Vinhos portugueses brilham no 30º Concurso Mundial de Bruxelas

A trigésima edição do Concours Mondial de Bruxelles (Concurso Mundial de Bruxelas) encerrou há poucos dias, em Poreč, na Croácia, e os resultados já foram divulgados. Portugal destacou-se com um impressionante número de medalhas: 337, entre 900 vinhos inscritos. Entre os dias 12 e 14 de Maio, este que é um dos mais prestigiados concursos […]
A trigésima edição do Concours Mondial de Bruxelles (Concurso Mundial de Bruxelas) encerrou há poucos dias, em Poreč, na Croácia, e os resultados já foram divulgados. Portugal destacou-se com um impressionante número de medalhas: 337, entre 900 vinhos inscritos.
Entre os dias 12 e 14 de Maio, este que é um dos mais prestigiados concursos de vinho do Mundo reuniu especialistas de todo o sector vitivinícola internacional para avaliar mais de 7500 vinhos tintos e brancos, provenientes de quase 50 países. Entre os vencedores, estão vinhos dos cinco continentes, tanto de países com muita história na produção de vinho, como de origens mais surpreendentes, incluindo Índia, Cazaquistão e Albânia.
A Península Ibérica e a França lideraram o concurso. Espanha, mais especificamente a região de Aragão, teve um desempenho notável, com uns impressionantes 42% de vinhos premiados. Bordéus, por sua vez, foi a região mais representada e premiada do Concurso Mundial de Bruxelas, com 256 vinhos distinguidos.
Dos 337 vinhos portugueses premiados, o Ravasqueira Vinha das Romãs tinto 2020, do Alentejo, obteve Grande Medalha de Ouro e destacou-se como “Vinho Tinto Revelação de Portugal”. Também o Herdade de Ceuta Reserva rosé 2021 mereceu Grande Medalha de Ouro e a distinção “Vinho Rosé Revelação de Portugal”.
Portugal destacou-se, ainda, com a empresa mais premiada ao longo dos anos, a Casa Santos Lima, que participa na competição desde 2008. Até hoje, o produtor inscreveu 755 vinhos e conquistou mais de 300 galardões. Este ano, a Casa Santos Lima recebeu 23 medalhas, num total de 35 vinhos inscritos, incluindo uma Grande Medalha de Ouro e 9 Medalhas de Ouro.
A lista completa de vinhos portugueses premiados no 30º Concurso Mundial de Bruxelas pode ser consultada AQUI.
Concurso Escolha do Mercado: Anúncio de vencedores

O Concurso Escolha do Mercado é o maior concurso de brancos feito em Portugal com quase 500 vinhos em prova. A grande novidade do consurso deste ano é que os vinhos vencedores vão estar em prova pública aberta a profissionais no dia 5 de Junho no Hotel Vila Galé Ópera, em Lisboa. Se é profissional […]
Já estão online todos os resultados. A Grandes Escolhas felicita todos os premiados!
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Quinta da Atela: Novo brilho para o produtor da Charneca

A história do projecto Quinta da Atela, em Alpiarça, teve algumas flutuações, ao longo de várias décadas e de um punhado de proprietários. Enquanto “quinta”, foi formada em 1346 para os Condes de Ourém, tendo sido doada, mais tarde, ao Convento da Graça de Santarém dos Agostinhos Calçados, ainda sob o nome Quinta da Goucha. […]
A história do projecto Quinta da Atela, em Alpiarça, teve algumas flutuações, ao longo de várias décadas e de um punhado de proprietários. Enquanto “quinta”, foi formada em 1346 para os Condes de Ourém, tendo sido doada, mais tarde, ao Convento da Graça de Santarém dos Agostinhos Calçados, ainda sob o nome Quinta da Goucha. Em linha com as tradicionais propriedades da região do Tejo, é extensa, com um total de 580 hectares, e tem englobado, além da vinha, outras actividades agrícolas e exploração de gado, que se mantém actualmente. Aqui encontra-se, por exemplo, a maior mancha de salgueiro-negro da Península Ibérica. Como foi também comum em Portugal, a Quinta da Atela viu-se ocupada após o 25 de Abril e foi devolvida aos donos 10 anos depois, pelo Ministério da Agricultura, em muito mau estado, como seria de esperar. Um mal que veio “por bem”, levando a uma total reabilitação por parte do então proprietário Joaquim Manuel de Oliveira, membro da família que fundou a Izidoro, gigante do sector agro-alimentar. Os anos 90 foram, assim, um