Corticeira Amorim revela tecnologias de ponta que erradicam TCA

Corticeira Amorim

A maior empresa mundial de produtos de cortiça, Corticeira Amorim, acaba de anunciar o lançamento de duas novas tecnologias, uma desenvolvida para remover o TCA (tricloroanisol, composto químico contaminante que origina o vulgo “cheiro a rolha”) detectável das rolhas naturais, e outra para criar um novo segmento de rolhas microaglomeradas: Naturity e Xpür, respectivamente. A […]

A maior empresa mundial de produtos de cortiça, Corticeira Amorim, acaba de anunciar o lançamento de duas novas tecnologias, uma desenvolvida para remover o TCA (tricloroanisol, composto químico contaminante que origina o vulgo “cheiro a rolha”) detectável das rolhas naturais, e outra para criar um novo segmento de rolhas microaglomeradas: Naturity e Xpür, respectivamente.

A investigação para desenvolver a tecnologia Naturity, com patente pendente, iniciou-se em 2016 com a NOVA School of Science and Technology e baseia-se nos princípios da dessorção térmica através de uma utilização, exclusiva e não sequencial, de pressão, temperatura, água purificada e tempo. Nenhum elemento artificial é usado no processo, o que facilita a extração de mais de 150 compostos voláteis, incluindo o TCA. Com lançamento a nível mundial, a Amorim garante que a Naturity expande o desempenho de TCA não detectável no segmento de produtos de cortiça natural, ao mesmo tempo que reforça os resultados operacionais da NDTech, o serviço de rastreio avançado que analisa e remove individualmente qualquer rolha de cortiça natural com mais de 0,5 nanogramas por litro de TCA. 

“Ensaios exaustivos de engarrafamento, envolvendo vários produtores de vinho, produziram resultados exemplares em termos da medição do impacto do tratamento no desempenho da cortiça, com ensaios adicionais de validação de terceiros a serem conduzidos o mais rapidamente possível com o Instituto Geisenheim, na Alemanha, e os laboratórios Campden & Chorleywood, no Reino Unido”, desenvolve a empresa, em comunicado.

Já no que toca à Xpür, esta foi desenvolvida para estender o desempenho de TCA não detectável para rolhas microaglomeradas. A Xpür aprimora o método convencional desenvolvido há varias décadas, redesenhando e actualizando o conceito com tecnologia do século XXI. Esta nova abordagem utiliza apenas 25% da energia e apenas 10% do CO2 anteriormente necessário. Além disso, “a Xpür consegue resultados de níveis de redução de TCA para 0,3 nonogramas por litro em rolhas microaglomeradas tratadas, deixando intactas as propriedades físico-mecânicas da cortiça. Como resultado, a gama de rolhas microaglomeradas da Corticeira Amorim apresenta a maior percentagem possível de cortiça e não necessita de soluções químicas adicionais para manter as propriedades naturais da cortiça, nomeadamente as importantíssimas taxas de compressibilidade e expansão”, diz a Amorim. A Xpür será utilizada no tratamento das rolhas técnicas Neutrocork Premium e QORK.

António Amorim (na foto), Presidente e CEO da Corticeira Amorim, refere que: “Estas tecnologias resultam de robustos investimentos financeiros, tempo e dedicação em I&D por parte da nossa equipa. Apesar dos obstáculos que 2020 colocou no caminho de todos, conseguimos cumprir a promessa feita de que íamos conseguir um desempenho de TCA não detectável em todos os segmentos de rolhas de cortiça até ao final do ano. Este é o compromisso para com os nossos 30000 clientes em todo o mundo – para garantir a qualidade e consistência dos seus produtos e assegurar que a preferência dos consumidores pela cortiça só possa ficar mais forte”.

