A excelência num copo: os 30 melhores vinhos de 2019

Portugal é um país produtor de vinhos de excelência. E se alguém pode afirmá-lo com conhecimento de causa são os provadores da Grandes Escolhas: Dirceu Vianna Junior, João Afonso, João Paulo Martins, Luís Lopes, Mariana Lopes, Nuno de Oliveira Garcia e Valéria Zeferino. Ninguém, no nosso país, avaliou tantos vinhos e tão diversos quanto esta […]

Portugal é um país produtor de vinhos de excelência. E se alguém pode afirmá-lo com conhecimento de causa são os provadores da Grandes Escolhas: Dirceu Vianna Junior, João Afonso, João Paulo Martins, Luís Lopes, Mariana Lopes, Nuno de Oliveira Garcia e Valéria Zeferino. Ninguém, no nosso país, avaliou tantos vinhos e tão diversos quanto esta equipa que conjuga experiência e juventude, irreverência e sensatez, e tem como denominador comum o rigor, a isenção e o sentido de responsabilidade.
Quase 5.000 notas de prova, individuais e colectivas, foram sendo compiladas ao longo do ano, resultando na conclusão já esperada: os vinhos portugueses mostram uma qualidade média elevada, vincado carácter regional e, em muitos casos, aliam notável expressão de terroir à excelência qualitativa.
Identificar e premiar os vinhos que mais se destacaram em cada região ou categoria não foi por isso tarefa fácil; e, de entre estes, seleccionar o nosso Top 30, foi mais árduo ainda. Para levar a cabo esta missão de forma rigorosa e, tanto quanto possível, justa, estabelecemos critérios. Desde logo, não considerámos vinhos já premiados em anos anteriores. Depois, deixámos de fora os vinhos produzidos em quantidade inferior a 1000 garrafas. E, adicionalmente, para ser elegível para o exclusivo “clube” Top 30, o vinho em questão deverá ter sido provado e aprovado como merecedor por, pelo menos, três dos sete provadores.
Este ano fomos mais longe e optámos por escolher ainda o melhor entre os seus pares, nas categorias espumante, branco, tinto e fortificado. É este o vinho que vem em primeiro lugar, a abrir a categoria, sendo que os restantes entram por ordem alfabética.
São todos eles vinhos de primeira grandeza, vinhos de sonho que espelham o Melhor de Portugal.

(nota: os textos estão assinados no final com as iniciais dos nomes dos autores. A descodificação: J.A: João Afonso; J.P.M: João Paulo Martins; M.L: Mariana Lopes; N.O.G: Nuno de Oliveira Garcia; V.Z: Valéria Zeferino)

selo melhor do ano 2019 - espumanteMurganheira Esprit de la Maison Távora-Varosa Espumante branco 2011
Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa

Murganheira Esprit de la Maison Távora-Varosa Espumante branco 2011Nada neste vinho é normal ou corrente, e tudo foi pensado ao pormenor. Afinal de contas, referimo-nos ao novo espumante de topo da Murganheira, produtor com larga experiência e que já nos habituou a várias cuvées especiais. Desde logo, é unicamente comercializado na loja da empresa, e num formato Magnum (1,5 litros), o que lhe confere imediatamente uma aura de elitismo, a somar-se ao rótulo distinto e luxuoso que exibe. Depois, degorjaram-se apenas 1.000 garrafas, o que o torna uma preciosidade rara. Quanto ao vinho propriamente dito, trata-se de uma ‘assemblage’ apenas de Pinot – Noir, Blanc e Meunier – da colheita de 2011, um ano excelente para tintos, brancos e, já agora, para espumantes também. O perfil é de enorme requinte, com pressão média e bolha finíssima que se desfaz numa prova de boca cremosa. É apenas em Magnum e não é barato, mas é absolutamente fabuloso. N.O.G.

É o novo espumante de topo da Murganheira, que procura simbolizar toda a filosofia da casa e é unicamente comercializado na loja da empresa. Feito de uma “assemblage” de Pinot (Noir, Blanc e Meunier) revela profundidade e complexidade aromática impressionantes, com biscoito, brioche, citrinos, especiarias, entrelaçados num conjunto de enorme requinte. A fruta tem notável qualidade, a bolha finíssima desfaz-se na boca cremosa, o vinho brilha intensamente em frescura, sofisticação, classe. Degorjaram-se apenas 1.000 garrafas magnum desta preciosidade. (13%)

Vértice Douro Espumante Pinot Noir branco 2010
Caves Transmontanas

Vértice Douro Espumante Pinot Noir branco 2010Uma das duas mais requisitadas variedades da região francesa Champagne, Pinot Noir (sendo a outra o Chardonnay), serve de ferramenta às Caves Transmontanas para fazer um dos melhores espumantes portugueses, fácil de se bater com o que de melhor se faz lá fora a nível de bolhinhas. A Celso Pereira tira-se o chapéu, por se estar a tornar num dos maiores mestres nacionais de espumante, mostrando que esta é uma arte que, para atingir a grandiosidade, requer uma alta especialização e um talento que talvez não assista a todos. Isso e terroir, claro. Este Pinot Noir tem origem em solos graníticos de transição, a cerca de 550 metros de altitude, e estagia em garrafa durante mais do que 96 meses. M.L.

Degorjado em Maio de 2019. Cor ligeiramente salmonada, bolha finíssima. Aroma requintado com brioche, tosta, pastelaria e nuances de fruta vermelha. Harmonia e plenitude, cremosidade de mousse incrível, frescura profunda que persiste no elegante e saboroso final de boca com toque de framboesa. (13%)

selo melhor do ano 2019 - brancoParcela Única Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco 2017
Anselmo Mendes Vinhos

Parcela Única Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco 2017A presença recorrente do “Doutor Alvarinho” neste Top 30 não é por acaso. A cada ano que passa, Anselmo Mendes deixa um vinho (no mínimo) no topo das milhares de provas feitas na Grandes Escolhas. Os mais de 20 anos de estudo e experimentação com a casta, fizeram dele o maior conhecedor dela e o mentor que todos os jovens enólogos de Monção e Melgaço, e não só, querem ter. De uma só parcela, com cerca de dois hectares, surge este Alvarinho que prima pela elegância e precisão, cujas uvas são prensadas, inteiras e desengaçadas, muito suavemente. Depois, fermenta em barricas de carvalho francês e estagia nas mesmas durante sensivelmente nove meses, com bâtonnage, sobre borras totais. Uma ode ao Alvarinho desta sub-região. M.L.

As notas minerais invadem o aroma, amparadas por levíssimos fumados, fruta de enorme qualidade, toranja e tangerina em camadas. A boca revela um vinho ainda extremamente jovem, sem querer mostrar tudo, com sublime delicadeza e contenção. Textura cremosa cortada por acidez crocante, sólido e super-elegante ao mesmo tempo. No final, interminável, voltam as notas de pedra molhada, num registo pleno de brilho e distinção. Um branco perfeito, contido, que é quase crime beber agora. Vale o sacrifício de esperar mais três ou quatro anos por ele. (13%)

Grande Druida Homenagem João Corrêa Dão Encruzado branco 2017
C2O

Grande Druida Homenagem João Correa Dão branco 2017Nuno do Ó tem deixado a sua marca enológica em várias regiões. Foi em Bucelas que, na quinta da Romeira, trabalhou com João Corrêa, o enólogo entretanto falecido e agora muito justamente homenageado com este vinho. Depois disso encontramos o seu nome associado a vinhos de várias regiões, de norte a sul. O gosto pelo Dão levou-o também até às terras beirãs e, com a marca Druida, têm saído para o mercado vinhos cheios de carácter e alma, algo que, estamos certos, muito agradaria a João Corrêa. Aqui, Nuno expressa o terroir específico do Dão, trazendo-nos um branco notável que nos recorda que esta é uma das melhores zonas do país vinhateiro para fazer vinhos brancos que podem durar anos em cave. J.P.M.

Absolutamente primoroso no aroma, muitas notas de sílex, citrinos frescos, vegetal seco, tudo com grande pureza e presença. Na boca revela imenso carácter, com grande cremosidade cortada por vibrante acidez, notas de casca, toranja, suave especiaria, sugestão de fumo. Tenso, longo, distinto, é um branco de enorme sofisticação, feito para crescer ao longo de muitos anos. (12,5%)

Quinta do Regueiro Jurássico Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco
Quinta do Regueiro

Quinta do Regueiro Jurássico Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho brancoNeste projecto não há pressa em nada, o tempo é que faz o seu trabalho. A primeira vinha de Alvarinho foi plantada em 1988 e o primeiro vinho lançado no mercado 10 anos mais tarde, em 1999. Tudo começou com 2 hectares de vinha, hoje já existem 6 hectares plantados e mais 6 através de contratos de longa duração.
Este vinho, absolutamente invulgar, quer na forma de ser feito, quer nas suas características organolépticas. Resulta de um lote de vinhos das colheitas de 2007, 2008, 2009 e 2010, estagiados apenas em inox para mostrar o potencial da região e a capacidade de evolução da casta, mesmo sem estágio em barrica. Foi lançado no ano passado, em que a marca comemora os seus 20 anos. V.Z.

Resulta de um lote de vinhos das colheitas de 2007, 2008, 2009 e 2010, conservados em inox. É um vinho tremendo, desde logo pela complexidade aromática, misturando sugestões de casca de laranja, tangerina, gengibre, resinas, iodo, um leve toque apetrolado. Muito rico e profundo, servido por acidez generosa e crocante, com final elegante e interminável, um verdadeiro hino à casta e à região. (13%)

Série Ímpar Bairrada Sercialinho branco 2017
Sogrape Vinhos

Série Ímpar Bairrada Sercialinho branco 2017Este é o primeiro vinho de uma linha muito especial. Tudo começou quando Fernando da Cunha Guedes, presidente da Sogrape, desafiou os seus enólogos a criar vinhos diferenciadores, que aliassem criatividade a elevada qualidade, sem qualquer constrangimento comercial ou financeiro. Surgiu assim a Série Ímpar, ideia abraçada com muita vontade pelos profissionais da empresa, a laborar em várias regiões do país. Este branco Bairrada, nascido da Quinta de Pedralvites, é a criação do enólogo António Braga com o apoio de Paulo Prior, o residente na adega desta região. Em 2.5 hectares de solo argilo-calcário, cresce o Sercialinho que fermentou em barricas usadas, para se tornar num branco que encaixa perfeitamente no “pedido do patrão”: único e brilhante. M.L.

