Vinhos & Sabores 2024: Conheça as provas especiais desta edição

Já é conhecida a lista de PROVAS ESPECIAIS COMENTADAS a decorrer durante o VINHOS & SABORES  (19 a 21 de Outubro, na FIL, em Lisboa). As Provas Especiais são um momento único dentro do Grandes Escolhas | Vinhos & Sabores. Autênticas Masterclasses concebidas para consumidores que querem aprofundar os seus conhecimentos ou viver uma experiência memorável de provar […]

Já é conhecida a lista de PROVAS ESPECIAIS COMENTADAS a decorrer durante o VINHOS & SABORES  (19 a 21 de Outubro, na FIL, em Lisboa).

As Provas Especiais são um momento único dentro do Grandes Escolhas | Vinhos & Sabores. Autênticas Masterclasses concebidas para consumidores que querem aprofundar os seus conhecimentos ou viver uma experiência memorável de provar vinhos raros, a maior parte deles não acessíveis no mercado, comentados pelos seus criadores.

Serão 11 as Provas Especiais que vão decorrer ao longo dos dias da feira. Este ano teremos uma prova patrocinada pela CVR dos Vinhos Verdes (CVRVV) “Vinhos verdes com ambição”, por um valor simbólico de 1€, e ainda na compra de lugar para a prova “Enjoy the moment – Onde os vinhos e perfumes põem à prova os seus sentidos”a oferta de 2 copos Schott Zwiesel The Moment 140 – Pinot Noir

 

Lista das Provas e bilhetes já disponíveis AQUIOs lugares são muito limitados! Assegure já o seu.

The Fladgate Partnership: A alvorada de uma nova era

The Fladgate Partnership

Em 1667, Colbert, primeiro ministro do rei francês Luís XIV, desenvolveu uma série de medidas para restringir a importação de produtos ingleses para França. Como resposta, Carlos II de Inglaterra proibiu a de produtos franceses para o seu país, obrigando o comércio de vinho inglês a procurar fontes alternativas de abastecimento. Este foi o contexto […]

Em 1667, Colbert, primeiro ministro do rei francês Luís XIV, desenvolveu uma série de medidas para restringir a importação de produtos ingleses para França. Como resposta, Carlos II de Inglaterra proibiu a de produtos franceses para o seu país, obrigando o comércio de vinho inglês a procurar fontes alternativas de abastecimento.
Este foi o contexto que levou, em 1692, Job Bearsley a fundar a Taylor’s e a estabelecer-se em Portugal com o objetivo de comercializar vinhos para as ilhas britânicas. Começou por fazê-lo com a expedição de carregamentos em navios a partir do porto de Viana do Castelo. O vinho era então produzido em torno das povoações de Monção e de Melgaço. No entanto, o palato britânico não se afeiçoou aos vinhos tintos parduscos produzidos na altura, o que levou à busca de novos territórios para satisfazer a procura. Desta forma, Peter Bearsley, filho de Job Bearsley, começou a olhar para o interior de Portugal em busca de vinhos mais robustos e encorpados, provenientes das encostas íngremes e rochosas do Vale do Douro. Como a longa distância e o terreno montanhoso entre o vale do Douro e Viana do Castelo implicavam o envolvimento de muitos recursos, que muitas vezes redundavam em insucesso, os vinhos começaram a ser transportados de barco pelo rio Douro até à cidade do Porto. Daí, outras embarcações levavam-nos para Inglaterra.

A Grande Depressão
Para obter algumas vantagens negociais e ampliar relacionamentos, Bartholomew Bearsley foi o primeiro exportador britânico a adquirir uma propriedade no Douro, perto da cidade da Régua. Este facto é ainda hoje relembrado no vinho do Porto Taylor’s First Estate Reserve.
Até 1929, o mercado britânico concentrou cerca de 66% das vendas de vinho do Porto. No entanto, o período entre a Grande Depressão e ao final da II Guerra Mundial marcou uma época devastadora para o sector, que provocou o colapso quase total do comércio do vinho do Porto. Para contrariar esta tendência, as empresas procuraram aumentar o número de mercados e diversificar a oferta. Assim, a Taylor’s lançou, em 1934, o Chip Dry, um novo estilo de vinho do Porto branco de aperitivo.
A década de 60 marca a recuperação do setor. Curiosamente, o mercado britânico não voltaria a assumir a primazia das exportações, devido a alterações nos padrões de vida e hábitos de consumo dos seus cidadãos. E foi assim que o mercado europeu, em especial o francês, emergiu como um dos principais importadores de vinho do Porto.
O novo milénio trouxe novos desafios. O volume de vendas começou a decair novamente e assistiu-se a uma concentração dos grupos económicos e a uma nova vaga de diversificação dos produtos vínicos e do seu universo.
Uma das mais entusiasmantes mudanças foi a criação da nova tendência conhecida por super tawnies. No outono de 2010, a Fladgate lançou no mercado uma edição muito limitada de um porto tawny datado de 1855, sob o nome Scion. Estava criada uma nova era no mercado dos vinhos do Porto.
Nesse mesmo ano foi inaugurada, em Vila Nova de Gaia, na zona dos armazéns de envelhecimento de vinho Porto, uma nova estrutura, o Yeatman Hotel, que representa uma inovadora fusão entre o acolhimento de luxo e cultura vínica para todos os amantes e curiosos do vinho.
Em 2020, o grupo inaugurou um projeto turístico de carácter holístico que representou um investimento de cerca de 105 milhões de euros. O World of Wine congrega um conjunto de museus, lojas, restaurantes, uma escola do vinho e uma galeria de exposições temporárias. E foi chegada, então, a hora de diversificar mais um pouco.