Vinhos Verdes lançam programa gratuito de formações para empresas da região

Depois de, na semana passada, ter anunciado a anulação de várias taxas e custos imputáveis aos produtores de vinho da região, a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) lança agora um programa de 15 formações online, de inscrição gratuita, realizadas pela Academia do Vinho Verde.  A decorrer durante este trimestre, através de […]

Depois de, na semana passada, ter anunciado a anulação de várias taxas e custos imputáveis aos produtores de vinho da região, a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) lança agora um programa de 15 formações online, de inscrição gratuita, realizadas pela Academia do Vinho Verde. 

A decorrer durante este trimestre, através de sessões no Microsoft Teams, este programa de webinars pretende reforçar a capacitação das empresas produtoras de Vinho Verde e destina-se a todas as áreas da fileira, sendo organizado em parceria com entidades e profissionais reputados.

As inscrições podem ser efectuadas aqui. A CVRVV adverte: “Dado a formação ter um limite de participantes máximo e para que mais participantes tenham acesso, cada inscrito pode inscrever-se em dois webinars. Caso tenha interesse em mais do que duas fica em lista de suplentes e poderá ser integrado no grupo caso haja desistências”.

O programa:

Primeira feira agroalimentar portuguesa 100% digital arranca esta semana

O Digital Agrifood Summit Portugal inicia já esta quarta-feira — decorrendo até dia 23 de Janeiro — a sua primeira edição, numa plataforma online onde se reunirão marcas do sector e sabores “made in Portugal”, e onde existirá um ciclo de conferências dedicado ao vinho português. Em exposição, nesta feira digital, estarão produtos de 74 […]

O Digital Agrifood Summit Portugal inicia já esta quarta-feira — decorrendo até dia 23 de Janeiro — a sua primeira edição, numa plataforma online onde se reunirão marcas do sector e sabores “made in Portugal”, e onde existirá um ciclo de conferências dedicado ao vinho português.

Em exposição, nesta feira digital, estarão produtos de 74 empresas inscritas, como frutas e legumes, vinhos e outras bebidas, confeccionados e snacks, orgânicos e naturais, padaria e pastelaria, azeites, peixe e conservas de peixe, entre outros. A projecção do evento é de carácter internacional, visto que já estão confirmados “visitantes” e compradores internacionais (retalhistas, grossistas, canal HoReCa, importadores e distribuidores), provenientes de países como Estados Unidos e Canadá, México, Coreia do Sul, Reino Unido, França, Espanha e Dinamarca. 

O principal objectivo da Digital Agrifood Summit Portugal é, segundo o comunicado do consórcio organizador Portuguese Agrofood Cluster, “servir de ponto de encontro entre a procura e a oferta, potenciar negócios de forma inovadora e integrada e, dessa forma, manter o crescimento das exportações agroalimentares nacionais mesmo em tempos tão adversos”. De relembrar que, entre Janeiro e Novembro de 2020, as exportações agroalimentares mantiveram a dinâmica do ano anterior, atingindo 5.7 milhões de euros e dando “um importante contributo para a economia nacional”.

Cada expositor irá receber os compradores internacionais nos seus stands virtuais e, através de uma plataforma interactiva digital, podem apresentar os seus produtos através de diversos recursos audiovisuais. A plataforma da feira ficará disponível um mês após o início da feira, por forma a permitir o follow-up de oportunidades de negócio e o agendamento de novas reuniões. O programa inclui ainda uma sessão de abertura (dia 20, pelas 10 horas), com a presença da Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, do Secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, e do Presidente da AICEP, Luís Castro Henriques. Ao longo dos dias, entre os vários workshops destinados aos participantes e visitantes, contam-se sessões de esclarecimento sobre o impacto da Covid-19 nos mais importantes mercados de destino das exportações agroalimentares portuguesas, assim como sobre processos de internacionalização, sem esquecer o ciclo de conferências dedicado ao vinho português. 

