Primeiro Livro dos Vinhos Ibéricos lançado em Novembro

O Livro dos Vinhos Ibéricos — Um Guia Completo de Espanha e Portugal, escrito pelos especialistas em vinhos Sara Peñas Lledó e Luis Antunes, está no mercado desde o início de Novembro. A publicação convida a uma viagem pelo mundo dos vinhos da Península Ibérica, explorando a história, diversidade e riqueza das regiões vitivinícolas de […]
O Livro dos Vinhos Ibéricos — Um Guia Completo de Espanha e Portugal, escrito pelos especialistas em vinhos Sara Peñas Lledó e Luis Antunes, está no mercado desde o início de Novembro.
A publicação convida a uma viagem pelo mundo dos vinhos da Península Ibérica, explorando a história, diversidade e riqueza das regiões vitivinícolas de Espanha e Portugal. Hoje sente-se, de parte a parte, um interesse crescente de um país pelo outro, com espanhóis e portugueses a descobrirem aspectos próximos na sua maneira de viver, e a apreciar e explorar as diferenças.
À mesa há sempre festa, onde não falta o vinho, característica comum aos dois povos. Mas em ambos os países, produtores antigos e importantes, com estatuto mundial, sempre foram consumidos sobretudo vinhos nacionais. No entanto, os apreciadores de hoje têm curiosidade e gostam de descobrir coisas novas, ir um pouco mais longe. Foi para os ajudar nisso que Sara Peñas Lledó e Luís Antunes criaram este livro, até porque não existia nada que abordasse a temática desta forma.
A obra posiciona-se, assim, como um recurso de referência para profissionais, aficionados e amantes do vinho, oferecendo um conhecimento profundo sobre a forma como o vinho une as culturas dos dois países vizinhos em volta da mesa.
O livro, que já está à venda na Amazon, é composto por dois volumes que abrangem o universo enológico ibérico em toda a sua dimensão. Ambos começam com uma introdução, seguida de um capítulo sobre a geografia e a história e outro sobre a organização administrativa, em termos das nomenclaturas protegidas de acordo com a legislação europeia.
O volume 1, dedicado a Espanha, percorre as regiões vitivinícolas do país, desde a verde Galiza e a bacia do Ebro até aos vinhedos quentes da Andaluzia. Os autores exploram a identidade vitivinícola de cada região, incluindo a dos célebres Cavas e dos vinhos fortificados, autênticos tesouros da tradição espanhola.
O volume 2 leva o leitor numa viagem por Portugal, explorando desde os frescos e singulares Vinhos Verdes do Norte até aos intensos e complexos vinhos do Douro e à riqueza pujante do Alentejo. Também são incluídos os espumantes portugueses, o famoso Vinho do Porto e o resto dos grandes fortificados de Portugal.
O livro apresenta uma classificação clara e acessível das regiões e convida o leitor a descobrir novos matizes e segredos de vinhos já conhecidos. Com O Livro dos Vinhos Ibéricos, Peñas e Antunes criaram uma obra essencial para os conhecedores aqueles que se estão a iniciar no mundo dos vinhos da Península Ibérica.
Editorial Novembro: O Douro, por quem o fez

Editorial da edição nrº 91 (Novembro 2024) A Grande Prova de tintos do Douro que publicamos nesta edição, levou-me a pesquisar os resultados das provas similares que esta equipa de provadores realiza com periodicidade anual desde há quase três décadas. O resultado foi um autêntico mergulho na história do Douro pela mão dos seus principais […]
Editorial da edição nrº 91 (Novembro 2024)
A Grande Prova de tintos do Douro que publicamos nesta edição, levou-me a pesquisar os resultados das provas similares que esta equipa de provadores realiza com periodicidade anual desde há quase três décadas. O resultado foi um autêntico mergulho na história do Douro pela mão dos seus principais protagonistas.
Os alicerces do Douro moderno começaram a ser construídos na vindima de 1990 através do tinto Duas Quintas, (o Reserva nasceu em 1991), seguido do Quinta da Gaivosa em 1992, Quinta do Crasto em 1994, Vale D. Maria em 1996, Quinta da Leda em 1997. Quando a estas se juntaram, em 1999, três outras marcas de topo – Batuta, Quinta do Vallado e Quinta do Vale Meão – o “Douro além do Porto” ficou lançado.
