Na rota do chá de Fornelo

O casal Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort está prestes a lançar no mercado o primeiro chá verde feito na Europa Continental. A Grandes Escolhas foi à aldeia de Fornelo ver a plantação e fazer a prova. TEXTO Ricardo Dias Felner A estrada faz-se ziguezagueando por entre aldeias e campos, o ar rupestre de lareira e […]

O casal Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort está prestes a lançar no mercado o primeiro chá verde feito na Europa Continental. A Grandes Escolhas foi à aldeia de Fornelo ver a plantação e fazer a prova.

TEXTO Ricardo Dias Felner

A estrada faz-se ziguezagueando por entre aldeias e campos, o ar rupestre de lareira e estrume. Estamos a uns 10 quilómetros de Vila do Conde, para interior, e temos de nos socorrer do velho boca-a-boca para chegarmos ao destino, que o GPS já não ajuda. “Vai-se até àquela casa ao fundo e vira-se no caminho de terra batida para cima”, diz-nos um habitante de Fornelo.
Toda a gente conhece a Camélia, apesar de a camélia ainda não se ter dado a provar. Os resultados do cultivo não são imediatos, é preciso esperar — sobretudo se estiver em causa um produto premium biológico. São necessários cinco anos desde que é feita a plantação até que as folhas da camellia sinesins estejam prontas para se transformarem em bebida.
Mas esse tempo está quase a chegar. Assim que passamos o portão da quinta, Nina Gruntkowski leva-nos até ao topo da propriedade. “As plantas mais antigas são estas, têm quatro anos”, diz, num português com sotaque germânico, afagando uma sebe quase à altura da cintura. “Para o ano, já teremos o nosso chá no mercado”, congratula-se.
O projecto Camélia começou a ser pensado desde 2011 e a imprensa começou a dar-lhe destaque a partir de 2016. A expectativa é grande, até porque atrás da marca está o consagrado produtor de vinhos Dirk Niepoort, marido de Nina, grande apreciador de chá. E há uma curiosidade adicional: esta é a única plantação de camellia sinensis, para produção comercial de chá, em toda a Europa Continental (ver entrevista nestas páginas).
A planta é produzida, essencialmente, em países asiáticos, nomeadamente na China, Japão e Índia, mas também na Turquia. Na Europa, Portugal parece ter condições particulares e culturais para a plantação, com a região dos Açores à cabeça e, agora, Vila do Conde. “Esta é uma região de camélias, sempre foi. Tem solos ácidos, por causa do granito. E tem humidade, um microclima próprio. E como nós já tínhamos este terreno, porque os pais do Dirk viviam aqui, decidimos arriscar”, diz esta jornalista alemã reconvertida em agricultora biológica, acrescentando ainda um factor: “É preciso ter uma grande panca”, conclui, sorrindo e desprendendo um botão de flor de camélia. “Podem provar, são bons para comer assim.”
Enquanto, a folha de chá não fica pronta, a única coisa que a Camélia está a vender, exclusivamente de produção própria, são as flores, que “tecnicamente não são chá, mas tisanas”. Nessa mesma tarde, as pétalas estão a ser desidratadas na zona do escritório, numa máquina do tamanho de um fogão. Nina faz questão que provemos o produto final sob uma laranjeira, no exterior, para aproveitarmos o sol de Inverno.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”34231″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”#e8e8e8″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Luís Mendonça de Carvalho”][vc_text_separator title=”“Preparar chá já é, em si, relaxante”” title_align=”separator_align_left” align=”align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][vc_column_text]Um dos maiores especialistas portugueses em chá explica-nos sobre a geografia da planta e sobre os seus benefícios para a saúde. A palavra a Luís Mendonça de Carvalho, biólogo e director do Museu de Botânica de Beja.
Já ouviu falar do chá que está a ser produzido perto de Vila do Conde?
Consumo, habitualmente, o chá que vendem, em especial o verde japonês e o de Assam, embora também já tenha provado outros. Apenas provei uma vez o chá produzido no Minho, quando a Nina o apresentou na Companhia Portugueza do Chá, em Setembro de 2017, se a memória não me falha. A minha opinião sobre o mesmo é muito positiva.
É verdade que não há outra produção de chá, com estas características, na Europa Continental?
