Um dia de viticultura na Bacalhôa
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O maior proprietário de vinha em Portugal deu-nos uma lição de viticultura. E os mestres não podiam ser melhores: João Canhoto, o director de viticultura da casa, e o novo administrador da Bacalhôa, Frederico Falcão. TEXTO António […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O maior proprietário de vinha em Portugal deu-nos uma lição de viticultura. E os mestres não podiam ser melhores: João Canhoto, o director de viticultura da casa, e o novo administrador da Bacalhôa, Frederico Falcão.
TEXTO António Falcão
FOTOS Ricardo Palma Veiga
Poucos enófilos imaginam o esforço e dedicação que estão dentro de uma garrafa de vinho. E nos vinhos de 2018 o esforço foi maior do que o normal. Primeiro pela seca de Inverno; depois pela tremenda pressão de doenças fúngicas devido à humidade cálida no final da Primavera; e finalmente por um curto período de intenso calor que, aliado a ventos quentes, ‘queimou’ muitas uvas por esse país fora. É em anos como este que a qualidade das equipas de viticultura assume todo o protagonismo e consegue transformar o que seria uma vindima sofrível numa colheita muitíssimo boa.
Um dos grandes heróis nacionais da viticultura é um quase desconhecido dos enófilos portugueses. Chama-se João Canhoto e é, desde 1990, o director de viticultura da Bacalhôa. É ainda, só por curiosidade, o empregado mais antigo: dos 66 anos de vida, 44 passou-os ao serviço desta empresa (e das suas antecessoras, claro), sempre a cuidar das vinhas. Neste momento, falamos de mais de 1.200 hectares, uma área que coloca destacadamente a Bacalhôa no topo nacional dos proprietários de vinha.
João não tem formação académica na área, mas aprendeu muito com António Avillez, engenheiro agrónomo e um homem com enorme prestígio na vitivinicultura portuguesa. O resto foi a inteligência de saber aprender, o jeito para a coisa do campo e a capacidade de gerir pessoal. A sua vida não é fácil. Com frequência vai às vinhas do Douro, Dão e Beira Interior e faz o percurso num só dia. “Levanto-me cedo e estou às 7h15 na Guarda ou Celorico da Beira, para apanhar o técnico local.” Depois vão ao Dão, a Vila Nova de Tázem. A seguir Douro, na Quinta dos Quatro Ventos. E ainda Figueira de Castelo Rodrigo. Sempre com visitas a vinhas. E finalmente o regresso, muitas vezes a chegar à zona de Azeitão, onde mora, às 21 horas ou, no Verão, bem mais tarde. E já com mais de mil quilómetros no “lombo”! Não surpreende por isso que João Canhoto faça cerca de 80.000 quilómetros por ano. Este é o custo de gerir uma vastidão de vinha e uma equipa com cerca de 60 pessoas![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32699″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Rumo ao campo
Uma equipa da Grandes Escolhas acompanhou durante um dia o trabalho de João Canhoto no campo. Fomos acompanhados pelo novo administrador da Bacalhôa, Frederico Falcão. Com formação e treino em enologia, Frederico não tem qualquer problema em seguir e complementar as explicações de João Canhoto. Pelo meio, muitas conversas sobre viticultura e a maneira de gerir plantas e pessoas.
Por questões logísticas, ficamo-nos pelas duas principais regiões onde a Bacalhôa produz vinho: Península de Setúbal e Alentejo. A primeira paragem foi exactamente na Quinta da Terrugem, ao pé de Borba. A segunda ali ao pé, na Quinta do Carmo, junto a Estremoz. As vindimas decorriam na Terrugem, à mão. Esta quinta é de viticultura difícil porque não tem rega. Mas as uvas mostravam um aspecto são e com poucos indícios de escaldão ou desidratação. Bons sinais. A passagem para a Quinta do Carmo confirma estas impressões. Aqui, quase toda a vindima é feita à máquina e não poderia ser de outra maneira, dada a vastidão de vinha que se estende até ao sopé da Serra da Ossa.