Comecei, precisamente, pela prova realizada em novembro de 1999. Naturalmente, as marcas nascidas nessa vindima estavam ainda fora da equação. Mas resulta curioso verificar que os tintos melhor classificados nesse embate espelham ainda um mix entre o Douro do “antes” e do “depois”: Barca Velha 1991 (quando o Barca Velha ainda se “atrevia” nestas provas comparativas), Confradeiro 1994 e Quinta do Côtto Grande Escolha 1995, de um lado; Vinha do Fojo 1996, Quinta da Gaivosa 1995 e Duas Quintas Reserva 1994, do outro. Interessante também constatar o tempo de estágio a que os melhores vinhos, mesmo os das marcas “novas”, eram submetidos antes de chegarem ao mercado. Progressivamente, esse ónus iria passar para o consumidor.
Nos vencedores de 2003 assistimos já ao surgir de uma constelação e ao esmorecer de algumas das estrelas antigas: Batuta 1999, Chryseia 2001, Quinta do Vale Meão 1999, Quinta da Leda 1999, Quinta do Vallado Reserva 1999, Duas Quintas Reserva 1999 e Quinta da Gaivosa 1999. Nas provas de 2004 e 2005 juntaram-se a estes, outros campeões: Lavradores de Feitoria Grande Escolha 2001, Quinta do Crasto Maria Teresa 2001, Pintas 2003, Poeira 2003, Quinta de la Rosa Reserva 2003.
Ao longo dos anos seguintes, diversas marcas se intrometeram no topo das classificações: Quinta das Tecedeiras, Quinta de Macedos, Quinta do Infantado, Ázeo, Quinta da Gricha, Passadouro, Quinta dos Frades Vinhas Velhas, Conceito, Kopke Vinhas Velhas, Quinta da Casa Amarela Grande Reserva, Maritávora Reserva, Quinta de S. José Reserva, CV, Quinta da Touriga-Chã, Quinta do Noval, Quinta do Monte Xisto, Carvalhas, Duorum Reserva, Xisto, Quinta da Manoella Vinhas Velhas. Algumas, nunca mais abandonaram os lugares cimeiros.
A prova de 2014 tinha um título sugestivo – “Rumo à elegância” – assinalando uma tendência que ainda hoje se mantém. O espaço limitado nesta página obriga-me, a contragosto, a saltar mais uns anos, para 2020, o ano do covid-19. Movidos pela conjuntura, estabelecemos um limite de preço (€30) à prova anual. As casas emblemáticas impuseram-se: Monte Meão Vinha dos Novos 2017, Vallado Reserva 2017, Pintas Character 2017 e Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2017. E termino esta breve viagem com as provas de 2022 e 2023, e com o advento dos vinhos de parcela, vários deles a inscrever o seu nome entre os vencedores: Vallado Vinha da Granja 2018, Quinta da Boavista Vinha do Oratório 2018, Quinta Nova Centenária 2019, Quinta Vale D. Maria Vinha do Rio 2020, Pala Pinta 2020 (dos irmãos Maçanita), Quinta da Romaneira Carrapata 2021, Quinta de São Luiz Vinha Rumilã 2018.
Esta é, muitíssimo resumida, a história do Douro moderno, região de vinhos grandiosos nascidos numa viticultura de montanha, de baixas produções e elevado custo. Apontar como solução para a crise fazer vinhos para destilar e aguardentar o Porto, e assim competir com regiões destiladoras que produzem 25 toneladas por hectare e fazem vinhos que para mais nada servem, não é apenas estúpido. É também um atestado de incompetência e um desrespeito pelo Douro e pelas suas gentes. (LL)
Beira Interior – Vinhos & Sabores de 15 a 17 de Novembro

A 9ª edição do Beira Interior – Vinhos & Sabores, evento organizado pelo Município de Pinhel em parceria com a Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), vai decorrer no próximo fim de semana, entre 15 e 17 de Novembro. A par do Salão de Vinhos e Sabores, que decorre no Centro Logístico de Pinhel, […]
A 9ª edição do Beira Interior – Vinhos & Sabores, evento organizado pelo Município de Pinhel em parceria com a Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), vai decorrer no próximo fim de semana, entre 15 e 17 de Novembro.
