Prova de conservas nacionais em Lisboa
A Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) organizou, recentemente, em Lisboa, uma prova comentada de conservas no restaurante Taberna Albricoque. Durante o evento foram servidos vários tipos de conservas, desde as mais tradicionais, como a Barriga de atum, às criadas mais recentemente em Portugal, como a Bicuda fumada dos Açores, para mostrar […]
A Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) organizou, recentemente, em Lisboa, uma prova comentada de conservas no restaurante Taberna Albricoque.
Durante o evento foram servidos vários tipos de conservas, desde as mais tradicionais, como a Barriga de atum, às criadas mais recentemente em Portugal, como a Bicuda fumada dos Açores, para mostrar o potencial da oferta nacional nesta área, que inclui quase 800 referências de 34 espécies de peixes e moluscos.
Entre outros, foi servido um patê de ovas de pescada picante, que fez boa companhia ao Marquês de Marialva Bical, da Adega de Cantanhede, um dos vinhos selecionados para acompanhar a prova, tal como com as conservas selecionadas para entrada durante este almoço, onde se salientaram o Taco de polvo com salicórnia e o Chicharro fumado dos Açores em ceviche de aipo. Outro dos vinhos seleccionados para o repasto, o Serra Mãe Reserva Branco, um Arinto da Sociedade Vinícola de Palmela, fez grande companhia com o resto do repasto, onde se salientou a Bicuda fumada dos Açores com mexilhões de caldeirada e xarém.
As conservas apresentadas são produzidas por 10 empresas do sector de Portugal Continental e Açores. Foram seleccionadas na loja da ANICP, em Lisboa, e trabalhadas na cozinha pelo chef Bertílio Gomes, proprietário do restaurante e apreciador convicto das conservas portuguesas, com o objectivo de mostrar a sua qualidade e salientar os seus aromas e sabores diferenciados, na companhia de uma selecção de vinhos portugueses. J.M.D.
António Braga: O início da aventura
Há muitos anos que conheço o António Braga como enólogo da Sogrape. Fui ficando com a ideia de que a carreira estava traçada e que por lá ficaria muitos e bons anos. Por isso, quando nos comunicou que iria sair da empresa, fiquei muito admirado e ao mesmo tempo expectante. A conversa veio depois e […]
Há muitos anos que conheço o António Braga como enólogo da Sogrape. Fui ficando com a ideia de que a carreira estava traçada e que por lá ficaria muitos e bons anos. Por isso, quando nos comunicou que iria sair da empresa, fiquei muito admirado e ao mesmo tempo expectante. A conversa veio depois e as explicações também: “se queria ter um projecto meu, tinha mesmo de sair da Sogrape, andava há muito a magicar vinhos que gostava de fazer e por isso achei que era agora ou nunca”. Foi agora. Braga acrescenta: “não tendo eu vinhas ou adegas, não estou preso a uma região específica ou a uma vinha, isso permite-me, de uma forma bastante flexível, fazer vinhos onde quero, nos terroirs que mais me impressionam, com as castas que mais gosto”. E tratou logo de se colocar em campo para poder organizar um projecto coerente que lhe permitisse gerir melhor o tempo e fazer o que gostava: criar vinhos seus e apoiar outros projectos, como consultor. Nasceu assim a Terra Vinea, uma empresa com cinco sócios onde juntou mais quatro amigos, reservando para si a maioria do capital. A ideia é fazer vinhos originais, buscar parcelas esquecidas ou castas menos badaladas, mas conseguir que sejam vinhos expressivos e com alma. A ideia é boa e até se pode ter quem forneça uvas para o projecto mas… onde é que se põe um plano destes em prática?
