas foi eleita produtor europeu do ano 2019 nos Sommelier Wine Awards (SWA) que se realizam todos os anos em Inglaterra. É a primeira vez que esta distinção é atribuída a um produtor de vinhos tranquilos português, sendo que o mesmo prémio já tinha sido atribuído a um produtor de vinhos da […]
A Casa Ermelinda Freitas foi eleita produtor europeu do ano 2019 nos Sommelier Wine Awards (SWA) que se realizam todos os anos em Inglaterra. É a primeira vez que esta distinção é atribuída a um produtor de vinhos tranquilos português, sendo que o mesmo prémio já tinha sido atribuído a um produtor de vinhos da Madeira.
Um bom ano para a empresa da Península de Setúbal, que até à data já conquistou 158 prémios, entre os quais 9 Medalhas de Grande Ouro, 88 Medalhas de Ouro e 48 Medalhas de Prata.
Com os pezinhos na areia
O sol de Primavera já por aí anda há uns tempos e o apelo da praia intensifica-se. Por isso, fomos dar uma volta com os pezinhos na areia – não à beira-mar, mas pelas vinhas da Península de Setúbal. Um roteiro por terras acolhedoras, com vinhos excelentes e… muita bicharada! TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo […]
O sol de Primavera já por aí anda há uns tempos e o apelo da praia intensifica-se. Por isso, fomos dar uma volta com os pezinhos na areia – não à beira-mar, mas pelas vinhas da Península de Setúbal. Um roteiro por terras acolhedoras, com vinhos excelentes e… muita bicharada!
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez
Das margens do estuário do Sado às planuras de fronteira com o Alentejo, das zonas urbanas da cintura de Lisboa aos espaços abertos da costa atlântica, a Península de Setúbal é rica e multifacetada. Na geografia, na paisagem, na tradição – há quem garanta que foi por aqui, há cerca de 4000 anos, que foram plantadas as primeiras vinhas da Península Ibérica. É também aqui que encontramos a segunda região demarcada mais antiga do país, depois da do Vinho do Porto: em 1907, o Moscatel de Setúbal viu o seu estatuto único reconhecido.
Hoje, com 9500 hectares de vinha, a região vitivinícola da Península de Setúbal produz mais de meio milhão de hectolitros de vinho (em 2017/18: 525 milhões), cerca de oito por cento do total nacional. E se o Moscatel de Setúbal continua a ser a maior bandeira de excelência, é impossível fechar os olhos a uma realidade que se afirma: com boas produções e enologia cada vez mais cuidada, os vinhos da região conquistam os mercados internos e externos com a sua notável relação preço/qualidade. Grandes campeões de vendas (Bacalhôa, José Maria da Fonseca, Casa Ermelinda Freitas, Cooperativa Agrícola de Pegões) e muitos produtores de menores dimensões povoam uma região onde imperam os terrenos de areia.
Palmela é o concelho português com mais área de vinha e é quase impossível andar na estrada sem ver as tabuletas que indicam “adega”, um pouco por todo o lado. Mas, desta vez, fugimos do epicentro do sector e formos procurar experiências enoturísticas por outras paragens em redor. Começamos por Setúbal, nas margens da ribeira de Marateca; passamos por Azeitão, fomos até Canha e depois terminamos no Poceirão. Três produtores, quatro propostas para umas horas ou dias bem passados, por entre belos vinhos, boa comida, paisagens que nos fazem esquecer a proximidade dos grandes centros urbanos, gente que sabe receber e muita bicharada. Sim, promete-se interacção com criaturas peludas e penudas. Venham daí, que o sol já vai alto e a jornada promete.
A Gâmbia é um país africano, pois, mas é também uma localidade do distrito de Setúbal e uma herdade que lhe foi buscar o nome. Saímos da EN10 poucos quilómetros a leste da capital de distrito e num instante esquecemos os prédios, os semáforos e os mares de gente. Enormes sobreiros, casas térreas brancas debruadas a azul, ao longe o brilho ofuscante dos planos de água. A maré cheia transforma a foz da ribeira de Marateca num espelho imenso (algumas horas depois, é apenas um canal de água rodeado de planícies de lodo), percebem-se a estrutura rectilínea das salinas e o pontilhado das aves em constante movimento.
A Herdade de Gâmbia tem 650 hectares, 30 dos quais de vinha, de onde saem uvas para os vinhos da casa (a cargo da Sociedade Agrícola Boas Quintas e do enólogo Nuno Cancela de Abreu) e para vender a outros produtores da região. A cortiça, o pinhal e alguma pecuária completam a actividade agrícola da herdade, mas o turismo está a ganhar cada vez maior importância. O espaço Lugar dos Pernilongos (nome de uma ave aquática, já agora), que junta zona de refeições, forno a lenha, terreiro de areia e um telheiro cheio de brinquedos, salta à vista logo à entrada, mas a sua essência está alguns metros mais à frente, nos terrenos e construções contíguos ao núcleo central da herdade: a quinta pedagógica.
Num instante estamos “à conversa” com a Pamela, que se deita no chão de barriga para o ar, à espera de festas. A Pamela é uma porca vietnamita, que aqui chegou depois de anos a viver fechada num apartamento. Com ela estão a Flor de Sal (uma ovelha gorducha), o Ernesto, a Emília e a Papoila (família de cabras anãs), a burra Alfarroba e o seu marido Malaquias. E há coelhos, galinhas, patos e gansos, porcos e cavalos, uma pavoa e uma tartaruga. E um cão, já agora.
