CAS’AMARO: Vinho e turismo como vectores de negócio

O projecto Cas’Amaro começou a ser construído há oito anos, com a aquisição do Casal da Vinha Grande, perto de Alenquer, por Paulo Amaro, porque este empresário, com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, achou que seria um bom investimento imobiliário.
A propriedade fica entre a Quinta de Chocapalha e a Quinta do Pinto e quando Paulo Amaro se apercebeu que tinha, no meio, uma adega antiga, sentiu que havia ali potencial para o negócio de enoturismo. Por isso, decidiu transformá-la numa unidade de luxo, hoje com três quartos, e plantar, há volta, cinco hectares de vinha, para lhe dar o melhor cenário envolvente, tal como está previsto para o resto dos investimentos no sector vitivinícola da Cas’Amaro em Portugal.

Visão objectiva
A paixão pelo vinho enquanto enófilo ajudou, mas foi a sua visão objectiva em relação a esta área de negócio que o levou a não ficar por aqui. “Depois, e muito rapidamente, a um ritmo quase compulsivo, foram compradas mais quatro propriedades em outras tantas regiões vitivinícolas portuguesas”, conta Rui Costa, diretor-geral da empresa há pouco mais de meio ano. Para além disso foi adquirida, ainda na Região de Lisboa, mais “uma vinha com dois hectares de Castelão com 30 anos, que temos estado a mimar para lhe aumentar a produtividade, pois tinha estado abandonada”, explica o responsável, acrescentando que a empresa está a plantar mais outra vinha, na zona da Abrigada, com as castas Vital e Ramisco, para acrescentar diversidade ao encepamento actual, baseado apenas em castas locais.
A única adega da empresa fica no concelho de Alenquer e começou a funcionar em 2021, dois anos após o lançamento dos primeiros vinhos. Ocupa o espaço de uma outra, com quase 100 anos, totalmente reconvertida e modernizada para permitir aos enólogos da casa, Ricardo Santos, o diretor de enologia da Cas’Amaro, e Gilberto Marques, que coordena a vinificação da empresa em Lisboa depois de se ter mudado da Quinta de Pancas, nas melhores condições possíveis.
A operação seguinte foi a aquisição da Herdade do Monte de Castelête, no Alentejo. Com 70 hectares, dos quais 48 de montado e 22 de vinha, fica perto de Estremoz, e tem um monte que a empresa está a transformar numa unidade de enoturismo, que inclui alojamento.
“Uma das preocupações na aquisição das propriedades foi que, para além da vinha, tivessem também um edificado atractivo, possível de reconverter em unidades de enoturismo”, diz Rui Costa, explicando que foi essa a filosofia base seguida na aquisição da Quinta da Fontalta, no concelho de Santa Comba Dão, que inclui um solar e 16 hectares de vinha, e também na propriedade da Região dos Vinhos Verdes, que inclui um solar muito antigo e apenas seis hectares de vinha, de um total de 40 hectares. “É uma quinta tradicional do Minho, que fica num vale estreito e comprido, com uma parcela de floresta e muito espaço para crescer”, conta o gestor, salientando que irão ser plantados, no local, mais dois hectares de vinha Alvarinho, processo que deverá ser moroso e dispendioso devido à quantidade de pedra que existe no solo.
No Douro, a Cas’Amaro adquiriu as Quintas de S. João e S. Joaquim, com 18 hectares de vinha e socalcos virados uma para a outra. Apesar de uma das propriedades possuir uma adega, não tinha condições para se vinificar. Por isso, os primeiros vinhos do Douro e Portos produzidos nesta região foram vinificados em Cheleiros, e está a ser pensada a construção de uma adega em Armamar.