A resposta a esta pergunta representou um grande passo dado por António Braga: no Douro existe uma adega da família de Mafalda Machado (enóloga) onde, juntamente com o seu marido americano – Eric Nurmi – se criou a empresa Grape to Bottle – com prestação de serviços em todas as etapas da produção de vinho. Assim, na mesma adega temos vários produtores, cada um a fazer o seu vinho, com especificações diferentes. O estágio em barrica faz-se também aqui e só o engarrafamento se efectua com recurso a aquisição externa de serviços. Eric é quem, a tempo inteiro, coordena os vários trabalhos. Foi lá que o encontrámos, em plena vindima, com muita gente na adega. Uma festa! São neste momento mais de uma dúzia os produtores que recorrem a esta adega para poderem fazer os seus vinhos. A localização (muito perto da Régua) é também uma vantagem por estar no centro da região. E com o crescimento de novas consultorias (mesmo no Douro e Verdes), António Braga já tem um jovem enólogo – João Alvares Ribeiro – a trabalhar com ele a tempo inteiro. Adquiriram-se cubas e barricas sobretudo usadas, algumas que chegaram da Borgonha com 4 anos de uso. O projecto aponta muito mais para madeira usada do que para barricas novas.
Resolvido o primeiro problema foi preciso diversificar a aquisição de uvas e partir para a descoberta de vinhas e parcelas que pudessem corresponder ao objectivo. Nasceram assim os primeiros vinhos, para já um branco feito com Alvarinho em Monção, e um tinto do Douro elaborado com uvas de Mourisco, a tal casta que há alguns (poucos) anos ninguém queria ouvir falar. Os produtores que forneceram as uvas para a primeira vindima, de que saíram agora os primeiros vinhos, voltaram a fornecer em 2023 e assim se espera que continuem, criando uma relação forte entre produtor e enólogo. Para António Braga, a sua nova aventura desenrola-se em planos bem distintos: os seus vinhos que saem com diferentes rótulos mas sempre com a sua assinatura, e o trabalho de consultoria que se estende por várias zonas do país, desde os Verdes (quinta da Minhoteira), passando pelo Douro (quinta da Ervedosa, quinta da Eiró, quinta D. Mafalda e Solar de Cambres). Em alguns casos trata-se de pequenas quintas ainda desconhecidas do grande público e de onde sairão vinhos com o acompanhamento técnico (quer na viticultura, quer na enologia) da Terra Vinea. No Alentejo está a desenvolver novos projectos com a empresa Abegoaria – criação de uma linha de Fine Wines – a partir da Herdade do Gamito mas não só, e também com a Casa Relvas.
O portefólio tem assim duas linhas: uma assente em terroirs mais tradicionais e, como nos disse, “Com uma estética mais convencional”. Essa é a gama Ipiranga. Saiu em Novembro o Ipiranga Alvarinho 2022, feito em Monção e fermentado em barricas usadas com estágio sobre borras totais durante 10 meses. Em Março, acontecerá o lançamento de 3.600 Garrafas do Ipiranga Douro tinto 2022, este feito com Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinto Cão e Sousão. Existirá uma segunda linha que é composta de vinhos mais originais, castas menos conhecidas, processos menos comuns. O primeiro vinho dessa gama é o Cão que Ladra Mourisco Douro tinto 2022, de que se fizeram apenas 891 garrafas. As uvas vêm de uma vinha com cerca de 40 anos, plantada a 550 metros de altitude, na freguesia da Lousa no Douro Superior; fermentou em lagar com 50% de cacho inteiro, estagiou em barrica usada
Tal como acontece com todos os novos projectos do sector do vinho, António Braga vai sentir as dores do crescimento: as garrafas chegarão a tempo? Os rótulos foram aprovados? As rolhas estão certas para a garrafa que temos? E as caixas de cartão quando é que são entregues? E como é que vou distribuir os vinhos? Entrego tudo a um ou prefiro vários distribuidores? E onde é que quero chegar? Fico-me pela paróquia ou vou tentar os mercados externos? Estas são o tipo de questões que nunca se colocaram a António Braga enquanto foi enólogo de uma grande casa de vinhos. Feito o balanço, confessou-nos que continua a acreditar que foi a melhor decisão que podia ter tomado. Como diz o ditado (nem sei bem se é ditado…), a sorte só sorri aos ousados!
Para António Braga, a sua nova aventura desenrola-se em planos bem distintos: os seus vinhos que saem com diferentes rótulos mas sempre com a sua assinatura, e o trabalho de consultoria.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)
Paulo Prior é o novo líder da equipa de enologia da Global Wines
A Global Wines contratou Paulo Prior para dirigir a sua equipa de enologia. Com uma experiência de mais de 23 anos no sector, este profissional esteve, até agora, na Sogrape Vinhos, onde fez grande parte da sua carreira profissional. Paulo Prior diz que aceitou o desafio, com o compromisso de respeitar, em cada vinho, as […]
A Global Wines contratou Paulo Prior para dirigir a sua equipa de enologia. Com uma experiência de mais de 23 anos no sector, este profissional esteve, até agora, na Sogrape Vinhos, onde fez grande parte da sua carreira profissional.