Uma nova era
O dia 21 de junho foi escolhido, pela The Fladgate Partnership, para apresentar uma nova era e uma nova divisão da empresa, a Fladgate Still & Sparkling Wines. Criada em 2023 após a compra da Ideal Drinks, que detinha propriedades nas regiões dos Vinhos Verdes, Dão e Bairrada, representa a entrada da empresa na produção de vinhos tranquilos após mais de 300 anos. Tal como referiu Adrian Bridge, o seu presidente, “houve sempre a expectativa que entrássemos nos vinhos de mesa no Douro, mas sempre dissemos que precisávamos das uvas das nossas quintas para acompanhar o crescimento das vendas das categorias especiais de vinho do Porto… E, entretanto, surgiu esta proposta para a compra da Ideal Drinks, que aceitámos”.
O projeto integra, na região da Bairrada, duas propriedades, a Quinta Colinas São Lourenço e a Quinta da Curia, com um total de 61 hectares. Na Região dos Vinhos Verdes inclui três propriedades, a Quinta da Pedra, a Quinta dos Milagres e o Paço de Palmeira, num total de 54 hectares. No Dão pontifica a Quinta da Bella, uma propriedade de 23 hectares.
O diretor da nova divisão, Raúl Riba D’Ave, explicou que “toda a gama de vinhos foi alvo de um reajuste nos preços e no número de referências disponíveis. O melhor exemplo disso mesmo é a marca Colinas que será apenas direcionada para a produção de espumantes”.
Para Adrian Bridge, “a internacionalização destas marcas é o grande desafio, mas o grupo acredita que, já este ano, a Fladgate Still & Sparkling Wines terá 30% das suas vendas nos mercados internacionais”.
A nova divisão da Fladgate Partnership marca o início de uma nova era na longa história da empresa, que se funde com a do vinho do Porto. Mas, acima de tudo, revela a plasticidade e capacidade de adaptação de uma companhia a um negócio cheio de vicissitudes, meandros e oportunidades, tal como o rio Douro.

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

Barbeito: O mundo de Ricardo Diogo

Barbeito Madeira

Pedi para o Ricardo repetir a resposta e ele persistiu: “sim, são mesmo onze novos vinhos”! Ricardo é Ricardo Diogo Vasconcelos de Freitas, líder da empresa Vinhos Barbeiro, fundada pelo seu avô há quase 80 anos, e onze são as novidades vínicas acabadas de lançar neste ano. Se para o universo de Vinhos da Madeira […]

Pedi para o Ricardo repetir a resposta e ele persistiu: “sim, são mesmo onze novos vinhos”! Ricardo é Ricardo Diogo Vasconcelos de Freitas, líder da empresa Vinhos Barbeiro, fundada pelo seu avô há quase 80 anos, e onze são as novidades vínicas acabadas de lançar neste ano. Se para o universo de Vinhos da Madeira lançar onze vinhos novos num único ano é já um feito para qualquer empresa, para a Barbeito, que se especializou, quanto aos seus topos de gama, em vinhos de verdadeiro nicho, é um feito ainda maior! Por isso não hesitei e fiz-me a caminho que, no caso, significa voar até à ilha da Madeira…
Por motivos diversos, sou um daqueles continentais que já foi há Madeira bem mais do que uma dezena de vezes. Isso, longe de me trazer alguma vantagem na prova dos seus magníficos vinhos, faz-me, isso sim, escrever sobre ilha de forma saudosa. Com efeito, e apesar da expansão imobiliária um pouco por todo o seu território (sobretudo em redor da cidade do Funchal, crescentemente mais metropolitana), aterro sempre na Madeira com a saudade reconfortante do seu clima ameno e da abundante vegetação. A propósito do clima, e uma vez que na Madeira as amplitudes térmicas são baixas durante todo o ciclo vegetativo, deve-se sobretudo aos solos de origem basáltica com pH baixo a produção de vinhos com elevada acidez e longevidade. Algumas castas, como o Sercial, ajudam nesse perfil também, o mesmo se dizendo quanto ao baixo álcool com que se vindima na ilha, muitas vezes abaixo dos 10%.

Barbeito Madeira

Não há outro lugar no país com paisagens tão repletas de inclinações dramáticas preenchidas por plantações verdejantes, ora de vinha, ora de banana, ora até, cada vez mais parece-me, de cana de açúcar. Pouca gente o sabe, e tenho sempre dificuldade em convencer os meus amigos continentais desse facto, mas a verdade é que, na Madeira, não há dia em que não se veja uma, ou muitas, manchas de vinhas no horizonte. Estão (quase) por toda a parte, ainda que associadas discretamente na paisagem verde da flora copiosa, apenas interrompida por estradas (invariavelmente a subir e a descer) ou aldeias mais ou menos isoladas. E basta olhar para essas vinhas, para concluir que os sistemas de condução mais utilizados são a latada ou pérgola, e a espaldeira. O cultivo da vinha é, efetivamente, muito disperso na Madeira, com as várias geografias locais a contribuírem para diferentes terroirs. É disso bom exemplo o facto de ouvirmos, todos os dias, que na costa sul ou norte, em redor desta ou daquela aldeia ou fajã ou praia, é melhor uma ou outra casta, uma ou outra exposição, etc. Mas o facto de a vinha se encontrar dispersa e presente em quase toda a ilha não significa que a área agrícola total seja significativa, bem pelo contrário, sendo que a pressão imobiliária e turística piora a situação. Falamos sempre de parcelas de pequena dimensão, quase sempre em “poios”, que são socalcos construídos de forma a contrariar o declive acentuado das encostas e a permitir a sua utilização agrícola. Naturalmente, a orografia montanhosa do território resulta na quase impossibilidade de recurso à mecanização, pelo que a maioria das práticas agrícolas (vindimas, podas, intervenções em verde) são efetuadas ainda manualmente.

Talvez por isso, a vinha tem uma implementação claramente familiar, com muitas famílias a produzir uvas, entre outros frutos. Também encontramos muitas adegas familiares e até pequenos armazéns de estágio de vinhos junto a casas particulares, geralmente cobertos por telhados de zinco e com as pipas, encimadas umas nas outras, suportadas na base por pedra de canteiro (daí o nome Canteiro que se atribui ao método mais nobre de evolução dos Vinhos da Madeira, sendo o método da estufagem para vinhos mais novos). A empresa Barbeito, a que nos dedicamos neste texto, utiliza alguns destes armazéns familiares para envelhecer os seus cascos (quase sempre barricas entre os 200 e os 500 litros), em diferentes localizações e altitudes na ilha.