 

A equipa da Cas’Amaro está a construir um projecto que une a produção de vinhos a um conceito de enoturismo que alia, ao vinho, a arquitectura, o design e a arte

Produção sustentável
Os projectos desta empresa estão a ser desenvolvidos segundo dois eixos. O primeiro é a produção de vinhos de qualidade, preferencialmente de modo biológico e sustentável, destinados sobretudo aos mercados externos. O segundo é o enoturismo, porque é a forma de se conseguir o equilíbrio financeiro de um projecto vínico a produzir em zonas tão distintas do território nacional, com áreas pequenas área de vinha, que irão perfazer um total de 76 hectares. “No alojamento, no restaurante ou mesmo no wine bar, onde vendemos apenas vinho a copo, as margens são mais apetecíveis, o que torna a combinação muito mais viável do que apenas a produção e comercialização de vinho”, explica Rui Costa.
Apenas está terminado o projecto de enoturismo da região de Lisboa, que inclui, para além do restaurante e da unidade de alojamento em Alenquer, uma outra em Lisboa, o Madalena Orquídea Living, um alojamento local com apartamentos T2, um café brunch e um restaurante vínico por baixo. Todos estes projectos foram desenvolvidos por Paulo Amaro desde 2016, antes de criar, a meio do ano passado, “uma estrutura de gestão, marketing, viticultura e enologia, coerente com a sua visão de futuro para as propriedades e a empresa, cujo caminho está a ser implementado agora”, conta Rui Costa. Para além dele, a equipa inclui dois profissionais que gerem os projectos em desenvolvimento, Rui Vasco e António Sousa, que são os homens de campo para tudo o que diz respeito a obras, desde a construção e reconversão de edifícios até à plantação e reconversão da vinha. A empresa tem mais cinco viticultores a tempo inteiro, um por cada uma das suas cinco quintas. Quando há trabalhos mais específicos a realizar, é contratado pessoal local, “o que nos tem permitido fugir àquela mão de obra mais massificada, que às vezes estraga mais do que faz”, defende Rui Costa, acrescentando que a sua empresa paga um pouco acima da média para conseguir ter essas pessoas.

Adega própria apenas em Lisboa
Como a empresa só tem adega na Região de Lisboa, vinifica em instalações de parceiros nas outras. No Dão, na Adega das Boas Quintas, de Nuno Cancela de Abreu; no Alentejo, na Adega do Monte Branco, de Luís Louro; no Douro, na Adega Dona Matilde, com o apoio do seu enólogo, João Pissarra e, na Região dos Vinhos Verdes, na AB Valley Wines, de António Sousa. “São as adegas mais próximas das nossas vinhas e são geridas por pessoas com quem nos conseguimos identificar, com as quais criámos métodos de trabalho”, explica o gestor, salientando que, assim, é possível Ricardo Santos, o director de enologia, fazer um acompanhamento mais próximo de todo o processo, o que é essencial para se produzir, todos os anos, o perfil de vinho definido pela sua equipa para cada região.
Em frente à adega, em Alenquer, fica um restaurante vínico, com sala de provas, que passa a wine bar a partir do final da noite, cuja frequência tem estado esgotada este ano. A procura deve-se, sobretudo, ao trabalho que Rui Costa tem realizado para encontrar clientes para as áreas de vinhos e enoturismo da empresa.
Depois de ter constatado que é lá fora que estão a maior parte dos potenciais clientes, tem frequentado feiras de turismo para contactar operadores que tragam estrangeiros a Portugal, para mostrar a oferta da Cas’Amaro. Foi isso que aconteceu na Fitur deste ano, em Madrid, de onde tinha acabado de chegar quando se realizou esta entrevista. “Os nossos espaços oferecem algo mais do que apenas o habitual no enoturismo, pois também reflectem o interesse de Paulo Amaro pela arquitectura, design e arte, o que os torna ainda mais atractivos”, realça o gestor da empresa. “Quem dorme na nossa casa de Alenquer em Outubro e volta em Fevereiro, vê exposições diferentes, tal como acontece no restaurante, porque há sempre algo de novo a acontecer”, acrescenta.
Para apresentar a casa e os seus vinhos está a apostar também nas principais feiras de vinhos nacionais e em algumas das internacionais. “O objectivo é encontrar bons parceiros, que se apaixonem pelos nossos vinhos e apreciem o seu perfil”, salienta acrescenta que pretende estar muitas vezes com eles para os ajudar a vender nos seus mercados. Com esse objectivo vai estar, com os enólogos da empresa, três vezes em São Paulo, no Brasil, em 2024, em articulação com outras iniciativas nacionais, para ajudar os seus importadores a apresentar os vinhos da Cas’Amaro aos seus clientes. E como é que este investimento vai ser pago? “Cada pessoa a quem vendermos uma garrafa de vinho é um potencial cliente dos alojamentos e dos restaurantes da empresa, onde teremos sempre um retorno significativo”, explica Rui Costa.

