Enoturismo: Quinta do Paral

Estar ali, naquela mesa de madeira de beira de piscina, manhã cedo, pelo menos para um dia de férias, de lazer, a olhar aquela paisagem de árvores, jardins e vinha, enquanto se escuta o som dos pássaros, origina uma sensação de paz reconfortante. Foi assim que me senti, privilegiado, enquanto saboreava distraidamente a fatia de […]
Estar ali, naquela mesa de madeira de beira de piscina, manhã cedo, pelo menos para um dia de férias, de lazer, a olhar aquela paisagem de árvores, jardins e vinha, enquanto se escuta o som dos pássaros, origina uma sensação de paz reconfortante. Foi assim que me senti, privilegiado, enquanto saboreava distraidamente a fatia de pão com cheiro a Alentejo que escolhera, nesse dia apenas ornamentada com fiambre e manteiga que me foi trazida à mesa. Era o que me estava a apetecer naquele momento, a seguir ao par de figos, fruta da época que comi primeiro, na companhia de uma pequena fatia de salmão fumado porque é algo que me tenta sempre.
Enquanto esperava pelos ovos mexidos que, no Wine Hotel da Quinta do Paral, são feitos à medida dos desejos dos clientes, tal como outras coisas de comer, pensava que aquele sítio era perfeito para estar a ler um dos muitos livros que gosto que me façam companhia na minha mesa de cabeceira, ou mesmo para talvez começar a escrever mais um. E eis que chegaram, à mesa onde estava sozinho por ser bem cedo de manhã, uns ovos mexidos com ar bem mais estéticos que os meus, mas igualmente saborosos e com a textura certa. Fui apreciando tudo devagar, como sempre na companhia de leite com café, neste caso da variedade arábica com torra feita na casa. Senti-me bem, um pouco sem vontade de partir em direcção a Lisboa, onde o trabalho me esperava. Mas tive de ir…, com vontade de voltar.
Casa histórica é hotel temático
Conheço o Luís Leão, director geral e enólogo da Quinta do Paral, onde se integra este Wine Hotel, ou seja, hotel temático de vinho, já há alguns anos. E lembro-me de visitar a propriedade ainda muito no início do projecto, quando os alicerces se estavam a levantar e o hotel ainda era um sonho em início de concretização.
A grande casa, histórica, hoje com um cunho mais alentejano e um ar elegante, já existia. Mas foi impossível imaginar que se iria tornar naquele edifício de charme equilibrado, com ar de que esteve sempre ali, escondido da estrada por muro branco ornado, por cima, a telha e tijoleira. Uma casa de alguém que gosta de receber.
É verdade que os quartos espaçosos, confortáveis e com vista para as vinhas, como não podia deixar de ser num hotel vínico, são aquilo que se poderia esperar de um hotel de cinco estrelas, ali ou num lugar qualquer. Mas, no seu interior, há pequenas coisas que são diferentes, na forma como o cimento surge nas paredes como fosse pedra, na leveza das portas que separam o quarto da casa de banho e roupeiro, no estilo discreto dos móveis e tudo o que é iluminação eléctrica já que, de dia, basta deixar entrar a luz exterior para ver tudo o que lá está e apreciar os pormenores.
A dormida tinha sido boa, apesar de os bons sabores do jantar de inspiração alentejana me tivessem levado a abusar um pouco da comida, porque foi difícil resistir.
Tudo tinha começado pela manhã do dia anterior, após ter cruzado o portão da quinta por onde entram os automóveis dos hóspedes. Às boas vindas dos porteiros, ou trintanários, sucedeu-se o convite para deixar a viatura a seu cargo com as malas, com a mensagem que eles iriam tratar de tudo: de arrumar o carro, apanhar as bagagens e levá-las para o quarto onde iria ficar.
Fiquei um pouco surpreendido pelo inesperado, mas o sorriso do meu interlocutor e o ar de que aquilo era habitual por ali convenceram-me a entregar as chaves do meu Honda, e a embarcar num buggy semelhante aos usados nos campos de golfe, aqui chamado de club car, para ir com ele até ao edifício principal da propriedade, onde ficam a maioria dos quartos, percorrendo um túnel de estrutura metálica, ornamentado por vinhas de mesa, sobretudo de uva moscatel, dir-me-ia ele pelo caminho. “A partir da próxima vindima, os hóspedes até poderão ir colhendo algumas para saborear pelo caminho”, foi-me explicando. E eu aceitei a coisa como certa, pela convicção demonstrada. E até me lembrei que comer, hoje, uvas frescas de Moscatel era coisa rara, já que vai tudo, ou quase tudo, para a produção de vinho.

Por causa das vinhas velhas
A distância não era muita, mas o veículo foi andando devagar, com a calma suficiente para poder ir dando pela paisagem de relvados, pequenos lagos e árvores, dispostos de forma equilibrada, e pela aproximação da casa principal, aquela que tinha albergado a residência de verão da Condessa de Santar antes de ser vendida em 2017 ao seu actual proprietário, o empresário alemão Dieter Morszeck, 72 anos. Ex-presidente e neto do fundador da marca de malas de luxo Rimowa, entretanto vendida, divide o seu tempo entre a fundação que criou em 2016, os seus negócios na Suíça e Estados Unidos e a produção de vinhos na Vidigueira. Na altura da aquisição, e como contou Luís Leão, 53 anos, enólogo e director geral da Quinta do Paral, tinha o intuito de vinificar algumas parcelas de uvas de vinha velha que tinha comprado na zona de Vila de Frades. “Foi no dia da aquisição que nos conhecemos”, disse, salientando que a quinta, de 85 hectares, tinha 30 de vinha. Depois da visita que fizeram à propriedade, foi logo decidido aproveitar toda a sua parte rústica, o edifício que é hoje o bloco principal do hotel. Em 2017, a Quinta do Paral não tinha stocks de vinho, e o portefólio foi logo delineado na altura, com base naquilo que Dieter Morszeck e o seu filho, Thomas, 40 anos, agrónomo de formação, gostavam. “Mas não foi esquecido o terroir da Vidigueira, com as suas castas autóctones e os perfis de vinhos que origina”, salienta Luis Leão.
A aposta nas vinhas velhas, que inicialmente ocupavam apenas 1,5 hectares, mantém-se. “Hoje, a empresa dispõe de 15 ha de um total de 23 ha de vinhas velhas plantadas na Vidigueira antes de 1962”, revela o enólogo, acrescentando que a sua produção vai sobretudo para o Quinta do Paral Vinhas Velhas, um dos ex-libris do actual portefólio da casa, que integra mais de uma dezenas de marcas, incluindo espumantes e licorosos. “Também são feitos para serem consumidos, no hotel vínico, pelos seus clientes que, com certeza, também o procuram porque gostam de vinhos e deste tipo de ambiente”, defende Luis Leão, acrescentando que muitos vão até aquele lugar, que fica bem perto da Vidigueira, para estar retirados e terem uma vida calma, de férias ou pausas prolongadas de fim de semana. “Foi a pensar nisso que o projecto do hotel foi desenhado, porque aquilo que queremos é que se sintam, cá, como se tivessem sido convidados para visitar a nossa casa, a Quinta do Paral”, explica o director geral do projecto. Era assim que me sentia na manhã do dia seguinte à entrevista, depois de ter saboreado a gastronomia de inspiração alentejana criada, para o Wine Hotel, pelo chef José Júlio Vintém, proprietário do restaurante Tomba Lobos, em Portalegre, e consultor da Quinta do Paral.
Alentejo no prato e no copo
Já tinha tido o prazer de saborear vários petiscos e pratos da cozinha deste grande conhecedor do Alentejo e da sua gastronomia, e nunca mais me esqueci do seu Rabo de boi com puré de castanhas e da sua inigualável Sopa de peixe do rio, coisa que só me acontece quando a comida é mesmo muito boa. Segundo me contou, a ideia que lhe foi transmitida por Dieter, a sua mulher, Lily, e Luis Leão, na primeira conversa que tiveram, é que as pessoas chegassem às mesas do hotel e identificassem, na carta, a cozinha alentejana. Mas também queriam “que houvesse um pouco de internacionalização na oferta”. Na primeira, o pão é elemento preponderante, tal como o azeite, na produção de sopas, ensopados, alguns guisados e migas. Mas também há escabeches, cozidos e outros guisados, cozinha de tacho sempre bem temperada, muitas vezes também com uma ou mais ervas de cheiro em que a região é rica. Para chegar à segunda, a cozinha internacional, José Júlio optou por oferecer, aos hóspedes, opções com menos gordura do que as tradicionais e apresentar os pratos sem as espinhas e ossos habituais numa Sopa de Cação ou num Guisado de Borrego, por exemplo.
