20 tendências gastronómicas para 2020

O ano vai voltar a ter muitos vegetais no prato e podemos até ver entrar nos cardápios um inhame roxo raro, oriundo das Filipinas. Mas muitas outras coisas boas deverão acontecer, mesmo com o previsível arrefecimento do turismo.  TEXTO Ricardo Dias Felner Vegetais e mais vegetais Restaurantes vegetarianos que parecem alta cozinha, cheios de sabor. […]

O ano vai voltar a ter muitos vegetais no prato e podemos até ver entrar nos cardápios um inhame roxo raro, oriundo das Filipinas. Mas muitas outras coisas boas deverão acontecer, mesmo com o previsível arrefecimento do turismo. 

TEXTO Ricardo Dias Felner

  1. Vegetais e mais vegetais

Restaurantes vegetarianos que parecem alta cozinha, cheios de sabor. Cozinha vegetariana que não sabe a alface sobre rúcula. A tendência já começou no ano passado, com bons exemplos a Sul e a Norte. Quer em restaurantes ‘plant-based’ como o Fava Tonka (Porto) ou o Senhor Uva e o Arkhe (Lisboa), quer em restaurantes omnívoros como o Prado (Lisboa) ou o Apego (Porto), os vegetais são hoje muitas vezes o centro do prato e arrebatam até os clientes mais proteico-dependentes. A onda verde vai continuar a crescer.

  1. Carnes certificadas

Portugal tem um longo caminho a fazer no comércio de carnes de qualidade e certificadas. Noutros países europeus é frequente os talhos terem os certificados de origem, com raça, data de abate, região, etc. Por cá, com raras excepções, é “Novilho”, “Entrecosto”, “Borrego” — e pouco mais. Ora, alguma restauração já começou a mudar isto, vendendo carnes (sobretudo maturadas) com indicação da raça e da data de abate e espera-se que isso passe para a grande distribuição. Vamos comer menos carne em 2020, sobretudo de vaca, mas de melhor qualidade e de raças nacionais, como sejam a maronesa, mirandesa, arouquesa ou barrosã.

  1. Pão artesanal para todos

A padaria artesanal explodiu em 2019 e irá confirmar a tendência de crescimento em 2020. Cadeias como a Padaria Portuguesa viram crescer as vendas dos seus pães com farinhas antigas, como espelta; outro exemplo é a expansão do Copenhagen Coffee Lab, também com produção própria e a expectativa de abrir mais lojas em Lisboa e no Porto. As grandes superfícies também têm procurado acompanhar a tendência, nalguns casos fazendo as suas próprias massas e já integrando técnicas de fermentação lenta. A expectativa é a de vermos mais panificação com farinhas de cereais antigos (barbela, espelta) ou exóticas (como a teff etíope).

  1. Tudo se fuma

Os fumados existem desde que existe fogo, mas nunca como agora sentimos tanto sabor a fumo em tudo, desde chás a manteigas, passando por vegetais ou cocktails. Em alguns restaurantes, a excitação é tal que tudo sabe a fumo, criando-se um enjoo tóxico. A verdade, no entanto, é que o fumo traz complexidade e conforto à comida, sobretudo em pratos de vegetais.

  1. Dar fogo à peça

O fumo está ligado a uma outra moda. No caso, uma moda com dois milhões de anos. Terá sido por essa altura, mais milénio menos milénio, que alguém atirou um pedaço de comida para cima de uma fogueira e fez magia culinária. O combustível de eleição é a madeira e os equipamentos variam: fornos, grelhas, potes de ferro e outras estruturas mais complexas. Vale tudo, desde que o aroma do fumo e a combustão lenta e homogénea façam o seu trabalho. Para assistir ao vivo ao espectáculo, sugerem-se o Elemento, no Porto, e o recém-inaugurado Fogo, em Lisboa.

  1. Pizza de couve-flor

Ainda está para aparecer em força, mas alguns indicadores dizem-nos que este ano a moda chega a Portugal. Algumas aplicações móveis ligadas à entrega de comida em casa, como a Uber Eats e a Yelp, indicaram a pizza de couve-flor como uma das grandes tendências nos EUA em 2019. Reparem que não estamos a falar de uma pizza com couve-flor. Estamos a falar de uma base de couve-flor (e ovo e queijo e…), com outros ingredientes por cima. Sem glutén e sem hidratos.

  1. Cozinha coreana

De entre as cozinhas asiáticas, a coreana ainda é relativamente desconhecida por cá, mas das mais célebres em cidades como Nova-Iorque ou Londres. Muitas das bases são chinesas, frequentemente com pastas de chiles vermelhos adicionados, e nota-se uma propensão para o barbecue. Ora é precisamente através do barbecue que ela se está a introduzir em Lisboa. O exemplo mais recomendável é o Han Table Barbecue, mas também o restaurante do Mercado Oriental, no Martim Moniz (a especialidade é o bimbibap), ambos em Lisboa.

  1. Chefs-agricultores

    Foto de Anabela Trindade

A cozinha de produto local e sazonal vai continuar a florescer, mas pode-se esperar a subida a um outro patamar: restaurantes em que os próprios cozinheiros/chefs produzem parte dos seus produtos. O cultivo de ervas aromáticas, mesmo dentro das instalações de restaurantes, sobretudo de fine dining, já existe há algum tempo, mas a existência de horta própria, em que o chef é uma espécie de curador ou mete mesmo as mãos na terra, ainda está por concretizar de forma consistente. 2020 pode ser o ano do chef-agricultor.

  1. Japão, Japão e Japão

O Japão está na moda e vai estar mais ainda, com os Jogos Olímpicos de Tóquio a começar em Julho. Toda a gente parece querer viajar até ao Japão, conhecer tudo sobre o Japão. Da arquitectura à jardinagem, do feng shui ao cinema, há um modo delicado e uma ética no fazer que cativa o mundo — e a comida não escapa a essa admiração. As sopas ramen deverão crescer e irão aparecer muitos outros petiscos que têm estado mais ou menos bloqueados pela febre do sushi.

  1. Sandes katsu sando

Um desses petiscos japoneses por descobrir são as sandes katsu sando. Podíamos aliás alargar a tendência para todo o tipo de sandes gastronómicas, em que se usa pão especial, recheio feito de ingredientes seleccionados, fermentados, picles caseiros — ou seja, sandes com técnica de alta cozinha. O Porto tem uma longa tradição a fazer bem sandes, mas em Lisboa há escassez de bons exemplares. Uma das pedradas no charco são estas katsu sando, que vão aparecendo em casas asiáticas modernas, restaurantes de autor (Plano Restaurante), ou em lojas de street food (Mercado Oriental).

