The Yeatman conquista 4 prémios pela World of Fine Wine

O hotel vínico de luxo venceu, pela primeira vez, a categoria geral de “Melhor Carta Regional de Vinhos do Mundo”, e revalidou os prémios de “Melhor Carta Regional de Vinhos da Europa”, “Carta de Vinhos 3 Estrelas” e “Prémio do Júri”, atribuídos pela publicação inglesa World of Fine Wine. O “Wine Book”, como é apelidada […]

O hotel vínico de luxo venceu, pela primeira vez, a categoria geral de “Melhor Carta Regional de Vinhos do Mundo”, e revalidou os prémios de “Melhor Carta Regional de Vinhos da Europa”, “Carta de Vinhos 3 Estrelas” e “Prémio do Júri”, atribuídos pela publicação inglesa World of Fine Wine.

O “Wine Book”, como é apelidada a carta de vinhos do The Yeatman, apresenta mais de 1.500 referências, das quais 97% são vinhos nacionais. Listando várias colheitas, formatos especiais, edições limitadas e recuando anos e décadas, o Wine Book procura retratar o perfil sensorial dos actuais 105 parceiros vínicos nacionais do hotel.

Jan-Erik Ringertz, Diretor do The Yeatman, afirmou que “é um orgulho receber esta distinção internacional que consolida a nossa reputação e reconhece a seriedade, o rigor e o empenho com que as equipas trabalham diariamente. Esta distinção, que se considera como a versão do sommelier das estrelas Michelin, faz adivinhar a exclusiva experiência que pretendemos oferecer a quem nos visita”. Refira-se ainda que boa parte da responsabilidade deste prémio cabe à directora de vinhos da unidade hoteleira, Beatriz Machado (à frente da equipa, na foto).

Esporão adquire Quinta do Ameal, nos Vinhos Verdes

Mais uma transacção de peso no sector vitivinícola: O Esporão acaba de formalizar a compra da Quinta do Ameal, projecto da região dos Vinhos Verdes liderado por Pedro Araújo e pertencente à sua família desde a década de 90. Com 30 hectares e situada no vale do Rio Lima, esta propriedade vem enriquecer o portefólio […]

Mais uma transacção de peso no sector vitivinícola: O Esporão acaba de formalizar a compra da Quinta do Ameal, projecto da região dos Vinhos Verdes liderado por Pedro Araújo e pertencente à sua família desde a década de 90. Com 30 hectares e situada no vale do Rio Lima, esta propriedade vem enriquecer o portefólio do Esporão com uma marca que é referência importante na região, especificamente na zona onde a casta Loureiro nasceu e desempenha o papel de estrela.

Para Pedro Araújo, que se manterá na equipa, “Esta foi uma oportunidade que dificilmente se repetiria, a de conciliar a notoriedade e o reconhecimento dos vinhos Quinta do Ameal – fruto de um intenso trabalho ao longo de mais de 20 anos – com o potencial fantástico de um produtor com a força, a estratégia e a filosofia em total sintonia, como é o Esporão”.

João Roquette, administrador do Esporão, afirma: “Esta ideia foi-se formando com o reconhecimento da grande qualidade e potencial dos vinhos feitos na Quinta do Ameal pelo Pedro Araújo, a confiança, amizade e visão futura que fomos construindo, e a ambição de fazer grandes vinhos, com identidade e sentido de lugar, desafiando também o status quo da região”.

Esporão lança novos Private Selection

O Esporão Private Selection Branco foi lançado em 2001 com o intuito de criar um vinho branco alentejano marcante. As vinhas com idade média de 22 anos conjugadas com a aposta na casta Sémillon e a selecção cuidadosa das barricas novas de carvalho francês, foram os ingredientes usados para a colheita de 2017. Já o […]

O Esporão Private Selection Branco foi lançado em 2001 com o intuito de criar um vinho branco alentejano marcante. As vinhas com idade média de 22 anos conjugadas com a aposta na casta Sémillon e a selecção cuidadosa das barricas novas de carvalho francês, foram os ingredientes usados para a colheita de 2017.

