Minha rica caldeirada

O povo português leva ao peito todo o peixe e marisco que a natureza lhe entrega, para depois processar de mil maneiras, declinando os mais gloriosos pratos segundo receituário simples e de matriz popular. De raiz profunda na cozinha de pescador, é desde sempre que retalhamos e aparamos peixes, levando-os a lume brando sobre legumes […]
O povo português leva ao peito todo o peixe e marisco que a natureza lhe entrega, para depois processar de mil maneiras, declinando os mais gloriosos pratos segundo receituário simples e de matriz popular. De raiz profunda na cozinha de pescador, é desde sempre que retalhamos e aparamos peixes, levando-os a lume brando sobre legumes diversos para produzir caldeirada. Não há quem não tenha a sua favorita e está no coração de todos.
A diversidade de espécies, a qualidade notável que, desde sempre, o imenso mar Atlântico garante, fez com que nos tenhamos apoiado, como fonte segura, no manancial de pescado que alimenta a nossa mesa. Em Portugal saboreamos com desarmante simplicidade um peixe grelhado nas brasas sem véus nem disfarces. O mesmo é dizer sem tempero que não seja sal, azeite e vinagre. Quanto mais nos aproximamos das extremidades, vísceras e espinhas maior é a intensidade de sabor que sentimos e nos vicia desde que nascemos. Estamos nos domínios da cozinha de pescador, em que o umami é fonte inesgotável de felicidade, além de espaço de mantença rica e valor pobre. Águas muito frias, correntes fortes e constância nos fluxos são alguns dos aspectos diferenciadores do produto marítimo nacional, a que há ainda a juntar a quantidade. Seja como for, certo é que os que andam na faina pelo nosso mar, chegado o momento sacramental da venda em lota ou da pesca artesanal de anzol, retêm para si os pináculos de sabor enjeitados pelos distraídos e deprimidos urbanos e fazem a festa entre si com muito mais proveito. Está apresentada a principal origem da caldeirada.
Somos, por definição e teimosia, adeptos fanáticos da lógica do produto inteiro; da fixação em aproveitar tudo num mesmo peixe, a tudo dando destino culinário. Na minha fantasia romântica – e urbana – a caldeirada nasceu a bordo de barcos e fragatas pesqueiras, seguindo o esteio da simplicidade extrema. O corte das cabeças e o aproveitamento das vísceras produz só por si, apenas com o suado de cebolas e outros hortícolas de guarda, fundos caldosos de sabores ricos e concentrados. Depois era juntar peças ou aparas para obter copiosas refeições a bordo, sem qualquer prejuízo da qualidade. Aventura igual acontecia em terra firme, depois de vendidos os mais nobres exemplares, no aconchego e recato da praia no lusco-fusco e na configuração de potes de ferro e lume de chão. Quem nunca fez a experiência não imagina o que perde. Quem já fez nunca mais dispensa.
De norte a sul, de lés a lés
Viajamos em modo de voo rasante para sondar e absorver o principal do tema da caldeirada e damo-nos conta da extraordinária variabilidade. Nos cocurutos minhotos do território damos com uma preparação canónica, baseada em congro – o peixe exemplar que vive tão bem em águas salgadas como em água doce – e nos belos exemplares que quase podemos dizer que existem para proporcionar a caldeirada perfeita. São eles, entre outros o ruivo, a raia e o tamboril. Consome muita cebola, timidamente ponteada com alho e bastante louro. Batata às rodelas grossas, montadas com a cebola a fazer cama, colorau. Segue-se o cortejo de peixes, cobre-se de água, rega-se com vinho verde branco e azeite e está pronto o tacho para o sacrifício sápido que sabemos de cor. Sempre em lume muito brando, que a transformação é lenta. Deve beber-se o mesmo Vinho Verde branco que se utilizou na confecção da caldeirada.
Descemos um pouco na geografia ribeirinha, até Aveiro, a sacrossanta capital da caldeirada monoproteína. Estamos na altura das enguias e é justamente nessa que nos concentramos. Falamos do peixe que vem de latitudes baixas, cerca do Golfo do México ainda bebé e que por orientação misteriosa sobe até às águas tumultuosas da Ria, regressando por intuição geomagnética ao lugar onde foi concebido. As enguias são despojadas das cabeças e cortadas em segmentos e a ordem de montagem é cebolas, batatas – ambas às rodelas – e os pedaços de enguia. Monta-se em camadas alternadas, e encima-se com unto. Sim, banha! Leva ainda gengibre, bastante vinagre e muita ciência culinária e, quando resulta, torna-nos por osmose um pouco divinos. Neste caso, a harmonização ideal pode passar por um tinto ligeiro, com pouca extracção, ou alternativamente um bom Viognier alentejano.