Segundo Luís Leão, “a gastronomia do hotel foi simples de definir, porque as três unidades de restauração do hotel, o bar de apoio à piscina, o restaurante e a loja da adega, têm uma oferta pensada sobretudo para acompanhar vinhos alentejanos”. É feita com base nos produtos da época, como o borrego, os cogumelos, os espargos, aproveitando também aquilo que a Vidigueira tem de bom, como os queijos ou o pão. Ou seja, é gastronomia regional com algum apontamento ou outro que podem ser encontrados noutros lados. Isso garante que os vários restaurantes desta unidade “ofereçam várias experiências ligadas à cozinha e gastronomia alentejana”, salienta Sofia Moreira, directora do hotel garantindo que “tanto se pode fazer um jantar um pouco mais formal, como ir para as vinhas e fazer um fogo de chão, uma comida de tacho, como um cozido de grão”.
Os produtos usados, esses, são de preferência de bem perto, das hortas e pomares a pouco quilómetros do hotel, para além da carne e do peixe de rio e de mar, o pão, queijo, enchidos e presuntos que complementam a riqueza da oferta gastronómica alentejana. A carta de abertura é de Primavera/Verão. Mas José Júlio Vintém e a sua equipa já estão a trabalhar na carta de Outono/Inverno. “O objectivo, na Quinta do Paral, é que todos os pratos servidos sejam parceiros perfeitos dos vinhos da Quinta do Paral, porque este é um Wine Restaurant de um Wine Hotel, e não há uma boa refeição sem um bom vinho”, defende o chef.
Paz e tranquilidade
Quem tem procurado o Wine Hotel da Quinta do Paral tem origem internacional, mas também portuguesa. Sofia Moreira, a sua directora, salienta que os clientes, para além de gostarem da tranquilidade que o espaço lhes oferece, também apreciam a sua comida e vinhos e procuram conhecer os costumes locais, “as gentes de cá”. E foi a pensar também nisso, que a equipa selecionada para cuidar dos hóspedes é maioritariamente da zona e tem formação em turismo e restauração. “Aqueles que não a têm foram sendo formados em casa, já que começámos a contratar as pessoas bastante cedo e temos elementos da equipa há quase um ano connosco”.
Já tiveram tempo para aprender o objectivo do projecto e a sua filosofia, para além dos padrões de funcionamento da Leading Hotels of The World, cadeia ao qual esta unidade alentejana está associada. Tem uma série de standards que têm de ser cumpridos pelos hotéis independentes que têm esta chancela, “sobretudo porque muitos dos clientes do mercado norte-americano principalmente, nos chegam por esta via”, explica a responsável.
O hotel é o destino
“A ideia central deste projecto é a propriedade seja um lugar de retiro, onde se pode sentir a paz e tranquilidade alentejana”, defende Sofia Moreira. “De tal forma, que quem está não sente necessidade de sair”, acrescenta, resumindo aquilo que oferece o seu hotel. “É evidente que há a possibilidade de fazer actividades fora, tal como visitas às Minas de São Cucufate, ao Museu interpretativo do Vinho de Talha em Vila de Frades, ou ir até Évora”, diz, Mas salienta que a experiência que ela e a sua equipa têm tido é que o cliente que procura o Wine Hotel da Quinta do Paral quer sobretudo descansar, e procura a tranquilidade que se sente quando lá está, sem ter necessidade de se deslocar para fazer nada, porque encontra tudo o que precisa dentro de portas.
CADERNO DE VISITA
ENOTURISMO
COMODIDADES
– Carregamento para carros elétricos
– Línguas faladas: português e inglês
– Loja de vinhos
– Sala de provas com capacidade para 10 pessoas na adega
– Sala para eventos no hotel com capacidade para 100 pessoas
– Parque para automóveis
– Provas comentadas
– Turismo acessível
– Wifi na Adega
– Wifi geral e por quarto no Hotel
– Visitas à Adega
– Menu de enoturismo para todos os clientes
– Menu experiência para os hóspedes do hotel
– Visitas às vinhas por marcação
EVENTOS
– Possibilidade de criar o próprio evento, mediante pedido antecipado
– Possibilidade de fazer eventos para empresas no hotel
– Possibilidade de fazer provas cegas a pedido
PROVAS
De segunda a sábado, por marcação. As visitas à adega são gratuitas, mediante disponibilidade e têm a duração de 35 minutos.
Prova de vinhos I: Estate Bottled – €15/pax (30 minutos)
Degustação de três vinhos Quinta do Paral Estate Bottled: branco, tinto e rosé.
Prova de vinhos II: Brancos – €25/pax (30 minutos)
Degustação de três vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Superior branco e Quinta do Paral Reserva branco.
Prova de vinhos III: Tintos – €25/pax (30 minutos)
Degustação de três vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior tinto e Quinta do Paral Reserva tinto.
VINHOS E SABORES
Prova Clássica – €30/pax (mínimo 2 pessoas, 35 minutos)
Degustação de cinco vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco e Quinta do Paral Superior tinto, mais produtos regionais.
Prova Premium – €45/pax (mínimo 2 pessoas, 50 minutos)
Degustação de sete vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco, Quinta do Paral Superior tinto, Quinta do Paral Reserva branco e Quinta do Paral Reserva tinto, mais produtos regionais.
Prova Signature €55/pax (mínimo 2 pessoas, 60 minutos)
Degustação de nove vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco, Quinta do Paral Superior tinto, Quinta do Paral Reserva branco, Quinta do Paral Reserva tinto, Quinta do Paral Vinhas Velhas branco e Quinta do Paral Vinhas Velhas tinto, mais produtos regionais.
Prova Origem €100/pax (mínimo 4 pessoas, 90 minutos)
Degustação de cinco vinhos: Quinta do Paral Vinhas Velhas branco, Quinta do Paral Vinhas Velhas tinto; Quinta do Paral Origem Antão Vaz, Quinta do Paral Origem Perrum e Quinta do Paral Vinho de Talha tinto, mais produtos regionais.
HORÁRIO GERAL
Loja:
- De Segunda a Sexta, das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00.
- Sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00.
HORÁRIOS DE VISITA COM PROVA
Por marcação. No momento, por disponibilidade.
HOTEL
Menu de experiências para hóspedes do hotel, todos os dias, por marcação, sujeito a disponibilidade
Prova Clássica (mínimo duas pessoas, 75 minutos)
Visita à adega e prova de quatro vinhos da coleção Quinta do Paral, acompanhada por uma seleção de queijos e enchidos alentejanos.
Jantar Privado (mínimo duas pessoas, 90 a 120 minutos)
Jantar privado com menu de degustação exclusivo e harmonização de vinhos Quinta do Paral nos espaços interiores ou exteriores do hotel, incluindo a preparação do jantar e decoração exterior à luz das velas, se solicitado.
Oficina da Cozinha (mínimo duas pessoas, 90 a 120 minutos)
Para descobrir os mistérios da cozinha alentejana com os chefs da casa, incluindo a preparação e degustação de um menu com três petiscos portugueses e um prato principal, com harmonização selecionada de vinhos Quinta do Paral. Inclui um passeio sensorial no jardim de aromáticas do hotel.
Amantes de Vinho (mínimo duas pessoas, 60 a 90 minutos)
Esta experiência inclui a visita à adega e a degustação de seis dos vinhos mais exclusivos da casa na companhia de uma selecção de petiscos tradicionais.
Piquenique no campo (mínimo duas pessoas, das 12:00 às 16:00)
Uma refeição com uma coleção de sabores locais, servidos nas vinhas da propriedade ou num espaço do jardim, com tudo o que é necessário para um piquenique inesquecível, sobre uma manta alentejana e com vista para a paisagem da quinta.
Contemplando o céu noturno (mínimo duas pessoas, 60 a 90 minutos, de maio a setembro)
Uma refeição gourmet sobre idílica cama balinesa no meio das vinhas, para observar o céu noturno e contemplar as estrelas.
Passeio a cavalo pelas vinhas (mínimo duas pessoas 60 a 90 minutos)
Passeio a cavalo pelas vinhas da propriedade com guia equestre.
Évora Cidade Museu (duas a seis pessoas)
Passeio privado à descoberta dos segredos do centro histórico da cidade, Património Mundial da Unesco. Inclui transfer privado e visita guiada a pé, se solicitada.