Amândio Santos, presidente da PortugalFoods e responsável pelo Portuguese Agrofood Cluster, afirma: “O facto de observarmos uma mobilização tão grande das empresas nacionais, de tão diversas fileiras, assim como o elevado interesse dos compradores internacionais em torno deste evento, demonstra que o setor está altamente motivado e que, em 2021, ano que será ainda marcado pela pandemia, os empresários não pretendem baixar os braços. Pelo contrário, será um ano crucial para provar, aos mercados internacionais, que o agroalimentar português não só tem a qualidade que já todos lhe reconhecem, como também a capacidade de inovar e de encontrar novos canais de distribuição e de promoção comercial. As feiras presenciais voltarão a acontecer, mas numa era de acelerada digitalização, acreditamos que o futuro mostrará que a promoção externa, optará por um modelo híbrido, entre o presencial e o digital.” 

Consulte aqui o programa do evento e aqui as empresas participantes.

Quinta do Portal lança dois novos monovarietais

A duriense Quinta do Portal, situada em Sabrosa, acaba de lançar para o mercado uma nova colheita do Quinta do Portal Tinta Roriz e o novo Portal Unlocked 2016, de Gouveio. A linha Portal Unlocked inclui ensaios do enólogo Paulo Coutinho, monovarietais ou lotes, com vinhos de estilo mais peculiar, com muito carácter e identidade. […]

A duriense Quinta do Portal, situada em Sabrosa, acaba de lançar para o mercado uma nova colheita do Quinta do Portal Tinta Roriz e o novo Portal Unlocked 2016, de Gouveio.

A linha Portal Unlocked inclui ensaios do enólogo Paulo Coutinho, monovarietais ou lotes, com vinhos de estilo mais peculiar, com muito carácter e identidade. É onde se insere o novo Gouveio, um vinho, segundo a empresa, “com reduzida utilização de sulfitos, e que apresenta uma cor dourada brilhante e atrativa”. Tem um p.v.p. recomendado de 15 euros, mas também pode ser adquirido em conjunto com os outros Portal Unlocked.

Já o Quinta do Portal Tinta Roriz 2017, que é “ideal para harmonizar com pratos de carne e queijos” e estagiou noves meses em barricas novas de carvalho francês, custa 21 euros nas lojas.

Garcias distribui vinhos Quinta de Pancas em exclusivo

Os vinhos da Quinta de Pancas passaram a ser distribuídos, desde 1 de janeiro de 2021 e em exclusivo, pela Garcias Wines & Spirits. “Gostamos de trabalhar com produtores activos e conhecedores do mercado, assim como disponíveis para arriscar e com espírito criativo”, refere Filipa Garcia, administradora da Garcias. Por sua vez, directora geral da […]

Os vinhos da Quinta de Pancas passaram a ser distribuídos, desde 1 de janeiro de 2021 e em exclusivo, pela Garcias Wines & Spirits. “Gostamos de trabalhar com produtores activos e conhecedores do mercado, assim como disponíveis para arriscar e com espírito criativo”, refere Filipa Garcia, administradora da Garcias.

Por sua vez, directora geral da empresa da região de Lisboa, Cláudia Paiva, explica a opção: “Esta mudança de distribuidora marca o início de um novo ciclo na Quinta de Pancas. Acreditamos que temos os vinhos, a equipa e a história do nosso lado. Chegou o momento de levar a nossa marca e os nossos vinhos para outro patamar. Queremos chegar a mais consumidores, a mais canais e ter uma cobertura geográfica efectiva. Quando acreditamos e sabemos onde queremos chegar é muito importante ter ao nosso lado um parceiro que acredite tanto quanto nós e que seja dotado das ferramentas humanas, técnicas e logísticas que nos ajudem a alcançar o objetivo”.