Um percurso impressionante

A Madeira dispõe atualmente de menos de uma dúzia de produtores (já foram mais de 30 em meados do século passado), que processam cerca de 90% da uva da ilha, sendo o restante para consumo local. Em quase todos os casos, as casas produtoras compram uva, não sendo, até há bem pouco tempo, comum que uma casa de Vinho da Madeira fosse proprietária de vinhedos próprios com significativa dimensão. Nos últimos anos, parte destes produtores, inclusivamente alguns clássicos, foram sendo adquiridos por empresas maiores, em muitos casos estrangeiras e até multinacionais, o que espelha o prestígio do Vinho da Madeira, ainda que o seu consumo se tenha alterado de mais generalizado para mais ocasional, à semelhança de todos os generosos. Grande parte do Vinho da Madeira é ainda exportado, cerca de 80%, sendo os principais mercados europeus a França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Suíça, e fora da Europa os EUA e o Japão (não por acaso, o capital social da Barbeito tem uma participação há várias décadas de um conglomerado japonês). O vinho não exportado é quase todo consumido na região, grande parte pelos muitos turistas que anualmente visitam a ilha.

Nesse lote de produtores clássicos, a Barbeito tem um lugar muito especial. Com efeito, a trajetória da empresa Barbeito nos últimos 20 anos tem sido impressionante, não só ao nível da qualidade dos seus vinhos, mas também da projeção nacional internacional dos mesmos. Isso deveu-se a vários fatores, sendo os principais a aposta de Ricardo em vinhos especiais, em muitos casos recorrendo a vinhos únicos estagiados em garrafões, e o perfil mais fresco e vibrante que todos os vinhos com sua assinatura têm. Voltando um pouco atrás no texto, é altura para confidenciar que Ricardo licenciou-se em História e deu aulas da disciplina, ainda que por pouco tempo. Teve uma garrafeira (que deixou saudades) no Funchal, a ‘Diogo’s’ que funcionava (ainda existe apenas online) ainda como um pequeno museu do vinho. Começou na empresa ao lado da mãe em 89 e, a acompanhar as vindimas, a partir de 1993 assumindo progressivamente a área de preparação dos vinhos, o que implicava já o loteamento final dos néctares à sua disposição. Alguns anos volvidos e sucede naturalmente à sua mãe, ascendendo a presidente do conselho de gerência da empresa e aí se mantém como a face mais visível, e a mais dinâmica dizemos nós, deste magnifico produtor.

De facto, desde o início, Ricardo implementou um estilo novo na sua empresa. Ainda que, no início, o tenha feito de forma pouco consciente (era o seu gosto e não um perfil estilizado), a verdade é que, ao longos dos anos, os consumidores de Vinho da Madeira foram habituados a um perfil mais seco e fresco sempre que provavam e bebiam uma garrafa de Barbeito. De tal modo que estou convencido até que esse perfil menos doce e mais vibrante, de que Ricardo tanto gosta, “fez escola” na região e contagiou positivamente algumas das restantes casas de Vinho da Madeira. Basta provar comparativamente os vinhos que a “concorrência” lança atualmente, e os que lançava há 10 ou 15 anos, para comprovarmos esta minha intuição. Hoje, como dantes, continuam soberbos; mas estão hoje menos doces.

Barbeito Madeira

Vinhos únicos e irrepetíveis

A par do estilo mais seco, Ricardo incutiu, na sua empresa, uma espécie de irrequietação positiva, uma necessidade de lançar vinhos novos e diferentes, algo que, no Continente, podemos encontrar noutras personagens vínicas como Dirk Niepoort, Anselmo Mendes, e, mais recentemente, António Maçanita, entre alguns outros. No caso de Ricardo, em vez de juntar vários lotes para criar um lote maior de algumas dezenas de milhares de litros, a sua preferência sempre foi produzir vinhos únicos, por vezes irrepetíveis. O seu gosto por História, e as recordações de ver a sua mãe a trabalhar na empresa, fazem com que Ricardo não dispense o contacto pessoal frequente com dezenas de viticultores, mesmo com aqueles com quem não colabora, e até com produtores e proprietários antigos de casas de vinho que, por esta ou aquela razão, já não comercializam. É disso bom exemplo a colaboração ativa com a família Eugénio Fernandes, cujas vinhas e adega ficam no Seixal, defronte da praia mais bonita e visitada do norte da ilha. Com efeito, tal adega (são famosos os Verdelhos e os Serciais antigos) fica a meras dezenas de metros da praia, algum comum na Madeira, mas sem que nenhum dos milhares de turistas que por lá veraneiam imaginem que tal seja possível. O mesmo sucede, agora no sul, na mítica Fajã dos Padres, uma língua de terra estreita, toda literalmente a beira-mar, no final de uma falésia vertical de 250 metros. Nesse pequeno território, entre mangas e peras-abacate (e lagartos!), crescem algumas videiras de Malvasia Cândida, uma das mais antigas da região e que só ali existem, há gerações ao cuidado da família Vilhena de Mendonça, que vinifica um pouco de vinho. As restantes uvas, quando existem (há anos de pouquíssima produção) ficam para Ricardo vinificar com mestria um dos seus vinhos mais excitantes e mais limitados. Como se denota do que venho escrevendo, percorrer a Madeira com Ricardo ao lado é ir parando, aqui e ali, para conversar com viticultores e visitar adegas antigas. Melhor é impossível.

No dia a dia, a atividade de Ricardo é, desde há muitos anos, fazer lotes de vinhos. Por dia, e não foi a primeira que o constatamos, Ricardo analisa e prepara entre 15 a 20 lotes. Ora está a aproximar-se de uma versão final em que trabalha há várias semanas, ora está a refrescar alguns lotes, sempre diagnosticando em que fase da evolução cada barrica e casco se encontram. No fundo, é como se estivesse diariamente a estudar e criar várias peças de um puzzle, para que um dia as venha a utilizar. Pode tratar-se de um trabalho por vezes solitário, encontrar-se, todos os dias, em sala de prova, sobretudo na definição e decisão dos lotes finais. Por um lado, é verdade que, após décadas de laboro, esse trabalho isolado de Ricardo acabou por ter a vantagem de revelar, aos consumidores, o gosto pessoal do seu criador. Porém, há já algum tempo que Ricardo tinha compreendido que beneficiaria de um parceiro constante e habitual na sala de prova. Não por acaso, aliás, Ricardo sempre procurou colaborações: fez dois lotes com Dirk Niepoort e, mais recentemente um vinho com Susana Esteban (este provado abaixo no texto), tendo no passado participado com Rita Marques no desenho de um Vinho do Porto. Ora, esse parceiro surgiu na pessoa de Sérgio Marques, madeirense de gema, sommelier de formação, com passagem por restaurantes de elevado gabarito, nacionais (caso do ‘Il Gallo d’Oro’, no Hotel Porto Bay, com duas estrelas Michelin) e internacionais. Provador nato, é ainda grande conhecedor, e colecionador, de vinhos Madeira, tendo sido, até há bem pouco tempo, o responsável pela loja de vinhos da Blandy’s (o ‘Wine Lodge’). Sobre a participação e intervenção de Sérgio, Ricardo não tem dúvidas: tem sido fundamental na definição dos últimos vinhos da Barbeito, enriquecendo a decisão final dos lotes pela troca de experiências e pontos e vista que, sendo diferentes, são convergentes.