Descobrindo o Alqueva
Passeio privado à medida para descobrir o maior lago artificial da Europa. Esta Experiência inclui transfer ida e volta. Passeios de barco, piqueniques e outros serviços disponíveis a pedido.
QUARTOS*
A Quinta do Paral disponibiliza seis tipos de alojamentos, equipados com todo o tipo de comodidades, incluindo um minibar com seleção de iguarias do Alentejo, oferta de chá com infusão exclusiva e máquina de café com lote produção própria.
Superior Room (€450)
Com cerca de 24m2, estes quartos localizam-se no piso superior do pátio, na ala histórica da propriedade e oferecem amplas vistas panorâmicas sobre os jardins e as vinhas.
Deluxe Terrace Room (€500)
Com cerca de 30m2, estes quartos localizam-se no piso térreo, na ala histórica da propriedade e têm um terraço que dá para os seus jardins.
Privilege Junior Suite (€550)
Suites em open space, com cerca de 80 m2, localizadas no átrio central da propriedade. Inspiradas nos traçados arquitetónicos alentejanos, com imponentes arcos em tijolo rústico, oferecem todas as comodidades de um apartamento.
Signature Terrace Suite (€800)
Suites em open space com cerca de 100 m2, de arquitetura com majestosas estruturas em celósia de composição artesanal. Oferecem vistas diferenciadas para os jardins ou para o horizonte de vinhas.
Charm Apartment (€1000)
Alojamento composto por três unidades, com áreas entre 30 a 50m2, e quartos que se distinguem pelos seus arcos e abóbadas de inspiração romana. Todos os quartos remetem para uma atmosfera intimista que lembra a visita a uma sala de barricas.
Manor House (€2000)
Renovada casa de famílias nobres do século XIX, em tempos propriedade da Condessa de Santar, este espaço exclusivo é composto por quatro quartos, uma cozinha, sala de estar e de jantar.
* Preços aproximados por dia e alojamento
BARES E RESTAURANTES
A Quinta do Paral dispõe de três espaços distintos para se desfrutar a gastronomia e cultura vinícola da Vidigueira e do Alentejo: o The Wine Restaurant, onde se pode desfrutar de uma refeição confecionada com produtos locais na companhia dos vinhos da Quinta do Paral, o The Estate Lounge, onde se podem saborear refeições ligeiras ou gourmet, no interior ou à beira da piscina, e o The Grape Rooftop, espaço privilegiado do piso superior do restaurante, com vista para as vinhas e oeste, onde se pode assistir ao pôr do sol na companhia de uma bebida.
MORADA
Quinta do Paral, Vidigueira
Tel.: 284 441 620
Site: www.quintadoparal.com
E-mail: loja@quintadoparal.com / reservations@quintadoparal.com
Facebook: @quintadoparal
Instagram: @quintadoparal_portugal
Estive Lá: Deambulando pela Serra da Estrela e petiscando

Se há coisa que gosto de ver e ouvir é água límpida de montanha a correr entre pedras. Como há muito tempo não íamos à Serra da Estrela, aproveitei um fim de semana de verão para lá dar um pulo, para rever Louriga e calcorrear um pouco nas suas ruas, mas sobretudo para descobrir as […]
Se há coisa que gosto de ver e ouvir é água límpida de montanha a correr entre pedras. Como há muito tempo não íamos à Serra da Estrela, aproveitei um fim de semana de verão para lá dar um pulo, para rever Louriga e calcorrear um pouco nas suas ruas, mas sobretudo para descobrir as suas piscinas fluviais de montanha, de águas bem límpidas e enquadramento estético em pleno vale glaciar. Em volta, várias matizes de verde da paisagem, das grandes pedras de granito e montanhas quase a tocar no céu de um azul português, parcialmente encoberto de nuvens muito brancas naquele dia.
Soube mesmo bem estar ali um pouco, naquela paz, a escutar o som das águas antes de partirmos montanha acima até à Torre, para mais uma subida, nesse dia muito mais sossegada do que as de dias em que a neve e o frio levam milhares de pessoas à serra. Depois, uma descida até ao Covão da Ametade para relembrar passeios que não fazia há mais de 20 anos. Feito tudo isto, e sempre de forma muito calma e serena, fizemo-nos à estrada, primeiro em direcção a Seia, e depois para Nelas, o nosso destino de jantar nesse sábado, a Taberna da Adega da Lusovini, onde uma boa amiga nos esperava para um repasto, calmo e sereno, de boa conversa animada por petiscos que gosto de comer nesta casa.
Pelo caminho, e com muita sorte porque só acontece uma vez por ano, apanhámos o dia de transumância na estrada em direcção a Seia, ou seja, a mudança de alguns milhares de ovelhas e cabras das zonas baixas da Serra da Estrela para as altas, conduzidas pelos seus pastores, trazendo, a reboque, algumas dezenas de curiosos, muitos deles carregados com as suas máquinas fotográficas para captar um momento realmente único e muito interessante.
Depois foi hora de continuarmos o caminho para o repasto que nos esperava em Nelas. Começámos com os inevitáveis, pelo menos para mim, Folhados de Queijo da Serra, Mel e Nozes, Cogumelos Shitake em Azeite e Alecrim e Croquetes de Alheira com molho de mostarda, na companhia de um Pedra Cancela Vinha da Fidalga Uva Cão 2022. Também escolhi Truta de escabeche com cebola rocha, pela curiosidade e porque gosto de escabeches, que não estava nada má. Por fim, porque sou adepto incondicional de carnes grelhadas, saboreámos, bem devagar, uma Posta à Taberna. Este tipo de carne grelhada sabe sempre melhor assim, fatiada e comida com tempo, à medida que a conversa flui e se vai saboreando, sobretudo porque o prazer que tive foi acrescentado pela a boa companhia do tinto da casta Monvedro da colheita de 2022. Para terminar, enquanto os outros iam saboreando coisas doces, fui apreciando queijo da serra com um Porto Andresen White 20 Anos.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2024)
Quinta de Ventozelo, 10 anos depois

Existe desde 1500, data em que se verificam os primeiros registos da quinta como fazendo parte do património do mosteiro de São Pedro das Águias. Desde aí, a propriedade passou por várias épocas, umas prósperas, outras desafortunadas, mudando os proprietários e modelos de gestão, até que, em 2014, foi adquirida pela Gran Cruz (agora Granvinhos), […]
Existe desde 1500, data em que se verificam os primeiros registos da quinta como fazendo parte do património do mosteiro de São Pedro das Águias. Desde aí, a propriedade passou por várias épocas, umas prósperas, outras desafortunadas, mudando os proprietários e modelos de gestão, até que, em 2014, foi adquirida pela Gran Cruz (agora Granvinhos), empresa do grupo francês La Martiniquaise. Esta aquisição foi estratégica, permitindo um grande investimento na propriedade para explorar todo o seu potencial. Por outro lado, esta que é uma das maiores empresas nacionais de produção do Vinho do Porto (cerca de 30 milhões de litros segundo o seu director de enologia, José Manuel Sousa Soares) obteve condições para produzir vinhos Douro DOC de alta qualidade. Dos 15 milhões de euros investidos, 75% foram destinados ao turismo e 25% ao ambiente.
Tudo o que se faz na Quinta de Ventozelo faz-se com amor. E não apenas no sentido do bom gosto, mas também da responsabilidade ambiental. A sustentabilidade na quinta é transversal. Não se limita à produção de vinho, pois abrange toda a intervenção feita na Quinta, onde se pretende proteger e enriquecer os recursos naturais e a biodiversidade.
Todas as parcelas com vinha têm um coberto vegetal constituído pela flora autóctone espontânea ou resultante da sementeira de mistura de gramíneas e leguminosas. Esta técnica tem efeitos benéficos na protecção contra a erosão hídrica, principalmente em vinhas ao alto, na formação e estabilidade da estrutura do solo, no aumento da porosidade e na conservação da água durante o verão, sendo ainda abrigo da biodiversidade e de auxiliares no combate a pragas e doenças. As leguminosas ainda ajudam a fixar o azoto no solo.
Com a redução de utilização de agroquímicos em mais de 30%, criou-se espaço para crescerem espécies autóctones e restauraram-se habitats naturais nas galerias ripícolas. Na Quinta já foram identificadas um total de 224 espécies de plantas, sendo mais de 20% caracterizadas como RELAPE (Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou Protegidas) e 185 espécies de animais, parte delas também ameaçadas ou consideradas criticamente em perigo.