A pele das uvas Sercialinho é quase laranja e origina por isso um vinho de cor limão maduro. O aroma é intenso, complexo e elegante, muito centrado nas notas citrinas, frutos secos, erva caril. A presença de boca é brilhante, com corpo cheio e untuoso cortado por crocante acidez limonada. Enorme equilíbrio e firmeza, imenso sabor, longuíssimo final. (12,5%)

selo melhor do ano 2019 - tintoQuinta do Crasto Vinha Maria Teresa Douro tinto 2016
Quinta do Crasto

Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa Douro tinto 2016A vinha Maria Teresa é um tesouro centenário de 4.7 hectares, plantado em socalcos e com exposição nascente, na Quinta do Crasto. Naturalmente, podem encontrar-se nela 49 variedades misturadas. A baixa altitude e com raízes que atingem dezenas de metros de profundidade, a vinha Maria Teresa tem uma média de produção, por videira, de 300g de uvas, uma baixíssima produtividade que gera um nível de concentração muito rico e uvas de grande qualidade. Em anos excepcionais, essas uvas originam este magnificente vinho homónimo, que na colheita de 2016 estagiou em barricas de carvalho novas (90% de carvalho francês 10% carvalho americano) durante 20 meses. O lote final resulta, ainda, de uma selecção primorosa dessas barricas. Um estrondo de vinho tinto, o arquétipo da elegância. M.L.

Impressiona desde logo pela excelente profundidade aromática, com enorme complexidade e qualidade, fruto silvestre, arbusto, esteva, muita especiaria, um leve floral superelegante. O vinho revela uma grande estrutura tânica de taninos maduros, com leves amargos, fantástica textura e cremosidade combinada com bastante frescura, numa mistura de equilíbrio, classe e personalidade que roça a perfeição. Um Douro grandioso, brilhante. (14,5%)

Aeternus Douro tinto 2017
Quinta Nova N. Senhora do Carmo

Aeternus Douro tinto 2017O nome diz tudo, Aeternus… Inspirado na vida e no legado do empresário Américo Amorim, e fruto da colheita do ano que o viu falecer, é a homenagem ao patriarca e a comemoração dos 20 anos da família Amorim no negócio do vinho. São apenas 3.566 de um vinho verdadeiramente topo de gama num projeto que já constava com outros grandes tintos (Mirabilis e dois Grande Reserva), o que diz muito da sua qualidade. Provém da Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, de uma vinha centenária com 2.5 há. virada a sul, na margem direita do Douro entre a Régua e o Pinhão. O lote é composto por várias castas típicas da região, incluindo preciosidades quase históricas como Tinta Carvalha, Rufete e Alicante Bouschet. Dado o seu carácter mais aberto e delicado, optou-se por um estágio com grande percentagem em barrica usada. Temos aqui um tinto muito afinado, fruto do desejo de Luísa Amorim, do labor da equipa de viticultura liderada pela Ana Mota e da competência entusiasmada do enólogo Jorge Alves. N.O.G.

Oriundo de uma vinha centenária, impressiona desde logo pela fantástica qualidade da fruta, bagas silvestres, amoras, framboesas, desdobrando-se em camadas, acompanhadas de notas de esteva, menta, cacau amargo, flores campestres. A textura e cremosidade de boca são fantásticas, com taninos maduros de enorme polimento, apesar da óbvia juventude. Equilíbrio ácido perfeito, muita classe e sofisticação. (14,5%)

Carlos Lucas & Carlos Rodrigues Dão tinto 2015
Magnum-Carlos Lucas Vinhos

Carlos Lucas-Carlos Rodrigues Dão tinto 2015Os dois enólogos que dão nome ao vinho têm já muitos anos de profissão, tendo acompanhado a renovação da enologia que se operou em Portugal nos anos 90. Essa mudança, que se estendeu a várias regiões, apanhou Carlos Rodrigues na Bairrada e Carlos Lucas no Dão, regiões vizinhas que, apesar da proximidade, fazem vinhos diferentes. A vizinhança levou-os, no entanto, a interessarem-se por outros vinhos e esta colaboração é disso um bom exemplo. Carlos Lucas está agora mais centrado na região de origem, com um portfólio alargado de vinhos do Dão, região que nos traz os melhores exemplares de algumas das mais conceituadas castas nacionais, quer em brancos quer em tintos. As parcerias querem-se assim. J.P.M

Surpreendentemente jovem na cor e no aroma, com fruta silvestre de elevada qualidade, suaves fumados e especiarias, leve floral, um toque de cassis, caruma. A textura de boca é um espanto, muita cremosidade envolvendo taninos sólidos, mas maduros, com imprevista acidez a dar muita vibração, frescura e persistência. Grande vinho. (14%)

Cortes de Cima Reg. Alentejano Reserva tinto 2014
Cortes de Cima

Cortes de Cima Reg. Alentejano Reserva tinto 2014Um dos grandes clássicos do Alentejo, produzido apenas em anos de excelência. Hans e Carrie Jorgensen chegaram a Portugal em 1988 e descobriram “Cortes de Cima” na zona de Vidigueira no Alentejo, terras, onde resolveram criar a sua segunda casa. Plantaram as castas tintas, onde se plantava habitualmente, brancas, porque acreditaram no seu projecto.
Lote de cinco castas: Aragonez, Syrah (e foram eles a introduzir esta casta no Alentejo), Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Touriga Franca. Antes da fermentação ocorre uma longa maceração pelicular. Segue o estágio de 14 meses em barricas de carvalho francês e 10% de carvalho americano. V.Z.

Aragonez, Syrah, Touriga Nacional, Petit Verdot. Fruto vermelho de enorme qualidade, balsâmicos, toque vegetal seco, terra húmida, musgo, cogumelos shitake. Equilíbrio perfeito entre taninos, corpo, acidez, enorme frescura de boca, sofisticado, com classe, todo ele integrado e elegante. (14%)

Estremus Reg. Alentejano tinto 2015
J. Portugal Ramos Vinhos

Estremus Reg. Alentejano tinto 2015Este é, sem dúvida, um vinho muito especial desde a origem. É certo que João Ramos dispensa apresentações, sendo um dos responsáveis pela revolução dos vinhos em Portugal sentida nos anos ’80 e ’90 do século passado. Mas, na verdade, este tinto provém de uma vinha única, plantada na encosta do castelo de Estremoz e com uma beleza extrema e enorme fotogenia (uma das mais belas do país). Tem 25 há. e data de 2001, tendo sido escolhido para este tinto apenas a parcela – somente 1,5 há – na zona mais alta da encosta onde mais mármore se encontra à superfície. Com as tradicionais Trincadeira e Alicante Bouschet, em iguais proporções, fermentação em lagares feitos de mármore tal como o solo onde nasceu, João Ramos decidiu produzir um tinto único, naturalmente assente numa pequena produção (4 toneladas por ha). São 3.288 garrafas preciosas e raras, onde a fruta se destaca pela beleza e os taninos pela sofisticação. N.O.G.

Com Trincadeira e Alicante Bouschet, duas uvas clássicas do Alentejo, pisado e fermentado em lagares de mármore. A fruta é de enorme qualidade, assente em notas de groselhas pretas e amoras, ligada por muito discretos fumados e especiarias da barrica. Os taninos de seda estão perfeitamente envolvidos pelo corpo cheio, a que a fina e vibrante acidez do Alicante empresta leveza e frescura. As típicas notas de vegetal seco da Trincadeira conferem-lhe evidente carácter alentejano, sem sombra de rusticidade, antes um notável equilíbrio e elegância que perduram no muito longo final. Com tudo no sítio certo, um tinto de puro prazer. (14%)

Ganita Reg. Lisboa tinto 2015
Quinta do Gradil

Ganita Reg. Lisboa tinto 2015A região de Lisboa é extensa e tem sido o cadinho de múltiplas experiências vínicas. A quinta do Gradil é um dos grandes operadores da região e os seus vinhos reflectem exactamente esse ambiente de experiência e vontade de inovar. Este tinto surge um pouco nessa linha, optando, num trio de castas, por uma pouco vulgar entre nós, a Tannat que, embora francesa, foi no Novo Mundo (Uruguai) que brilhou. Difícil a solo, é casta que, no entanto, é uma boa parceira em conjunto com outras. A região permite quase tudo, jogando com orientação solar, diferenciação de solos, formas de condução e técnicas enológicas diferentes. Tudo com o mar bem perto, o que lhe confere o seu traço dominante, a frescura. J.P.M.

Alfrocheiro, Touriga Nacional e Tannat, constituem uma pouco vulgar mistura de castas, mas que resulta maravilhosamente neste tinto que combina a fruta madura e a nuance floral das variedades portuguesas com a textura e músculo da francesa, tudo isto envolvido pela frescura atlântica deste terroir. Apesar do tempo de estágio, está extremamente jovem ainda, escuro e concentrado, vigoroso e opulento, com menta e pimenta no final muito longo e refrescante. Um grande tinto, que não liga a modas, e que continuará connosco ao longo das próximas décadas. (14,5%)

Gene Bairrada tinto 2007
Kompassus Vinhos

Gene Bairrada tinto 2007Já não é a primeira vez que o produtor João Póvoa tira “coelhos da cartola” (se me permitem a expressão!?). O primeiro foi o Quinta de Baixo Garrafeira 1991 (re)lançado em 2016 e que nos espantou pela robustez e juventude, esgotando pouco tempo depois de ser posto à venda. Este ano é o Gene que comprova a capacidade do legado genético deste produtor para fazer vinhos admiráveis que nos continuam a surpreender muitos anos depois de serem engarrafados. Este tinto, que em 2007 João Póvoa acreditava que seria o último da sua carreira, deu origem, 12 anos depois, a um lançamento único com uma apresentação inovadora e com um conteúdo absolutamente extraordinário. Um tinto inesquecível, uma autêntica e irrepetível raridade. J.A.

Muito escuro de cor. No aroma a dupla barrica desapareceu por completo, obliterada pelo vinho. Extremamente complexo, carnudo e profundo. Caixa de charuto, cravinho, pimenta, amoras silvestres, levíssima nota de cacau. Na boca é gordo, mas imensamente fresco, taninos fantásticos, muita especiaria, excelente acidez e frescura, longuíssimo e clássico final. Sublime. (14%)

Gloria Reynolds Cathedral Reg. Alentejano tinto 2004
Reynolds Wine Growers

Gloria Reynolds Cathedral 2014A aposta de Julian Reynolds, e do seu enólogo Nelson Martins, em entregar os vinhos ao mercado com muitos anos de estágio, origina tintos como este Gloria Reynolds Cathedral, um autêntico monumento em forma de garrafa. Julian sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à dos seus antepassados. De Alicante Bouschet em maior parte (a uva porta-estandarte da Reynolds) e Trincadeira, o Cathedral é um dos lotes do vinho Gloria Reynolds (nome da sua mãe) que Julian manteve na adega para um lançamento tardio, 12 anos depois. E se valeu a pena… Evoluído de forma perfeita, mas ainda com muito para dar, é um autêntico portento, um tinto super-complexo, apaixonante. M.L.