Como a miudagem tem muito com que se entreter (incluindo aprender a fazer pão, ou conhecer os segredos da lã, por exemplo), os pais podem aproveitar para se aventurar nos trilhos da herdade, para caminhadas ou sessões de observação de aves. Isto, claro, com a promessa de belos vinhos para provar no regresso. Mesa posta no jardim, com vista para a ribeira, a passarada a chilrear por ali, um sol que desmente o calendário e faz esquecer o Inverno. Uma vinha estende-se até à linha de arvoredo que separa os terrenos agrícolas da zona de influência da maré e há um cavalo que espreita para lá das sebes.
À saída, mediante marcação prévia, podemos sentar-nos no telheiro para desfrutar uma refeição no campo. E é obrigatório passar pela loja para levar os vinhos da casa connosco. Mas leva-se sempre muito mais do que isso quando voltamos à estrada.
HERDADE DE GÂMBIA
Rua da Liberdade, 2910-219 Setúbal
Tel: 265 938 050 / 964 179006 (Lugar dos Pernilongos)
Mail: herdadegambia@gmail.com / lugardospernilongos@gmail.com
Web: www.herdadegambia.com
GPS: 38.553150, -8.760399
Para além das actividades da quinta pedagógica, a herdade oferece a possibilidade de passeios pedestres (com ou sem guia) e observação de aves. O passeio pelos observatórios (há três, nas margens da ribeira da Marateca) custa apenas um euro por pessoa, sem guia – a presença deste será orçamentada em função das circunstâncias. Solicita-se marcação antecipada. Há seis programas de provas de vinhos (mínimo: 4 pessoas), variando entre os 5,5 euros por pessoa (3 vinhos, sem canapés) e os 12,2 euros (cinco vinhos, incluindo Reserva e Moscatel, com canapés). Refeições para grupos mediante consulta.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,6
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
Num instante mudamos de mundo. A atmosfera bucólica da Herdade de Gâmbia cede o passo ao ritmo aristocrático de Azeitão e, passando ao largo da casa do treinador José Mourinho, eis-nos perante as primeiras vinhas da Quinta de Catralvos, sede da Malo Wines. São 22 hectares exclusivamente de castas brancas (ou quase, porque há uma parcela de Moscatel Roxo), em terrenos planos ou levemente ondulados em redor da adega.
Entramos na loja e vemos muitos vinhos tintos. Como é que… Bom, a explicação é simples: as vinhas tintas ficam noutro espaço da empresa, que é propriedade do médico Paulo Malo. Lá iremos, ao Monte da Charca, em Canha. Mas, por agora, vamos conhecer as instalações deste produtor que faz à volta de 500 mil garrafas por ano, mas cuja adega presta serviços a mais de uma dezena de clientes externos, responsáveis por outro meio milhão de garrafas.
A adega, naturalmente, é ampla, com uma capacidade instalada de 1,2 milhões de litros, termicamente isolada por um prado que cresce na cobertura e com os seus espaços mais “nobres” ocupados por barricas onde estagiam tintos e envelhecem moscatéis. No edifício contíguo, junto à loja, o enorme salão para eventos, com capacidade para até 500 pessoas, e o espaço do restaurante (tem chef residente, mas não está aberto ao público, recebendo apenas eventos e refeições de grupos mediante marcação).
Nas traseiras, o módulo dos quartos, cinco ao todo, com uma sala comum. O regime aponta para uma lógica de self-service, com o pequeno-almoço a ser deixado à porta. Aqui predominam os visitantes estrangeiros, na sua maior parte verdadeiros enoturistas, que visitam a região com o foco nos seus vinhos. É diferente a algumas dezenas de quilómetros dali, numa zona onde três regiões – Península de Setúbal, Tejo e Alentejo – se encontram. Dirigimo-nos a Canha, rumo ao Monte da Charca, um local mais procurado por famílias.
O contraste com Catralvos é ainda mais evidente na atmosfera campestre (chega-se lá por estrada de terra batida, com a surpresa de passarmos por um enorme parque de painéis solares) e na composição das vinhas, que só contemplam castas tintas. Não há adega, porque as uvas são colhidas à noite e seguem para Azeitão. O Monte da Charca é uma verdadeira unidade de alojamento rural, com os quartos rodeados de vinha e bicharada, silêncio total e um céu que explode em estrelas. Quando a Grandes Escolhas lá esteve, estavam em fase adiantada obras de remodelação, que prometiam transformar o local num destino de eleição.
Então vejamos: piscina coberta e spa, piscina exterior e barragem com uma ilha, planos para criar um alojamento num barco e outro numa camioneta vintage, restaurante, muito espaço e um verdadeiro zoo nos cercados ali à volta. Uma família de gamos, outra de avestruzes, javalis, um lama, cavalos, burros, um rebanho com mais de 300 ovelhas… a lista poderia continuar, mas não podemos esquecer os cães. Vários, grandes e pequenos, à solta pelos relvados, sempre prontos para saudar quem chega.
Com 55 hectares de vinha ali à volta, boas estradas de terra batida e caminhos bem desenhados, passear a pé ou de bicicleta é quase obrigatório. Passamos pelos cercados e percebemos que muitos dos animais apreciam o contacto com os humanos – um gamo que encosta a cabeça à grade para ser coçado, as avestruzes que se aproximam curiosas e… gulosas, burros que gostam de festas. Já os javalis procuram esconder-se e o lama, bom, esse mira-nos com ar desconfiado. Uma ponte de madeira permite-nos chegar à ilha, só para descobrirmos que uma parte das ovelhas se adiantou e já ocupa as melhores sombras…
Resta dizer que a gama de tintos feitos com as uvas do Monte da Charca é extraordinária e que, quanto mais não fosse, vale a pena a visita só para ficar sentado a ouvir o silêncio com um copo na mão.