Já o Esporão Private Selection Tinto é uma continuidade do Esporão Garrafeira Tinto, lançado pela primeira vez em 1987. Na colheita de 2014, conjugaram-se as castas Syrah e Alicante Bouschet com a Aragonez. Depois das uvas serem pisadas a pé, na Adega dos Lagares, o vinho passou por um estágio em barrica de carvalho francês, durante 18 meses.

Para a produção destes dois vinhos, segundo o enólogo David Baverstock, estes são aspectos importantes: “Antes da vindima, seleccionamos as melhores uvas para estes vinhos. Depois, a maneira como nós fazemos o processo de vinificação, permite que estes adquiram uma grande estrutura, longevidade e potencial para guarda”.

O rótulo do Esporão Private Selection Branco 2017 (€19,99) é ilustrado pelo artista Albuquerque Mendes. Uma fotografia do arquitecto e fotógrafo Duarte Belo ilustra o rótulo do Esporão Private Selection Tinto 2014 (€49).

UTAD concede Doutoramento Honoris Causa a Paul Symington

É pelo seu contributo em prol dos vinhos do Douro e Porto e da Região Demarcada do Douro, que Paul Symington irá receber, no dia 4 de Outubro, o grau de Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Paul Symington dirigiu um dos maiores grupos do sector do Vinho do Porto, a […]

É pelo seu contributo em prol dos vinhos do Douro e Porto e da Região Demarcada do Douro, que Paul Symington irá receber, no dia 4 de Outubro, o grau de Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Paul Symington dirigiu um dos maiores grupos do sector do Vinho do Porto, a Symington Family Estates e, durante quatro décadas, fê-lo crescer até níveis impressionantes, tornando-se, durante a sua gestão, num colosso da região do Douro. Retirado agora do activo da empresa, Paul continua muito ligado aos seus vinhos. O que não é de espantar, visto que manteve o barco Symington a navegar à bolina durante todos estes anos, mostrando que é através de uma grande ligação à terra e de investimento em património que se intensifica o processo de crescimento. Foi também por tudo isto que recebeu o prémio Senhor do Vinho (na foto), em 2019, pela Grandes Escolhas.

C. da Silva e Quinta de Ventozelo declaram Vintage 2017

Foi na Grande Prova de Porto Vintage 2017, organizada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, no Palácio da Bolsa, na cidade Invicta, que a C. da Silva e a Quinta de Ventozelo declararam 2017 como ano Vintage. A primeira fê-lo pela terceira vez consecutiva, com as suas marcas Dalva e Presidential, e […]

Foi na Grande Prova de Porto Vintage 2017, organizada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, no Palácio da Bolsa, na cidade Invicta, que a C. da Silva e a Quinta de Ventozelo declararam 2017 como ano Vintage. A primeira fê-lo pela terceira vez consecutiva, com as suas marcas Dalva e Presidential, e a segunda com a referência Quinta de Ventozelo, pela quarta vez desde que a Quinta foi adquirida pela Gran Cruz.

José Manuel Sousa Soares, líder da equipa de enologia da C. da Silva, afirma “Foi dos lagares mais bonitos que tivemos até hoje!”. Já a equipa de Ventozelo reforça que “A densidade dos mostos e o seu espantoso equilíbrio e qualidade generalizada fizeram de 2017 um ano singular”

Recorde-se que é apenas a sétima vez, na história do vinho do Porto, que se regista a declaração de dois anos clássicos seguidos.

Chegou mais um Évora Creative Market

É já a 20 e 21 de Setembro que a Fundação Eugénio de Almeida recebe a terceira edição do Évora Creative Market. No Páteo de São Miguel, localizado na zona do antigo castelo medieval de Évora, nascerá um mercado com 40 artesãos de vários países, com produtos criativos nas áreas do design, decoração, moda, cerâmica, […]

É já a 20 e 21 de Setembro que a Fundação Eugénio de Almeida recebe a terceira edição do Évora Creative Market. No Páteo de São Miguel, localizado na zona do antigo castelo medieval de Évora, nascerá um mercado com 40 artesãos de vários países, com produtos criativos nas áreas do design, decoração, moda, cerâmica, joalharia e gourmet.

