PRÉMIOS GRANDES ESCOLHAS 2024: OS MELHORES DO ANO NO VINHO E NA GASTRONOMIA

A revista Grandes Escolhas anunciou os cinco melhores vinhos de 2024, premiando o Melhor Espumante, Melhor Vinho Branco, Melhor Vinho Rosé, Melhor Vinho Tinto e Melhor Vinho Fortificado. Na cerimónia foram também atribuídos os 20 Troféus Grandes Escolhas a restaurantes, sommeliers, enólogos, produtores, projetos de enoturismo e viticultura, garrafeiras e adegas. “Os Prémios Grandes Escolhas […]
A revista Grandes Escolhas anunciou os cinco melhores vinhos de 2024, premiando o Melhor Espumante, Melhor Vinho Branco, Melhor Vinho Rosé, Melhor Vinho Tinto e Melhor Vinho Fortificado. Na cerimónia foram também atribuídos os 20 Troféus Grandes Escolhas a restaurantes, sommeliers, enólogos, produtores, projetos de enoturismo e viticultura, garrafeiras e adegas.
“Os Prémios Grandes Escolhas são já um marco nos sectores do vinho e da gastronomia. Os vinhos seleccionados no TOP 30 representam o que de melhor se faz, em todas as regiões e categorias. Já os Troféus Grandes Escolhas, igualmente prestigiantes, distinguem personalidades, organizações, empresas, instituições e profissionais que, na opinião da equipa editorial da revista Grandes Escolhas, mais se destacaram ao longo de 2024. É um evento único, onde os profissionais do sector se encontram, partilham experiências e têm a oportunidade de provar os vinhos dos seus pares”, refere João Geirinhas, director de negócio da revista Grandes Escolhas.
Dos 30 melhores vinhos portugueses, entre todas as regiões e todas as categorias, de acordo com a redação da Grandes Escolhas, foram distinguidos no TOP 5 o Kompassus Bairrada Espumante Pinot Noir Grande Reserva branco 2016, na categoria de Melhor Espumante, o branco Morgado de Oliveira, Alentejo, como Melhor Vinho Branco, M Mingorra Regional Alentejano Tinto Cão rosé 2023 como o Melhor Vinho Rosé. Já a distinção de Melhor Vinho Tinto foi para a região do Douro, para o Barca Velha 2015, e o Melhor Fortificado fica também no vale do Douro com a premiação do Graham’s PortoTawny 50 anos.

Durante esta gala anual, que reúne os melhores do sector dos vinhos e gastronomia, foram também atribuídos os 20 Troféus Grandes Escolhas, nas suas diversas categorias: Restaurante Cozinha Tradicional Portuguesa – ‘A Cozinha do Manel’, um espaço de referência na cidade do Porto, um valor seguro na preservação da cozinha tradicional portuguesa’; Restaurante Cozinha do Mundo – ‘Kabuki’, uma cozinha que evoca uma viagem de aromas e sabores que une o melhor de duas gastronomias únicas, a japonesa e a ibérica; Restaurante – ‘Plano’, um dos projectos de restauração que melhor expressa a nova culinária de inspiração rural, mas com um perfil moderno; e ainda no sector da restauração, mas já na sua vertente de maior ligação com o mundo dos vinhos, seguiu-se o prémio para o melhor Sommelier – Gonçalo Patraquim, wine diretor do grupo Plateform, que tem a seu cargo a gestão de cartas dos vários restaurantes, bem como a formação e acompanhamento de 17 sommeliers.
Como é já habitual, homenageamos todos os anos uma personalidade com o Prémio David Lopes Ramos, que este ano foi atribuído so chef Nuno Mendes que, com um percurso notável, feito de viagens em que conquistou prestígio e reconhecimento para a gastronomia portuguesa lá fora, chega agora a Lisboa.
Nas restantes, e não menos importantes, categorias foram premiados: Loja Gourmet – ‘Supermercado Apolónia’, que com uma ampla oferta, e um serviço exemplar é um caso de sucesso reconhecido no país e estrangeiro; Garrafeira – ‘Vinho & Eventos’, uma loja de vinhos em Meda, na Beira Interior, exemplar pela oferta disponível, pela qualidade do serviço e pelas iniciativas que desenvolve; Wine Bar – ‘Sala Ogival – Viniportugal’, no coração de Lisboa tem a sua uma sala de visitas do vinho português, em Lisboa, num local que respira história, cultura e tradição; Enoturismo – ‘Taboadella’, uma quinta no Dão com adega, loja e espaço de recepção de visitantes espetaculares, um marco no Enoturismo da região; Organização Vitivinícola– ‘PORVID’, a associação para a conservação e selecção de castas, prova que Portugal é líder destacado na preservação da diversidade da videira; Viticultura – ‘José Luís Marmelo’, responsável por muitas das vinhas do Parque Natural da Serra de S. Mamede; Adega Cooperativa – ‘CARMIM’, uma das maiores cooperativas do país, que produz vinhos exclusivamente a partir das uvas dos seus associados, com a qualidade que todos lhe reconhecem; Produtor Revelação – ‘ODE Winery’, em Vila Chã de Ourique, onde nascem vinhos de grande qualidade, produzidos numa unidade de vinificação de última geração, que surpreenderam critica e consumidores; Produtor – ‘Herdade da Mingorra’, negócio familiar que, ao celebrar 20 anos, surpreende com novos vinhos de perfil original e de grande carácter; Empresa Vinhos Generosos – ‘Justino’s Madeira Wines’ que, para além da inovação constante, é um guardião da tradição, tendo apresentando recentemente um conjunto de Frasqueiras de excecional qualidade; Empresa – ‘Winestone’, um grupo de forte ambição que começou na Ravasqueira, cresceu exponencialmente, e hoje se assume como um dos principais players do mercado. O Prémio Singularidade foi para a ‘Kompassus’ pela sua coerência e expressividade, mas também pelas práticas de viticultura ancestrais e vinificação minimalista assente no mais puro respeito por uma tradição familiar, que faz questão de preservar.