Aroma quase jovem, com leves notas de mogno, frutos compotados e também secos. Muito fresco e bem vivo, está ainda nervoso com acidez para durar, chega a todos os cantos do palato e por lá fica. Um grande vinho, pleno de qualidade, sabor e finesse, potente. Excelente no estilo clássico. (13,5%)

Lavradores de Feitoria Três Bagos Douro Grande Escolha tinto 2015
Lavradores de Feitoria

Três Bagos Grande Escolha 2015A Lavradores de Feitoria, apesar dos seus 20 anos, mantém-se um projeto único, resultante da união de 15 produtores, proprietários de 18 quintas distribuídas pelas três sub-regiões do Douro (Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior). Ano após ano, vários vinhos da Lavradores de Feitoria merecem destaque da crítica. A par do Meruge (branco e tinto) e clássico Sauvignon Blanc (quase um precursor na região), tem sido o topo de gama tinto Grande Escolha o vinho que, desde a sua estreia em 2000, tem merecido mais elogios. Com origem em vinhas velhas, todas com mais de 60 anos provenientes das quintas da Costa, Mata e Estrada, o enólogo Paulo Ruão (que é o responsável por este tinto desde 2004) criou um vinho assente em mineralidade e profundidade na prova de boca. Num ano de grande qualidade para o Douro, e após uma afinação longa em barrica nova e em garrafa, este Grande Escolha é um dos vinhos mais irresistíveis do Douro! N.O.G.

Tem origem em vinhas velhas. Mostra tremenda complexidade aromática, onde a mineralidade é sentida, onde a fruta é madura, com bagas negras e algumas notas balsâmicas, sempre com distinta elegância. O ambiente na boca é de enorme harmonia e profundidade. Conjunto notável, de absoluto polimento, repleto de sabor. (14,50%)

Palácio dos Távoras Gold Edition Trás-os-Montes Grande Reserva tinto 2016
Costa Boal Family Estates

Palácio dos Távoras Gold Edition Trás-os-Montes Grande Reserva tinto 2016O projecto da Costa Boal Family Estates abrange as duas regiões – Douro e Trás-os-Montes e consiste em recuperação de vinhas da família. A responsabilidade enológica recai sobre o já conceituado enólogo Paulo Nunes.
Este vinho resulta de uma parcela específica de uma vinha velha com 50-60 anos perto de Mirandela, onde, para além de Alicante Bouschet, encontra-se uma grande percentagem de Baga, o que não é muito comum nas vinhas em Trás-os-Montes. Na adega repararam que a uva desta parcela tinha características analíticas diferentes (pH mais baixo). Fermentou em lagares com algum engaço e estagiou 16 meses em barrica nova. A edição é limitada a 1.145 garrafas e mais 115 magnum. V.Z.

Oriundo de pequena parcela de vinha velha. Aroma refinado e complexo que merece uma prova atenta. Revela amora madura, pasta de azeitona preta, tomilho, cominho e pimenta preta, alguma noz moscada e notas de terra. Entra em grande, com potência e afirmação de estrutura e tanino, deixando acidez e elegância a brilhar no fim. Fruta fresca e especiaria persistem no sabor com muita personalidade. (14,5%)

Pintas Douro tinto 2017
Wine & Soul

Pintas Douro tinto 2017Com sede e centro de operações em Vale de Mendiz, a Wine & Soul tem vindo, paulatinamente a alargar o seu portefólio e agora a consolidá-lo. O primeiro vinho foi o Pintas, da colheita de 2001, depois surgiram outros tintos, brancos e Portos. Apesar de todas as vinhas para os tintos se encontrarem exclusivamente no Vale de Mendiz, não muito distante da Vila do Pinhão, mas com maior altitude, as várias referências apresentam características diferentes. A vinha que origina o Pintas permite sempre maturações muito intensas, graças à sua exposição e idade vetusta. Depois de mais de 15 edições, e na edição de 2017 (bem diferente da de 2016, com maior concentração no centro de boca e final mais pujante) todos os vinhos do produtor voltaram a brilhar, mas o Pintas mais uma vez destacou-se pela profundidade da prova de boca e complexidade aromática. Cada vez mais fino e quase inalcançável no perfil polido e generoso, o Pintas 2017 mantém-se um dos melhores de Portugal. N.O.G.

Aroma muito complexo, com alguma opulência de fruta vermelha e negra com a barrica especialmente bem inserida. Impressiona enormemente os sentidos, mas sem ser impositivo, o que é muito bom. Tem perfeita elegância de boca, taninos muito finos, mas ainda bem presentes, deixando um final acetinado, longo e com frescura. Notável. (14,5%)

Quinta da Pellada “Mata” e “Casa” Dão tinto 2015
Quinta da Pellada

Quinta da Pellada Lote Mata e Casa Dão tinto 2015Há 30 anos que Álvaro Castro nos vem mostrando o que de melhor a região do Dão tem para oferecer. Isto é válido quer para brancos quer tintos e Álvaro tira partido de pequenas parcelas onde muitas vezes com inúmeras castas diferentes misturadas na vinha, consegue obter vinhos de grande complexidade, muito originais e que nos relembram que do lote de muitas castas também se conseguem obter vinhos ricos e singulares. Álvaro Castro tem desenvolvido um grande esforço de preservação das vinhas velhas e também de reprodução, a partir de velhas cepas, de variedades que fizeram história no Dão, mas que hoje estão quase esquecidas. A região e os consumidores só têm a beneficiar com isso. J.P.M.

Vinho oriundo de duas parcelas de vinha com 69 anos, 48 castas identificadas. Excelente complexidade aromática, fruto bonito e muito puro, mato, cogumelos, flores do bosque, num registo ainda bem jovem. Perfeito polimento de taninos, enorme subtileza, mas ao mesmo tempo bastante sabor, cheio de delicadeza e classe. (13%)

Quinta das Bágeiras Pai Abel Bairrada tinto 2013
Mário Sérgio Alves Nuno

Quinta das Bágeiras Pai Abel Bairrada tinto 2013De uma vinha de 0.6 hectares em solo argilo-calcário, a vinha Costeira, nasce este Pai Abel de Baga e Touriga Nacional, castas que estão misturadas na parcela, num rácio de 80% para 20%. A produção é limitada a três cachos por videira, para replicar o comportamento de uma vinha centenária e as estas uvas fermentam com engaço durante uma semana em lagar aberto, e durante esse tempo são feitas remontagens com maços compridos de madeira, várias vezes ao dia. O vinho estagia em barricas usadas de Borgonha, passando depois para um tonel de madeira antes de ser engarrafado. O pai de Mário Sérgio, Abel, pode ser visto a equilibrar-se em cima destes mesmos lagares a fazer a remontagem, e isso é só mais um motivo para que lhe seja dedicado este tinto de classe mundial. M.L.

Baga (80%) e Touriga Nacional (20%) de mãos dadas num perfil sumamente elegante. Fruta de enormíssima qualidade, pimenta, especiaria, erva seca, musgo. Os taninos são perfeitos, fortes, mas polidos com esmero, a acidez vibra e potencia todo o conjunto com brilhante frescura quase salina. Um Pai Abel de imprevista sofisticação, mas que nunca perde o carácter da terra nem o tom austero e clássico da marca. Um tinto absolutamente notável. (13,5%)

Quinta do Noval Douro Reserva tinto 2016
Quinta do Noval

Quinta do Noval Douro Reserva tinto 2016É um nome icónico no Douro e no horizonte de vinhos de Portugal. O Quinta do Noval Reserva é o ex-libris dos vinhos tranquilos da casa.
O 2016 foi um ano de extremos. Após uma Primavera chuvosa, o Verão apresentou-se muito quente e seco, com alguns picos extremos de calor em Agosto e Setembro. Em meados de Setembro caiu chuva necessária para a maturação prosseguir em condições ideais. A vindima decorreu com tempo seco e muito sol.
A Touriga Nacional é responsável pelos 60% do lote, acompanhada pelos 25% de Touriga Franca e 3% de Tinto Cão. O estágio decorreu em barricas de carvalho francês durante 10 meses, das quais 40 % eram barricas novas. V.Z.

Concentrado e rico, num registo menos denso e escuro do que em anteriores edições, está aqui muito bem trabalhada a fruta com a madeira, com fantástica frescura de fruta negra e erva seca. Muito bem esculpido na boca, com grande polimento de taninos, mas sem perder a garra e carácter. Um tinto cheio de futuro, mas já com muito presente. (13,5%)

Quinta do Vale Meão Douro tinto 2017
F. Olazabal & Filhos

Quinta do Vale Meão Douro tinto 2017No ano passado a Quinta do Vale Meão comemorou os 20 anos da marca. No lote deste vinho predominam Touriga Nacional (55%) e Touriga Franca (40%), acompanhadas por Tinta Barroca e Tinta Roriz, vinificadas separadamente. É pisado a pé em lagares durante apenas 4 horas e depois transferido para cubas de pequena capacidade para fermentar com adição de 10% de engaço. Estágio ocorre em barricas de carvalho francês de 225 litros, das quais 60% são novas e 40% de segundo ano.
O ano foi extremamente quente e seco, com valores muito baixos de água nos solos, originando uma antecipação de cerca de três semanas no ciclo. A vindima foi antecipada, mas deu resultados bastante interessantes do ponto de vista enológico. V.Z.

Muito fino no aroma, a fruta está muito presente, com a madeira superiormente inserida no conjunto, polido e delicado, mas sem perder concentração. Esta é uma característica recorrente neste vinho. Sedutor na prova de boca, com textura macia, mas nervosa, em virtude de taninos bem delicados. Um enorme Douro. (14%)

Quinta do Vallado Field Blend Douro Reserva tinto 2017
Quinta do Vallado

Quinta do Vallado Field Blend Douro Reserva tinto 2017De todos os tintos da vaga moderna duriense este Quinta do Vallado Reserva mantém, desde o início, uma enorme identidade regional, aliada a uma frescura e profundidade pouco habitual entre os grandes tintos do Douro. Em prova cega este é um tinto que rapidamente nos fala das características da região que o faz nascer. Nunca são vinhos de estilo ‘fashionable’, antes sim vinhos com uma solidez de carácter admirável.
Vem de uma vinha velha com cerca de 34 diferentes castas onde predominam Tinta Roriz, Tinta Amarela, Touriga Franca e Tinta Barroca. Estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês (60% usadas) e encheu 41.500 garrafas de 075L e 800 de 1,5L. Uma boa maquia de um grande vinho tinto. J.A.

Concentrado na cor, mas não opaco, excelente nota vegetal e resina ao lado de fruta viva de enorme qualidade, com ameixas vermelhas e cerejas negras. Super elegante e sofisticado na boca, com textura e taninos finos, belíssima frescura, predomina a elegância sobre a potência num conjunto de excelência. (14,5%)

Scala Coeli Reg. Alentejano Alicante Bouschet tinto 2016
Fundação Eugénio de Almeida

Scala Coeli Reg. Alentejano Alicante Bouschet tinto 2016Produzido pela primeira vez em 2008, o vinho Scala Coeli, nome original do mosteiro que é hoje conhecido como Mosteiro da Cartuxa, resulta daquilo que a equipa enológica da Fundação Eugénio de Almeida, liderada por Pedro Baptista, considera como as melhores vinificações de cada ano. Em 2016, isso verificou-se com este Alicante Bouschet de grande categoria, em solos de granito, que foi vindimado a 11 de Outubro, sofreu maceração pré-fermentativa e estagiou dezasseis meses em barricas novas de carvalho francês, que estão genialmente integradas no vigor e profundidade deste tinto fenomenal. Pegar numa casta que tem uma rusticidade natural e conferir-lhe este perfil equilibrado e elegante, não é para todos. M.L.