QUINTA DE CATRALVOS
EN379, 2925-708 Azeitão
Tel: 212 197 610
Mail: geral@quintadecatralvos.com
Web: www.quintadecatralvos.pt
As provas de vinhos (que podem incluir visitas à adega e às vinhas) custam entre seis euros por pessoa (grupos com mais de 50 pessoas, três vinhos) e 12,5 euros (entre duas e nove pessoas, três vinhos com queijo ou torta de Azeitão). A experiência vínica, em que os visitantes vestem o papel de enólogo, fica a 28,5 euros por pessoa (grupos entre 10 e 50 pessoas). O preço dos quartos varia entre os 68 e os 98 euros por noite.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
MONTE DA CHARCA
Olho De Bode De Cima, 2985-708 Canha
Tel: 212 197 610
Mail: geral@quintadecatralvos.com
Web: www.quintadecatralvos.pt
O preço dos quartos oscila entre os 75 e os 150 euros por noite. Os programas enoturísticos são centralizados na Quinta de Catralvos, mas é sempre possível realizá-los no Monte da Charca, mediante marcação.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): *
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18*
(*nota ponderada; a filosofia do local não contempla a existência de loja)
As mulheres, por estas bandas, têm muito que se lhe diga. Estamos na Quinta da Invejosa, sede do produtor Filipe Palhoça, e em frente, do outro lado da estrada, está a Quinta da Teimosa… O comentário é feito, em tom de brincadeira, enquanto contemplamos a paisagem que rodeia as instalações da Filipe Palhoça Vinhos, no Poceirão. E se a vista é bonita daqui, da enorme varanda no primeiro andar, também é muito interessante lá de baixo, contemplando o edifício.
Cinzento e amarelo, com uma fachada central mais escura, feita com painéis de cortiça. A descrição até pode soar estranha, mas há toda uma elegância que ressalta deste visual que nos remete para as antigas civilizações mediterrânicas, sensação reforçada pela colunata lateral. As obras ainda decorriam quando a Grandes Escolhas visitou a quinta, mas já se podia ter uma noção bem segura do resultado final. É o investimento mais recente de uma casa que começou a apostar no enoturismo há menos de dois anos.
A Quinta da Invejosa tem 18 hectares de vinha (ao todo, a empresa possui 95 hectares de vinhedos), em solos planos de areia, uma adega com capacidade para 1,2 milhões de litros, loja moderna e decorada num misto de tradição e modernidade, salão para eventos e provas. Em breve, terá também uma esplanada exterior com vista para a vinha pedagógica (onde estão plantadas as duas dezenas de castas trabalhadas pela empresa) e um quintal interior onde se planeia promover a interacção com animais domésticos.
As obras de remodelação cortaram o ímpeto inicial da procura enoturística, mas agora não há desculpa para falhar a visita a este local. O cuidado nos detalhes é evidente (o balcão tem uma zona rebaixada, para facilitar o acesso a quem se desloque em cadeira de rodas – e isto é só um exemplo), há peças muito interessantes para apreciar – como o alambique e caldeira que se alinham numa parede interior da loja – e o leque de experiências pode incluir uma refeição ou prova de vinhos na nave de barricas.
Na cave, para além das barricas, há também um pequeno espaço onde estão expostas algumas garrafas que contam a história da casa. O primeiro vinho engarrafado (S. Filipe, um tinto de Castelão) data de 1995 e desde aí a gama alargou-se para três marcas: S. Filipe, Quinta da Invejosa e Filipe Palhoça. Há também Moscatel, claro, e aguardente. Escolha-se um destes néctares e passe-se o olhar em redor, pelas planuras onde as vinhas começam a despontar, pelas linhas de arvoredo ao longe, o casario disperso. A haver aqui espaço para a inveja, será certamente de quem passa na estrada e não pode parar para saborear a vida…
QUINTA DA INVEJOSA
EN5, km 24,8, 2965-213 Poceirão
Tel: 265 995 886
Mail: geral@filipepalhoca.pt
Web: www.filipepalhoca.pt
GPS: N 38º37’18’’ | O 8º43’30’’
Há duas visitas guiadas por dia – 10h e 15h30 no Verão (Abril a Outubro); 10h30 e 15h no Inverno (Novembro a Março). Aos domingos, solicita-se marcação antecipada e um mínimo de oito participantes. Os preços variam conforme a prova de vinhos escolhida e vão desde os quatro euros por pessoa (três vinhos) até aos 14 euros (cinco vinhos e produtos regionais, mínimo quatro participantes). Há também uma prova de espumantes com harmonizações (10 euros, mínimo quatro pessoas). Refeições para grupos mediante consulta. A loja está aberta de segunda a sábado, entre as 9 e as 13h e das 14h às 18h.
Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Nem sempre é fácil navegar no dédalo de estradas que cruzam na enorme planície de aluvião que caracteriza esta zona da península de Setúbal e a maioria dos restaurantes alinham pela filosofia de estabelecimento de estrada. Mas há alternativas muito interessantes para “reabastecimento” dos visitantes. Aqui ficam três sugestões, desde os grelhados da Casa das Tortas de Azeitão aos petiscos da Pérola da Mourisca, passando pelo estilo wine bar e sala de chá do Mar Até Cá.