Parceira de vinho tinto ainda melhor é a maravilhosa caldeirada de petingas, também de Aveiro, de sabores bem vincados e com bastante tomate na composição. À mesa é como num passe de mágica, vinho e comida desmaiam nos braços um do outro. Em Aveiro também é rainha a caldeirada multiproteína, com amêijoas, tamboril, safio, congro e lulas, bastante tomate e muita cebola. Dependendo da frescura do peixe, é prato para nos colocar às portas do céu. E o que bebemos? Um bom Cercial da Bairrada.
Continuamos para sul e damos com a incrível e apetitosa caldeirada à fragateira, em que pontificam os peixes ribeirinhos, de mar e rio, consoante as povoações. Eram outrora cozinhadas a bordo das fragatas. A fataça (tainha), e as enguias constituem o núcleo central, podendo juntar-se saboga, barbo, safio, cação e tamboril. É uma grande surpresa para quem nunca provou e pede a assessoria de um Fernão Pires do Tejo com alguma idade. Olleboma – António Maria de Oliveira Bello – era fã incondicional deste prato de tacho de tradição rústica, que situava no Ribatejo, Lisboa e Sesimbra. Em termos de sabor apoiava-se muito no caldo inicial de cabeças de peixe, e não se fez rogado nas que em sua opinião eram as que mais contribuíam para o sabor final. Por ordem decrescente, eram estas: pescada, congro, goraz, pargo, robalo, enguia, linguado e ruivo. Um trabalho de sistematização notável, reconheça-se. Nesta profusão de sabores marítimos são de salientar a utilização de duas lagostas de quilo e um quilo de camarão da costa. Ou seja, é na Grande Lisboa que adquire estatuto de nobreza a nossa querida caldeirada. Para este colossal e patrimonial prato, propomos um Arinto com madeira e mais de seis anos em garrafa, A acidez natural irá fazer um bom trabalho na resolução dos excessos proteicos, que são de esperar em termos de complexidade.
Do Alentejo chega-nos a caldeirada de eirós (enguias), de preparação canónica e ao mesmo tempo símbolo de rendição à ancestral menta alentejana que é o poejo. É, como sabemos, a erva que mais rendimento de aroma e sabor dá, e a que mais se presta à cozedura extractiva lenta, com provas dadas através de inefáveis pratos estufados, como é o caso do cação. Leva também tomate e o vinho branco é referencial obrigatório, pelo que propomos um vinho estreme da casta Roupeiro/Síria, se possível com alguma idade. Prima não tanto pelo corte de gorduras e proteínas, mais pelo conforto e envolvência do palato, a proporcionar estabilidade e persistência de aromas e texturas, além do estímulo extremo do palato. Neste caso, quanto mais acidez fixa, melhor.
Já no enigmático e subtil Algarve gastronómico, damos com a caldeirada rica, marcada pela presença de pata-roxa, corvina, sargo, besugo, linguado, robalo, tainha, rodovalho, salmonete e garoupa. Exige longas e aturadas preparações de cada peixe, numa muito eficaz fusão e sabores e texturas. Nunca nos podemos esquecer de que o Algarve é fonte de inspiração e manancial de aromas e texturas. Temos sempre de estar preparados para mais uma nova revelação. A experiência com um Negra Mole algarvio é uma grande e fundadora instrução para subsequentes e certeiras explorações. A harmonização com um Arinto dos Açores tem efeito imediato e universal. As tonalidades vulcânicas e a acentuada acidez fixa confirmam acentuadamente a capacidade de resolução de proteínas e mineralidade deste vinho.
Nos Açores, o caldo de peixe apresenta-se-nos como uma proverbial caldeirada, com sargo, garoupa, bicuda e muge na base, a que devemos juntar emoções e sensações de temperos como pimenta da terra e açafrão como ingredientes que vão equilibrar as diversas sensações de sabor. Ligação de excelência com um bom Arinto dos Açores do Pico.
Caldeirada europeia
No espaço e mares europeus, a exploração acontece naturalmente para dentro do espaço continental, já que do outro lado espera-nos o imenso oceano. Logo aqui ao lado, nas Astúrias, as receitas de caldeirada sucedem-se, na história e na riqueza. A celebrada “caldereta de Gijón” é uma das mais belas rendições à glória do peixe e do marisco disponíveis. É muito semelhante à nossa abordagem de caldeirada, excepção feita à utilização de caldos de conserva que se armazenam separadamente e que nós não utilizamos. É considerada localmente com a mais digna e nobre expressão que o mar asturiano tem para dar.
