Adega de Ponte de Lima: Em terras de Loureiro e Vinhão

Adega Ponte Lima

O domingo é dia de missa. Talvez nas grandes cidades o apelo religioso não seja tão forte mas sabemos que na chamada “província” ainda é grande a fatia da população que cumpre as suas obrigações cristãs. Na região de Ponte de Lima não será, cremos, diferente. No entanto aqui, se é agricultor, é necessário ir […]

O domingo é dia de missa. Talvez nas grandes cidades o apelo religioso não seja tão forte mas sabemos que na chamada “província” ainda é grande a fatia da população que cumpre as suas obrigações cristãs. Na região de Ponte de Lima não será, cremos, diferente. No entanto aqui, se é agricultor, é necessário ir à missa, mesmo que não haja qualquer convicção religiosa. É que ir ouvir a prédica do pároco é a maneira mais certa de, atempadamente, se saber quais os tratamentos da vinha que são obrigatórios e que não estão dependentes dos caprichos do lavrador. Doenças como a flavescência dourada implicam tratamentos obrigatórios e que têm datas certas; e é na missa que se fica a saber quando se tem de cumprir a obrigação. Há assim um “interlúdio”, uma espécie de “antes da ordem do dia” em que todos os paroquianos ficam a saber o que há a fazer. E numa comunidade em que a Adega Cooperativa funciona como motor da região, foi esta a melhor solução que se encontrou para que ninguém fique sem informação. É ateu? Não é praticante? Vá na mesma à missa que dessa forma fica por dentro dos assuntos que importam.

A Adega Cooperativa de Ponte de Lima nasceu em 1959 e tem um peso enorme na região. Por um lado, está inserida numa zona agrícola e o vinho é uma das actividades principais mas, por outro, ao alimentar muitas famílias o vinho está também a proporcionar o desenvolvimento do comércio e serviços. Fundada com apenas 15 sócios tem hoje 2000 “ainda que só cerca de mil entreguem uvas”, como nos disseram. Estamos então a falar de mais de 4 milhões de quilos de uvas que são “pagos acima do que se pratica no mercado”. Pagar o preço justo, percebemos, é um objectivo sempre presente na acção da direcção porque “é preciso cativar novos produtores que queiram continuar a actividade dos antepassados e temos alguns jovens que estão a tomar conta das vinhas dos pais. Para pagar melhor as uvas têm se aumentar os preços dos vinhos para que o rendimento seja compensador.”

Celeste Patrocínio, a presidente, tem muito orgulho nos sócios, “alguns são descendentes de gente que estava ligada ao vinho no séc. XIX, pessoas citadas por Cincinnato da Costa na obra O Portugal Vinícola (1900) e que contribuíram com uvas para a ilustração do livro”. E há de tudo, desde os que têm apenas 0,3ha até aos que gerem 60ha, esses já altamente profissionalizados.

Loureiro primeiro que tudo

O grande orgulho da Adega é a casta Loureiro, a bandeira do vale do Lima. Aqui estamos em terrenos graníticos mas também com muitas manchas de xisto e há claramente uma influência marítima – temos o mar a 20 e 30 km – e a temperatura amena gera vinhos com grande frescura que são a marca d’água dos Loureiro. Com vinhas antigas é sabido que a variabilidade genética é maior e não se estranha por isso que os vinhos daqui sejam diferentes dos de Ponte da Barca, por exemplo. A casta Loureiro quer terrenos com boa fertilidade para que possa produzir bem e com qualidade. Estamos então a falar de mais de 10 mil quilos por hectare mas há condições para se poder chegar às 14 toneladas.

A zona corresponde, de resto, a uma das nove sub-regiões do Vinho Verde e, tal como acontece em Monção e Melgaço com a casta Alvarinho, também aqui é a casta Loureiro aquela que mais diferencia estes vinhos dos outros que se fazem na região. Na adega contam-nos que foi também a cooperativa a primeira casa a colocar no mercado um vinho varietal com a indicação de Loureiro no rótulo. Corria então o ano de 1982 e, de então para cá, a casta tornou-se emblemática e diferenciadora. É com base nela que a adega organiza o seu portefólio – a produção de branco ocupa 70% e, dentro dos brancos 95% é Loureiro mas a verdade é que a Loureiro não está sozinha. Há outras castas brancas que também servem de tempero, como Fernão Pires, Arinto, Trajadura e Alvarinho (aqui conhecida por Galeguinho) e várias castas tintas.

Pressente-se que o orgulho na Loureiro é idêntico ao da casta Vinhão, a variedade que molda os tintos da região. Ainda que a circulação dos vinhos de Vinhão seja muito regional, na adega há actualmente razões para que a variedade conheça um novo desenvolvimento. Sobre o tema, o experiente enólogo Fernando Moura, responsável pelos vinhos da Cooperativa, explica: “o Vinhão de hoje nada tem a ver com o de há 30 anos; antigamente a casta estava confinada às ramadas que, como sabemos, origina uvas com baixo teor de açúcar. Dessa forma as uvas chegavam à adega com 8 ou 9% de álcool provável e acidez de 10 e 11 gramas. Actualmente com a reconversão das latadas para cordão, temos Vinhão com 12,5% de álcool e 5 gr de acidez. Isso faz toda a diferença”, concluiu. Celeste Patrocínio acrescenta que no último evento Vinhos & Sabores da Grandes Escolhas, “foi com satisfação que vimos jovens chegarem ao nosso stand e quererem provar Vinhão”. À casta Vinhão há que acrescentar outras como a Borraçal, Espadeiro e Padeiro, todas elas castas pouco corantes e que são usadas sobretudo para fazer rosé; são variedades que existem em quantidades já muito residuais, sobretudo nas latadas. Sempre que há reconversões, estas variedades são preteridas e, em tintas, só se planta Vinhão, o “nosso vinho que esgota todos os anos”, diz Celeste.

