Chocapalha: Uma família, uma quinta, uma adega

A paisagem é convidativa, montes e vales em ligeira ondulação, serras ao fundo, mar não muito longe, terrenos apropriados, vento quanto baste e javalis também por perto. Tudo assim se conjugou para o desenvolvimento de um projecto de família, que assentou arraiais numa quinta em tempos pertença de um inglês e, posteriormente, na posse da […]
A paisagem é convidativa, montes e vales em ligeira ondulação, serras ao fundo, mar não muito longe, terrenos apropriados, vento quanto baste e javalis também por perto. Tudo assim se conjugou para o desenvolvimento de um projecto de família, que assentou arraiais numa quinta em tempos pertença de um inglês e, posteriormente, na posse da família de João Portugal Ramos. Foi em resultado da conjugação feliz de vários factores que a família Tavares da Silva tomou posse da quinta nos finais dos anos 80. E não faltou muito para que Sandra, uma das filhas, já então ligada à enologia, desafiasse o pai para fazer um vinho. Assim começou a história dos vinhos Chocapalha, inicialmente numa adega de garagem (que ainda conheci), e mais tarde apostando numa adega de raiz que comemora agora 10 anos. Motivo mais que suficiente para mostrar o que se tem feito e o que está para vir. À nossa espera estavam os pais de Sandra, Paulo e Alice, a irmã Andrea (economista e directora executiva da casa) bem como toda a equipa da adega e quinta.
Logo no projecto inicial houve castas que marcaram território – Arinto, Castelão e Touriga Nacional, esta última com garfos que se foram buscar ao Dão. O Castelão, dizem-nos agora, “era difícil de vender porque tinha pouca cor. Mas com a mudança do gosto, agora o ter pouca cor é uma vantagem. É incrível como tudo muda tão depressa»”, refere Sandra. A aposta no Arinto revelou-se muito acertada e a área de vinha irá alargar-se. Sandra Tavares da Silva não esconde que «” Arinto é a casta de eleição do meu pai; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo”. Com sorte, dizemos nós, ainda se cruza com um javali, dos muitos que há na zona e que se escondem nos arvoredos que proliferam na propriedade. Apontamos para uma parcela vazia, sem nada plantado e indagamos o que se vai plantar ali; a resposta é desconcertante: nada, aquele terreno vai ficar em pousio por 3 ou 4 anos, dizem-nos! Para que conste…
A Arinto é a casta de eleição de Paulo Tavares da Silva; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo.
Adega nova, problemas antigos
Foi para comemorar os 10 anos da nova adega que se juntaram na quinta a família e a comunicação social. Passados estes anos, está a acontecer o que era previsível: a adega já não comporta tudo o que é preciso e já se suspira por um espaço que possa albergar mais cubas e mais barricas. Porquê? Porque a filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio. A quinta produz mais do que comercializa, “ainda vendemos muitas uvas, infelizmente pagas a muito baixo preço”, como Paulo Tavares da Silva (oficial de marinha, convertido em agricultor) nos confidenciou, e a produção actual – situada nas 180.000 garrafas -, poderia alagar-se mais. Mas a ideia de conservar os vinhos em cave por longo tempo acaba por impedir esse crescimento. Para termos uma ideia, somos informados que ainda têm em cave as colheitas de 2019, 20 e 21 engarrafadas e a de 22 em barrica, tudo à espera de um dia ir para o mercado. Internamente são distribuídos pela Decante e só vendem no canal Horeca, com a excepção do Corte Inglès e do Supermercado Apolónia, no Algarve. Exportam boa parte da produção e, no caso do Quinta de Chocapalha tinto, as vendas lá fora atingem mesmo 65% do engarrafado.
A casta Arinto é a menina dos olhos de Paulo Tavares da Silva. Ele é, de resto, o verdadeiro guia do processo, apaixonado pela terra e pela vinha, sempre atento e vigilante. Foi do Centro de Estudos de Nelas que trouxe as primeiras varas de Touriga Nacional que aqui plantaram e que depois alargaram a outras castas, como a Viosinho, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Alicante Bouschet e Castelão, por exemplo. Na adega estão a dar cada vez mais uso às barricas usadas e, mesmo comprando apenas 25 a 30 barricas novas por ano, a verdade é que adega das barricas começa a ficar sobrecarregada.
A filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio.
Fizemos uma prova alargada dos vinhos da casa e ao almoço provámos apenas vinhos da colheita de 2013, a colheita que, tal como a adega, comemora agora 10 anos de vida. Foi uma prova e tanto, com os vinhos a mostrarem que 10 anos não é tempo demais para eles, com o Arinto a dar cartas, terpénico e num registo que se poderia confundir, tanto com Alvarinho como com Riesling. Parentescos, quem sabe…
Toda a família presente, pais, irmãs e equipa de enologia e viticultura que mantém o projecto bem vivo. Nos vinhos há novas edições de marcas já consagradas, como Vinha Mãe, os Reserva e o CH (Confederação Helvética) que “é um tributo à minha mãe que é suíça”, diz Sandra. Alice Tavares da Silva, nascida no cantão alemão, o tal que fala uma língua que ninguém entende mas, como nos confidenciou “vou várias vezes por ano à Suíça e acabo por falar a minha língua natal”.
Nas novas edições, destaca-se o Arinto Antigo, um branco de curtimenta que tem longa espera antes de ser comercializado e o Guarita, um varietal de Alicante Bouschet, uma casta bem difícil porque, como lembrou Sandra “é preciso muita paciência porque só nos dá uma pequena janela para fazermos a vindima no ponto certo; se deixarmos passar esses dias fica tudo em passa; e só quando a vinha atingiu os 30 anos é que entendemos que as uvas tinham qualidade suficiente para o vinho ser comercializado como varietal”.
Em final de vindima estavam os lagares com pisa mecânica a trabalhar e na adega a azáfama era a habitual – mangueiras por um lado, água em abundância para tudo lavar, bombas a trasfegar e aquele cheiro característico das adegas onde fermentam as uvas. Tudo normal, portanto…
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)
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Guarita da Chocapalha
Tinto - 2016 -
Quinta de Chocapalha Arinto Antigo Vinhas Velhas
Branco - 2020 -
CH by Chocapalha
Branco - 2020 -
Chocapalha Vinha Mãe
Tinto - 2017 -
CH by Chocapalha
Tinto - 2020 -
Quinta de Chocapalha
Tinto - 2019 -
Quinta de Chocapalha
Rosé - 2022 -
Chocapalha
Branco - 2022 -
Quinta de Chocapalha
Branco - 2021
10 Fortificados com Selo Boa Escolha para este Natal

Aproxima-se a noite da consoada onde a refeição termina muitas vezes com um bom fortificado. Deixamos 10 sugestões com Selo Boa Escolha provados durante o último ano. Desde Portos, a moscatéis, até um abafado e um licoroso. São várias as opções por onde escolher!
Aproxima-se a noite da consoada onde a refeição termina muitas vezes com um bom fortificado. Deixamos 10 sugestões com Selo Boa Escolha provados durante o último ano.
Desde Portos, a moscatéis, até um abafado e um licoroso. São várias as opções por onde escolher!
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CTX Superior
- 2014 -
Moscatel de Setúbal SVP
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Moscatel de Setúbal SVP
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Moscatel de Setúbal SVP
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Velhotes
Fortificado/ Licoroso - -
Alorna
Fortificado/ Licoroso - -
Alambre
Fortificado/ Licoroso - 2019 -
Quinta da Alorna Abafado 5 Anos
Fortificado/ Licoroso - 2016 -
Soneto
Fortificado/ Licoroso - -
Soneto
Fortificado/ Licoroso -
Emirates revela carta de vinhos para os seus voos em 2024

A Emirates dá a conhecer, a partir deste mês, a sua nova selecção de vinhos que estará disponível a bordo dos seus voos em 2024, dando continuidade ao investimento numa área que, no ano passado, ultrapassou os 186 milhões de Dirhams (50 milhões de dólares). Os armazéns da Emirates em França albergam, atualmente, cerca de […]
A Emirates dá a conhecer, a partir deste mês, a sua nova selecção de vinhos que estará disponível a bordo dos seus voos em 2024, dando continuidade ao investimento numa área que, no ano passado, ultrapassou os 186 milhões de Dirhams (50 milhões de dólares). Os armazéns da Emirates em França albergam, atualmente, cerca de 6 milhões de garrafas de vinho, sendo que algumas só serão servidas em 2037.