A par do Salão de Vinhos e Sabores, que decorre no Centro Logístico de Pinhel, com a participação de cerca de 50 produtores, haverá ainda provas comentadas de vinhos, degustações de produtos regionais, showcookings, um seminário dedicado ao tema da Internacionalização, uma área de restauração com várias propostas e, ao longo dos três dias, animação musical a condizer com o ambiente pretendido para este evento.
As provas comentadas serão conduzidas por Luís Lopes, Diretor da Revista Vinho – Grandes Escolhas, o enólogo Tiago Macena e o escanção Paulo Vale. Os showcookings serão dinamizados por chefes de cozinha da região, que vão usar produtos regionais para partilhar os seus saberes e sabores com os visitantes. A participação nas provas e showcookings é gratuita, mas é preciso fazer a inscrição no secretariado do certame.
Destaque ainda para Concurso de Vinhos “Escolha da Imprensa”, que irá decorrer no dia 15, e para a Maratona BTT – Pinhel Cidade Falcão, iniciativa do Município de Pinhel agendada para domingo, dia 17 de Novembro. Conheça o programa completo AQUI.
Rota dos Vinhos do Alentejo celebra vinho de talha

A Rota dos Vinhos do Alentejo está a celebrar o vinho de talha, com uma iniciativa que pretende dar a conhecer ao público a suas características, o método de produção e a tradição milenar que lhe deu origem. Nesse sentido, já estão a decorrer, em Novembro, e irão prolongar-se por Dezembro, provas realizadas na Rota […]
A Rota dos Vinhos do Alentejo está a celebrar o vinho de talha, com uma iniciativa que pretende dar a conhecer ao público a suas características, o método de produção e a tradição milenar que lhe deu origem. Nesse sentido, já estão a decorrer, em Novembro, e irão prolongar-se por Dezembro, provas realizadas na Rota que incluem, em exclusivo, vinhos produzidos através do método ancestral de fermentação em talhas de barro. O processo confere-lhes sabores e aromas distintos, que são hoje ligados ao Alentejo e ao seu terroir.
A iniciativa tem a participação de produtores como a Adega Cananó, Adega Cartuxa, Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito, Adega das Flores, Adega de Borba, Adega Marel, Abegoaria Wines, Espaço Rural, Esporão, Gerações da Talha, Herdade dos Outeiros Altos, Hillvalley Limited, PL Wines e Talha de Frades.
A vinificação em talha foi introduzida há mais de dois mil anos no Alentejo pelas mãos dos romanos, mantendo-se até hoje. É um dos símbolos da cultura e tradições da região.
QUANTA TERRA VOLTA A SER DESTINO TURÍSTICO DE VINHO A NÃO PERDER EM 2025

Verona, em Itália, aplaudiu a atribuição do prémio “Best of Wine Tourism 2025” ao espaço Quanta Terra, dos enólogos Celso Pereira e Jorge Alves, situada na região do Douro Vinhateiro, que, pela segunda vez (a primeira foi 2023), voltou a ser reconhecida pelo seu potencial na categoria de “Arte e Cultura”, entre mais de 640 […]
Verona, em Itália, aplaudiu a atribuição do prémio “Best of Wine Tourism 2025” ao espaço Quanta Terra, dos enólogos Celso Pereira e Jorge Alves, situada na região do Douro Vinhateiro, que, pela segunda vez (a primeira foi 2023), voltou a ser reconhecida pelo seu potencial na categoria de “Arte e Cultura”, entre mais de 640 candidaturas. “Esta distinção, atribuída por especialistas internacionais, enaltece, naturalmente, o impacto da nossa marca no desenvolvimento do enoturismo e da região. Se, por um lado, nos envaidece, por outro também aumenta o nosso sentido de responsabilidade e a vontade incessante de continuar a fazer mais, e cada vez melhor”, destacam os fundadores, que em 2022, com uma exposição de Joana Vasconcelos e a presença da artista, inauguraram o Espaço Quanta Terra, “num formato fora da caixa”, que mistura a arte com as barricas, onde estagiam os vinhos e as antigas cubas de armazenamento de aguardente.