E, efetivamente, isso mesmo constatámos mais uma vez, inclusivamente na sala de prova. Ricardo e Sérgio falam uma mesma linguagem, gostam de perfis muito parecidos, mas nem sempre coincidem totalmente. Quando isso acontece, ou quando reconhecem que o ponto de vista do outro é valido e beneficia o lote final, surge magia! Os 11 vinhos agora lançados são o reflexo dessa magia.

Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

O Tempo dos vinhos por Luís Antunes

tempo dos vinhos

O vinho é um produto agrícola de ciclo muito longo. Na sua produção, o tempo do vinho, o ciclo da vinha, é um ano. Podemos fazer um zoom-out para percebermos que quando se planta uma vinha — e uma vinha pode produzir vinho durante muitas décadas—, essa decisão afectará muitos destes ciclos anuais. A decisão […]

O vinho é um produto agrícola de ciclo muito longo. Na sua produção, o tempo do vinho, o ciclo da vinha, é um ano. Podemos fazer um zoom-out para percebermos que quando se planta uma vinha — e uma vinha pode produzir vinho durante muitas décadas—, essa decisão afectará muitos destes ciclos anuais. A decisão de arrancar ou reconverter uma vinha velha é, então, obviamente, uma decisão de peso, que tem impacto durante muitas décadas no estilo do vinho a produzir. Uma vinha velha não se define apenas pela sua idade. Também se define pelas castas que inclui em cada parcela, pela condução das vinhas que, trazendo mais ou menos energia do Sol para cada cacho, pode representar mais maturação ou mais frescura no vinho que ali se produz.

O ciclo vegetativo anual é também uma consequência dessas decisões de fundo. Uma casta de ciclo longo vai amadurecer mais devagar, preservando melhor os preciosos ácidos enquanto reúne os açúcares no amadurecimento, garantindo assim um equilíbrio que o consumidor depois agradece. Uma casta de ciclo mais curto ajuda a que o amadurecimento chegue antes que os orvalhos do Outono apodreçam as uvas. Cada sítio quer assim as suas escolhas, provando que o terroir inclui sempre o homem, não apenas os solos, climas, exposições solares e castas. Decisões antigas com fé reafirmada em cada vindima.

Na vindima é o tempo que acelera. As semanas são cheias de dias, as uvas não esperam, as fermentações têm tempos críticos. Os dias são cheios de acção, é a colheita, a fermentação, a limpeza, muita limpeza, as trasfegas, os lagares, as mantas regadas, mil-e-uma tarefas para cuidar dos vinhos que se fazem, libertar espaço para os vinhos que se vão fazer, cuidar dos vinhos já feitos. Ainda por cima, nestes tempos de turistas e visitantes, há sempre gente a entrar e a sair, jornalistas, curiosos, apaixonados do vinho, parceiros comerciais, tempo ocupado, ainda tempo para cuidar disto tudo, refeições para serem cozinhadas, e apreciadas com os vinhos de anos passados, sonhando com os anos futuros.

tempo dos vinhos

Quando a coisa abranda, as decisões podem ser mais espaçadas, mas não são menos importantes. Estágios, lotes, marcas, rótulos, engarrafamentos, rolhas, vendas. Um vinho que se estagia na adega é um vinho que tarda mais em vender. Fica o empate de capital, fica o espaço e vasilhame para o guardar, e às colheitas seguintes que se queiram fazer. Um estágio que se faça em barrica obriga a investir em barricas, o que, para além do custo delas próprias, inclui o custo da mão de obra para as cuidar. As vasilhas não podem ficar a meio e, por isso, quanto menores, mais mão de obra exigem. A sofreguidão destes trabalhos acelera quando se fazem as fermentações malolácticas, mas depois abranda até ao Verão seguinte. Aí vêm os engarrafamentos e o planeamento da próxima vindima. Vendas, transportes.

E neste ciclo de produção entra em jogo o consumidor. Que vai comprando vinho ao longo do seu ano, com os seus tempos, se calhar mais rosés e brancos no tempo quente, mais tintos e fortificados no tempo frio. E comprando, vai abrindo e bebendo. Quando? Ora, diz-se como lenda que o tempo médio que decorre entre a compra de uma garrafa e a sua abertura e consumo é cerca de duas horas. Tempo curto, nem sei como arrefecem os brancos. Se calhar compram já fresco. Por mim, aprecio um vinho bebido no seu tempo próprio. No auge da sua evolução.

 

Ao longo dos anos têm melhorado muito os vinhos brancos portugueses e os melhores já são agora postos à venda com alguns anos de estágio, uma cortesia do produtor que os aproxima desse tempo ideal. Mas mesmo quando são postos à venda ainda no ano da sua vindima, muitas vezes sou eu que faço questão de os estagiar devidamente. O meu melhor exemplo talvez seja o Alvarinho de Monção e Melgaço. Tão bom de beber logo que sai, tão melhor de o degustar com alguns anos. Muitas vezes escondo uma caixa de garrafas na garagem, esperando esquecer-me dela para a ir buscar anos mais tarde. Se, das seis garrafas, duas evoluírem demasiado, vale a pena, que as outras quatro mais do que compensam. E um truque para as outras duas é bebê-las com um queijo de ovelha curado, a combinação tradicional que quase caía em esquecimento.