CASA DAS TORTAS DE AZEITÃO – São Lourenço (Vila Nogueira de Azeitão), Praça da República, 37A | 969 146 996
MAR ATÉ CÁ – Rua 5 de Outubro, Cajados | 962 465 120
PÉROLA DA MOURISCA – Rua Baía do Sado, 9, Setúbal | 265 793 689
Edição nº24, Abril 2019
Concurso da Península de Setúbal distinguiu melhores vinhos
O Pavilhão de Exposições da Tapada da Ajuda, em Lisboa, foi o cenário para a cerimónia de entrega de prémios do XIX Concurso de Vinhos da Península de Setúbal. No concurso participaram 201 vinhos, de 33 produtores. Apurados os resultados, emergiram 60 medalhas – 20 de Ouro e 40 de Prata. Destaque para os vinhos […]
O Pavilhão de Exposições da Tapada da Ajuda, em Lisboa, foi o cenário para a cerimónia de entrega de prémios do XIX Concurso de Vinhos da Península de Setúbal. No concurso participaram 201 vinhos, de 33 produtores. Apurados os resultados, emergiram 60 medalhas – 20 de Ouro e 40 de Prata. Destaque para os vinhos mais pontuados do concurso (‘Os Melhores’), o José Maria da Fonseca 20 anos, que recebeu duas distinções Melhor Vinho a Concurso e Melhor Vinho Generoso. A Casa Ermelinda Freitas arrecadou a medalha de Melhor Vinho Tinto com o seu Merlot Reserva 2016. O Melhor Vinho Branco foi atribuído ao Encostas da Arrábida Reserva 2017, da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões. Finalmente, o prémio de Melhor Vinho Rosado foi para o Bacalhôa Roxo – 2017, da Bacalhôa Vinhos de Portugal.
A lista completa pode ser consultada na página respectiva do site da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS). O júri foi composto por um diversificado leque de jurados, profissionais ligados ao mundo dos vinhos e à sua análise sensorial em particular, que envolveu docentes de enologia, técnicos especialistas em análise sensorial das várias regiões vitivinícolas, enólogos, escanções, jornalistas especializados e membros do painel de prova da ASAE.
Segundo Henrique Soares, Presidente da CVRPS, “a XIX edição consagra mais um forte ciclo de crescimento da região (a dois dígitos em 2017 e 2018), mas também de desenvolvimento e consolidação de novos projectos, saldando-se o ano de 2018 como aquele em que o volume de vinhos certificados teve origem no maior número de produtores de sempre: 60, em projectos que se estendem desde o Montijo a Sines.”
Entretanto, as vendas de vinhos da Península de Setúbal continuam a crescer no mercado nacional e nas exportações. Em Portugal, segundo os últimos dados da consultora Nielsen, a Península de Setúbal mantém-se como a terceira região vitivinícola de preferência dos portugueses.
António Saramago: 56 anos de Castelão
É o mais antigo enólogo em actividade, em Portugal. Com 56 anos de dedicação ao vinho, António Saramago é artífice da uva Castelão, bandeira da Península de Setúbal, conhecendo-a como a palma da sua mão. Agora, foca-se somente no seu próprio projecto, na terra que o viu nascer, sem planos para cessar. TEXTO Mariana Lopes […]
É o mais antigo enólogo em actividade, em Portugal. Com 56 anos de dedicação ao vinho, António Saramago é artífice da uva Castelão, bandeira da Península de Setúbal, conhecendo-a como a palma da sua mão. Agora, foca-se somente no seu próprio projecto, na terra que o viu nascer, sem planos para cessar.
TEXTO Mariana Lopes
NOTAS DE PROVA Mariana Lopes e Luís Lopes
FOTOS Ricardo Gomez
António Saramago tem 70 anos. O andar sereno e o olhar plácido não deixam esconder a bagagem que traz, nem transparecer o que lhe vai na mente. Quem o conhece, sabe que é mesmo assim, a postura não fraqueja. Mas a sua casa, em Azeitão, na Península de Setúbal, tem sempre a porta aberta. Afinal, Saramago tem muito para contar.
Foi com apenas quatorze anos que entrou para a José Maria da Fonseca (JMF), a cinco de Maio de 1962. Teve de o fazer tão cedo, pois a vida não era folgada. Sob a orientação de António Porto Soares Franco viu, ouviu, aprendeu, ajudou e executou, mostrando apetência para as coisas do vinho e capacidade de trabalho. Na altura, com o apoio António Francisco Avillez, a JMF enviou António Saramago para Bordéus quando este tinha 24 anos, para uma formação em enologia. Também um curso de francês, em Setúbal, foi incentivado pela empresa. A aposta era óbvia, e o jovem aprendiz sentia-se acarinhado. À data, Domingos e António Soares Franco (actuais proprietários e administradores da JMF), eram bastante novos, e o enólogo consultor era Manuel Vieira (pai), acabando Saramago por se estabelecer como chefe de serviço de enologia, cargo hoje comummente apelidado de enólogo residente. António Francisco Avillez, Manuel Vieira e António Porto Soares Franco são, assim, nomes que António Saramago não deixa de mencionar quando conta a sua história: “São as pessoas que mais me marcaram na profissão. Primeiro, porque gostavam de mim, depois, porque achavam que eu tinha jeito para isto. Tive sorte de ter trabalhado numa casa como aquela, que mesmo hoje continua a ser uma verdadeira escola”, confessou. Saramago acabou por sair da JMF em 2001, após uma longa estada na casa.