Nariz de pendor levemente vegetal e também com pimento, cacau, num aroma profundo que adivinha também profundidade de boca. Excelente textura, vigoroso, mas muito fresco, mineral e quase citrino. Uma versão da casta que nada tem de rusticidade, mas tudo de poder, com grande vibração e equilíbrio. Um vinho quase interminável, ainda extremamente jovem. (15%)

Tapada de Coelheiros Reg. Alentejano Garrafeira tinto 2012
Herdade de Coelheiros

Tapada de Coelheiros Reg. Alentejano Garrafeira tinto 2012Nome incontornável dos vinhos alentejanos nos anos 90, a herdade de Coelheiros sempre incluiu nos encepamentos algumas castas francesas entre as quais se contam a Chardonnay e a tinta Cabernet Sauvignon. Esta variedade bordalesa tem o grande mérito de ser perfeita em climas e solos variados, podendo originar vinhos que se tornam referência. Foi o caso dos Coelheiros onde ligada, com é este o caso, com Aragonez, gera um tinto de grande riqueza e concentração, daqueles que têm tudo para viver em cave. O clima quente, a maturação lenta e a grande resistência às maleitas da vinha, fazem da Cabernet a casta que todos querem. Gera vinhos bons e, ocasionalmente, está na base de tintos notáveis. É o caso. J.P.M.

Cabernet Sauvignon e Aragonez de vinha plantada em 1981. A cor intensa revela que o tempo mal passou por ele, o aroma mostra uma evolução perfeita, com enorme profundidade e complexidade, muita pimenta e noz moscada, bagas maceradas, musgo e vegetais secos. Na boca sente-se um vinho austero e muito sério, com taninos vigorosos, mas perfeitamente domados pelo tempo e pela sólida estrutura. Rico e requintado, com leves amargos a dar garra e muita frescura no final interminável. (14,5%)

selo melhor do ano 2019 - fortificadoTaylor’s Vargellas Vinha Velha Porto Vintage 2017
Taylor Fladgate & Yeatman

Taylor’s Vargellas Vinha Velha Porto Vintage 2017Vem de uma das quintas mais famosas de todo o vale do Douro. A sua impressionante arquitectura de terraços e a grande área de vinha velha neles plantada, fazem dela uma autêntica “jóia da coroa” do sector Vinho do Porto. Para a feitura deste Porto inexcedível são seleccionadas as uvas das 4 parcelas de vinha com maior estatuto de qualidade da Quinta: Polverinho, Renova do Depósito, Renova do Armazém e Gricha. No total somam apenas 2% da produção total. Este vinho Vargellas Vinha Velha (feito, na minha perspectiva, numa filosofia do mais puro hedonismo) representa a selecção da selecção. As uvas desta Quinta são a base do famoso Vintage Taylor’s e este Taylor’s Vargellas Vinha Velha é o seu, não menos magnífico, alter ego. J.A.

O aroma apresenta um forte lado vegetal, abundantes notas de esteva, de urze, leve menta e muita pimenta. A fruta está guardada, mas surge na boca fruta negra de amoras e ameixas e uma sensação química a revelar a austeridade do vinho. Enorme concentração de sabor, um vinho que se mastiga, e onde taninos vigorosos lhe asseguram longa vida. Absolutamente notável. (20%)

Alambre Moscatel de Setúbal 20 anos
José Maria da Fonseca

Alambre Moscatel de Setúbal 20 anosA José Maria de Fonseca é uma empresa incontornável na Península de Setúbal. Continua a ser de cariz familiar, nas mãos da 6ª e 7ª geração da família.
Este Moscatel de Setúbal demonstra uma enorme harmonia, proveniente de vários factores, a começar pela casta Moscatel de Setúbal com grandes propriedades aromáticas, enfatizadas pelos 5 meses de maceração pelicular depois de adição de aguardente ao mosto. O estágio oxidativo em madeira usada confere complexidade, mantendo, ao mesmo tempo, uma frescura aromática. O profundo equilíbrio vai da arte de fazer blend. Este vinho é um lote de 6 colheitas em que a colheita mais nova tem pelo menos 20 anos e a mais antiga data de 1911. V.Z.

Engarrafamento de 2019. Muitos tons esverdeados quando se agita o vinho no copo, enorme riqueza aromática, com farripa de laranja, frutos secos, compotas e mel, mas sem que se perca a frescura e elegância. Muito bom volume de boca, com uma acidez muito refrescante, um moscatel acetinado, gordo e macio que deixa um rasto citrino que se prolonga muito no final. Um grande exemplo da casta e da região. (18%)

Bacalhôa Setúbal Moscatel Roxo Superior 20 anos 1998
Bacalhôa Vinhos

Bacalhôa Moscatel Roxo Setúbal Superior 20 Anos 1998A casa Bacalhôa tem vindo a habituar os seus consumidores a moscatéis com um perfil muito rico e exuberante, sempre generosos na entrega e no prazer. Nesse campeonato, o Moscatel Roxo reina muito alto, proporcionando sempre néctares de incrível complexidade e magnifica cor âmbar. Existem no produtor lotes com classificação de Superior e indicação do ano lançados mais novos com grande qualidade, mas têm sido, sobretudo, os lotes de 20 anos da casa, também com ano de colheita, a revelar-se sempre ao melhor nível da região. Este 1998 vem na sequência das quatro edições anteriores, 1997, 1996, 1995 e 1983. Está pronto a beber, mas grande mal não lhe virá se só o abrir daqui a algum tempo. A melhor notícia é que continuam em estágio barricas com a mesma colheita de 1998 que poderão originar futuros engarrafamentos, quem sabe um 30 e/ou 40 anos. N.O.G.

Enorme profundidade e complexidade aromática, casca de laranja cristalizada, flor de laranjeira, passa de Corinto, anis estrelado. Perfumado, combina de forma majestosa uma grande untuosidade e textura de boca com uma finíssima acidez citrina. Muito rico, vibrante, concentrado e leve ao mesmo tempo, de extrema harmonia no final intenso e interminável. Sublime. (20,5%)

Barbeito Madeira Frasqueira Sercial 1993
Vinhos Barbeito

Barbeito Madeira Sercial Frasqueira 1993A casta Sercial (Esgana Cão de Bucelas) é uma das castas mais atraentes na ampelografia nacional. Na Madeira, a sua dimensão nos vinhos que produz dilata-se de forma quase incompreensível originando nos melhores casos, vinhos de uma concentração, impacto e intensidade de prova tão inesperados quanto admiráveis. Este Frasqueira Sercial 1993 é um destes exóticos e insondáveis vinhos. Vem da costa Norte, de vinhas muito próximas da povoação do Seixal, propriedades da descendência de Manuel Eugénio, partidista que fornece uvas e vinhos das castas Sercial e Verdelho à Barbeito desde a sua fundação. A paisagem onde se enquadram esta vinhas únicas transmite uma força impressionante a quem dela desfruta. O vinho corresponde na integra ao que vemos e sentimos. J.A.

Potente e com grande impacto aromático. Frutos secos, cravinho, caixa de charuto, leve vinagrinho, resina, verniz. Muito seco e cortante na boca, secura angulosa e salivante, muito profundo, salino e iodado, longuíssimo e largo final. Um Sercial de barba rija. (20%)

Graham’s The Stone Terraces Porto Vintage 2017
Symington Family Estates Vinhos

Graham’s The Stone Terraces Porto Vintage 2017Verdadeira “essência” de vinho do Porto Vintage é, no final de contas, o bilhete de identidade deste Porto. Acontece em 2011, 2015, 2016 e 2017. Vem de duas pequenas parcelas de vinha em socalco junto à casa da Quinta de Malvedos: Parcela 43 (antiga Port Arthur), voltada a nascente (1,2 ha) e vinha dos Cardanhos, voltada a Norte (0,6 ha). Socalcos altos, construídos à força de braço no século XVIII, quase todos apenas com um bardo de vinha, produzem a uva desta quintessência. São parcelas protegidas do Sol poente, mais agressivo, com produções reduzidas e extremamente equilibradas. E não há segredos; para se fazer grandes vinhos temos de ter sempre grandes uvas. E é esta a grande proeza destes Stones Terraces. J.A.

Extremamente concentrado, mas sem perder elegância. Figo, leve noz, resina de cedro, esteva, chocolate, citrino e alguma salvia. Extremamente aromático e complexo. Na boca é largo, cheio e profundo, com taninos vigorosos, extremamente sedosos. Muito complexo, muito longo e espantosamente sedutor. (20%)

Vista Alegre Porto Colheita 1969
Vallegre Vinhos do Porto

Vista Alegre Porto Colheita 1969Um Porto Colheita com 50 anos é sempre um vinho do qual esperamos muito. O tempo de casco, os cuidados que lhe são prestados e a atenção ao pormenor, fazem destes vinhos um perfeito companheiro do serão. Se por um lado o ano de origem do vinho já não é perceptível em virtude da oxidação a que foi sujeito, por outro este é o verdadeiro representante do Porto de outrora, do Porto que qualquer lavrador gostaria de ter na sua cave e que guardaria religiosamente. Engarrafado anualmente em pequenas quantidades, o Colheita é um vinho-bandeira para uma empresa e a Vallegre não foge à regra. Complexidade, enorme riqueza, textura de veludo, tudo aqui temos em dose perfeita. Um Colheita de sonho. J.P.M.

Muito rico, intenso e complexo de aroma, com toque de volátil, aromas concentrados de frutos secos, licores de ervas, tofa. Impressiona muito no nariz, sugerindo ser bem mais velho. Excelente presença de boca, profundo e aveludado na textura, untuoso e envolvente, de sabor interminável, um Colheita de enorme categoria, qualquer que seja o ângulo de apreciação. (21,5%)

Ervideira abre 3 lojas: em Fátima, Lisboa e Castelo de Vide

Ervideira Wine Shop

É sem dúvida uma estratégia inovadora a aquela que a Ervideira tem seguido. A empresa de Duarte Leal da Costa e família tem apostado como nenhuma (ou quase) na promoção da marca e venda directa aos enófilos através de lojas físicas. Até agora manteve-se na própria região de origem, na zona centro do Alentejo (Évora, […]

É sem dúvida uma estratégia inovadora a aquela que a Ervideira tem seguido. A empresa de Duarte Leal da Costa e família tem apostado como nenhuma (ou quase) na promoção da marca e venda directa aos enófilos através de lojas físicas. Até agora manteve-se na própria região de origem, na zona centro do Alentejo (Évora, Monsaraz e na própria adega). Chegou agora a vez de Duarte cumprir o que andava a prometer, que era de abrir lojas em Lisboa, Fátima e Castelo de Vide. Três destinos, aliás, onde a presença turística é muito forte.
“Estas não são lojas para a distribuição e nem sequer especialmente dedicadas à comercialização”, disse-nos Duarte Leal da Costa. “O nosso maior intuito é promover a marca e os vinhos da casa”. Ou seja, Enoturismo. E sem conflituar com os preços vigentes em outras lojas de vinho. De facto, nas lojas da Ervideira, os preços não ficam abaixo dos existentes em outras superfícies comerciais, como lojas de retalho generalistas e garrafeiras. Mas, em contrapartida, nestas lojas da Ervideira o cliente tem hipótese de provar os vinhos antes de os comprar e, inclusivamente, fazer provas com vários vinhos, a preços que Duarte considera serem “muito acessíveis”. Ou seja, compra os vinhos de que mais gosta.