Poder-se-á sempre dizer que é o único produzido comercialmente em Portugal Continental ou mesmo até na Europa Continental (embora em Itália também se produza uma pequena quantidade de chá). Não se poderá, com rigor, dizer (acho eu) que seja o primeiro chá plantado e comercializado na Europa Ocidental porque, pelo menos em termos administrativos, os Açores também são Ocidente e a plantação na Cornualha também. A Turquia é um grande produtor e, tecnicamente, um país europeu, embora o centro de produção se situe na parte asiática da Turquia, no Norte da Ásia Menor (região de Rize).
Mas sempre ouvimos falar do chá dos Açores como sendo único na Europa.
O que acontece nos Açores é que estão há cerca de 140 anos a produzir chá de forma ininterrupta. E as cerca de 40 toneladas que produzem por ano são muito significativas em relação ao que se produz no Minho, na Cornualha ou em Itália, onde a produção é meramente simbólica, pelo menos até hoje.
Uma questão recorrente, tem a ver com os benefícios para a saúde. Há quem diga que faz bem a quase tudo; e há quem garanta não haver evidências científicas disso.
Quando se pensa em benefícios para a saúde, dever-se-á sempre pensar numa perspectiva de prevenção e de longo prazo. Ou seja, o chá não é uma panaceia que cura tudo, nem uma poção mágica que promove a metamorfose de um corpo doente num corpo são de forma imediata. O que o chá tem (em especial o chá verde, oolong e pu-erh) é substâncias benéficas para o corpo, que actuam a longo prazo, como é o caso dos antioxidantes.
E é preciso saber beber chá.
O consumo em excesso não é aconselhado e a selecção dos chás que se consomem (preferencialmente biológicos, para tentar reduzir a carga de pesticidas que possam ter, verde ou oolong) deve ser integrada numa prática de vida saudável. O chá não anula os potenciais efeitos negativos do stress contínuo, da poluição, de uma vida sem objectivos definidos ou sem paixão pelo que se faz e pelas pessoas que nos rodeiam. Por outro lado, o chá também é uma forma de beber água, e esta questão não é de importância menor. Há evidências científicas de que o chá promove a saúde e o bem-estar, mas não há evidências científicas de que o chá tudo cura. Repare que o facto de “fazer chá”, ou seja, de o preparar para nós ou para os amigos, já é, em si, relaxante.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”parallax_image_grid” images=”34232,34233,34234,34235″][/vc_column][/vc_row]De chávena na mão
Em cima da mesa da casa de apoio — rodeados pela plantação — já estão todos os utensílios necessários. E é tudo simples e bonito e especial. A chaleira eléctrica tem regulador de temperatura, por exemplo. “É essencial. Algumas pessoas dizem-me que não gostam de chá verde, porque é muito amargo e adstringente. Mas isso pode só ter a ver com a temperatura e o tempo de infusão”, explica Nina, deixando os valores de referência: 70 ºC se o chá verde for japonês, para 1,5 minutos de imersão. Mas há mais: o bule é de porcelana e a amplitude do coador permite que as folhas tenham espaço entre elas.
O chá de flores, vendido como Florechá no site da Camélia, é muito aromático e elegante, com um adocicado ligeiro. Nina dá-nos depois a provar a criação mais original, ideia do marido: o Pipachá são folhas de chá do tipo oolong, com uma oxidação intermédia (entre o preto e o chá verde), que estagiaram em pipas de Vinho do Porto da Niepoort, durante seis meses. No nariz sobe logo um aroma a passa e tem um final doce. “Há um chef de Macau que gostou tanto que nos leva a maior parte da produção”, diz Nina.
As primeiras experiências da Camélia começaram em pequenos vasos no quintal dos Niepoort, no Porto. Eram cerca de 200 e as plantas foram transplantadas com sucesso para o terreno de Fornelo. Ao todo, Nina diz que hoje em dia terá cerca de um hectare de plantação, contando já com as camélias que acabaram de ser semeadas. À plantação própria somam-se marcas premium que Nina importa, sobretudo do Japão. É o caso dos chás Morimoto, apelido do casal produtor, que já provou e aprovou a Camélia. “Eles têm-nos ajudado com a plantação, vieram visitar-nos. E disseram-nos uma coisa que nos deixou muito satisfeitos: que o nosso chá tem terroir, tem um sabor próprio.”
