Editorial: Então é assim

Editorial da edição nrº 101 (Setembro de 2025) É uma das mais clássicas interrogações do jornalismo: até que ponto a isenção é condicionada pelos gostos ou preferências de quem escreve? A deontologia profissional exige que o jornalista seja independente e isento. Mas o jornalista não deixa de ser uma pessoa. E podendo e devendo salvaguardar, […]
Editorial da edição nrº 101 (Setembro de 2025)
É uma das mais clássicas interrogações do jornalismo: até que ponto a isenção é condicionada pelos gostos ou preferências de quem escreve? A deontologia profissional exige que o jornalista seja independente e isento. Mas o jornalista não deixa de ser uma pessoa. E podendo e devendo salvaguardar, com afinco, a sua independência, dificilmente consegue assegurar a completa isenção.
Os jornalistas escondem, sempre, as suas preferências. Na tradição europeia, os que escrevem sobre política nunca dirão em quem votam nem apelarão a um sentido de voto. E, no entanto, enquanto apaixonados pelo tema, é certo que se identificam com determinadas ideias, pessoas e partidos. E rejeitam outras e outros. Pode então a sua análise aos méritos deste ou daquele político, ou desta ou daquela proposta, ser inteiramente isenta?
Algo quase impossível no jornalismo desportivo, sobretudo no futebol, onde o adepto é irracional por natureza. Não existe uma razão para se ser deste ou daquele clube. É-se, simplesmente. Sendo os jornalistas desportivos também adeptos, com que isenção avaliam um jogo ou um jogador?
Já quem escreve sobre gastronomia (ou vinhos) não vê o mundo a duas cores. É normal apreciar sabores muito distintos ou estilos bem diversos. Ainda assim, terá favoritos e ódios de estimação. Se um jornalista detestar abóbora (é o meu caso…) com que rigor vai avaliar um prato baseado naquele fruto?
Felizmente, não escrevo sobre comida. Mas escrevo sobre vinhos. E tal como os jornalistas de outras áreas, tenho as minhas preferências. E tal como eles (ou, acredito, a maioria deles) esforço-me ao máximo por impedir que os meus gostos influenciem o meu julgamento. Sei que, conscientemente, não beneficio ou prejudico um vinho em função de apreciar mais este ou aquele estilo ou região. Mas não posso garantir, com toda a certeza, que nunca o faça sem dar por isso. Essa garantia, nenhum ser humano pode dar.
Um crítico de vinhos (ou comentador político) não é suposto ser isento. Mas um crítico de vinhos que seja, ao mesmo tempo, jornalista, tem a obrigação de, a todo o custo, procurar sê-lo. E embora entenda que a exposição pública possa ser mal interpretada, seria bem melhor para o profissional do jornalismo, qualquer que seja a sua área, se os seus leitores soubessem para onde o seu coração (ou cabeça, ou estômago…) se inclina.
Não me importo de dar o primeiro passo. Então é assim. Sou bastante eclético, aprecio vinhos muito distintos no perfil. Mas nos tintos, gosto de garra tânica, estrutura e boa acidez. E nos brancos, sou pela untuosidade, elegância e frescura crocante. Não sou fã da fruta exuberante, prefiro os aromas e sabores vegetais de bosque ou frutos citrinos, às framboesas, groselhas e frutos tropicais. Entre vinhos de igual qualidade, escolho beber os menos alcoólicos. Mas detesto vinhos de uvas verdes (uma moda ridícula que, espero, passe depressa). A barrica em nada me incomoda se for boa e discreta. Nos varietais tranquilos, vou nos Encruzado, Baga, Alvarinho, Loureiro, Alicante Bouschet e Cabernet e passo Viognier, Merlot, Moscatel, Pinot e Gewurztraminer. Adoro espumantes “bruto zero” e com longo estágio em cave (aqui o Pinot é muito bem-vindo) e dispenso Pet Nat, Late Harvest e destilados.
Regiões? Na minha garrafeira estão todas bem representadas. Mas se fosse possível aferir as favoritas pelas garrafas que espreitam nas prateleiras, poderia dizer que, em tintos, prevalecem Bairrada, Douro e Alentejo, em partes quase iguais. E em brancos, Monção e Melgaço (dominante), Bairrada e Dão. Nos licorosos, Porto (bem maioritário), Madeira e Setúbal. Para terminar esta declaração de interesses, devo acrescentar que gosto imenso de tintos Barolo e Bordeaux e brancos Mosel, Bourgogne e Jerez mas, infelizmente, não abundam cá em casa… L.L.