Antes de terminar, os convidados presenciaram ainda a entrega de mais três Troféus Grandes Escolhas, sempre aguardados com grande expectativa: Enólogo Vinhos Generosos – ‘Carlos Agrellos’, que desenvolve um trabalho exemplar – reconhecido internacionalmente -, em duas propriedades do Douro com história secular no vinho do Porto, como são a Quinta do Noval e a Quinta da Romaneira.; Enólogo– ‘Jorge Sousa Pinto, para quem os Vinhos Verdes não têm segredos, e que conhece com ninguém castas, climas e terroirs.
A grande noite termina com a revelação do prémio Senhor/a do Vinho 2024, este ano entregue a Domingos Alves de Sousa, um grande Senhor do Douro, que ao longo de mais de 30 anos lançou vinhos extraordinários de diferentes conceitos e abordagens enológicas, mas sempre de grande personalidade.
“Foi com grande satisfação que reunimos, uma vez mais, algumas das figuras mais marcantes do mundo dos vinhos e da gastronomia, personalidades e entidades que reflectem a qualidade e o talento presentes nestes sectores em Portugal. Reconhecer e premiar os melhores de 2024, entre produtores, chefs, enólogos, viticultores, sommeliers, comerciais, proprietários de restaurantes e outros profissionais da área, manteve-se como o principal foco desta iniciativa. A escolha, como sempre, não foi fácil, dada a enorme qualidade que caracteriza o sector vitivinícola e gastronómico do nosso país”, afirma Luís Lopes, director da revista Grandes Escolhas.
Para além dos prémios referidos, foram ainda anunciados os Melhores Vinhos por região, num total de 310 vinhos, com base nos milhares de provas que os críticos da Grandes Escolhas realizaram durante o ano de 2024.
Os Prémios Grandes Escolhas, organizados pela revista Grandes Escolhas, que vão já na sua oitava edição com a actual equipa, podem ser vistos ou revistos online no site da Grandes Escolhas, uma vez que a cerimónia foi transmitida em streaming, ficando assim disponível a todos, bem como as fotos do evento.
O evento que premeia os melhores vinhos, bem como empresas, profissionais e entidades na área de vinhos e gastronomia, em Portugal, contou com mais de 800 convidados, que se reuniram no Centro de Congressos do Estoril para uma noite dedicada aos Melhores do Ano.
TOP 30 – OS MELHORES 30 VINHOS DO ANO | GRANDES ESCOLHAS
- Aliança XO – Aguardente Vínica Velha 50 anos – Aliança – Vinhos de Portugal
- Anselmo Mendes Tempo – Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco 2020 – Anselmo Mendes Vinhos
- Barbeito O Americano – Madeira Malvasia 50 Anos – Vinhos Barbeito
- Barca Velha – Douro tinto 2015 – Sogrape Vinhos
- Casa de Saima – Bairrada Baga Garrafeira tinto 2016 – Casa de Saima
- Conde Vimioso Edição Comemorativa 30 anos – Regional Tejo tinto 2005 – Falua
- Cossart Gordon – Madeira Boal 1988 – Madeira Wine Company
- Élevage – Alentejo tinto 2022 – Herdade do Sobroso
- Gloria Reynolds – Regional Alentejano tinto 2014 – Reynolds Wine Growers
- Graham’s – Porto Tawny 50 anos – Symington Family Estates
- Kompassus – Bairrada Espumante Pinot Noir Grande Reserva branco 2016 – Kompassus Vinhos
- M.O.B. Gauvé – Dão branco 2019 – Moreira, Olazabal e Borges
- Mamoré de Borba Vinhas de Sequeiro – Alentejo Trincadeira tinto 2020 – Sovibor
- Marquês de Borba – Alentejo Reserva tinto 2021 – J. Portugal Ramos
- Montanha Real 80 Anos – Bairrada Espumante branco 2013 – Caves da Montanha
- Monte Branco XX – Regional Alentejano tinto – Adega do Monte Branco
- Morgado de Oliveira – Alentejo branco – Fitapreta Vinhos
- Outrora – Bairrada Clássico Baga tinto 2019 – V Puro
- Pêra-Manca – Alentejo tinto 2018 – Fundação Eugénio de Almeida
- Poeira – Douro tinto 2021 – Jorge Nobre Moreira
- Quanta Terra Golden Edition – Douro branco 2017 – Quanta Terra
- Quinta da Boavista Vinha do Oratório – Douro tinto 2020 – Sogevinus Fine Wines
- Quinta de Ervamoira – Douro tinto 2021 – Adriano Ramos Pinto
- Quinta da Giesta – Dão Grande Reserva branco 2021 – Soc. Agr. Boas Quintas
- Quinta da Manoella VV – Douro tinto 2021 – Wine & Soul
- Quinta das Bágeiras Pai Abel – Bairrada tinto 2017 – Quinta das Bágeiras
- Quinta do Noval Nacional – Porto Vintage 2022 – Quinta do Noval
- Vasques de Carvalho – Porto Tawny 50 anos – Vasques de Carvalho
- Villa Oliveira Vinha Centenária Pai D’Aviz – Dão tinto 2018 – Casa da Passarella
- Vinha da Micaela – Alentejo-Vidigueira tinto 2021 – Rocim
Quinta da Plansel: Mostrar as castas através dos vinhos

Dorina Angelica Lindemann, 59 anos, enóloga e gestora da Plansel, empresa produtora de vinhos alentejana, nasceu na Alemanha e vive em Portugal desde 1993. O pai, Hans Jörg (Jorge) Böhm, tem uma grande paixão pelo país desde uma estadia forçada em Lisboa, quando tinha 18 anos, depois de o veleiro que o transportava e mais […]
Dorina Angelica Lindemann, 59 anos, enóloga e gestora da Plansel, empresa produtora de vinhos alentejana, nasceu na Alemanha e vive em Portugal desde 1993.