Novos vinhos a bordo da Emirates
Nos próximos meses, a Emirates irá apresentar uma selecção dos melhores vinhos brancos da Borgonha, incluindo os Premier e Grand Crus, como Montrachet 2011, Chevalier-Montrachet 2013 e Corton-Charlemagne 2014, além dos Grand Crus como Échezeaux, Clos Vougeot e Chambertin.
A Emirates tem como critério para a selecção de vinhos um processo altamente detalhado, escolhendo rótulos que são conhecidos por se destacarem tanto em terra como no ar, monitorizando constantemente os resultados. Os principais factores considerados incluem o conteúdo da fruta, a acidez, os níveis de tanino e a influência do carvalho, assim como a maturidade do vinho, que impacta diretamente os níveis de tanino. Muitos dos vinhos escolhidos são produzidos para serem apreciados após um envelhecimento significativo, sendo que a adega da Emirates inclui vinhos que datam da colheita de 2003. Os vinhos de Bordéus escolhidos para a Classe Executiva passam por um período mínimo de envelhecimento de 8 a 10 anos, enquanto os da Primeira Classe recebem um mínimo de 12 a 15 anos de envelhecimento, todos eles armazenados nas instalações da companhia aérea em França. Os vinhos são seleccionados quando estão prontos para serem servidos a bordo e estrategicamente posicionados em todo o mundo.
Vinhos de classe mundial para cada classe de cabine
Cada uma das quatro cabines da Emirates apresenta uma selecção de vinhos distinta, que é actualizada de duas em duas semanas para garantir que os passageiros habituais têm ao seu dispor uma carta de vinhos variada.
Na Classe Económica, a Emirates oferece um vinho tinto e um vinho branco, ambos de qualidade indiscutivelmente elevada. As adições recentes incluem vinhos “AOP” e “Biodinâmicos” de M. Chapoutier, Domaines Baron de Rothschild, um Sauvignon Blanc sul-africano do campeão da sustentabilidade, a família Gabb, e o vinho tinto Antinori Santa Cristina. A AOP é uma norma da União Europeia (UE) semelhante ao sistema AOC francês, realçando a origem geográfica dos vinhos e os métodos de produção específicos. A vinificação biodinâmica dá ênfase a uma agricultura holística e sustentável e a uma intervenção mínima pós-colheita, criando vinhos conhecidos pela sua expressão terroir pronunciada.
Na Premium Economy, a Emirates serve vinho espumante vintage, vinho tinto premium e vinho branco premium. Os exemplos incluem o Château La Garde 2011, o Cloudy Bay Sauvignon Blanc e o Domaine Chandon 2016 – um vinho espumante que é exclusivo da Emirates Premium Economy.
Na Classe Executiva e na Primeira Classe, a Emirates adapta as suas seleções de vinhos a seis regiões: Reino Unido e EUA; Europa; África; Médio Oriente; Australásia e Ásia. Esta abordagem permite que a Emirates ofereça uma selecção de vinhos alinhada com as preferências de paladar dos passageiros de cada zona, possibilitando que os passageiros provem vinhos das regiões que vão visitar. A Emirates também oferece vinhos do Porto de qualidade superior, incluindo vinhos do Porto Tawny vintage, como o Graham’s de 1979 e o Dow’s de 1981.
The Macallan revela colaboração inovadora com Stella e Mary McCartney

The Macallan anunciou uma colaboração com Stella e Mary McCartney. Unidos pela curiosidade, respeito e admiração pela natureza, a fotografa e a estilista uniram-se à marca de Whisky Escocês para a co-criação de uma linha de artigos de decoração e da terceira edição da The Harmony Collection – um lançamento anual de edição limitada que […]
The Macallan anunciou uma colaboração com Stella e Mary McCartney. Unidos pela curiosidade, respeito e admiração pela natureza, a fotografa e a estilista uniram-se à marca de Whisky Escocês para a co-criação de uma linha de artigos de decoração e da terceira edição da The Harmony Collection – um lançamento anual de edição limitada que tem como génese o tema da sustentabilidade. The Macallan Harmony Collection Amber Meadow, a terceira edição desta trilogia, tem um sabor inspirado no amor das irmãs McCartney pela Escócia e o objectivo comum por um mundo mais sustentável.