Enoturismo de referência
Enquanto projecto de enoturismo, Ventozelo Hotel & Quinta oferece o conforto de um hotel num ambiente rural de uma quinta do Douro.
O restaurante da quinta chama-se Cantina de Ventozelo, por ter sido uma cantina para os trabalhadores em tempos idos. Um amplo terraço oferece uma sombra compacta, que permite relaxar enquanto se observa a vista deslumbrante sobre as vinhas. A ementa, construída pelo Chef José Guedes, tem por base os produtos cultivados nas hortas da quinta, alguma caça e funciona num conceito “quilómetro zero”, o que significa trabalhar com fornecedores de proximidade, dando preferência a produtos regionais.
O Centro Interpretativo, aberto ao público já há alguns anos, é uma espécie de museu vivo e interactivo, que oferece uma espectacular experiência sensorial (incluindo efeitos visuais, sons e aromas) na descoberta de Ventozelo e da sua história.
As vinhas
A vinha ocupa metade da área da quinta. Dos 200 ha cerca de 40 ha foram reabilitados recentemente. Andar de jipe pelos trilhos da Quinta de Ventozelo, com mais ou menos emoção em função do percurso escolhido, é uma actividade tão hedonística como intelectual. Enquanto se desfruta a beleza paisagística das vinhas, testemunham-se as suas variadíssimas condições, moldadas pelas altitudes que vão desde o rio (a 100 metros) até aos 500 metros; pelos solos com diferentes níveis de evolução, textura e capacidade de retenção de água e nutrientes; e pelas exposições, que se apercebem melhor sobretudo ao aproximar-se o pôr-do-sol, quando algumas vinhas já se encontram ensombradas e outras ainda iluminadas pelo astro rei.
Pelo caminho, o director geral da Granvinhos, Jorge Dias conta as aventuras com as pragas dos javalis que, sobretudo nos anos quentes, vão à vinha à procura de água, mordem e estragam os cabos de rega gota-a-gota e servem-se à vontade de uvas. O problema resolve-se com 1000 euros por mês, através da colocação de comedores com milho em três lugares estratégicos para desincentivar os animais de irem às vinhas.
10 anos numa prova
A melhor forma de comemorar os primeiros 10 anos é ver o tempo a passar pelos vinhos numa prova vertical, desde 2014. Das 28 referências de vinhos produzidos na Quinta de Ventozelo, foram escolhidas duas – o branco monovarietal de Viosinho e o tinto Essência.
A casta mais emblemática da Quinta de Ventozelo é o Viosinho, sem dúvida. É a casta do Douro “com maior volume de boca” e bem expressiva; “aguenta o escaldão e tem uma janela de oportunidade na vindima bastante grande”. “As notas tropicais que surgem nos vinhos novos, desaparecem ao fim de dois anos em garrafa”. 10 vinhos numa prova vertical mostram bem a história, a aprendizagem e a variação anual.
O 2014 (em magnum) apresenta notas apetroladas e amendoadas, ervas aromáticas, fruta contida e algo terroso também. Muito bom no volume, acidez não impositiva, que dá frescura suficiente. Termina com notas citrinas e leve amargo (17,5). O 2015 (em magnum) mostra-se mais tropical no nariz marcado pelo aroma de ananás e manga, não tão fino e ligeiramente mais amargo no final (17). O 2016 revela fruta mais evoluída e menos finesse em expressão de nariz e de boca (16). O 2017 está em grande forma com aroma muito apelativo, vivo e complexo a revelar lima, laranja e kumquat, ervas aromáticas e nuances apetroladas também; grande volume de boca, expressão e prolongamento (17,5). O 2018 parece mais novo, tem uma nuance floral a lembrar madressilva e fruta delicada; quase crocante, cristalino e delicado, textura e corpo muito equilibrado com frescura persistente (17). O 2019 é exuberante, tropical, com ananás, manga e laranja, muito jovem ainda, de corpo amplo e muita vida (16,5). O 2020 é intenso, com alguma expressão tropical, aipo, manga, pêra, estragão e uma nota floral, com bastante corpo e acidez bem inserida, termina com leve nota amarga (17). O 2021 é jovem e exuberante com notas de tília, tisanas, funcho, vertente tropical, muito ananás (16,5). 2022 parece mais tímido no nariz, talvez por contraste com o super terpénico 2021, com fruta branca a lembrar pêra (16,5).
Essência no topo
Essência é o topo de gama tinto da Quinta de Ventozelo – a melhor expressão da quinta, que varia conforme a quantidade e proporção de Touriga Franca e Touriga Nacional, as duas castas responsáveis pelo lote. É produzido em anos que a uva entrega a qualidade pretendida. Por exemplo, em 2021 e 2022 optaram por não o fazer. A vinificação ocorre em lagar. Depois vai para as barricas de 500 litros de carvalho francês, novas e usadas, onde passa 18 meses. Por ser o vinho mais importante, ainda estagia bastante tempo em garrafa antes de ser lançado para o mercado. É por isto que os três vinhos mais recentes da prova vertical não se encontram ainda em comercialização, permanecendo em cave, onde evoluem potencializando as suas qualidades.
O 2019 (amostra da cave) tem nariz muito apelativo com um floral de violetas, cereja preta e ameixa madura, louro. Tem ainda muito da juventude, mas a complexidade está presente com promessa de ainda maior afinação com o tempo. Mastigável, tanino maduro e textura aveludada, macio na boca, com bom volume, mas não pesado. O tanino fica mais evidente no final, mas não tem secura. É suculento. Termina com especiaria doce (18). O 2018 (amostra da cave) tem menos corpo e mais frescura, menos exuberante na fruta, com cereja contida e tanino suculento (18). O 2017 (amostra da cave) revela nariz elegante com fruta vermelha, pimenta preta, louro e tomilho, ligeiramente terroso. Menos corpo, mais seco no fim, tanino bem firme e menos suculento, boa acidez e bonitos nuances de framboesa (17,5). O 2016 está ligeiramente fechado e terroso, a lembrar terra húmida, em combinação com louro, caruma e nuances de bergamota. Agradece arejamento, mais austero na boca, denso, compacto e especiado, com tanino ainda bem presente (17,5). O 2015 mostra-se lindamente no nariz, complexo, com muita fruta ainda a lembrar cereja preta e amora para além das notas de couro, caruma, especiaria e violetas. Óptima performance em boca, longo, suculento com tanino maduro e polido pelo tempo, austero q.b. e envolvente ao mesmo tempo (18,5). O 2014 nariz com notas de esteva, alcaçuz, resinas, eucalipto e reminiscência de fruta. Maior percepção de acidez transmite maior grau de frescura ao conjunto (17,5).
Ao jantar provámos outra bela amostra de cave, que será uma estreia absoluta em Setembro – o Quinta de Ventozelo Essência branco 2019, feito de Viosinho e Malvasia Fina. Que vinho! Fino e cativante, elegante com fruta branca séria e lindas notas citrinas, tudo bem proporcionado. Fantástico na prova de boca, com barrica certa, filigrano, com frescura natural, um vinho cheio de finesse, que mostra já uma super afinação (18,5). Segundo Jorge Dias, a Quinta de Ventozelo foi uma aventura de 10 anos e o projecto que deu um enorme gozo de fazer. “Que venham mais 10!” – resumiu com regozijo e confiança.
(Artigo publicado na edição de Setembro 2024)
Estive Lá: Ilha da Armona, mais próximo do paraíso

Assistir ao movimento das marés na barra da Ilha da Armona proporciona uma sensação muito agradável. E não só para mim. Sente-se na forma de estar das pessoas que passam a pé pela beira de água, nas que se banham nela e nas que apenas se sentam a apreciar a vista, como gosto de fazer […]
Assistir ao movimento das marés na barra da Ilha da Armona proporciona uma sensação muito agradável. E não só para mim. Sente-se na forma de estar das pessoas que passam a pé pela beira de água, nas que se banham nela e nas que apenas se sentam a apreciar a vista, como gosto de fazer por vezes. À medida que a maré baixa vários bancos de areia vão surgindo, convidando a um mergulho nas águas límpidas das lagoas que se vão formando ou a apanhar conquilhas e berbigões. Mais uma vez não resisti ao convite aos mergulhos. Quanto às conquilhas, este ano só as encontrei no prato, como se verá adiante.