O Évora Creative Market pretende, numa era de massificação, valorar o que é singular e o que demora tempo a criar, o que é diferenciado. Música não faltará neste evento, nem street food, complementados por diversas actividades para participar em família, como oficinas de olaria, tecelagem e cestaria, ou até desportos radicais, como escalada.

Mais informações aqui.

Reguengos Garrafeira dos Sócios – A desafiar preconceitos

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Fizemos a proposta à CARMIM e foi aceite de imediato: uma vertical desta marca que sempre se assumiu como o topo de gama da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz. O resultado foi surpreendente e contraria os que defendem que os vinhos do Alentejo são para ser apreciados enquanto jovens.

TEXTO João Paulo Martins                     FOTOS Mike The Axe

A CARMIM, mais do que uma adega cooperativa é uma Cooperativa Agrícola. A diferença tem razão de ser porque uma grande percentagem dos sócios não é produtora de uva mas sim de azeitona. Estamos em terras quentes e onde dominam as culturas de sequeiro. Essa característica foi de resto determinante para que, apesar da proximidade com a albufeira do Alqueva, Reguengos ficasse inicialmente fora do perímetro de rega. Há então cerca de 45% dos produtores que só fazem viticultura de sequeiro. A água da albufeira só chegará em 2022, segundo Miguel Feijão, presidente da CARMIM. Viticultura de sequeiro significa também que a produtividade é muito baixa, não chegando às seis toneladas/hectare. Já o olival não tem conhecido grande expansão porque “não há terrenos livres e os que há são de muito pequena dimensão; encontrar um terreno livre de 10 hectares é um luxo”, lembra o presidente, também ele viticultor.

A CARMIM tem há 15 anos um posto de enoturismo que recebe muitos visitantes (6.000 por ano) e uma loja no centro da vila onde a venda de produtos é até mais forte do que na própria cooperativa. Miguel Feijão diz também, com orgulho que “toda a electricidade que gastamos é produzida por nós em placas foto-voltaicas e nas nossas instalações vinificamos cerca de 20 milhões de quilos de uva, numa laboração muito planeada que nos permite fazer vinhos de perfis e estilos muito diferenciados. Somos também dos maiores exportadores do Alentejo”.

Há muitos anos a dirigir a enologia está Rui Veladas, agora coadjuvado por Tiago Garcia que esteve anteriormente na Herdade das Servas. São 3,300 hectares de vinha que têm de apoiar e todos os anos há entre 200 e 300 ha a serem reconvertidos. Por aqui ainda existem muitas vinhas com castas antigas, como Tamarez, Moreto, Periquita e Carignan e, nas vinhas velhas de castas misturadas também aparece o Alicante Bouschet. Foi na sequência da identificação de vinhas velhas com as antigas castas da região que nasceu o tinto Primitivo, um vinho sem barrica de que se fizeram 10.000 garrafas. Há alguns vinhos varietais e um vinho de parcela (ainda sem nome) que incorporará Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira de vinhas dos anos 80. Nos brancos a CARMIM apronta um Verdelho (que Rui Veladas fez questão de salientar que não é Gouveio) e vai haver um re-lançamento do espumante. Os vinhos “de combate” mantêm-se, com as marcas Reguengos e Terras d’el Rei.

Ao contrário do que vêm fazendo vários produtores da região, a cooperativa ainda não decidiu engarrafar vinhos de talha; já têm dois anos de experiência mas não há lançamentos previstos até porque só há duas ta-lhas preparadas. Estágio em ânfora “talvez possa ser interessante, vamos ver”, confessa Rui Veladas. Ao contrário de outras cooperativas, a CARMIM certifica praticamente tudo o que produz, ou seja, mais de 15 milhões de garrafas.

UMA MARCA COM HISTÓRIA

O Garrafeira dos Sócios é o mais clássico vinho da casa e foi durante muito tempo um ex-libris do Alentejo, com a fama a justificar o crescimento do número de garrafas produzidas em cada colheita. Antes, houve outros vinhos, claro, como o Reguengos de Monsaraz 1972, o primeiro tinto da cooperativa e que também provámos.