A Collection for The Macallan by Stella and Mary McCartney, apresenta uma colecção de edição limitada de onze peças de lifestyle concebidas pelas irmãs e habilmente realizadas por mestres artesão. O amor das irmãs McCartney pela Escócia já é antigo, significando um lugar de conforto e nostalgia, um regresso a casa. O trabalho em parceria com The Macallan é inspirado pelas memórias da sua casa escocesa na costa ocidental e do tempo passado em The Macallan Estate, transportando os amantes de Whisky para a beleza natural da Escócia. As suas criações são inspiradas nas florestas, no mar e na beleza e força do rio Spey. Esta colaboração celebra os valores partilhados por The Macallan e The McCartney, com o amor e o respeito pela natureza em primeiro plano.
Para assinalar esta profunda ligação com a terra, as caixas de transporte e os rótulos das garrafas desta edição limitada, foram feitos a partir dos restos dos prados ceifados na Escócia, destacando a reutilização de materiais naturais para criar beleza a partir de recursos em fim de vida. Para adornar as caixas de transporte, fotografias de The Macallan Estate, captadas por Mary McCartney, encontram-se nas laterais das mesmas.
A Colecção é inspirada na natureza: os tons verdes representam a The Macallan Estate, os tons âmbar foram inspirados na cor natural do whisky, e a cor vermelha, que é sinónimo de The Macallan, honra o profundo respeito da marca pela tradição e pelo artesanato.
The Macallan Harmony Collection Amber Meadow tem um PVP de 199,99€ e está à venda em garrafeiras especializadas em Portugal continental, como também em restaurantes de fine dinning seleccionados.
Vinhos de Lisboa elegeram os melhores da região

O Concurso de Vinhos de Lisboa 2023 revelou, recentemente, os seus vencedores, numa cerimónia que teve lugar na Quinta da Pimenteira. Houve medalhas de Excelência, de Ouro e de Prata, e ainda medalha para o Melhor Arinto e para o Melhor Vital. Nos prémios de Excelência, o Azulejo 2022, da Casa Santos Lima, foi o […]
O Concurso de Vinhos de Lisboa 2023 revelou, recentemente, os seus vencedores, numa cerimónia que teve lugar na Quinta da Pimenteira.
Houve medalhas de Excelência, de Ouro e de Prata, e ainda medalha para o Melhor Arinto e para o Melhor Vital. Nos prémios de Excelência, o Azulejo 2022, da Casa Santos Lima, foi o Melhor Branco; Nevão Leve rosé 2021, da Adega Cooperativa da Labrujeira, o Melhor Leve; Quinta do Gradil Tannat 2021, o Melhor Tinto; Quinta do Rol VSOP, a Melhor Aguardente Vínica DOP Lourinhã; e Empatia Vital branco 2022, da Adega da Labrujeira, foi o Melhor DOP de Lisboa. A lista completa dos vencedores e medalhas pode ser consultada AQUI.
A entrega de prémios contou com a presença do Vereador Ângelo Pereira, da Câmara Municipal de Lisboa, Instituto da Vinha e do Vinho, Confrarias da região, Direcção Regional de Agricultura de Lisboa e Vale do Tejo, autarcas e CIM Oeste, Turismo de Portugal, jornalistas e enófilos convidados e produtores da região vitivinícola de Lisboa.
“Com este evento celebrámos, mais uma vez, o trabalho dos viticultores de Lisboa e o sucesso da Região Demarcada, bem como projectos que primam pela excelência na promoção, divulgação e serviço dos vinhos da região, e homenageámos, com o prémio de Mérito de Carreira, o Enólogo João Melícias”, comenta a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, organizadora do Concurso dos Vinhos de Lisboa.