Ao serviço de pequenos e médios produtores

O novo Centro de Vinificação do Vale do Douro (CEV Douro), localizado em Peso da Régua, já se estreou nesta época de vindimas e permanece de portas abertas para pequenos e médios produtores de vinho. Trata-se de um projecto de investimento privado, idealizado e liderado por Francisco Magalhães, Engenheiro Químico, e cuja gestão é partilhada com […]
O novo Centro de Vinificação do Vale do Douro (CEV Douro), localizado em Peso da Régua, já se estreou nesta época de vindimas e permanece de portas abertas para pequenos e médios produtores de vinho. Trata-se de um projecto de investimento privado, idealizado e liderado por Francisco Magalhães, Engenheiro Químico, e cuja gestão é partilhada com a filha, Andreia Magalhães, auditora formada em Engenharia Alimentar.
Com um investimento na ordem dos cinco milhões de euros e capacidade de produção de 800 mil litros de vinho tranquilo do Douro, esta unidade tem ao dispor os serviços de recepção e pesagem das uvas, desengace e esmagamento, fermentação alcoólica, prensagem, fermentação malolática, clarificação e estabilização do vinho, armazenamento em condições adequadas, análises enológicas, feitas internamente, em laboratório próprio, engarrafamento e sala de provas, em breve ao serviço dos clientes. Quem contratar os serviços do CEV Douro pode ter enólogo próprio ou optar pela prestação de Afonso Pinto, enólogo residente deste projecto.
Para 2026, há a probabilidade de avançar com o apoio técnico na vinha. Paralelamente, está a ser estudada a implementação do apoio nas áreas comercial e de marketing.
Quanto à produção de vinho, para este ano está previsto um máximo de 100 mil litros, número esse que inclui as referências de um projeto familiar de Francisco e Andreia Magalhães. Este vai ser apresentado no próximo ano e tem origem em quatro quintas da família situadas na margem direita do Rio Douro, entre Régua, Sabrosa e Murça.
Duplo vencedor na X edição do Concurso Tomate Coração de Boi do Douro

As quintas do Ventozelo e do Pessegueiro conquistaram o primeiro lugar ex aequo deste desafio duriense, que, este ano, reuniu 28 produtores da região, na Quinta da Pacheca, em Armamar. Aroma, sabor, textura e harmonia foram os requisitos testados na prova deste fruto de verão, cuja seleção coube a um júri constituído por produtores, chefs […]
As quintas do Ventozelo e do Pessegueiro conquistaram o primeiro lugar ex aequo deste desafio duriense, que, este ano, reuniu 28 produtores da região, na Quinta da Pacheca, em Armamar. Aroma, sabor, textura e harmonia foram os requisitos testados na prova deste fruto de verão, cuja seleção coube a um júri constituído por produtores, chefs e entusiastas de diferentes origens, e presidido por Francisco Pavão, nome de referência na promoção de produtos do território do Douro e de Trás-os-Montes. Esta acção incluiu ainda, na lista de premiados, a Quinta do Infantado e a Quinta Santa Comba, que ficaram, respectivamente, em segundo e terceiro lugares.
No contexto da preservação do Tomate Coração de Boi do Douro, José Manuel Fernandes, Ministro da Agricultura e Pescas, reconheceu a necessidade de avançar para a certificação IGP (Indicação Geográfica Protegida) deste produto.
DONA DORINDA: Pixie, Qué Será, Será…

“Qué será, será Whatever will be, will be The future’s not ours to see Qué será, será What will be, will be” O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, […]
“Qué será, será
Whatever will be, will be
The future’s not ours to see
Qué será, será
What will be, will be”
O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, décadas mais tarde, pela não menos famosa banda Pixies, tal como eu, fã assumido do quarteto de Boston, Massachussets, fundado em 1986. Na verdade, foi mesmo a primeira coisa em que pensei quando me atribuíram esta cobertura jornalística do vinho Pixie.
Com uma combinação única de energia, melodias pop com estruturas musicais imprevisíveis, letras surrealistas e a famosa dinâmica quiet-loud-quiet, onde as canções alternam entre versos calmos e refrões explosivos, os Pixies deixaram uma marca indelével na história da música, estabelecendo-se como uma das bandas mais icónicas e influentes do rock alternativo, servindo, inclusive, de assumida inspiração a bandas não menos icónicas como Nirvana ou Radiohead. Mas e o que é que os Pixies poderão ter em comum com o vinho Pixie, para além da evidente semelhança do nome?