Avançamos para França e encontramos a famosa bouillabaisse concatenação de “bouille” – fervura com “baisse” – baixa e que significa, strictu sensu, cozedura a baixa temperatura e que, na literatura de índole gastronómica, entendemos como categoria culinária à parte. Itália também tem lugar reservado para as caldeiradas. Por lá, encontramos nos cardápios declinações felizes semelhantes às nossas. Carinhosamente, chamam-lhe cioppino, para indicar que se trata de um prato feito com base na fervura lenta de cortes de peixe integrados num caldo único.
O universo marítimo da mesa é um imenso e rico manancial de significados e significantes, com matizes que vêm e se perdem nas brumas do tempo. Que nunca nos faltem as caldeiradas!
Três produtos e uma festa em Torres Vedras

Vinho, pastel de feijão e uvada voltaram a dar mote à quarta edição do Reserva – Fórum de Inovação e Gastronomia. A iniciativa, do município de Torres Vedras, para valorização destes produtos torreenses, realizou-se nas antigas instalações do Instituto da Vinha e do Vinho. O Reserva incluiu debates, demonstrações culinárias e concursos gastronómicos, além de […]
Vinho, pastel de feijão e uvada voltaram a dar mote à quarta edição do Reserva – Fórum de Inovação e Gastronomia. A iniciativa, do município de Torres Vedras, para valorização destes produtos torreenses, realizou-se nas antigas instalações do Instituto da Vinha e do Vinho.
O Reserva incluiu debates, demonstrações culinárias e concursos gastronómicos, além de animação musical. A Câmara torreense calcula que tenham estado presentes 2.000 pessoas – acima de 2023. A quase totalidade dos produtores de vinho, estabelecidos no concelho, esteve no evento, assim como as casas que se dedicam ao fabrico da uvada e dos pastéis de feijão. Os confeiteiros não são muitos, mas constituem um número positivo, uma vez que há poucos anos se temeu pelo seu desaparecimento.
Sérgio Valente, da Casa Benjamim, iniciou em 2017 o actual negócio e, conjuntamente com a Destilaria, criou o Feijin, um bolo inspirado no pastel de feijão com o gin Inseparable, de A Destilaria. Este confeiteiro adianta a necessidade do pastel de feijão – IG e em processo de passar para IGP – evoluir do mercado regional para locais de maior consumo, nacional e de exportação. Em 2019, a iguaria chegou a ser escolhida pela Lufthansa/TAP para integrar os menus, representando cerca de um milhão de unidades. Porém, foi afastado na reformulação dos cardápios. Nádia Santos, da Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da Lourinhã, afirma que o bolo tem uma excelente ligação com a aguardente – a demonstração fez-se com uma XO Lourinhã. “Tem uma crocância que é muito interessante. Inicialmente brilha mais o pastel e no final a aguardente”.
Joaquim Gomes é funcionário dos Correios e, no tempo que sobra, trabalha na sua confeitaria Terras de Dinossauros, dedicada à produção de licores e uvada. Temendo pelo desaparecimento deste doce, começou, em 2012, a produzi-lo. Conta que a uvada requer atenção contínua, pois o mosto ferve de cinco a seis horas. Depois da redução é acrescentada maçã e há uma nova fervura, de três horas, com pau de canela.
Do lado vínico, Paula Fernandes, enóloga da Quinta da Boa Esperança, elogia a iniciativa, uma vez que permite a comunicação entre produtores e potencia sinergias. Maria Ana Santos, da Quinta da Cidadoura, considera que é “uma rampa de lançamento”, pois permite promover a região na restauração.
De acordo com a vereadora do Turismo, o Reserva tem ajudado na valorização dos vinhos do concelho. Dulcineia Ramos indica que o valor médio do rótulo passou de 3,37 euros em 2019 – ano da primeira edição – para seis euros actualmente. A autarca refere a vontade de criar um repositório de receitas que represente o concelho. O prémio Gastronomia e Inovação foi ganho por Pedro Trindade e Félix Ferreira, da Escola Seminfor, com o prato “polvo do mar à terra”. O restaurante o Átrio, de Torres Vedras, venceu os prémios de uvada e de pastel de feijão. João Barbosa
António Zambujo: Música numa garrafa

Foi no eixo Beja-Vidigueira que se conheceram ainda miúdos e a vida levou-os em diferentes direcções, sem nunca os separar totalmente. A dada altura, nos seus regulares encontros à volta da mesa e do vinho (como não podia deixar de ser), uma ideia foi assentando. O conceito inicial poderia formular-se assim: criar uma linha de […]
Foi no eixo Beja-Vidigueira que se conheceram ainda miúdos e a vida levou-os em diferentes direcções, sem nunca os separar totalmente. A dada altura, nos seus regulares encontros à volta da mesa e do vinho (como não podia deixar de ser), uma ideia foi assentando. O conceito inicial poderia formular-se assim: criar uma linha de vinhos que traduzisse, na forma e no conteúdo, os 20 anos da carreira musical de António Zambujo. Uma carreira eclética que passou, primeiro, pelo cante alentejano e pelo fado, mais tarde abrindo-se a influências do mundo, um ecletismo que os vinhos deveriam igualmente expressar.