Curiosamente, a emancipação enológica do azeitonense ocorreu no Alentejo e não na região de origem. Nos anos 80 era já consultor da Adega do Fundão e da Granja Amareleja e, um pouco mais tarde, da Herdade de Coelheiros e Adega Cooperativa do Redondo. “Quando comecei no Alentejo, ninguém lá trabalhava com barricas novas, fui pioneiro nisso. Incentivei, na Granja Amareleja, que se começasse a usar e acabámos por adquirir dez barricas de carvalho novo de 225 litros”, contou. Foi daqui que nasceu a marca, criada por José Leal Sobrado e António Saramago, chamada Terras do Suão, que acabou por “explodir” nos restaurantes de Lisboa. É também curioso que o vinho Tapada de Coelheiros, tenha surgido em seguimento isto: Joaquim Silveira, então proprietário da Herdade de Coelheiros, costumava ir almoçar ao Gambrinus todos os fins-de-semana. Pelo sommelier do restaurante lisboeta, foi-lhe apresentado o Terras do Suão como sendo um dos melhores vinhos do Alentejo. A verdade é que, na altura, os vinhos alentejanos de elevada qualidade contavam-se pelos dedos de uma mão. Aí, Silveira abordou Saramago para que este criasse em Coelheiros um vinho que estivesse ao mesmo nível, e este aceitou o desafio. Apesar de já tratar a uva Castelão por “tu”, António sabia bem que esta, mesmo sendo a casta mais plantada no Alentejo naquela década, não era ideal naquele terroir de Arraiolos, e começou por arrancar todo o que lá havia. Plantou mais Cabernet Sauvignon (incentivado pela paixão bordalesa de Joaquim Silveira), um pouco de Trincadeira e Aragonez, e reforçou a área de Chardonnay. Por esta última opção, foi apelidado de várias coisas. Mas não era António Saramago se não mantivesse a sua posição, sem vacilar. “Coelheiros foi o projecto que mais me marcou, a seguir a José Maria da Fonseca. Foi-me dada toda a liberdade de actuação, e isso é o sonho de qualquer enólogo”, revelou Saramago.
Conhecer bem a casta; ter grande experiência em como ela deve ser trabalhada na adega; aceder a uvas de uma vinha já com alguma idade. Estas são as premissas do versado em Castelão. António Saramago dedicou a sua vida a conhecer a uva: “É das mais difíceis do cardápio português. É muito sensível a doenças na vinha, gera muita “bagoinha” (pequenos bagos verdes que não vingam) e as suas maturações fenólicas são bastante irregulares”, explicou. Quando o enólogo iniciou a actividade, a Castelão representava 95% nas plantações da Península de Setúbal. No entanto, com o tempo os produtores e os agricultores foram preferindo uvas de trato mais fácil, como a Syrah, por exemplo, e o protagonismo da Castelão foi-se perdendo.
Podemos separar a Castelão em dois “tipos”: a de solo argilo-calcário, da zona da Arrábida, que origina vinhos mais leves, frescos e elegantes, com menos concentração e menos álcool, e a de solos arenosos, de Palmela, que dá vinhos mais estruturados e concentrados. Com o passar dos anos, a parte da Arrábida foi praticamente diluída, mas na zona de Palmela isso não se verificou tanto. Neste momento, até já se começou a replantar Castelão, também porque os jovens produtores e enólogos recuperaram o interesse na casta. “A Castelão é a nossa identidade”, afirmou António Saramago, que usa nos seus vinhos uvas dos solos de areia de Palmela. Quando interrogado sobre a razão da preferência, foi peremptório na resposta. “Para mim, não há lugar para Castelão dos dois solos. A Castelão deve ser plantada em solos arenosos. No solo argilo-calcário, a videira não tem estrutura para se aguentar, pois em vez de as raízes afundarem, acabam por se encaminhar lateralmente e a escassa profundidade, onde encontram a água pouco abaixo da superfície. Nos arenosos, as videiras afundam muito as suas raízes à procura de água, o que lhes dá mais estrutura e concentração ao vinho. Além disso, no pico do Verão, em terrenos de areia é mais fácil fixar o calor à superfície”.
Aqui há uma questão que se coloca: Numa altura onde começa a haver mercado para vinhos menos concentrados, mais leves e com menos álcool, não será possível fazer um Castelão de perfil diferente, mais na linha da elegância? Foi aqui que António Saramago nos surpreendeu com um plot twist. “Há lugar para esses vinhos de Castelão, mas acredito que eles possam surgir dos solos de areia e não dos argilo-calcários”, disse. Aliás, está nos planos do enólogo a criação de um vinho com esse perfil, das vinhas velhas em areia que explora, apenas com uma abordagem enológica diferente. “Será um dos meus últimos trabalhos”, declarou, um novo desafio nesta fase mais avançada da vida profissional.
Azeitão é a sua terra e a Península de Setúbal a sua região e, por isso, Saramago sempre quis criar vinhos ali, onde se sente em casa, com a casta da sua vida. Assim, iniciou o seu projecto pessoal em 2002, a pequena empresa familiar António Saramago Vinhos. “O objectivo foi fazer coisas boas, em pequenas quantidades”, contou. O filho António está também envolvido, trabalhando a enologia e a área comercial, bem como a esposa Ausenda. São referências como Risco (base de gama) António Saramago Reserva, António Saramago Superior, A.S. (topo de gama), JMS Moscatel de Setúbal Superior e António Saramago Moscatel de Setúbal Reserva. Também produz no Alentejo, onde se destaca a marca Dúvida. São 150 mil garrafas no total, cerca de metade em cada região. Incansável, Saramago criou agora um vinho de edição única, o Sucessão, dedicado aos seus três netos e dividido em partes iguais pelos mesmos. Em breve, entrará na Beira Interior e em Lisboa.