  1. Ube halaya, a nova beterraba

A ube halaya é muito popular nas Filipinas, e foi a partir daí que chegou aos EUA, onde se tornou um dos alvos favoritos dos instagrammers, sobretudo quando na forma de gelado. A razão tem a ver com a cor. É que a ube halaya é um inhame roxo, que depois de processado em pasta ou pó transforma tudo o que toca em foto bonitinha. A avaliar pela inventividade das gelatarias em Portugal, é bem possível que a ube entre nos cardápios muito em breve.

  1. Cozinha regional de chef

    Taberna Albricoque

Os chefs andam cada vez mais a olhar para o receituário tradicional. Mas agora não tanto para transformá-lo, mas procurando ser fiéis aos sabores regionais, dando muito menos ênfase a criatividades espúrias. Um exemplo é Bertílio Gomes, chef que já andou no fine dining e que abriu agora a Taberna Albricoque, onde se notam influências algarvias; outro é Leopoldo Garcia Calhau, que na sua Taberna do Calhau pratica sobretudo sabores alentejanos. Mas faltam ainda bons restaurantes que cubram toda a nossa diversidade regional, dos Açores a Trás-os-Montes, do Minho às Beiras.

  1. Fine dining social

     

    The Art Gate

Apesar da crise do fine dining clássico, continuará a haver espaço para restaurantes excepcionais, onde podemos ter refeições únicas. Dito isto, o ambiente dos restaurantes de alta cozinha deverá deixar de ser tão protocolar e passar a ser mais social. Exemplos disso são o Ceia, que faz uso de uma mesa comunitária, ou o novo pop up do projecto We Are Ona (ver texto nestas páginas). Não surpreenderia, igualmente, que no futuro aparecessem restaurantes de fine dining só com um balcão.

  1. Cozinhas abertas

A apetência por espaços que propiciem o convívio e os intercâmbios está relacionada com outra tendência: as cozinhas abertas. Os restaurantes são cada vez mais montras de showcooking, como se os clientes quisessem estar dentro de um programa de culinária e poder fazer perguntas directamente aos seus anfitriões. Não interessa já só o que está no prato, mas como a comida chega ao prato, quem a faz, como a faz, como a serve. O restaurante não é mais só a sala, é tudo, da recepção às casas de banho, e é sobretudo a cozinha.

  1. Empratamentos simples

Os empratamentos muito desenhados, trabalhados como joalharia ou jardinagem, com florzinhas decorativas, bolinhas de gel e risquinhos, estão a cair em desuso. A ideia é cada vez mais o foco estar nos ingredientes e no sabor. Muitas vezes, para se fazer um empratamento complexo é preciso ter uma mise en place gigante, o que acaba muitas vezes por fazer com que a comida saiba a prato requentado. Poucos elementos, pouca confusão, máximo sabor. É esse o caminho.

  1. Restaurantes ambientalistas

As preocupações ambientais são uma tendência em todas as áreas e a cozinha não será excepção. Procurar produtos sustentáveis ou biológicos, diminuir a pegada ecológica, acabar com o desperdício, reciclar. Ainda não há em Portugal nenhum restaurante que se comprometa com todas estas questões ao mesmo tempo (como há o Silos, em Londres, por exemplo), mas cada vez há mais gente a esforçar-se por isso.

  1. A vez da cozinha africana

Alguns gastrónomos gostam de arredar a culinária africana das grandes cozinhas do mundo. Muitos são os mesmos eurocêntricos que também desdenhavam do que se fazia na China e um pouco por toda a Ásia. Podem estar enganados. O continente africano é grande demais para caber numa tendência, mas a verdade é que esse enorme território desconhecido tem despertado cada vez mais interesse no Ocidente, não apenas por ser origem de alguns super-alimentos como por ter uma culinária própria. Basta ver que o vencedor de O Melhor Restaurante do Mundo em 2019, eleito pelo World Restaurant Awards, fica na África do Sul.

  1. Sopas de massa

Há mais de 15 anos, quando o saudoso restaurante Assuka começou a fazer ramen para uns poucos de clientes estrangeirados, pouca gente vaticinava que a famosa sopa japonesa se tornasse num caso de sucesso. Ainda hoje, não há uma casa de ramen com a categoria que tinha o Assuka, entretanto desaparecido por causa de problemas financeiros, mas há várias boas e, aparentemente, muito procuradas, no Porto e sobretudo em Lisboa. E não são só os noodles japoneses que vencem, mas sim todas as sopas asiáticas que têm na sua essência noodles e caldos filtrados de carne e ossos, de que é também exemplo o pho vietnamita.

  1. Hambúrgueres sem carne

Os mais ortodoxos dirão que um hambúrguer tem de ser feito com carne de vaca e conter nunca menos de 30 por cento de gordura animal. Mas a maior parte do mundo parece não estar de acordo. É impressionante o sucesso dos hambúrgueres vegetarianos, ao ponto de as grandes cadeias multinacionais, como a Burger King, estarem a apostar cada vez mais neste mercado. Vamos ter rodelas de muita coisa sem ser carne, dentro de pão, em 2020.

   20. Restaurantes na periferia

Restaurante Tutto Combinato, Ramada – Odivelas. Foto de Mariana Lopes

Com as grandes cidades, sobretudo de Lisboa e do Porto, a verem as rendas subir exponencialmente nos últimos tempos, irão aparecer restaurantes ambiciosos e interessantes também em bairros periféricos ou mesmo noutras localidades em redor dos grandes núcleos urbanos. Já vimos isso acontecer em Lisboa, com grandes actores a tomarem Alvalade ou Marvila. Previsivelmente esse movimento vai continuar a deslocar-se para terrenos ainda mais baratos.

 

Edição nº 34, Fevereiro de 2020

Do Mercado – Alheira

Ricardo Dias Felner Um dos enchidos portugueses verdadeiramente original é a alheira. E é com a chegada do frio e das matanças que elas estão na máxima forma. A questão é: onde encontrá-las? Para comer uma verdadeira alheira temos de esquecer os canais habituais de distribuição. Uma verdadeira alheira encontra-se nas feiras de fumeiro (vá […]

Ricardo Dias Felner

Um dos enchidos portugueses verdadeiramente original é a alheira. E é com a chegada do frio e das matanças que elas estão na máxima forma. A questão é: onde encontrá-las? Para comer uma verdadeira alheira temos de esquecer os canais habituais de distribuição. Uma verdadeira alheira encontra-se nas feiras de fumeiro (vá para Norte) ou nas casas das pessoas ou em talhos de província que conhecem essas casas das pessoas. De resto, nas lojas do costume pode encontrar exemplares com certificação IGP (Vinhais, Mirandela, Barroso-Montalegre…), mas não vai encontrar a melhor alheira, aquela alheira que o vai deixar a suspirar para sempre por uma alheira.