Quinta do Carvalhido – Paixão e razão: duelo de titãs

Os primeiros registos documentais da Quinta do Carvalhido datam de 1909, com assinatura de Sancha Augusta Almada Menezes Pimentel, Viscondessa de Barcel e trisavó dos actuais proprietários, Maria de Fátima Drummond Borges, herdeira da quinta em 2013, e o seu marido Pedro Drummond Borges. A pequena propriedade, que até ao início dos anos 70 tinha […]
Os primeiros registos documentais da Quinta do Carvalhido datam de 1909, com assinatura de Sancha Augusta Almada Menezes Pimentel, Viscondessa de Barcel e trisavó dos actuais proprietários, Maria de Fátima Drummond Borges, herdeira da quinta em 2013, e o seu marido Pedro Drummond Borges. A pequena propriedade, que até ao início dos anos 70 tinha produzido vinho do Porto para outras casas, estava nessa altura em estado de abandono, mas Pedro Drummond Borges, toda a vida gestor de empresas tecnológicas, viu para além da cabeleira — neste caso vinha — despenteada, e apaixonou-se assolapadamente. “Pus-me a pensar no que poderia fazer daquilo, porque ter a quinta em mau estado não era hipótese para mim”, diz-nos o empresário, com o entusiasmo de quem conta as peripécias de uma aventura que acabou em bem. Para tomar a decisão mais informada e perceber o real potencial das vinhas, que totalizavam apenas cinco hectares (só um aproveitável no momento), chamou o viticólogo José Miguel Teles. “Ele disse-me que teríamos de reconverter a maioria das parcelas, mas que conseguiríamos fazer, inicialmente, umas seis mil garrafas de tinto DOC Douro”. Assim, entre 2014 e 2015, começaram a tratar de reconverter 2,7 hectares, concluindo uma plantação em 2017 e outra em 2018, “já com castas estudadas e a pensar no nosso projecto”, revela Pedro Drummond Borges. “Mas estava a fazer tudo isto sem ter a noção exacta ou certeza de qual seria meu objectivo… Não poderia ser só eu a dedicar-me ao projecto, se era para o levar adiante. Tenho cinco filhos, e na altura decidi colocar a família a par do esforço que estava a fazer, sobretudo financeiro…”, recorda.
O passo seguinte foi contratar um enólogo. “Um bom enólogo, para fazer vinhos de topo”, sublinha Pedro Drummond Borges, “não sei fazer as coisas de forma amadora”, atira. O escolhido foi Francisco Baptista, sócio e responsável de enologia no projecto Lua Cheia-Saven, cuja adega serviu, até 2022, inclusive, para produção dos vinhos da Quinta do Carvalhido. Estavam as condições criadas para avançar com o primeiro vinho, Carvalhido tinto 2017, que viria a ser lançado em 2020, com imagem da autoria de Rita Rivotti. “O negócio do vinho, falando em linguagem de gestor, é um negócio de “cash flow”, e se não o tivermos, estamos tramados. Antes do nosso primeiro vinho sair para o mercado, tive produzir fazer também em 2018 e 2019… E pensei ‘agora tenho este bebé de 1500 garrafas nas mãos, o que faço com ele?’, mas a verdade é que as vendi num ápice”, confessa o produtor. Devagar, devagarinho, foi mantendo essa quantidade de produção, até que em 2021 começou a perceber que a aventura tinha pernas para andar. Depois de tomar a grande decisão de recuperar toda a quinta, incluindo os edifícios, chamou o filho Tiago, que deixou o seu trabalho na Tabaqueira para se dedicar à Quinta do Carvalhido no início de 2022, altura em que o projecto arrancou em força. Em 2022, produziram-se ali 13500 garrafas, e o objectivo é crescer rapidamente para as 25 mil. O gestor é assertivo nas palavras: “Não quero ficar com vinho por vender e dizer que vendo tudo. Sou muito cuidadoso nestas coisas. Ou faço segundo os cânones, ou não faço. Um passo de cada vez, tudo muito bem analisado”.