Foto: quintadepancas.com

UTAD cria teste rápido à covid-19 com tecnologia de identificação de castas

Segundo a agência Lusa, a UTAD — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real — está a desenvolver um teste rápido ao SARS-CoV-2, um biossensor criado com a mesma tecnologia utilizada para a identificação molecular das variedades de uva. A Universidade alega que este protótipo, em vias de conclusão, garante resultados em 20 […]

Segundo a agência Lusa, a UTAD — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real — está a desenvolver um teste rápido ao SARS-CoV-2, um biossensor criado com a mesma tecnologia utilizada para a identificação molecular das variedades de uva.

A Universidade alega que este protótipo, em vias de conclusão, garante resultados em 20 minutos “e não requer pessoal especializado para a realização do teste”. Além disso, a instituição acredita ser possível a utilização em massa deste teste ainda em 2021.

Paula Martins Lopes, do Departamento de Genética e Biotecnologia da UTAD, refere que “o trabalho de autenticidade dos vinhos, que a Universidade desenvolve há vários anos, constitui conhecimento valioso que pode agora ser transposto para a situação muito preocupante que vivemos”. 

Esta tecnologia está associada a uma patente internacional registada por esta Universidade, no âmbito do WineBioCode e da Plataforma INNOVINE & WINE. A partir do DNA das castas, alia a composição varietal à Denominação de Origem Douro.

vinho da casa #40 – Saltimbancos Sauvignon Blanc 2019

Vinhos do Tejo certificaram mais 28% em 2020

Ao contrário do que poderia ser previsível (devido à pandemia), a região vitivinícola do Tejo aumentou a certificação dos vinhos em 27,72%, valor que fez subir o total de volume certificado para 30 milhões de litros, algo que, segundo o comunicado, os Vinhos do Tejo “contavam atingir em 2023”. De Janeiro a Abril, o crescimento […]

Ao contrário do que poderia ser previsível (devido à pandemia), a região vitivinícola do Tejo aumentou a certificação dos vinhos em 27,72%, valor que fez subir o total de volume certificado para 30 milhões de litros, algo que, segundo o comunicado, os Vinhos do Tejo “contavam atingir em 2023”.

De Janeiro a Abril, o crescimento foi de 76% e, no primeiro semestre de 2020, de 47%. Nos primeiros seis meses do ano, a CVR Tejo certificou 15,21 milhões de litros, o que representou cerca de metade dos números atingidos no final do ano: 29,75 milhões de litros. Por sua vez, a quota de vinhos certificados com Indicação Geográfica Tejo (o vinho Regional Tejo) mantém-se superior à DOC Do Tejo, o que seria de esperar pois o crescimento das vendas registou-se sobretudo nos super e hipermercados.

Luís de Castro (na foto), presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, comenta que “são boas notícias e que reflectem o esforço colectivo dos vários players da região. Nota para o facto de resultarem do trabalho não de um, mas de vários anos, em Portugal e nos mercados internacionais, onde a apetência para os Vinhos do Tejo é cada vez maior. As expectativas para 2020 eram de crescimento, mas não tão elevado; o facto de termos crescido tanto num ano tão atípico foi uma grande vitória”.

Douro tinto por menos de €10: Vinhos ambiciosos, compras inteligentes

Foram 36 os “candidatos” tintos e durienses com preços em euros até ao redondo 10, e o conjunto mostrou ser campeão na relação qualidade-preço, revelando frescura e complexidade. Será este segmento a compra inteligente do Douro? TEXTO Mariana Lopes FOTOS Ricardo Gomez Já se faz vinho no vale do Douro, segundo os mais antigos vestígios, […]

Foram 36 os “candidatos” tintos e durienses com preços em euros até ao redondo 10, e o conjunto mostrou ser campeão na relação qualidade-preço, revelando frescura e complexidade. Será este segmento a compra inteligente do Douro?