Muita uva tinta estava ainda por vindimar. Na adega, apenas alguma Trincadeira e Aragonez. Tal como no resto do país, as plantas atrasaram muito as maturações: “O grau tarda, mas está a chegar”, atira-nos João. Olhamos para vinha e vemos, mais uma vez, cachos de aspecto saudável. Plantas sadias. Então e os ataques de míldio? De oídio? João Canhoto nem hesita: “Nós conseguimos tratar qualquer vinha em dois dias, no máximo. E é assim aqui, como o é em Azeitão ou nos Loridos, ou em qualquer outra quinta da casa.” De facto, a Bacalhôa possui um vasto parque de máquinas de grande porte. Mas não serviriam para nada se os tratamentos não fossem realizados a tempo e horas. É por isso que João Canhoto tem em todas as quintas encarregados locais que monitorizam o que se passa na vinha e, ao menor indício, faz-se uma intervenção preventiva. Usufruindo do facto de ser um grande cliente, os produtos estão sempre em armazém.
E problemas de escaldão? Aqui é Frederico Falcão quem responde: “Tivemos problemas, mas mais na Península de Setúbal. E mais no Moscatel e no Alicante Bouschet.” João Canhoto acrescenta: “Tivemos um dia com 50 graus e, pior ainda, com vento. Houve plantas quase a morrer. A nossa salvação foi termos deixado muita vegetação e termos usado a rega.” No final, ambos os técnicos estimam que deverá ter existido apenas uma pequena quebra. Os prognósticos não acabam aqui. O tempo corria seco e João Canhoto considera-se satisfeito: “Acho que vamos ter um bom ano de vindima.” Frederico Falcão avisa: “João, olhe que ainda não acabou…” João reconhece os imprevistos da natureza e vira-se para nós: “Pois, é verdade: numa vinha (da Peninsula de Setúbal), uma granizada destruiu 300 toneladas de uvas em duas horas.”[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32700″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A questão da produtividade
A Bacalhôa produz anualmente cerca de 20 milhões de garrafas de vinho. Cerca de 80% do que lá está dentro é resultante de uva própria. O problema da produtividade é por isso muito importante, porque está ligado à competitividade da empresa. Frederico Falcão sabe-o muito bem e foi, aliás, um conhecido paladino desta questão quando era presidente da ViniPortugal. “Não é possível fazer vinhos com produções de 3 ou 4 toneladas por hectare e depois colocá-los nas prateleiras do supermercado a 2,5 euros. Este negócio tem que ser rentável.” João Canhoto concorda e acrescenta que só faz controlos de produção nas uvas que vão para os vinhos de quinta ou de média/alta gama (falamos de PVP’s de 5 a 6 euros, por exemplo).
Verdade seja dita que em muitos solos e climas, com as castas portuguesas, as produções são naturalmente baixas. Isto levanta o problema dos actuais clones e da respectiva (baixa) produtividade, algo que João Canhoto gostaria de ver resolvido: “Falta encontrar clones que consigam manter boa qualidade com produções mais altas.” A conversa é franca e aberta. Várias castas tintas portuguesas são muito sensíveis ao excesso de produção e, por exemplo, com 15 toneladas de uva, dão um vinho muito mau. Diz João Canhoto, que “é o caso do Aragonês”: “Mantemos no máximo nas 7/8 toneladas. A Trincadeira, com 6/7. E outras castas, como o Alfrocheiro, o Castelão/Periquita, também trabalham mal com produções mais elevadas.” Em contraponto, castas como Syrah ou Cabernet conseguem dar bons vinhos com produções de 12 ou mais toneladas. De qualquer forma, existe sempre um diálogo entre João Canhoto e os enólogos de cada região. E depois existem históricos de produção e normalmente sabe-se que uvas vão dar o quê.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32701″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Cuidados com a natureza
Numa altura em que se fala tanto do biológico, aqui o pragmatismo impera. Nenhuma das vinhas está em regime biológico, ou sequer em produção integrada. Mas Frederico Falcão e João Canhoto consideram que existem os máximos cuidados nos produtos escolhidos e nos tratamentos. “Fazemos apenas o estritamento necessário, até porque os produtos são caros”, considera o responsável de viticultura. Frederico Falcão concorda: “Em termos de tratamento, andamos muito perto do que é preconizado na produção integrada, incluindo na existência de cadernos de campo.” Todas as quintas têm, inclusive, uma estação para lavagem das máquinas que fizeram tratamentos, onde a calda resultante é armazenada à parte, impedindo-a de ir para a natureza.