A loja de Fátima foi a primeira a ser inaugurada. Localizada muito perto do Santuário, no número 410 da Avenida Beato Nuno. A escolha de Fátima prende-se com o turismo: “só no ano passado mais de 8 milhões de pessoas passaram por aquela localidade”, realça Duarte Leal da Costa. A loja tem um horário que vai das 10 às 18 horas, todos os dias do ano. O horário estende-se às outras lojas, mas Duarte irá avaliar a breve trecho se terá de os estender, pelo menos na loja de Lisboa, localizada no bairro do Restelo, ao lado do estádio com o mesmo nome. Em Lisboa, os horários dos turistas/enófilos estendem-se muitas vezes para lá das 18 horas e a proximidade do espaço a dois pontos turísticos como o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém ajuda a compreender esta necessidade. Esta loja irá abrir este fim-de-semana e a de Castelo de Vide, o primeiro franchising da marca, sê-lo-á brevemente.
Todas as lojas têm o mesmo estilo e decoração, apostando no minimalismo e em tons claros – à semelhança das três lojas já existentes. Nas novas lojas estarão postos à venda todos os vinhos da Ervideira, assim como os vinhos que são exclusivos do Clube Ervideira. O consumidor terá a possibilidade tanto de comprar uma garrafa como de tomar um copo de vinho acompanhado de um petisco alentejano: queijo ou enchidos.
Duarte Leal da Costa divulgou ainda o montante investido nesta tripla iniciativa: cerca de 300.000 euros.
(texto de António Falcão. Fotos cortesia Ervideira)

Porto Extravaganza volta a Sintra, de 6 a 8 de Março

logotipo Porto Extravaganza 2020

Paulo Cruz, o organizador deste evento, chama-o de “o mais famoso evento de vinhos generosos” e é bem capaz de não fugir à verdade. O Porto Extravaganza, edição de 2020, realizar-se-á, como nas últimas edições, no Palácio Hotel Seteais, em Sintra, e voltará ao alinhamento da 1ª edição (2001) e serão apresentadas 6 provas de […]

Paulo Cruz, o organizador deste evento, chama-o de “o mais famoso evento de vinhos generosos” e é bem capaz de não fugir à verdade. O Porto Extravaganza, edição de 2020, realizar-se-á, como nas últimas edições, no Palácio Hotel Seteais, em Sintra, e voltará ao alinhamento da 1ª edição (2001) e serão apresentadas 6 provas de vinhos generosos portugueses (vinhos do Porto, vinhos da Madeira, vinhos de Carcavelos e Moscatéis velhos do douro).
Três provas terão lugar na parte de manhã na nova sala, ”Seteais tasting room”, o novo espaço que Paulo Cruz irá dinamizar no futuro para os hóspedes do hotel e eventos especiais. As outras provas terão lugar no salão nobre.
O programa começa na sexta-feira, 6 de Março, às 11:30, com a prova Vinhos do Porto “Jurássicos”; serão oito fortificados com muita idade (um deles com mais de 150 anos), comentadas por dois especialistas. Nesse mesmo dia, haverá duas verticais (16 e 19 horas) de nove Porto Ferreira Vintage, a começar em 1863. Será apresentada por Luis Sottomayor. Para terminar o dia, um jantar com menu de degustação criado pelo chef do hotel, harmonizado com vinhos Sogrape.
No sábado, dia 7 de Março, às 11.30, uma prova de Madeiras, apresentada por Paulo Cruz e Paulo Bento. Estarão em prova néctares de variedades Malvasia, Bastardo, Sercial, Verdelho e Bual, com anos que começam em 1905. A seguir, dupla prova (16 e 19 horas) de Vinhos do Porto Sandeman, apresentada pelo próprio George Sandeman. Tawnies e Rubis de vários anos serão o objecto da apresentação, certamente com muitas histórias pelo meio. Segue-se um jantar com vinhos Sogrape.
Finalmente, no Domingo, às 11:30, é a vez do Vinho de Carcavelos, em prova apresentada por Alexandre Lisboa, da Câmara de Oeiras (actualmente o único produtor activo de Carcavelos). Em prova estarão vários vinhos e a sua harmonização com chocolates.
Da parte da tarde, às 16 horas, chega a vez dos Moscatéis velhos do Douro, com apresentação a cargo do jornalista e produtor de vinhos Pedro Garcias. Vão estar em prova uma dúzia de vinhos adquiridos directamente aos produtores. Paulo Cruz diz que será “uma prova inédita e exclusiva no panorama mundial”.
As provas custam €150, os jantares €75.
Mais informações consultar a página do Facebook do evento (https://www.facebook.com/events/830883267362711/)
ou através do organizador, Paulo Cruz (915 555 501), do Bar do Binho.

Carine Patricio irá representar Portugal no Best Sommelier of Europe & Africa 2020

Carine Patrício

A Pousada Palácio de Queluz serviu de palco da final que determinou o representante português a competir no Best Sommelier of Europe & Africa 2020, concurso organizado pela ASI – Association de la Sommellerie Internationale e que irá acontecer na cidade de Limassol, no Chipre, entre os dias 17 e 21 de Novembro de 2020. […]

A Pousada Palácio de Queluz serviu de palco da final que determinou o representante português a competir no Best Sommelier of Europe & Africa 2020, concurso organizado pela ASI – Association de la Sommellerie Internationale e que irá acontecer na cidade de Limassol, no Chipre, entre os dias 17 e 21 de Novembro de 2020.
Depois de um dia intenso de provas com os 10 semi-finalistas que passaram na primeira fase do concurso a 10 de Janeiro, e de uma selecção inicial de três finalistas, Carine Patricio foi a vencedora do concurso sendo assim a primeira mulher portuguesa a competir e a representar o país a este nível internacional.
Actualmente a desempenhar funções na Weingut Joh. Jos. Prum, na Alemanha, como escanção e directora de vendas, Carine já trabalhou como head sommelier em vários restaurantes com estrelas Michelin neste mesmo país. É formada pela Escola de Sommeliers da Alemanha e adquiriu certificado da Court of Master Sommeliers de Londres. É, ainda, embaixadora dos Vinhos de Portugal (Wines of Portugal) na Alemanha e já foi, por várias vezes, júri em diversos concursos de vinhos.

Concurso Selecção Europa 2020 - os 3 finalistas
Os 3 finalistas

Os dois profissionais finalistas a disputar a prova final com Carine foram Filipe Wang, Head Sommelier do Alma, restaurante de duas estrelas Michelin do chef Henrique Sá Pessoa, e Nelson Guerreiro, Escanção, Embaixador de marca e considerado o Melhor Escanção do Ano 2018 pela Associação dos Escanções de Portugal.
O júri, escolhido pela comissão técnica do concurso, foi constituído por profissionais ligados ao sector, fazendo dele parte Almiro Vilar, Anca Martins, António de Deus, Ceferino Mariño Carrera, Grão-Mestre da Confraria dos Escanções de Portugal, João Marques, Manuel Miranda, Modesto Junqueira, e Victor Pinho. O grupo avaliou os concorrentes através de provas organolépticas, escritas e orais, em português e inglês, provas prácticas de serviço e provas de harmonização. Para a realização do concurso, a Associação dos Escanções de Portugal contou com vários apoios e colaborações, tendo como patrocinador oficial o Instituto da Vinha e do Vinho.

Taylor’s lança edição comemorativa do 50º aniversário do seu LBV

Taylor's - Alistair Robertson e Adrian Bridge com LBV 1965 e 2015

LBV é o acrónimo de Late Bottled Vintage, um Vinho do Porto que  a  Taylor’s afirma ter dinamizado em 1970 (da colheita de 1965), em resposta a solicitações do mercado. De facto, muitos enófilos pretendiam um “Vinho do Porto de alta qualidade a preço acessível e sem complicações relativamente ao consumo”. As palavras são de […]

LBV é o acrónimo de Late Bottled Vintage, um Vinho do Porto que  a  Taylor’s afirma ter dinamizado em 1970 (da colheita de 1965), em resposta a solicitações do mercado. De facto, muitos enófilos pretendiam um “Vinho do Porto de alta qualidade a preço acessível e sem complicações relativamente ao consumo”. As palavras são de Alistair Robertson, presidente não executivo da Taylor’s e o homem que dirigia os destinos da casa na altura. Os Vintage não só eram mais caros, como precisavam de anos de envelhecimento (em garrafa) e depois a decantação na altura de servir. O LBV, envelhecido durante 5 anos em cascos de madeira, estava mais ‘pronto’ a ser degustado. Diz a história que, na altura, o conceito, apesar de arriscado, teve grande sucesso e acabou por ser seguido por outras casas do Vinho do Porto. Segundo Adrian Bridge, CEO da Taylor’s, “o lançamento do LBV em 1970 desencadeou um grande aumento da procura por vinhos do Porto de alta qualidade”. O interesse começou sobretudo na Grã-Bretanha, mas alastrou rapidamente o interesse para a América do Norte, com os Estados Unidos e o Canadá a tornarem-se clientes muito importantes.
Ainda sobre o LBV, Alistair Robertson explica a filosofia de criação: “o LBV era um vinho de um só ano, de alta qualidade, com preço acessível, pronto a ser e bebido na altura do engarrafamento, sem necessidade de decantação e que podia ser apreciado ao copo, ao longo de várias semanas”.

Taylor’s LBV 1965 e 2015, 50 anos de diferença.

Adrian Bridge continua: “a crescente procura de LBV levou a Taylor’s a fazer grandes investimentos, tendo introduzido métodos e tecnologias paradigmáticas quer na viticultura, quer na enologia, e construído novos armazéns com condições óptimas para o envelhecimento do LBVs. A Taylor’s hoje está presente em 103 mercados”.
David Guimaraens, director Técnico e de Enologia da casa, descreve o estilo LBV da casa: “o Taylor’s LBV é o final perfeito para qualquer refeição, poderoso e autoritário apresenta aromas elegantes, perfumados e florais, com notas dominantes de fruta vermelha e preta onde a cereja preta tem lugar de destaque. Na boca, os sabores a chocolate negro e framboesas e taninos sempre elegantes e bem integrados”.
Para comemorar a efeméride dos 50 anos, a Taylor’s vai lançar o seu LBV 2015 (cerca de 15€ no retalho).