A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha
ESTILO INOVADOR
Na verdade, tal como os Pixies, com o seu estilo inovador e dinâmicas contrastantes, ajudaram a moldar o som do rock alternativo dos anos 1990, influenciando toda uma geração de bandas que seguiram o seu exemplo, há 25 anos atrás, na Quinta Nossa Senhora da Conceição, uma pequena propriedade no coração do Alentejo, Évora, de onde os recém-lançados vinhos Pixie são oriundos, foi tomada a decisão de abandonar completamente o uso de pesticidas e herbicidas, bem como de implementar práticas biodinâmicas e biológicas.
Convenhamos que, no Portugal vínico de 1999, os termos agricultura biológica e orgânica, produção biodinâmica, substituição de herbicidas, fungicidas e pesticidas sintéticos por preparados naturais, se calhar soava tão disruptivo como o som dos Pixies.
Chegando de Lisboa, um pouco antes de entrar em Évora, viramos à esquerda e tomamos a estrada para Arraiolos, para passado pouco tempo encontrar a Quinta Nossa Senhora da Conceição, numa localidade chamada Valbom do Rouxinol, ladeada pelo Aqueduto romano e confinando adiante com a Cartuxa.
Mark e Dorinda Winkelman são os proprietários. Um casal norte-americano residente nos Estados Unidos, que adquiririu a propriedade há um quarto de século e vêm ao Alentejo mais para usufruir e sentir as boas energias do sítio, do que propriamente para gerir alguma coisa. Essa parte está (bem) assegurada pelo seu braço direito Vítor Conceição, administrador, e Eduardo Cardeal, enólogo.
Victor Conceição está à frente do projecto desde 2006. Nascido e criado na cidade de Évora, conhece a região e o valor daquela terra como ninguém: “Esta zona de Valbom, também conhecida por Valverde, onde estamos, juntamente com o Convento da Cartuxa e a Fundação Eugénio de Almeida, possuía as hortas e vinhas que abasteciam a cidade romana de Évora e outras cidades do Império”, ou seja, conta com dois mil anos de tradição, pelo menos.
A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha, onde se inclui a famosa Vinha Meia-Lua, com 2,5 hectares, plantada em 2005 numa pequena elevação, aproveitando todo o declive orográfico (280 a 295 metros altitude); solos de argila vermelha com algum xisto, grande espaçamento entre as plantas, cordão duplo a boa altura em relação ao solo, de forma a maximizar a ventilação, exposição e minimizar o risco de doenças fúngicas, coberto vegetal de ervas locais, contribuindo para a diversidade de vida nos solos, bem como evitando a erosão nas filas de vinhas que se encontram no cimo da elevação.
Os restantes seis hectares de vinha, mais recente, inserem-se dentro da mesma filosofia de viticultura, isto é, de acordo com os princípios do cultivo biológico e biodinâmico, uma vez que, é bom lembrar, a Dona Dorinda Organic Wines possui certificação quer na Europa, quer nos Estados Unidos.
Infusões, misturas e sprays biodinâmicos são utilizados na vinha desde 2007, numa fase preventiva, e todos os trabalhos são realizados segundo o calendário lunar; a monda de cachos, efectuada anualmente, é realizada com o objetivo claro de criar vinhos concentrados e com grande capacidade de guarda; vindimas nocturnas são regra da casa, para aproveitar a excelente amplitude térmica do terroir Dona Dorinda, sob clara influência da Serra d’Ossa, a pouco mais de 30 km em linha recta.
O resto da propriedade “é um pequeno paraíso” referem Vítor e Eduardo, mais de duas mil árvores plantadas a pensar nas futuras gerações, e toda a quinta é um ecossistema vivo e vibrante, composto por montado típico alentejano, que serve de alimento aos porcos pretos, onde vacas pastam pacificamente e o estrume produzido alimenta as vinhas. Cães Rafeiro Alentejano descansam pelas sombras durante o dia e guardam a propriedade durante a noite, mas existe também toda uma grande diversidade de pequenos animais, aves autóctones, insectos, etc.
SYRAH E VIOGNIER
Quanto à escolha das castas a plantar, foi a decisão mais fácil de tomar, ou não fosse Mark, para além de um grande conhecedor e colecionador de vinhos do mundo, um apaixonado pelo Rhône e, como tal, não podiam ser outras que não fossem Syrah e Viognier. Podemos questionar-nos se serão, ou não, as castas indicadas para o Alentejo de Évora, especialmente a Viognier, casta com uma acidez natural baixa e que rapidamente dispara os açúcares se não for vindimada no momento exacto, sendo até preferível uma vindima ligeiramente precoce, para não correr o risco de obter um vinho chato, mole e sem vida. Mas a minha opinião é que devemos respeitar sempre a decisão do produtor. Ainda para mais quando é tomada com uma forte componente emocional e de paixão, como foi o caso.