A minha alheira preferida tem pouco pão e leva, para além de carne de porco (sobretudo da cabeça), carne de animais de capoeira, como galinha ou pato ou coelho. O uso de chiles picantes é facultativo, mas eu aprecio. Na hora de escolher uma alheira não vá pelas muito direitinhas, mas pelas com saliências na tripa e que estejam bem secas. Para cozinhar em casa, o ideal é colocá-las sobre uma frigideira antiaderente, com o calor muito baixo (nível 4 da indução), e deixá-las assar lentamente até que a pele fique estaladiça, quase vidrada. Acompanhe só com grelos e um fio de azeite.

 

Edição nº 34, Fevereiro de 2020

Heranças gastronómicas: de Portugal, vê-se todo o Mundo

É impossível andar seguro para a frente olhando apenas para trás, é certo, mas anda-se bem mais seguro quando se sabe donde se vem. A esmagadora maioria do património culinário português está impregnado das muitas influências que ganhou e deixou pelo Mundo. E temos vinhos para todas. TEXTO Fernando Melo África lusófona Angola, Cabo Verde, […]

É impossível andar seguro para a frente olhando apenas para trás, é certo, mas anda-se bem mais seguro quando se sabe donde se vem. A esmagadora maioria do património culinário português está impregnado das muitas influências que ganhou e deixou pelo Mundo. E temos vinhos para todas.

TEXTO Fernando Melo

África lusófona

Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, partilham entre si várias itinerâncias gastronómicas e as raízes do que se come estão nos produtos e costumes locais. Os portugueses foram sempre para ficar, ao contrário dos espanhóis, ingleses, franceses e holandeses, que quase sempre viveram apartados dos povos que encontraram ou subjugaram. Há um missionário e um grande amigo em cada português e excepção feita aos óbvios e históricos conflitos, os portugueses são assim lembrados. Além disso, todos os que ousaram partir tornaram-se eles próprios também, de certa forma, portugueses diferentes, no sotaque, nos hábitos e… na mesa. O continente foi-se instituindo como plataforma de fusão e hoje são diversas as delícias provenientes de cada parte. Deliciamo-nos com a muamba de galinha que nos chega de Angola, alquimia sofisticada de texturas e sabores. Óleo de palma, quiabos, malagueta e funge são os quatro pontos cardeais de um prato de cariz popular que nos leva ao céu. De Cabo Verde preenche-nos a fantasia a cachupa de carne, a que também se chama rica – injusto para a de peixe, a pobre – e é alquimia culinária pura. Um estufado de base de milho, feijão e enchidos que pacientemente vai construindo uma catedral. É um dos mais belos edifícios da lusofonia gastronómica e só se faz para muitos convivas. Não se faz cachupa para dois ou quatro à mesa. A Guiné tem o caldo de mancarra, relativamente pouco difundido entre nós, continentais mimados, mas faz-se muito nos lares de guineenses na diáspora portuguesa. Mancarra quer dizer amendoim em guineense e solta na fervura lenta sucos e texturas em que rapidamente nos viciamos. Faz-se normalmente com frango cozido, coberto com uma pasta que resulta de pisar a mancarra juntamente com tomate fresco e piri-piri. Não há quem não fique impressionado pela diferença deste prato único e preso nos seus sabores inefáveis. Moçambique tem caris incríveis, malaguetas muito picantes, e fixou pratos de influências múltiplas, todos sápidos e intensos. A cafriela de frango – cafriela vem de cáfila e de cafres, outrora marginais enjeitados pela sociedade – é a mais perfeita receita de frango que existe. A ave aberta e espalmada, primeiro é marinada em sal, manteiga, piri-piri, limão e azeite ou óleo, depois grelhada, e finalmente estufada. Três processamentos que elevam a mais simples ave de criação a prato glorioso. Praticada em Moçambique, absorveu influências da Guiné, Zambézia e Angola e está na base da profusão de churrasqueiras que encontramos incrustadas nos prédios das cidades portuguesas, receita obviamente simplificada. Quase todas foram fundadas por retornados das ex-colónias e viram que a todos apetecia. S. Tomé e Príncipe tem o incrível e maravilhoso reduto que é o calulu, de peixe ou carne. É pobre na sua génese e o ponto de partida é sempre a demolha da proteína principal, peixe seco ou carne seca. Depois é enriquecido por uma profusão de ingredientes e especiarias, para um resultado fantástico que é pena não estar mais vezes disponível nos nossos restaurantes. É normalmente muito picante.

EXPERIMENTE: Tinto da Bairrada, com muamba de galinha. Branco do Alentejo fermentado em barrica, com cachupa. Branco de Palmela com caldo de mancarra. Alvarinho Monção e Melgaço, com cafriela de frango. Alfrocheiro do Dão com calulu.

Japão

Levámos muitas delícias valiosas para a ilha longínqua a oriente. Figueira, pereira, pessegueiro, marmeleiro, oliveira e até mesmo videira. Também fomos nós que lá pusemos criação, por exemplo galinha, pato e coelho, com a correspondente parafernália culinária. A tempura com que convivemos tanto e tão bem quando comemos com pauzinhos nos restaurantes japoneses, tem uma dupla paternidade. Nasceu a partir dos peixinhos da horta, mas também a partir do acto de temperar. É atribuída aos portugueses também a namban karashi, ou seja mostarda, que conduziu a uma generalização de alguns pratos como sendo nanbam, quando na verdade eles eram originários da região Nanba, em Osaka. Tudo o que fosse animal de criação e levasse alho passou a ter chancela namban. Peixes marinados em vinagre passou a costume integrado pelos japoneses, e tem matriz óbvia nos nossos escabeches. Por lá é bem mais picante do que por cá, ainda hoje, refira-se. O açúcar refinado, inovação de enorme impacto na doçaria japonesa, de que é grande exemplo o bolo castela – pão-de-ló -, que em japonês se diz kasutera, corruptela do termo português. Os fios de ovos enfeitiçaram totalmente os japoneses, pela semelhança com a massa de cabelos de anjo e pela grande recompensa que eram a sua farta doçura e poder nutritivo. A doçaria e a arte da confeitaria receberam também baptismo com um neologismo, o kompeito. Vem de confeito, ou confeitaria e refere-se à fabulosa arte de confitar o açúcar nos frutos e legumes, e todo o trabalho dos pontos de açúcar desenvolvido empiricamente nas cozinhas dos nossos conventos. A alta pastelaria japonesa é uma das mais requintadas do mundo.

EXPERIMENTE: Rosé da região dos Vinhos Verdes com tempura. Branco do Alentejo sem madeira com sushi. Chardonnay novo com kasutera/pão-de-ló.