Adega Ponte Lima

Reconversão e viticultura

Por falar em reconversão das latadas, a direcção da adega apercebeu-se que para os pequenos agricultores era muito difícil chegar aos programas europeus (Vitis) por não terem a área de vinha mínima para se candidatarem, que é de 20ha. Foi então que nasceu a ideia de se fazerem grupadas, ou seja, um conjunto de sócios que têm isoladamente pouca área de vinha mas que em conjunto conseguem perfazer as condições exigíveis. Foi assim “que já conseguimos quase 8 milhões de euros em fundos para reconversão da vinha e estamos sobretudo a falar da passagem da latada à vinha em cordão”, refere Celeste Patrocínio com justificado orgulho. O assunto dos fundos estruturais tem outras dificuldades: a papelada é complicada, a organização das candidaturas também, tudo se assemelha a uma tarefa hercúlea sobretudo quando a idade dos viticultores é já avançada. A adega, dizem-nos, está aqui para ajudar e criou o GAS – Gabinete de Apoio aos Sócios – onde organiza toda a parte burocrática das candidaturas. Também é a própria adega que vende os produtos vitícolas, aconselha e dá formação aos lavradores. O assunto “missa” que atrás falámos prende-se com os tratamentos da vinha. A zona minhota é a mais pluviosa do país e isso, sabe-se, potencia o sugimento de doenças da vinha com míldio e oídio. Actualmente o normal é terem de se fazer 8 a 9 tratamentos por ano, mas como nos diz Ricardo Siva, o técnico de viticultura, “temos problemas de doenças da vinha mas com as alterações climáticas ganhámos muito porque agora há menos tratamentos a fazer. O aumento médio da temperatura ajudou-nos, há mais calor e menos humidade”. Fernando Moura junta outro dado: ”Agora, mesmo nos anos mais difíceis, continuamos a ter vinhos bons. Problema sério é a Esca (doença do lenho), idêntico ao que se passa no resto do país. E solução séria ainda não há…”.

Mas afinal quanto se paga ao lavrador pelas uvas que entrega? Celeste Patrocínio explica: “pagamos acima do preço do mercado e fazemos uma revalorização das uvas que após as contas finais, dá entre 58 e 60 cêntimos. Na região o preço anda entre 50 e 55 cêntimos/quilo. Temos de apoiar o minifúndio senão ficam só as empresas grandes e, depois, o que será feito das terras? Ficam abandonadas? Há quem faça turismo rural, mas entra tudo em descalabro se não houver vinhas. Os novos para ficarem têm de ter rendimento. Ninguém liga nenhuma à valorização da terra, os políticos vêm cá todos na altura das eleições, mas mais nada. Temos essa função de valorizar, levar as pessoas a conservarem casas, caminhos e equipamentos. O vinho tem esse lado social”.

Com as uvas de que dispõe, a adega construiu um portefólio diversificado sempre com um perfil próprio, muito ao gosto do consumidor: brancos e tintos com muito leve doçura residual (estamos a falar de 3 gr/litro) e uma leve presença de gás. O único branco que tem mais açúcar indica-o no rótulo, onde se lê: Adamado. Mudar este perfil não está nos planos porque “fizemos um vinho com zero de açúcar mas não conseguimos vender porque diziam que era seco de mais”, diz Fernando Moura que acrescenta que isso não impede que vá adiante um novo projecto que é um branco fermentado em barrica nova – 3 barricas de 500 litros e de 3 tanoarias diferentes – e esse, claramente será comercializado como topo de gama e completamente seco. Para completar a oferta, ainda há espumante mas, em virtude da pequena quantidade (10 000 garrafas entre branco e rosé), a espumantização é feita em prestação de serviços. Acresce ainda o vinho em barril para vender a copo com pressão, para a restauração já representa cerca de 200 000 litros/ano. Na exportação há que notar que Angola importa sobretudo o tinto e há países importadores (como os EUA) em que não se destina apenas ao chamado mercado da saudade. Ultrapassar o estigma do vinho barato, que é uma imagem colada a muitos Vinhos Verdes, vai obrigar a “exportar mais e colocar o preço num patamar mais elevado e por via disso gerar mais valor”, diz Celeste Patrocínio. Desafios para o futuro.

(Artigo publicado na edição de Março de 2023)

João Paulo Martins lança nova edição do guia de vinhos Monção & Melgaço

João Paulo Guia

No final de Janeiro de 2023, João Paulo Martins — jornalista de vinhos, colaborador da revista Grandes Escolhas e de outras publicações, como o jornal Expresso — lançou o livro Monção & Melgaço – Guia de Vinhos 2022. Nesta obra, editada pela Oficina do Livro, João Paulo Martins versa sobre a história da sub-região da […]

No final de Janeiro de 2023, João Paulo Martins — jornalista de vinhos, colaborador da revista Grandes Escolhas e de outras publicações, como o jornal Expresso — lançou o livro Monção & Melgaço – Guia de Vinhos 2022. Nesta obra, editada pela Oficina do Livro, João Paulo Martins versa sobre a história da sub-região da Denominação de Origem Vinho Verde, e apresenta uma grande selecção de vinhos Monção e Melgaço.

O livro Monção & Melgaço – Guia de Vinhos 2022 (€10,90) comporta um capítulo sobre a história da região e dos seus vinhos, um capítulo de vinhos velhos e, como já é habitual, uma selecção dos que o autor considerou como os melhores do ano 2022. Além dos vinhos brancos, que actualmente são os mais representativos da região, João Paulo Martins incluiu rosés, espumantes e aguardentes vínicas. Para facilitar a leitura e o acesso aos temas e vinhos mais pertinentes para o leitor, este inclui um índice remissivo.

João Paulo Martins, jornalista há 32 anos na área dos vinhos, é colaborador permanente da revista Grandes Escolhas e colunista do semanário Expresso. Membro, há 20 anos, do júri do Concurso Mundial de Bruxelas, participou no Portugal Wine Guide.

Symington entra nos Vinhos Verdes e “recruta” enólogo Anselmo Mendes

Symington Vinhos Verdes

A Symington Family Estates anunciou hoje a aquisição de uma propriedade na sub-região Monção e Melgaço, na região dos Vinhos Verdes. O sítio é histórico e tem o nome Casa de Rodas (na verdade, uma das mais antigas e históricas marcas de Alvarinho de Monção), incluindo uma casa senhorial do século XVII e 27,4 hectares […]

A Symington Family Estates anunciou hoje a aquisição de uma propriedade na sub-região Monção e Melgaço, na região dos Vinhos Verdes. O sítio é histórico e tem o nome Casa de Rodas (na verdade, uma das mais antigas e históricas marcas de Alvarinho de Monção), incluindo uma casa senhorial do século XVII e 27,4 hectares de vinha de plantada exclusivamente com a casta Alvarinho. Para produção da gama de “vinhos de quinta” — os primeiros serão elaborados em 2023 — apenas com uvas próprias, a Symington Family Estates contará com Anselmo Mendes na enologia e consultoria de viticultura.

Rupert Symington, CEO do grupo familiar nascido no Douro, afirma: “É com enorme satisfação que anunciamos este importante investimento na sub-região de Monção e Melgaço. […] Esta área é, há muito, reconhecida pela qualidade da sua casta Alvarinho. De facto, os vinhos brancos aqui produzidos estão entre os melhores de Portugal. Acreditamos no estabelecimento de relações de longa duração com indivíduos, peritos na enologia nas suas regiões e temos imenso orgulho em trabalhar com o Anselmo Mendes, que muito justamente se tornou num dos mais reputados enólogos de Portugal e num dos pioneiros da região do Vinho Verde”.