Os tintos sempre aguentaram melhor a espera e também esses os faço esperar. Prefiro comprar menos variedade e mais garrafas de cada vinho. De Bordeaux costumava comprar sempre uma caixa de 12, e nunca as abria antes de 8 ou 10 anos. Aí uma garrafa por ano, para avaliar a evolução do vinho. Se estava de urgência, acelero o ritmo, se não, abrando. Um vinho antigo, nunca o decanto. O vinho que esperou muito tempo com pouco contacto com o ar fica guloso de oxigénio quando se tira a rolha. Tira-se então a rolha com cuidado, saca-rolhas de lâminas, e deixa-se respirar aquele nadinha de vinho do gargalo. Depois serve-se com poucos safanões a garrafa toda, para cada comensal apreciar no copo o seu bouquet. Decantar é só para vinhos novos, para lhes amaciar os taninos espigados. Mas é sempre melhor esperar que o tempo lhes arredonde as arestas.

tempo dos vinhos

Mas para nenhum vinho é verdade que “quanto mais velho melhor”. Mesmo os fortificados mais poderosos, grandes Portos ou Madeiras, devem ser bebidos no seu tempo certo. Esperar demasiado pode prejudicar o vinho, deixemos essas longas esperas para quem conhece melhor essas artes, os enólogos que nas caves os envelhecem e loteiam, que os provam continuamente para colocar na garrafa no tempo certo. Um grande Porto vintage envelhece longamente na garrafa e podemos fazê-lo nós em casa, mas não convém esperar demais. Também aqui é preciso ir provando, pois vale sempre a pena conhecer o que temos na garrafeira, convidar uns amigos e abrir as garrafas. Um Porto tawny e especialmente um Madeira podem envelhecer para sempre, mas não necessariamente melhorar em garrafa na nossa cave. Por isso é dar-lhe, não esperar mais do que o devido.

De princípio a fim falei sempre de tempo, do tempo dos vinhos. Espirais de tempo, grandes e pequenas, que envolvem terras, cepas, uvas, mostos, lagares, cubas, barricas, garrafas, vinhos, copos. Que nos envolvem a nós e à nossa vida. Agora, é tempo de ir beber um vinho.  LA

(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)

Curso Profissional dos Escanções de Portugal 2024

curso profissional

O Curso Profissional AEP realiza-se já há 5 anos, desde 2019, com o objectivo de proporcionar aos profissionais e futuros profissionais um aliado formativo completo e minucioso nos seus percursos académicos e profissionais. Composto por 3 níveis, a frequência na sua totalidade garante o diploma profissional de Escanção certificado pela Associação de Escanções de Portugal […]

O Curso Profissional AEP realiza-se já há 5 anos, desde 2019, com o objectivo de proporcionar aos profissionais e futuros profissionais um aliado formativo completo e minucioso nos seus percursos académicos e profissionais. Composto por 3 níveis, a frequência na sua totalidade garante o diploma profissional de Escanção certificado pela Associação de Escanções de Portugal entidade formadora certificada pela DGIRT e com reconhecimento nacional e internacionalmente.

Num “curso feito por Escanções para Futuros Escanções”, como destaca Manuel Moreira, formador dos Níveis II e III, todas as aulas são orientadas e ministradas por profissionais da área, sobretudo escanções, mas também enólogos, viticultores, chefs e formadores da equipa da AEP. Desde o início do curso até agora, para além dos residentes Tiago Paula, presidente da Associação, e o escanção Manuel Moreira, nomes como Vasco d’Avillez, José Gaspar, Eduardo Cardeal, Pedro Tereso, Frederico Rosa, Vera Moreira, Sara Peñas Lledó, Fabio Nico, Nuno Ferreira e Nelson Guerreiro já se juntaram à equipa de formadores, transmitindo conhecimentos e experiências de forma única e enriquecendo ainda mais os conteúdos do programa de estudo.

Manuel Moreira adianta ainda que “este é um curso que abarca praticamente todas os temas ligados ao mundo dos vinhos. Prepara e abre horizontes, a todos os que o frequentam ou frequentaram, tendo para alguns um impacto muito positivo na sua vida profissional e na perspectiva de carreira. A visão e experiência profissional da equipa de formadores agregam elementos da vida prática – soluções, acções já concretizadas e seus efeitos, estudos aplicados, etc. – que são muito bem acolhidos pelos estudantes e que os ajudam no contexto das suas preocupações ou questões a esclarecer.

Esta edição em particular será a 10ª do Nível I e tem término previsto para Dezembro de 2024, neste que é um primeiro passo para obter o diploma profissional de Escanção.

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IVDP celebra Port Wine day 2024 a 10 de Setembro

A celebração do Port Wine Day começa com a entrega das distinções “Douro + Sustentável” nas áreas da Viticultura, da Enologia, do Enoturismo e Revelação, no dia 10 de setembro, na Casa da Música, Porto.

O vinho do Porto volta a ser celebrado no próximo dia 10 de setembro. É a 10ª edição do Port Wine Day, promovido pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), para comemorar o dia 10 de setembro de 1756, data em que o Marquês de Pombal instituiu a Companhia Geral da Agricultura […]

O vinho do Porto volta a ser celebrado no próximo dia 10 de setembro. É a 10ª edição do Port Wine Day, promovido pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), para comemorar o dia 10 de setembro de 1756, data em que o Marquês de Pombal instituiu a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, ficando, assim, regulamentada a mais antiga região demarcada vinícola do mundo – O Douro Vinhateiro.

A celebração do Port Wine Day começa com a entrega das distinções “Douro + Sustentável” nas áreas da Viticultura, da Enologia, do Enoturismo e Revelação, no dia 10 de setembro, na Casa da Música, Porto. Serão distinguidos aqueles que “se destacaram pelo seu afinco e sucesso, pelo profissionalismo que imprimiram aos seus projectos e, acima de tudo, quem, nas mais variadas áreas de actuação, tem como objectivo o desenvolvimento sustentável do Douro e dá primazia ao benefício colectivo na concepção dos seus projetos”, revela o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas.