O pai, Hans Jörg (Jorge) Böhm, tem uma grande paixão pelo país desde uma estadia forçada em Lisboa, quando tinha 18 anos, depois de o veleiro que o transportava e mais alguns amigos se ter afundado perto da capital. A volta ao mundo em perspectiva não foi feita, mas alguns dias de estadia em Portugal sim. Era o início dos anos sessenta, numa altura em que era difícil de sair ou entrar do país sem autorização e documentos como o passaporte, que tinham mergulhado e desaparecido nas águas com a embarcação. Era o tempo da ditadura e ainda existiam fronteiras a dividir toda a Europa, o que dificultava a circulação de pessoas de e para Portugal.
Os primeiros tempos foram dedicados aos viveiros, à selecção das castas, sua plantação e às necessárias microvinificações para avaliar o comportamento dos clones.
“Esse período de tempo levou o meu pai a apaixonar-se pelo país e a querer voltar”, conta Dorina Lindemann. Descendente orgulhosa de uma família que existe há 400 anos e trabalha há cerca de 200 no sector de vinhos na Alemanha, revela que o seu pai, Jörg Böhm, envolveu-se também no negócio e chegou a ser o maior importador de vinhos portugueses para o seu país de origem. “Era uma altura em que não tinham uma qualidade estável, que variava de ano para ano”, mas o pai insistia, devido à atracção que sentia por Portugal. No entanto, aquilo que mais o apaixonava eram as plantas, a inovação e a procura da sustentabilidade no sector vitícola, e foi isso que o fez vender os seus negócios na Alemanha e vir para Portugal. Comprou um terreno em Montemor-o-Novo, “porque achava que a zona tinha um terroir muito especial, com muita mineralidade e muita frescura”, como conta Dorina, com a ideia de estudar as plantas e fazer a selecção de videiras. A filha ainda era muito jovem na altura, mas já tinha também o “bichinho” pela procura de conhecimento sobre a videiras e as suas variedades.
Pioneira num mundo de homens
Quando era uma menina, o negócio da vinha e do vinho ainda estava apenas na mão de homens na Alemanha. Mas Dorina gostava de andar e correr pelas vinhas, participar nas vindimas e cheirar os vinhos desde pequena, ao contrário do irmão, “que não aprecia coisas que têm a ver com o vinho, nem de o beber”. Por isso, foi natural que tivesse optado pela formação em vinha e vinhos, no seu caso dual, em que a primeira parte decorreu num local de trabalho, uma empresa de vinhos, e depois na universidade. Durante a primeira parte trabalhou “naquela que hoje se chama Von Winning, a Dr. Andreas Deinhard, em Deidesheim, Alemanha, uma região muito importante para a produção de vinhos da casta Riesling”, conta, realçando que gostou muito de uma experiência onde, entre outros, aprendeu a guiar um tractor, a cavar e a plantar vinhas novas, numa casa onde era a única mulher a trabalhar. Passados dois anos foi estudar enologia para a universidade de Geisenheim.
Mas como ainda se estava numa época em que, na Alemanha, se considerava que apenas os homens podiam trabalhar no sector de vinhos, teve de ouvir vozes contra esta opção. E quando começou a frequentar o ensino superior, em 1987, “eramos apenas duas mulheres e o resto eram homens, 99”, conta. Mas guarda boas recordações de um curso onde, para além do conhecimento, fez amizades e criou relacionamentos que “têm sido importantes tanto para os negócios como para a vida”. E ainda hoje mantém contactos com Geisenheim, universidade para onde é convidada para falar sobre Portugal e os seus vinhos e vinhas.
A selecção de plantas
Quando terminou o curso “não tinha vinhas nem empresa de vinhos”. Naquela altura era difícil arranjar emprego” no seu país natal, onde demorou algum tempo até as mulheres puderem fazer o seu caminho na área da enologia. Mas como já tinha paixão por Portugal, porque passava cá as férias a ajudar o pai, convenceu o primeiro marido, Thomas Lindemann, e veio em Fevereiro de 1993. Foi numa altura em que “o pai não estava nada feliz”, porque a actividade viveirista, que está sujeita a regras muito apertadas e depende subsídios que variam com os problemas económicos e políticos do país, estava em crise.
Os primeiros tempos foram intensamente dedicados aos viveiros, à selecção das castas, sua plantação e às necessárias microvinificações para avaliar o comportamento dos clones. O trabalho foi feito sob supervisão do Professor Colaço do Rosário que era, na altura, para além de docente da Universidade de Évora, o enólogo da Fundação Eugénio de Almeida. “Ele fazia trabalhos de selecção e observação, em parceria com o meu pai, e as microvinificações das plantas escolhidas”, conta Dorina Lindemann. “Cada vez que encontravam uma que achavam que tinha as condições certas, traziam-na para baixo, para ser plantada numa linha para observações do material no campo”, acrescenta. Foi também nesse período que conheceu o enólogo Paulo Laureano, com quem trabalhou em parceria durante muitos anos.