Dando a liderança técnica ao enólogo entre eles (Luís Leão, profundo conhecedor do Alentejo e da Vidigueira em particular), todos participariam na definição dos lotes e dos perfis dos vinhos que, nesta fase de arranque do projecto, deveriam estar alinhados com as influências musicais de cada um dos 10 álbuns do artista, deles retirando igualmente o nome. Como não têm vinhas nem adega, caberia a Luís selecionar vinhos em diferentes produtores da Vidigueira, adquiri-los, lotá-los e estagiá-los.
Bem dito, bem feito. Só que, a dada altura, foi preciso encontrar um local para colocar as barricas que albergavam os “vinhos musicais”. João Pedro Baião colocou-se em campo e descobriu e adquiriu, em Vila de Frades, centro de um dos mais significativos terroirs vitivinícolas da Vidigueira, um espaço imponente construído em 1879 como adega de talhas e onde mais tarde funcionou uma carpintaria. Quando começaram a reabilitá-lo, acharam que não fazia sentido ficar fechado, apenas um armazém. Porque não abrir ali um wine bar/loja de vinhos? E assim nasceu a Adega da Zabele. O nome encontrado resulta da conjugação das iniciais dos três sócios, mas também tem um lado feminino. Pode significar a maneira alentejana de dizer Isabel.

Vinhos e concertos
A Adega da Zabele funciona às sextas, sábados e domingos. Mas atenção, não é um restaurante. Sem cozinha, apenas com copa, funciona à base de petiscos, pão, azeitonas, azeite, queijos, enchidos, conservas, escabeches e outras coisas boas. As paredes estão forradas com vinhos de quase todos os produtores da Vidigueira, que ali podem ser adquiridos a preço de loja e servidos, mediante módica taxa de rolha. Uma vez por mês, há um jantar-concerto, com a cozinha encomendada a mãos experientes. O primeiro foi, naturalmente, inaugurado por António Zambujo, em Outubro do ano passado, mas por lá já passaram nomes como Pedro Abrunhosa, Ricardo Ribeiro ou Tiago Nogueira. O próximo vai ser protagonizado por uma orquestra argentina. Nestes jantares-concertos (cujos 54 lugares, vendidos através das redes sociais, costumam esgotar em 24 horas, com gente vinda de todo o país) há sempre um produtor local convidado a apresentar os seus vinhos.
A propósito de vinhos, convém falar dos que agora chegaram ao mercado. São três, com rótulos distintos, correspondendo a outros tantos álbuns de António Zambujo: Outro Sentido, Guia e Quinto. Luís Leão procurou que o conteúdo das garrafas fosse ao encontro do perfil das obras musicais, e estes primeiros lotes foram elaborados com base em vinhos comprados em 6 diferentes produtores da Vidigueira. Mas não quer dizer que, no futuro, seja sempre assim. “Defendemos o nosso território, mas não estamos agarrados a ele, diz João Pedro. E Luís exemplifica: “O álbum Avesso vai traduzir-se, naturalmente, num branco da casta Avesso, da região dos Verdes. E, quase certo, vamos ter um vinho da região de Lisboa, para expressar um álbum de fado.”
Dos vinhos agora apresentados fizeram-se 1000 garrafas de cada, em embalagem conjunta. Os dois primeiros álbuns de António Zambujo (O Mesmo Fado e Ode) vão encher 600 garrafas magnum cada um. “O projecto começou de forma descontraída e vai crescer devagarinho, desenvolver-se de modo natural, juntando amigos e vinhos”, comenta António Zambujo. “Hoje já vamos vendo isto como um negócio, mas tudo começou sentados à mesa.” E que boa maneira de iniciar uma coisa destas…
(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)
CAS’AMARO: Vinho e turismo como vectores de negócio

O projecto Cas’Amaro começou a ser construído há oito anos, com a aquisição do Casal da Vinha Grande, perto de Alenquer, por Paulo Amaro, porque este empresário, com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, achou que seria um bom investimento imobiliário. A propriedade fica entre a Quinta de […]
O projecto Cas’Amaro começou a ser construído há oito anos, com a aquisição do Casal da Vinha Grande, perto de Alenquer, por Paulo Amaro, porque este empresário, com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, achou que seria um bom investimento imobiliário.