 

O projecto começou, em 2016, com a compra do Casal da Vinha Grande, em Alenquer, cuja adega foi transformada num espaço de alojamento com três quartos, preparado para servir refeições aos hóspedes

 

Um vinho de cinco tourigas
Para além do Brasil, e do Reino Unido, onde a empresa já começou a vender vinho, o gestor quer apostar na Holanda, Bélgica e países escandinavos, para além da Coreia do Sul. “Os Estados Unidos irão ficar para mais tarde, quando percebermos bem esse mercado”, diz.
Para este ano Rui Costa prevê que a Cas’Amaro deverá vender 36 mil garrafas e ter 150 mil euros de facturação com a venda de vinho, mais 110 mil no enoturismo, o que representa um crescimento exponencial em relação ao ano anterior. Por enquanto, o objectivo da empresa é explorar todo o potencial dos seus 76 hectares de vinha, que ainda está longe de ser atingido porque uma parte está a ser reconvertida e outra ainda está ou vai ser plantada. Sempre com castas locais, de preferência, e algumas de implantação nacional, como o Arinto ou a Touriga Nacional. No futuro, Rui Costa diz que “gostaria de fazer um vinho de cinco Tourigas, com uvas das cinco regiões”. Mas isso ainda é apenas um sonho.

Os terroirs da empresa

A Cas’Amaro investiu em cinco regiões nacionais, com o objectivo de produzir vinhos e criar equipamentos de enoturismo, incluindo alojamento e restauração, que está ou irá construir nos próximos anos. O objetivo é que os dois negócios, o do vinho e o do enoturismo, estejam em pleno funcionamento em 2030.

Cas’Amaro Vinhos Verdes
Inclui a Quinta do Bustelo, com 40 hectares, em Marco de Canavezes.
Área de vinha – 6ha, mais 2ha que deverão ser plantados este ano
Castas – Arinto, Alvarinho, Loureiro e Azal
Vinhos – Bustelo Alvarinho 2023, Bustelo Arinto 2023, Bustelo Arinto e Loureiro 2023

Cas’Amaro Douro
Inclui a Quinta de São João e a Quinta de São Joaquim, com um total de 39 hectares, no concelho de Armamar.
Área de Vinha – 18ha
Castas – Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Maria Gomes, Malvasia e Códega do Larinho
Vinhos – Acidentado e Enfeitado (Ainda não estão no mercado)

Cas’Amaro Dão
A Quinta da Fontalta tem 17 hectares e fica no concelho de Santa Comba Dão.
Área de vinha – 15ha
Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaén, Tinta Roriz, Encruzado, Malvasia Fina e Cerceal Branco
Vinhos: Caminho Branco 2022, Caminho Tinto 2022 100% Touriga Nacional e Mitologia Reserva 2022 100% Encruzado

Cas’Amaro Lisboa
A empresa possui o Casal da Vinha Grande, dois hectares de vinha na Labrugeira e mais seis na Abrigada.
Área de vinha – 7ha mais 6ha em plantação
Castas – Arinto, Fernão Pires, Sercial, Rabo de Ovelha, Touriga Nacional, Camarate, Bastardo e Tinta Miúda
Vinhos – Falatório branco, rosé, tinto e varietal de Bastardo, Madame Pió branco, monocastas de Arinto e Sercial e tinto

Cas’Amaro Alentejo
A Herdade Monte do Castelête tem 70 hectares e fica no concelho de Estremoz.
Área de vinha – 22ha
Castas – Antão Vaz, Roupeiro, Touriga Nacional, Trincadeira e Tinta Caiada
Vinhos – Implante e Castelete (No mercado a partir de Março)

(Artigo publicado na edição de Março de 2024)

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