Nos últimos anos, a família Symington expandiu o seu negócio para novas regiões vitivinícolas e categorias de vinho, que se vêm juntar à actividade principal da empresa, a produção de vinhos do Porto e Douro. Em 2016, adquiriu uma propriedade de 42 hectares – a Quinta da Fonte Souto – nas encostas da Serra de São Mamede, no Alto Alentejo, sub-região de Portalegre. Em 2022, comprou 50% das Caves Transmontanas, prestigiado produtor duriense da marca de espumantes Vértice.

Grande Prova: O fresco perfume do Verde Loureiro

prova loureiro

É certamente uma das mais originais e frescas variedades de uva que temos em Portugal. Na região dos Vinhos Verdes, de onde é oriunda, apresenta-se em diferentes perfis. Encontramos o lado mais “tradicional”, com algum gás carbónico, acidez elevada e leve doçura frutada; e a vertente mais ambiciosa, com vinhos secos, austeros, minerais e longevos. […]

É certamente uma das mais originais e frescas variedades de uva que temos em Portugal. Na região dos Vinhos Verdes, de onde é oriunda, apresenta-se em diferentes perfis. Encontramos o lado mais “tradicional”, com algum gás carbónico, acidez elevada e leve doçura frutada; e a vertente mais ambiciosa, com vinhos secos, austeros, minerais e longevos. Certo é que o Verde Loureiro não passa indiferente e após 36 vinhos provados fica-nos a certeza de que o nível qualitativo nunca foi tão elevado.

Texto: Nuno de Oliveira Garcia

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Na região dos Vinhos Verdes temos três castas brancas que reinam em termos de notoriedade: Alvarinho, Loureiro e Avesso. Implementadas em todas as sub-regiões, poucas dúvidas existem que, salvo uma ou outra excepção, cada uma destas variedades tem um terroir de eleição, associado a um rio nortenho. A “casa” do Alvarinho é o vale do Minho (em especial na sub-região de Monção-Melgaço), o Loureiro assume-se no vale do Lima e o Avesso prefere o vale do Douro.

Sucede, que as três variedades não se encontram no mesmo patamar de conhecimento enológico e de reconhecimento do mercado. Se o Alvarinho é já um sucesso com algumas décadas e marcas de grande notoriedade, e o Avesso uma redescoberta relativamente recente, pode-se dizer que o Loureiro está numa fase intermédia. Trata-se de uma etapa em que, mesmo com várias marcas disponíveis, e apesar de um público fiel que aprecia a sua frescura e exuberância, há ainda muito a fazer, mas, simultaneamente, já existem no mercado vários vinhos excelentes, como se verificou na presente prova. Em abono da verdade, depois do Alvarinho, o Loureiro é, certamente, a casta branca de Vinho Verde mais conceituada junto dos consumidores, sendo que, em alguns casos, o preço dos vinhos supera os €10€ ou €15, algo também perceptível neste painel de prova. É certo que a maioria dos Loureiros provados se cinge ao intervalo entre os €4,50 e os €7, mas mesmo essa circunstância tem de ser contextualizada; com efeito, não só a cada ano que passa surgem vinhos mais valorizados como, rigorosamente, o referido patamar de preço está bem acima da média dos demais Vinhos Verdes.

Apesar de a fama da casta vir de longe, é inquestionável o contributo que algumas marcas fomentaram ao Loureiro, sendo disso bom exemplo, no final do século XX, os vinhos da Casa dos Cunhas, Paço d’Anha, Solar das Bouças, Casa de Sezim, Casa da Senra ou Quinta do Convento da Franqueira. Com efeito, e apesar de há 30 ou 40 anos não ser comum a casta aparecer totalmente sozinha, todos os referidos vinhos tinham Loureiro como base. Mais recentemente, esse contributo foi aumentado com vinhos, desta feita, 100% Loureiro, da marca Muros Antigos (Anselmo Mendes) e das várias declinações da casta produzidas pela Quinta do Ameal (hoje, parte do grupo Esporão), porventura a propriedade mais intrinsecamente ligada à casta no imaginário do consumidor. Exemplos recentes de projectos que têm levado longe o Loureiro são, entre outros, os vinhos de Márcio Lopes, de João Cabral de Almeida, de Vasco Croft e, ainda, os novos vinhos dos produtores Aveleda e Soalheiro, todos provados neste trabalho.

Conforme referido acima, a casta está muito associada ao Vale do rio Lima, e também ao Cávado, mas tivemos em prova vinhos das demais sub-regiões. É certo que vários dos vinhos mais pontuados provieram do eixo Ponte de Lima – Viana do Castelo, mas provámos óptimos exemplares de outras sub-regiões como no já mencionado vale do Cávado. Até em Monção e Melgaço se começa a apostar no Loureiro para emparelhar com Alvarinho. Efectivamente, as melhores prestações do Loureiro face à uva Trajadura (outra uva da região, por regra com mais álcool e de menor acidez), tem feito com que aquela esteja a substituir esta na hora de contribuir com frescura e acidez a um típico lote baseado em Alvarinho. Percebe-se esta tendência, na medida em que a acidez do Loureiro acaba por equilibrar um perfil mais guloso e cheio do Alvarinho.

Com efeito, o equilíbrio ácido do Loureiro é muito valorizado pelos enólogos que o descrevem como puro e vibrante, a meio caminho entre a acidez por vezes “dura” do Avesso e a acidez quase doce de alguns Alvarinhos.

DIFERENTES ESTILOS E PERFIS

Falando de terroirs, há quem sustente que a casta funciona particularmente bem em solos franco-argilosos (até com um pouco de xisto), mas o consenso sobre a textura dos solos não é total, antes dependendo a qualidade, como quase sempre sucede, de outros factores como a respectiva porosidade e matéria orgânica. Casta de maturação precoce, que prefere solos profundos e de média fertilidade, ganha percepção de mineralidade em solos de base granítica com altitude acima dos 150 metros e com porosidade, com os melhores vinhos a não ultrapassarem 12,5% de álcool. Com cacho comprido e apertado, ou seja, com pouco arejamento, certo é a sua preferência por anos pouco chuvosos por altura da vindima (por isso as colheitas de 2005, 2009 e 2015 deram alguns dos melhores Loureiros), ainda que aprecie a brisa atlântica e as noites mais frescas de verão. No copo, começa por apresentar uma tonalidade citrina pálida, mas, com o passar dos anos ganha rapidamente mais cor em garrafa, ainda que menos intensa do que o Alvarinho. Com diferentes clones disponíveis, é possível um produtor escolher entre perfis aromáticos mais terpénicos e florais (a lembrar, por vezes, algum Moscatel) ou um carácter mais austero e até salino. O mesmo sucede com a produtividade (tipicamente alta) da casta, com os melhores vinhos a resultarem de produções até às 6,5 toneladas/hectare, mas existindo resultados bem positivos próximo das 10 toneladas. A sua presença no encepamento da região dos Vinhos Verdes é dominante: segundo as informações estatísticas disponibilizadas no site oficial da região, ocupa quase 4200 hectares, contra 2300 de Alvarinho (embora esta esteja a crescer mais rapidamente) e outro tanto de Arinto.