A propriedade fica entre a Quinta de Chocapalha e a Quinta do Pinto e quando Paulo Amaro se apercebeu que tinha, no meio, uma adega antiga, sentiu que havia ali potencial para o negócio de enoturismo. Por isso, decidiu transformá-la numa unidade de luxo, hoje com três quartos, e plantar, há volta, cinco hectares de vinha, para lhe dar o melhor cenário envolvente, tal como está previsto para o resto dos investimentos no sector vitivinícola da Cas’Amaro em Portugal.
Visão objectiva
A paixão pelo vinho enquanto enófilo ajudou, mas foi a sua visão objectiva em relação a esta área de negócio que o levou a não ficar por aqui. “Depois, e muito rapidamente, a um ritmo quase compulsivo, foram compradas mais quatro propriedades em outras tantas regiões vitivinícolas portuguesas”, conta Rui Costa, diretor-geral da empresa há pouco mais de meio ano. Para além disso foi adquirida, ainda na Região de Lisboa, mais “uma vinha com dois hectares de Castelão com 30 anos, que temos estado a mimar para lhe aumentar a produtividade, pois tinha estado abandonada”, explica o responsável, acrescentando que a empresa está a plantar mais outra vinha, na zona da Abrigada, com as castas Vital e Ramisco, para acrescentar diversidade ao encepamento actual, baseado apenas em castas locais.
A única adega da empresa fica no concelho de Alenquer e começou a funcionar em 2021, dois anos após o lançamento dos primeiros vinhos. Ocupa o espaço de uma outra, com quase 100 anos, totalmente reconvertida e modernizada para permitir aos enólogos da casa, Ricardo Santos, o diretor de enologia da Cas’Amaro, e Gilberto Marques, que coordena a vinificação da empresa em Lisboa depois de se ter mudado da Quinta de Pancas, nas melhores condições possíveis.
A operação seguinte foi a aquisição da Herdade do Monte de Castelête, no Alentejo. Com 70 hectares, dos quais 48 de montado e 22 de vinha, fica perto de Estremoz, e tem um monte que a empresa está a transformar numa unidade de enoturismo, que inclui alojamento.
“Uma das preocupações na aquisição das propriedades foi que, para além da vinha, tivessem também um edificado atractivo, possível de reconverter em unidades de enoturismo”, diz Rui Costa, explicando que foi essa a filosofia base seguida na aquisição da Quinta da Fontalta, no concelho de Santa Comba Dão, que inclui um solar e 16 hectares de vinha, e também na propriedade da Região dos Vinhos Verdes, que inclui um solar muito antigo e apenas seis hectares de vinha, de um total de 40 hectares. “É uma quinta tradicional do Minho, que fica num vale estreito e comprido, com uma parcela de floresta e muito espaço para crescer”, conta o gestor, salientando que irão ser plantados, no local, mais dois hectares de vinha Alvarinho, processo que deverá ser moroso e dispendioso devido à quantidade de pedra que existe no solo.
No Douro, a Cas’Amaro adquiriu as Quintas de S. João e S. Joaquim, com 18 hectares de vinha e socalcos virados uma para a outra. Apesar de uma das propriedades possuir uma adega, não tinha condições para se vinificar. Por isso, os primeiros vinhos do Douro e Portos produzidos nesta região foram vinificados em Cheleiros, e está a ser pensada a construção de uma adega em Armamar.
A equipa da Cas’Amaro está a construir um projecto que une a produção de vinhos a um conceito de enoturismo que alia, ao vinho, a arquitectura, o design e a arte
Produção sustentável
Os projectos desta empresa estão a ser desenvolvidos segundo dois eixos. O primeiro é a produção de vinhos de qualidade, preferencialmente de modo biológico e sustentável, destinados sobretudo aos mercados externos. O segundo é o enoturismo, porque é a forma de se conseguir o equilíbrio financeiro de um projecto vínico a produzir em zonas tão distintas do território nacional, com áreas pequenas área de vinha, que irão perfazer um total de 76 hectares. “No alojamento, no restaurante ou mesmo no wine bar, onde vendemos apenas vinho a copo, as margens são mais apetecíveis, o que torna a combinação muito mais viável do que apenas a produção e comercialização de vinho”, explica Rui Costa.