Paulo Prior diz que aceitou o desafio, com o compromisso de respeitar, em cada vinho, as diferentes características das três regiões onde o grupo actua, adequando as melhores práticas enológicas aos vinhos que produzem no Dão, Bairrada e Alentejo, para proporcionar, ao consumidor, a possibilidade de sentir cada terroir.
A entrada deste profissional encerra um ciclo de renovação da Global Wines, que se iniciou, em 2022, com a contratação de Manuel Pinheiro, antigo presidente da CVR dos Vinhos Verdes e actual CEO do grupo, e, mais recentemente, de Nuno Abreu, director comercial e marketing, que transitou de uma das principais casas de vinhos do Porto. “Durante o primeiro semestre de 2024 será apresentado o plano estratégico deste grupo multi-região, que passa, essencialmente, pelo reforço das marcas Casa de Santar e Paço dos Cunhas, no Dão, Quinta do Encontro, na Bairrada, e Herdade Monte da Cal, no Alentejo, procurando afirmar sempre as características únicas de cada região e de cada vinha.”, explica Manuel Pinheiro.
Lourenço Charters reforça equipa de enologia da Herdade do Esporão
O Esporão reforçou recentemente a sua equipa de enologia do Alentejo, com a transferência interna de Lourenço Charters, até agora responsável pela enologia e viticultura da Quinta dos Murças, no Douro, e Quinta do Ameal, no Vinho Verde. Junta-se, assim, a José Luís Moreira da Silva, diretor de enologia e administrador de produção do Esporão. […]
O Esporão reforçou recentemente a sua equipa de enologia do Alentejo, com a transferência interna de Lourenço Charters, até agora responsável pela enologia e viticultura da Quinta dos Murças, no Douro, e Quinta do Ameal, no Vinho Verde. Junta-se, assim, a José Luís Moreira da Silva, diretor de enologia e administrador de produção do Esporão.
O lugar de Lourenço Charters foi ocupado por Mafalda Magalhães, a responsável atual de enologia e viticultura da Quinta dos Murças e Quinta do Ameal. “Com uma sólida experiência no mundo do vinho, Mafalda Magalhães traz consigo uma visão inovadora, aliada a um profundo respeito pelas tradições enológicas”, diz José Luís Moreira da Silva, acrescentando que “a sua experiência irá complementar a herança enológica do Esporão nas duas regiões”.
Estive lá: Café de São Bento – O charme discreto de um clássico
Percebe-se, quando se transpõe a cortina, que a ideia é preservar uma certa intimidade num espaço que se pretende reservado e cuja decoração baseada nos vermelhos, madeira velha e latão, faze lembrar um vetusto clube inglês. Foi objecto de renovação recente quando mudou de mãos na viragem dos 40 anos de existência e passou a […]
Percebe-se, quando se transpõe a cortina, que a ideia é preservar uma certa intimidade num espaço que se pretende reservado e cuja decoração baseada nos vermelhos, madeira velha e latão, faze lembrar um vetusto clube inglês. Foi objecto de renovação recente quando mudou de mãos na viragem dos 40 anos de existência e passou a ter como proprietário Miguel Garcia, um velho cliente da casa com vasta experiência anterior no ramo da hotelaria e que nos recebe em pessoa nesta primeira visita.
Já com um flute de espumante na mão, dou comigo a pensar que é sempre bom sinal quando um cliente fiel toma conta de uma casa que se foi tornando sua com o tempo. E por isso tudo ali respeita a tradição e a memória. A começar pelos funcionários, fardados com o seu colete axadrezado e lacinho, alguns deles com dezenas de anos de casa e que são retratados como vedetas em fotos individualizadas expostas na escada de acesso ao 1º piso também ele remodelado. São eles a alma deste espaço e garantem a perenidade de um serviço profissional, atento, mas também discreto, que os clientes são muitas vezes figuras publicas e políticos vindos do parlamento ali em frente, e as suas conversas pedem recato.