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Ricardo Gomez

Já se faz vinho no vale do Douro, segundo os mais antigos vestígios, há mais de 2 mil anos. No entanto, se olharmos apenas para os últimos dez, a evolução dos números desta região foi absolutamente notável, principalmente no que toca à produção e à comercialização. Segundo dados estatísticos recolhidos dos sites do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto e do Instituto da Vinha e do Vinho, a área total de vinha diminuiu de 2010 (45.553ha) para 2019 (43.608ha). No entanto, a área de vinha apta a Denominação de Origem (DO) Douro e Porto aumentou, no mesmo período, de 38.364ha para 40.071ha, o que significa que aquele decréscimo de área total de vinha representa, na verdade, boas notícias. Falamos de vinhas de uma região (e já que esta Grande Prova assenta em vinhos tintos) em que as castas tintas predominantes são a Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Tinto Cão, mas onde as (verdadeiras) vinhas velhas escondem dezenas de outras uvas antigas. São precisamente estas seis variedades de uva e também, de forma mais ocasional, a Sousão, que entram nos lotes de vinhos tintos do Douro com preço inferior a 10 euros, apenas variando entre elas e nas percentagens de cada uma. Note-se que a newsletter da associação ProDouro, na sua edição de Maio, deu conta de que já se pode oficialmente voltar a chamar Touriga Francesa à Touriga Franca. Nessa edição, pode ler-se: “Segundo o aviso nº 3999/2020 do Instituto da Vinha e do Vinho, publicado em Diário da República de 6 de Março «são incluídos na lista de castas anexa à referida Portaria [nº 380/2012 de 22 de Novembro] e da qual faz parte integrante as seguintes castas e sinónimos: (…) Casta Touriga-Francesa como sinónimo da casta Touriga-Franca (PRT52205), apenas na rotulagem da DO Porto, Douro e IG Duriense».”

Já no que toca à produtividade, devida aos solos pobres, clima agreste e orografia difícil, o Douro não é uma região que se caracterize por elevado rendimento, estando a produtividade permitida tabelada num máximo de 55 hectolitros (cerca de 7.500kg) por hectare. A produtividade média fica-se, inclusive, pelos 30 hectolitros (cerca de 4.100kg) por hectare, contra, por exemplo, os cerca de 7.600 kg/ha do Alentejo (dado de 2016).

Mas é quando chegamos aos números da produção de vinho que a coisa fica ainda mais séria. Em 2010, a produção total de vinho apto para poder originar DO Douro era de pouco mais de 50 milhões de litros. Em 2019, passou os 81 milhões. Em volume, as vendas de vinho tinto certificado DO Douro passaram, no mesmo período, de 17.543.521 litros para 30.024.831 litros, o que correspondeu, em valor, a um salto dos quase 80 milhões de euros para mais de 134 milhões. Tudo isto com um aumento de 43 cêntimos por litro, dos 4.04 euros para os 4.47, o que conclui que o Douro conseguiu aumentar a produção e as vendas sem baixar o preço, o que é sempre de louvar.

Os anos vitícolas 2017 e 2018

Quase todos os vinhos provados são das colheitas de 2017 (maioria) e 2018, dois anos vitícolas que se revelaram bastante díspares. A família Symington, com mais de 1000 hectares de vinha no Douro, produz óptimos relatórios de vindima que são excelentes apoios para qualquer trabalho, e o disposto a seguir foi baseado nesses mesmos relatórios, podendo ajudar a perceber os perfis dos vinhos destas colheitas. O ano de 2017 foi, em geral, bastante quente e seco, com a maioria dos seus meses a registar um nível de precipitação bem abaixo da média. Março, Abril e Maio foram, inclusive, cerca de 2.6ºC mais quentes do que a média e Abril, em concreto, foi o mais quente desde 1931. Junho também não quis ficar atrás, e foi o mais quente desde 1980, com a temperatura a atingir os 43ºC. Julho manteve-se seco e quente. Já Agosto mostrou-se mais moderado, com noites relativamente frescas. Consequentemente, e devido a esta seca, as produções em 2017 acabaram por diminuir.