Apenas está terminado o projecto de enoturismo da região de Lisboa, que inclui, para além do restaurante e da unidade de alojamento em Alenquer, uma outra em Lisboa, o Madalena Orquídea Living, um alojamento local com apartamentos T2, um café brunch e um restaurante vínico por baixo. Todos estes projectos foram desenvolvidos por Paulo Amaro desde 2016, antes de criar, a meio do ano passado, “uma estrutura de gestão, marketing, viticultura e enologia, coerente com a sua visão de futuro para as propriedades e a empresa, cujo caminho está a ser implementado agora”, conta Rui Costa. Para além dele, a equipa inclui dois profissionais que gerem os projectos em desenvolvimento, Rui Vasco e António Sousa, que são os homens de campo para tudo o que diz respeito a obras, desde a construção e reconversão de edifícios até à plantação e reconversão da vinha. A empresa tem mais cinco viticultores a tempo inteiro, um por cada uma das suas cinco quintas. Quando há trabalhos mais específicos a realizar, é contratado pessoal local, “o que nos tem permitido fugir àquela mão de obra mais massificada, que às vezes estraga mais do que faz”, defende Rui Costa, acrescentando que a sua empresa paga um pouco acima da média para conseguir ter essas pessoas.
Adega própria apenas em Lisboa
Como a empresa só tem adega na Região de Lisboa, vinifica em instalações de parceiros nas outras. No Dão, na Adega das Boas Quintas, de Nuno Cancela de Abreu; no Alentejo, na Adega do Monte Branco, de Luís Louro; no Douro, na Adega Dona Matilde, com o apoio do seu enólogo, João Pissarra e, na Região dos Vinhos Verdes, na AB Valley Wines, de António Sousa. “São as adegas mais próximas das nossas vinhas e são geridas por pessoas com quem nos conseguimos identificar, com as quais criámos métodos de trabalho”, explica o gestor, salientando que, assim, é possível Ricardo Santos, o director de enologia, fazer um acompanhamento mais próximo de todo o processo, o que é essencial para se produzir, todos os anos, o perfil de vinho definido pela sua equipa para cada região.
Em frente à adega, em Alenquer, fica um restaurante vínico, com sala de provas, que passa a wine bar a partir do final da noite, cuja frequência tem estado esgotada este ano. A procura deve-se, sobretudo, ao trabalho que Rui Costa tem realizado para encontrar clientes para as áreas de vinhos e enoturismo da empresa.
Depois de ter constatado que é lá fora que estão a maior parte dos potenciais clientes, tem frequentado feiras de turismo para contactar operadores que tragam estrangeiros a Portugal, para mostrar a oferta da Cas’Amaro. Foi isso que aconteceu na Fitur deste ano, em Madrid, de onde tinha acabado de chegar quando se realizou esta entrevista. “Os nossos espaços oferecem algo mais do que apenas o habitual no enoturismo, pois também reflectem o interesse de Paulo Amaro pela arquitectura, design e arte, o que os torna ainda mais atractivos”, realça o gestor da empresa. “Quem dorme na nossa casa de Alenquer em Outubro e volta em Fevereiro, vê exposições diferentes, tal como acontece no restaurante, porque há sempre algo de novo a acontecer”, acrescenta.
Para apresentar a casa e os seus vinhos está a apostar também nas principais feiras de vinhos nacionais e em algumas das internacionais. “O objectivo é encontrar bons parceiros, que se apaixonem pelos nossos vinhos e apreciem o seu perfil”, salienta acrescenta que pretende estar muitas vezes com eles para os ajudar a vender nos seus mercados. Com esse objectivo vai estar, com os enólogos da empresa, três vezes em São Paulo, no Brasil, em 2024, em articulação com outras iniciativas nacionais, para ajudar os seus importadores a apresentar os vinhos da Cas’Amaro aos seus clientes. E como é que este investimento vai ser pago? “Cada pessoa a quem vendermos uma garrafa de vinho é um potencial cliente dos alojamentos e dos restaurantes da empresa, onde teremos sempre um retorno significativo”, explica Rui Costa.
O projecto começou, em 2016, com a compra do Casal da Vinha Grande, em Alenquer, cuja adega foi transformada num espaço de alojamento com três quartos, preparado para servir refeições aos hóspedes
Um vinho de cinco tourigas
Para além do Brasil, e do Reino Unido, onde a empresa já começou a vender vinho, o gestor quer apostar na Holanda, Bélgica e países escandinavos, para além da Coreia do Sul. “Os Estados Unidos irão ficar para mais tarde, quando percebermos bem esse mercado”, diz.
Para este ano Rui Costa prevê que a Cas’Amaro deverá vender 36 mil garrafas e ter 150 mil euros de facturação com a venda de vinho, mais 110 mil no enoturismo, o que representa um crescimento exponencial em relação ao ano anterior. Por enquanto, o objectivo da empresa é explorar todo o potencial dos seus 76 hectares de vinha, que ainda está longe de ser atingido porque uma parte está a ser reconvertida e outra ainda está ou vai ser plantada. Sempre com castas locais, de preferência, e algumas de implantação nacional, como o Arinto ou a Touriga Nacional. No futuro, Rui Costa diz que “gostaria de fazer um vinho de cinco Tourigas, com uvas das cinco regiões”. Mas isso ainda é apenas um sonho.