Entretanto, a paixão por fazer o próprio vinho manteve-se sempre, sobretudo espumantes. Os primeiros que fez, cerca de três mil garrafas, foram da colheita de 1996, engarrafadas de forma manual. “Fui, inclusive, buscar máquinas de colocar e tirar caricas à Alemanha, que um amigo nos emprestou, para fazer o processo e, depois, levámos tudo de volta”, conta. “Foi o início desta aventura”, acrescenta.

Vinhos de castas portuguesas
Dorina Lindemann criou a adega e empresa Quinta da Plansel em 1997, ano em que comprou os primeiros depósitos e lançou o seu primeiro vinho feito nas instalações da Universidade de Évora, com o apoio de Paulo Laureano. “Fizemos aqui a escolha das uvas e lá os trabalhos da adega, de um vinho que já foi engarrafado com a marca Quinta da Plansel”, diz. Nos três anos seguintes lançou apenas esta referência, mas, depois, passou a colocar no mercado mais, entre elas o Dorina Lindemann, o primeiro vinho de topo da casa, feito com uvas da colheita de 2000.
“A ideia foi sempre produzir vinhos a partir das nossas castas selecionadas”, revela a produtora, acrescentando que foi por isso que decidiu lançar, em 2001, monovarietais de Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Barroca. Mas não os conseguiu vender em Portugal, porque a sua empresa “não era muito conhecida” num país ainda sem apetência suficiente para este tipo de vinhos. A solução foi virar-se para a exportação. Primeiro, para o seu país natal. Depois avançou para a Suíça, Luxemburgo, Polónia e Reino Unido, antes de começar a vender no continente americano e extremo oriente. “A diversificação de mercados é importante para o negócio e também me permitiu continuar a apostar nos monocastas”, explica.
Há cinco/seis anos, a exportação da Quinta da Plansel rondava os 75 a 80%. Hoje essa proporção baixou para 50%, “o que me ajuda muito”, diz. É sabido, o reconhecimento pelo mercado nacional tem reflexos positivos sobre as marcas de vinhos portugueses no mercado externo. “Era algo que eu não me tinha percebido antes, porque só queria fazer vinho, sem pensar muito na parte comercial”, revela a produtora, que confessa que ainda não tem, em Portugal, um responsável pela parte comercial e que, fora do país, esse trabalho é feito por si e agora também pelas suas filhas, Júlia e Luísa Lindemann.
É um trabalho importante, porque as três são as caras desta empresa familiar e o vinho é muito um negócio de pessoas. “É a nossa casa e temos de ser nós, mas é um trabalho muito desgastante”, revela, acrescentando que a importância desse trabalho de ligação com os clientes verifica-se em todas as provas e feiras onde participam. E como são relacionamentos que têm de ser cultivados para serem mantidos, é “um trabalho fundamental que temos de fazer”, salienta a produtora.

Adaptação às mudanças do clima
Hoje a Quinta da Plansel, que produz entre 350 e 400 mil garrafas de vinho por ano, tem uma gama variada onde se inserem também vinhos de lote. Isso talvez tenha facilitado o crescimento das vendas em Portugal, depois de muitos anos de insistência no lançamento de monocastas. “A minha ideia sempre foi mostrar o que Portugal tem de melhor, as suas variedades”, mostrando os vinhos que podem originar.
O nome Plansel, o da empresa, significa planta selecionada, ou seja, que os vinhos da marca têm origem em clones de vinhas da casa, com idades que podem ir até aos 25 anos, para as mais velhas. “Também usamos clones novos, como uma Trincadeira de bago mais pequenino, que não rebenta logo quando chove, que é a base de um monocasta muito interessante, verdadeiro, com notas de cassis, herbáceos”, conta Dorina Lindemann, acrescentando que a sua aposta foi sempre na sustentabilidade, nas plantas, na tipicidade da sua região.
Diz que ainda hoje mantém a procura de novas variedades, mais adaptadas às condições resultantes das mudanças climáticas, pois acredita que serão a salvação do sector vitícola nos próximos 20 a 30 anos. Uma das suas preferidas é a Touriga Nacional.
“Difícil de trabalhar na vinha porque é brava, cresce para todo o lado, tem muitos cachos e, por isso, custa muito dinheiro vindimar”, explica, acrescentando que “é, no entanto, resistente ao escaldão, tem tipicidade, uma grande personalidade e adapta-se a todos os tipos de terrenos, coisas que temos de ter em conta para o futuro”. Salienta também que, “para além disso, dá origem a bons vinhos, sobretudo em solos mais frescos que permitam abrir mais o volume e libertar aromas como as notas de violetas, sem serem doces demais”. Também aprecia, entre outras, a Touriga Franca que “dá origem a vinhos frescos, com grande personalidade”, salientando que tem em casa alguns com 10 anos, “cujas características principais não mudam”.
Hoje Dorina Lindemann tem 55 hectares de vinha dedicados à produção de vinho, sobretudo da casta Touriga Nacional, que representa 25 a 28% do encepamento, porque se porta bem na sua zona. Para além da Touriga Franca, tem Aragonês, Trincadeira, pouco de Tinta Barroca, “porque é atreita ao escaldão” e Alicante Bouschet, porque a sua filha Luisa “gosta muito”. Mas a empresa apenas está a criar agora o clone agora.
Quanto às castas brancas, diz que é fã de Viosinho, “uma casta muito interessante para o futuro, tal como a Loureiro”, gosta dos vinhos que está a fazer de Azal e de Verdelho, e quer experimentar plantar Rabigato e Arinto, “uma casta muito boa no Alentejo”. Já plantou castas que arrancou depois, “porque o clima está a mudar e os produtores têm de o fazer quando as plantas já não se adaptam bem ao local”. Mas mantém sempre a aposta nas castas nacionais, convicta que está de que o “berço das castas ibéricas é Portugal” e afirma ainda que tem “a certeza de que o país poderia ser considerado o melhor produtor de vinhos do mundo se soubesse contar bem a sua história e estórias das suas vinhas e vinhos”.