A marca que celebra 25 anos este ano, tem feito deste local, um projecto de recuperação da antiga destilaria da Casa do Douro assinado pelo arquitecto Carlos Santelmo, um espaço de arte e cultura, em comunhão com os vinhos Quanta Terra. Este ano a Quanta Terra surpreendeu com a inauguração de uma exposição com curadoria da plataforma cultural Underdogs, que inclui uma conceituada obra de Vhils.
A mostra pode ser visitada no espaço da marca, em Alijó, de quarta-feira a domingo, entre as 10h00 e as 17h30, até ao próximo dia 15 de Dezembro. A visita inclui uma prova de vinhos.
Importa referir que os prémios “Best of Wine Tourism” são promovidos pela plataforma Great Wine Capitals em onze das mais prestigiadas regiões vitivinícolas do mundo. Portugal é representado pelo Porto, com candidatos de um cluster das regiões Douro/Porto e Vinhos Verdes.
A categoria arte e cultura deste galardão distingue as adegas enquanto espaços culturais e artísticos de relevo, na forma de exposições temporárias ou permanentes, coleções de arte, museus ou eventos específicos.
Rosés heróicos do Douro

“Era uma vez uma improvável e quase casuística história de sucesso”. Bem que podia iniciar-se assim a história que levou a Provença francesa a tornar-se, nas duas últimas décadas, a região produtora dos rosés que todos admiram e tantos pretendem imitar o sucesso. Um mimetismo tão massivo, que são os próprios produtores da região a […]
“Era uma vez uma improvável e quase casuística história de sucesso”. Bem que podia iniciar-se assim a história que levou a Provença francesa a tornar-se, nas duas últimas décadas, a região produtora dos rosés que todos admiram e tantos pretendem imitar o sucesso. Um mimetismo tão massivo, que são os próprios produtores da região a recear que a inovação tecnológica permita a um mundo cada vez mais global produzir, em qualquer território vínico, rosés de cor rosa suave, secos, com nuances de fruta vermelha madura e afeiçoados a uma pungente mineralidade, tornando-se vítimas do seu próprio sucesso.
Historicamente, os rosés são produzidos desde a antiguidade. No século VI A.C., por iniciativa dos fenícios, foram trazidas as uvas para Massalia, actual Marselha, tornando-se os vinhos de cor rosada pálida uma escolha por toda a bacia do Mediterrâneo. A Provença, como primeira província do Império Romano, era o espelho de uma policultura fértil em quintas nas proximidades dos rios e do mar, para facilitar o transporte e comercialização, e onde a vinha tinha já uma importância fundamental.
A cultura da vinha manteve-se até aos dias de hoje, conhecendo épocas bem-sucedidas, sobretudo a partir do nascimento do conceito de turismo, já no século XIX, impulsionado pelo Grand Tour. No início dos anos 80 do século passado, os rosés provençais eram elaborados maioritariamente a partir das castas Grenache, Cinsault e Carignan, com adição de uma parte, usualmente 10%, de Cabernet Sauvignon, que dava origem a vinhos de um vermelho translúcido, secos, ligeiramente terrosos, herbáceos, suculentos e com acidez acentuada. Em 1985, dá-se a inusitada revolução rosa.
Um acaso de sucesso
Régine Summeire, do Château La Tour de l`Éveque e Château Barbeyrolles, ambas da Côte de Provence, visita, em 1985, o seu amigo Jean-Bernard Delmas, do Château Haut Brion, em Pessac, nas cercanias de Bordéus. Na adega, viu que Delmas usava uma velha prensa hidráulica para esmagar suavemente os cachos inteiros de uvas brancas, aconselhando-o este a usar o mesmo processo. Regressado à Provence, Summeire fez a experiência com as primeiras uvas de Grenache e o resultado foi um mosto mais fresco, com elevada acidez, muito menos carácter vegetal e uma cor rosa pálido. Após esta casuística descoberta e vencido o controlo das temperaturas de fermentação, um mundo abria-se, inicialmente tímido, aos rosés delicados, então denominados pétale de rose.