O 1972, que não tem teor alcoólico indicado no rótulo, foi feito por Paulo Lourenço, um enólogo da antiga Junta Nacional do Vinho e que apoiou tecnicamente várias cooperativas alentejanas quando da sua fundação. Foi o primeiro vinho da adega. Quanto a castas, é muito provável que tenha Moreto, Periquita (Castelão), Tinta Caiada, entre outras.

O 1982, sem as indicar, diz que foi feito com “castas recomendadas” e no rótulo ainda menciona “vinho do Rei”. João Portugal Ramos entrou na cooperativa em finais dos anos 80, coincidindo com o crescimento de notoriedade da marca Garrafeira dos Sócios.

O 1989 é o primeiro vinho a surgir com a então muito recente denominação de origem Alentejo (VQPRD) e deixa ao mesmo tempo de se chamar Terras d’el Rei. Foi feito em depósitos de cimento e balseiros, uma vez que a adega, na época, ainda não possuía cubas inox.
Como curiosidade, refira-se que na prova efectuada verificámos que os vinhos dos anos 80 quase não deixam depósito na garrafa, ao contrário dos da década de 90 que mostram imensa precipitação. Não temos uma explicação conclusiva para esse facto.

A partir da colheita de 2001 o Garrafeira dos Sócios passa a centrar-se nas castas Trincadeira e Aragonez, com um toque de Cabernet Sauvignon. O 2003 é o primeiro a assumir a DOC Alentejo. Finalmente, desde a colheita de 2011 o vinho tem menos Trincadeira e Aragonez e mais Alicante Bouschet.

No conjunto, a prova do Reguengos Garrafeira dos Sócios revelou-se uma excelente surpresa que evidenciou o potencial da região do Alentejo para fazer vinhos que desafiam o tempo. E derrubam pre-conceitos…

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Edição Nº25, Maio 2019

A Touriga que é Nacional

A Touriga Nacional é uma casta de grande personalidade, capaz de produzir todo o tipo de vinhos – desde espumantes de alta qualidade até Vinhos do Porto. É expressiva, com muita frescura aromática, numa fina elegância que integra os traços inconfundíveis de violeta, bagas e citrinos de bergamota. Mesmo tendo o carácter varietal bem definido, […]

A Touriga Nacional é uma casta de grande personalidade, capaz de produzir todo o tipo de vinhos – desde espumantes de alta qualidade até Vinhos do Porto. É expressiva, com muita frescura aromática, numa fina elegância que integra os traços inconfundíveis de violeta, bagas e citrinos de bergamota. Mesmo tendo o carácter varietal bem definido, deixa transparecer o terroir, a abordagem enológica e até o estilo do produtor, sem perder a sua identidade. Nesta prova de 50 vinhos de Touriga Nacional, a grandeza e versatilidade da casta ficaram bem evidentes.

TEXTO Valéria Zeferino FOTOS Ricardo Gomez

A casta tinta mais nacional nem sempre foi apelidada como tal. Ao longo da sua existência teve muitas sinonímias em várias zonas do país – Tourigo e Touriga, Tourigo Fino e Touriga Fina, Mortágua, Preto Mortágua e até Azal. Considera-se que, precisamente, os nomes Tourigo e Mortágua indicam a origem da casta, ligando-a à região do Dão, onde existem duas localidades com o mesmo nome. De acordo com o Estudo de Ampelografia Portuguesa de 1865, a Touriga era de longe a casta mais plantada no Dão antes da filoxera.
As primeiras referências do seu cultivo surgem em 1790 por Lacerda Lobo e em 1791 é Rebelo da Fonseca que a caracteriza como “uma casta produtiva e de maturação precoce”. Vis¬conde de Villa Maior em 1865 elogia a Touriga, dizendo que “é excelente e dá vinho muito coberto, resiste ao oídio (…)”.
Em 1900, Cincinato da Costa referiu a variedade no seu monumental O Portugal Vinícola como “casta tinta de valor, geralmente aprecia¬da em todo o norte do país pelo grande rendimento que dá e a superior qualidade dos vi¬nhos que origina.” Dizia ainda que na região da Beira e em especial entre os rios Mondego e o Dão, “os vinhedos têm um cunho muito característico e são justamente afamados, é a Touriga a casta predominante (…)”.