Índia

Goa é a representação principal da Índia no nosso imaginário e é também o território indiano que mais influência portuguesa recebeu. Portugal foi, de resto, potência administrante até 1961, sente-se bem e claramente em cada pequeno detalhe culinário. Ao mesmo tempo, é porventura o maior exemplo de fusão em todo o mundo, tanto pelo estendimento no tempo como pelo contínuo de influências recíprocas. A carne em vinha d’alhos, por exemplo, preparação típica do norte alentejano e de latitudes mais acima, deu no vindaloo. O vinho tinto foi contudo cedendo terreno ao vinagre, resultando na miscigenação quase perfeita, já que o vinagre também entrou nos hábitos dos portugueses. Inequivocamente alentejano é o sarapatel, mais propriamente de Portalegre, onde ainda se processa como sempre. Em rigor é um cozido de carne e partes moles de porco, na Índia ganhou temperos exóticos como cardamomo, cominhos, malaguetas – estas juntamente com quiabos levadas por nós – gerando um prato universalmente reconhecido e aceite sem reservas como sarapatel. Inefável o caril, de camarão ou galinha, com o competente arroz basmati aromatizado ao lado. A base de leite de coco do caril goês é muito importante, além de registo de proximidade em relação a outras ex-colónias, especialmente Moçambique. Aspecto curioso e digno de registo é a introdução dos caldos e sopas nas muitas dietas de toda a Índia. Foi mesmo um costume levando por nós mediterrâneos, para quem sopa, caldo e ensopado significam a mesma coisa. A arte doceira conventual também chegou longe, a bebinca é forte exemplo do trabalho dos ovos e do açúcar, ao mesmo tempo que incorpora a paciência e a perfeição da mesa indiana ancestral.

EXPERIMENTE: Tinto do Douro com vindaloo. Branco de Lisboa com caril. Moscatel de Setúbal com bebinca.

Edição nº 34, Fevereiro de 2020

Evento “Aveiro, Sabores Com Tradição” começa dia 6 de Janeiro

A partir da próxima segunda-feira, dia 6 de Janeiro, Aveiro celebra as iguarias da região com o festival gastronómico “Aveiro, Sabores com Tradição”. Durante uma semana, 29 restaurantes da cidade promovem o melhor da gastronomia tradicional aveirense, homenageando a diversidade de produtos endógenos oriundos do mar, da Ria e da terra, através de menus que […]

A partir da próxima segunda-feira, dia 6 de Janeiro, Aveiro celebra as iguarias da região com o festival gastronómico “Aveiro, Sabores com Tradição”. Durante uma semana, 29 restaurantes da cidade promovem o melhor da gastronomia tradicional aveirense, homenageando a diversidade de produtos endógenos oriundos do mar, da Ria e da terra, através de menus que variam entre os 10 e os 30 euros.

A edição deste ano traz como principal novidade o Menu Prova, uma opção para relaxar ao final do dia que, por 10 euros, propõe a degustação de dois petiscos, harmonizados com copo de vinho ou espumante Bairrada. As propostas para este menu-prova – disponível apenas nos restaurantes À Portuguesa, Cais da Tosca, Quatro Nós e Cais do Pescado – variam entre fritadinha de pastéis de bacalhau, carapauzinhos, ovas de bacalhau, mexilhões em cama de açorda de coentros, gratinados com mozarella ou em vinagrete. Há ainda telha de ovos moles para conquistar os paladares com preferências doces.

Já nos restantes 25 restaurantes, é possível saborear uma experiência gastronómica rica e variada com menus completos entre 15 e 30 euros, com entrada, prato, sobremesa e copo de vinho Bairrada. No final da refeição e para ajudar à digestão, é oferecida a tradicional “Bandeja de Aveiro”, composta por licor de Aveiro, abafado ou aguardente da Bairrada.

Durante uma semana, o festival coloca em destaque algumas das iguarias mais icónicas da identidade gastronómica da região: o bacalhau, que ostenta o estatuto de Especialidade Tradicional Garantida, será um dos mais fiéis amigos à mesa desta incursão gastronómica, seja em caldeirada, assado, com natas, na telha, em bolinhos. Para além da chora de bacalhau, há ainda línguas, bochechas e samos de bacalhau, outrora consideradas desperdícios e hoje elevadas a iguarias. Para além dos produtos do mar, de onde se destacam o linguado, a raia, a petinga, o robalo e a dourada, o festival aposta também em produtos da Ria, onde a enguia, em caldeirada, frita ou de escabeche, se junta às ostras, aos mexilhões e às ameijoas, confeccionadas de acordo com a especialidade de cada restaurante.

As sobremesas têm também assinatura do vasto legado gastronómico doce da cidade, com os ovos-moles a erguerem o baluarte gastronómico da Região. O arroz doce, a aletria, os bilharacos, as castanhas de ovos, o leite-creme, o Pão-de-Ló, as cavacas e o Bolo de Santa Joana são apenas algumas das sobremesas que poderão ser degustadas até 13 de Janeiro.
Para além dos produtos tradicionais, a iniciativa “Aveiro, Sabores com Tradição” abre também portas à inovação, revisitando ou inovando em propostas gastronómicas com produtos que começaram a ser explorados na região, fruto do surgimento de novos nichos de mercado e de novas tendências gastronómicas, como por exemplo a Flor do Sal, a salicórnia, as ostras, as algas e as conservas.

As reservas para o “Aveiro, Sabores com Tradição” podem ser efectuadas junto dos 29 restaurantes aderentes, cuja lista pode ser consultada na página de Facebook do evento, aqui.

Tão natural como a sua fome

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A moda dos vinhos naturais já chegou a Lisboa e deixou toda a gente de barriga cheia.

TEXTO Ricardo Dias Felner

No dia 20 de Dezembro de 2016, o chef António Galapito provou pela primeira vez uma garrafa de Serragghia Bianco 2013, da Sicília. Era o seu aniversário e desde então ele nunca mais olhou para o vinho da mesma maneira.
Esse momento, uma jornada vínica épica, acabaria por moldar a garrafeira daquele que viria a ser um dos maiores êxitos gastronómicos dos últimos anos, em Lisboa. Mal se estreou, em 2017, o seu restaurante Prado apostou numa carta de vinhos só com pequenos produtores e filosofia de intervenção mínima, a acompanhar a sua cozinha alternativa e ecológica. De então para cá, muita coisa mudou na capital e o Prado ganhou companhia. A cidade confirmou-se como um sítio onde tudo parecia possível, à semelhança de cidades como Paris, Copenhaga e Nova Iorque. E os vinhos naturais apareceram a acompanhar cada vez mais menus — ou o seu contrário. Muitos sommeliers, muitos empregados de mesa, ouviram desaforos de clientes indignados com “o vinho estragado”, mas na maioria dos casos a aposta correu bem.