O resto da história é de todos conhecida, e é o sucesso deste conceito, que gera receitas de centenas de milhões de euros em vendas, que nos traz à questão de um milhão de dólares: pode o Douro tornar-se uma relevante região produtora de rosés, competindo em notoriedade com outras grandes regiões do mundo?
E se a resposta à derradeira pergunta é positiva, muitos de nós irão fazer muitas outras perguntas, designadamente sobre o caminho a trilhar para alcançar o êxito global. Os primeiros passos serão necessariamente a partir da identidade duriense.
De portas abertas aos rosés
A resposta começou a ser desenhada há três anos, numa iniciativa desenhada num pequeno município duriense, Mesão Frio, que teve o arrojo de querer ser o centro do debate dos vinhos rosados da região do Douro, criando o evento “Douro em Tons de Rosé”, o qual trouxe para a mesa produtores, enólogos, jornalistas, opinion makers, bloggers e a mais reputada especialista mundial de rosés, Elizabeth Gabay, a Master of Wine britânica, ela própria residente na Provença.
Na mais recente edição deste evento, entre outras matérias, discutiu-se a viticultura tradicional na mais imponente região vitivinícola de montanha do Mundo, com mais de 40 mil hectares, e os seus benefícios para apurar a qualidade da matéria-prima para vinhos rosados, valorizando-se a singularidade humana num território onde a mecanização é uma miragem. Rui Soares, produtor e responsável de viticultura da Real Companhia Velha, alertou para a necessidade de protecção de um património único, de vinhas em patamares que selam indelevelmente a imagem de marca da região, constituindo, a par das vinhas velhas onde pontificam, tantas vezes, mais de 50 castas autóctones durienses, uma imagem que ajuda na projecção dos vinhos rosados como uma das maiores riquezas da identidade do Douro.
Para além da abordagem do terroir, características de viticultura duriense e prova de mais de três dezenas de rosés, houve lugar a uma palestra conduzida por Paulo Russel Pinto, wine educator e responsável de marketing e promoção do IVDP, cuja temática era, até há muito pouco tempo, uma matéria desconhecida e inusitada, o envelhecimento de rosés.
Para a afirmação dos rosés do Douro, há um facto incontornável: a paisagem duriense é de uma beleza inigualável
O lugar ao sol do Douro
Do mais verdejante e fresco Baixo Corgo, até ao inóspito e vasto Alto Douro, há uma imensidão de perspectivas a considerar para produzir, não apenas rosés leves, frescos e frutados, mas igualmente vinhos de elevada complexidade e capacidade de guarda. Para lhes dar um cunho de identidade regional, escolhem-se algumas das castas que melhor identificam o Douro, com a Touriga Nacional ainda a colher a primazia, seguida da Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinta Francisca e o cada vez mais entusiasmante Tinto Cão. Não perdendo a noção de contemporaneidade e universalidade, surgem também exemplos de grandes rosés elaborados a partir da Pinot Noir ou mesmo Cabernet Sauvignon, sobretudo nas cotas mais altas do Alto Douro vinhateiro. Não esquecendo o valor inimitável e não replicável das vinhas velhas, algumas centenárias, também aptas a criar, se assim se entender, rosés únicos desenhados para mercados super premium, habituados a pagar a exclusividade.
Os perfis podem e devem ser marcadamente varietais e, sobretudo, absorver as características do terroir, preocupação a não descurar no momento da sua vinificação. As tendências emergentes não descuram as práticas orgânicas e sustentáveis na produção de rosés, matéria que, actualmente, fará necessariamente parte da estratégia de comunicação dos vinhos direcionados para um consumidor com forte consciência ambiental. Estas práticas não apenas se tornam mais protetoras do ambiente, mas valorizam a qualidade do vinho. A agricultura de base orgânica que elimina o uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos, protege não apenas os solos, mas todo o ecossistema circundante às vinhas, criando uma vida mais saudável. É hoje uma tendência em franco crescimento. Associados a estas práticas incluem-se a redução do uso dos recursos hídricos, o recurso a fontes de energia renováveis, reciclagem e diminuição do desperdício. Formas de encarar a produção de vinho que, comunicadas a um consumidor moderno, aumentam as vendas pela associação ao estar a cuidar do ambiente.