A seca prolongou-se até Março de 2018, ano que acabou por divergir bastante do anterior porque em Março, Abril e Maio choveu abundantemente, a um nível que chegou a ser duas vezes acima da média destes meses. Depois, a 28 de Maio deu-se um episódio dantesco que poucos esquecerão: uma tempestade acompanhada de forte granizo, tendo a zona do Pinhão sofrido uma precipitação de 90mm em menos de duas horas. Foi desastroso e muitos produtores viram os seus solos arrastados para o rio e as vinhas destruídas, e também por isso as perdas na produção em 2018 foram muito grandes, mesmo com o resto do ano vitícola (com a excepção de um Setembro bastante mais quente do que o habitual) a revelar-se “normal”, com números próximos da média. Em 2017, a produção total de vinho DO Douro foi de 51.564.497 litros e em 2018 caiu de forma impressionante para os 38.530.429 litros. 

Como são os tintos do Douro até €10?

A amostra de 36 tintos do Douro com preço até 10 euros, é já suficiente para que se possam tirar algumas conclusões interessantes, a partir dos pontos em comum que apresentaram, e até dos que divergiram por alguma razão. Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que a faixa de preço se situou, na maior parte dos casos, nos 7, 8 e 9 euros. Uma das ilações, e a minha favorita, é o facto de este conjunto dos tintos ter apresentado uma enorme frescura transversal, e também um nível de complexidade já bem “jeitoso” para o segmento de preço. Os enólogos de alguns dos vinhos mais bem pontuados desta Grande Prova vieram ajudar a perceber isto e várias outras coisas. Francisco Baptista, autor do Andreza Reserva 2017, da Lua Cheia em Vinhas Velhas, explica que “o Douro é uma região que se tem adaptado as novas tendências, de vinhos com frescura e complexidade, e isto deve-se à riqueza de todo o vale, como as diferentes altitudes, vinhas em encosta com diferentes exposições, e três sub-regiões totalmente diferentes. Esta vindima [2017] foi complicada, pois começámos em Agosto com imenso calor e a maturação foi rápida nas zonas perto do rio, mas os mostos eram ricos em antocianas, polifenóis e ácidos. Na meia encosta, em vinhas viradas a Norte e nos planaltos, o equilíbrio era extraordinário”. Quanto à complexidade, o enólogo diz que esta “não é de admirar”, porque “a viticultura tem feito um trabalho notável na região e, se as castas estiverem nos sítios certos, a partir daí o trabalho na adega é facilitado”. Manuel Lobo, enólogo-chefe dos vinhos Quinta do Crasto, vai de encontro à ideia da pluralidade de terroirs do Douro com que se pode “jogar”, e acrescenta que “a resposta está na “nova era” de enologia, que assenta os seus pilares no respeito pela vinha e consequentemente pelo seu equilíbrio natural”. Em relação ao ano 2017, Manuel Lobo conta que “para encontrar o equilíbrio e frescura, foi fundamental não falhar o ponto óptimo de maturação, evitando assim os aromas de sobre-maturação, e privilegiar a altitude e exposições Norte e Nascente”. E é precisamente esta a exposição das vinhas que dão origem ao Flor das Tecedeiras, cuja enologia está a cargo de Rui Cunha (também do Quinta dos Avidagos Reserva 2017), que reforça que “isso contribui muito para o seu lado de frescura”. Jorge Moreira, responsável pelos vinhos da Real Companhia Velha, neste caso o Quinta dos Aciprestes 2017, e também pelos Quinta de La Rosa, lembra que “no passado havia uma grande procura por concentração e potência, mas hoje os enólogos estão muito mais virados para o equilíbrio. Assim, a frescura e a própria acidez passaram a ser uma das nossas maiores preocupações”. Paulo Coutinho, que assina os vinhos da Quinta do Portal, é ainda mais assertivo quando fala de complexidade e afirma que esta “vem claramente de um ano quente, pois a vinha, para produzir um bom vinho, precisa de sofrer. Mas, por exemplo, 2003 foi bem mais quente, produzindo ainda maior complexidade, mas faltou acidez e frescura. Já 2017 beneficiou do que 2009 já tinha beneficiado no Douro, que foi uma busca incessante por maior elegância e frescura. O enólogo da região tentou, desde aí, combater a concentração nos anos mais quentes com a acidez, seja recorrendo à altitude, ao portefólio das castas, ou ao controlo na viticultura, com práticas que nos permitem proteger a folha e fruto da agressividade do tempo quente”.