marco importante no percurso da Quinta da Atela, com as adegas e edifícios de armazenamento renovados, e a contratação, em 1997, do enólogo António Ventura. Aqui, o projecto de vinhos desta propriedade situada na zona da Charneca — um dos três principais terroirs do Tejo — ganhou outra vida, momento também de enorme relevância para a construção do actual sucesso do mesmo. Joaquim de Oliveira era “francófilo” assumido, revelou António Ventura, algo que contribuiu bastante para o ADN do negócio e objectos de investimento. O enólogo acabaria por se afastar alguns anos mais tarde, no seguimento da morte, em 2012, de Joaquim de Oliveira, sem imaginar que não seria a última vez que entraria na Quinta da Atela numa posição profissional…
Após um período de gestão um pouco mais tremido, que levou mais uma vez à degradação do espaço, a Quinta da Atela foi adquirida em 2017 pelos actuais proprietários, Anabela Tereso e Fernando Vicente, administradores da Valgrupo, empresa dedicada à criação e abate animal de suínos, bovinos e aves, e à transformação e comercialização de produtos alimentares. “Inicialmente foi o meu marido que se interessou pela propriedade, e quando me trouxe a primeira vez à quinta, ela já estava praticamente comprada. Mas o estado de degradação era tal, que eu não consegui ficar logo entusiasmada”, contou-nos Anabela Tereso, que acabou por assumir a orientação das obras de reabilitação (na verdade, foi mais uma revolução) e a criação da marca e imagem do projecto, com um cunho muito pessoal. Foi desta forma que se apaixonou por ele, ao reconstruí-lo, como nos confessou a empresária que é hoje a cara da Quinta da Atela. Com especial talento para a estética das coisas, Anabela Tereso faz-se acompanhar de uma aura de profissionalismo e dedicação, às pessoas e ao trabalho, e de uma enorme vontade de aprender. “Não percebo nada de vinho, mas gosto de ver as coisas bem feitas”, declarou, sem falsas modéstias. Self made woman, dedicou-se muito cedo à suinicultura e, juntamente com Fernando Vicente, com quem se casou aos 18 anos, criou sucesso empresarial na área agro-pecuária, que culminou na criação da Valgrupo. Sem pudores desnecessários, partilha que passou a sua lua-de-mel a cuidar de uma ninhada de suínos. A mesma tenacidade acompanha-a até à data, e a Quinta da Atela impressiona hoje pelo aspecto premium e sério, tendo já recebido, em 2022, a distinção de Melhor Enoturismo do Tejo.
O regresso da boa-ventura
Com o anterior proprietário, António Ventura desenhou os vinhos da Quinta da Atela, desde a escolha das castas a plantar ao perfil do produto engarrafado, factos que o levaram a conhecer a quinta, como o próprio diz, como a palma da sua mão. Esta foi uma das razões que levaram o enólogo a aceitar o convite, por parte de Anabela Tereso e Fernando Vicente, para regressar ao projecto ribatejano em 2020, como enólogo consultor, trabalhando com o enólogo residente Bruno Castelo. Os 130 hectares de vinha da propriedade (100 em plena produção) têm, como já referido, a impressão digital de António Ventura e da “francofilia” do antigo dono, juntamente com parcelas já plantadas pela nova administração, num encepamento equilibrado entre castas tradicionais ou comuns na região e outras de origem francesa, com a excepção da franco-alemã Gewürztraminer, que na altura se tratou de uma insistência pessoal do enólogo (e que acabou por se revelar surpreendentemente adaptada à zona): Fernão Pires, Arinto, Viosinho, Verdelho, Chardonnay, Sauvignon Blanc; Castelão, Touriga Franca, Pinot Noir, Trincadeira Preta, Alicante Bouschet, Caladoc, Aragonez, Syrah, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Marsellan, Alfrocheiro e Sousão são as variedades com expressão na quinta. Há, também, uma vinha velha com 75 anos e 20 hectares, a “Carvalhita”, com predominância, naturalmente, de Castelão, a uva tinta mais emblemática do Tejo. A vinha da Carvalhita é velha, mas nada tem de decrépita, e mostra ainda um vigor admirável. Além de vinhos tintos, esta parcela destaca-se por ter dado origem a um dos rosés mais recentes da casa. Os solos, por sua