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)
Estive lá: Cícero, Um restaurante em forma de arte

No cosmopolita e multicultural bairro lisboeta de Campo de Ourique, o restaurante é um espaço deveras singular. Primeiro, porque se apresenta como um restaurante que é também uma galeria de arte, com muitos quadros e esculturas expostos de artistas do país irmão. Depois, porque se assume como um representante da cultura brasileira, unindo cores, formas […]
No cosmopolita e multicultural bairro lisboeta de Campo de Ourique, o restaurante é um espaço deveras singular. Primeiro, porque se apresenta como um restaurante que é também uma galeria de arte, com muitos quadros e esculturas expostos de artistas do país irmão. Depois, porque se assume como um representante da cultura brasileira, unindo cores, formas e sabores onde abundam as referências tropicais. Mais ainda, porque o espaço é dividido em três pequenas salas, Modernista, Contemporâneo e Origem, uma no rés do chão e outras duas na cave, cada uma delas com a decoração e ambiente distintivos, marcados pela cores fortes das pinturas expostas, assegurando, em qualquer delas, uma atmosfera acolhedora e intimista.
Por último, na proposta gastronómica que é, afinal, o mais relevante quando falamos sobre um restaurante. Pois é aqui que Paulo Dalla Nora Macedo, um dos co-fundadores do espaço, arriscou nesta nova versão do Cícero e foi buscar a Chef brasileira Alessandra Montagne, há 25 anos sediada em Paris, onde tem dois restaurantes e uma reputação já bem firmada. Num jantar de apresentação à imprensa, onde estivemos, foi visível como a Chef Alessandra, em conjugação com a Chef executiva residente, Ana Carolina, procuraram unir a técnica francesa, a inspiração de Cícero Dias na composição cromática das apresentações e uma fusão de ingredientes brasileiros e apontamentos portugueses.
Visando nitidamente o fine dinning e com preços condizentes a essa ambição, Alessandra desenhou um menu rico e em alguns momentos surpreendente. Logo no amuse-bouche encantou com a crocância do dadinho de tapioca. Nas duas entradas servidas gostei do contraste entre a suavidade do creme de cenoura e a salinidade da bottarga e sabores terrosos do velouté de cogumelos. Nos pratos principais, o carabineiro, irrepreensível com o risoto de cevada, cremoso como se impunha, pediu meças com o bacalhau fresco, couve e arroz negro. O prato de carne foi poitrine de porco, aipo e beterraba, e talvez porque a refeição já ia farta e longa terá sido o que menos me entusiasmou. Mas o desenho cromático da sobremesa, que a Chef Alessandra assumiu ter sido inspirada numa pintura de Cícero Dias, rematou com brilho o jantar.
Destaque ainda para uma carta de vinhos bem pensada, da responsabilidade do sommelier Rodolfo Tristão, com sugestões interessantes para além do óbvio, mas com preços que não são meigos. Requintado restaurante, galeria multifacetada, tertúlia animada, o Cícero, na sua nova encarnação, tem muito para seduzir. Assim a bolsa o permita.
Cícero
Morada: Rua Saraiva de Carvalho, 171, Lisboa
Tel.: + 351 966 913 699
Site: https://cicerobistrot.pt/pt/home-pt/
Horário: De Domingo a Quinta das 19h15 às 23h45. Sextas e Sábados das 19h15 às 00h00
Preço médio: 90€
GRANDE PROVA: TOURIGA NACIONAL

O painel de prova que levámos a efeito contou com a resposta de 46 produtores. Com a expansão que a casta tem tido em todo o país, este painel poderia ter 100 ou mais vinhos presentes, um sinal evidente que as qualidades que esta variedade apresenta podem expressar-se em climas e solos diferentes, sem perda […]
O painel de prova que levámos a efeito contou com a resposta de 46 produtores. Com a expansão que a casta tem tido em todo o país, este painel poderia ter 100 ou mais vinhos presentes, um sinal evidente que as qualidades que esta variedade apresenta podem expressar-se em climas e solos diferentes, sem perda de qualidade. Essa é também a marca das grandes castas, as tais que mudam de país, mudam de ares, mas produzem sempre bem e originam grandes vinhos. Nem é preciso ir mais longe. Basta pensar em variedades internacionais como Cabernet Sauvignon, Merlot ou Chardonnay para exemplificar o que estamos a dizer.
Uma grande variedade
Recordemo-nos, sucintamente, que o percurso da casta não foi fácil. Era assumida como uma grande variedade, nomeadamente no Dão onde integrou as experiências do Centro de Estudos de Nelas. Alberto Vilhena, à frente daquele Centro, levou a cabo entre 1958 e 88 muitas microvinificações que mostraram as enormes qualidades da casta e as potencialidades para gerar vinhos de guarda. Muito estudada depois pelos cientistas da vinha, como Antero Martins e Nuno Magalhães nos anos 70 e 80, a casta foi depois objecto de plantio em campos de ensaio em várias quintas, sobretudo na Quinta da Leda (Douro Superior), onde foram ensaiados 179 clones e se procedeu então à selecção dos melhores, posteriormente disponibilizados para a produção. Foi com esse estudo que se conseguiram bons resultados nas primeiras experiências feitas na quinta dos Carvalhais (Dão) em 1992, e depois nos primeiros produtores do Douro que se aventuraram a fazer vinhos que, para a época, eram uma verdadeira novidade para os consumidores. Muito rapidamente os produtores perceberam que tinham, em mãos, uma casta de elevado potencial enológico e logo de seguida ela começou a ser mencionada nas garrafas. As más-línguas vieram logo dizer que a Touriga Nacional era “a casta mais plantada nos contra-rótulos”, tal a frequência com que aparecia essa informação. Terá sido assim, no início, ninguém hoje duvida, mas a verdade é que a área de vinha de Touriga ganhou uma dimensão que a trouxe para o patamar das grandes castas nacionais.