Para uma afirmação dos rosés do Douro há um facto incontornável, que será fundamental na forma como o transmitiremos ao Mundo: a paisagem duriense é de uma beleza inigualável e, dentro dela, nascem unidades de enoturismo que valorizam a região, oferecendo comodidades cheias de glamour, piscinas panorâmicas sobre o rio, gastronomia autêntica polvilhada de contemporaneidade, estradas que serpenteiam as margens e, claro, uma história antiquíssima, associada à mais antiga região demarcada do Mundo, profundamente rica em tradição e elegância clássica.
Mais que um vinho consumido no Verão, o rosé tornou-se parte da vida quotidiana e da cultura iminentemente visual e cénica. Hoje é símbolo de sofisticação e modernidade. O social media tomou conta dos rosés, sendo factor preponderante na sua ascensão e exponencial aumento do seu consumo. Actualmente, no Instagram, o rosé surge não apenas como um vinho, tornando-se um elemento identificador de um modo de vida. As marcas mais reputadas e aquela rede social impulsionaram as vendas e o seu consumo. Esta categoria que, ainda não há muitos anos, era considerada inferior, surge hoje no topo das preferências dos consumidores, sendo olhada, cada vez mais, como um produto vínico exclusivo e exigente, com potencial de envelhecimento.
Hoje, segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), e pela primeira vez, o somatório do consumo de vinhos brancos e rosés representa mais de metade do consumo de vinhos no mundo, retirando a supremacia aos vinhos tintos, até agora hegemónicos. Julgando pela qualidade da amostra de vinhos rosados durienses provados, diremos que o Douro terá, para si, guardada uma parte relevante de afirmação neste mundo cada vez mais cor-de-rosa.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
Os vinhos apresentados não estão por ordem de pontuação
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Já estão disponíveis AQUI os resultados do Concurso Escolha da Imprensa 2024. Conheça os Grandes Prémios e os Premiados desta edição que contou com perto de 500 vinhos a concurso nas categorias de Espumantes, Brancos, Rosés, Tintos e Fortificados. Concurso a escolha da imprensa 2024 – Grandes Escolhas
Já estão disponíveis AQUI os resultados do Concurso Escolha da Imprensa 2024.
Conheça os Grandes Prémios e os Premiados desta edição que contou com perto de 500 vinhos a concurso nas categorias de Espumantes, Brancos, Rosés, Tintos e Fortificados.
Concurso a escolha da imprensa 2024 – Grandes Escolhas
Quinta de Ventozelo, 10 anos depois

Existe desde 1500, data em que se verificam os primeiros registos da quinta como fazendo parte do património do mosteiro de São Pedro das Águias. Desde aí, a propriedade passou por várias épocas, umas prósperas, outras desafortunadas, mudando os proprietários e modelos de gestão, até que, em 2014, foi adquirida pela Gran Cruz (agora Granvinhos), […]
Existe desde 1500, data em que se verificam os primeiros registos da quinta como fazendo parte do património do mosteiro de São Pedro das Águias. Desde aí, a propriedade passou por várias épocas, umas prósperas, outras desafortunadas, mudando os proprietários e modelos de gestão, até que, em 2014, foi adquirida pela Gran Cruz (agora Granvinhos), empresa do grupo francês La Martiniquaise. Esta aquisição foi estratégica, permitindo um grande investimento na propriedade para explorar todo o seu potencial. Por outro lado, esta que é uma das maiores empresas nacionais de produção do Vinho do Porto (cerca de 30 milhões de litros segundo o seu director de enologia, José Manuel Sousa Soares) obteve condições para produzir vinhos Douro DOC de alta qualidade. Dos 15 milhões de euros investidos, 75% foram destinados ao turismo e 25% ao ambiente.
Tudo o que se faz na Quinta de Ventozelo faz-se com amor. E não apenas no sentido do bom gosto, mas também da responsabilidade ambiental. A sustentabilidade na quinta é transversal. Não se limita à produção de vinho, pois abrange toda a intervenção feita na Quinta, onde se pretende proteger e enriquecer os recursos naturais e a biodiversidade.