O dia chega ao fim e começamos a perceber o enorme investimento em tempo, conhecimento e dinheiro. Mas não há outro caminho a seguir. Para ser competitiva, uma empresa como a Bacalhôa tem de colocar produtos de boa relação qualidade/preço nas prateleiras das lojas e restaurantes, em Portugal e por esse mundo fora. João Canhoto e a sua equipa estão na base de todo o projecto. Sem o (bom) trabalho deles, o resto ficaria comprometido…
Edição Nº19, Novembro 2018
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
2018, um ano de muitos desafios na vinha
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O ano agrícola começou com a seca do final de 2017, início de 2018, continuou com um final de Primavera e início de Verão com muita humidade e, logo a seguir, um curto período de calor infernal. […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O ano agrícola começou com a seca do final de 2017, início de 2018, continuou com um final de Primavera e início de Verão com muita humidade e, logo a seguir, um curto período de calor infernal. No fundo, extremos climáticos que puxaram pelas capacidades das videiras e pelo conhecimento de viticultura dos seus proprietários. Para não falarmos de capacidade económica para tratar das vinhas…
TEXTO António Falcão
Muita coisa radical aconteceu neste ano agrícola de 2017/2018. Em primeiro lugar, a seca extrema que já vinha de 2017 e que deixava muita gente em pânico já no início do ano. Algumas barragens mostraram os seus fundos como há décadas não se viam; poços e furos secaram; e lençóis freáticos mostraram níveis assustadoramente baixos. O medo subsistiu quase todo o Inverno, um dos mais secos de que há memória. Só no final da estação, já em Março, começou a chover. E, diga-se de passagem, com fartura e em todo o país.
Segundo dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), no território português, o mês de Março está aquase todo pintado de cor-de-rosa, a cor que significa 400% em relação à média (quatro vezes mais!) em termos de pluviosidade! Abril continuou com chuva acima da média. Passou-se quase subitamente da seca extrema para um quase dilúvio. Era raro termos um dia sem chuva neste período. Este fenómeno estendeu-se a praticamente todo o território nacional, com uma regularidade impressionante. Em Maio a chuva abrandou um pouco, mas a precipitação acima da média continuou em Junho.
Ou seja, o Portugal vitícola esteve durante meses sujeito às condições ideais para o ataque das doenças fúngicas, como o míldio e o oídio. A pressão foi tremenda, como há muito não se via nas vinhas portuguesas. Alguns produtos químicos esgotaram. E um famoso técnico do Dão começou mesmo a duvidar da eficácia dos químicos para combater estas doenças. Porque os testou, lado a lado.
A pressão foi tão grande que um atraso de um dia nos tratamentos poderia significar prejuízos de monta. Isso pressupunha que o viticultor saberia quando e como fazer o tratamento. E depois que o conseguisse fazer em tempo útil. E ainda que tivesse dinheiro ou capacidade financeira para os fazer: os tratamentos são caros em mão-de-obra, máquinas e produtos. Se a vinha é de um produtor que engarrafa e tem marca própria, e ganha dinheiro com isso, o problema é resolúvel. Para um viticultor que vende a uva a preços ‘muito à pele’, o custo dos tratamentos não se justifica. É tão simples como isso. E vários produtores por esse país fora ficaram com a vindima já feita…[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32054″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Do ‘Inverno’ para o ‘Inferno’
Mas continuemos com notícias menos boas. Primeiro, com o excesso de precipitação e temperaturas mais amenas do que o normal, todo o ciclo da videira se atrasou: nuns sítios duas semanas, noutros três, em alguns um mês inteiro. E depois outro fenómeno: durante a luta titânica contra as doenças fúngicas, que durou largas semanas, alguns viticultores optam por desfolhar as videiras, expondo os cachos ao vento para assim secarem mais depressa, atrasando ou mitigando o ataque dos fungos, esses bichos avessos à secura. Infelizmente, o período de chuva terminou quase abruptamente na primeira semana de Agosto, para dar lugar a um inferno de calor, mais uma vez por todo o país. Com temperaturas a bater recordes históricos em várias zonas, muitos cachos expostos ficaram ‘escaldados’ ou desidratados. Vimos por esse país fora cachos completamente em passa, muito antes de estarem maduros.