Não tem adega própria (alugando espaço de vinificação em Catralvos), nem vinhas próprias, mas explora em regime de arrendamento e compra uvas e vinho, utilizando a sua experiência para escolher o que há de melhor. Algumas dessas vinhas, de Palmela, são tão velhas e têm produções tão baixas que tem de pagar valores muito elevados pelas uvas, sob risco de o proprietário desistir da vinha e decidir arrancá-la. Visitámos uma delas. A paisagem é impressionante, uma planície de areia com cepas velhas imponentes e deixadas em liberdade, onde o sol mostra uma luz mais brilhante e onde o vento nos fustiga o cabelo. António Saramago coloca a sua mão sobre um dos braços de uma videira, como se fosse sua amiga: “Terei em breve 71 anos, mas enquanto estiver nas minhas plenas faculdades, vou continuar. Ao fim destes anos todos, continuo a gostar muito daquilo que faço. É paixão. E isso é uma coisa que nasceu comigo e que comigo vai morrer”.
Edição Nº23, Março 2019
Uma península com toque alentejano
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A região a que se convencionou chamar de Península de Setúbal contém, em boa parte da sua superfície, largos hectares de área da região, esta administrativa, do Alentejo. É a zona sul, a mais atlântica, que dá […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A região a que se convencionou chamar de Península de Setúbal contém, em boa parte da sua superfície, largos hectares de área da região, esta administrativa, do Alentejo. É a zona sul, a mais atlântica, que dá vinhos diferentes dos que estão a Norte e a Leste. Dois produtores da região mostram isso muito bem.
TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA João Paulo Martins e Mariana Lopes
Não é a região de Azeitão, Palmela e Fernando Pó, por exemplo. Nem é Reguengos, ou Borba, ou Portalegre. A zona sul da Península de Setúbal é um terroir próprio, dominado pela influência atlântica, boas amplitudes térmicas e pelos solos onde predomina a areia com subsolo de média fertilidade.
“Por aqui não há temperaturas exageradas e a proximidade do mar ameniza tudo”, diz-nos José da Mota Capitão, proprietário da Herdade do Portocarro. E acrescenta, “qui conseguimos incríveis teores de acidez”. A sua colega Jacinta Sobral está de acordo. A proprietária da Serenada nem precisava de o dizer: os seus vinhos mostram bem a influência atlântica na salinidade e na frescura.
Este terroir é tão particular que espanta como é que existam aqui poucos produtores de vinho e de pequena dimensão. Mota Capitão tem pena: “não temos produtores suficientes para fazer massa crítica; somos apenas uma meia dúzia. E alguns estão em evoluções diferentes”. Pior ainda: nenhum dos ‘pesos-pesados’ da Península de Setúbal, com milhões de litros anuais, possui vinhas nesta zona. Podem comprar aqui uva (ou vinho), mas não estão cá. E, ao contrário do que começa a acontecer mais a sul, com a entrada de produtores alentejanos à procura de acidez para os seus vinhos, por aqui não se nota esse movimento.
Jacinta Sobral e José Mota Capitão pode ter pena, mas não perdem uma noite a pensar nisso. Ambos lideram projectos com sucesso, fazem vinhos de que gostam e, melhor ainda, vendem bem.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Serenada / Serras de Grândola” title_align=”separator_align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][image_with_animation image_url=”34328″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]O nosso primeiro destino está no concelho de Grândola Não é difícil lá chegar porque tem um pequeno hotel, muito charmoso. Tudo é pertença de Jacinta Sobral, farmacêutica de profissão em Lisboa, mas nascida e criada nestas paragens. A propriedade está na família desde pelo menos 1680, porque existe um testamento dessa data, que Jacinta exibe com orgulho. Está, aliás, parcialmente retractado nos rótulos dos seus vinhos mais caros, como o Cepas Cinquentenárias. A quinta tem 23 hectares no total e a primeira vinha nasce em 1961, pelo pai de Jacinta, que plantou apenas um hectare, com castas brancas e tintas, todas misturadas (75% tintas). Não havia grande tradição de vinha na região e Jacinta lembra-se apenas de Pinheiro da Cruz e Melides, aqui de forma muito artesanal. Em 1970 nasceu mais um pedaço de vinha, com outro hectare. A vinha abrange três tipos de solos bastante diferentes, com 7, 65 e 300 milhões de anos de idade. Existem areias, xistos e mesmo argilas. E vários outros minérios, como manganês. Um bom sinal, porque solos diferentes dão vinhos diferentes e Jacinta já reparou que isso acontece, por exemplo, no Verdelho. Poderá ter a ver com diferentes fertilidades de solo, ou quaisquer outras razões. Mas as diferenças existem.
Voltemos à história: nos primeiros anos, o pai de Jacinta fermentava tudo ao mesmo tempo e só uns bons anos depois começou a separar brancos e tintos. Jacinta ajuda no que pode, mas com mais força na vindima e nos últimos anos de vida do pai.
Em 2006, o pai morre e Jacinta faz contas com os dois irmãos, tomando conta da propriedade. Afastada do mundo do vinho, a farmacêutica fica sem saber muito bem o que fazer. Decide plantar mais vinha, mas aconselham-na a arrancar a vinha velha. Antes de tomar decisões apressadas e gastar (bom) dinheiro, Jacinta decide ampliar a sua formação vínica. Em 2007 vai para o Instituto Superior de Agronomia e tira um mestrado: “Foi a melhor coisa que fiz”, diz-nos ela com indisfarçável orgulho. “Ao fim de 2 ou 3 meses percebi que não ia arrancar coisa nenhuma”.