Se a decoração respeita a tradição, que dizer então da ementa? Estão lá os clássicos todos que deram fama à casa, a começar pelo famoso Bife à Café de São Bento, amplamente publicitado como “o melhor de Lisboa”. Se o é ou não, teria de provar todos os outros antes de confirmar a sentença. Mas o que posso assegurar de experiência vivida que o lombo de corte alto se deixa cortar como manteiga derretida, imerso no sápido molho de natas inspirado na receita de Marrare, guloso quanto baste, com os palitos de batatas fritas crocantes. É o emblema da casa e consta que permanece inalterado há 40 anos.
Mas há outras opções, tanto nas carnes, como no bacalhau gratinado (outro clássico) e mesmo uma alternativa vegetariana que os novos tempos e tendências aconselharam a introduzir recentemente. A nós foi-nos servido como entrada uns belíssimos camarões “al ajillo” e não poderíamos ter começado melhor. O vinho da casa foi feito em parceria com a Ravasqueira e é suficientemente polivalente para casar bem com a maioria das propostas. Para fechar, os mais gulosos podem ainda tentar-se pela doçaria com propostas também elas clássicas, não sem antes limpar o palato com o sorvete de limão com vodka. Tenho para mim, no entanto, que não é só pela comida que a numerosa clientela é atraída diariamente ao Café de São Bento. A nostalgia pelo classicismo e a envolvência num ambiente que desperta memórias e saudades por um tempo que já se perdeu fazem valer os seus encantos.
Café de São Bento
Rua de São Bento 212, 1200-821 Lisboa
Telefone: 913 658 343
Horário: segunda a sexta-feira – 12h30 às 14h30 e 19h00 às 2h00; sábado e domingo – só jantar
Porto Ruby Reserva: Um vinho com Character
Recordo-me bem que, na época longínqua em que comecei a poder comprar as primeiras garrafas de Vinho do Porto, havia para mim a “tal” categoria do Vintage, que eu nunca tinha provado. Depois descobri que havia uma outra categoria, esta chamada Vintage Character. Continuando sem saber a distinção entre as duas – à época ninguém […]
Recordo-me bem que, na época longínqua em que comecei a poder comprar as primeiras garrafas de Vinho do Porto, havia para mim a “tal” categoria do Vintage, que eu nunca tinha provado. Depois descobri que havia uma outra categoria, esta chamada Vintage Character. Continuando sem saber a distinção entre as duas – à época ninguém explicava nada e a imprensa do sector quase não existia -, a verdade é que, comparando os preços, cheguei facilmente à conclusão que o preço do Vintage Character era muito mais convidativo. Recordo-me que o primeiro que comprei era da casa Burmester, tinha um rótulo discreto mas bonito e eu fiquei todo contente porque me estava a aproximar do altar (os Vintages…) sem ter de empatar mais do que, à época, podia. E mostrava aos amigos o tal rótulo, dizendo mesmo, “estão a ver, este Porto é do tipo Vintage”, ao que eles (ainda mais ignorantes que eu) aquiesciam com um sorriso amarelo.
Esta história, verdadeira, aconteceu comigo, mas deverá ter ocorrido com muito consumidor. O sector do Porto era muito prolífico em conceitos, categorias e nomes que, invariavelmente, apenas serviam para confundir o apreciador. Será que alguém acreditava que o vinho Founder’s Reserve correspondia exactamente a lotes de vinho que vinham do tempo da fundação da Sandeman? Ou que o Reserva Pessoal da D. Antónia era efectivamente vinho que ela tinha deixado e que continuava a ser vendido hoje? Os exemplos são vários. Estes vinhos ainda hoje existem (como se vê na minha selecção) e continuo sem ter a certeza de que todos os consumidores percebem que se trata a penas de uma marca.