Da Comida Independente ao Senhor Uva
Alguns dos projectos mais arrojados nasceram em sítios igualmente arrojados. Foi assim que Rita Santos Paul abriu a Comida Independente, em Santos, então uma zona pouco dada à culinária. A loja começou como uma mercearia, com muito do melhor que se faz no país — dos queijos aos enchidos, passando pelo legumes biológicos e pelas conservas —, mas rapidamente se transformou também num palco para vinhos preocupados com a sustentabilidade e para o petisco. Hoje em dia, há charcutaria artesanal, pratos com produtos biológicos a partir das 19 horas, conservas — e é obrigatório provar a famosa sandes de pastrami, feita na casa.
Igualmente periférico relativamente ao eixo Baixa-Chiado-Cais do Sodré é o bar-restaurante Senhor Uva. Situado na Lapa, perto do Jardim da Estrela, nasceu há oito meses e, actualmente, é difícil conseguir mesa, mesmo a meio da semana. A história é de alguma forma reveladora de uma nova imigração lisboeta, qualificada e jovem. Os donos são um casal de canadianos, ela Stephanie Audet, uma chef reconhecida em Montreal, especialista em cozinha vegetariana, ele Marc Davidson, adepto de vinhos naturais, o homem à frente da sala, sempre disponível para abrir qualquer garrafa para servir a copo.
Da cozinha aberta do Senhor Uva saem burratas com pólen de abelha, couves coração grelhadas ou tostas de centeio com puré de cherovia e rabanete fermentado. Da garrafeira, só constam vinhos de naturais, orgânicos ou biodinâmicos, um agradável constrangimento, diz Marc. O facto de Portugal só agora estar a acordar para este tipo de vinhos é um privilégio e uma “sorte”. “Temos acesso a vinhos que desapareceriam num segundo em qualquer outra grande capital, mesmo que ainda haja muito trabalho a ser feito para se conseguir mais produtores”, concretiza Marc.
A lista apresenta muitos dos vinhos portugueses que se repetem em todas as garrafeiras de nível, e os empregados falam de cada produtor como se fosse um amigo lá de casa. Mas são os rótulos estrangeiros a levar os maiores aplausos, como os vinhos de Jean Pierre Robinot, de Alice Bouvot, ambos franceses, ou os da estrela da região italiana de Friuli, Josko Gravner, mago dos chamados vinhos laranja — presença obrigatória em qualquer carta abrangente de vinhos naturais.

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Vinhos por quem sabe deles
Uma das últimas — e mais ambiciosas aberturas — foi o Wines by Heart. O nome, em inglês, situa desde logo o seu posicionamento no mercado e na cidade, estando instalado mesmo em cima da luxuosa e internacional Avenida da Liberdade. Propriedade de brasileiros experientes no sector, com Guilherme Corrêa à cabeça, premiado sommelier brasileiro (Best Brazilian Sommelier 2006 & 2009 ABS/ASI), a loja-restaurante inaugurada em Setembro foi buscar Rodrigo Osório, um chef com experiência Michelin (entre eles o três estrelas Piazza Duomo, em Alba, Itália) para dar sabor à sua garrafeira.
Aqui, não há exclusividade de vinhos naturais, mas 60 referências das 800 inscrevem-se neste conceito restrito e algumas são jóias raras e valiosas, como o Soldera Sangiovese 2013, com preço de 485 euros a garrafa. Outra originalidade é que não é o vinho que é escolhido para a comida, mas mais a comida que é escolhida para o vinho. A missão de Rodrigo “é entregar pratos que sejam ao mesmo tempo incríveis, transparentes na expressão da excelência dos ingredientes, e amigos do vinho”, concretiza Guilherme.
Independente de qual seja o posicionamento em matéria de vinhos de intervenção mínima, o facto é que eles vieram em força. E trouxeram boa comida com eles.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”PRADO ” color=”custom” accent_color=”#888888″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” bg_color=”#f4f4f4″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40951,40952″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”COMIDA INDEPENDENTE” color=”custom” accent_color=”#888888″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” bg_color=”#f4f4f4″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40963,40964″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Edição Nº30, Outubro 2019

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Só mais outro restaurante asiático?

O JNCQUOI Asia é o novo asiático de Lisboa, com quatro cozinhas de raiz e muita ambição. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS cortesia JNCQUOI Fica uns metros abaixo do irmão mais velho, o JNCQUOI Avenida, e quem lá entra percebe logo que continuamos em modo luxo. A entrada faz-se pelo bar, onde se pode beber […]

O JNCQUOI Asia é o novo asiático de Lisboa, com quatro cozinhas de raiz e muita ambição.

TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS cortesia JNCQUOI

Fica uns metros abaixo do irmão mais velho, o JNCQUOI Avenida, e quem lá entra percebe logo que continuamos em modo luxo. A entrada faz-se pelo bar, onde se pode beber vinho, cocktails e sakés em poltronas. A ideia é vir a haver também “finger food” e a possibilidade de se pedir um ou outro prato do restaurante. Continuando a andar, passamos um painel de azulejos da Viúva Lamego, onde foram desenhadas as rotas dos produtos que os portugueses transportaram entre o Ocidente e o Oriente, durante os Descobrimentos, parte da história que o restaurante quer contar à mesa.
A carta, no entanto, há mais do que a herança luso-asiática. Ao todo são quase uma centena de pratos, de quatro regiões asiáticas diferentes, organizadas por tipo de comida. Até aqui nada de novo, podia pensar-se que estamos perante mais um asiático moderno, tendência em Lisboa nos últimos anos. Mas a ideia do Grupo Amorim Luxury, dono dos JNCQUOI, foi subir o nível: fazer tudo de raiz, ir buscar os melhores produtos e as melhores técnicas.
Soraia Manji, do departamento de marketing, dá alguns exemplos dessa exigência, enquanto nos guia pelo espaço, encaminhando-nos para a sala principal. O responsável máximo pelo que se come é o mesmo do JNCQUOI Avenida, o chef António Bóia, e o chef executivo é Mário Esteves, visível de um lado para o outro, logo ao meio-dia e meia, atrás do balcão da lindíssima cozinha aberta. Soraia Manji diz, a propósito, que esta é só a zona de finalização, onde não faltam fornos tandoori embutidos, robata, e equipamentos de ponta de fazer inveja a alguns Michelin. Por baixo, é que está a cozinha. Isto também é luxo.
Bóia é um cozinheiro experiente em cozinha internacional, com currículo académico, Esteves andou a estagiar em Banguecoque e Tóquio com o propósito de se preparar para o projecto. “E temos cozinheiros originários da Ásia”, acrescenta Soraia Manji.
Outro indicador do empenho numa cozinha autêntica foi a contratação de David Thompson como consultor apenas para a parte da cozinha tailandesa. Apesar de ser australiano, Thompson é autor de um dos mais importantes livros de cozinha tailandesa tradicional já editado, “Thai Cooking”, e o grande divulgador desta gastronomia no mundo, tendo ele próprio restaurantes com estrela Michelin na Europa e na Ásia.