Mas, o que deve ser um vinho deste segmento de preço, tendo em conta o que o consumidor procura neles? José Manuel Sousa Soares, enólogo da Quinta de Ventozelo, da Gran Cruz, elucida de forma muito pertinente que, para si e nesta empresa, é “necessariamente um vinho da gama média em qualidade e com um preço pouco superior à entrada de gama. Pretende-se que a força, o carácter e a complexidade do lugar sejam evidentes num vinho acessível, marcado pela expressividade das castas que o compõem”. Jorge Moreira concorda e, além de falar na identidade regional, refere que “devem ser equilibrados e estar em bom momento para serem consumidos”, e que são vinhos que estão “no nosso segundo patamar qualitativo, tendo em conta que os de entrada de gama têm carácter regional, os do segundo patamar já mostram a Quinta de onde vêm, num terceiro mostram a casta e/ou a vinha, e assim sucessivamente”. Uma hierarquia e perspetiva interessante, demonstrada por este enólogo.

Rui Cunha, por sua vez, defende o contraditório de uma forma válida: “De uma forma geral, nós (e eu também sou consumidor) procuramos aqui vinhos equilibrados, coerentes, com complexidade e bom final de boca. Mas não há uma definição de como deve ser um vinho ‘nesta faixa de preço’. No projecto das Tecedeiras, o Flor das Tecedeiras está na gama de entrada mas, nos Avidagos, o Avidagos Reserva é um ‘premium’. Este é só um dos argumentos”. Já Paulo Coutinho vê esta questão um pouco como um “jogo de cintura”, explicando que “esta é uma gama de preço onde o consumidor procura chegar sempre que quer um pouco mais de sofisticação e complexidade do que o habitual. Já não é o vinho do dia-a-dia. Além disso, é quando o consumidor pensa não só nele, mas na companhia para o tomar, e normalmente escolhe esta gama dos [quase] 10 euros para iniciar o jogo antes de passar o ponto alto, ao nível acima. Assim, tem de ter a complexidade suficiente para não defraudar”. Manuel Lobo acrescenta que “devem ser vinhos que despertem também no consumidor a curiosidade para conhecer melhor a região”.