vez, são bastante arenosos, com algumas manchas argilo-arenosas, com características de transição entre Charneca e Campo. Também a fazer a ponte entre o passado e o presente, o produtor lançou muito recentemente a aguardente vínica velhíssima Capela da Atela XO 20 Anos, com certificação DOC DoTejo, uma aguardente produzida a partir de uvas de Fernão Pires que estagiou durante 20 anos em barricas de diferentes origens. De elevadíssima qualidade, esta velhíssima foi feita no alambique Charentais instalado ainda por Joaquim Manuel de Oliveira, cuja admiração por “tout ce qui est français” incluía uma grande atracção por Cognac. Adicionalmente, o portefólio do produtor tem no seu core as marcas Casa da Atela, sobretudo para os monovarietais, e Quinta da Atela, para os vinhos de lote e outros produtos, como os vinhos licorosos. Óptima surpresa são também os dois espumantes Casa da Atela, um Chardonnay e um Pinot Noir de excelente nível. Os varietais brancos mostram bastante frescura natural e harmonia, e são bem fiéis a cada casta. Todos têm 20% de barrica menos o Gewürztraminer, que só passa por inox. “Actualmente preferimos barricas de 500 litros, e estamos gradualmente a substituir as mais pequenas pelas de maior formato. Queremos uma melhor integração da madeira e menos marcação aromática”, adiantou-nos António Ventura. A adega tem partes completamente renovadas — onde se encontram as cubas verticais, rotativas e cubas-lagar — e outras antigas (centenárias) e preservadas para armazenamento ou valorização histórica.
A Quinta da Atela, que faz vinho somente a partir das suas uvas, vinifica 1 milhão de litros e produz cerca de 200 mil garrafas em nome próprio. De acordo com Anabela Tereso e António Ventura, o objectivo é crescer em área de vinha, com planos para chegar aos 150 hectares em plena produção. Para já, o principal mercado é o nacional, mas a ideia é atingir uma situação próxima da equiparação entre este e a exportação. Ao abrigo dos actuais proprietários e administradores apenas desde 2017, e com enologia de António Ventura desde 2020, este pode, praticamente, ser considerado como um projecto novo no Tejo. E tanto que já aqui foi feito.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2023)
Rocim lança copos Jancis Robinson em Portugal

Da ligação entre Catarina Vieira e Pedro Ribeiro, enólogos e proprietários da Herdade do Rocim, a Jancis Robinson, nasceu a representação em Portugal, por parte do Rocim, dos copos assinados pela conceituada crítica de vinhos. Com um design elegante, criado pelo designer britânico Richard Brendon, a colecção Jancis será oficialmente lançada em Portugal no dia […]
Da ligação entre Catarina Vieira e Pedro Ribeiro, enólogos e proprietários da Herdade do Rocim, a Jancis Robinson, nasceu a representação em Portugal, por parte do Rocim, dos copos assinados pela conceituada crítica de vinhos.
Com um design elegante, criado pelo designer britânico Richard Brendon, a colecção Jancis será oficialmente lançada em Portugal no dia 29 de Maio, num evento que contará com a presença de Jancis e Richard e terá lugar no Hotel Pestana Palace.
“Este novo copo quer maximizar o aproveitamento dos aromas, sabores e texturas de todos os vinhos disponíveis no mercado, da forma mais prática e simples possível. Nesse sentido, os copos apresentam um bojo bastante característico, em forma de tulipa, um rebordo ultrafino, mas extremamente resistente, e uma silhueta distinta. Todos os pormenores foram pensados ao detalhe, como a altura da haste do copo, ideal para que os consumidores possam pegar no mesmo, sem sobreaquecer o vinho, abaná-lo e, assim, poderem sentir toda a mistura de aromas. Durante a prova, a proximidade entre o apreciador e o vinho funde-se ainda mais, dada a espessura fina do vidro, que permite eliminar qualquer barreira entre ambos, dando a sensação de que, efectivamente, se está a mergulhar no vinho”, pode ler-se no comunicado de imprensa.
Cada copo de vinho desta colecção foi desenhado por mestres artesãos eslovenos, que seguiram o design de Richard Brendon, concebido com orientações de Jancis Robinson.