Os primeiros meses de 2022 foram também o momento em que a recuperação da antiga adega ficou finalizada, um empreendimento pessoal de Pedro Drummond Borges. “Achei que era uma grande mais-valia, não económico-financeira, mas de imagem, porque a adega é lindíssima. Ainda não pudemos vinificar lá em 2022 por falta de equipamento, pois tinha apenas uns pipos muito velhos, que ainda cheiravam a vinho”, explica. Já em 2023, a Quinta do Carvalhido começa a produzir na sua adega reabilitada e devidamente equipada. Por agora, estão no mercado cinco vinhos — Carvalhido branco, rosé e tinto; e Quinta do Carvalhido branco e tinto — e depois da prova percebemos que, quando disse que não fazia coisas amadoras, Pedro Drummond Borges não estava a mentir: elegância, frescura e complexidade não lhes falta, com os topo de gama Quinta do Carvalhido a deixar uma fortíssima impressão, surpreendente dada a juventude do projecto. O branco, lote de Viosinho, Rabigato e Arinto, fez doze horas de maceração pré-fermentativa e acabou a fermentação em barricas de 300 litros de carvalho francês, de 4º e 5º uso, onde estagiou nove meses sobre borras finas, com bâtonnage. O tinto, por sua vez, junta Touriga Nacional e Touriga Franca e estagiou doze meses em barricas novas. Estas três castas brancas e duas tintas são, actualmente, as predominantes na quinta.
No sentido de aumentar a produção, a família comprou, recentemente, mais duas propriedades com vinha, também no rio Tua, tal como a Quinta do Carvalhido. Estão as duas prontas a produzir, mas uma delas terá de ser, em parte, reconvertida. Com estas aquisições, o projecto duplicou a área de vinha, totalizando agora doze hectares. Segundo Pedro Drummond Borges, poderá haver novidades também ao nível dos métodos de vinificação, mas o produtor não revela mais. Não quer atrair má sorte nem garantir o que ainda não está garantido, mas os olhos brilham enquanto nos deixa o “teaser”. É a voz do gestor racional a falar, e deixamos que assim seja.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
Quinta da Boeira: Onde “small is beautiful”

Nascida em 1850, pela mão de um abastado emigrante regressado do Brasil, a Quinta da Boeira procurou sempre aliar a comercialização e exportação a um ideal de exclusividade, associado a um produto único e de rara singularidade, o vinho do Porto. O palacete que se ergue no interior dos 3 hectares da propriedade, no centro […]
Nascida em 1850, pela mão de um abastado emigrante regressado do Brasil, a Quinta da Boeira procurou sempre aliar a comercialização e exportação a um ideal de exclusividade, associado a um produto único e de rara singularidade, o vinho do Porto.
O palacete que se ergue no interior dos 3 hectares da propriedade, no centro de Vila Nova de Gaia, é o ícone de um modo de estar no negócio, que nunca dissocia da atividade principal o bom gosto pela arte e cultura. A consciência de marca está bem presente em todas as ações de charme realizadas nos 25 mercados internacionais onde a Boeira marca presença, com principal destaque para a Dinamarca, Estados Unidos e China.
Após a aquisição da empresa e propriedade, em 1999, por um grupo de 10 investidores, onde figurava Albino Jorge, actual CEO, o investimento na valorização da marca no sector “premium” conheceu a recuperação do Palacete e a instalação, aí, de um restaurante de luxo e a construção da maior garrafa do mundo (32 metros de comprimento), que, no primeiro ano, trouxe mais de 74 mil visitantes ao espaço. O regresso à actividade pioneira da empresa original deu-se em 2017, com o registo no IVDP como marca exportadora de vinhos do Porto. Em 2019, e com um investimento que rondou os 17,5 milhões de euros, foi edificado o Boeira Garden Hotel, unidade de 5 estrelas, que possui 119 quartos e 5 suítes, alienado, entretanto, ao grupo israelita Taga Urbanic, mantendo-se a Quinta da Boeira como parceiro estratégico. Mais recentemente, o grupo adquire a moradia da família C. da Silva, que será objeto de um projeto de requalificação para ali criar o “Boeira Port Club”, cujo investimento total rondará os 2,2 milhões de euros, tendo abertura já programada para meados do próximo ano.
“Small is Beautiful”, vale como lema da Quinta da Boeira, projecto que Albino Jorge apresenta como pequeno e tradicional, mas que, no espaço de 3 anos, pretende estabelecer como meta uma facturação de 4 milhões de euros anuais.