Os estragos ocorreram em quase todo o país, mas a pressão foi bem mais intensa nas regiões atlânticas, as mais frescas e menos habituadas a calores extremos. E foi sobretudo crítica nas vinhas em terras de areia (com maior reflexo dos raios solares) e videiras com os cachos mais baixos, mais perto da fonte de calor do solo. Na região de Lisboa, por exemplo, os prejuízos foram consideráveis, como nos confirmou Bernardo Gouvêa, o presidente da CVR de Lisboa. Na Península de Setúbal, ocorreram grandes estragos no Moscatel e, em menor volume, no Castelão. A 7 de Agosto, a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela estimava prejuízos de 30 a 35%. Nos solos mais secos e pobres, salvou-se quem tinha rega e a usou. A água foi aqui determinante.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Mais atrasos na maturação
Como se isto já não fosse maldade suficiente, o calor extremo obrigou as videiras a ‘parar’, fechando os estomas. O que provocou mais atrasos nas maturações. Note-se que o facto de as maturações estarem atrasadas não é, por si só, preocupante. Só passa a ser mau quando provoca uvas desequilibradas (bagos verdes e maduros no mesmo cacho, por exemplo) e sobretudo quando a vindima é apanhada pelas chuvas de Setembro e Outubro. Coisa que, felizmente, não se verificou até ao fecho desta reportagem (finais de Setembro).
De facto, o resto de Verão foi quase todo quente e seco. O mês de Agosto, por exemplo, teve temperaturas máximas muito acima da média de 1971-2000 (entre 2,5 graus e 3,5 graus!) e Setembro não andou longe. Mesmo as mínimas foram acima da média: ou seja, faltaram noites frescas durante a maior parte do Verão. Estas noites são bem-vindas para a manutenção de bons teores de ácidos na uva, que asseguram vinhos frescos, gastronómicos e com capacidade para durarem vários anos.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32055″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Um ano para profissionais
Pelo que se disse atrás, parece que 2018 foi um ano vitícola muito fraco. E na verdade não foi. Porque felizmente existem cada vez mais e melhores profissionais nas vinhas. Todos os anos dizemos isto, mas a verdade é que, quanto mais duras forem as ameaças à vinha, mais importante se torna a aplicação dos bons conhecimentos e da capacidade de resposta das empresas.
Todos os profissionais por nós visitados/consultados nos confirmaram os perigos que a Natureza lhes lançou este ano agrícola. A diferença esteve fundamentalmente na atempada detecção das ameaças e na rapidez com que foram resolvidas. Quem tem meios para saber, decidir e reagir, sofreu muito menos. Por exemplo, vimos várias vinhas com graves prejuízos de míldio e outras, ali perto, com quase nada. O mesmo aconteceu com o escaldão do início de Agosto. A sorte também fez parte desta equação, mas está na proporção inversa das capacidades de conhecimento e de intervenção.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Um grande ano nos Açores
A maior excepção a este panorama ocorreu nos Açores, com um ano extraordinariamente seco, batendo recordes de há mais de um século. Isso mesmo nos disse Paulo Machado, ex-presidente da CVR dos Açores e produtor na ilha mais vitícola dos Açores, o Pico. A vindima das castas brancas – Verdelho, Terrantez e Arinto, por exemplo – estava terminada antes de Setembro, coisa nunca vista. Os enólogos António Maçanita e Bernardo Cabral, que controlam vastas áreas de vinha no Pico, confirmam isto. Excelentes uvas, com excelentes vinhos em perspectiva.
No continente, quando escrevemos este artigo, só uma parte das castas brancas tinha sido vindimada e vinificada, especialmente nas regiões mais quentes do país, como o Douro Superior e o sul. As uvas tintas estão muito atrasadas e só no fecho desta edição começavam a chegar às adegas. É por isso muito prematuro falar de qualidade e quantidade, seja nos brancos, seja nos tintos. Deixaremos isso para a próxima edição, quando deverão existir já muitas uvas colhidas e vários mostos fermentados.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
Edição Nº18, Outubro 2018
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
A Rega da Vinha
É Verão. As plantas têm sede, a vinha é regada. Até há poucos anos a vinha era uma cultura de sequeiro. Hoje, podemos considerar que é uma cultura de regadio. Stress Hídrico A falta de água provoca na videira um stress hídrico que, em casos extremos, pode dificultar o correcto amadurecimento das uvas, provocando mostos […]
É Verão. As plantas têm sede, a vinha é regada. Até há poucos anos a vinha era uma cultura de sequeiro. Hoje, podemos considerar que é uma cultura de regadio.