“Estamos incrivelmente orgulhosos dos copos que lançamos. São considerados, por prestigiados especialistas do sector, os melhores copos de vinho. E, além disso, ainda podem ser encontrados em alguns dos melhores restaurantes e bares de todo o Mundo. Só podemos estar realmente muito felizes”, afirmam os promotores.
Concurso Melhores Vinhos do Alentejo premiou 26 referências

O Concurso “Melhores Vinhos do Alentejo”, promovido pela Confraria de Enófilos do Alentejo e apoiado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, anunciou os vencedores da sua última edição, que contou com a participação de 51 produtores de diversas zonas e sub-regiões, totalizando 136 vinhos alentejanos na competição de 2023. O painel de jurados, composto por 25 […]
O Concurso “Melhores Vinhos do Alentejo”, promovido pela Confraria de Enófilos do Alentejo e apoiado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, anunciou os vencedores da sua última edição, que contou com a participação de 51 produtores de diversas zonas e sub-regiões, totalizando 136 vinhos alentejanos na competição de 2023.
O painel de jurados, composto por 25 especialistas do sector, destacou 26 referências, tendo sido concedidas três medalhas de ouro, três de prata e três de bronze, além de 17 menções honrosas em cada categoria de vinho: branco, tinto e rosé.
Na categoria de vinho branco, a medalha de ouro foi para o Herdade de São Miguel Esquecido 2021, produzido pela Casa Relvas. Já o Cartuxa Reserva 2017, da Fundação Eugénio de Almeida, recebeu a medalha de ouro na categoria de vinho tinto. Também o rosé Maré Viva 2022, da Adega Cooperativa de Redondo, conquistou a medalha de ouro na respectiva categoria.
No segundo lugar do “pódio”, os vinhos Paulo Laureano Private Selection branco 2019, da PL Wines; Herdade de São Miguel rosé 2022 da Casa Relvas; e Herdade das Servas Reserva tinto 2017, da Serrano Mira, conquistaram medalha de prata.
Com a medalha de bronze, foram premiados os vinhos Margaça Reserva branco 2021, da Sociedade Agrícola de Pias; Convés rosé 2022, da Enolea; e Monte Cascas Grande Reserva tinto 2015, da Casca Wines.
Quinta do Noval declarou Porto Vintage 2021

Num comunicado de Christian Seely, director-geral da Quinta do Noval, a empresa anunciou o lançamento de três vinhos do Porto Vintage 2021: Quinta do Noval Nacional Vintage, Quinta do Noval Vintage e Quinta do Passadouro Vintage. “Estou muito feliz por poder anunciar a declaração de três vinhos do Porto Vintage excepcionais, do ano de 2021 […]
Num comunicado de Christian Seely, director-geral da Quinta do Noval, a empresa anunciou o lançamento de três vinhos do Porto Vintage 2021: Quinta do Noval Nacional Vintage, Quinta do Noval Vintage e Quinta do Passadouro Vintage.
“Estou muito feliz por poder anunciar a declaração de três vinhos do Porto Vintage excepcionais, do ano de 2021 […]. As condições meteorológicas em 2021 contrastaram vivamente com as do ano anterior. Um Inverno húmido e a precipitação regular no mês de Abril repuseram totalmente os níveis de água tão necessários no solo. A floração precoce em Maio foi seguida de um mês de Junho muito quente, com alguns períodos de trovoadas e granizo, que felizmente não afectaram as nossas vinhas.
Julho e Agosto foram meses amenos e soalheiros, sem o calor extremo ou o stress hídrico a que assistimos em alguns dos últimos anos. Isto permitiu um amadurecimento lento e homogéneo das uvas, em excelentes condições. Começámos a vindima das uvas tintas a 26 de Agosto. Devido a alguma chuva no início de Setembro, suspendemos a vindima durante três dias, após os quais retomamos com tempo ensolarado e temperaturas amenas, que permitiram um desenvolvimento fenólico positivo constante até ao final da vindima, a 8 de Outubro. Não se registaram picos nas leituras de açúcar, o que nos permitiu aguardar pela maturação ideal em cada parcela.
Os resultados foram excelentes para várias parcelas de Touriga Nacional, Touriga Francesa e Sousão. O Nacional e várias outras parcelas de vinha velha estavam excepcionais.