Na vinha e na adega

Há um elemento comum nas respostas dos enólogos, que é a vinha, o respeito por ela, e a importância da viticultura, e isto não só nesta prova, mas em muitas outras que a Grandes Escolhas já fez. O que nos leva a indagar sobre se, para cada tipo de vinho, haverá ou não uma viticultura especifica, e até, em concreto no Douro, castas favoritas ou “essenciais” para tintos deste segmento. José Manuel Sousa Soares começa por expor que “na viticultura temos de escolher métodos que expressem bem o carácter das castas e dos locais de produção, de forma a que a produção seja equilibrada com o potencial vitícola em causa, quer do ponto de vista qualitativo como quantitativo, e que promova a boa sanidade vegetal. Não há, portanto, soluções únicas nem sempre vencedoras, até porque os anos, do ponto de vista climático, não se repetem e originam alteração do potencial das uvas. É necessário um acompanhamento muito próximo da evolução anual que possibilite a escolha acertada das datas de vindima em cada parcela”. Este enólogo escolheu integrar Alicante Bouschet no lote do Ventozelo 2016, juntamente com Touriga Francesa e Sousão, porque aquela casta “está instalada numa meia encosta virada a Nascente-Norte e, em 2016, apresentava frescura com algum carácter vegetal muito importante para o resultado final”. Além deste pormenor, que confere alguma originalidade, José Manuel Soares acredita que, neste tipo de vinho, “a Touriga Franca [ou Francesa] é essencial na estruturação”. Jorge Moreira e Francisco Baptista também elegem a Touriga Francesa como favorita nestes lotes, este último dizendo que dá “pouco álcool, boa acidez, e fruta vermelha intensa e fresca”. E Manuel Lobo reforça que não há receitas, mas que “é fundamental estarmos presentes. O modelo deve ser de equilíbrio e de respeito pela identidade o que, na minha opinião, só se consegue com uma viticultura de precisão.”. E defende, nestes vinhos, a tríade “Touriga Nacional, para aroma e frescura, Touriga Franca, para volume e estrutura, e Tinta Roriz, que dá elegância e persistência”. Depois de confessar que lhe dá gozo voltar a usar o nome “Francesa”, Paulo Coutinho confessa que esta é a “pacificadora do lote”, mas que adora a Tinta Roriz para esta categoria, achando “incrível para o frutado que pretendo”. E Rui Cunha volta a trazer o fundamental contra-argumento: “De nada serve dizer que uma determinada casta é fundamental se o local não lhe é favorável. Felizmente, a região do Douro é rica em castas que estão muito bem-adaptadas aos variadíssimos ‘micro-terroirs’”.

Quanto à enologia destes vinhos, e quando falamos do ano quente de 2017, Manuel Lobo diz que “foi essencial controlar muito bem as extracções e as temperaturas de fermentação” para que não se perdesse frescura. Jorge Moreira e Paulo Coutinho sublinham a pouca extracção e o primeiro fala também da necessidade de vindimar cedo “quando ainda temos fruta fresca”, e do “cuidado com a madeira nova para não descaracterizar os vinhos”. Rui Cunha toca estes pontos mas acrescenta (e muito bem) o factor higiene. E depois de tudo isto, só há uma coisa a desejar, nos tempos que correm: haja higiene e saúde para beber vinhos desta qualidade!

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Artigo da edição nº38, Junho 2020

Vinhos Madeirenses “Ilha” distribuidos pela Vinalda

FOTO Ricardo Pinto A Vinalda acaba de ganhar exclusividade na distribuição dos vinhos Ilha, de Diana Silva. Estes vinhos DOP Madeirense nascem de parcerias com seis pequenos viticultores das duas principais zonas vitícolas da Madeira: Estreito de Câmara de Lobos (na costa Sul) e São Vicente (na costa Norte).  Diana Silva criou este projecto pelo […]

FOTO Ricardo Pinto

A Vinalda acaba de ganhar exclusividade na distribuição dos vinhos Ilha, de Diana Silva. Estes vinhos DOP Madeirense nascem de parcerias com seis pequenos viticultores das duas principais zonas vitícolas da Madeira: Estreito de Câmara de Lobos (na costa Sul) e São Vicente (na costa Norte). 

Diana Silva criou este projecto pelo “desejo de regressar às origens, o amor à terra e a crença no terroir”, diz o comunicado da Vinalda. A produtora decidiu apostar na Região da Madeira e na “mal-amada” casta autóctone Tinta Negra, para elaborar vinhos tranquilos. Em 2018 lançou a trilogia Ilha – um tinto, um Blanc de Noirs (o primeiro da Região) e um rosé, a que se juntou mais tarde um branco da casta Verdelho.

José Espírito Santo, director-geral da distribuidora Vinalda, afirma que “a entrada na Vinalda deste projecto, em tudo inovador, é mais uma prova que estamos, cada vez mais, a apostar e apoiar jovens e pequenos produtores com projetos locais, de terroir, diferenciados e de qualidade”, e defende que “as grandes distribuidoras têm uma função importante em facilitar o acesso ao mercado de pequenos produtores que, de outra forma, teriam mais dificuldades”.