Entrevista a Francisco Mateus: “O bom e barato não serve o Alentejo”

Francisco Mateus, presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana

Em entrevista à Grandes Escolhas, Francisco Mateus, responsável pelo organismo certificador e coordenador do vinho do Alentejo presenteou-nos com uma visão muito lúcida e sem tabus sobre os temas mais actuais que “mexem” com esta grande região vitivinícola. Do mercado de volume às especialidades, das denominações de origem às castas e às novas plantações, da […]

Em entrevista à Grandes Escolhas, Francisco Mateus, responsável pelo organismo certificador e coordenador do vinho do Alentejo presenteou-nos com uma visão muito lúcida e sem tabus sobre os temas mais actuais que “mexem” com esta grande região vitivinícola. Do mercado de volume às especialidades, das denominações de origem às castas e às novas plantações, da sustentabilidade ao Enoturismo, uma longa conversa com muito motivo de reflexão.

TEXTO Luís Lopes FOTOS Mário Cerdeira

Nascido em 1970, o percurso académico de Francisco Mateus passou pelo bacharelato em Engenharia Agro-Alimentar (ramo vinhos) e licenciatura em Gestão, ambos pelo Instituto Politécnico de Santarém, tendo mais tarde concluído a pós-graduação em Direção de Empresas, pela AESE/IESE Business School da Universidade de Navarra.

Iniciou a sua actividade no sector vitivinícola em 1995, no IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, nas áreas do controlo e fiscalização, em Santarém, e posteriormente na gestão de medidas comunitárias de apoio. Ainda no IVV, enquanto director de departamento, integrou a equipa que representou Portugal em Bruxelas na negociação entre estados-membros e Comissão Europeia sobre a reforma da legislação base do sector vitivinícola europeu. Também no IVV, preparou e assegurou a gestão operacional dos dois programas de apoio nacional ao sector do vinho, entre 2009 e 2018. Desde Novembro de 2015 é presidente da direcção da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, com a missão de implementar a estratégia para os Vinhos do Alentejo, potenciando e valorizando a marca “Alentejo” no sector do vinho, a nível nacional e internacional. O Alentejo da vinha e do vinho foi, naturalmente, o tema da nossa conversa.

Grandes Escolhas: O Alentejo continua a ter uma posição absolutamente dominadora no mercado nacional (segundo os últimos dados, cerca de 37% em volume e 40% em valor nos vinhos com certificação regional), mas tem vindo a perder algum peso nos últimos anos. Como avalia a situação actual e sua evolução?
Francisco Mateus: Quando olhamos para a evolução dos números ao longo de um determinado período de tempo, devemos sempre ter em conta o volume de vinho disponibilizado no mercado e o preço a que é vendido. E verificamos que ao longo de 5 ou 6 anos o Alentejo teve boas produções e foi colocando cada vez mais vinho no mercado, mantendo a sua quota em quantidade, mas perdendo alguma coisa em valor. Ou seja, durante anos, o Alentejo “alimentou” o mercado, mas com efeitos ao nível do preço. Acontece que 2016, 2017 e 2018 foram três colheitas sucessivas de quebra de produção na região (algo absolutamente inédito nos últimos 30 anos) e, com menos vinho disponível, os produtores fizeram uma correcção de preço para cima, gerando mais valor. Criou-se assim uma situação em que o mercado nacional cresceu devido ao turismo, há mais vinho a ser consumido, mas o Alentejo tem menos vinho para oferecer, seja internamente, seja na exportação. E também não podemos esquecer que as outras regiões portuguesas também estão a fazer o seu trabalho, não estamos sozinhos no mercado. Tudo isto resulta numa ligeira quebra no volume. Mas é de realçar que o vinho do Alentejo, tendo a enorme quota de mercado que tem, consegue ainda assim ter um preço acima da média, o que é bastante positivo.

Mais de 70% dos vinhos portugueses nos super e hipermercados são vendidos em promoção. Tendo o Alentejo um peso muito grande nas cadeias de retalho, que impacto acha que esta realidade tem, não apenas na valorização do produto, mas também na imagem global do vinho do Alentejo?
As promoções são um facto, e não quero dizer que não tenham aspectos positivos. Mas dou-lhe a minha opinião enquanto consumidor e observador atento do que se passa no mundo do vinho. Julgo que promoções com percentagens de desconto muito elevadas, não são um comportamento leal para com todos os produtores que estão no mesmo mercado. O Alentejo, de facto, é uma região que vende muito vinho em promoção, mesmo apresentando um preço médio entre os mais elevados. E acredito convictamente que o Alentejo tem uma qualidade, notoriedade e procura tais que não justificam tanta promoção. Penso que era preferível vender um pouco menos e ter o vinho ainda mais valorizado. Quero que as pessoas olhem para o Alentejo como uma região de onde vem qualidade e que essa qualidade merece um preço superior. Seja no mercado nacional seja na exportação. É isso que nos vai garantir o futuro.

Ou seja, o rótulo bom e barato não é algo que queira colar aos vinhos do Alentejo…
Decididamente, não. Eu sei que existe, eu sei que vende, não sou contra o bom e barato, mas a nossa opção em termos de mercado não deverá ser por aí.

Apesar do sucesso dos vinhos alentejanos em Portugal, nos mercados de nicho, que valem pouco em volume, mas são muito importantes para construir marca e valor, o Alentejo parece perder terreno comunicacional e espaço de prateleira nas lojas especializadas, onde outras regiões vão crescendo. Como explica isso e o que é preciso fazer para reforçar a notoriedade dos grandes vinhos do Alentejo nos mercados de nicho?
O Alentejo tem um pequeno número de produtores que representam uma grande quantidade do vinho alentejano que vai para o mercado. Nesses mercados de nicho o foco aponta normalmente para os produtores de pequena dimensão, são produtores com esse perfil que constituem a novidade, a coisa de que se fala. Essa é uma razão.
Mas também, porventura, no mercado de nicho, não estaremos a fazer o trabalho que devíamos. Por exemplo, os vinhos de topo do Alentejo são colocados no mercado, normalmente, com alguma idade, o que diz também da sua qualidade e longevidade. Isso merecia ser evidenciado face à concorrência directa. Acredito que tem faltado algum arrojo, alguma inovação, alguma garra por parte do produtor alentejano para mostrar que os seus vinhos merecem estar no topo, nesses mercados especializados, ao lado dos mais cotados.
Por outro lado, a força que o Alentejo tem na grande distribuição leva a que as lojas especializadas sejam porventura menos trabalhadas pelos produtores.
Francisco Mateus, foto de Mário CerdeiraDito de outra forma, não precisam…
Mas não pode ser assim! Temos que ir bater à porta das lojas de nicho, mostrar o nosso produto, comunicar mais e melhor, trazer os compradores à nossa região, impressioná-los com a nossa qualidade e identidade. Temos de potenciar as marcas fortes, mesmo de produtores pequenos. Há todo um trabalho que o Alentejo em tempos fez e que tem de voltar a fazer. Volto a dizer, os produtores das outras regiões não estão parados…

As especialidades (vinhas velhas, castas antigas, talha…), podem contribuir para reforçar a imagem desse Alentejo “de especialidades”, diverso e diferenciador?
Claro! Vou começar pelo vinho de talha. O talha representa um nicho, uma quantidade muito pequena, apenas cerca de 60 mil litros por ano de vinho de talha certificado. Por outro lado, a talha não é um recipiente de fermentação normal, a talha tradicional, que existe em número limitado, é usada para um só vinho, uma vez por ano. Só este facto diz-nos que o vinho de talha será sempre um produto de nicho. Além de que – e isto é uma opinião pessoal – o vinho de talha tem um local e um momento para ser consumido. Não será um vinho que as pessoas vão comprar num supermercado, pela sua raridade, preço e perfil de aroma e sabor. Mas é um vinho para um consumidor exigente e conhecedor, o tal consumidor de nicho.
Quanto à vinha velha, tenho pena de existirem relativamente poucas no Alentejo. A vinha velha foi desaparecendo com as sucessivas reestruturações. Neste momento, segundo os dados de cadastro de que dispomos, numa área total de aproximadamente 22.500 hectares de vinha, existem cerca de 131 ha com mais de 50 anos e 382 ha com mais de 40 anos. No entanto, apesar de não ser grande, é uma área que têm estado mais ou menos estável na última década e estas vinhas mais antigas podem ajudar a reforçar a tal identidade Alentejo de que estava a falar. Sabemos que as vinhas velhas são um património que deve ser preservado e estimado. Mas só pode ser preservado se quem as tem sentir que geram algum valor. Aí há um trabalho que tem de ser feito, até pela própria CVR Alentejana, na exploração comunicacional das nossas vinhas mais antigas. Temos de passar essa imagem para o mercado. E também acho que precisa existir um conjunto de regras que defina, no Alentejo, qual a idade mínima que a vinha deverá ter para se poder usar na rotulagem a designação vinha velha. Isso iria ajudar os produtores a valorizá-las e mantê-las.
No que respeita às castas antigas e mais raras, a mesma coisa. Outro dia bebi um vinho de Tinta Carvalha (uma casta de que dispomos de pouco mais de 4 hectares no Alentejo) de um equilíbrio extraordinário. Nas brancas temos o Perrum, por exemplo, uma casta antiga, com características muito próprias. Tudo isso ajuda a construir uma imagem diferenciadora.

Passando ao mercado de exportação, o Alentejo representa cerca de 20% dos vinhos portugueses com denominação de origem ou indicação geográfica. Como avalia a evolução da exportação ao longo dos últimos anos?
Há um indicador económico muito positivo: a variação de crescimento das exportações é maior do que a variação da certificação. Isto significa que, a cada ano, estamos a exportar um pouco mais entre o volume de vinho disponibilizado no mercado. E, sobretudo, temos aumentado os preços na exportação.
Em termos de mercados propriamente ditos, temos uma grande fatia das nossas exportações em quatro países de fora da União Europeia: Brasil, EUA, Angola e Suíça. Têm sido bons mercados para o Alentejo (a Suíça, em particular, valoriza bem os nossos vinhos) mas sabemos que as oscilações da situação política e económica no Brasil e em Angola têm reflexos no comércio internacional. Depois temos a Polónia, com bons níveis de crescimento, mas a preços inferiores ao que ambicionamos, a França e Benelux, a Rússia, também a crescer, a China, que é um mercado interessante.
Os vinhos do Alentejo chegam a mais de 100 países, há muito por explorar noutros mercados e, de alguma forma, promover a diversificação e evitar a concentração nos quatro mercados que acima referi. Mas isso não é fácil, é preciso fazer escolhas, a capacidade de investimento e de recursos humanos é limitada, sobretudo nas pequenas empresas. Muitas empresas do Alentejo têm pequena dimensão. Num total de cerca de 300 produtores, 13 empresas representam mais de 60% da produção; e mais de metade dos produtores representam menos de 4% do volume de produção. O Alentejo do vinho não é todo formado por grandes empresas, como alguns erradamente acreditam.