Vejamos alguns exemplos. No Douro poderá ter começado “nos contra-rótulos”, mas adaptou-se de tal forma às condições da região que hoje ocupa 10% da área de vinha duriense, ou seja, 4 400 ha. E para ajuizar da valia da casta bastará dizer que, se se fizer uma escolha de grandes vinhos do Douro, sobretudo dos mais conhecidos topos de gama, o que mais frequentemente encontramos é tintos que resultam de um lote de Touriga Francesa com Touriga Nacional. Também existem muitos varietais da casta. Mas a ligação das duas Tourigas parece ser fórmula garantida de sucesso. Não esqueçamos que as variações de terroirs que o Douro tem, as variantes de exposição e altitude, originam vinhos de perfis diferenciados. Mais uma das características das grandes castas, camaleónicas por natureza.
Se o Douro é a região com mais área de vinha de Touriga Nacional, o Dão vem logo de seguida. Ali, onde a casta deverá (ainda sem certezas) ter nascido, a área de Touriga Nacional é de cerca de 2750 ha, qualquer coisa como 21,3% da área total de vinha. Por enquanto a Jaen ainda é a casta mais plantada (com 22,8%). A Tinta Roriz queda-se no terceiro lugar com 17,6% da área de vinha. Pelo crescimento que tem tido, a Touriga poderá vir a ultrapassar a Jaen num futuro próximo.
No Alentejo, o crescimento da casta tem sido constante, ainda que num ritmo moderado. Se em 2019 ela ocupava 1 416 ha, essa área subiu, em 2023, para 1 543 ha. Para se ter uma noção comparativa, a Touriga Nacional é actualmente a 5ª casta mais plantada no Alentejo. Em primeiro lugar temos a Aragonez, com 4 155 ha, seguida (por ordem decrescente) de Alicante Bouschet, Trincadeira e Syrah. Num quadro comparativo das áreas de vinha da região entre 2019 e 2023, percebemos que as principais castas têm tido um crescimento, ainda que moderado, e nota-se alguma quebra nas Castelão e Moreto. Onde a Touriga Nacional tem crescido mais é em Borba e Reguengos. Anotem-se mais duas informações de duas regiões. Em Lisboa a casta ocupa cerca de 500 ha e, segundo informação da CVR Lisboa, esse quantitativo tem-se mantido estável. Já em Setúbal, com uma área muito grande, que se estende do Montijo até Sines, a Touriga Nacional, que ocupa 258,38 ha, tem tido um crescimento, moderado, mas constante, de 11 ha por ano.
Se o Douro é a região com mais área de vinha de Touriga Nacional, o Dão vem logo de seguida.
Uma leitura da prova
O perfil dos vinhos de Touriga Nacional tem acompanhado o gosto dos consumidores e tem sido desafiante para os enólogos a missão de ultrapassar alguns constrangimentos inerentes à própria variedade. No primeiro tema – o gosto dos consumidores – a Touriga de hoje afasta-se bastante do perfil que tinha no início do século. Enquanto durou a “era Parker”, com o gosto moldado pelo crítico americano Robert Parker, a Touriga Nacional foi macerada, extraída e abusada de madeira nova. Vemos agora que era difícil captar-lhe todas as subtilezas com esse perfil, como o seu lado mais floral, e que o excesso de madeira nova em nada contribuía para uma melhor apreciação do vinho. Ao mesmo tempo que este estilo vigorava, os enólogos foram percebendo que algo de particular se passava com a Touriga Nacional, uma vez que ela tinha a capacidade de, já depois de engarrafada, desenvolver fenóis voláteis, o famigerado suor de cavalo. A casta é também muito rica em ácido felúrico e cumárico, que existem naturalmente nas uvas e são necessários para o metabolismo da bactéria Brettanomyces formar os fenóis voláteis. Por isso, o controlo dos níveis de sulfuroso e as filtrações são fundamentais para diminuir os riscos. Hoje o problema está ultrapassado para os produtores que aceitam os avanços e conhecimentos que advêm da ciência.
Desta prova podemos tirar algumas conclusões: que continua a haver espaço para variados tipos de tintos de Touriga Nacional, uns mais estruturados, ricos e cheios, e outros mais elegantes e finos; que o que mais se ajusta à casta é um moderado estágio em madeira nova, sendo preferível um amadurecimento em barrica usada, que tudo possa envolver mas sem marcar muito o vinho; que a qualidade elevada não é exclusivo desta ou daquela região. Os vinhos provados revelaram uma qualidade muito alta, com uma evidente vocação gastronómica, característica que, sobretudo em Portugal, convém ter sempre presente.
A Touriga veio para ficar e hoje não há quintal, por mais pequeno que seja, que não tenha a casta plantada. Estranho fascínio, quase hipnotizante, poder-se-ia dizer. Acreditamos que outras variedades não se importariam de ter o mesmo desígnio.