Os vinhos exibem uma acentuada individualidade estilística, reflectindo as condições particulares do ano, muito elegantes e equilibrados, com uma grande subtileza e aromas florais e de frutas silvestres muito puros. Fortemente aromático, com taninos finos, densos e firmes, a pureza da fruta, a elegância e o equilíbrio estão entre as características mais impressionantes deste belíssimo ano Vintage.”
Peter Eckert: o autodidata da Quinta da Marias

Peter Eckert veio pela primeira vez a Portugal de férias, logo a seguir ao 25 de Abril, quando a Revolução dos Cravos ainda se fazia sentir nos rostos dos portugueses. Gostou tanto que quis voltar, o que fez em trabalho, quando veio gerir a Companhia de Seguros Metrópole, hoje Zurique, no nosso país. Oito anos […]
Peter Eckert veio pela primeira vez a Portugal de férias, logo a seguir ao 25 de Abril, quando a Revolução dos Cravos ainda se fazia sentir nos rostos dos portugueses. Gostou tanto que quis voltar, o que fez em trabalho, quando veio gerir a Companhia de Seguros Metrópole, hoje Zurique, no nosso país. Oito anos de trabalho intenso, que o levaram aos quatro cantos do país, reforçaram as suas ligações ao território e às suas pessoas. De tal forma que decidiu investir num terreno na região do Dão, onde pretendia passar a reforma com sua mulher Elisabeth. Pelo menos parcialmente, já que hoje, 15 anos depois de se ter jubilado da sua companhia, reparte o seu tempo entre a Suíça e a casa beirã onde possui 12 hectares de vinha. Ela estava lá, abandonada, quando comprou a primeira parcela de terra. Talvez por isso tenha decidido substituí-la por uma vinha nova, naquela altura com dois hectares, e começar a produzir vinho. Com muito experimentalismo à mistura, alguns erros pelo meio e muito estudo em livros da especialidade, o proprietário da Quinta das Marias foi produzindo vinhos com qualidade crescente, até se tornar uma referência incontornável entre os vinhos do Dão. O seu Touriga Nacional é, talvez, o melhor exemplo disso. Mais recentemente, a entrada do enólogo Luís Lopes, o actual responsável pela produção de todos os vinhos desta casa, veio acrescentar um toque ainda mais experimentalista, naquilo que tem sido a essência e, talvez, a principal razão do sucesso desta empresa familiar.

Tudo começou na Índia
Peter Eckert nasceu em Fevereiro de 1945 em Berna, na Suíça, “no mesmo sítio e ano do nascimento de D. Duarte, o duque de Bragança”, como gosta de salientar. Trabalhou durante muitos anos na companhia de seguros Zurique, para onde veio como gestor em 1980, quando ainda se chamava Metrópole em Portugal. Mas conta que a primeira vez que ouviu falar do nosso país foi há muito mais anos.
Aconteceu em 1967, quando fez uma viagem entre a Suíça e a Índia num Citroen 2CV, atravessando a Turquia, Irão e Afeganistão antes de entrar na Índia pelo Nepal. Depois percorreu o país até ao sul, onde se cruzou com um padre, de que não se lembra o nome, que o incentivou a rumar a Goa, “por ser um lugar fantástico”. E foi o que fez.
Depois de ter entrado na cidade pelo sul, esteve por lá durante duas semanas a conhecer as suas pessoas e recantos antes de reiniciar a viagem. Durante esse tempo foi, entre outras coisas, convidado por locais para frequentar o Clube Vasco da Gama, onde lhe contaram como era a vida no tempo em que Goa ainda era portuguesa e ouviu pela primeira vez cantar fado. “Naquela altura, as pessoas de lá ainda viviam como se o território pertencesse a Portugal, apesar de isso não acontecer, e algumas diziam-me que o seu único sonho era visitar Lisboa”, conta. Diz, também, que foi durante esse período que se interrogou, pela primeira vez, como é que um país tão pequeno como Portugal, com uma população mais ou menos semelhante à da Suíça, deixara marcas tão profundas em Goa, que as pessoas até falavam de forma completamente diferente do resto dos indianos. Foi algo que o deixou curioso, e com vontade de conhecer Portugal, que visitaria apenas em 1974 pela primeira vez. Dessa altura, quando tinha acabado de acontecer a Revolução dos Cravos, Peter Eckert lembra-se “da alegria das pessoas por se sentirem livres”, e nunca esqueceu a canção Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso, talvez por a ter escutado tantas vezes.