A área de vinha, entretanto, vai crescendo e está hoje nos 6,5 hectares. No total contém mais de 20 castas, porque Jacinta gosta de experimentar.
A vinha está rodeada por floresta, de tal forma que faz pensar, a espaços, nas vinhas do Dão.[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”34331,34329,34330″ layout=”3″ gallery_style=”1″ load_in_animation=”none”][vc_column_text]NASCE UMA ADEGA
Em 2008 Jacinta resolveu fazer uma adega (a adega original está em terrenos que ficaram para o irmão). Não vai ganhar prémios de arquitectura, mas está bem equipada para a função de fazer bom vinho. “Já está a ficar pequena”, lamenta Jacinta. “Por causa do estágio”. Pois… a enóloga gosta de vinhos com estágio e, como não tem pressa de vender, as garrafas ocupam muito espaço. Na adega repousam vinhos da sua marca, Serras de Grândola, de 2013 para a frente, brancos sobretudo. Arinto e Verdelho envelhecem muito bem. “Ainda não sei como será o Gouveio…”, diz-nos Jacinta.
A adega está cheia de cubas de pequena capacidade (de 150 a 1.000 litros), herdadas. Mas são ideais para fazer pequenas quantidades e, claro, muitas experiências. “Vou enchendo e só depois faço os lotes”, diz-nos Jacinta. A maior cuba, de 6.000 litros, pouco é usada. Para os tintos existem duas cubas de 2.500 litros. Ou seja, dá tudo um trabalhão, mas a proprietária aprende e diverte-se. Para as cubas que não têm frio, Jacinta usa placas endógenas.
Os vinhos são secos, austeros, sem artifícios. Podem mesmo ser considerados algo difíceis para o consumidor menos enófilo, habituado à actual doçura residual. Mas são muito gastronómicos, porque muito frescos, cheios de carácter. Mas, depois de provar várias colheitas antigas, agradecem o estágio.
Jacinta faz algum vinho de base, em bag-in-box, para consumo local e alguns clientes fiéis. Mas, diz Jacinta Sobral com um sorriso de orelha a orelha: “cada vez faço menos vinho de base e cada vez faço mais vinhos especiais, os que gosto de fazer”.[/vc_column_text][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]
A sua herdade do Portocarro fica no concelho de Alcácer do Sal, freguesia do Torrão. Foi adquirida por Pepe há bem mais de uma década, depois de cursar Agronomia em Lisboa, onde vivia. Desde cedo que mostrou sentido e gosto para a agricultura, cultivando arroz nas lezírias sadinas da herdade. A vinha nasceu em 2002, com a assistência técnica de Paulo Laureano, que aqui esteve até 2012. Actualmente é António Rosado que dá a assistência técnica, tanto na vinha como na adega. Os dois complementam-se na vontade de experimentar e fazer melhor. Nestes anos já acumularam um invejável manancial de conhecimentos e é um gosto falar com eles sobre vinha e vinho. Pepe já tem vinhos da casta Boal (famosa na Madeira) e Galego Dourado (de Carcavelos) e possivelmente o vinho mais famoso da casa, o Anima, é feito com a casta italiana Sangiovese. Na altura era único no país (e se calhar ainda é), mas era muito bom e vendeu – e continua a vender – muito bem. A propósito, aparecer uma versão Sangiovese em branco, de nome Manda Chuva.
PRIVILÉGIO PARA A MATÉRIA-PRIMA
A vinha está um brinco, plantada sobretudo em encosta suave. É aqui que Pepe e António passam muito tempo, não só porque gostam da viticultura e querem as melhores uvas, mas também porque têm muitas castas diferentes para cuidar. E só assim a equipa consegue conhecer os “humores” de cada uma, do Cabernet à Touriga Franca, do Galego Dourado ao Sercial. No total são 18 hectares, com várias exposições e altitudes diferentes. O terroir é a menina dos olhos de Pepe: “esta é uma região abençoada para a vinha”.