O sistema DOC Alentejo assenta em 8 sub-regiões. No entanto, tirando algum movimento que se sente em torno de Vidigueira ou Portalegre, há poucos produtores e consumidores a valorizarem a identidade da sub-região ou a colocá-la nos rótulos. Porquê?
Para lhe responder teria que avaliar região a região. É verdade, em Portalegre há maior utilização do nome da sub-região. Portalegre está a ganhar notoriedade, até porque a maioria das empresas que vieram de fora para o Alentejo elegeram Portalegre como destino. Mas vejo também produtores de Borba e Vidigueira a procurarem comunicar a sua identidade. Há muito vinho de Reguengos a ser comunicado enquanto tal. Já em Moura há poucos produtores, e por isso a sub-região tem pouca visibilidade. O mesmo se passa em Granja-Amareleja. Diria que, porventura, as sub-regiões que utilizam menos o nome na rotulagem serão Évora e Redondo. Mas isso tem a ver com o modelo de negócio e opções de cada um. Para muitos é mais interessante optar exclusivamente pela denominação Alentejo em vez de adicionar o nome da mais pequena unidade geográfica. E outros ainda, podendo utilizar a designação DOC Alentejo, preferem o Regional Alentejano, até por uma questão de flexibilidade, sobretudo nas marcas de maior volume. Por exemplo, se um produtor precisar de comprar vinho ao vizinho e o vizinho só tiver vinho Regional, ficará naturalmente limitado se a sua marca estiver sob a DOC Alentejo.

Uma DOC tem de ter regras e um grau de exigência maior que um IG…
É evidente. Por definição uma Denominação de Origem é algo de conservador. É impensável estar a mexer nas regras de uma DO em cada sete ou dez anos. Podemos fazer ligeiros ajustes ou adaptar as regras à evolução natural das coisas. Mas não podemos recriar uma DO, sob pena de perdermos a identidade. As regras existem para serem aplicadas.

O Alentejo litoral é algo recente no mundo do vinho e o consumidor praticamente não o conhece. No entanto, pode vir a assumir um papel importante no futuro, até num contexto de alterações climáticas. Como vê o investimento de alguns produtores nesta parte menos notória do Alentejo?
Penso que o Alentejo litoral pode vir a tornar-se, no futuro, um daqueles casos que eventualmente justificarão uma alteração às regras da Denominação de Origem. As características especiais que tem, os solos, a influência marítima tão presente, a própria tipologia das castas que estão ali plantadas, tudo isso pode vir a configurar uma nova sub-região. Mas mais importante do que eu achar que pode acontecer, é os produtores que lá estão quererem que aconteça. Se os produtores acham que estão bem assim, porque havemos de estar a mexer nisso?
Penso que essas vinhas litorais são mais um bom exemplo do arrojo e da inovação dos produtores do Alentejo. Os vinhos, nomeadamente os brancos, diferenciam-se claramente dos outros que são produzidos na região e enriquecem a oferta e a diversidade do Alentejo. O investimento que decidiram ali fazer está a dar excelentes resultados e a mostrar um Alentejo diferente, um Alentejo que há 15 anos não existia. Na verdade, há muito Alentejo, é uma região grande e ainda com zonas por explorar.

Francisco Mateus foto de Mário Cerdeira

Em todas as denominações de origem europeias as castas desempenham um papel fundamental na definição da identidade regional. Uma região é dinâmica, mas, como já referiu, o estatuto de Denominação de Origem pressupõe um certo conservadorismo. Uma das últimas alterações que se fizeram na região, abriu a possibilidade de vender como DOC Alentejo um vinho 100% Syrah ou 100% Touriga Nacional, por exemplo. A designação Regional Alentejano para essas castas “não tradicionais” era insuficiente para os objectivos dos produtores?
As alterações que são feitas à legislação resultam sempre de compromissos. Isto quer dizer que nem sempre se consegue aquilo que se ambiciona, consegue-se aquilo em que é possível gerar acordo. A questão das castas é típica deste tipo de “negociações”, digamos assim, nuns casos consegue-se consenso, noutros não.
Em 1988, na primeira legislação para os vinhos do Alentejo, as castas, os lotes, e muitas outras regras eram diferenciados de sub-região para sub-região. Era tudo muito complexo, para a CVR e para os produtores. Na alteração mais profunda que se fez, em 2010, entendeu-se que isso deveria ser simplificado e as regras para as DOC Alentejo serem iguais nas várias sub-regiões. E houve castas que ficaram numa lista das que devem representar, em conjunto ou isoladamente, 75% do lote, e outras que não podem representar mais de 25% do lote.
Acontece que hoje temos mais informação do que tínhamos nessa data. Importaria talvez olhar para o terreno, ver o que existe, o que está cadastrado, com que resultados em termos de vinhos. Interrogo-me se, hoje em dia, se justifica ainda termos essa situação dos 75/25 generalizada a todas as sub-regiões. Se calhar justificava-se um outro modelo. Por exemplo, dizíamos aos produtores que, quem está dentro de uma sub-região, pode usar o nome da sub-região associado ao DOC Alentejo em determinadas condições; deixa de o poder usar se optar por esta ou aquela casta e aí só usa o nome DOC Alentejo; e se entender colocar lá mais umas outras castas, é livre de o fazer, mas o vinho terá de ser Regional Alentejano. Isso tornaria a regra mais fácil e, sobretudo, colocava a decisão nas mãos do produtor. O produtor, conhece as regras, sabe o que pode ou não pode fazer: se decidir num determinado sentido sabe o que pode comunicar no rótulo. A decisão é sua.

No fundo, é assim que funcionam as mais importantes DO europeias…
Sem dúvida. Não podemos esquecer que as regiões não são imutáveis, há inovação, há mudança. E é bom que de quando em vez apareçam umas castas novas. Nós, no ano passado, introduzimos mais uma meia dúzia de castas no Regional Alentejano… É para isso que serve a Indicação Geográfica por oposição à mais conservadora Denominação de Origem.

A área de vinha do Alentejo teve um enorme crescimento desde a demarcação em 1989. Acha que a região não deve ir muito além dos cerca de 22.500 hectares cadastrados até Agosto de 2019?
Em 30 anos do Alentejo mais recente, o que vemos é que a área de vinha cresceu muito até 2003, estagnou alguma coisa até 2013/2014 e, desde então, tem vindo a crescer. Houve um entendimento por parte dos representantes dos agentes económicos regionais de que o Alentejo deveria fazer crescer a sua área de vinha. Assim, referente a autorizações já atribuídas e com possibilidade de plantação até 2022, permitiu-se um aumento de 3.700 hectares, ou seja, uma variação de 17,9% face a 2014. Tem havido, portanto, uma abertura para plantar novas vinhas. Mas entendo que agora a região tem de olhar muito bem para aquilo que tem, avaliar o potencial de crescimento que existe em termos de autorizações já atribuídas, e pensar na produção e no mercado.

Ou seja, na relação entre a oferta e a procura e o seu reflexo no preço…
Exactamente. De forma muito simples, vejo a coisa assim: estamos a permitir que se aumente a área vitícola para mais 3.700 hectares; isso significa que poderemos aumentar, no mínimo, 15 milhões de litros em produção. Ou seja, em 2023 o Alentejo poderá estar a produzir mais 15 milhões de litros do que 2014. E isto se, até lá, não forem dadas novas autorizações! Há que pensar nas adegas que têm de vinificar e armazenar esse acréscimo e no mercado que vai ter de o receber. Vamos colocar este vinho no mercado para o vender ou para gerar valor que ajude a pagar a instalação da vinha?
Já iniciámos este debate no Conselho Geral da CVR Alentejana, estamos a avaliar a informação e a reflectir sobre o futuro próximo da plantação de vinhas no Alentejo. Em tempos decidimos crescer, acredito que agora é tempo de abrandar, ou mesmo parar, para avaliar os dados disponíveis, fazer um balanço e tomar decisões.

O Alentejo foi a primeira região portuguesa a assumir uma preocupação colectiva e institucional com a sustentabilidade. Para além da compensação mais evidente, que é ter um Alentejo do vinho mais sadio e sustentável, acha que é possível fazer reflectir no mercado (em termos de notoriedade e valor) esse investimento ambiental?
Antes de tudo, acredito convictamente que a viticultura sustentável e a produção sustentável de vinho podem ser o trampolim do Alentejo para os próximos anos, um verdadeiro factor diferenciador da região face às suas congéneres.
Quanto à sua questão: a produção sustentável é valorizada pelo consumidor? Pelo menos em duas geografias, os mercados nórdicos e os Estados Unidos da América, temos visto que sim. Mas a verdade é que, globalmente, é algo que o consumidor normal, o consumidor médio, não valoriza. Comunicar uma vitivinicultura sustentável não é fácil. Primeiro porque as pessoas (mesmo os jornalistas) olham para a palavra sustentabilidade e associam-na à questão climática ou económica. Depois, o que é isso de vinho sustentável? O vinho não é sustentável, a forma como foi produzido sim.
Quando o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo foi lançado, em 2014, apresentámo-lo a vários concursos, com sucesso. Muito em breve vamos receber o prémio de Inovação em Meio Rural atribuído pela Comissão Europeia. O nosso programa não é uma coisa académica, é algo que está no terreno, aplicado pelas empresas. Mas como comunicar tudo isto?
Sabemos que o consumidor valoriza uma certificação. Para o ano vamos ter, atribuída por entidades independentes, a certificação de viticultura sustentável e de produção sustentável de vinho. Vamos passar a ter algo concreto, auditável e verificável, que pode ser apresentado ao importador ou ao consumidor final. Porque o que temos até agora é o trabalho efectivo no terreno, coordenado pelo João Barroso de forma incansável, mobilizando os produtores da região no sentido de introduzirem práticas e modelos sustentáveis. A vitivinicultura sustentável é hoje uma realidade no Alentejo, mas é preciso que isso seja levado até ao consumidor através de uma certificação, um selo.

Isso leva tempo…
É verdade. Napa Valley , nos EUA, anda nisto há 20 ou 30 anos e há pouco li uma notícia que referia que 99% da área de vinha está certificada como sustentável. Mas o mercado americano está muito atento a isto e eles são muito bons a comunicar. Nós temos de olhar para os bons exemplos e levar isto até ao consumidor. Mas tenho consciência de que é muito difícil passar esta mensagem no mercado nacional no sentido de criar valor. Hoje em dia, a esmagadora maioria do consumidor português dá muito mais atenção à qualidade e ao preço do que ao modelo de produção do vinho. Isso pouco lhe diz.

Embora os chamados millennials e mais ainda os membros da geração Z, ou geração digital, comecem a pensar de forma diferente…
Ora aí está! Esta geração pesquisa tudo pela internet, está muito mais atenta a tudo o que a rodeia, há uma fatia de consumidores que vai querer saber como os bens que consomem foram produzidos. E quando isso acontecer os vinhos do Alentejo estarão na linha da frente.