A Dona Dorinda Organic Wines apresentou Pixie, a nova gama de entrada da marca: um branco, um rosé e um tinto criados com o propósito de tornar o universo encantado da Dona Dorinda acessível a mais pessoas, sem perder a autenticidade que distingue cada garrafa da casa. Este lançamento só foi possível graças à recente expansão da área de vinha, que passou de 2,5 hectares para 8,5 hectares, permitindo aumentar a produção e dar origem a novos vinhos que reflectem a mesma paixão, mas agora com uma abordagem mais leve, descontraída e inclusiva.
E afinal de contas quem é a Pixie?! A resposta é clara – Dorinda Winkelman, a proprietária da Quinta Nossa Senhora da Conceição e da Dona Dorinda Organic Wines. Com o seu espírito livre, sensibilidade estética e ligação profunda à natureza, sempre foi apelidada carinhosamente entre amigos e família como “Pixie” – palavra inglesa para “fada”, símbolo de encanto, leveza e magia. E é, precisamente, essa energia que a nova gama pretende engarrafar! Por mim, está mais que conseguido!
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
ADEGA DE BORBA: Havendo tempo serão mais 70

A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos […]
A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos factores que contribuiu para que os vitivinicultores da região se associassem, em 1955, foi a dificuldade que tinham para a comercialização dos seus vinhos. O outro foi incentivo estatal dado, na época, pela Junta Nacional do Vinho, ao associativismo no sector, que contribuiu para a constituição desta e de outras adegas no Alentejo. Também foi um empurrão fundamental para o seu desenvolvimento e a base do protagonismo que o sector tem hoje na região, dado que sustentou a organização e equipamento das suas unidades industriais e a implementação dos seus sistemas de comercialização.
Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50.
Os primeiros vinhos
Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50. A partir daí, a área de vinha e o número de sócios da Adega de Borba foi sempre crescendo, à medida que iam decorrendo diversas mudanças na sua estrutura produtiva, até ao modelo actual.
Com o tempo as vinhas deixaram de estar consociadas com o olival, algumas árvores de fruto e outras, e passaram a ser estremes. A chegada dos primeiros fundos europeus, na década de 1980, contribuiu para que todas passassem a estar alinhadas e aramadas. Veio também a separação das variedades tintas e brancas no terreno, a plantação por casta, tal como se vê hoje, e a opção por vender o vinho embalado. Era preciso responder a consumidores cada vez mais informados e exigentes, num mercado global que procurava, cada vez mais, produtos de qualidade.
Em paralelo continuou o crescimento da área de vinha, que se estabilizou nos cerca de 2200 hectares actuais há cerca de 20 anos. Desenvolve-se nos concelhos de Borba e Estremoz, mas também se insinua nos de Vila Viçosa, Elvas, Monforte e Sousel, que os limitam. São sobretudo terras de planalto, solos calcários que ficam sobre o Complexo Vulcano Sedimentar Carbonatado de Estremoz, aquele que origina o mármore distinto de Estremoz, que é Pedra Património Mundial pela Unesco. Mas também se desenvolvem num vale de solos xistosos em direção à Serra de Ossa, que ali fica bem perto, a cerca de cinco quilómetros para sudoeste. É sobre estas duas zonas que ficam as cerca de 1600 parcelas de vinha dos associados da Adega de Borba.
Saber acumulado
No ano em que celebra sete décadas desde a sua fundação, a Adega de Borba lançou o vinho comemorativo Havendo Tempo. “Este vinho nasce do tempo que se respeita e do tempo que se guarda”, disse Óscar Gato, enólogo da Adega de Borba, durante o evento de lançamento, acrescentando que “cada garrafa encerra o saber acumulado de décadas e a atenção que dedicamos a cada detalhe, da vinha até à cave”, para criar “um vinho pensado para quem sabe esperar”. Havendo Tempo presta homenagem à filosofia de vida das gentes alentejanas e ao tempo investido em cada garrafa, ao longo de sete décadas de história.
Disponível nas versões tinto 2021 e branco 2023, esta edição especial reflecte o espírito da região e o saber acumulado ao longo de gerações, dado que é um tributo à forma como se vive e trabalha no Alentejo, com calma, atenção ao detalhe e respeito pelo ritmo da natureza. Produzidas a partir de castas tradicionais da região e sujeitas a estágios prolongados em barrica e garrafa, as colheitas desta gama foram pensadas para serem apreciadas com calma, tempo e em boa companhia. Em paralelo também foram apresentadas as edições especiais tintas e brancas do Adega Cooperativa de Borba, rotuladas com imagem antiga destes vinhos.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
Toca a vindimar!