Os terroirs da empresa
A Cas’Amaro investiu em cinco regiões nacionais, com o objectivo de produzir vinhos e criar equipamentos de enoturismo, incluindo alojamento e restauração, que está ou irá construir nos próximos anos. O objetivo é que os dois negócios, o do vinho e o do enoturismo, estejam em pleno funcionamento em 2030.
Cas’Amaro Vinhos Verdes
Inclui a Quinta do Bustelo, com 40 hectares, em Marco de Canavezes.
Área de vinha – 6ha, mais 2ha que deverão ser plantados este ano
Castas – Arinto, Alvarinho, Loureiro e Azal
Vinhos – Bustelo Alvarinho 2023, Bustelo Arinto 2023, Bustelo Arinto e Loureiro 2023
Cas’Amaro Douro
Inclui a Quinta de São João e a Quinta de São Joaquim, com um total de 39 hectares, no concelho de Armamar.
Área de Vinha – 18ha
Castas – Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Maria Gomes, Malvasia e Códega do Larinho
Vinhos – Acidentado e Enfeitado (Ainda não estão no mercado)
Cas’Amaro Dão
A Quinta da Fontalta tem 17 hectares e fica no concelho de Santa Comba Dão.
Área de vinha – 15ha
Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaén, Tinta Roriz, Encruzado, Malvasia Fina e Cerceal Branco
Vinhos: Caminho Branco 2022, Caminho Tinto 2022 100% Touriga Nacional e Mitologia Reserva 2022 100% Encruzado
Cas’Amaro Lisboa
A empresa possui o Casal da Vinha Grande, dois hectares de vinha na Labrugeira e mais seis na Abrigada.
Área de vinha – 7ha mais 6ha em plantação
Castas – Arinto, Fernão Pires, Sercial, Rabo de Ovelha, Touriga Nacional, Camarate, Bastardo e Tinta Miúda
Vinhos – Falatório branco, rosé, tinto e varietal de Bastardo, Madame Pió branco, monocastas de Arinto e Sercial e tinto
Cas’Amaro Alentejo
A Herdade Monte do Castelête tem 70 hectares e fica no concelho de Estremoz.
Área de vinha – 22ha
Castas – Antão Vaz, Roupeiro, Touriga Nacional, Trincadeira e Tinta Caiada
Vinhos – Implante e Castelete (No mercado a partir de Março)
(Artigo publicado na edição de Março de 2024)
Prova de conservas nacionais em Lisboa

A Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) organizou, recentemente, em Lisboa, uma prova comentada de conservas no restaurante Taberna Albricoque. Durante o evento foram servidos vários tipos de conservas, desde as mais tradicionais, como a Barriga de atum, às criadas mais recentemente em Portugal, como a Bicuda fumada dos Açores, para mostrar […]
A Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) organizou, recentemente, em Lisboa, uma prova comentada de conservas no restaurante Taberna Albricoque.
Durante o evento foram servidos vários tipos de conservas, desde as mais tradicionais, como a Barriga de atum, às criadas mais recentemente em Portugal, como a Bicuda fumada dos Açores, para mostrar o potencial da oferta nacional nesta área, que inclui quase 800 referências de 34 espécies de peixes e moluscos.
Entre outros, foi servido um patê de ovas de pescada picante, que fez boa companhia ao Marquês de Marialva Bical, da Adega de Cantanhede, um dos vinhos selecionados para acompanhar a prova, tal como com as conservas selecionadas para entrada durante este almoço, onde se salientaram o Taco de polvo com salicórnia e o Chicharro fumado dos Açores em ceviche de aipo. Outro dos vinhos seleccionados para o repasto, o Serra Mãe Reserva Branco, um Arinto da Sociedade Vinícola de Palmela, fez grande companhia com o resto do repasto, onde se salientou a Bicuda fumada dos Açores com mexilhões de caldeirada e xarém.
As conservas apresentadas são produzidas por 10 empresas do sector de Portugal Continental e Açores. Foram seleccionadas na loja da ANICP, em Lisboa, e trabalhadas na cozinha pelo chef Bertílio Gomes, proprietário do restaurante e apreciador convicto das conservas portuguesas, com o objectivo de mostrar a sua qualidade e salientar os seus aromas e sabores diferenciados, na companhia de uma selecção de vinhos portugueses. J.M.D.