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Comida de toda a Ásia
Mas sentemo-nos. Estamos então na sala principal, a do esqueleto do dragão, imagem de marca do arquitecto Lázaro Rosa Violán, que voltou a ser chamado para este projecto do grupo. A sala principal tem capacidade para 112 pessoas e tem estado muito composta, sobretudo ao jantar, onde se aconselha reserva com antecedência. Ao lado há outra sala, que podia ser outro restaurante, um enorme balcão em madeira com vitrina de peixe encastrada, o sushi-bar, zona de sushi por excelência. Daqui sai uma porta para o pátio, onde se recria a ideia de jardim japonês, com horta vertical, plantas tropicais e vários recantos.
A ementa não está dividida pelas quatro regiões culinárias abrangidas pelo restaurante — Índia, Japão, China e Sião —, mas sim pelo tipo de comida. Há assim uma secção de sushi e sashimi, outra de saladas e sopas, outra de spring roll, tempura e chamuças, outra de wok, robata e tandoori, outra de caris e, por fim, os clássicos.
Nas sobremesas, é o veterano chef pasteleiro Joaquim de Sousa, chef do JNCQUOI e da Ladurée (marca da Amorim Luxury), quem dá a cara e a técnica. À mesa vem sempre uma bandeja com toda a doçaria, repetindo-se a receita do restaurante-irmão e onde consta um cheesecake impressivo, de sabor acentuado a cabra, para além dos clássicos mil-folhas e demais sobremesas de inspiração francesa.
O ticket médio andará entre os 40 e os 50 euros, “um pouco menos do que o do JNCQUOI Avenida”, diz Soraia Manji, mas com muitos vinhos exclusivos disponíveis para multiplicar este valor várias vezes.

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A palavra dengaku tem origem nuns bailarinos que animavam as feiras medievais japonesas e que dançavam com uma única perna de pau. Essa perna de pau teria o seu equivalente culinário nos espetos de tofu e vegetais usados para a grelha. De todos os dendaku, contudo, nenhum é hoje tão popular como o de beringela (nasu), aberta ao meio, na qual é barrado o célebre molho de miso, à base de saké, mirin, dashi, açúcar e, por vezes, pasta de sementes de sésamo. A beringela é assada e pincelada com o miso, ficando caramelizada e com notas de fumo.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color=”#efefef” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][nectar_gradient_text heading_tag=”h2″ color=”extra-color-gradient-1″ gradient_direction=”horizontal” text=”Biryani – Índia”][vc_column_text]

Para muita gente não é claro a diferença entre biryani e pilaf, dois pratos da gastronomia indiana em que o arroz é o protagonista. No entanto, apesar de o biryani ser muitas vezes usado como um escape para os menos atreitos a malagueta, não é forçosamente assim — e este biryani de borrego do JNCQUOI está cheio de carácter. De origem muçulmana, segundo a maior parte dos historiadores, o biryani consiste em duas camadas de arroz entremeadas com uma de carne, peixe, camarão ou vegetais cozinhadas à parte e condimentadas de caril.

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color=”#efefef” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][nectar_gradient_text heading_tag=”h2″ color=”extra-color-gradient-1″ gradient_direction=”horizontal” text=”Har gow – China “][vc_column_text]

O har gow (também pode aparecer grafado como ha gow ou haukau) é um dos dumplings (raviolis chineses de massa) obrigatórios numa refeição clássica de dim sum (petiscos chineses). E é também um dos mais difíceis de executar. A massa é feita à base de uma mistura de amidos, que podem ser de trigo, batata ou tapioca. Depois de cozida a vapor, a massa deve ficar translúcida e fina, sem ter cortes, e com umas pregas características (sete). O recheio leva sempre camarão com outros vegetais, tradicionalmente firmes. No JNCQUOI surge acompanhado de castanha de água.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color=”#efefef” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][nectar_gradient_text heading_tag=”h2″ color=”extra-color-gradient-1″ gradient_direction=”horizontal” text=”Tom Yam Goong – Tailândia”][vc_column_text]

O har gow (também pode aparecer grafado como ha gow ou haukau) é um dos dumplings (raviolis chineses de massa) obrigatórios numa refeição clássica de dim sum (petiscos chineses). E é também um dos mais difíceis de executar. A massa é feita à base de uma mistura de amidos, que podem ser de trigo, batata ou tapioca. Depois de cozida a vapor, a massa deve ficar translúcida e fina, sem ter cortes, e com umas pregas características (sete). O recheio leva sempre camarão com outros vegetais, tradicionalmente firmes. No JNCQUOI surge acompanhado de castanha de água.

Edição Nº30, Outubro 2019

Quando a actriz toma conta da quinta

A sucessão na famosa Quinta do Poial, pioneira do biológico em Portugal, está a cabo de uma actriz que luta pelo legado da mãe. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS Ricardo Gomez O caminho tem pouco de campestre. Para se chegar, passa-se a urbanização Casas de Azeitão e depois faz-se um gancho que vai dar à […]

A sucessão na famosa Quinta do Poial, pioneira do biológico em Portugal, está a cabo de uma actriz que luta pelo legado da mãe.

TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS Ricardo Gomez

O caminho tem pouco de campestre. Para se chegar, passa-se a urbanização Casas de Azeitão e depois faz-se um gancho que vai dar à propriedade, a serra da Arrábida lá bem ao fundo. Mas uma vez ultrapassado o portão, nota-se um sossego idílico de vegetação e passarinhos.
No centro da quinta está a um barracão onde, pelas 9.30, já se preparam cabazes de hortícolas. É de lá que sai Joana Macedo, camisa aos quadrados aberta no peito, mangas arregaçadas, calções de ganga curtos e botas — como uma agricultora sensual de filme de Hollywood, acabada de acordar.
A imagem bate certo com a biografia. A jovem agricultora já foi muitas coisas aos 38 anos de idade, mas aquela que mais a entusiasma é ser actriz. Nesse papel, tem estado activa nos últimos anos ao lado dos realizadores Júlio Pereira e Leandro Scarpin, que se dedicam sobretudo a curtas-metragens. De resto, a sua formação sempre esteve toda ligada às artes: dança no Conservatório, design industrial no IADE, curso de actores em Paris.
A Quinta do Poial, venerada por chefs com estrelas Michelin e fãs do orgânico, nunca foi por isso um objectivo de vida. Aqui Joana cresceu, mas daqui partiu em 2006 para Paris, onde o seu pai vivia — e só haveria de voltar em 2014. Essa fuga para França foi também uma fuga da Quinta. “Odiava esta quinta. A minha mãe não tinha tempo para mim. Não ia às minhas reuniões de escola, não ia ver as minhas peças de teatro”, atira.