As vindimas estão aí! E são sempre um bom pretexto para complementar as visitas às adegas com a experiência da colheita da matéria-prima no terreno. Basta explorar os programas organizados pelas comissões vitivinícolas e pelas rotas dos vinhos de regiões vitivinícolas, com atividades para todos os gostos, desde pôr a mão no cacho e os […]
As vindimas estão aí! E são sempre um bom pretexto para complementar as visitas às adegas com a experiência da colheita da matéria-prima no terreno. Basta explorar os programas organizados pelas comissões vitivinícolas e pelas rotas dos vinhos de regiões vitivinícolas, com atividades para todos os gostos, desde pôr a mão no cacho e os pés nas uvas aos repastos prolongados.
A começar pela Região dos Vinhos do Tejo, com localização privilegiada no Centro de Portugal, facilitando a deslocação às vinhas deste território que abrange 7000 km2. Na lista de sugestões, constam a “Noite de Vindima na Lagoalva” (€75), na Quinta da Lagoalva, em Alpiarça, agendada para o dia 05 de Setembro, com um jantar, cuja ementa é assinada pelo chef Rui Lima Santos, do restaurante Deselegante, em Santarém, e harmonização vínica. Também em Alpiarça, na centenária Casa Paciência, decorrem, até 28 de Setembro, as ações “Flash Vindima” (€25), “Vindima Pé Descalço” (€35) e “Top Vindima” (€50), enquanto a Quinta da Atela prossegue, em Agosto e Setembro, com o desafio “Venha vindimar connosco” (€20), onde ninguém escapa a um passeio de tractor pelas vinhas e não só! Já em Torres Vedras, a Quinta de São João Batista, pertencente à Enoport Wines, é, a 06 de Setembro, palco de “Um Dia na Vindima” (€75), onde não vão faltar petiscos tradicionais, vindima, pisa a prova de mosto e almoço regado, entre outras ações. No concelho do Cartaxo, a Vinhos Franco propõe, a 14 de Setembro, as “Vindimas 2025” (a partir de €35), com “hora de matar o bicho!” e ida à vinha à boleia num Renault 2CV, sem esquecer algumas actividades na adega e, claro, o almoço, por exemplo, e a Quinta do Sampayo sugere a seleção de um dia entre segunda e sexta-feira, dos meses de Agosto e Setembro, para “Prova & Vindima” (€25), ou de segunda-feira a sábado, para “Vindimar como um vinhateiro” (€80). As crianças entre 10 e os 16 anos têm direito a um espaço especial.
Para mais informações e proceder à reserva de cada uma destas casas, tenha à mão o número de pessoas, incluindo crianças, e faça a reserva junto da Rota dos Vinhos do Tejo, através do telefone 243 157 137 ou do e-mail rota@vinhosdotejo.pt.
Mas “SE TÚ (BAL) queres ir às vindimas, aqui é o lugar certo!” Esta afirmação cabe à Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, com programas desenhados para o efeito, como o “Adegas de Portas Abertas”, ação gratuita e acessível mediante reserva, com visita guiada e prova de um vinho na Casa Agrícola Horácio Simões (06 de Setembro), Casa Dupó (27 de Setembro), Quinta do Brejinho da Costa (03 de Outubro) e Bacalhôa – Vinhos de Portugal (04 de Outubro). De 04 a 09 de Setembro decorre a edição de 2025 da Festa das Vindimas em Palmela, sob o tema “Renascida Tradição”, com múltiplas actividades, entre cortejos, animação cultural e música, a somar ao Mercado de Vinhos, showcookings, harmonizações vínicas e provas desportivas. Paralelamente, a Adega de Palmela apresenta três formatos de programas, para desfrutar durante meio-dia (€45), o dia completo, com almoço na Cave das Barricas (€90), ou com alojamento e pequeno-almoço (a partir de €135), disponíveis a 03, 10, 17 e 24 de Setembro. Em Fernão Pó, a Fernão Pó Adega tem marcado, para 19 de Setembro, o “Dia de Vindima com o Enólogo” (de €15 a €35), para o qual as famílias (2 adultos + 2 crianças = €94) também são bem-vindas. No dia 20 de Setembro, chega a vez da Casa Agrícola Horácio Simões abrir as portas, para a “Pisa a Pé na Adega” (€12,50 a €25). Para mais informações acerca de cada evento, o melhor é consultar os sites Vinhos de Setúbal e Rota de Vinhos da Península de Setúbal.