É esse chá que bebemos, por fim. Não está à venda, ainda é só uma experiência. A colheita foi feita na Primavera e é uma espécie de segredo por revelar. A expectativa sobe à medida que as folhas imergem na água. Sente-se logo um aroma marinho, típico dos melhores chás verdes japoneses. A prova confirma isso: algas, final doce, típico de chás plantados próximos do mar.
Nina olha a nossa expressão de felicidade, agarrando na chávena com as duas mãos. Tem um sorriso aberto. Está quase, está bom.

Edição Nº21, Janeiro 2019

Dirk Niepoort: “Gosto de vinhos que mostrem de onde vieram”

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Dirk Niepoort é uma das mais mediáticas personalidades do vinho português e a sua figura, com os desgrenhados caracóis, o colete sem mangas, os “crocs”, é conhecida de quase todos os enófilos. No entanto, Dirk é muito […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Dirk Niepoort é uma das mais mediáticas personalidades do vinho português e a sua figura, com os desgrenhados caracóis, o colete sem mangas, os “crocs”, é conhecida de quase todos os enófilos. No entanto, Dirk é muito mais do que a sua imagem de marca. É alguém que revolucionou uma empresa familiar, antecipou modas e tendências, acolheu e impulsionou dezenas de pequenos produtores, ajudou a transformar uma região. Mas o que pensa realmente Dirk Niepoort, sobre a vinha, o vinho, o Douro, Portugal? Fomos perguntar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]TEXTO: Luís Lopes
FOTOS: Anabela Trindade[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]Aos 54 anos, Dirk Niepoort já fez muita coisa, mas continua um espírito inquieto. Numa entrevista em que passa em revista o passado, analisa o presente e perspectiva o futuro, deixemos que seja ele a definir o seu estilo, a confrontar as suas opções e a explicar as suas ambições: “A minha forma de aprender é fazer. Quanto mais vinhos fizer mais aprendo.”[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Foi recentemente notícia, junto dos profissionais e dos enófilos mais atentos, a tua aquisição de todas as participações familiares da Niepoort. O que significou para ti este passo?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]A Niepoort vivia uma situação complicada, mas semelhante à que ocorre em muitas empresas familiares: duas pessoas (no caso eu e a minha irmã Verena) com igual peso e responsabilidade ao nível da gestão, mas formas muito diferentes de ver o negócio e as estratégias e caminhos a seguir. Até podemos ambos ter razão, mas não eramos compatíveis e a situação não era saudável para a empresa. Um de nós teria de sair para deixar o outro seguir o seu caminho. Assim, negociámos, chegámos a um entendimento e acabei por seu eu a comprar a empresa. [/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”29357″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Foram momentos difíceis…” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]É verdade. Ao longo da minha vida, a minha prioridade sempre foi a Niepoort. Trabalhar na e para a Niepoort era tudo, esquecendo muitas vezes a minha família, apenas pela satisfação pessoal de estar aqui. A dada altura, porém, fiz um reset, e comecei a dar a prioridade à família, à minha mulher e aos meus filhos, e ao futuro deles e com eles. E percebi que a empresa não era tudo e que, se não me entendia (em termos de gestão empresarial) com a minha irmã, seria pouco provável que os meus filhos e os seus primos se entendessem. Não podia deixar aos meus filhos um foco de problemas. Podia ter sido a minha irmã a comprar e eu iria fazer outras coisas, mas a separação era inevitável. Afinal fui eu que comprei as participações dos meus pais e da minha irmã e agora estou livre para fazer o que quero, quando quero e como quero. E com o apoio da óptima equipa que temos na Niepoort, posso consolidar a empresa para a entregar saudável às próximas gerações.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”A empresa e o sector mudaram muito desde 1990. Na altura, a Niepoort era Vinho do Porto e alguma aguardente. Desde então, o Douro DOC entrou em quase todas as empresas de Porto, mas na Niepoort de forma particularmente radical. Hoje em dia o Porto representa apenas 30% do negócio da firma. O que te levou a trilhar esse caminho? ” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Eu gosto de sonhar e pensar não a dois meses ou dois anos, mas a vinte anos. Mas não sou um visionário, isto foi algo que aconteceu naturalmente. E há uma estória curiosa por trás disso. Em 1987, quando estava a completar a aprendizagem na Califórnia e a voltar para Portugal, uma pessoa amiga perguntou-me se eu ia fazer vinho no Douro. E eu disse que não, o meu objectivo era fazer Vinho do Porto. “Mas vais fazer vinho tinto?”, insistiu. Não sei se dá, posso experimentar, respondi. “E que estilo de vinho vais fazer?” Bom, o meu primeiro vinho vai ser um monstro. Mas, se calhar, daqui a vinte anos farei vinhos elegantes. “E porque não fazes desde logo vinhos elegantes?” Porque a minha escola é a californiana e eu gosto de vinhos pesados, poderosos, com extração e barrica evidente. Mas ouço dizer que há vinhos franceses muito bonitos e elegantes, tenho de conhecê-los, ver se gosto e, se for o caso, aprender a fazer vinhos assim. E foi isto que aconteceu. Quando cheguei a Portugal era uma folha em branco, não sabia de vinho de mesa nem de Vinho do Porto. Precisei de aprender.