O potencial enológico da Touriga Nacional foi com¬provado, o que não só a salvou da extinção, como fez dela o primeiro objecto de investigação clonal aprofundada em Portugal, que permitiu identificar do universo de 197 clones os melhores em termos de resistência a doenças, rendimento, açúcar, acidez etc.
O combate da filoxera obrigou o uso de porta¬-enxertos americanos, resistentes ao insecto malicioso. Esta medida, embora tenha resolvido o problema da praga, não foi particularmente acertada no caso da Touriga Nacional, reduzindo drasticamente a sua produtividade. A casta, com “muita parra e pouca uva”, passou de bestial a besta no meio dos viticultores, pois o rendimento baixíssimo (menos de 800 gramas por planta) não era comercialmente viável.
A recuperação da fama foi lenta e só aconteceu a partir de meados do século passado graças aos estudos de Gastão Taborda no Douro nos anos 50 (continuados posteriormente por José António Rosas e João Nicolau de Almeida) e Alberto Vilhena no Dão dos anos 60. O potencial enológico da Touriga Nacional foi com¬provado, o que não só a salvou da extinção, como fez dela o primeiro objecto de investigação clonal aprofundada em Portugal, que permitiu identificar do universo de 197 clones os melhores em termos de resistência a doenças, rendimento, açúcar, acidez etc.

ADAPTÁVEL MAS COM MUITA PERSONALIDADE

A Touriga dá-se bem em todos os tipos de solos, mesmo pesados e férteis. Continua a ser uma casta com vigor vegetativo notável e tem porte retumbante, crescendo para os lados, o que exige mais trabalho na vinha e pode causar danos físicos à planta em condições de ventos fortes. Para além do baixo rendimento, a Touriga Nacional ainda tem a tendência para o desavinho e a bagoinha, com abrolhamento e floração precoce, problemas que podem acentuar-se nas condições climáticas adversas na primavera. Actualmente, com conhecimento adquirido, é possível controlar o vigor e o rendimento através de clones e porta-enxertos apropriados e da poda correcta conforme as condições.
A Touriga Nacional amadurece algo tarde, sendo uma casta de ciclo longo, cujo amadurecimento completo às vezes pode ser comprometido pelo frio e chuvas de outono. Produz cachos pequenos de cerca de 100-200 gramas, raramente atingindo 250 gramas. Os seus pequenos e relativamente soltos bagos possuem uma película bastante grossa que é rica em polifenois e protege o bago do sol e do calor. É uma autêntica trabalhadora, resiste bem ao calor e continua a fazer fotossíntese até a última graças à elevada eficiência do uso da água. Entretanto, o stress hídrico tem que ser controlado, sobretudo quando combinado com calor excessivo. Nestas condições, a Touriga é sensível ao escaldão das folhas e tem tendência a livrar-se delas, expondo os cachos ainda mais ao sol.

N’O Portugal Vinícola, a Touriga é referida como uma casta aneira que produz muito num ano para dar pouco noutro. O enólogo Manuel Vieira (Caminhos Cruzados) não a considera aneira do ponto de vista enológico e é até bastante regular em termos qualitativos: não varia do óptimo para péssimo, antes oscila entre óptimo e muito bom ou bom. Tinta Roriz e Alfrocheiro, neste aspecto, são mais aneiras, diz Manuel Vieira. Mas o factor ano acaba por ser importante quando se quer fazer um vinho varietal de grande qualidade, repara o enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo. Como diz, e bem, Pedro Rodrigues, da Quinta dos Termos, a Touriga Nacional dá o que toda a gente quer: cor, álcool, tanino, acidez e um aroma atraente.
É uma casta terpénica pela concentração elevada de terpenos livres, responsáveis pelos aromas florais e frutados que, curiosamente, são mais intensamente encontrados sobretudo em variedades brancas como Moscatel, Gewurztraminer, Viognier ou Alvarinho.
A Touriga ainda é particularmente rica em norisoprenóide beta-ionona, associado ao aroma de violeta. Conforme os estudos do Instituto Superior de Biotecnologia, a concentração deste composto diminui com a presença de oxigénio, o que explica porque os aromas de violeta são mais evidentes quanto menos barrica se usa na vinificação.