A prova que fizemos de 36 marcas, oriundas de toda a região, permitiu-nos encontrar vinhos com diferentes interpretações da casta. Um desses modelos é a utilização do Loureiro para fazer vinhos que se inserem no imaginário do Vinho Verde que se quer beber no ano a seguir à colheita, geralmente acompanhando peixe grelhado ou marisco. Exuberantes na vertente aromática, com gás carbónico, e acidez elevada compensada com alguma doçura frutada, a casta entrega bons exemplares vínicos neste registo. Aqui, agrada-nos o álcool de baixo teor, os preços muito cordatos, apesar de, genericamente, os vinhos serem lançados no mercado precocemente, uma vez que beneficiariam muito com mais alguns meses em garrafa. Nas antípodas, encontramos a tradução da casta assente em fermentação e/ou estágio em barrica, e sem qualquer gás. Por vezes com mais de um ano em estágio de garrafa, são vinhos que revelam ambição. Na sua grande maioria, a barrica aporta um ambiente mais barroco e generoso, com a casta a manter a sua presença, privilegiando uma harmonia entre as notas varietais e utilização da madeira. São vinhos perfeitos para assados, de peixe ou carne, e podem ser bebidos no verão, mas também em meia-estação. Por fim, tivemos vinhos que, sem utilização de barrica, se mantiveram no perfil da região, mas procurando modernizá-lo. Aproveitando o carácter único e muito original da casta (é uma uva que “viaja” pouco a nível nacional ou internacional), são vinhos que expressam a região com muita identidade, vinhos austeros e com notas vegetais deliciosas, vinhos que crescem claramente com alguns anos em garrafa. Descartando-se da exuberância aromática excessiva, do gás carbónico desarranjado e da afinidade entre acidez elevada e doçura frutada, essa terceira vertente mostrou alguns dos melhores vinhos em prova. O certo é que, em todas estas variações, encontrámos denominadores comuns, alguns dos quais já identificados neste texto: originalidade, acidez vibrante, álcool, preços ajustados à qualidade e ambição e, não menos importante, nos melhores exemplares, grande potencial de longevidade. Belíssimas razões para o consumidor eleger os Verdes Loureiro como um dos seus parceiros. À mesa, e não só.

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2022)

 

Encostas de Melgaço foi Grande Ouro nos “Melhores Verdes 2022”

Melhores Verdes 2022

A cerimónia de entrega de prémios do concurso “Os Melhores Verdes 2022” — que teve lugar em Viana do Castelo, no Teatro Municipal Sá de Miranda — distinguiu 157 vinhos da região dos Vinhos Verdes, em 11 categorias, com destaque para a Grande Medalha de Ouro, atribuída ao branco Encostas de Melgaço Alvarinho 2020. Organizado […]

A cerimónia de entrega de prémios do concurso “Os Melhores Verdes 2022” — que teve lugar em Viana do Castelo, no Teatro Municipal Sá de Miranda — distinguiu 157 vinhos da região dos Vinhos Verdes, em 11 categorias, com destaque para a Grande Medalha de Ouro, atribuída ao branco Encostas de Melgaço Alvarinho 2020.

Organizado pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), o concurso viu nesta edição um aumento de 9% nos vinhos inscritos com a colheita de 2019 ou anterior, o que confirma a crescente aposta dos produtores da região no potencial de guarda.

Uma das novidades, este ano, foi a atribuição do Prémio Enoturismo, mantendo-se o prémio “A Melhor Vinha”, “uma distinção integrada no concurso com o objectivo de apoiar e promover a viticultura de excelência, premiando a sustentabilidade ambiental, social e económica das explorações”, diz a CVRVV, em comunicado. 

Melhores Verdes 2022
Prémio Enoturismo 2022: Solar das Bouças, em Amares

Já o Prémio Excelência foi atribuído a Manuel Pinheiro, que este ano termina o mandato como Presidente da CVRVV, após 22 anos de trabalho “reconhecidos como motor de evolução e promoção da marca”.

“(…) Este ano, assinalamos dois pontos de relevo nesta cerimónia: a retoma dos eventos presenciais e um regresso a Viana do Castelo, cidade fundacional na história de mais de 114 anos do Vinho Verde. Contámos, desde o primeiro momento, com todo o apoio da Câmara Municipal de Viana do Castelo e não podemos deixar de sublinhar a satisfação neste momento simbólico da região.
Hoje, temos novos 157 motivos de orgulho para promover a região durante o próximo ano, dando expressão à excelente qualidade dos vinhos que fazem um caminho de valorização crescente, dentro e fora do país, chegando a mais de cem mercados em todo o Mundo. Paralelamente, atribuímos pela primeira vez o Prémio Enoturismo, destacando uma aposta que tem vinho a fortalecer o território e a sua identidade, com espaços fabulosos que acolhem os visitantes dando a conhecer o que aqui se produz”, explica Manuel Pinheiro.

O júri de especialistas em vinho, de várias regiões vitivinícolas, provou às cegas 218 amostras e medalhou 13 vinhos na categoria Ouro, e 12 na categoria Prata, com 131 referências a qualificar-se na categoria Honra. Os premiados foram agrupados em 11 grandes categorias: Vinhos Verdes Brancos, Rosados, Tintos, de Casta, Colheita Igual ou inferior a 2019, Vinhos Verdes Alvarinho, Vinhos Verdes Avesso, Vinhos Verdes Loureiro, Espumantes de Vinho Verde, Aguardentes de Vinho Verde e Vinho Regional Minho. Os prémios Ouro e Prata foram atribuídos ao primeiro e segundo classificados em cada categoria e os prémios Honra aos restantes concorrentes com pontuação igual ou superior a 80 pontos.

A lista completa dos prémios Os Melhores Verdes 2022, e das Medalhas Grande Ouro, Ouro, Prata e Honra, pode ser consultada AQUI.