A rega é, no Alentejo, um factor de qualidade, não apenas de produção. Mas a disponibilidade de água é limitada. Por outro lado, há quem defenda energicamente que sustentabilidade e rega são incompatíveis. Como gerir a escassez?
Eu não tenho qualquer tabu relativamente à rega da vinha. No entanto, regar intensamente com objectivo de aumentar a produção, não é sustentável, pelo consumo da água e pelo ciclo de vida curto que essa vinha terá. Já a rega optimizada é benéfica. Mas a realidade é que temos um problema de acesso à água no Alentejo. Existe um Alqueva, com uma massa de água gigantesca, mas o Alqueva está longe de Évora e de muitas outras zonas. Há produtores de Reguengos, ali ao lado do Alqueva, e que não têm água. Para além do acesso, há o modelo. A rega de precisão é o caminho que temos de seguir. Não digo “devemos”, digo “temos”. Temos de dar à vinha apenas a água que ela necessita para conseguir viver. No fundo, reproduzir as condições de um ano climático normal. Sem água não há vida. Temos obrigação de dar água à vinha quando não chove. Mas para dar água é preciso tê-la. Acredito que é essencial que consigamos reter a maior quantidade possível de água da chuva, sem colocar em causa, naturalmente, a corrente dos rios e ribeiras. Nestes últimos cinco anos, no Alentejo, tem caído menos água e, quando cai, cai em períodos curtos com enorme intensidade. Se nós entrarmos num período continuado de seca extrema, como tem acontecido na África do Sul ou na Austrália, temos de estar preparados. E isso significa usar bem a água que temos e não desperdiçar a água da chuva.

Uma grande parte do Alentejo vitivinícola é mecanizável, mas não apenas as máquinas dependem de pessoas como também nem tudo se resolve com máquina. Como avalia a carência de mão de obra agrícola e o seu impacto no futuro?
Para isso só tenho uma palavra: dramático. Infelizmente não acontece só na agricultura e vitivinicultura, os outros sectores (a hotelaria, por exemplo), também são afectados pela escassez de mão de obra. Ou não há pessoas para trabalhar ou as que existem não estão disponíveis para aquele trabalho. Para o sector do vinho, tudo isto é um desafio. Quando hoje se instala uma vinha já se prevê o nível máximo de mecanização, não apenas a vindima mas também a poda e outras tarefas. Isto pode derivar numa espécie de “robotização” do sector do vinho (com a conotação negativa junto do consumidor que daí advém), mas eu entendo perfeitamente, se fosse produtor faria a mesma coisa. Se não consigo encontrar pessoas para trabalhar, tenho de mecanizar.

Antigamente dizia-se que a vinha contribuía para fixar populações. Mas cada vez mais a mão de obra vitícola é mão de obra imigrante, os naturais continuam a ir embora…
Há dois factores que para isso contribuem. Por um lado, as vias de comunicação são muito melhores. Posso morar na cidade, em Évora, e trabalhar em qualquer parte do Alentejo. Por outro, o trabalho agrícola não é visto como sendo aliciante. Isto pode ter a ver, como é óbvio, com o nível salarial, mas em muitos outros sectores de actividade os salários não são melhores.
Uma das grandes preocupações da CCDR do Alentejo é a questão demográfica. O Alentejo está a ficar velho e a ficar sem gente. É uma área muito grande do território nacional, uma área onde a agricultura é muito importante e uma área onde há empregabilidade. Mas há muito pouca vontade de ir trabalhar na agricultura. Isto merece uma reflexão dos potenciais empregadores e dos potenciais empregados. No meio de tudo isto, há boas notícias. A Universidade de Évora abriu agora um curso de enologia e, pelo que ouvi dizer, esgotou as vagas. Ainda há pessoas a quererem trabalhar nesta área. E a academia está atenta ao que se passa à sua volta. Este curso em concreto reflecte a dinâmica do sector e questões como eficiência energética e enoturismo são temas curriculares.

Francisco Mateus. Foto de Mário Cerdeira

É precisamente de Enoturismo que queria falar, para terminarmos a entrevista. Uma Rota do Vinho funciona como elemento agregador e multiplicador? Ou na realidade, no terreno, o Enoturismo é cada um por si, uns amadores, outros profissionais, uns fechados ao fim de semana outros abertos todo o ano?
É um pouco tudo isso. Falando do caso concreto do Alentejo, temos enoturismos excelentes, temos enoturismos com boas condições e com pouco movimento e temos enoturismos onde não vai ninguém. E depois temos a Rota do Vinho do Alentejo. A sala da Rota, localizada no centro turístico de Évora, procura ser um elemento agregador, um espaço onde se mostra o Alentejo do vinho. Mas nós sabemos que é muito difícil levar os produtores a trabalhar em rede, em conjunto. Seria importante que se criassem grupos de três ou quatro produtores, com características diferenciadas: um tem vinhos de talha, outro uma adega moderna, outro ainda uma vinha antiga, todos com vinhos bem distintos. É evidente que existem no Alentejo produtores que não precisam de nada disto, até pelo grande número de turistas que recebem. Mas muitos outros não acolhem quase ninguém. Porquê? Porque não têm condições? Porque não publicitam? Porque têm a porta fechada ao fim de semana? Porque dizem que é só por marcação, mas, quando se procura marcar, o telefone toca e ninguém atende?
Naturalmente, quando na Rota do Vinho alguém pede sugestões de visitas ou marcações, as pessoas responsáveis contactam aqueles produtores que respondem aos mails e telefonemas, aqueles que sabemos que dão resposta com uma oferta enoturística de qualidade. É muito mau para a imagem do turismo do Alentejo quando alguém vai de carro, levado pelo GPS até um produtor que surge nos guias de Enoturismo, e depois chega lá, toca à porta, buzina, e mais tarde aparece alguém a dizer “o senhor engenheiro não está cá”. Isso é muito mau. Sinceramente, preferia que esses produtores não estivessem na Rota. Portanto, e resumindo a resposta à sua questão, no Enoturismo do Alentejo há elevados níveis de profissionalismo e elevados níveis de amadorismo.

Edição n.º32, Dezembro 2019

Quanto custa abandonar o glifosato?

limpeza mecânica de taludes

É o mais usado dos herbicidas e é, sem dúvida, um produto que tem sido importante na viticultura. Em França, o Glifosato vai ser proibido a partir de do próximo ano, devido à sua alegada pegada ambiental negativa e ao facto de poder aumentar o risco de cancro para os humanos. Ora, esta é uma […]

É o mais usado dos herbicidas e é, sem dúvida, um produto que tem sido importante na viticultura. Em França, o Glifosato vai ser proibido a partir de do próximo ano, devido à sua alegada pegada ambiental negativa e ao facto de poder aumentar o risco de cancro para os humanos. Ora, esta é uma mudança significativa, considerando que cerca de 80% das áreas vitícolas francesas usam um herbicida químico (66 % de maneira mista, com corte mecânico); destas, cerca de 75% das explorações usam um produto à base de glifosato!
Por isso, um conjunto de entidades ligadas à vinha juntaram-se para avaliarem o quanto custará abandonar este herbicida e passar a cortar as ervas de forma aparentemente mais sustentável, isto é, com meios mecânicos. Pois bem, os resultados publicados pelo ministério da Agricultura francês indicam que os custos acrescidos dependem, como é óbvio, de vários factores. Assim, os cientistas dizem que o viticultor com vinhas bem espaçadas passa a gastar mais 210 euros por hectare; se as vinhas forem de linha mais apertada, o custo sobe para mais 408 euros/ha. E pode subir ainda mais em regiões onde existem pequenas explorações, como a Alsácia (+553 euros/ha). Nas regiões de maiores explorações vitícolas e planas (por exemplo, Languedoc-Roussillon ou Bordéus), o acréscimo de custos baixa consideravelmente: entre os 115 e os 129 euros por hectare.
Em Portugal estes valores teriam tendência a descer um pouco, essencialmente pelos menores custos de mão-de-obra nacional. Contudo, em situações de viticultura mais difícil, como de montanha (Douro, claro), o custo seria muito mais elevado.

Sara Rodrigues e Matos abre escola de vinhos em Coimbra

Sara Rodrigues e Matos - The Wine House

Para muitos enófilos, Sara é uma conhecida enóloga que trabalhou 9 anos com o produtor Luís Pato e mais 2 anos com a Lavradores de Feitoria. Nos últimos 2 anos, diz-nos ela, “estive a dedicar-me à família”. Pois bem, Sara está de regresso com um projecto próprio, uma escola de vinho em Coimbra, na Urbanização […]

Para muitos enófilos, Sara é uma conhecida enóloga que trabalhou 9 anos com o produtor Luís Pato e mais 2 anos com a Lavradores de Feitoria. Nos últimos 2 anos, diz-nos ela, “estive a dedicar-me à família”. Pois bem, Sara está de regresso com um projecto próprio, uma escola de vinho em Coimbra, na Urbanização Quinta da Portela. A empresa chama-se The Wine House e pretende realizar cursos, mas não só.
A primeira iniciativa será já Domingo, 19 de Janeiro e será constituída por uma sessão de Wine Games. A sessão custa €20 e terá cerca de uma hora de duração. Os Wine Games, diz Sara, “são jogos divertidos à volta do vinho e dos sentidos, que ajudam a perceber por que gostamos dos vinhos que gostamos”. O jogo destina-se tanto a novatos como a especialistas.
Existem vouchers para oferecer a quem quiser. Existirá nova sessão no dia 15 de Fevereiro.
Sara considera que “a maioria das pessoas acha que o vinho é complicado: há muita escolha, os rótulos são confusos, e não sabem por que é se diz que cheira a rosas ou a baunilha de Madagáscar. Como é que algo tão prazeroso pode ser, ao mesmo tempo, tão intimidante?”
Mas a verdade está no gosto pessoal: “ninguém sabe mais sobre ti e do que gostas, do que tu mesmo. E saber porque é que gostamos dos vinhos que gostamos, é o primeiro passo para apreciarmos o vinho de forma livre e despreocupada”, considera a técnica.
A The Wine House tem outras experiências prontas: a 24 de Janeiro será realizada uma prova de seis vinhos de Luis Pato, sob o tema “Redução e Oxidação: fazer vinho com e sem oxigénio”. Custa 40 euros e realiza-se durante duas horas. A 1 de Fevereiro vem outro curso: Os aromas do vinho, com a participação do especialista Francisco Campos. Dia 24 de Fevereiro, novo curso: Os defeitos do vinho, com a participação do sommelier António Lopes. Estes dois eventos duram 2 horas e custam 30 euros cada.
Para além destas actividades, Sara presta assistência a eventos privados. Cada caso será um caso e por isso terá de ser acordado pontualmente. Tudo está explicado em pormenor no site da empresa, em www.thewinehouse.pt