Sabe-se também que a nossa Touriga é atreita a desenvolver fenóis voláteis (o desagradável aroma de suor de cavalo) por ter grande teor de ácido ferúlico e cumárico, utilizados no metabolismo de brettanomyces. Se, ainda por cima, o vinho for estagiado em barricas novas que mais rapidamente absorvem o sulfuroso, é preciso um controlo redobrado.
A Touriga funciona bem nos vinhos de entra¬da de gama por ter um aroma imediatamente atractivo e ser naturalmente muito equilibra¬da. Mas existem Tourigas que evoluem muito bem. Manuel Lobo atribui à Touriga uma longevidade média, já Graça Gonçalves afirma que na Quinta do Monte D’Oiro tem Tourigas de 2004 e estão óptimas, e Manuel Vieira lembra-se de provar no final dos anos 80 as mini-vinificações de Touriga Nacional feitas nos anos 50 pelo Eng.º Vilhena em Nelas, que estavam de perfeita saúde.

A TOURIGA E A BARRICA

“Touriga é uma casta muito plástica, capaz de dar vinhos bem diferentes uns dos outros. Sem barrica dá vinhos elegantes, mas também tem especial apetência pela barrica, não se deixa comer pela madeira. Tem personalidade, é uma casta criativa.” – defende Manuel Vieira. O enólogo costuma fazer maceração pré e pós-fermentativa, ao que Touriga responde bem. Utiliza barricas de primeiro, segundo e terceiro ano, prefere tosta média, mas varia o nível de tosta para fazer um lote final.
Já Manuel Lobo indica que a casta não tem muito tanino, comparativamente com a Tinta Roriz ou Touriga Franca. Às vezes falta-lhe um pouco de dimensão e de persistência e não tem camadas como algumas outras castas. Precisa de madeira para lhe conferir algum tanino, mas prefere barricas com porosidade apertada e não gosta de tosta muito elevada.
Graça Gonçalves menciona que a Touriga Nacional se porta muito bem na fermentação alcoólica, costuma ser a mais rápida a atingir o pico, por isto é necessário um bom arrefecimento na vinificação. Tem uma cor fabulosa, mas perde-a com alguma facilidade por não ter muito tanino a fixar antocianinas. Prefere Touriga em barricas usadas, mas utiliza 30% de barrica nova com tosta média.
Na Quinta dos Termos opta-se por um lote de barricas de carvalho francês e húngaro. Pro¬curam “não matar a frescura”. Utilizam madeiras com tempo de secagem longo (8 anos) pela convicção que é preferível do que usar uma barrica velha com poros saturados, ex¬plica Pedro Rodrigues.
Bernardo Cabral, enólogo da Companhia das Lezírias, afirma que quando é feito um bom trabalho de campo, a Touriga equilibra-se bem na adega. Não gosta de utilizar carvalho americano, que mascara a personalidade da Touriga Nacional, ao contrário do carvalho francês que eleva a casta. E sempre tem uma parte sem barrica para compor o lote final.
Na opinião do enólogo e produtor António Maçanita é o perfil aromático que define a casta, por isto não utiliza barrica para preservar a pureza dos aromas varietais. “É mais difícil fazer uma grande Touriga de concentração do que uma Touriga igual a si própria. Não vale a pena forçar. Há outras castas para potência”, refere.

MANTENDO O CARÁCTER REGIONAL

O terreno do Douro com um número infinito de exposições multiplicadas por diversas altitudes permite fazer um lote de vinhas como, por exemplo, acontece na Quinta do Crasto. Utilizam uvas oriundas das três vinhas com exposições diferentes: uma virada a nascente, outra a sul e a terceira apanha um pouco de exposição norte. As vinhas ficam à altitude de cerca de 300m, que parece ser a ideal, por¬que estão afastadas dos calores das cotas baixas, mas sem comprometer a maturação. Como as vinhas não são rega¬das, é importante que em baixo do xisto, a um metro de profundidade, exista argila que retém água do inverno.
No mais húmido Dão, a resistência da casta às chuvas é um requisito importante. Manuel Vieira explica que a película da Touriga Nacional é bastante elástica e não deixa o bago rebentar quando incha, como acontece com Alfrocheiro. A Touriga Nacional do Dão tem frescura, equilíbrio e complexidade. Os aromas raramente chegam a lembrar fruta em compota. O clássico aroma ao citrino bergamota é para Manuel Vieira associado a pouca maturação.
António Maçanita trabalha com Touriga Nacional em duas regiões. No Alentejo, inicialmente andava à procura da concentração na Touriga. Em 2015 ficou impressionado com o seu perfil aromático (pétalas de rosas, flor de laranjeiro), quando vindimada mais cedo.