Todas as parcelas com vinha têm um coberto vegetal constituído pela flora autóctone espontânea ou resultante da sementeira de mistura de gramíneas e leguminosas. Esta técnica tem efeitos benéficos na protecção contra a erosão hídrica, principalmente em vinhas ao alto, na formação e estabilidade da estrutura do solo, no aumento da porosidade e na conservação da água durante o verão, sendo ainda abrigo da biodiversidade e de auxiliares no combate a pragas e doenças. As leguminosas ainda ajudam a fixar o azoto no solo.
Com a redução de utilização de agroquímicos em mais de 30%, criou-se espaço para crescerem espécies autóctones e restauraram-se habitats naturais nas galerias ripícolas. Na Quinta já foram identificadas um total de 224 espécies de plantas, sendo mais de 20% caracterizadas como RELAPE (Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou Protegidas) e 185 espécies de animais, parte delas também ameaçadas ou consideradas criticamente em perigo.
Enoturismo de referência
Enquanto projecto de enoturismo, Ventozelo Hotel & Quinta oferece o conforto de um hotel num ambiente rural de uma quinta do Douro.
O restaurante da quinta chama-se Cantina de Ventozelo, por ter sido uma cantina para os trabalhadores em tempos idos. Um amplo terraço oferece uma sombra compacta, que permite relaxar enquanto se observa a vista deslumbrante sobre as vinhas. A ementa, construída pelo Chef José Guedes, tem por base os produtos cultivados nas hortas da quinta, alguma caça e funciona num conceito “quilómetro zero”, o que significa trabalhar com fornecedores de proximidade, dando preferência a produtos regionais.
O Centro Interpretativo, aberto ao público já há alguns anos, é uma espécie de museu vivo e interactivo, que oferece uma espectacular experiência sensorial (incluindo efeitos visuais, sons e aromas) na descoberta de Ventozelo e da sua história.
As vinhas
A vinha ocupa metade da área da quinta. Dos 200 ha cerca de 40 ha foram reabilitados recentemente. Andar de jipe pelos trilhos da Quinta de Ventozelo, com mais ou menos emoção em função do percurso escolhido, é uma actividade tão hedonística como intelectual. Enquanto se desfruta a beleza paisagística das vinhas, testemunham-se as suas variadíssimas condições, moldadas pelas altitudes que vão desde o rio (a 100 metros) até aos 500 metros; pelos solos com diferentes níveis de evolução, textura e capacidade de retenção de água e nutrientes; e pelas exposições, que se apercebem melhor sobretudo ao aproximar-se o pôr-do-sol, quando algumas vinhas já se encontram ensombradas e outras ainda iluminadas pelo astro rei.
Pelo caminho, o director geral da Granvinhos, Jorge Dias conta as aventuras com as pragas dos javalis que, sobretudo nos anos quentes, vão à vinha à procura de água, mordem e estragam os cabos de rega gota-a-gota e servem-se à vontade de uvas. O problema resolve-se com 1000 euros por mês, através da colocação de comedores com milho em três lugares estratégicos para desincentivar os animais de irem às vinhas.
10 anos numa prova
A melhor forma de comemorar os primeiros 10 anos é ver o tempo a passar pelos vinhos numa prova vertical, desde 2014. Das 28 referências de vinhos produzidos na Quinta de Ventozelo, foram escolhidas duas – o branco monovarietal de Viosinho e o tinto Essência.
A casta mais emblemática da Quinta de Ventozelo é o Viosinho, sem dúvida. É a casta do Douro “com maior volume de boca” e bem expressiva; “aguenta o escaldão e tem uma janela de oportunidade na vindima bastante grande”. “As notas tropicais que surgem nos vinhos novos, desaparecem ao fim de dois anos em garrafa”. 10 vinhos numa prova vertical mostram bem a história, a aprendizagem e a variação anual.