Helena Teixeira, enóloga responsável, assina o Quinta da Boeira Vintage 2021 e é fiel guardiã dos balseiros onde repousou o Very Old Tawny.
Retornando ao foco principal, os vinhos, onde os vinhos do Porto detêm quota de cerca de 90% da produção anual da empresa, que ronda as 500 mil garrafas, há ainda uma aposta fundamental nas vinhas que, actualmente, se cifram em 17 hectares dos 30 totais da propriedade. Fomentando a estratégia de valorização da marca “Port/Porto”, a Quinta da Boeira adquiriu recentemente uma parcela relevante de vinha velha, também em Alijó, donde pretende colher uvas que trarão maior densidade e complexidade aos vinhos do futuro, criando produtos cada vez mais exigentes e procurados pelos mercados mais relevantes, como mostram as mais recentes vendas de várias dezenas de garrafas da edição especial do “Boeira Very Old Tawny 2017” para o mercado dinamarquês e canadiano.
A altitude e climatologia do planalto de Alijó, no Cima Corgo, vincam forte influência nos vinhos do Porto da Quinta da Boeira, traduzindo-se numa marca muito própria de frescura e estrutura. Quem o afirma é Helena Teixeira, a enóloga responsável, que assina o “Quinta da Boeira Vintage 2021” e é fiel guardiã dos balseiros onde repousou o “Very Old Tawny 50 anos”
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
Vinhos do Alentejo elegeram novo embaixador no Brasil

O concurso decorreu como habitualmente em duas etapas. Previamente seleccionados após um conjunto de exigentes provas teóricas e práticas ainda em solo brasileiro, começaram por ser apurados seis sommeliers finalistas que tinham como prémio uma viagem de estudo e trabalho ao Alentejo e onde decorreria a fase final do concurso. Foram assim apurados Bruno Margulhano […]
O concurso decorreu como habitualmente em duas etapas. Previamente seleccionados após um conjunto de exigentes provas teóricas e práticas ainda em solo brasileiro, começaram por ser apurados seis sommeliers finalistas que tinham como prémio uma viagem de estudo e trabalho ao Alentejo e onde decorreria a fase final do concurso.
Foram assim apurados Bruno Margulhano (SC), representante da Florence Vinhos; Diego Arrebola (SP), consultor, palestrante e embaixador, sócio da Arya Wines; Marcus Vinicius Mezadri (ES), professor de certificações internacionais (IWC e AWC) pela ISG e proprietário da Theu Vinho; Pedro Barcellos (RJ), professor na ABS-RJ; Vinicius Conde (SP), director estadual da sommelier school; Vinicius Santiago (RS), professor de WSET, FWS, formador e director de degustação na ABS-RS.
Na verdade, só cinco deles acabaram por poder aproveitar a viagem, porque Marcus Mezadri ficou retido no Brasil devido a um problema familiar de última hora, mas os cinco sommeliers aproveitaram bem a visita e tiveram oportunidade de mergulhar a fundo no mundo dos vinhos do Alentejo, visitar algumas das mais destacadas herdades da região, provar os seus vinhos e conhecer as vinhas, castas e processos de produção no Alentejo.

Depois de uma semana intensa de experiências e de contacto com os agentes da região, decorreu a prova finalíssima na sede da rota dos Vinhos do Alentejo, em Évora. Esta foi constituída por uma prova escrita para testar conhecimentos e uma prova oral e prática para observação do serviço. O júri constituído por João Geirinhas, representando a Grandes Escolhas, Tiago Caravana, director de marketing da CVR do Alentejo, Domingos Meireles director da Exponor Brasil e dois premiados sommeliers portugueses, Marc Pinto, Wine Director do Fifty Seconds e Ivo Peralta Head Sommelier do JNcQUOI Club, pôde apreciar o alto nível demonstrados por todos os concorrentes e enfrentar a dificuldade de escolher o vencedor perante tão elevados desempenhos.
Apesar disso, foi unânime na consagração de Vinicius Santiago que revelou muita segurança em todos os momentos da prova. É, no entanto, convicção dos responsáveis da CVR do Alentejo que todos os sommeliers concorrentes serão para sempre grandes entusiastas e divulgadores dos vinhos do Alentejo no país irmão.