Vindimas noturnas, passeios de jipe e bucha tipicamente alentejana são algumas das propostas integradas nos programas reunidos pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, a respeito dos quais pode obter mais detalhes na Rota dos Vinhos do Alentejo através do 266 746 498.
Com Arraiolos como destino, o produtor de vinhos Maionova, localizada na Herdade da Fonte Santa, está a preparar a “Moinante Experience” (€110), agendada para o dia 13 de Setembro, com DJ, jantar em cozinha de fogo, observatório de estrelas, ceia, entre outras actividades. No mesmo concelho alentejano, a Tapada de Coelheiros, na freguesia de Igrejinha, desafia a descobrir a essência das vindimas (€75), ocasião em que os produtos regionais e os vinhos desta propriedade recebem, uma vez mais, protagonismo. Em Estremoz, a Adega do Monte Branco apresenta um programa de vindimas (€50), em que não vai faltar o piquenique, com o cunho alentejano, enquanto a Adega Vila Santa, do Grupo João Portugal Ramos, sugere uma experiência (€110), com direito à típica bucha, sem esquecer múltiplas acções no âmbito da tradição alentejana. Rumo ao concelho de Évora, prosseguem os programas da FitaPreta (€150), na freguesia de Nossa Senhora da Graça do Divor, os quais estão centrados no conhecimento do vinho, com a promessa de muita animação. No Enoturismo da Cartuxa, localizado na Estrada da Soeira, a dois passos das muralhas da cidade Património Mundial, as portas abrem-se, de 02 de Setembro a 03 de Outubro, a uma experiência (a partir de €200) com dois turnos diários, o qual permite regressar às origens da produção vínica e não só. Porque o saber não ocupa lugar, o programa da Casa Relvas (a partir de €65) inclui, além de outras propostas, a identificação das castas e a análise dos bagos, na Herdade de São Miguel, localizada em São Miguel de Machede, a escassos quilómetros de Évora.
No centro da cidade de Reguengos de Monsaraz, a Adega José de Sousa mantém, até 15 de Setembro, a experiência associada à vindima e ao vinho de talha (a partir de €29), com enfoque na Adega dos Potes, em que não vão faltar petiscos regionais. Na freguesia da Vendinha, a Ervideira sugere a experiência “100 Pés” (€65), programa enaltecido pelo momento em que a pisa a pé continua a ser feita como antigamente e os sabores alentejanos são preservados. Na Herdade do Esporão, os dias 29 de Agosto e 05 de Setembro são marcados por um programa especial (€90), com início marcado para as 10h00 e término no Wine Bar, onde é servido o almoço. No distrito vizinho de Portalegre, o Monte da Raposinha, em Montargil, recebe visitas de Terça-feira a Sábado (€15), num ambiente descontraído, e o Torre de Palma Wine Hotel, em Monforte, propõe, até Outubro, um programa inspirado nas tradições romanas (a partir de €50), no qual não falta a prova de mostos, e com pisa a pé disponível durante o mês de Setembro.
Ainda no Alentejo, mas mais a Sul, a Herdade da Malhadinha, em Albernoa, no concelho de Beja, desafia os hóspedes a mergulhar na “Hervest Experience” (a partir de €780). São dois dias intensos de passeios, com piquenique, jantar temático no Restaurante Organic & Inspired Cuisine e mais dinâmicas a explorar. Ali ao lado, a Casa Santa Vitória promove um programa completo de vindimas (€65) disponível até 10 de Setembro. Na Vidigueira, a Quinta do Quetzal combina as vindimas com gastronomia e vinhos da casa (a partir de €70), com a possibilidade de escolher entre o piquenique e o almoço no restaurante desta propriedade. Durante esta semana de Agosto e o próximo mês de Setembro, a Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, convida a participar num programa de vindimas e na Casa das Talhas (€75), com almoço típico. Mas há mais! Por fim, em Vila de Frades, os produtores Gerações da Talha propõe o programa “Mexer das Talhas” (a partir de €30) e a Honrado Wines tem experiências para todos os gostos (a partir de €50), que pode inclui um workshop de olaria e provas cegas. De regresso à cidade de Évora, considere a visita ao espaço da Rota dos Vinhos do Alentejo, onde a “Semana dos Produtores” permite fazer a prova (€7,50) de dois produtores por semana, para além de que é possível desenhar um roteiro exclusivo com adegas e players da região.