O início da história no Dão
Em 1980 veio para Portugal gerir a seguradora Metrópole e diz que aproveitou bem a estada de oito anos no país. “Fiz mais de 60 mil quilómetros nas estradas portuguesas para visitar os agentes da empresa”, revela, explicando que “é importante fazê-lo, porque são eles que vendem e distribuem os seguros”. Acrescenta que gostou muito, e ainda gosta, de viver em Portugal, onde construiu amizades que ainda perduram. De tal forma que pediu ao delegado da Metrópole em Viseu, quando foi transferido para a Austrália, para lhe procurar um terreno na região para passar a sua reforma.
Alguns anos depois, quando voltou à Suíça para ocupar um lugar na Direção Geral do Grupo Zurique, perguntou-lhe se tinha encontrado alguma propriedade. E ele respondeu-lhe que tinha uma pequena quinta para ele, cujo terreno e a casa estavam abandonados. A aquisição deu início à história da produção de vinhos de Peter Eckert no Dão, naquela que se tornou a Quinta das Marias, por ser o nome comum da mulher Elisabeth e das suas filhas Ester, Isabel e Julia.
A propriedade estava abandonada e era preciso remover a vegetação que a cobria e lavrar a terra. Por isso, a primeira coisa que fez foi comprar um tractor. Mas precisava que alguém o conduzisse. Após algum tempo, encontrou quem o fizesse na junta de freguesia local, António Lopes. E foi ele que realizou os trabalhos de surriba para a plantação da vinha da Quinta das Marias, que deu origem às primeiras uvas dois anos depois. “Foi nessa altura que construi a primeira adega, aquela onde fica hoje o enoturismo, que tinha uma cave onde ficavam os lagares e as cubas de inox”, conta Peter Eckert, que vivia na altura na Suíça, onde trabalhou até 2007, ano em que se reformou. Hoje todos os trabalhos de vinificação, estágio e engarrafamento são feitos numa outra, a pequena distância deste edifício. Naquela altura o gestor vinha a Portugal sobretudo durante as férias, com a família, deixando os cuidados das vinhas a António Lopes, e a supervisão da evolução dos vinhos ao enólogo António Narciso.
Os primeiros destaques
No ano em que se reformou, quando decorreu uma prova de vinhos do Dão em Lisboa, decidiu estar presente, com a sua mulher, a representar a sua casa. Era a primeira vez que o fazia e, por isso, estranhou que a sua mesa fosse frequentada por muito mais pessoas do que as suas vizinhas. Depois soube que o director de uma das revistas da especialidade tinha indicado, a sua mesa, como aquela onde se encontrava o melhor Touriga Nacional do Dão. “Isso deu-nos um grande empurrão, até porque a seguir fomos a Descoberta do Ano da revista e muita gente começou a falar da Quinta das Marias, aumentando o interesse do público pelos nossos vinhos”, diz. Outro contributo, este para o seu sucesso na Suíça, foi um artigo publicado por um jornalista do país num dos principais jornais de Zurique, o Tages-Anzeiger, que o destacou também a seguir ao prémio atribuído, no Concurso organizado pela ViniPortugal, em 2014, para o seu monocasta de Touriga Nacional Reserva de 2011. “Fiquei muito surpreendido, porque nunca tinha esperado uma coisa destas na minha vida”, diz, com convicção, salientando que este prémio contribuiu para que tenha hoje sempre a sala cheia quando faz uma apresentação dos seus vinhos no seu país.
Quando começou a sua aventura no Dão não percebia nada sobre a cultura da vinha e a produção de vinho. E, por isso, acreditou naquilo que os vizinhos lhe contaram, “que toda a gente da região sabia fazer vinho” e pôs mãos à obra. Só que se esqueceu de perguntar “qual era o vinho?” e o resultado do primeiro empreendimento “foi um carrascão terrível, muito mau, com muita acidez”. Então, decidiu aprender a fazer estudando e experimentando. Comprou muitos livros sobre o tema, leu-os, e foi aprendendo também com as conversas que ia tendo com António Narciso, então um jovem enólogo da Adega Cooperativa de Nelas. Numa delas “disse-lhe que iria fazer os vinhos como queria, porque pretendia experimentar, mesmo que ele não estivesse de acordo com isso, e que não o iria responsabilizar se as coisas corressem mal”. E foi assim que foi fazendo os seus vinhos durante muitos anos, sozinho, com o apoio de António Narciso.