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)
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Maçanita Cima Corgo
Tinto - 2022 -
Falua Unoaked
Tinto - 2021 -
Coragem
Tinto - 2021 -
Bacalhôa Vinha da Garrida
Tinto - 2019 -
Adega Mayor
Tinto - 2022 -
Adega Mãe
Tinto - 2021 -
Zom
Tinto - 2021 -
Touriga Nacional da Malhadinha
Tinto - 2022 -
Scala Coeli
Tinto - 2020 -
Ribeiro Santo
Tinto - 2021 -
Quinta do Perdigão
Tinto - 2016 -
Quinta da Romaneira Três Parcelas
Tinto - 2020
-
A Touriga Vai Nua
Tinto - 2022 -
Adega de Penalva
Tinto - 2020 -
Vallado
Tinto - 2019 -
Taboadella
Tinto - 2021 -
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
Tinto - 2022 -
Quinta dos Termos
Tinto - 2022 -
Quinta dos Carvalhais
Tinto - 2021 -
Quinta de S. José
Tinto - 2021 -
Quinta de Pancas Special Selection
Tinto - 2018 -
Quinta da Aguieira
Tinto - 2020 -
Paço dos Infantes
Tinto - 2021 -
Mingorra
Tinto - 2021
-
A Serenada
Tinto - 2019 -
Quinta Vale de Fornos
Tinto - 2016 -
Bridão
Tinto - 2018 -
Adega de Pegões
Tinto - 2021 -
Solar da Ria
Tinto - 2020 -
Quinta de Ventozelo
Tinto - 2022 -
ODE
Tinto - 2023 -
Mainada
Tinto - 2021 -
Humilitas
Tinto - 2019 -
Howard’s Folly
Tinto - 2018 -
Casa Ermelinda Freitas
Tinto - 2022 -
Casa de Santar Vinha dos Amores
Tinto - 2019
Editorial Fevereiro: A Touriga, sempre

Editorial da edição nrº 94 (Fevereiro de 2025) A incontornável Touriga Nacional é o tema central desta edição de fevereiro da GE, com uma prova de 46 vinhos. “Uva bandeira de um país”, assim a titulamos na capa, epíteto justificado pela dispersão geográfica, pela adaptabilidade a diferentes solos e climas, pela personalidade vincada, pela qualidade […]
Editorial da edição nrº 94 (Fevereiro de 2025)
A incontornável Touriga Nacional é o tema central desta edição de fevereiro da GE, com uma prova de 46 vinhos. “Uva bandeira de um país”, assim a titulamos na capa, epíteto justificado pela dispersão geográfica, pela adaptabilidade a diferentes solos e climas, pela personalidade vincada, pela qualidade que empresta aos lotes e varietais, pela notoriedade internacional.
Não sendo uma casta consensual, qualquer profissional do vinho, questionado sobre qual a uva tinta mais bem posicionada para representar o Portugal vitivinícola, dificilmente encontrará outra que não a Touriga Nacional. E, no entanto, a forma como o sector a tem encarado ao longo das últimas décadas é quase bipolar, com surtos de amor e ódio, num dia elevada a salvadora da pátria, noutro acusada de castradora da diversidade vitivinícola do País. Eu próprio já olhei para ela de diferentes formas em distintos momentos.
Por exemplo, em 2006, soaram os alarmes. Na prova de Touriga Nacional que fizemos, para enorme surpresa, os vencedores vieram do Alentejo. Antevi futuras desgraças, escrevi que o Alentejo nada ganharia em ter Touriga nos vinhos mais ambiciosos, que ficariam iguais a tantos outros de Portugal. E defendi a inutilidade da coisa, face à qualidade e carácter de variedades como Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet, entre outras. As previsões alarmistas não se confirmaram. Não apenas a Touriga não dominou as castas autóctones, como ela mesmo se “aculturou”: um Touriga alentejano (varietal ou blend) continua a cheirar e a saber a Alentejo.
Em 2011 a coisa era mais grave: a Viniportugal decidira que os vinhos portugueses deveriam ser promovidos internacionalmente sob a égide da Touriga Nacional, emulando os binómios Argentina/Malbec ou Chile/Carménère. Discordei veementemente, claro. E apontei, entre muitas razões, a desvalorização do conceito de região e de blend, a colagem a um conceito novo mundista de casta, o passar da mensagem errónea de que os melhores vinhos portugueses dizem Touriga Nacional no rótulo. Felizmente, um ou dois anos depois a Viniportugal alterou a estratégia e a catástrofe prevista não aconteceu.
Em 2016, afastado o receio da “tourigação nacional”, a minha reconciliação com a casta começou a tomar forma, à medida que, na vinha e na adega, se trabalhava melhor com ela. Na prova de Touriga Nacional realizada nesse ano, aqueles vinhos super florais, perfumados, monocórdicos, davam lugar a tintos complexos, longevos e, sobretudo, com aromas e sabores onde se sentia mais a origem do que a uva. Quase uma década passada, a prova que este mês publicamos reforça esta percepção, pois não apenas é evidente a região além da casta, como o próprio perfil do vinho varia imenso consoante a abordagem vitícola e enológica de cada produtor.
Hoje, a posição da Touriga no vinho português é clara: espinha dorsal dos melhores lotes do Dão, parceira da Touriga Franca no Douro “moderno”, valor acrescentado sempre que solicitada em distintas regiões. Dito isto, não deixa de ser sintomático que, mesmo no Dão onde nasceu, raramente (ou nunca) o melhor vinho da casa é um 100% Touriga Nacional.
Olhando para a forma como a Touriga foi encarada ao longo destes últimos 20 anos, vemos que a casta desperta paixões, rejeições, aplausos e incómodos. Só as grandes uvas o fazem. A Touriga é exuberante, egocêntrica, dominadora, excessiva. Mas hoje sabemos domá-la, o que fazer com ela, que peso pode ou não ter no vinho que ambicionamos. Nenhum país vinícola se pode dar ao luxo de desprezar uma casta como esta. Tenhamos, pois, orgulho em afirmá-la e defendê-la, como defendemos a bandeira nacional, mesmo que não apreciemos muito as cores.