No dia 19 de setembro, destaque para a masterclasse “Os 30 anos do Porto Vintage 1994”, que decorre no Salão Nobre do IVDP. Vai mostrar a evolução deste vinho produzido num ano de excecional qualidade do século passado. A prova será conduzida por especialistas e contará, também, com a participação de enólogos das empresas representadas.
No dia 20 de Setembro, a festa de homenagem ao vinho do Porto continua, no Mercado do Bolhão, com a Sunset Party Port Wine Day, onde estarão presentes 30 produtores. O sucesso da iniciativa, em anos anteriores, transformou esta actividade num clássico do Port Wine Day, sempre com presença muito significativa das faixas etárias mais jovens. No mesmo dia, na cozinha do mercado do Bolhão, realiza-se uma masterclasse de cocktails com vinho do Porto intitulada “Porto Colours”, dirigida pelo bartender Paulo Ramos, da Cocktail Academy.

Enoturismo: Vinilourenço – No Douro mais intenso

Vinilourenço

Já muito se escreveu sobre o Douro, mas nunca me canso de o ler, de o visitar, de o ver, de o cheirar e de o apreciar. A região demarcada do Douro oferece sempre sensações diferentes. A cada visita uma nova história. Na realidade não existe um só Douro, existe um território que vislumbra várias […]

Já muito se escreveu sobre o Douro, mas nunca me canso de o ler, de o visitar, de o ver, de o cheirar e de o apreciar. A região demarcada do Douro oferece sempre sensações diferentes. A cada visita uma nova história. Na realidade não existe um só Douro, existe um território que vislumbra várias cenografias naturais, que nos instiga constantemente a visitar, a ficar, a calcorrear os caminhos tão belos como desafiantes, alicerçado em mirantes e miradouros que testemunham a sua própria magnitude.
No Douro há uma relação umbilical entre vinho e território, uma relação que não é meramente física, mas muito envolvida na cultura e nas pessoas. Ser do Douro é motivo de orgulho que só quem lá vive sente. Este casamento entre vinho e território identifica as origens, o vinho torna-se num embaixador único, levando uma mensagem sobre a terra, as gentes e a cultura. Se há destino onde se adormece e acorda a pensar em vinho e em tudo o que rodeia é exatamente nesta região.
Na realidade visitar o Douro é uma experiência única para os verdadeiros amantes de vinho. Aqui têm a oportunidade de provar excelentes vinhos, mas também de explorar uma paisagem deslumbrante, rica em história, cultura e tradição vinícola. Se pensarmos em toda a história do Douro e das suas gentes só me ocorre uma palavra – notável.

O Douro é também um território de produção onde a origem conta. Com condições climáticas muito próprias, um solo que exige um trabalho árduo e um modo ímpar de trabalhar a terra, o Douro forma uma paisagem magnífica e torna-se berço de vinhos memoráveis com uma enorme capacidade de guarda quer no âmbito dos tranquilos e espumantes, quer no âmbito dos fortificados, Portos e Moscatéis. Não foi por acaso. Foi com muito mérito que o Alto Douro Vinhateiro fez e faz parte do património da UNESCO, desde 2001, como paisagem cultural evolutiva e viva.
Na realidade e à medida que se vai percorrendo este destino turístico e vinhateiro, sente-se que os vinhos e os territórios formam um ser único, de vasos comunicantes, de montanhas “encorpadas”, de aromas estonteantes, paisagens deslumbrantes, onde “taninos” complexos e elegantes, constituem os néctares que vamos provando. Este casamento virtuoso entre vinha, vinho e turismo, que designamos de enoturismo, faz deste território um destino de visita obrigatória.
A interacção entre territórios funcionalmente distintos, mas interdependentes e, por isso, mais fortes na sua presença e afirmação no mundo, constitui o mote para a visita que alegremente fizemos ao Douro Superior. Confesso, o meu Douro preferido.

Vinilourenço
Por estas terras os solos são, na sua quase globalidade, derivados de xistos e algum granito. As amplitudes térmicas são um pouco mais acentuadas do que em locais de clima mediterrânico típico, com mais precipitação e temperaturas mais amenas. Assiste-se a vinhas plantadas em altitude que contribuirão para a elaboração de vinhos mais frescos, com acidez desafiante. Por estas razões e sobretudo pela admiração que tenho pelo Douro, decidi realizar esta viagem de cheiros e sabores que me levaram a um produtor de vinhos do Douro – Vinilourenço, que expressa na perfeição as sensações que acabei de descrever.

Produtor familiar
Foi com Horácio Lourenço que tudo começou, com a plantação das primeiras vinhas há cerca de quatro décadas, impulsionando a base da empresa. O amor à terra e o gosto pela agricultura obrigaram-no a embrenhar-se no mundo da vinha e do vinho, concretizando o sonho que sempre teve de ser viticultor. A sua actividade principal, a construção civil, não lhe permitia uma dedicação a tempo inteiro. Começou por isso, a incentivar o seu filho Jorge Lourenço para a missão de ir mais além do que só comercializar as uvas que colhiam. Desde logo procurou que assumisse os destinos e a estratégia da empresa de fazer os seus próprios vinhos, criando as suas marcas.
Imbuído do espírito empreendedor do pai, ávido de aprender e de levar a “bom porto” o negócio da família, Jorge Lourenço, de temperamento vivo, assume de forma abnegada as rédeas da empresa. Entendeu que os ensinamentos do pai, apesar de importantes, necessitavam se ser complementados com mais conhecimento técnico. Aprender mais e de forma consistente passou a ser mote que lhe veio proporcionar as qualificações mínimas necessárias perante a “empreitada” que tinha pela frente. Concluiu o ensino secundário com mérito, inscreve-se num curso de jovem empresário e mais tarde numa pós-graduação em Enoturismo. Irrequieto e irreverente, é Jorge Lourenço quem hoje assume a administração da Vinilourenço, de corpo e alma, e já lá vão duas décadas, para felicidade do pai, que vê no seu filho a concretização do sonho que teve há 40 anos.