Tintos famosos na Suíça
António Lopes tratava da terra, cuja área foi crescendo à medida que o suíço ia comprando mais terrenos à volta dos quatro primeiros hectares, que se transformaram em 12. A vinha, essa, foi plantada entre 1991, a mais velha, e 2006, a mais recente. Na pequena parcela inicial plantou Encruzado, Malvasia Fina, Bical e Cerceal-Branco. Também plantou Touriga Nacional, que hoje representa cerca de 60% do encepamento, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Pinheira, que arrancou cinco anos mais tarde, “porque dava muito mosto e originava vinho de fraca qualidade”. Para a substituir, escolheu Tinta Roriz.
Das 60.000 garrafas produzidas anualmente, a Quinta das Marias vende hoje cerca de 40% em Portugal, sobretudo em Lisboa e na região onde está sediada. Outros 30% vão para o mercado suíço e o remanescente para a Bélgica, Canadá, Macau. “Vendia um pouco também para o Brasil, mas cortei por causa da instabilidade do país”, diz. Conta também que as vendas para o seu país começaram através dos seus conhecimentos pessoais e que hoje referências como o Cuvée TT e monocasta Touriga Nacional são um sucesso naquele mercado.
Desde o início, Peter Eckert diz que procurou produzir apenas vinhos de segmento superior, o que se reflecte nos preços de venda à porta da adega. Os mais baratos, o monocasta de Encruzado e o tinto de lote, custam 10 euros, enquanto o Crudos, “um vinho feito com base numa filosofia diferente”, custa 30. “Para além do tinto de lote, um vinho típico do Dão, tinha os monocastas de Alfrocheiro, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Cuvée TT. De vez em quando fazia um Garrafeira”, conta.
Hoje, quando passa metade do tempo na Suíça e outra metade em Portugal, confia todo o aparelho produtivo à sua equipa de cinco pessoas, entre eles Luís Lopes, o enólogo residente, e Victor, o filho de António Lopes, que é hoje responsável pela produção. Para si deixou a visita a clientes e distribuidores e o marketing da empresa. Já a caminho dos 80, mantém o entusiasmo da primeira hora: “Quero ficar aqui, a fazer vinho no Dão, por muito mais tempo…”, remata com um sorriso.
Um desafio para Luís Lopes
A trabalhar na Quinta das Marias desde 2018, Luís Lopes conta à Grandes Escolhas que foi com muito respeito por todo o trabalho até aí realizado que aceitou o desafio de Peter Eckert para trazer uma nova visão enológica para a empresa. Após provar todas as referências, fez uma proposta com o que sugeria manter e o que achava se podia fazer de diferente. Foram assim mantidos os monocasta Encruzado e Touriga, os vinhos de maior sucesso da casa, tal como o Cuvée TT e o Alfrocheiro. Depois foi criada a linha Out of The Bottle, que permite, ao enólogo, experimentar e fazer um estudo mais aprofundado sobre as variedades plantadas na vinha. Também para Luís Lopes, o factor que diferencia uma casa pequena e familiar como a Quinta das Marias é a qualidade. “Mas não pode ser excessivamente padronizada, porque há pequenas variações nos vinhos conforme decorrem os anos, mas também na maneira como os pensamos e fazemos”, explica, defendendo que “até é bom que haja alguma variação”. Nas duas gamas que esta casa comercializa, o Quinta das Marias é mais consistente no perfil, depende do clima de cada ano. A Out of The Bottle muda um pouco mais, porque resulta de ensaios que faz e considera importante comunicar. Diz que gosta de os explicar, “de escutar as críticas”, para que quem os aprecia conheça qual é o processo criativo e de aprendizagem que lhes dá origem.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2023)
Van Zellers & Co renasce com Vinho do Porto

A família de Cristiano van Zeller está ligada ao vinho do Porto desde sempre. Segundo informação fornecida no momento da apresentação, é preciso recuar até ao séc. XVII para encontrar os primeiros traços de familiares ligados ao negócio do vinho do Douro. O antepassado que deu nome à família, veio para Portugal em 1726 e, […]