Rumo à Região dos Vinhos do Algarve, a Comissão Vitivinícola do Algarve sugere experiências que cruzam tradição e gastronomia no âmbito das vindimas, celebração secular marcante para as adegas daquele território, entre vinhas ladeadas pelo mar e pelo barrocal. Neste contexto, há três produtores que abrem as portas, para partilhar com os demais este momento. É o caso da Cabrita Wines, em Silves, a 23 de Agosto, Villa Alvor, o projecto da Aveleda localizado no Alvor, a 01 de Setembro, a Quinta da Tôr, e, Loulé, a 07 de Setembro. Mantenha-se a par das novidades das adegas algarvias através do site algarvewinetourism.pt/rota/ e peça informações através do email cva@vinhosdoalgarve.pt.
Cais da Ferradosa: E o Douro aqui tão perto…

Não será fácil lá chegar, tantas são as curvas e a montanha russa de subidas e descidas que a orografia do Douro nos impõe. Mas também isso, afinal, faz parte do encanto do lugar. A ansiedade, uma certa fadiga e um estômago com fome são condicionantes que nos ajudam a apreciar melhor, depois de chegados […]
Não será fácil lá chegar, tantas são as curvas e a montanha russa de subidas e descidas que a orografia do Douro nos impõe. Mas também isso, afinal, faz parte do encanto do lugar. A ansiedade, uma certa fadiga e um estômago com fome são condicionantes que nos ajudam a apreciar melhor, depois de chegados e relaxados, a tranquilidade e incrível beleza do lugar. Fica este restaurante na antiga estação de caminho de ferro de Ferradosa, mesmo à beira do Rio Douro majestoso em instalações recuperadas pelo Município de São João da Pesqueira.
A esplanada sobranceira ao curso de água, onde deslisa vagarosamente um barco turístico e o comboio que passa, de quando em vez, na margem oposta, compõem o postal. À frente do projecto está a figura de Fernando Gomes, com grande experiência na restauração, ou não estivesse ele também ligado, por relações familiares, a outro grande ícone da gastronomia do Douro, como o é a Toca da Raposa, em Ervedosa. Na cozinha, a esposa, Sandra Carvalho, afina os temperos e apruma os sabores.
Aqui, contudo, construiu-se algo de diferente. O Cais da Ferradosa é a montra de uma cozinha com raízes claramente regionais, mas com um toque de elegância, e até de sofisticação, que contrasta com a rusticidade do velho edifício. Como não poderia deixar de ser, a presença do rio vai para além das vistas e manifesta-se na ementa, com uma oferta tentadora de peixe em escabeche ou na sápida sopa, que nos aquece a alma. No tempo deles, os espargos silvestres encontram a companhia ideal dos ovos húmidos e fofos. As alheiras, servidas em bolinhas crocantes e estaladiças, aguçam-nos o apetite e preparam-nos para o conforto de uma refeição, que apela a memórias esquecidas, como é caso dos milhos transmontanos, suculentos e substanciais, que provámos a seguir. O lombo de bacalhau, previamente confitado e colocado sobre um guisado de feijocas, eleva-nos a um patamar superior.
Outras opções possíveis, dependendo da época do ano ou da disponibilidade dos ingredientes, podem levar-nos para o pernil de porco fumado, o rabo de boi, o cabrito estufado ou a posta de vitela. Tudo isto com uma apresentação cuidada, mas em que o sabor não se deixou ofuscar pela tentação de só parecer bonito. As sobremesas seguem o mesmo padrão, clássicas e intemporais. Os vinhos do Douro e do Porto fazem valer os seus créditos, com uma oferta abrangente, que vai além do óbvio e, no final não salga a conta, como infelizmente tanto se vê por aí.
Cais da Ferradosa, EN 222-3 Ferradosa; 5130 – São João da Pesqueira
Não encerra. Só serve almoços das 12:00 às 16:00 horas
Tel: 254 402 899; info@caisdaferradosa.pt
Bustelo: Na hora do Vinho Verde

A Cas’Amaro é um projeto vitivinícola que une a produção de vinhos de qualidade com o enoturismo, abrangendo cinco regiões vitivinícolas de Portugal: Vinhos Verdes, Douro, Dão, Lisboa e Alentejo. Fundada por Paulo Amaro, empresário com vasta experiência nos setores imobiliário e hospitalar, a Cas’Amaro nasceu em 2016 com a aquisição do Casal da Vinha […]
A Cas’Amaro é um projeto vitivinícola que une a produção de vinhos de qualidade com o enoturismo, abrangendo cinco regiões vitivinícolas de Portugal: Vinhos Verdes, Douro, Dão, Lisboa e Alentejo. Fundada por Paulo Amaro, empresário com vasta experiência nos setores imobiliário e hospitalar, a Cas’Amaro nasceu em 2016 com a aquisição do Casal da Vinha Grande, em Alenquer, onde a antiga adega foi transformada numa unidade de alojamento de luxo com três quartos. A empresa, focada na sustentabilidade e na produção biológica, combina a arte de fazer vinho com uma oferta turística diferenciada, que inclui restaurantes, alojamentos e wine bar. O projeto de enoturismo é pensado para integrar a arquitectura, o design e a arte, reflectindo o gosto pessoal do seu fundador. Até 2030, o objetivo é que todas as unidades de enoturismo estejam em pleno funcionamento, proporcionando experiências únicas aos visitantes.