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Mas já tinhas bem enraizada uma cultura de Vinho do Porto…” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]É verdade, mas nós eramos negociantes, não produtores. Eu não tinha acesso directo à vinha, somente à sala de provas, onde aprendi muito com o Zezé Nogueira, nosso grande provador. No entanto, sempre tive um grande fascínio pelo Douro região, pelo Douro vinha, e quando voltei, em 1987, o meu pai, Rolf, comprou a Quinta de Nápoles. Um ano depois, comprámos a Quinta do Carril. O foco continuava a ser o Vinho do Porto, claro. Curiosamente, não fiquei nada contente, no início, com a compra da Quinta de Nápoles, porque achava que não era o ideal para Porto. Contrariado, fiz lá duas vezes Vinho do Porto, com maus resultados, até nos convencermos todos que a quinta não dava para o pretendido. E, desta forma, fui quase “obrigado” a fazer vinho Douro das uvas de Nápoles. E ainda bem! Foi assim que tudo começou, como que por acaso. Não sei se isto é uma “aldrabice mental” que conto para mim próprio…[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Acho que é…” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text](risos) A verdade é que a partir daí comecei a inventar com o que tinha à mão. Na altura, a Niepoort era uma pequena empresa que não tinha dívidas, mas também não tinha dinheiro, não havia grandes lucros. Eu entrei numa empresa que tinha um bom nome na praça junto dos especialistas, mas eramos uns ilustres desconhecidos para o consumidor. A pouco e pouco fui fazendo experiências com o vinho não fortificado e as coisas começaram naturalmente a crescer e a ganhar peso.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”29373″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”O que é que na altura te atraía para o vinho do Douro?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]No Vinho do Porto não é preciso fazer revoluções, é mais uma questão de evolução. No Porto, a gente “sabe” quais são as vinhas ideais, a gente “sabe” como se faz o vinho, existe um conhecimento transmitido de geração para geração, as mudanças que podemos fazer são detalhes, nada mais. O vinho de mesa do Douro implicava começar do zero, uma revolução total, e esse desafio fascinava-me. Por exemplo, procurava as vinhas altas, mas não sabia porquê. Apenas em 2004, quando fiz o meu primeiro vinho na Áustria, percebi que as vinhas altas faziam sentido. Depois fui descobrindo as vinhas viradas a norte e muitas outras coisas que eram determinantes naquilo que eu queria fazer.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”E, a pouco e pouco, foram nascendo muitas marcas…” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]As pessoas dizem que eu faço vinhos a mais, e não tenho dúvida de que é verdade. Mas há que perceber que na Niepoort existem alguns vinhos (Redoma, Batuta, Charme, e o Porto, claro) que são a base de tudo, o coração da empresa. Os outros vejo-os como satélites, que são fundamentais para experimentar, para aprender, para melhorar, para acertar detalhes. O Diálogo, por exemplo, foi um vinho que começou como um “satélite” e depois se tornou algo de muito importante.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Em resumo, e para responder à tua questão inicial, a Niepoort de hoje nada tem a ver com a Niepoort de há 30 anos, mas isso não se ficou a dever a uma estratégia pensada e executada. Foi a paixão pelo vinho e pelo Douro que fez com que eu seguisse esse rumo.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Douro e Porto são dois produtos com origem da mesma região, diferentes, mas complementares. Como achas que deveria ser o caminho de um e de outro?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Um dos problemas do sector do Vinho do Porto são as casas quererem “democratizar” este vinho como forma de desenvolver o negócio. Democratizar é importante em tudo, mas aqui a democratização transforma-se em banalização. Eu gostava mais de ver o Porto como um produto “snob” e antiquado, elitista se quisermos, mas não banalizado, do que aquilo em que se está a tornar, quando se inventam formas para tentar levar as pessoas a beber um Porto barato em qualquer momento.