É pelo prazer que me dá que volto à Armona todos os anos, mesmo que isso me obrigue a dar pelo menos 12 mil passos ida e volta, desde o lugar onde costumo deixar o automóvel até ao cais onde apanho o barco e, depois, pelo interior da ilha até à barra. Tal como é habitual o meu dia começou com uma tosta mista num dos cafés do mercado de Olhão, aquele onde vou sempre, na companhia de um sumo de laranja algarvia bem-apessoado, e de um café para acordar. A verdade é que não há melhor tosta mista para mim, principalmente pelos sabores e aromas irresistíveis e inimitáveis do pão, ligeiramente barrado, por fora, com manteiga, onde se aconchegam molemente o queijo e o fiambre. É impossível deixar de repetir.
Enquanto espero a encomenda, vou sempre ao mercado do peixe porque me sabe bem fazê-lo e me ajuda a manter o olhar treinado. No verão, se se for cedo, há quase sempre sardinha, carapau de todos os tamanhos, safia, dourada e sargo, pescada, robalo, salmonete, chaputa, raia, cação, atum e muitos outros peixes e mariscos. Por isso, vou sempre lá abastecer-me, o melhor que consigo, antes de voltar para Lisboa. Mas se, for sábado, tem de ser cedo, porque, a partir das 10h, a oferta já rareia. A frescura, os sabores e aromas e a relação qualidade/preço valem sempre o investimento.
A ida mais recente à Armona levou-me, na volta, ao Restaurante Grupo Naval de Olhão. Estava a apetecer-me lá voltar e fica mesmo perto do cais de embarque para as ilhas. Foi um lanche ajantarado que se iniciou perto das 4h30 da tarde, na esplanada, composto por ostras da Ria Formosa, como não podia deixar de ser, conquilhas à Bolhão Pato que ainda souberam melhor na companhia do pão fresco, cheiroso e gostoso que só se consegue arranjar no Algarve, tal como a salada de polvo de cores vivas e os carapaus alimados. Tudo na boa companhia do vinho Sebastião, da casta Chardonnay, que seleccionei entre as cerca de duas dezenas de sugestões de uma carta com opções para todos os gostos e bolsas. A sua frescura, a fruta discreta mas presente e o ligeiro toque de madeira e de especiarias contribuíram para que fizesse boa companhia a todos os petiscos. Foi um belo final de tarde de beira ria neste verão.
Restaurante Grupo Naval de Olhão
Morada: Av. 5 de Outubro, Olhão
Tel.: 289 050 543
Mercados de Olhão
Morada: Av. 5 de Outubro, Olhão
Tel.: 289 817 024
Site: www.mercadosdeolhao.pt
Bilheteira Olhão – Ferry para as Ilhas
Morada: Av. 5 de Outubro 2A, Olhão
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
Quinta da Torre: Estórias de uma Casa com história

A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural […]
A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural e histórica do Minho contribuiu decididamente para a formação da identidade de Portugal e consolidou a sua importância contínua no cenário nacional.
A história da região do Minho remonta à época pré-romana, com vestígios de povoados e fortificações que datam da Idade do Ferro. Durante a ocupação romana, a região foi uma importante produtora de vinho e cereais, beneficiando-se da localização estratégica junto ao rio Minho. No período medieval, o Minho foi palco de várias disputas entre cristãos e mouros, culminando na Reconquista. A região foi então dividida em pequenos condados e senhorios feudais, cada um com sua própria identidade cultural e social. Durante os séculos seguintes, o Minho foi marcado por desenvolvimentos agrícolas e comerciais, e pela influência de diferentes reinados e governantes, moldando sua evolução até os dias de hoje.
Este território caracteriza-se também pela extraordinária oferta de “casas solarengas” com origens na Idade Média, quando as famílias nobres começaram a construir casas fortificadas para se protegerem das invasões. Ao longo dos séculos, essas construções evoluíram para os Solares que conhecemos hoje, com influências arquitetónicas góticas, renascentistas e barrocas. A evolução dos solares no (Alto) Minho está intimamente ligada à ascensão e queda das famílias nobres que os habitavam, refletindo as mudanças políticas e sociais que ocorreram na região ao longo dos séculos. Pode-se, ainda, encontrar em perfeito estado de conservação, outras construções características da arquitetura regional tradicional – as casas abastadas de lavradores e casas agrícolas humildes, localizadas nos espaços rurais e nas aldeias que no Minho abundam, constituindo um quadro perfeito de paisagem, usos, costumes e tradições. Muito deste património, para felicidade do mundo do turismo, encontra-se a funcionar para receber hospedes que aí podem pernoitar e provar o que de melhor tem a região para oferecer em cultura, gastronomia e vinhos.
Numa manhã de sol exuberante que me impelia a sair de casa e a viver a vida, decidi viajar até ao paraíso vínico da sub-Região de Monção e Melgaço e aproveitar o que de melhor o território tinha para me proporcionar, para me fazer feliz. Nunca me canso de fazer um périplo por este destino, também de enoturismo, pelas paisagens, pela história, mas sobretudo pelo Vinho, esse néctar que nos transforma, que nos faz pensar, que nos faz rir e chorar, que nos eleva o ser e a alma. Algo “divino” aconteceu.
O Homem sonhou e a obra nasceu…
Imbuído da missão de me proporcionar felicidade, fui visitar a Quinta da Torre, localizada na freguesia de Moreira, concelho de Monção, propriedade de Anselmo Mendes – um dos mais importantes enólogos deste país, conhecido pelo “Senhor Alvarinho” – e de sua mulher, Fernanda Grilo, responsável por grande parte da gestão da empresa.
Na realidade há Homens cuja importância para o sector e para a região onde gravitam, valem mais que as suas próprias obras. No caso de Anselmo Mendes, o cuidado e a sabedoria que deposita em tudo o que faz é tanta, que acaba por criar uma legião de seguidores e admiradores naturais que o seguem por todo lado, faça o que fizer. Apesar de fazer enologia em vários pontos do país e no estrangeiro, é em Monção que ele se “despe” de corpo e alma e se atira a uma casta, Alvarinho, que domina em toda a sua dimensão.
A Quinta da Torre, nome adotado nos dias de hoje, é um sonho concretizado por Anselmo Mendes, remetendo para as suas recordações de infância, quando vindimava esta terra e acreditava que este era o terroir de excelência, sobretudo, para o icónico Alvarinho.
A Casa da Torre, Paço Quinta da Bemposta (pela boa exposição), como se designava no passado, cheia de estórias e de histórias, foi sendo vivenciada por famílias Nobres. Payo Gomes Pereira e Isabel Soares são os primeiros a habitá-la. Após várias sucessões na família, a partir dos séculos XVII e XVIII, a casa intensificou a produção de vinho, cultivo do milho, do linho, tinha dois moinhos que permitiam elaborar azeite, era um “feudo” agrícola de grande importância para a região. No final da primeira década deste século, Anselmo Mendes começa por tratar os 12 ha de vinhas desta quinta ligeiramente abandonada pelos proprietários da altura. Percebe de imediato que estava perante um terroir (ou vários) que iria permitir elaborar vinhos de grande nível. Entretanto, ao longo dos anos, ainda na modalidade de aluguer, vai plantar mais 30 ha de vinha. Vem a adquirir a Quinta da Torre em 2016. Possui, neste momento, 50 ha de vinha numa dimensão total de 62 ha.
Os solos em aluviões proporcionam vinhos mais florais, mais cheios, mais densos. A vinha do rio (uma delas) proporciona vinhos mais aromáticos, talvez por ter mais matéria orgânica. Os vinhos das parcelas da Rainha e do Olival provêm de solos com mais argila e são mais densos, mais estruturados, apesar de estarem no mesmo vale. Nas vinhas das encostas os vinhos são mais frutados e tensos, salienta orgulhosamente. Esta paleta orgânica que a Quinta da Torre possui permite, a Anselmo Mendes, criar vinhos com enorme capacidade de espera, de guarda, alicerçada na casta Alvarinho. O desafio neste estudo permanente é de elaborar vinhos cada vez mais complexos e diferenciados, permitindo estudar melhor cada uma das parcelas e os vinhos que pode proporcionar, isoladas ou em conjunto.
Na sequência deste mosaico de solos, um dos atrativos é o “Centro de Experiências”, onde se pode aprender tudo sobre a vinificação, estágio em inox por vinha, visionar as diferentes texturas de solos e verificar os estágios em garrafas com vinhos das diferentes parcelas.
No espaço da quinta pode encontrar-se, ainda, nos dias de hoje, corvos, perdizes, faisões, cegonhas, javalis e veados. As oliveiras com mais de mil anos, são, de per si, um atrativo.