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Uma mudança brusca de vida
O sentimento de rejeição haveria, contudo, de mudar abruptamente em 2016. Com a morte da mãe, Maria João Macedo, a quinta caiu nos braços da actriz. De repente, Joana tinha sobre si a responsabilidade de cultivar 200 variedades de legumes e frutas, parte das quais nem sabia que existia. Algum trabalho já estava feito e Joana admite isso. “Quando viemos para aqui, a terra era toda areia”, exemplifica Joana. Ainda hoje se percebe isso, basta olhar para o chão na zona de estacionamento. “Foi a minha mãe quem transformou areia numa quinta onde podem crescer coisas. Nesta terra estão 30 anos de trabalho”, assume.
O desafio continua, no entanto, a ser grande. Para além da responsabilidade de fornecer uma dezena de restaurantes com estrela Michelin — ”fora os que não se preocupam com guias” —, Joana ainda tem de gerir mão-de-obra, máquinas agrícolas, encomendas, pragas — bem como as travessuras do clima, particularmente prejudiciais neste ano.
Logo ali, na ala sul virada a sul, estão três estufas de tomates, cada uma com uns 100 metros de comprimento, ex-libris da quinta. Ao todo, Joana estima ter mais de 80 variedades do fruto. “Aqui os pink thai egg, aqueles são os tomate pêra, ali os indigo negro, o zebra, o orange banana, o green envy”, lista, enquanto vai puxando as plantas para cima e as enrolando em torno de fios presos ao topo da estufa.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][image_with_animation image_url=”40913″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row]

Muitos ramos estão deitados porque “não se conseguiu gente” para fazer o trabalho. Isso e um ano com pouco calor até finais de Agosto terá atrasado a colheita. Mas agora eles estão no ponto e a estimativa é que haja tomate do Poial até meados de Outubro, assim o nematode do tomate, um parasita, se mantenha afastado.
A forma como a horta está construída ajuda a manter pragas à distância. Por todo o lado, entre os tomateiros há cravos-túnicos plantados com a finalidade de manter bichos indesejáveis à distância. Outro trunfo da quinta tem a ver com excremento. “Não conseguimos ter animais aqui”, confessa Joana, “mas usamos guano”. E o que é guano? “Cocó de morcego. Vem de Angola. É uma bomba. Cara”.

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Tomates para todos os gostos e feitios
Seja ou não pelo guano, à medida que vamos correndo os tomateiros vamos comprovando a sua boa saúde. Há vários tomate cereja, todos destinados a negar a tese de que não passam de bolinhas reluzentes e sensaboronas de supermercado. A variedade, ao contrário do que se possa pensar, é muito antiga e abarca diversos primos saborosos. Os preferidos de Joana são os micro-cereja de framboesa, pequenos berlindes caprichosos e delicados: Para apanhá-los sem os danificar é preciso ter dedos de veludo, paciência e tempo. “Fui obrigada a aumentar o preço de nove euros o quilo para doze euros o quilo. Senão nem dava para pagar a mão-de-obra de os apanhar”.
As facturas passaram a ser coisas com que Joana tem de se preocupar. Recentemente, comprou umas máquinas manuais, uma espécie de bicicleta com arado que corta as ervas daninhas. Fala com muito orgulho dessa inovação, mas não esquece o preço. “Perto de 5.000 euros”, concretiza, ao mesmo tempo que faz uma demonstração do equipamento. Da mesma maneira, Joana tem na ponta da língua o valor que paga de electricidade durante os meses de Verão. “É preciso bombar muita água do furo. Estamos a falar de 800 a 1.000 euros por mês em electricidade”. A inexistência de um charco na propriedade é uma falha que quer suprimir, até porque ele garante a presença de um ser vivo extraordinário, essencial ao ecossistema biológico da quinta. “As libelinhas. As libelinhas são fantásticas para comer os outros insectos”.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][image_with_animation image_url=”40916″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row]

Tendo este empenho no projecto, Joana assume que gere a quinta de maneira diferente da da mãe. “Ela não era boa a delegar. Queria fazer tudo sozinha. E eu não sou, nem nunca fui agricultora”, conclui, deixando claro que isso não significa que o Poial esteja em risco. É uma questão de honrar o passado, de honrar a sua mãe, sem ressentimentos. “Farei tudo para que este projecto não vá por água abaixo”.

 

Edição Nº30, Outubro 2019

Cozinhas de pescador, pastor e hortelão, sabe o que são?

Todo o prato do receituário nacional visa a partilha e a festa e nem sempre nos damos conta do que está por detrás, em termos de produto, técnica e história, tal é a alegria com que o português se senta à mesa, especialmente onde à espera está um tacho. Vale a pena ir um pouco […]

Todo o prato do receituário nacional visa a partilha e a festa e nem sempre nos damos conta do que está por detrás, em termos de produto, técnica e história, tal é a alegria com que o português se senta à mesa, especialmente onde à espera está um tacho. Vale a pena ir um pouco mais fundo, para chegar aos tempos em que a alegria era mesmo o único alimento. Mar, campo e horta, e os pequenos luxos da suave mantença.