O futuro do Vinho do Porto é indissociável do futuro do Douro vinho e do Douro região. A meu ver, deveríamos reduzir a quantidade de Vinho do Porto, deixar a excessiva dependência que temos de Porto barato para supermercados, apostar mais nas categorias superiores (como é o caso dos Colheita), aumentar a qualidade geral e, consequentemente, o preço dos vinhos. O Porto deveria ser encarado como algo de especial, raro, desejável, que não é para todos nem para todos os dias.
[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”E que papel estaria reservado para os vinhos Douro?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Um papel essencial. Porto e Douro são duas faces da mesma região. Se produzirmos menos Porto, mas melhor e mais caro, podemos focar-nos em criar marcas fortes de brancos e tintos durienses. O Douro região precisa de diversas marcas de 300 ou 400 mil garrafas, de vinhos com personalidade e carácter regional, que possam ser vendidos em qualquer parte do mundo. Até em supermercados, claro, mas sem ser baratinhos, até porque os custos de produção na região não o permitem! Vendendo melhor estes vinhos, pode-se pagar melhor ao lavrador e compensá-lo do que irá perder ao vender menos uvas para Porto.
Paralelamente, a região deveria apostar em “vinhos de garagem” para mostrar ao mundo que conseguimos fazer no Douro vinhos tão bons como em Bordéus, Borgonha ou qualquer outra região de topo.
Se fizermos tudo isto e, ao mesmo tempo, implementarmos e generalizarmos no Douro um turismo de qualidade, o futuro da região, das empresas e dos lavradores está garantido. Agora, se continuarmos a baixar preço no Vinho do Porto, o negócio deixará de ser sustentável e toda a região fica a perder. É por isso que acho um disparate dizer-se que o Porto está a subsidiar o vinho do Douro. Se o sector não arrepiar caminho na forma como encara o Vinho do Porto, vai ser o vinho do Douro a ter de subsidiar o Porto para assegurar a sua sobrevivência.
[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”O Douro Superior tem vindo a assumir uma importância crescente, tanto para os vinhos Douro como para os vinhos do Porto. Mas há 30 anos, falava-se com algum desdém do Baixo Corgo e do Douro Superior, apontando-se o centro do vale, o Cima Corgo, como a zona de eleição. Como encaras as três sub-regiões e o seu potencial para Porto e Douro?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]O Cima Corgo, para mim, continua a ser a zona de eleição. Quanto ao Douro Superior… Sei que alguns produtores vão ficar chateados com o que eu vou dizer mas, a meu ver, se o objectivo for fazer vinhos excepcionais (fortificados ou não) o Douro Superior não faz sentido. Haverá uma ou outra excepção, uma ou outra vinha velha nas zonas altas da Mêda, ou o Vale da Teja, por exemplo. Mas, globalmente, o Douro Superior poderá ser bom para fazer grandes volumes, com vinhas modernas de produções acima da média, mas não grandes vinhos.
Já o Baixo Corgo tem um potencial enormíssimo para vinhos Douro, potencial que não está ser devidamente aproveitado pelos produtores. Devia haver muito mais grandes vinhos oriundos do Baixo Corgo, porque o terroir para isso está todo lá. No entanto, não acredito no Baixo Corgo para vinhos do Porto de excelência. Não quer dizer que não exista uma vinha ou outra capaz de originar um grande Porto, mas, regra geral, a sub-região não atinge a complexidade e o equilíbrio que encontramos no Cima Corgo.