Cabrito é rei no evento Arcos à Mesa, em Arcos de Valdevez

Arcos à Mesa

No fim-de-semana de 9 e 10 de Abril, o Município de Arcos de Valdevez organiza mais uma edição da iniciativa “Arcos à Mesa”, com os restaurantes arcuenses, onde a estrela é o Cabritinho Mamão da Serra. Este prato tradicional da gastronomia arcuense será servido em 19 restaurantes aderentes, ao lado de outras iguarias da locais, […]

No fim-de-semana de 9 e 10 de Abril, o Município de Arcos de Valdevez organiza mais uma edição da iniciativa “Arcos à Mesa”, com os restaurantes arcuenses, onde a estrela é o Cabritinho Mamão da Serra.

Este prato tradicional da gastronomia arcuense será servido em 19 restaurantes aderentes, ao lado de outras iguarias da locais, como a laranja de Ermelo, charutos de ovos, bolo de discos, tudo harmonizado os vinhos da região (Vinho Verde).

O Município de Arcos de Valdevez sugere às famílias, neste fim-de-semana “uma visita ao concelho”, com destaque para “o Paço de Giela, Monumento Nacional, as Oficinas de Criatividade Himalaya, o Centro Interpretativo do Barroco, a Peneda, Sistelo, Monumento Nacional e uma das 7 Maravilhas de Portugal, e Soajo, conhecido pela sua Eira dos Espigueiros Comunitária”; aproveitando de uma forma mais completa o itinerário pelos restaurantes que serão palco do Arcos à Mesa.

Consulte o programa do Arcos à Mesa e a lista dos restaurantes AQUI.

Grande Prova – Quando Verde não é uma cor

Grande Prova Verdes

O Vinho Verde não é uma categoria de vinhos. Se antigamente o consumidor ainda tinha desculpa para fazer esta confusão, por falta de conhecimento ou de vinhos com grande impacto, hoje é imperdoável. O Vinho Verde é uma denominação de origem que coincide geograficamente com a região do Minho. E é, sem dúvida, uma grande […]

O Vinho Verde não é uma categoria de vinhos. Se antigamente o consumidor ainda tinha desculpa para fazer esta confusão, por falta de conhecimento ou de vinhos com grande impacto, hoje é imperdoável. O Vinho Verde é uma denominação de origem que coincide geograficamente com a região do Minho. E é, sem dúvida, uma grande região para vinhos brancos no nosso país.

Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga

A região dos Vinhos Verdes tem o seu perfil diferenciador marcado pelas condições climáticas vincadas e pelas castas pouco ou nada utilizadas noutras regiões do país (com excepção de Arinto). O enorme sucesso de marcas de volume como Casal Garcia, Gazela ou Gatão não podem justificar generalização, impedindo ver o potencial qualitativo e a diversidade da região. Pensar que todos os vinhos daquela zona são simples, levemente doces e gaseificados, é uma visão redutora. Os vinhos com carácter mais sério e ambicioso, sem comprometer o perfil marcadamente fresco da região, representam hoje, segundo o Presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, cerca de 20% da produção em termos quantitativos, mas elevam o padrão e a percepção da qualidade e de valor do Vinho Verde, como a expressão do seu território.

Marcos históricos

 A menção mais antiga ao Vinho Verde data de 1606, num documento passado pela Câmara do Porto. Vinho Verde foi uma das primeiras regiões a ser demarcada em 1908 e desde 1929 tem os seus contornos actuais. É uma das maiores regiões de Portugal em termos de área de produção, a seguir ao Douro e Alentejo, ocupando mais de 24 mil hectares (dados estatísticos do IVV a 31 de Julho de 2020). Em termos de produção é a quarta maior região a seguir ao Douro, Alentejo e Lisboa, produzindo 816 396 hl na campanha 2019/2020 o que corresponde a 13% de produção nacional.

Nos últimos quatro anos (sem contar com 2020) a presença no mercado nacional estava a crescer continuamente, atingindo em 2019 quase 21,5 milhões de litros o que corresponde a uma quota do mercado de quase 18%. É a segunda maior em volume a seguir ao Alentejo (com 37,6% do mercado) e em valor fica no terceiro lugar após Alentejo e Douro, ocupando 15,5% do mercado nacional, segundo a Nielsen.

O preço médio também foi crescendo nos últimos 4 anos e em 2019 ficou nos 4,86 euros por litro, ultrapassando regiões como Beiras, Beira Atlântico, Lisboa, Tejo e Península de Setúbal.

96,6% dos vinhos da região são vendidos como DOC e nesta vertente o Vinho Verde lidera no mercado nacional. Mais de 70% é vendido na distribuição, mas também tem uma presença interessante na restauração.

Ao contrário da realidade histórica, na região produz-se muito mais brancos do que tintos.  Segundo os dados estatísticos da CVRVV, em 2020, de vinhos tranquilos (DOC Vinho Verde + Regional Minho) foram produzidos quase 62,5 milhões de litros de vinho branco e apenas um pouco mais de 4 milhões de litros de vinho tinto. Nota-se uma tendência forte na produção de rosés que estão a crescer exponencialmente. Só nos últimos 10 anos o volume de produção aumentou de 1 milhão para mais de 7 milhões de litros.

Os vinhos monovarietais (DOC + Regional) de Loureiro representam uma quantidade significativa de mais de 3 750 000 de litros e de Alvarinho quase 3 150 000 de litros.

Em termos de exportação, os Vinhos Verdes estão presentes em mais de 100 países, dos quais os principais mercados são Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Fança, Reino Unido, Polónia e Canadá. Nos últimos 5 anos a exportação subiu em volume e em valor, atingindo 31.173.338 litros e 73.805.245 euros.

Grande Prova VerdeDinâmica da região

 A região do Vinho Verde não só mudou drasticamente nos últimos anos, como está em constante mudança. É uma das regiões mais dinâmicas do país. Para isto existem vários factores, partilhados por Manuel Pinheiro. O principal é a viticultura que melhorou imenso. As formas antigas de condução, quando a vinha era alta, apoiada em tutores (árvores ou postes) e dispersa pelas bordaduras dos campos com outras culturas como o milho, a batata e a forragem para o gado, já não são praticadas. Ainda se podem encontrar vinhas de enforcado com videiras a trepar até 3-6 metros de altura, ou ramadas e latadas – que hoje representam um autêntico museu ao ar aberto. A vinha está a ser restruturada e reconvertida até 500 ha por ano, permitindo ter a matéria prima de óptima qualidade, mesmo em condições desafiantes. As castas mais utilizadas na reconversão são Loureiro, Alvarinho, Arinto e Avesso e entre castas tintas aposta-se mais no Vinhão. Outro factor decisivo tem sido a geração de novos enólogos e produtores que trouxeram uma grande ambição e conhecimento a nível de enologia.