A Quinta da Torre, criada para originar vinhos de excelência e proporcionar experiências inesquecíveis na área do enoturismo, localiza-se freguesia de Moreira, concelho de Monção. É fácil de chegar: no local deparamo-nos com um enorme e bonito portão à moda antiga, com o muro típico em granito desta região, onde se pode ler Quinta da Torre.
Entrando, deparamos com um acervo de património cultural construído impressionante, que “transpira” história e se impõe pela beleza e imponência. Existem dois espigueiros e uma eira que nos transportam para os usos, costumes e tradições destas terras, onde o trabalho do milho, do linho, era uma constante, e onde se matava o porco e dele se extraía tudo para se fazer os diversos pratos bem típicos de Monção e do Minho.
Olhando para a esquerda, contigua aos espigueiros, encontra-se uma loja de vinhos contemporânea franqueada com uma enorme esplanada para os vários torrões de vinha que a quinta possui. Uma paisagem de cortar a respiração de tão idílica que é, e de beleza natural que possui. A vontade de pegar num copo e provar um excelente Alvarinho à temperatura correta, provocou em mim pensamentos e devaneios incontroláveis para quem adora esta casta como eu. Por debaixo da loja temos uma sala de provas com capacidade para 25 pessoas, onde se fazem as provas livres e programadas.
Na loja encontram-se devidamente e criteriosamente expostos todos os vinhos que Anselmo Mendes que produz na Região dos Vinhos Verdes, sobretudo na sub-Região de Monção e Melgaço e na Sub-Região do Lima. Em conjunto, o enólogo já faz a gestão de 130 ha de vinha, 50 ha em Monção e mais 70 ha no Lima.
As experiências de turismo e vinhos
A conduzir a visita estava a Sandra Além. Responsável pelo Enoturismo da Quinta, nascida a pouco mais de 700 metros, desperta de imediato a atenção pela sua alegria, simplicidade, genuinidade e profissionalismo. Pode haver a sorte de encontrar o enólogo Anselmo Mendes na Quinta, e ele nunca recusa uma explicação suplementar. Eu tive essa sorte. Todas as provas são acompanhadas com produtos gastronómicos locais e regionais. Na esplanada também se fazem provas. É nesse espaço que a visita começa com uma explicação criteriosa da história da casa e as características da Quinta. O storytelling nunca é o mesmo, pois há muito para dar a conhecer, e a espontaneidade da Sandra, com um sotaque delicioso, rapidamente nos embala para um passado glorioso sem perder o norte da visita, provar vinhos e ter uma experiência turística memorável.
Na visita completa, cerca de hora e meia e “mais uns pozinhos”, calcorreamos a quinta com paragem obrigatória nas oliveiras com mais de mil anos, onde orgulhosamente se realça o histórico e a tradição na produção de azeite na Quinta da Torre, conhecida na terra pelo Paço – Quinta da Bemposta. Os exteriores milimetricamente organizados com um gosto requintado, onde tudo está no sítio certo, remetem-nos para o imaginário do passado onde o tempo durava muito, onde a vida calma e mais prazerosa permitia o disfrute de tal espaço romantizado. Respira-se cultura, natureza, paisagem, que faz-nos sentir em casa e desejar ficar para uns dias de deleite.
Em frente às famosas oliveiras localizam-se cinco suites, num corpo contiguo e construído para o efeito de alojamento turístico, devidamente equipadas, de bom gosto decorativo e qualidade irrepreensível. Nota-se que tudo foi pensado para proporcionar momentos especiais.
Em seguida descemos, perante a fachada sul da casa onde se localizam pormenores arquitetónicos de grande valor, que merecem reflexão, para conhecer o exclusivo e único Centro de Experiências da Região, uma adega de onde, no século XVI, saiam vinhos para Inglaterra e Norte da Europa. Anselmo Mendes guarda todos os anos 1000 litros de vinho por cada uma das oito as parcelas, oito solos diferentes no mesmo vale. Este centro está inteligentemente organizado: o chão mostra a rocha mãe da região – o granito, e dos lados a pedra rolada, 8 cubas em inox com vinhos em estágio por parcela, 16 barricas onde estagiam mais alguns vinhos e uma garrafeira com os vinhos em estágio. Este Centro de Experiências permite constituir também uma mostra do que se faz na Adega que a empresa tem em Melgaço.
Na companhia do Anselmo Mendes, esqueça o tempo porque a conversa flui pelos tempos da história, das castas, da terra, dos usos e costumes e sobretudo das tradições.
No andar acima do Centro de Experiências existe uma biblioteca bem apetrechada de aventuras, factos e ciência, com especial atenção para o vinho, e ainda tem uma suite para uso da família. Contudo, no corpo central encontramos a sala vip que permitirá a realização de eventos mais privados, quer para o produtor quer para quem dela necessita para realizar uma ação mais exclusiva. No andar de cima, o corpo central da casa, existe uma sala de jantar para uso comum e uma cozinha que os hospedes podem de igual forma usar.
Na Torre perto das oliveiras existem três suites para alojamento turístico com todo o conforto digno de espaços celestiais que nos remetem para a história de “príncipes e princesas”, bem localizadas, pois podemos admirar o “mar” calmo das vinhas. Na parte de trás da casa, com a fachada virada para as vinhas, temos um pomar para apreciação e “prova” de alguns frutos tirados diretos da árvore.

Na Quinta da Torre, estão plantados 50 ha de Alvarinho. E, numa propriedade vizinha, mais 7 ha de castas tintas (Alvarelhão, Pedral, Verdelho-Feijão). Mas para completar o conhecimento e refletir as viagens que Anselmo faz pelo mundo vínico, a Quinta possui 1 ha vinha, que constitui um raro “Jardim das Castas Brancas”, para proporcionar, de igual forma, mais conhecimento a quem a visita. Das várias existentes destacam-se variedades brancas internacionais como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, Viognier, Gewurztraminer, Pinot Gris, Assyrtiko, Furmint, Godello, Fiano e, entre as castas nacionais, Encruzado, Viosinho, Azal, Arinto, entre outras.
A quinta possui ainda uma coleção de 400 camélias, que são tratadas com o maior cuidado já que a família adora esta espécie. Este é o cenário ideal para desfrutar de uma prova de vinhos ímpar, repleta de identidade e autenticidade e rodeado pelas vinhas que lhes dão origem, num terroir único, perfeito para a casta rainha da região. A experiência turística é inolvidável.
Os desafios enfrentados, como as mudanças climáticas e as tendências de mercado, têm sido oportunidades para inovar e reafirmar a identidade e notoriedade dos vinhos produzidos nesta quinta. Com várias certificações de qualidade ISO22001 e ISO14001, caminham a passos largos para a obtenção do selo da Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola do IVV. Um espaço de Enoturismo a visitar para ser (muito) feliz.
Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)
Quinta da Atela aposta ainda mais no enoturismo

A Quinta da Atela, produtor de vinho da região vitivinícola do Tejo, acaba de lançar um novo programa de enoturismo que promete conquistar os amantes de vinho e os entusiastas do turismo rural, que procuramum refúgio no coração do país. Com uma história que remonta ao século XIV, apropriedade de Alpiarça abre agora as suas […]
A Quinta da Atela, produtor de vinho da região vitivinícola do Tejo, acaba de lançar um novo programa de enoturismo que promete conquistar os amantes de vinho e os entusiastas do turismo rural, que procuramum refúgio no coração do país.
Com uma história que remonta ao século XIV, apropriedade de Alpiarça abre agora as suas portas para oferecer uma experiência imersiva, onde os visitantes podem explorar as vinhas e a Reserva Natural do Paul da Gouxa em buggy todo-o-terreno ou no reboque do trator, participar em qualquer uma das três provas de vinhos disponíveis e conhecer de perto o processo de produção. Nesta aventura por paisagens a perder de vista, a Quinta da Atela convida adescobrir pontos de interesse natural e arqueológico como o maior Salgueiro Negral da Península Ibérica ou o Cabeço da Bruxa. São 600 hectares de natureza no seu estado mais puro.
E para quem vem de longe, ou apenas quer passar a noite na calmaria do campo, a restaurada casa centenária, ainda com a “traça” original, oferece quatro suítes e piscina exterior. Para juntar estadia e experiências de enoturismo, a Quinta da Atela sugere um dos dois pacotes que incluem uma noite, tour pela propriedade, prova ou piquenique e um momento cultural ou de visita à adega.