Com um total de 76 hectares de vinha, a Cas‘Amaro destaca-se pela aposta em castas locais, com vinhos já reconhecidos nos mercados externos. O enoturismo é um eixo estratégico da empresa, permitindo combinar a produção vinícola com uma oferta turística de elevado valor acrescentado.
“Bustelo” é um topónimo português que significa pasto ou pastagem, originário do baixo-latim bustellum. É um diminutivo de bustus, que significa pasto ou rebanho. Pode ainda referir-se a diferentes localidades em Portugal, como freguesias ou lugares.
Na região dos Vinhos Verdes, a Cas’Amaro adquiriu a Quinta do Bustelo, uma propriedade de 25 hectares com vinhas, onde também, a médio prazo, irá funcionar uma unidade de luxo para o enoturismo, numa lindíssima edificação de um antigo solar minhoto.
O enoturismo é um eixo estratégico da empresa, permitindo combinar a produção vinícola com uma oferta turística de elevado valor acrescentado.
Vinhedos tradicionais
Junto a Amarante, na Quinta do Bustelo, em vinhedos tradicionais em ramadas e cordão, são produzidas uvas das castas nativas da região, como Alvarinho, Loureiro, Azal e Arinto, nos brancos, e Espadeiro nos tintos.
Como a empresa só tem adega na região de Lisboa, vinifica em instalações de parceiros nas outras. No Dão, na adega das Boas Quintas, de Nuno Cancela de Abreu; no Alentejo, na adega do Monte Branco, de Luís Louro; no Douro, na adega Dona Matilde, com o apoio do seu enólogo, João Pissarra e, na região dos Vinhos Verdes, na AB Valley Wines, de António Sousa.
Os enólogos da casa são Ricardo Santos, largamente conhecido pelo seu projecto em Vila Alva Talhas XXVI, mas que aqui assume as funções de director de enologia da Cas’Amaro, e Gilberto Marques, que coordena a vinificação da empresa em Lisboa depois de se ter mudado da Quinta de Pancas.
A Cas’Amaro reforça a sua presença na região dos Vinhos Verdes, com o lançamento de três criações inéditas, que pretendem ser verdadeiras expressões de ousadia e frescura: o Bustelo Arinto Reserva 2023, o Bustelo Azal Doce 2024 e o Bustelo rosé 2024. As outras três referências – o Bustelo Arinto, o Bustelo Alvarinho e o Bustelo Loureiro/Arinto Colheita Seleccionada – regressam com novas colheitas, preservando a sua essência, mas renovadas pelo tempo e pelas estações. Juntas, estas seis propostas, pretendem celebrar o compromisso da Cas’Amaro com a excelência, a autenticidade e a alma da região que as viu nascer.
Valorizar a autenticidade
“Na Cas’Amaro, procuramos constantemente valorizar a autenticidade e a riqueza da região dos Vinhos Verdes, respeitando o terroir e as castas autóctones. Apresentamos agora três novas referências, que reflectem a nossa paixão pela inovação e pela criação de vinhos com identidade própria, ao lado de três colheitas renovadas que mantêm viva a essência dos Arintos, Loureiros e Alvarinhos clássicos. Cada garrafa é fruto de um trabalho cuidadoso, desde a vinha até à adega, com uvas colhidas e selecionadas manualmente, num processo que honra a tradição e eleva a qualidade a cada vindima”, destaca Rui Costa, Director-Geral da Cas’Amaro.
“O caminho faz-se caminhando” porque não há caminho, porque este só se faz ao caminhar, são palavras sábias de António Machado, poeta espanhol do Século XIX.
Creio que são palavras que se aplicam na perfeição ao projecto Cas’Amaro na sua globalidade, e a cada uma das suas propriedades individualmente consideradas, ambicioso por certo, arriscado seguramente, mas altamente desafiante e, provavelmente, bastante recompensador num futuro próximo. Dêmos-lhe então tempo, e espaço, para que, caminhando, faça o seu caminho. E entretanto, brindemos, pois!
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)





