Terceiro factor – atenção ao mercado e antecipação das tendências por parte dos produtores atentes ao feedback dos seus clientes nacionais e internacionais. Assim, em paralelo com vinhos de lote, começaram a produzir com bastante sucesso os vinhos monovarietais que mostram o carácter das castas da região. Os rosés do Vinho Verde são outro objectivo alcançado. A procura é tanta que neste momento não há vinho que chegue para a satisfazer. Segundo Manuel Pinheiro, a maior parte de vinhos produzidos na região, são brancos, representando 86-87%, mas os rosados em 2020 cresceram 32%.

O projecto mais recente promovido pela CVRVV consiste no desenvolvimento de uma estratégia de sustentabilidade que integrará os viticultores e produtores da região. Neste âmbito foi feito um acordo com a Agro.ges para efectuar um estudo de diagnóstico, com base no qual a CVRVV irá fazer acções de formação e apoio aos produtores para melhorarem a sua eficiência no uso de recursos.

Solos e climas

 A região do Vinho Verde situa-se no Noroeste de Portugal, o que se chamava antigamente entre Douro e Minho. A Oeste é naturalmente delimitada pelo oceano Atlântico, a Este confina com contrafortes de um maciço montanhoso constituído pelas Serras da Peneda, Gerês, Cabreira, Alvão, Marão, Montemuro entre outras. O rio Minho marca a sua fronteira Norte e o rio Douro a fronteira Sul. O seu relevo forma um anfiteatro exposto ao mar, recortado pelos vales e rios. Os ventos marítimos acabam por não encontrar grandes obstáculos, penetrando pelos vales orientados de Este para Oeste.

Tirando algumas excepções, quase todo o solo da região é formado pela agregação dos granitos. Em algumas partes o granito mistura-se com xisto e também há zonas de algum aluvião. Tem 9 sub-regiões, sendo Monção e Melgaço, a Nordeste a fazer fronteira com Espanha, a mais protegida da influência atlântica pelas cadeias montanhosas, com maior renome nacional e internacional, onde a casta Alvarinho goza (meritoriamente) um grande protagonismo. A sul de Monção e Melgaço fica a sub-região do Lima, dispondo-se na bacia hidrográfica do rio Lima, e está associada à casta Loureiro. A sub-região Cávado, Ave e Sousa esticam-se à volta dos rios com os mesmos nomes. A sub-região de Paiva ocupa a margem sul do rio Douro. Na parte interior fica a mais montanhosa sub-região de Basto. Mais a Sul continua a sub-região de Amarante, atravessada pelo rio Tâmega (afluente do Douro). Mais perto do Douro localiza-se a sub-região Baião – a terra da casta Avesso.

As alterações climáticas são uma realidade e já se sente o seu efeito na região. Antigamente, as geadas eram frequentes, agora acontecem cada vez menos, mas o excesso de insolação é outro problema. Com as alterações climáticas diminui a acidez e o grau sobe. O excesso de álcool não é positivo para os vinhos da região, que se têm afirmado como vinhos com uma frescura intrínseca e teor alcoólico moderado.

Nos Vinhos Verdes chove mais do que em Bordeux, mas a água é distribuída de maneira diferente. A chuva está concentrada nos meses de Outubro até Maio, chovendo muito pouco em Julho, Agosto e Setembro. As raízes normalmente não ultrapassam os 50-60 cm e nos solos bem porosos e nas encostas, a água vai logo para baixo, deixando as plantas em stress. Em certas zonas até a rega faz sentido, desde que seja feita com cuidado. Encostas franco-arenosas bem drenadas portam-se bem em anos mais chuvosos, mas quando chove pouco, é um problema. E ao contrário, nos anos muito secos o melhor resultado surge nos solos com maior capacidade de retenção de água.

Grande Prova VerdeCastas brancas de valor e personalidade

A casta mais plantada na região é Loureiro. Segundo dados estatísticos da CVRVV, lidera o top 15 de castas, ocupando mais de 4.000 ha. Foi conhecida como Loureira e mencionada pela primeira vez em 1790 em Melgaço e Vila Nova de Cerveira e só em 1875 na Ribeira do Lima, onde mais tarde encontrou a sua zona de eleição. No “Portugal Vinícola” de Cincinato da Costa, de 1900, também é chamada de Dourada e na altura já era cultivada nos concelhos de Arcos de Valdevez, Vila Nova da Cerveira, Ponte do Lima, Ponte da Barca, Melgaço, Monção, Caminha, Vila do Conde e Póvoa de Varzim.

Para além de produtividade elevada, é regular, dá muito rendimento em mosto. Gosta de solos profundos e de média fertilidade. Muito sensível ao sol e à seca, fica melhor mais perto da costa. Por isto adaptou-se bem ao vale do Lima. Sente-se bem em toda zona litoral da região.

É uma casta com elevada presença de compostos terpénicos livres (voláteis e facilmente perceptíveis) responsáveis pelos aromas florais. Os aromas característicos do Loureiro são acácia, flor de laranjeira, tília. Apresenta também aromas citrinos (lima, limão, laranja) e de folha de louro. Pode ter notas de maçã, pêssego e algum fruto tropical. De acordo com alguns estudos, apresenta a sua expressão máxima aromática depois da fermentação, mas também oferece nobreza de evolução. Anselmo Mendes considera que o Loureiro é muito mais aromático do que o Alvarinho e tem uma pureza de acidez a lembrar Riesling.

Segue-se Alvarinho, no segundo lugar, com 2.345 ha plantados. Casta ibérica por excelência, chamada de Albariño do outro lado da fronteira. Era praticamente exclusiva da sub-região Monção e Melgaço, ou seja, podia ser plantada noutras zonas da região, mas um rótulo não podia ostentar ao mesmo tempo o nome da casta Alvarinho e a denominação de origem Vinho Verde. Situação esta que muda definitivamente a partir da colheita deste ano de 2021 – o Vinho Verde Alvarinho pode ser produzido em qualquer parte da região.

Dá muito menos rendimento em mosto do que as outras castas. 65l de mosto de 100 kg de uvas (as outras castas, geralmente, dão 75l de mosto). É menos exuberante do que Loureiro, mas tem uma complexidade aromática extremamente interessante. Os seus aromas podem variar desde marmelo e pêssego, notas de fruta citrina (laranja, tangerina, toranja), fruta tropical (maracujá e por vezes, líchia). Notas florais de laranjeira de frutos secos (avelã, noz) também são comuns, podendo desenvolver nuances de mel com evolução. A sua composição aromática e perfil varia muito com a zona de plantação e abordagem enológica.