No entanto, nós não temos um Douro, temos 40 Douros, com diferenças de altitude e exposição solar, enorme riqueza de castas, é a região mais complexa do mundo. As generalizações podem ser injustas. O Douro tem o melhor fortificado do mundo, já faz grandes tintos e hoje estou convencido que tem um potencial enorme para vinhos brancos. Não há muitas regiões no mundo com três tipos de vinho fantásticos.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Começaste no Vinho do Porto, depois vieram os vinhos do Douro, mais recentemente os investimentos na Bairrada e no Dão. O que procuras fora do universo duriense?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Eu gosto muito do nosso país. Portugal, por diversas razões, políticas e geográficas, ficou parado no tempo em determinada altura. O que é uma desvantagem em muitos aspectos mas pode significar também que preservámos coisas que outros mudaram ou perderam. É um país pequeno, mas com uma diversidade louca. Só no norte do país temos quatro ou cinco importantes regiões de vinho que são vizinhas mas nada têm a ver umas com as outras.
Sempre que fiz qualquer coisa fora do Douro aprendi a conhecer melhor o Douro. A Bairrada aconteceu porque tinha mesmo de acontecer. Sempre gostei muito da Bairrada. Enquanto distribuidor de vinhos vendi vinhos da Bairrada, enquanto produtor fiz diversas experiências na região a partir de vinhas e adegas de produtores amigos. Um dia, a Filipa Pato pediu-me conselho na produção de um vinho fortificado dela e quando a visitei e vi a vinha fiquei maravilhado e pedi-lhe que me deixasse fazer um vinho tinto. As coisas começaram assim e depois apareceu a oportunidade de comprar a Quinta de Baixo, onde eu posso realizar os meus sonhos de fazer vinhos diferentes num terroir diferente.
[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”29375″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Quando te ouço caracterizar um vinho de que gostas quase sempre usas a palavra “finura”. O que é para ti um bom vinho?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Finura, é verdade. E o Nick Delaforce usa uma palavra também muito expressiva que é “drinkability”, vinhos que apetece beber. Outras palavras importantes para mim são “equilíbrio” ou “harmonia”. Eu gosto de vinhos que tenham um perfil que revele a sua origem. Não gosto de vinhos frutados mas gosto de frescura (são duas coisas diferentes), o que implica uma boa acidez natural. Para mim, é também muito importante que sejam vinhos que envelheçam bem, que mostrem a sua idade.
No fundo, gosto de vinhos que respeitem o terroir. Acho que o ser humano, o enólogo, é muito importante, mas acho que deve intervir menos, deve aceitar mais a Natureza e o que a uva lhe dá.
[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Os vinhos que concebes apontam para um perfil definido. Existe um estilo Dirk Niepoort, independentemente da região, da casta, do terroir?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Sinceramente, acho que sim. Muitas pessoas me têm confirmado isso, frequentemente, sem saberem que vinhos estão a provar. Mas percebem o fio condutor, percebem o perfil na ligação que existe entre vinhos diferentes de regiões ou países diferentes. [/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Como definirias esse estilo?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Uma vez alguém me disse que eu marcava muito os vinhos com meu estilo. Fiquei um bocado irritado, confesso, e respondi aquilo que acredito: que na Niepoort o que fazemos, acima de tudo, é respeitar o sítio. E dentro do sítio, temos a nossa interpretação. Não acho que o Douro tenha de ser muito encorpado e alcoólico, nem que o Bairrada tenha de ter muita cor, muito tanino e muita acidez. A minha interpretação do Douro ou da Bairrada não é essa. Por isso, e respondendo à questão, o estilo Niepoort tem três requisitos: vinhos que respeitam o sítio; vinhos com pouca maquilhagem, que apetece beber; e vinhos equilibrados e frescos, com boa acidez. [/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Sempre tiveste um apreço muito especial pelas vinhas velhas e pelos vinhos daí resultantes. Onde é que a vinha velha faz mais diferença?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Sempre gostei de vinhas velhas, quase de forma obsessiva, ao ponto de rejeitar as vinhas mais novas apenas por serem novas. É claro que uma vinha nova num sítio bom, é melhor que uma vinha velha num sítio mau. Mas as vinhas velhas, ou vinhas tradicionais com as castas misturadas, se quisermos, fazem, na verdade, uma diferença enorme. Até no perfil da maturação.