Os Melhores do Ano – Conheça todos os vencedores

Num evento onde centenas de protagonistas do vinho e da gastronomia se reencontram todos os anos — de produtores de vinho a chefs de cozinha, enólogos, viticólogos, sommeliers, comerciais, proprietários de restaurantes e outros profissionais da área — celebrou-se o que de melhor se fez em Portugal em 2024. Como sempre, a eleição dos vencedores […]
Num evento onde centenas de protagonistas do vinho e da gastronomia se reencontram todos os anos — de produtores de vinho a chefs de cozinha, enólogos, viticólogos, sommeliers, comerciais, proprietários de restaurantes e outros profissionais da área — celebrou-se o que de melhor se fez em Portugal em 2024.
Como sempre, a eleição dos vencedores foi um desafio para a equipa da Grandes Escolhas, por ser uma tarefa complexa e difícil devido à qualidade com que o sector presenteia o seu mercado. Mas há uma premissa que nunca fica por cumprir: procuramos sempre ter a máxima objectividade, rigor, isenção e profissionalismo possíveis, numa avaliação que tem, necessariamente, alguma subjectividade.
Aqui ficam Os Melhores de Portugal, lista que vai guiar tanto o consumidor menos experiente, como o enófilo mais conhecedor, na procura da escolha certa para os seus momentos com o vinho.
Consulte AQUI todos os premiados e veja as fotos do evento.
Vendas de vinhos do Alentejo crescem 8% em 2024

A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) anunciou um crescimento de 8% no comércio de vinhos do Alentejo em 2024 para 92,2 milhões de litros de vinho, o que representa cerca de 123 milhões de garrafas, o melhor resultado alcançado nos últimos cinco anos. O aumento corresponde a vendas de mais 6,7 milhões litros de vinho […]
A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) anunciou um crescimento de 8% no comércio de vinhos do Alentejo em 2024 para 92,2 milhões de litros de vinho, o que representa cerca de 123 milhões de garrafas, o melhor resultado alcançado nos últimos cinco anos. O aumento corresponde a vendas de mais 6,7 milhões litros de vinho face ao ano anterior.
No ano passado, a venda de vinho com Denominação de Origem Controlada (DOC) Alentejo teve um crescimento de 11%, correspondente a mais 2,1 milhões de litros, enquanto o vinho Regional Alentejano registou um aumento de 7%, pelo acréscimo de vendas de 4,6 milhões de litros de vinho.
O ano de 2024 teve o melhor registo de sempre no que toca aos vinhos brancos e rosés, acompanhando a tendência actual de evolução do perfil de consumo e a boa aceitação destas categorias por parte dos consumidores. Os vinhos brancos cresceram 9,4% e os rosés 2,7% e, em conjunto, representaram 27% do volume de vinhos do Alentejo comercializado. O tinto continuou a liderar as vendas, com 66,8 milhões de litros, mais 7,5% do que no período anterior.
Para Francisco Mateus, presidente da CVRA, “os resultados que a região alcançou em 2024 são muito positivos e encorajadores para o futuro”. O responsável acredita que “2025 pode ser o ano de partida para um ciclo de prosperidade sustentável e ganhos na notoriedade e reputação das marcas coletivas DOC Alentejo e Regional Alentejano”.
O comunicado da CVRA refere ainda que as exportações decresceram 2,4% no ano passado, devido a uma redução nas vendas para os mercados europeus, já que houve crescimento para países terceiros.
Portfolio Vinhos distribui Quinta do Pinto em Portugal

A Portfolio Vinhos, empresa distribuidora de vinhos nacionais e internacionais, estabeleceu uma parceria com a Quinta do Pinto para a distribuição exclusiva da marca em Portugal. “A Quinta do Pinto é um projeto que alia história, família, autenticidade e um compromisso com a qualidade que nos inspira”, explica Diogo Melo e Castro, diretor geral da […]
A Portfolio Vinhos, empresa distribuidora de vinhos nacionais e internacionais, estabeleceu uma parceria com a Quinta do Pinto para a distribuição exclusiva da marca em Portugal.
“A Quinta do Pinto é um projeto que alia história, família, autenticidade e um compromisso com a qualidade que nos inspira”, explica Diogo Melo e Castro, diretor geral da Portfolio Vinhos sobre a escolha, acrescentando que a parceria estabelecida, “para além de ser sinérgica e complementar às marcas que já representamos, é um projeto familiar de destacada qualidade, com o qual comungamos a paixão pelo negócio do vinho, que o entende com uma visão de longo prazo, passando conhecimento, tradições e valores às próximas gerações.”
A Quinta do Pinto é uma propriedade vinícola situada em Alenquer, na Região Vitivinícola de Lisboa, com uma área de mais de 120 hectares que inclui, para além da vinha e restante espaço agrícola, um solar do século XVII e uma adega de traça tradicional. Nos mais de 60 hectares de vinha da Quinta do Pinto há uma expressão clara de castas da região de Lisboa, como o Arinto, Fernão Pires, Tinta Miúda e Castelão, escolha natural num produtor de Alenquer, mas também existe uma fração de castas portuguesas de outras regiões, e de castas internacionais, ao gosto de António Cardoso Pinto, o produtor.
Com esta parceria, a Portfolio Vinhos passa a integrar, no seu catálogo os vinhos da Quinta do Pinto, disponibilizando-os a clientes do canal Horeca, garrafeiras e retalho especializado em todo o país.