TEXTO Fernando Melo
FOTOS Mário Cerdeira

Assunto romântico aos olhos do mundo, a cozinha de raizes e proximidade esconde em si os primórdios da vida civilizada e na verdade é a principal responsável por existirmos ainda enquanto espécie. E se é verdade que para a maioria não passa de chavão para descrever qualquer coisa que não se chega nunca a perceber, felizmente a bem povoada comunidade de gastrónomos lúcidos a que pertencemos tem prazer em viajar devagar no tempo, olhando com calma para o imenso património que a cada movimento se vai revelando. Temos muitas gastronomias locais, que interagem entre si e constroem um perfil nacional, até hoje temos felizmente resistido a distinguir umas das outras, antes integrando-as todas. A imensa linha de costa portuguesa define por si só uma influência marítima forte que quase nos explica inteiramente, tendo sido em cima dela que cresceu a que conhecemos, celebramos e veneramos como cozinha de pescador. Receituário desenvolvido a bordo, na praia, ou nas cozinhas mais modestas, partes menos nobres, peixes normalmente utilizados como isco, vísceras diversas no fundo de caldos inefáveis, consolidaram ao longo dos anos um legado único no mundo. Outro grande pilar da cozinha portuguesa está escondido em pratos simples, nascidos no campo, com o que o campo dá e que o processamento mais cândido de simples fixou como cozinha de pastor. Proximidade geográfica é a chave para a entender e praticar e é dela que nasce a utilização de ervas aromáticas e medicinais, tanto por estarem disponíveis pelos campos fora como pelo gosto e prática de mezinhas curativas com base em plantas específicas. São de pastor por isso também as infusões, tantas vezes utilizadas em pratos da grande tradição. E chegamos à figura do hortelão, não fora a horta quase tão importante como a criação, e como se não lhe devêssemos em grande parte o facto de crescer de forma nutritiva nos núcleos familiares. Batata, cenoura, couves, alfaces, frutos, tomate, pepino, o desfile é infindável e muitos deles são indispensáveis para a produção culinária quotidiana.[/vc_column_text][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40399,40396,40398,40397,40394,40395″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Cozinha de pescador, o hino dos hinos”][vc_column_text]O conhecimento íntimo dos peixes e as descobertas acidentais formam grande parte do património culinário a que chamamos cozinha de pescador. O bacalhau, não sendo embora pescado nas nossas águas, é assunto bem português, ai de quem diga o contrário. O fiel amigo conviveu connosco por muitas e boas gerações, na forma seca, o mesmo tipo de preparação que se dava outrora à raia, lampreia, polvo e outros, para conservar e guardar, a regeneração acontecia pela demolha. A primeira intervenção, contudo, era o corte da cabeça e a desvisceração, o que dava acesso a partes moles que são concentrados de proteína e colagénio. A lógica de produto inteiro é plenamente cumprida no tratamento do bacalhau, das línguas, e da bexiga natatória, ou sames – espécie de canal exterior que existe logo a seguir à boca e que serve para a orientação do peixe pelo mar fora – fazia-se um caldo ainda a bordo que era de comer e chorar por mais, por isso chamado chora. Na Figueira da Foz encontramos ainda a chora de línguas e feijoada de sames, e nos restaurantes de Lisboa e Porto esses pratos vão marcando presença. A mesma ideia da cozinha a bordo está subjacente nas caldeiradas monoproteína e sem água, em que é o suado da cebola que produz o caldo maravilhoso que legumes e peixe vão produzindo. As caldeiradas multiproteína, historicamente baseadas no safio ou congro, ligado com pata roxa ou caneja e tamboril ou xarroco, são tão gloriosas quanto copiosas, repletas de sabor e valor. A cozinha de pescador tem mil recursos e tudo o que dela sai tem sabores intensos e únicos. Massas secas e arroz são componentes vezeiros nas suas preparações, pimento, tomate e batata menos, mas mesmo assim vai-se encontrando, aqui e ali.

Feijoada de sames
O prato e os vinhos
A riqueza do prato em colagénios, de que os sames de bacalhau são copiosos, mereceu a interpretação do chef Vítor Sobral, da Peixaria da Esquina, em Lisboa, semelhante à de uma feijoada tradicional. Extracção no bom ponto, ligação com a leguminosa impecável, é um hino à arte de bem comer e aos antigos, que no tempo da míngua nela se apoiaram. São bem vindos os brancos com acidez pronunciada, para o corte do prato que é contundente, assim como os tintos da proximidade atlântica, pela aparente salinidade e parceria feliz.

[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40388″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Cozinha de pastor, o processamento mais cândido”][vc_column_text]Se quisermos ser literalistas, é a pastorícia que dá origem a esta cozinha, mas trata-se de uma cozinha bem mais abrangente, que quase remonta ao tempo dos antigos gregos e romanos, a coroar a sedentarização. A vaca deixa de ser força motriz apenas, nos campos e terras lavradas e no transporte pela via terrestre, para se tornar ela própria alimento central, incluindo o maravilhoso leite de que ainda hoje fazemos mais alimento directo do que transformamos em queijo. Queijo que é, diga-se, pedra de toque para revolução grande sentir quase universal de um povo que é queijeiro, mas de leite de ovelha, a maior transumância portuguesa, os rebanhos em excursão de longa duração, assistidos pelo venerável pastor, este por sua vez a recolher o que de imediato vai tendo à sua volta. Nascem do talento e do momento os ensopados, que no tempo das favas e das ervilhas orlam vitela, borrego, cabrito e leitão. A beldroega rasteira, folha insubstituível na que pode bem ser a melhor sopa do mundo, aqui a pontificar, com a adição de um quejinho de ovelha que leva dentro e coze no caldo. É um dos muitos pratos nacionais que transforma água em ouro, e merece conferência sempre que surge numa carta do Portugal profundo. Tudo o que é à pastor tanto pode ser feito em tacho em casa, como em lume de chão ao ar livre. E quando é feito em casa, o espírito autêntico do prato é conseguido apenas quando a manipulação é mínima e quando leva cogumelos, ervas, leguminosas ou hortícolas da estação.

Jardineira de vitela
O prato e os vinhos
A cozinha do Bem-Haja, em Lisboa, é de inspiração da Beira Alta e tem o condão de atrair tanto os locais das terras altas do granito e da geada como os gourmets mais urbanos, orientados para os sabores simples. Prato de base muito simples, no processamento e na apresentação, é dos mais consensuais em toda a cozinha portuguesa.

[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40387″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Cozinha de hortelão, a chave do futuro”][vc_column_text]Sabemos hoje que é quase inevitável o regresso aos primórdios da alimentação, quando a proteína animal era rara ou inexistente, frutos, legumes e sopas, normalmente ponteadas por grão de bico ou feijão, foram a base da mantença da espécie humana. Passaram milhares de anos sem que a dieta fosse sequer beliscada e sem dúvida por isso, a horta, quadradinho dourado adjacente à casa do português da província, é ainda hoje a garantia de que a fome não vai levar a melhor. Pastinaca, tomate, abóbora, cenoura, pepino e tantos outros formam a base da alquimia que vai abençoar a sopa que a fervura ligeira vai aprimorar. O gaspacho é uma preparação a frio, sem lume, que é profilático da desidratação a que na canícula estamos expostos e queremos que fique à porta. O gaspacho andaluz, de base de tomate triturado, é muito utilizado em Portugal, mas o alentejano, com os legumes migados em brunesa média e condimentados com orégãos secos, é genuinamente nosso. As sopas de legumes caem nesta categoria e por serem acompanhadas normalmente por pão são refeição completa, por isso as devemos ter a um tempo como chave do futuro e regresso ao passado. Ao contrário do que se pensa, a sopa não tem temperatura ideal de consumo e foi pensada pelos nossos antepassados para estar pronta na cozinha à nossa espera, e tanto a podemos comer gelada como a escaldar, o conforto pretendido é que dita o modo de usar. Por uma questão de pureza e salubridade, não devemos utilizar batata, pois o amido é um açúcar e altera sabor e composição em tudo o que compõe.

Gaspacho
O prato e os vinhos
Batemos à porta do Galito, em Lisboa, onde pontifica Henrique Galito, que aprendeu com sua mãe, a nossa Dona Gertrudes, que já não está entre nós, praticante indefectível da simplicidade desarmante dos sabores e processamentos directos. Estamos na época do tomate, o hortícola que tem a duplicidade vocacional de ser o fruto com mais água e o legume com mais açúcar e que tem o dom da saciedade plena no tempo do Verão. Tomate, pimento verde, pepino, alho e cebola em brunesa média, depois azeite vinagre e orégãos secos, está o gaspacho feito.

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Edição Nº26, Junho 2019