Olhemos para uma vinha moderna, ou seja, feita por engenheiros, segundo os livros, com canópia grande, produzindo muito e uvas com álcool elevado. Se a compararmos com uma vinha tradicional, vemos que a moderna produz primeiro o álcool e depois a maturação fenólica, enquanto nas vinhas velhas acontece o contrário. Ou seja, com vinhas velhas eu consigo vinhos equilibrados com muito menos álcool. Por isso, não tenho problemas em vindimar com 11 graus, porque as uvas estão maduras. Enquanto outros têm de esperar muito tempo pela maturação das uvas e quando vindimam já estão com 16 graus.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”29376″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”O teu interesse pela biodinâmica está intimamente ligado à vinha tradicional?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Sem dúvida. Os lavadores durienses de mais idade, que nos vendem as suas uvas das vinhas tradicionais, já faziam biodinâmica sem o saberem, regulavam todos os seus trabalhos pela lua, só que não o diziam, tinham vergonha disso. Se lhes perguntarmos quando vão engarrafar o vinho que fazem para consumo em casa, eles indicam o dia concreto. E se não engarrafam antes não é por falta de tempo, é por não ser um dia adequado. O que fazem com o vinho, fazem com a vinha. Por isso, na verdade, mais importante do que a idade da vinha é a forma como ela foi plantada e como é tratada. Os antigos não tiravam tudo da terra; eles devolviam à terra. Hoje, tira-se tudo da terra e depois colocamos químicos para compensar.
Se conseguirmos juntar os modernos equipamentos vitícolas e o conhecimento científico de que dispomos, ao conhecimento empírico que as pessoas mais antigas conservam, faremos vinhas e vinhos muito melhores. Não podemos é continuar a plantar as novas vinhas seguindo regras cegas que não têm em conta as alterações climáticas, a qualidade e o respeito pelo terroir.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Achas que essa tendência se vem agravando? É que, cada vez são mais as empresas portuguesas, grandes e pequenas, que assumem estar a recuperar práticas vitícolas tradicionais e sustentáveis…” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Infelizmente, é mais conversa do que outra coisa. Há mais preocupação em falar disso do que em fazer. Mas reconheço que começa a haver algumas pessoas que estão a fazer viticultura orgânica e biodinâmica por paixão, por preocupação ambiental e por acreditarem que a química não é tudo.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Falas de respeito pelo terroir. O que é para ti o terroir, para além da clássica definição francesa? Por exemplo, existe um terroir Douro, ou a palavra só pode ser aplicada a determinadas vinhas ou parcelas?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]A meu ver, o terroir começa por ser o sítio. E esse sítio pode ser uma região inteira, como Chablis, por exemplo, que apesar de ter vários terroirs tem um reconhecível traço comum. Mas é muito mais do que isso.
A vinha alimenta-se da água e dos minerais que estão na terra. Isso transfere-se para a uva. Dessa uva fazemos vinhos. Se não colocarmos mais nada no vinho, nem sequer leveduras, o que vai espelhar o terroir são os desvios causados pela falta ou excesso de elementos no mosto, desvios que vão criar erros de percurso (coisa que irrita os enólogos, que logo pensam em corrigir) na fermentação. Eu quero esses erros, quero que as coisas aconteçam. E são esses erros e desvios que vão evidenciar o carácter desse vinho particular nesse ano particular. Há coisas que são super específicas de uma vinha, mas também outras que são de uma região. O importante é os vinhos dizerem claramente de onde vêm. A enologia moderna acaba por apagar essa impressão digital ao querer corrigir tudo.