Stress Hídrico
A falta de água provoca na videira um stress hídrico que, em casos extremos, pode dificultar o correcto amadurecimento das uvas, provocando mostos desequilibrados que requerem maior ou menor correcção antes de iniciarem o processo fermentativo. Para uvas de grande qualidade procura-se que a videira passe por algumas horas diárias de stress hídrico moderado durante a fase de maturação. É nas horas de maior calor que a videira estará sujeita a este stress hídrico.
Rega de Precisão
O desenvolvimento das técnicas de irrigação modernas permite aos viticultores monitorizar com grande rigor a dotação de água à cultura da vinha. Procura-se facilitar o ciclo vegetativo nas suas várias fases. Hoje, podemos quase afirmar que existem técnicas de irrigação para as várias gamas e preços de vinho. Têm em conta a superfície foliar da sebe, as castas, o tipo de solo, o débito do gotejador etc, etc.
Câmara de Pressão de Sholander
Uma das técnicas mais eficazes para avaliar o stress hídrico das videiras é medir a pressão estomática nas folhas, através da Câmara de Pressão Sholander. Esta medição é feita a horas pré-determinadas do dia. Estes resultados, interligados com os vários factores que geram stress hídrico (evapotranspiração, potencial de base etc.), permitem disponibilizar dotações de água muito próximas do que a planta precisa para gerir um stress hídrico de acordo com os objectivos de qualidade do produtor.
Os Puristas e o Terroir
Contudo, conseguimos ainda encontrar produtores de vinho que renegam a rega da vinha, uma cultura milenar que até há poucos anos nunca necessitou de qualquer dotação humana de água para produzir todos os vinhos que fizeram a história da nossa civilização.
Utilização de cobre na vinha pode ser sujeita a restrições
Não é segredo para ninguém que os produtos à base de cobre são largamente utilizados na agricultura biológica, em especial na vinha e para o tratamento do míldio. O cobre como protector é conhecido desde os finais do século XIX. Ora, investigações recentes sobre o teor de cobre nas vinhas fizeram soar o alerta: esses […]
Não é segredo para ninguém que os produtos à base de cobre são largamente utilizados na agricultura biológica, em especial na vinha e para o tratamento do míldio. O cobre como protector é conhecido desde os finais do século XIX. Ora, investigações recentes sobre o teor de cobre nas vinhas fizeram soar o alerta: esses teores são demasiado elevados e, segundo disse a um site francês a especialista Maxime Davy, “este elemento pode gerar efeitos negativos sobre os auxiliares ou as culturas, porque é fitotóxico”.
Como todos os produtos para a protecção de plantas, o cobre deve submeter-se a uma inscrição ao nível europeu, ao que se segue uma homologação ao nível de cada país. Neste momento o cobre está classificado como substância candidata à substituição; ou seja, se aparecerem outras soluções alternativas, o cobre pode ser proibido.
No início do ano, o cobre sujeitou-se a uma nova aprovação, mas a decisão foi adiada a pedido da França e da Alemanha. A partir de agora, existem três possibilidades: as soluções à base de cobre são reprovadas; ou são aprovadas com restrições (dose anual, período de utilização, etc); ou ainda, finalmente, a Europa pode deixar as condições de aprovação a cada um dos estados, o que iria certamente provocar diferenças concorrenciais.
Ora, o problema é que não existe neste momento uma boa alternativa para o cobre na agricultura biológica. Maxime Davy fala então de “combinar soluções de efeito parcial”. Ou ainda recorrer a novas formulações, a programas de ajuda à decisão, ao bio controlo ou aos ‘bio estimulantes’. Para ver uma comunicação sobre o correcto uso de formulações com cobre aponte para o site http://www.advid.pt/imagens/comunicacoes/13639703968280.pdf, realizado por J.R. Ribeiro. (AF)