A adega, construída em 2003, situa-se na localidade do Poço do Canto, Concelho da Meda. Tem vindo a ter várias ampliações. É em 2020 que sofre uma remodelação profunda, aumentando a capacidade de produção de vinho e armazenagem para cerca de 800.000 litros. Nesta altura já Jorge Lourenço estava convicto que o turismo seria importante fonte de rentabilidade complementar à comercialização do vinho. Nasceu assim a actividade de enoturismo na empresa.
A família Lourenço sempre respeitou os métodos ancestrais, mas percebeu em boa hora que o mercado consumidor estava a mudar. Neste sentido, dotou a adega de todos os equipamentos necessários à produção de vinhos de qualidade, aliando a metodologia tradicional da utilização dos lagares de granito, à mais moderna vinificação em cubas de aço inox, algumas delas concebidas pelos técnicos da empresa em parceria com o sector das metalomecânicas. Cientes da tradição do Douro de colocar vinhos em estágios médios e prolongados, utilizam barricas de carvalho para os seus grandes vinhos.

A adega e as vinhas
A adega dispõe-se por quatro pisos, adaptados à orografia do local: no piso “0”, está localizada uma loja de vinhos para venda directa, armazém de apoio, escritórios, e um espaço para provas e eventos vínicos, com cerca de 100m2, equipada com cozinha e um terraço panorâmico para se poder desfrutar da ampla vista da paisagem rural, e um vidro suspenso com vista para a sala de barricas; o piso -1 está destinado a estágio de vinhos em cubas de aço inoxidável de diferentes capacidades, que permitem realizar os lotes pretendidos em grande ou pequeno volume e o estágio de vinhos em barricas de carvalho, utilizadas para os vinhos de qualidade superior; o piso -2 destina-se a receção das uvas, vinificação, engarrafamento e rotulagem; por fim, no piso -3, a adega dispõe das condições ideais para estágio e conservação, com capacidade de armazenamento de produto acabado.
As vinhas da empresa totalizam cerca de 50 ha e estão dispersas por várias parcelas, que chegam a distar entre si mais de duas dezenas de quilómetros, nas freguesias do Poço do Canto, Meda, Vale da Teja, Sebadelhe e Pocinho. Este facto tem o inconveniente de não permitir adoptar o conceito de “Quinta” e de elevar, significativamente, os custos de produção, mas em contrapartida tem a enorme vantagem de dispor de vinhas com uma grande diversidade de condições ambientais, que permitem explorar as castas de forma muito criativa e produzir vinhos com os mais variados estilos.
As cotas dos vinhedos variam entre os 130 e 700 m, tanto em terrenos de encosta com forte declive, como em zonas planálticas, levemente onduladas. Há vinhas armadas em patamares de uma, duas ou mais filas de videiras, com orientações solares muito variáveis, e vinhas contínuas, planas ou de declive suave, com uma única exposição.
Os solos de origem xistosa – típicos do Douro – ocorrem nas zonas de cota mais baixa, junto ao rio Douro, na maior parte das zonas de cota intermédia e, ainda, em algumas cotas altas da freguesia do Poço do Canto. Os solos de transição, com origem no xisto e granito, e os de origem granítica – típicos da Beira – ocorrem nas zonas altas, já na fronteira do Douro Superior com a Beira Interior. Os solos xistosos, de maior fertilidade e menor acidez, têm maior capacidade de retenção de água e dão origem, em regra, a maiores produtividades, proporcionando menor stress hídrico às videiras em anos secos e quentes. Os solos de origem granítica, de menor fertilidade, dão origem a grandes vinhos, particularmente quando há ocorrência de alguma chuva em setembro.
O desafio é entender não um, mas os vários terroirs que a empresa possui, e perceber, de forma empírica, mas também científica e técnica, o resultado dos mostos que originam para fazer blends de várias castas, de várias proveniências, altitudes, exposição solar, produção por parcela, etc.

Turismo de vinho
O enoturismo é a mais recente aposta da Vinilourenço, alicerçada numa estratégia ligada à autenticidade do atendimento das gentes deste Douro (Superior) e no serviço dos produtos mais genuínos. O espaço possui uma loja de vinhos para compra imediata e possibilidade de envio para o domicílio do visitante. Tem ainda um armazém de apoio e um espaço para provas e eventos vínicos, com cerca de 100m2, onde se pode degustar os produtos locais e regionais e ainda, sob reserva, realizar refeições. Neste sentido, o espaço tem uma cozinha equipada para a promoção da gastronomia duriense e um terraço panorâmico para poder desfrutar da ampla vista da paisagem rural que rodeia a adega.
O que mais me impressionou foi a recepção afável e profissional com que fui brindado. É fácil chegar à Vinilourenço, numa viagem pelas paisagens deslumbrantes do Douro. Tive a sorte de me “perder” pelo caminho, já que usufruí da beleza natural do meio envolvente de um mundo rural ainda preservado. O GPS recomenda-se.

Existe um conjunto interessante de programas que possibilitam e preconizam uma experiência inesquecível. A visita inicia pela apresentação do ADN da empresa, a sua história, a adega, os vinhos e os terroirs que possui. De seguida realiza-se o percurso pela adega, que termina na tradicional prova de vinhos, que varia de acordo com o programa escolhido. Aconselho vivamente a visita a algumas das vinhas que a empresa possui, pois é lá que o vinho nasce, é aí que se percebe a complexidade dos vinhos deste produtor. E se for na companhia do Jorge Lourenço (é muito provável que aconteça) vai sentir-se, no seu entusiasmo, o amor que tem pela terra e pela história que a família Lourenço foi construindo nos últimos 50 anos. Mas para um enófilo e gastrónomo que se preze, provar (e beber) sem comer a experiência não será completa, pelo que sugiro um programa que inclua Wine & Food no terraço.

Para quem necessitar de realizar algum evento empresarial ou eventualmente agendar uma experiência com um grupo de turistas, o espaço está preparado para grupos de 10, 20 e 30 pessoas sentadas. Existe ainda, como motivo de interesse, a visita aos 12 ha de olival e 0,5 ha de amendoal. Para além dos programas estabelecidos, a Vinilourenço está actualmente a criar todas as condições para poder oferecer alojamento turístico, Spa nature e espaço de restaurante no meio de uma das vinhas, num quadro natural que vai fazer as delícias dos privilegiados que conseguirem viver a experiência de comer, beber e dormir em perfeita sintonia com o mundo rural. Um local para ser muito feliz!