A partir daí privilegia a elegância à concentração. No Douro, a sua Touriga do Cima Corgo também só estagia em inox para acentuar os aromas, mas a do Douro Superior tem mais consistência e estrutura, por isto já utiliza alguma barrica.
Segundo Pedro Rodrigues, na Beira Interior a Touriga demora muito a amadurecer, sendo geralmente das últimas a ser colhida. A acumulação de açúcares não acontece rápido, por isso tem tempo para desenvolver os aromas. Mesmo que chova não há problema, porque resiste à chuva. Considera que o factor ano é importante para o perfil do vinho monovarietal. Em 2016 conseguiram o perfil que tanto procuravam – leve, elegante e aromático.

A TOURIGA E O CONSUMIDOR

Nas lojas de vinhos nacionais os consumidores, normalmente, não procuram os vinhos pela variedade, diz Vanessa Neves da garrafeira Empor Spirits & Wine em Lisboa, mas quando se sugere a Touriga Nacional a maioria reconhece e valoriza a casta. Ivone Ribeiro, a proprietária da garrafeira Garage Wines em Matosinhos, nota que há algum interesse pelos monovarietais, quando o consumidor vai à procura da essência das castas. Alguns grupos de clientes até se juntam para provar, por exemplo 10 Tourigas diferentes.
Ambas apontam que a casta funciona sempre bem como opção de oferta. Os Tourigas estruturados e com madeira normalmente impressionam, mas os consumidores mais “exigentes” ou com mais conhecimento de marcas e estilos procuram Touriga mais fresca e elegante.
Mesmo tendo muito orgulho na nossa Touriga Nacional, temos que ter noção que para maioria dos consumidores estrangeiros a casta continua uma ilustre desconhecida. Marco Alexandre – diretor do Table Group com 8 restaurantes no centro de Lisboa, onde 95% da clientela é internacional, afirma que os estrangeiros procuram mais aquilo que conhecem – Sauvignon Blanc, Chardonnay e Cabernet Sauvignon. Mas aceitam provar um vinho de Touriga Nacional quando é sugerido e normalmente gostam.
Inegável é o facto de que, entre as mais de 250 castas portuguesas, a Touriga Nacional é a variedade tinta que possui mais notoriedade e imagem mais consolidada entre os enófilos e os profissionais. O ritmo de crescimento da Touriga nas novas plantações é o reflexo disso mesmo. E lá fora, é quase sempre a casta bandeira do país, autêntica embaixadora quando se fala de vinhos de Portugal. Elegante, personalizada, impositiva, exuberante (demasiado, por vezes), a Touriga Nacional não deixa ninguém indiferente.

Cada vez mais plantada
Em 1989 (há 30 anos) a Touriga Nacional nem sequer fazia
parte das 15 castas mais plantadas de Portugal, ou seja,
representava menos de 1% dos encepamentos nacionais
(na altura a lista era liderada por Fernão Pires, Castelão e
Baga com 9, 8 e 5% respectivamente).
De acordo com os dados mais recentes do Instituto da
Vinha e do Vinho, a Touriga Nacional subiu ao terceiro lugar
(a seguir a Aragonez e Touriga Franca) e ocupa 13.032 ha, o
que corresponde a 7% da plantação nacional. A maior área
da Touriga está no Douro – 4.524 ha. No Dão é a 2ª casta
mais plantada, a seguir à Jaen, com 3.191 ha. No Alentejo
ocupa 1.313 ha, em Trás-os-Montes 1.169 ha, ficando as
Beiras (Bairrada + Beira Interior) com 930 ha, a região de
Lisboa com 646 ha e o Tejo com 504 ha.

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Edição Nº25, Maio 2019