O 2014 (em magnum) apresenta notas apetroladas e amendoadas, ervas aromáticas, fruta contida e algo terroso também. Muito bom no volume, acidez não impositiva, que dá frescura suficiente. Termina com notas citrinas e leve amargo (17,5). O 2015 (em magnum) mostra-se mais tropical no nariz marcado pelo aroma de ananás e manga, não tão fino e ligeiramente mais amargo no final (17). O 2016 revela fruta mais evoluída e menos finesse em expressão de nariz e de boca (16). O 2017 está em grande forma com aroma muito apelativo, vivo e complexo a revelar lima, laranja e kumquat, ervas aromáticas e nuances apetroladas também; grande volume de boca, expressão e prolongamento (17,5). O 2018 parece mais novo, tem uma nuance floral a lembrar madressilva e fruta delicada; quase crocante, cristalino e delicado, textura e corpo muito equilibrado com frescura persistente (17). O 2019 é exuberante, tropical, com ananás, manga e laranja, muito jovem ainda, de corpo amplo e muita vida (16,5). O 2020 é intenso, com alguma expressão tropical, aipo, manga, pêra, estragão e uma nota floral, com bastante corpo e acidez bem inserida, termina com leve nota amarga (17). O 2021 é jovem e exuberante com notas de tília, tisanas, funcho, vertente tropical, muito ananás (16,5). 2022 parece mais tímido no nariz, talvez por contraste com o super terpénico 2021, com fruta branca a lembrar pêra (16,5).
Essência no topo
Essência é o topo de gama tinto da Quinta de Ventozelo – a melhor expressão da quinta, que varia conforme a quantidade e proporção de Touriga Franca e Touriga Nacional, as duas castas responsáveis pelo lote. É produzido em anos que a uva entrega a qualidade pretendida. Por exemplo, em 2021 e 2022 optaram por não o fazer. A vinificação ocorre em lagar. Depois vai para as barricas de 500 litros de carvalho francês, novas e usadas, onde passa 18 meses. Por ser o vinho mais importante, ainda estagia bastante tempo em garrafa antes de ser lançado para o mercado. É por isto que os três vinhos mais recentes da prova vertical não se encontram ainda em comercialização, permanecendo em cave, onde evoluem potencializando as suas qualidades.
O 2019 (amostra da cave) tem nariz muito apelativo com um floral de violetas, cereja preta e ameixa madura, louro. Tem ainda muito da juventude, mas a complexidade está presente com promessa de ainda maior afinação com o tempo. Mastigável, tanino maduro e textura aveludada, macio na boca, com bom volume, mas não pesado. O tanino fica mais evidente no final, mas não tem secura. É suculento. Termina com especiaria doce (18). O 2018 (amostra da cave) tem menos corpo e mais frescura, menos exuberante na fruta, com cereja contida e tanino suculento (18). O 2017 (amostra da cave) revela nariz elegante com fruta vermelha, pimenta preta, louro e tomilho, ligeiramente terroso. Menos corpo, mais seco no fim, tanino bem firme e menos suculento, boa acidez e bonitos nuances de framboesa (17,5). O 2016 está ligeiramente fechado e terroso, a lembrar terra húmida, em combinação com louro, caruma e nuances de bergamota. Agradece arejamento, mais austero na boca, denso, compacto e especiado, com tanino ainda bem presente (17,5). O 2015 mostra-se lindamente no nariz, complexo, com muita fruta ainda a lembrar cereja preta e amora para além das notas de couro, caruma, especiaria e violetas. Óptima performance em boca, longo, suculento com tanino maduro e polido pelo tempo, austero q.b. e envolvente ao mesmo tempo (18,5). O 2014 nariz com notas de esteva, alcaçuz, resinas, eucalipto e reminiscência de fruta. Maior percepção de acidez transmite maior grau de frescura ao conjunto (17,5).
Ao jantar provámos outra bela amostra de cave, que será uma estreia absoluta em Setembro – o Quinta de Ventozelo Essência branco 2019, feito de Viosinho e Malvasia Fina. Que vinho! Fino e cativante, elegante com fruta branca séria e lindas notas citrinas, tudo bem proporcionado. Fantástico na prova de boca, com barrica certa, filigrano, com frescura natural, um vinho cheio de finesse, que mostra já uma super afinação (18,5). Segundo Jorge Dias, a Quinta de Ventozelo foi uma aventura de 10 anos e o projecto que deu um enorme gozo de fazer. “Que venham mais 10!” – resumiu com regozijo e confiança.
(Artigo publicado na edição de Setembro 2024)