Vinilourenço

CADERNO DE VISITA

 COMODIDADES

– Carregamento para carros elétricos

– Kids friendly

– Línguas faladas: espanhol, inglês e francês

– Loja de vinhos com espaço de bar / provas / refeições

– 40 lugares sentados

– Parque para automóveis

– Provas livres e comentadas (ver programas)

– Possibilidade de realizar refeições

– Turismo acessível

Wifi disponível

– Visita à adega

– Visita às vinhas

– Visita ao Douro

EVENTOS*

* sob reserva

EXPERIÊNCIAS À MEDIDA*

– Cursos de introdução ao vinho

– Pic nic vínico

– Seja enólogo por um dia

* sob reserva

PROGRAMAS

 Prova Colheitas:

– Dois Vinhos Douro DOC (opção de escolha marca D. Graça ou Fraga da Galhofa); Preço de prova: €10 por pessoa; Nº de pessoas: mínimo duas.

Prova Blend:

– Um Espumante Blend e três vinhos Reserva (Fraga da Galhofa Tinto Reserva, Fraga da Galhofa Branco Reserva, D. Graça Tinto Grande Reserva Vinhas Antigas); Preço de prova: €25 por pessoa; Nº de pessoas: mínimo duas.

Prova Cega Terroir:

– Cinco vinhos Monovarietais; Preço de prova: €35 por pessoa; N.º de pessoas: mínimo duas.

Full turn – visita a vinhas, adega e prova de vinhos:

Ponto de encontro na Vinilourenço; Transporte providenciado pela Vinilourenço; Visita guiada às vinhas; Brinde nas vinhas com um dos vinhos da casa; Visita guiada à adega; Surpresa.

Duração: 1h30

Idiomas: Português e Inglês.

Disponível: De Segunda a Sexta das 11h00 – 18h00 e sábados das 9h30 – 12h30.

Hora de início: 11:00 horas, 14:00 horas, 16:30 horas.

Nº de pessoas:(sob consulta)

Preço: €40 (por pessoa)

Esta actividade inclui guia, visita guiada, prova de vinhos, loja de vinhos.

HORÁRIO

Segunda a Sexta das 9h00 – 18h00

Sábado 9h30 – 19h00

VINILOURENÇO

EN324 – Poço do Canto

Meda 6430-335

Telefone: 279 883 504

e-mail: geral@vinilourenco.com

site: www.vinilourenco.com

(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)

 

 

Kabuki: Um restaurante japonês com sotaque português

Kabuki

Já tinha lá ido algumas vezes, sempre em contexto profissional e a impressão geral foi  de franco agrado, tanto pelas propostas gastronómicas como pelo serviço de vinhos exemplar. É um daqueles sítios que guardamos na nossa bucket list para visitar mais tarde e com calma. Notícias recentes tinham anunciando a saída quase simultânea do chefe […]

Já tinha lá ido algumas vezes, sempre em contexto profissional e a impressão geral foi  de franco agrado, tanto pelas propostas gastronómicas como pelo serviço de vinhos exemplar. É um daqueles sítios que guardamos na nossa bucket list para visitar mais tarde e com calma. Notícias recentes tinham anunciando a saída quase simultânea do chefe Paulo Alves e do sommelier Filipe Wang e fizeram-me hesitar. Será que… Por isso, foi com um misto de curiosidade e de dúvida metódica que aceitei o convite para visitar, de novo, o belo espaço que se acolhe naquelas que foram as Galerias Ritz, de saudosas memórias. E ainda bem que o fiz. Recebeu-me Vitor Jardim, director do restaurante desde a sua abertura, e, afinal, a garantia de continuidade do conceito e do padrão da qualidade.

A minha visita começou no bar, que também serve alguns petiscos e fica no piso intermédio dos três que compõem o espaço, onde, com mestria e criatividade, o barista Telmo Santos tem vindo a desenvolver novos cocktails (com e sem álcool),  dos quais tive a oportunidade de provar dois. Comum a todos eles é a base das bebidas japonesas, a que este profissional acrescenta sabores e aromas frutados e plenos de frescura. Fiquei fã, devo confessar. Depois desta introdução descemos para a sala de jantar, um espaço cativante e acolhedor dominado por uma barra para oito comensais, por detrás da qual um impressivo mural origina um contraste entre a exuberância das cores e as linhas sóbrias da restante decoração. Naquela noite fui informado que o novo chefe, Sebastião Coutinho, não estava, o que, por um lado, me privou de o conhecer e de trocar algumas impressões com ele mas, por outro, me ajudou a tirar a prova dos nove.

Observar um restaurante estrelado sem o chefe executivo presente é, muitas vezes, a receita certa para uma refeição decepcionante. Não foi de todo o caso e isso afinal só abona em favor de uma equipa competente e bem lubrificada. O menu Kabuki que experimentei  (125€ com seis momentos) começa de uma forma misteriosa com a apresentação de uma bento box, uma caixa negra lacada, aberta à frente do cliente, que contém seis aperitivos tão sugestivos à vista como deliciosos. Seguiu-se salmonete e algas, irrepreensível de frescura e delicadeza, para continuarmos com um Akami Caviar, em que o atum foi tratado à sua mais alta expressão. A influência portuguesa foi bem visível no “À Bulhão Pato”, o prato seguinte, onde o lírio,  as amêijoas e o molho se casaram de forma harmoniosa. O prato seguinte, barriga de atum, ovas e raspa de atum foi, para mim, o menos conseguido. Mas isso não desilustrou uma refeição que, no seu conjunto, esteve em grande nível. O serviço de vinhos, agora da responsabilidade do sommelier Miguel Ribeiro, apresentou propostas acertadas de harmonização, que passaram por um espumante de Monção e Melgaço, um branco Donzelinho do Douro, um Riesling da Alsácia e um saké servido a preceito. Está bem e recomenda-se o “novo” Kabuki que, com Sebastião Coutinho, levou a influência mediterrânea a um toque mais português.

Kabuki

 

Kabuki

Morada: Rua Castilho 77 B – Lisboa

Tel.: 212 491 683 / 935 010 535

Experience (1º piso) – Só almoços, de terça a sexta-feira das 12:30 às 15:00 horas

Bar Kikibari  (Piso intermédio) – Terça a sexta das 12:30 às 00:00 horas

Sala Principal (Piso de baixo) – Só jantares, de terça a sábado das 19:30 às 00:00 horas