Tem uma boa acidez e bastante corpo, originando vinhos de grande longevidade. Anselmo Mendes vê o Alvarinho como uma casta que pode ser austera, mais redonda do que Loureiro.

O Arinto ocupa um pouco menos de 2.250 ha. É uma casta autóctone portuguesa, espalhada e apreciada em várias zonas do país, sendo a terceira mais plantada a nível nacional.

É popular também na região de Vinhos Verdes onde é conhecida como Pedernã, embora tenha muito menos protagonismo a nível varietal do que outras castas da região. Está bem presente em todas as sub-regiões com excepção de Monção e Melgaço, onde reina o Alvarinho.

Produz vinhos marcadamente citrinos, com notas de fruta branca (maçã e pêra) e ainda algumas notas florais a lembrar lantanas. Por vezes, pode desenvolver nuances de maracujá.

Para Anselmo Mendes é uma casta de outro mundo. Fica bem nas sub-regiões de Basto e Baião. Faz óptima parceria com Avesso, pois a acidez do Arinto é menos dura.

A Trajadura ocupa uma área com quase 980 ha. Não é das mais exigentes em termos de viticultura. Por um lado, tolera humidade no ar e no solo, por outro suporta, insolação. Adapta-se bem a qualquer tipo de poda e é bastante produtiva e regular. É utilizada sobretudo para lotes e o seu principal ponto fraco é a baixa acidez que pode levar ao desequilíbrio.

O enólogo e produtor António Sousa não vê a Trajadura numa vertente monovarietal. Se o Azal chega ao Verão com uma frescura fantástica, a Trajadura fica muito plana. Até pode ter aromas frescos, mas não tem frescura na boca. Falta-lhe alma, mas serve para “cortar” alguns Alvarinhos ou Loureiros demasiado intensos.

O Azal é plantado em quase 890 ha. É uma casta antiga mencionada desde 1790. Exclusiva da região Vinho Verde, e mesmo na região restringe-se a sub-regiões do interior, como Basto, Amarante, Baião e Sousa. É de ciclo longo, por isto precisa de solos secos e boa exposição, caso contrário não amadurece bem e fica excessivamente ácida. Anselmo Mendes aponta que é uma casta difícil na viticultura, “rebenta por todo o lado, obrigando fazer muita intervenção em verde”. Menos vista em vinhos varietais, antigamente só se usava em lotes, mas agora já se pode encontrá-la vinificada em estreme. Não tem um aroma muito intenso, mas transmite grande frescura com notas citrinas (limão) e de maçã verde.

Outra casta típica e exclusiva da região dos Vinhos Verdes é o Avesso. Presente em Amarante, Baião, Paiva e Sousa, com predominância na sub-região de Baião. Conhecida localmente como Borral, Bornal ou Borraçal branco, mas não tem sinonímias oficiais. Ocupa só 465 ha, mas é uma casta em ascensão. De viticultura difícil e de gostos contraditórios. Por um lado, tolera ambiente húmido, mas é muito sensível ao míldio, oídio e podridão cinzenta. Por outro, precisa de calor, mas facilmente apanha escaldão. António Sousa conhece viticultores que perderam 90% de produção desta casta por causa de escaldão. O sucesso e equilíbrio depende muito do sítio onde é plantada – precisa de zonas bem ventiladas, exposição a sul e alguma inclinação, terrenos secos e bem drenados. Virado para o Douro é onde se dá melhor, ali goza já um clima mais continental. Sensível a oxidação, não é uma casta intensamente aromática, fornecendo aromas de laranja, pêssego, notas amendoadas e leves florais. Precisa de algum tempo após a vinificação para potenciar os seus aromas.

É uma casta desafiante. Anselmo Mendes refere que o Avesso demonstra uma acidez quase metálica quando pouco maduro. Para António Sousa, Avesso transmite aos vinhos mais estrutura e por vezes, um toque amanteigado.

Algumas castas estrangeiras também estão presentes na região. Chardonnay e Sauvignon Blanc, por exemplo, já fazem parte dos top 15, mas são permitidas apenas para a produção de vinhos regionais.

Lotes e perfis

 Como atrás se disse, embora os varietais de Loureiro e Alvarinho, sobretudo, tenham vindo a crescer, a região dos Vinhos Verdes é feita de blends, misturas de vinhos de diferentes castas, com o objectivo de tirar o máximo partido de cada uma. A nossa Grande Prova deste mês assenta precisamente nesses blends. E estes são os principais:

Alvarinho e Trajadura – O seu casamento com Alvarinho é por conveniência, não é por amor. Quando não amadurece bem, tem muita acidez. Fernando Moura, para o Muralhas de Monção, por exemplo, usa o lote de 85% Alvarinho e 15% Trajadura. Como não é a casta mais aromática (maçã, pêra), neutraliza aromas do Alvarinho e não convém que ultrapasse 20% do lote, a menos que se procure outro estilo.

Alvarinho e Loureiro em proporções variadas, uma parceria de sucesso que alia a personalidade de duas grandes castas.

Alvarinho, Loureiro e Avesso, onde o Alvarinho confere corpo, solidez e estrutura, o Loureiro intensidade aromática e acidez e o Avesso acidez e mineralidade. A união de performance aromática das três castas traz complexidade.

O sucesso de um blend não se deve apenas à presença de Alvarinho. É como Cristiano Ronaldo, não precisa de jogar sempre para a equipa ganhar. O lote de Casa Grande Sant’Ana é de Azal, Avesso, Arinto e Alvarinho. No Singular, 45% do lote são vinhas velhas em conjunto com outras castas como Malvasia Fina, Avesso, Arinto, onde o Alvarinho está em minoria com apenas 8%. No San Joanne Terroir Mineral, o Alvarinho não entra de todo, tendo só Avesso e Loureiro e o Sem Igual é uma belíssima parceria de Azal e Arinto que resultou num vinho com muita personalidade.

A abordagem enológica varia em função da casta. A temperatura de fermentação é outro factor que pode influenciar o perfil do vinho. Para obter aromas imediatos, opta-se para conduzir fermentação alcoólica a baixas temperaturas (12-14ºC). Para potenciar aromas da casta e mais duradouros, as temperaturas preferem-se mais altas. O gás carbónico ainda é visto como um atributo de caracterização dos vinhos da região, mas há produtores que diminuem ou recusam a sua presença no vinho. Por outro lado, os vinhos são cada vez mais secos, sobretudo no mercado nacional. As operações como bâtonnage na cuba, fermentação ou eventualmente estágio em barricas também são feitas quando se procura um determinado perfil. Porque uma região não se resume apenas a um perfil de vinho. E na região dos Verdes, de enorme diversidade e potencial, os vinhos têm todas as cores, aromas e sabores.