AdegaMãe lança vinho de tributo ao Carnaval de Torres Vedras

A AdegaMãe, produtor de vinhos sediado no concelho de Torres Vedras, lançou no mercado uma edição especial de tributo ao centenário do Carnaval de Torres Vedras. O vinho AdegaMãe 100 Anos Carnaval de Torres Vedras é uma homenagem ao Carnaval mais português de Portugal, cujas celebrações se iniciaram em 2023. Trata-se de um tinto premium […]
A AdegaMãe, produtor de vinhos sediado no concelho de Torres Vedras, lançou no mercado uma edição especial de tributo ao centenário do Carnaval de Torres Vedras. O vinho AdegaMãe 100 Anos Carnaval de Torres Vedras é uma homenagem ao Carnaval mais português de Portugal, cujas celebrações se iniciaram em 2023. Trata-se de um tinto premium resultante de um lote de castas nacionais e internacionais, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês.
“O Carnaval de Torres Vedras leva à cidade cerca de meio milhão de visitantes e é a inspiração verdadeira de uma região, da sua história e das suas gentes. Este vinho, também ele expressão pura da terra onde nasce, é o nosso tributo a esta festa única”, conta Bernardo Alves, diretor-geral da AdegaMãe, a propósito deste lançamento. Tradição fortemente enraizada na cultura local, com heranças rurais e urbanas, o Carnaval de Torres Vedras evoluiu, no último século, para um evento de dimensão única, onde se destaca a sátira política e dos costumes. Inspirado na metáfora da irreverência e da transgressão social, que se impõe pelo seu carácter genuíno e desafia o imaginário de provocação carnavalesca, este evento cativa muitos milhares de portugueses e turistas todos os anos. Parceira oficial do Carnaval de Torres Vedras na edição de 2024, a AdegaMãe volta a ter um ponto de venda no centro da cidade, onde partilha, mais uma vez, as suas matrafonas Priscila (vinho branco), Jéssica (rosé) e Sheila (tinto), vinhos em lata inspirados no imaginário de irreverência característico da festa.
Garrafeira Tio Pepe tem novo site

A Garrafeira Tio Pepe lançou recentemente um novo site, atualizado e com um novo visual, que foi criado com o objetivo de melhorar a experiência de contacto online com a empresa. Para além do novo design, a plataforma é, hoje, uma interface mais ágil e intuitiva para todos os usuários. Oferece uma navegação mais rápida, […]
A Garrafeira Tio Pepe lançou recentemente um novo site, atualizado e com um novo visual, que foi criado com o objetivo de melhorar a experiência de contacto online com a empresa.
Para além do novo design, a plataforma é, hoje, uma interface mais ágil e intuitiva para todos os usuários. Oferece uma navegação mais rápida, melhor usabilidade e uma abordagem mais prática, com o objetivo de “tornar a visita à Garrafeira Tio Pepe uma experiência verdadeiramente envolvente e satisfatória”, diz Luis Cândido da Silva, sócio-gerente da Garrafeira Tio Pepe. “Ao tornarmos a nossa plataforma mais intuitiva e fácil de usar, pretendemos proporcionar, aos nossos clientes, uma forma de encontrar o que procuram de forma mais rápida e intuitiva”, acrescenta.
SOGRAPE DISTINGUIDA COM CERTIFICAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE

A Sogrape foi distinguida com a Certificação de Sustentabilidade concedida pela ViniPortugal, que reconhece e confirma o empenho da empresa em promover práticas responsáveis em todas as regiões nacionais onde produz vinho. A Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola é transparente e independente e baseia-se em auditorias realizadas por organismos acreditados. Nelas é avaliada a […]
A Sogrape foi distinguida com a Certificação de Sustentabilidade concedida pela ViniPortugal, que reconhece e confirma o empenho da empresa em promover práticas responsáveis em todas as regiões nacionais onde produz vinho.
A Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola é transparente e independente e baseia-se em auditorias realizadas por organismos acreditados. Nelas é avaliada a gestão sustentável da organização e o seu compromisso em relação à produção sustentável de vinhos de qualidade.
Estabelecido para garantir a credibilidade e confiabilidade dos vinhos portugueses nos mercados internacionais, o processo envolve todos os temas ligados à sustentabilidade e inclui 86 indicadores distintos em termos ambientais, sociais e económicos, que foram avaliados em todas as áreas e mais de 30 instalações da Sogrape, através de auditorias realizadas pela Certis – Controlo e Certificação.
Para Mafalda Guedes, diretora de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Sogrape “a distinção é o reconhecimento do trabalho desenvolvido na área da Sustentabilidade e no âmbito do programa Seed the Future, e dá-nos ainda mais motivação para continuarmos empenhados em sustentar o nosso planeta para as gerações vindouras e em garantir que o vinho e a sua cultura possam ser preservados para aqueles que nos sucedem.”