A família de Cristiano van Zeller está ligada ao vinho do Porto desde sempre. Segundo informação fornecida no momento da apresentação, é preciso recuar até ao séc. XVII para encontrar os primeiros traços de familiares ligados ao negócio do vinho do Douro. O antepassado que deu nome à família, veio para Portugal em 1726 e, desde então, foi-se criando uma teia de relações entre familiares, com frequência relacionados ou com o Douro ou, mais especificamente, com o vinho do Porto. Terá sido em 1780 que se criou a empresa Van Zellers & Co, ligada ao negócio do Vinho do Porto, designação então já usada e que, segundo Cristiano informou, tinha sido utilizada pela primeira vez em 1675. Como é normal nas empresas familiares, há por vezes quebras ou mesmo cessação de actividades e foi isso que aconteceu com a empresa Van Zellers & Co. Ela pertencia a João van Zeller, primo de Cristiano e proprietário da Quinta de Roriz. Com a venda da quinta à Prats & Symington, João doou a empresa a Cristiano. Em boa verdade, tratava-se apenas do nome, uma vez que a empresa não tinha activos: nada de quintas e nada de vinhos em stock. Punha-se então a questão: que fazer com o nome, com muita história, mas sem vinho?
Começar de novo
Cristiano esteve largos anos ligado à sua Quinta Vale D. Maria, situada no rio Torto. Ali, criou vinhos, nomeadamente o Vinha da Francisca, para celebrar o nascimento da filha. Quando a quinta foi vendida à Aveleda, a Van Zellers não estava incluída no negócio e foi assim que Cristiano resolveu alargar o nome para vinhos do Porto, uma vez que desde 2006 já existiam vinhos D.O.C. Douro com as marcas CV, em branco e tinto.
Nesta apresentação, apenas foram objecto de prova os vinhos do Porto, todos eles comprados, uma vez que a empresa não tinha stocks próprios. A gama irá incluir vinhos das três famílias de vinho do Porto: a gama Crafted by hand – onde se incluem os Tawny com indicação de idade; a linha Crafted by time – onde vamos encontrar os Porto Colheita e, por fim, a gama Crafted by nature – onde se incluirão os Vintage, LBV e Crusted. É no papel do tempo na construção de um vinho, que se pode fazer a ponte para as máquinas do tempo que são os relógios. E, para alguns em exposição na Boutique da Av. da Liberdade, em Lisboa, convenhamos que seriam precisas muitas paletes de vinho do Porto, e vendidas a bom preço…
A gama dos Tawny com indicação de idade incluirá quantidades pequenas: 6000 garrafas de 10 anos, 3000 de 20, 1500 de 30 e 700 de 40 anos.
Além destes, existirão as gamas Ruby, White e Tawny, todos a serem apresentados no final do ano. Os vinhos estão no Douro, em armazéns em S. João da Pesqueira, uma vez que “em Gaia os custos do imobiliário são brutais”, como nos lembrou Cristiano van Zeller.
Os vinhos D.O.C. Douro — entre 60 e 70 mil garrafas por ano — resultam de vinhas próprias e alugadas em três locais distintos da região, perfazendo um total de 16ha.
Nas provas que fizemos, tivemos oportunidade de provar o LBV de 2014, já fora do mercado mas a mostrar ainda muita qualidade e garra, ainda fechado e com anos pela frente (17 pontos); também o 2015 se mostrou muito bem, ainda que já não existam garrafas no produtor, um belíssimo LBV, muito austero, químico mas com excelente prova de boca (17,5); o 2017 foi engarrafado ao 5º ano (por falta de garrafas no mercado, em virtude da pandemia) e esse atraso não o beneficiou, surgiu um pouco cansado e com alguma evolução precoce, melhora na boca mas terá menos futuro (16). O próximo será o 2019. Por sua vez, os Vintage, ainda todos disponíveis, seguem de seguida, em nota de prova. Já o Vintage 2020 – 2700 garrafas – irá ser oferecido ao mercado en primeur, e foi aqui provado em antecipação. Massivo, opaco, cheio de classe e totalmente fechado, mais seco do que habitualmente, será um vinho a ter em atenção e que, segundo nos informaram, terá um PVP que deverá situar-se entre os 100 e os 120 euros.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2023)