Quinta da Atela
Estrada Nacional 118, km78 – 2090-219 Alpiarça
Enoturismo: Vinilourenço – No Douro mais intenso

Já muito se escreveu sobre o Douro, mas nunca me canso de o ler, de o visitar, de o ver, de o cheirar e de o apreciar. A região demarcada do Douro oferece sempre sensações diferentes. A cada visita uma nova história. Na realidade não existe um só Douro, existe um território que vislumbra várias […]
Já muito se escreveu sobre o Douro, mas nunca me canso de o ler, de o visitar, de o ver, de o cheirar e de o apreciar. A região demarcada do Douro oferece sempre sensações diferentes. A cada visita uma nova história. Na realidade não existe um só Douro, existe um território que vislumbra várias cenografias naturais, que nos instiga constantemente a visitar, a ficar, a calcorrear os caminhos tão belos como desafiantes, alicerçado em mirantes e miradouros que testemunham a sua própria magnitude.
No Douro há uma relação umbilical entre vinho e território, uma relação que não é meramente física, mas muito envolvida na cultura e nas pessoas. Ser do Douro é motivo de orgulho que só quem lá vive sente. Este casamento entre vinho e território identifica as origens, o vinho torna-se num embaixador único, levando uma mensagem sobre a terra, as gentes e a cultura. Se há destino onde se adormece e acorda a pensar em vinho e em tudo o que rodeia é exatamente nesta região.
Na realidade visitar o Douro é uma experiência única para os verdadeiros amantes de vinho. Aqui têm a oportunidade de provar excelentes vinhos, mas também de explorar uma paisagem deslumbrante, rica em história, cultura e tradição vinícola. Se pensarmos em toda a história do Douro e das suas gentes só me ocorre uma palavra – notável.
O Douro é também um território de produção onde a origem conta. Com condições climáticas muito próprias, um solo que exige um trabalho árduo e um modo ímpar de trabalhar a terra, o Douro forma uma paisagem magnífica e torna-se berço de vinhos memoráveis com uma enorme capacidade de guarda quer no âmbito dos tranquilos e espumantes, quer no âmbito dos fortificados, Portos e Moscatéis. Não foi por acaso. Foi com muito mérito que o Alto Douro Vinhateiro fez e faz parte do património da UNESCO, desde 2001, como paisagem cultural evolutiva e viva.
Na realidade e à medida que se vai percorrendo este destino turístico e vinhateiro, sente-se que os vinhos e os territórios formam um ser único, de vasos comunicantes, de montanhas “encorpadas”, de aromas estonteantes, paisagens deslumbrantes, onde “taninos” complexos e elegantes, constituem os néctares que vamos provando. Este casamento virtuoso entre vinha, vinho e turismo, que designamos de enoturismo, faz deste território um destino de visita obrigatória.
A interacção entre territórios funcionalmente distintos, mas interdependentes e, por isso, mais fortes na sua presença e afirmação no mundo, constitui o mote para a visita que alegremente fizemos ao Douro Superior. Confesso, o meu Douro preferido.
Por estas terras os solos são, na sua quase globalidade, derivados de xistos e algum granito. As amplitudes térmicas são um pouco mais acentuadas do que em locais de clima mediterrânico típico, com mais precipitação e temperaturas mais amenas. Assiste-se a vinhas plantadas em altitude que contribuirão para a elaboração de vinhos mais frescos, com acidez desafiante. Por estas razões e sobretudo pela admiração que tenho pelo Douro, decidi realizar esta viagem de cheiros e sabores que me levaram a um produtor de vinhos do Douro – Vinilourenço, que expressa na perfeição as sensações que acabei de descrever.
Produtor familiar
Foi com Horácio Lourenço que tudo começou, com a plantação das primeiras vinhas há cerca de quatro décadas, impulsionando a base da empresa. O amor à terra e o gosto pela agricultura obrigaram-no a embrenhar-se no mundo da vinha e do vinho, concretizando o sonho que sempre teve de ser viticultor. A sua actividade principal, a construção civil, não lhe permitia uma dedicação a tempo inteiro. Começou por isso, a incentivar o seu filho Jorge Lourenço para a missão de ir mais além do que só comercializar as uvas que colhiam. Desde logo procurou que assumisse os destinos e a estratégia da empresa de fazer os seus próprios vinhos, criando as suas marcas.
Imbuído do espírito empreendedor do pai, ávido de aprender e de levar a “bom porto” o negócio da família, Jorge Lourenço, de temperamento vivo, assume de forma abnegada as rédeas da empresa. Entendeu que os ensinamentos do pai, apesar de importantes, necessitavam se ser complementados com mais conhecimento técnico. Aprender mais e de forma consistente passou a ser mote que lhe veio proporcionar as qualificações mínimas necessárias perante a “empreitada” que tinha pela frente. Concluiu o ensino secundário com mérito, inscreve-se num curso de jovem empresário e mais tarde numa pós-graduação em Enoturismo. Irrequieto e irreverente, é Jorge Lourenço quem hoje assume a administração da Vinilourenço, de corpo e alma, e já lá vão duas décadas, para felicidade do pai, que vê no seu filho a concretização do sonho que teve há 40 anos.
A adega, construída em 2003, situa-se na localidade do Poço do Canto, Concelho da Meda. Tem vindo a ter várias ampliações. É em 2020 que sofre uma remodelação profunda, aumentando a capacidade de produção de vinho e armazenagem para cerca de 800.000 litros. Nesta altura já Jorge Lourenço estava convicto que o turismo seria importante fonte de rentabilidade complementar à comercialização do vinho. Nasceu assim a actividade de enoturismo na empresa.
A família Lourenço sempre respeitou os métodos ancestrais, mas percebeu em boa hora que o mercado consumidor estava a mudar. Neste sentido, dotou a adega de todos os equipamentos necessários à produção de vinhos de qualidade, aliando a metodologia tradicional da utilização dos lagares de granito, à mais moderna vinificação em cubas de aço inox, algumas delas concebidas pelos técnicos da empresa em parceria com o sector das metalomecânicas. Cientes da tradição do Douro de colocar vinhos em estágios médios e prolongados, utilizam barricas de carvalho para os seus grandes vinhos.
A adega e as vinhas
A adega dispõe-se por quatro pisos, adaptados à orografia do local: no piso “0”, está localizada uma loja de vinhos para venda directa, armazém de apoio, escritórios, e um espaço para provas e eventos vínicos, com cerca de 100m2, equipada com cozinha e um terraço panorâmico para se poder desfrutar da ampla vista da paisagem rural, e um vidro suspenso com vista para a sala de barricas; o piso -1 está destinado a estágio de vinhos em cubas de aço inoxidável de diferentes capacidades, que permitem realizar os lotes pretendidos em grande ou pequeno volume e o estágio de vinhos em barricas de carvalho, utilizadas para os vinhos de qualidade superior; o piso -2 destina-se a receção das uvas, vinificação, engarrafamento e rotulagem; por fim, no piso -3, a adega dispõe das condições ideais para estágio e conservação, com capacidade de armazenamento de produto acabado.
As vinhas da empresa totalizam cerca de 50 ha e estão dispersas por várias parcelas, que chegam a distar entre si mais de duas dezenas de quilómetros, nas freguesias do Poço do Canto, Meda, Vale da Teja, Sebadelhe e Pocinho. Este facto tem o inconveniente de não permitir adoptar o conceito de “Quinta” e de elevar, significativamente, os custos de produção, mas em contrapartida tem a enorme vantagem de dispor de vinhas com uma grande diversidade de condições ambientais, que permitem explorar as castas de forma muito criativa e produzir vinhos com os mais variados estilos.
As cotas dos vinhedos variam entre os 130 e 700 m, tanto em terrenos de encosta com forte declive, como em zonas planálticas, levemente onduladas. Há vinhas armadas em patamares de uma, duas ou mais filas de videiras, com orientações solares muito variáveis, e vinhas contínuas, planas ou de declive suave, com uma única exposição.
Os solos de origem xistosa – típicos do Douro – ocorrem nas zonas de cota mais baixa, junto ao rio Douro, na maior parte das zonas de cota intermédia e, ainda, em algumas cotas altas da freguesia do Poço do Canto. Os solos de transição, com origem no xisto e granito, e os de origem granítica – típicos da Beira – ocorrem nas zonas altas, já na fronteira do Douro Superior com a Beira Interior. Os solos xistosos, de maior fertilidade e menor acidez, têm maior capacidade de retenção de água e dão origem, em regra, a maiores produtividades, proporcionando menor stress hídrico às videiras em anos secos e quentes. Os solos de origem granítica, de menor fertilidade, dão origem a grandes vinhos, particularmente quando há ocorrência de alguma chuva em setembro.