Grande Prova Verde

(Artigo publicado na edição de Abril de 2021)

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Esporão elege Rui Falcão como responsável de Comunicação e RP

Esporão Rui Falcão

O Departamento de Comunicação e Relações Públicas do Esporão passa agora a ser liderado por Rui Falcão.  Com mais de duas décadas de experiência no sector vínico, Rui Falcão é autor de oito livros dedicados ao vinho, incluindo uma obra sobre a totalidade das regiões portuguesas, dividida em onze edições. Antigo colaborador de várias publicações […]

O Departamento de Comunicação e Relações Públicas do Esporão passa agora a ser liderado por Rui Falcão. 

Com mais de duas décadas de experiência no sector vínico, Rui Falcão é autor de oito livros dedicados ao vinho, incluindo uma obra sobre a totalidade das regiões portuguesas, dividida em onze edições. Antigo colaborador de várias publicações nacionais e internacionais, Rui Falcão é o fundador do evento MUST – Fermenting Ideas, uma conferência internacional que congrega líderes de opinião, media e produtores oriundos de diversos países, num fórum de debate e análise sobre os desafios de curto e médio prazo que se colocam ao mundo do vinho.

Rui Falcão comenta “é com grande satisfação que abraço o desafio de reforçar a equipa do Esporão, passando a assumir a responsabilidade pelo novo departamento de Comunicação e Relações Públicas. A minha vasta experiência no mundo dos vinhos, ao longo de mais de duas décadas, vai contribuir para fortalecer a comunicação do Esporão na área dos vinhos, azeite, cerveja artesanal e enoturismo da Herdade do Esporão, Quinta dos Murças e Quinta do Ameal”.

Manuel Pinheiro vai deixar CVR dos Vinhos Verdes

Manuel Pinheiro Vinhos Verdes

Texto: Luís Lopes É um dos mais conhecidos, carismáticos e, seguramente, o presidente de Comissão Vitivinícola Regional há mais tempo no cargo. Mas nas próximas eleições para a presidência da comissão executiva da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), que deverão ocorrer no final do primeiro trimestre de 2022, Manuel Pinheiro não […]

Texto: Luís Lopes

É um dos mais conhecidos, carismáticos e, seguramente, o presidente de Comissão Vitivinícola Regional há mais tempo no cargo. Mas nas próximas eleições para a presidência da comissão executiva da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), que deverão ocorrer no final do primeiro trimestre de 2022, Manuel Pinheiro não se irá recandidatar, como o próprio anunciou recentemente aos representantes das empresas e produtores da região. 

Manuel Pinheiro entrou na CVRVV muito jovem, em 1997, como vogal da Comissão de Viticultura, e 25 anos depois, a maior parte enquanto responsável pelo organismo que gere a região dos Vinhos Verdes e os seus produtos, deixa um legado considerável. Nestas duas décadas e meia a região sofreu profundas transformações, ao nível da viticultura, das adegas, dos recursos humanos, do sempre difícil equilíbrio entre as estratégias, modelos de negócio e ambições das empresas grandes e dos produtores mais pequenos. A sua invulgar capacidade de negociar e estabelecer pontes permitiu manter uma certa “paz interprofissional” dentro de uma região com algumas fragilidades estruturais, muito difícil de gerir e conciliar, a todos os níveis. Pelas suas mãos, entre muitos outros, passaram dossiers tão sensíveis quanto o “Acordo do Alvarinho”, que permitiu associar a casta à denominação de origem fora de Monção e Melgaço e, como contrapartida, lançou as bases para a promoção autónoma desta sub-região e, quem sabe, para uma futura DO. Nos últimos anos, o foco da CVRVV tem estado no evidenciar da região como produtora de vinhos muito diversos, na qualidade, no perfil e no preço. Um dos vários projectos de vulto actualmente em cima da mesa, ainda em apreciação pelo Conselho Geral da CVRVV, mas longe de ser consensual, tem precisamente a ver com a estratégia de valor para o Vinho Verde, que poderá passar pela estratificação dos vinhos produzidos em diferentes segmentos bem identificados. Ou seja, por outras palavras, visa deixar claro ao consumidor, através da rotulagem e das acções de comunicação, o que é o Verde leve, fresco, com gás e doçura e o que é o Verde ambicioso, longevo e gerador de maior valor.  

No seu discurso de despedida, perante o Conselho Geral da CVRVV, Manuel Pinheiro referiu a noção de ter dado o seu melhor e de sair com “um sentimento de missão cumprida”. Mas também que “é importante saber quando se deve sair, e que este é o momento certo”, adiantando que, “aos 55 anos, ou abraço outro projecto ou me reformo aqui”.

Manuel Pinheiro deixa uma CVRVV que se tornou referência entre as suas congéneres pelo dinamismo e capacidade de intervenção, e também uma entidade economicamente bastante robusta, com um fundo social de quase 5 milhões de euros e um superavit estrutural. Como declarou na sua despedida, “Saio do Vinho Verde mas o Vinho Verde não sai de mim”. O que significa que, muito provavelmente, vamos continuar a vê-lo por aí…

Guia Monção & Melgaço de João Paulo Martins já nas prateleiras

guia monção Melgaço

Editado pela Oficina do Livro, o Guia Monção & Melgaço — de João Paulo Martins, prestigiado jornalista e crítico de vinhos há 32 anos, colaborador na Grandes Escolhas e no Expresso — está já à venda em várias livrarias do país e nos Solares do Alvarinho de Monção e de Melgaço, com um p.v.p. recomendado […]

Editado pela Oficina do Livro, o Guia Monção & Melgaço — de João Paulo Martins, prestigiado jornalista e crítico de vinhos há 32 anos, colaborador na Grandes Escolhas e no Expresso — está já à venda em várias livrarias do país e nos Solares do Alvarinho de Monção e de Melgaço, com um p.v.p. recomendado de €9,90.

“Monção e Melgaço já mereciam uma obra assim. A originalidade dos vinhos e a fama secular desta sub-região dos Vinhos Verdes justificam plenamente esta edição. Não se trata apenas de um guia de vinhos com notas de prova. Este livro comporta um capítulo sobre a história da região e dos seus vinhos, um capítulo de vinhos velhos e, como é habitual neste tipo de guias, uma selecção dos Melhores do Ano. Além dos vinhos brancos, que actualmente são os mais representativos da região, inclui rosés, espumantes e aguardentes vínicas”, explica João Paulo Martins.

Facilmente manuseável, e com um índice remissivo que torna a navegação pelas páginas mais eficaz, este guia é uma obra indispensável para todos os apreciadores dos vinhos de Monção e Melgaço, e para quem quer aprender mais sobre esta sub-região dos Vinhos Verdes.