[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”És geralmente considerado um dos grandes embaixadores do Douro e dos vinhos de Portugal no mundo. Que hipóteses temos nos mercados de exportação?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Está a acontecer aquilo que eu pensava que ia acontecer, só que levou mais tempo do que previa. Acho que, finalmente, o mundo começa a fartar-se de Cabernet e Chardonnay. O consumidor está a tornar-se um bocadinho mais sofisticado e a aborrecer-se com a simplicidade. E aí é que entra Portugal. O país passou uma fase de modernização cega, copiando aquilo que os outros faziam, estragando a sua identidade. Mas, felizmente, isso está a passar. Portugal é pequeno e não vai ganhar pela quantidade, mas sim pela qualidade e, principalmente, pela individualidade. Não copiar os outros, fazer diferente e correr o mundo a convencer os importadores da mais-valia dessa diferença, dá muito trabalho, mas é o único caminho viável. O consumidor fartou-se da banalização e nós temos as vinhas velhas, temos as castas, temos muita individualidade. Só temos que fazer bem, aproveitar a onda, e vincar a nossa diferença.
É por isso que precisamos de mais vinhos com volume, bem feitos e com alguma personalidade. Também não é preciso exagerar, não é preciso fazer vinho com 1 grama de acidez volátil só porque é diferente. Não é isso que eu defendo. Defendo os vinhos bem feitos e que mostrem o sítio de onde vieram.
[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Aos 54 anos já fizeste muita coisa no mundo do vinho. Olhando para trás, o que é que farias diferente? ” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Haverá muitas coisas que poderia ter feito diferente, mas estou feliz com o que foi feito. Por vezes, pequenos erros colocam-nos num caminho muito melhor do que o inicial. Gosto da grande maioria das coisas que fiz e sou um optimista por natureza. Acho que, se soubermos o que queremos, faremos sempre mais e melhor.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”E o que é que te falta fazer?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Eu disse há algum tempo que daqui a duas décadas, 50% da facturação da Niepoort seria chá. Quase toda a gente achou que eu não estava bom da cabeça. Talvez tenha exagerado com os 50%, mas continuo a acreditar que, um dia, o chá vai ser muito importante para esta empresa. Penso que o sector do vinho, a nível mundial, vai passar por muitas dificuldades, vamos ter restrições políticas cada vez maiores, em alguns países o vinho vai começar a ser tratado como uma droga ou, no mínimo, como algo negativo para a saúde e para a sociedade. Talvez não aconteça na minha geração, mas acredito que a próxima geração de produtores de vinho terá dificuldades acrescidas. [/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”Procuras, portanto, produtos alternativos…” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Por um lado, sim, mas, mais uma vez, tal como quando apostei no vinho do Douro numa época em que a Niepoort era Porto, não estou agora a apostar no chá por ter uma orientação estratégica estudada e planeada. Tem a ver com paixão e paixão antiga, pois sempre me interessei por chá. Há 30 anos tinha o sonho de importar chá verde para a Europa. Nessa altura ninguém sabia o que era isso. Fui à China, procurei fazer negócio, mas fui cedo demais, era um país muito fechado, difícil, estive em locais onde ninguém tinha visto um europeu. Não consegui fazer negócio e desisti.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”29374″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Felizmente, a minha mulher, Nina, também gosta muito de chá e, em conjunto, resolvemos reactivar esse sonho. Trouxemos algumas plantas, que colocámos no jardim em Fornelo, Vila do Conde, onde já temos 1 hectare plantado. Em biodinâmica, claro. Fizemos já algumas experiências e vamos aprendendo, tal como aconteceu com o vinho. Neste ano de 2018 vamos fazer a nossa primeira colheita, e esperamos obter perto de 50kg. Entretanto fizemos já um chá, a partir de folhas trazidas da China, chá esse que envelhecemos em quatro barricas de vinho do Porto. Estamos muito entusiasmados e acreditamos muito neste projecto.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_custom_heading text=”A família é muito importante para ti, a Niepoort é uma empresa familiar, os teus três filhos contactam com o mundo do vinho desde que nasceram. O que esperas deles?” font_container=”tag:h6|text_align:left”][vc_column_text]Não espero nada, quero que eles façam o que lhes apetecer, não pretendo influenciar. Sempre lhes disse para não pensarem que ambiciono vê-los a trabalhar na Niepoort. Eles que decidam o que querem fazer na vida e quando estiverem seguros do que querem, eu cá estarei para tentar ajudá-los a atingir esse objectivo, seja ele qual for.
Ficarei obviamente muito contente se um ou mais de entre eles decidir seguir este caminho, mas acima de tudo quero que eles sejam felizes naquilo que escolherem.

 

Edição Nº17, Setembro 2018

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