O desafio é entender não um, mas os vários terroirs que a empresa possui, e perceber, de forma empírica, mas também científica e técnica, o resultado dos mostos que originam para fazer blends de várias castas, de várias proveniências, altitudes, exposição solar, produção por parcela, etc.
Turismo de vinho
O enoturismo é a mais recente aposta da Vinilourenço, alicerçada numa estratégia ligada à autenticidade do atendimento das gentes deste Douro (Superior) e no serviço dos produtos mais genuínos. O espaço possui uma loja de vinhos para compra imediata e possibilidade de envio para o domicílio do visitante. Tem ainda um armazém de apoio e um espaço para provas e eventos vínicos, com cerca de 100m2, onde se pode degustar os produtos locais e regionais e ainda, sob reserva, realizar refeições. Neste sentido, o espaço tem uma cozinha equipada para a promoção da gastronomia duriense e um terraço panorâmico para poder desfrutar da ampla vista da paisagem rural que rodeia a adega.
O que mais me impressionou foi a recepção afável e profissional com que fui brindado. É fácil chegar à Vinilourenço, numa viagem pelas paisagens deslumbrantes do Douro. Tive a sorte de me “perder” pelo caminho, já que usufruí da beleza natural do meio envolvente de um mundo rural ainda preservado. O GPS recomenda-se.
Existe um conjunto interessante de programas que possibilitam e preconizam uma experiência inesquecível. A visita inicia pela apresentação do ADN da empresa, a sua história, a adega, os vinhos e os terroirs que possui. De seguida realiza-se o percurso pela adega, que termina na tradicional prova de vinhos, que varia de acordo com o programa escolhido. Aconselho vivamente a visita a algumas das vinhas que a empresa possui, pois é lá que o vinho nasce, é aí que se percebe a complexidade dos vinhos deste produtor. E se for na companhia do Jorge Lourenço (é muito provável que aconteça) vai sentir-se, no seu entusiasmo, o amor que tem pela terra e pela história que a família Lourenço foi construindo nos últimos 50 anos. Mas para um enófilo e gastrónomo que se preze, provar (e beber) sem comer a experiência não será completa, pelo que sugiro um programa que inclua Wine & Food no terraço.
Para quem necessitar de realizar algum evento empresarial ou eventualmente agendar uma experiência com um grupo de turistas, o espaço está preparado para grupos de 10, 20 e 30 pessoas sentadas. Existe ainda, como motivo de interesse, a visita aos 12 ha de olival e 0,5 ha de amendoal. Para além dos programas estabelecidos, a Vinilourenço está actualmente a criar todas as condições para poder oferecer alojamento turístico, Spa nature e espaço de restaurante no meio de uma das vinhas, num quadro natural que vai fazer as delícias dos privilegiados que conseguirem viver a experiência de comer, beber e dormir em perfeita sintonia com o mundo rural. Um local para ser muito feliz!
CADERNO DE VISITA
COMODIDADES
– Carregamento para carros elétricos
– Kids friendly
– Línguas faladas: espanhol, inglês e francês
– Loja de vinhos com espaço de bar / provas / refeições
– 40 lugares sentados
– Parque para automóveis
– Provas livres e comentadas (ver programas)
– Possibilidade de realizar refeições
– Turismo acessível
– Wifi disponível
– Visita à adega
– Visita às vinhas
– Visita ao Douro
EVENTOS*
- Almoços de família, lançamento de um produto, aniversários e datas especiais
- Eventos Team Building
- Festas particulares
- Jantar de empresa ou de negócios
- Possibilidade de criar o próprio evento
- Possibilidade de fazer eventos de empresas para os seus colaboradores
- Possibilidade de fazer Provas cegas
- Reuniões
- Workshops
* sob reserva
EXPERIÊNCIAS À MEDIDA*
– Cursos de introdução ao vinho
– Pic nic vínico
– Seja enólogo por um dia
* sob reserva
PROGRAMAS
Prova Colheitas:
– Dois Vinhos Douro DOC (opção de escolha marca D. Graça ou Fraga da Galhofa); Preço de prova: €10 por pessoa; Nº de pessoas: mínimo duas.
Prova Blend:
– Um Espumante Blend e três vinhos Reserva (Fraga da Galhofa Tinto Reserva, Fraga da Galhofa Branco Reserva, D. Graça Tinto Grande Reserva Vinhas Antigas); Preço de prova: €25 por pessoa; Nº de pessoas: mínimo duas.
Prova Cega Terroir:
– Cinco vinhos Monovarietais; Preço de prova: €35 por pessoa; N.º de pessoas: mínimo duas.
Full turn – visita a vinhas, adega e prova de vinhos:
Ponto de encontro na Vinilourenço; Transporte providenciado pela Vinilourenço; Visita guiada às vinhas; Brinde nas vinhas com um dos vinhos da casa; Visita guiada à adega; Surpresa.
Duração: 1h30
Idiomas: Português e Inglês.
Disponível: De Segunda a Sexta das 11h00 – 18h00 e sábados das 9h30 – 12h30.
Hora de início: 11:00 horas, 14:00 horas, 16:30 horas.
Nº de pessoas:(sob consulta)
Preço: €40 (por pessoa)
Esta actividade inclui guia, visita guiada, prova de vinhos, loja de vinhos.
HORÁRIO
Segunda a Sexta das 9h00 – 18h00
Sábado 9h30 – 19h00
VINILOURENÇO
EN324 – Poço do Canto
Meda 6430-335
Telefone: 279 883 504
e-mail: geral@vinilourenco.com
site: www.vinilourenco.com
(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)
Adega José de Sousa cria programa de vindimas tipicamente alentejano

O programa pode ter início na vinha, onde os visitantes têm a oportunidade de cortar os cachos ou, se a vindima estiver numa fase avançada, na adega com a prova de mosto ou com a pisa a pé. Adicionalmente, os participantes podem participar nas atividades a decorrer. Este programa inclui, ainda, uma visita às duas […]
O programa pode ter início na vinha, onde os visitantes têm a oportunidade de cortar os cachos ou, se a vindima estiver numa fase avançada, na adega com a prova de mosto ou com a pisa a pé. Adicionalmente, os participantes podem participar nas atividades a decorrer. Este programa inclui, ainda, uma visita às duas adegas – a Adega Nova e a Adega dos Potes – com uma prova de vinhos e degustação de produtos regionais. E para aqueles que desejam encerrar o dia com uma experiência completa, há a opção de desfrutar de um almoço exclusivo, com os sabores típicos do Alentejo: gaspacho, empadas de galinha, queijos e enchidos, acompanhados de vinhos José de Sousa.
O programa está disponível mediante disponibilidade e marcação prévia. Pode fazer a sua reserva antecipada pelo e-mail josedesousa@jmfonseca.pt ou pelo contacto telefónico através do número 918 269 569.
Programa de vindimas Adega José de Sousa
Datas: 15 de Agosto a 15 de Setembro
OPÇÃO SEM ALMOÇO:
11h00 – Welcome drink
11h15 – Visita guiada à Adega Nova e Adega dos Potes, com participação nas atividades a decorrer*
12h15 – Prova de 3 vinhos e degustação de produtos regionais (enchidos, queijo, pão e azeite)
13h00 – Final do programa
Oferta de t-shirt e chapéu da vindima
Programa disponível de 2 a 16 pessoas
Preço por pessoa: 28 euros (IVA incluído)
Crianças até 10 anos: grátis (sem oferta de t-shirt e chapéu)
Jovens dos 11 aos 17 anos: 13,00 euros
Preço família (2 adultos + 2 jovens): 74,00 euros
OPÇÃO COM ALMOÇO:
11h00 – Welcome drink
11h15 – Visita guiada à Adega Nova e Adega dos Potes, com participação nas atividades a decorrer*
12h15 – Almoço de petiscos regionais: gaspacho, empadas de galinha, folhados de carne, queijos, enchidos variados, azeite, pão regional, azeitonas, compota, biscoitos tradicionais e fruta da época, acompanhado por vinhos José de Sousa.
14h30 – final do programa
Oferta de t-shirt e chapéu da vindima
Programa disponível de 2 a 16 pessoas.
Preço por pessoa: 62 euros (IVA incluído)
Preço crianças (4-8anos): 16,00 €
Jovens dos 9 aos 17 anos: 30,00 euros
Preço família (2 adultos + 2 jovens): 166,00 euros
* A atividade a desenvolver depende da data e da fase em que a vindima se encontrar.