As uvas vão para a adega, ali ao lado, transformada de um antigo barracão. Mas o que está lá dentro, incluindo um conjunto de dispendiosos balseiros da Seguin Moreau, é material de alta qualidade. Tanto servem para fermentações como para estágio, e todos os vinhos passam por aqui. Os resultados compensam, mas os balseiros dão muito trabalho a higienizar. Tudo é fermentado casta a casta. Lotes, só à posteriori. E não há linha de engarrafamento. Mas, ainda assim, a adega está a ficar pequena…
“O nosso maior lote é de 50 mil litros (Autocarro 27). Os outros têm entre 2.500 e 10.000 litros”, diz-nos António Rosado. Ou seja, pequenas tiragens de vinhos com um perfil especial. “O estilo da casa é sobretudo a frescura, elegância, vegetal”, afirma o proprietário. E manter teores alcoólicos moderados. Em primeiro lugar porque Pepe e António não gostam de fruta exuberante. E depois porque não precisam de forçar nada: graças às maiores amplitudes térmicas na altura antes da vindima, as plantas não param de trabalhar e as maturações fenólicas costumam andar à frente das alcoólicas. No final ambos reconhecem que não fazem os vinhos mais consensuais do mercado: quem goste de vinhos muito encorpados, alcoólicos, de fruta exuberante, tosta e finais adocicados pode procurar em outro lado. A frescura e elegância (e os taninos, nos tintos) são características de vinhos longevos e é por isso que aqui não há pressas em lançar os vinhos para o mercado. O mercado agradece, incluindo o estrangeiro: “Exportamos metade e, melhor ainda, vendemos lá fora os vinhos mais caros do que cá”, revela Pepe. A casa vai de vento em popa, batendo recordes todos os anos. Mas Pepe não está satisfeito…[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”34334,34335,34336″ layout=”3″ gallery_style=”1″ load_in_animation=”none”][vc_column_text]À PROCURA DE VINHAS
Ali ao pé, em Melides, em terras de xisto, Pepe entrou num projecto chamado Pego da Moura, em sociedade com Manuel Ricciardi, proprietário de parte das vinhas. O restante vem de parcelas locais, algumas com muitas décadas e outras ainda em pé franco. Fizeram-se alguns acordos com os proprietários locais e daí já nasceu um Boal e um Castelão (2015), da marca Pego da Moura Impossible Vineyads. No meio da sociedade entrou ainda um artista plástico inglês, que também já tem vinhas plantadas com varas retiradas das plantas velhas da região. O provámos é extraordinário e estamos em crer que o futuro ainda trará ainda melhores novidades.[/vc_column_text][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]
Edição Nº 22, Fevereiro 2019
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Casa Ermelinda Freitas vence duas estrelas no concurso ProdExpo
A Casa Ermelinda Freitas ganhou, com os seus vinhos CEF Merlot Reserva e Vinha do Fava Touriga Nacional, duas ProdExpo Stars atribuídas ao vinho mais pontuado em cada categoria, no mais famoso concurso de vinhos da Rússia, o ProdExpo 2019. Na mesma competição, o produtor obteve um total de 18 medalhas (2 ProdExpo Stars, 12 […]
A Casa Ermelinda Freitas ganhou, com os seus vinhos CEF Merlot Reserva e Vinha do Fava Touriga Nacional, duas ProdExpo Stars atribuídas ao vinho mais pontuado em cada categoria, no mais famoso concurso de vinhos da Rússia, o ProdExpo 2019.
Na mesma competição, o produtor obteve um total de 18 medalhas (2 ProdExpo Stars, 12 medalhas de ouro, 4 de prata).
Desde 1999 a Casa Ermelinda Freitas, já obteve mais de 1000 prémios a nível nacional e internacional.
Casa Museu José Maria da Fonseca actualiza enoturismo
Fechado o ano de 2018, com um total de 42 mil visitantes, a José Maria da Fonseca divulga as novas ofertas de enoturismo da sua Casa Museu, em Vila Nogueira de Azeitão. A aposta é na organização de eventos premium e nas experiências exclusivas. A JMF vai disponibilizar vários espaços, como a Cave da Bassaqueira, […]
Fechado o ano de 2018, com um total de 42 mil visitantes, a José Maria da Fonseca divulga as novas ofertas de enoturismo da sua Casa Museu, em Vila Nogueira de Azeitão. A aposta é na organização de eventos premium e nas experiências exclusivas. A JMF vai disponibilizar vários espaços, como a Cave da Bassaqueira, a Adega dos Teares Novos, ou a Loja do Vinho, para eventos de empresas, com refeições personalizadas e harmonizadas com vinho. Dentro das experiências únicas, os visitantes podem agora vivenciar “Um dia com a nossa Família”, um programa que inclui uma visita guiada à Casa Museu, prova de vinhos e um almoço ou jantar com a presença de um dos membros da família activos na empresa, cujos vinhos são seleccionados por um dos enólogos da casa. Quanto às provas de vinhos, há duas modalidades: as Premium, a começar nos €5 por pessoa, e as Especiais, até €50.
As reservas podem ser feitas em enoturismo@jmfonseca.pt ou 212198940.
Os números do leilão da José Maria da Fonseca
Domingos e António Soares Franco Decorreu na Casa Museu da JMF e, como habitual, gerou entusiasmo e expectativa. O quarto leilão do século XXI, da José Maria da Fonseca, foi um sucesso ao superar as previsões, rendendo um valor total de 67 mil euros. O protagonista da cena foi o Moscatel Roxo de Setúbal Superior […]
Domingos e António Soares Franco
Decorreu na Casa Museu da JMF e, como habitual, gerou entusiasmo e expectativa. O quarto leilão do século XXI, da José Maria da Fonseca, foi um sucesso ao superar as previsões, rendendo um valor total de 67 mil euros. O protagonista da cena foi o Moscatel Roxo de Setúbal Superior 1918, em homenagem aos 100 anos de Fernando Soares Franco, representante da quinta geração da empresa (a sexta e a sétima são as actuais), mas a estrela da noite foi o Apothéose Bastardinho, o último a ser leiloado, licitado por 4500 euros. É que este Bastardinho de Azeitão tem mais de 80 anos e originou apenas 40 garrafas! Dele será lançada uma garrafa por ano. Mas todos os 35 lotes leiloados, de 126 garrafas no total, causaram azáfama entre os licitadores, com muitos a não demonstrar qualquer hesitação em levantar a raquete. Tanto que, um leilão que poderia ter demorado bem mais tempo, durou apenas cerca de meia hora.
A José Maria da Fonseca, que detém um património único de Moscatéis de Setúbal, colocou também em praça diversas colheitas antigas de Moscatel e de aguardente.
Não perca, na Grandes Escolhas de Dezembro, a reportagem completa sobre o evento.