Foi para clarificar a terminologia que o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) acabou com a categoria Vintage Character que passou a ser designada como Ruby Reserva. Passou, tal como os Tawny Reserva, a estar incluída nas Categorias Especiais de Vinho do Porto. A nova designação, que também admite a palavra Reserve em vez de Reserva, permite ainda alguns qualificativos extra, como Especial, Special e Finest. Desta forma não há nenhuma categoria que possa incluir (em letra grande ou miudinha) a palavra Vintage, a não ser o propriamente dito ou o LBV (Late Bottled Vintage). Para o consumidor a confusão acabou aqui. De acordo com a legislação em vigor, um Porto Ruby Reserva é “um vinho do Porto de muito boa qualidade, apresentando complexidade de aroma e sabor, obtido por lotação de vinhos de grau de estágio variável que lhe conferem características organolépticas específicas e reconhecido pelo IVDP”. A primeira legislação que regulamentou as Categorias Especiais data de 1973, publicada no início de 1974.
Na história dessa categoria – Vintage Character – há que dizer que esse termo não era usado no rótulo por todas as casas. A Fonseca, por exemplo, usa hoje, como sempre usou, o nome Bin 27 para o seu Ruby Reserva, que se encaixava na categoria Vintage Character — e a Cockburn’s tinha no seu Special Reserve o vinho emblemático que era a marca de Porto mais vendida em Inglaterra.
O consumo do Ruby Reserva tem tudo de descomplicado: o vinho é filtrado antes de ser engarrafado e por isso não vai criar depósito na garrafa.
O que distingue o Ruby do Ruby Reserva?
Nessa categoria – Ruby – a palavra Reserva faz toda a diferença; enquanto no Ruby corrente estamos a falar de vinhos muito jovens, de pouca concentração e que provavelmente nunca passaram em madeira (também devido ao enorme montante de vinho de que estamos a falar), no Reserva já iremos encontrar vinhos com mais estrutura, onde se procurará um balanço entre vinhos que tiveram algum estágio em madeira com outros mais jovens que possam transmitir mais alegria ao lote final. Têm em comum o facto de serem vinhos que resultam do lote de várias colheitas e que têm um perfil que tende a mantar-se idêntico ano após ano. Até por isto fez todo o sentido retirar a palavra Vintage da antiga designação. Como qualquer outro vinho, tem de ser a Câmara de Provadores do IVDP a dar a aprovação do lote como sendo Reserva.
Para algumas casas – a Fonseca, a Sandeman e a Cockburn’s – esta é uma categoria emblemática, responsável por vendas em larga escala. No caso da Fonseca, Bin 27 tem tido, por informação cedida pela empresa, um crescimento anual de 3,5% ao ano e as vendas em 2022 atingiram as 40000 caixas de 12 garrafas. O principal mercado é americano, com Estados Unidos e Canadá a representarem uma grande fatia.
No caso da Symington, a marca Special Reserve é muito importante no Reino Unido (é o Ruby Reserva mais vendido naquele mercado) mas para o desenvolvimento do mercado interno a empresa enviou para esta prova o Six Grapes, o Ruby Reserva da Graham’s. Com o “peso” que o vinho da Cockburn’s tem no conjunto das vendas (62%), a Symington detém, segundo nos informou, cerca de 56% da quota mundial.
A Sandeman assume uma posição forte no mercado americano, onde o seu Founder’s Reserve tem um peso muito forte nas vendas; segue-se o Reino Unido e o mercado interno, com um bom foco no turismo (travel retail).
Na selecção que fiz para esta prova incluí vinhos com produções muito diferentes. Será sempre um erro comparar, sem explicar e integrar, a pequena produção de um produtor “de quinta” com a de uma empresa que vende milhares e milhares de caixas. Há lugar para todos e os exemplos que aqui deixamos de grandes produções mostram que, também nesta categoria, é possível fazer muito e com muita qualidade.
Foi para clarificar a terminologia que o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) acabou com a categoria Vintage Character que passou a ser designada como Ruby Reserva.
O consumo do Ruby Reserva tem tudo de descomplicado: o vinho é filtrado antes de ser engarrafado e por isso não vai criar depósito na garrafa. Isto significa que o manuseamento da garrafa não requer cuidados especiais (importante na venda a retalho, nomeadamente para turistas) e é um vinho para qualquer ocasião. Os que forem um pouco mais encorpados poderão ser perfeitos companheiros para queijos mas este é aquele tipo de Porto que se bebe mesmo sem acompanhamento, mas em boa companhia.
Apenas mais três indicações finais. Primeiro, o Ruby Reserva não merece guarda, não foi para a cave que foi pensado. Por isso a ideia é comprar e beber. Também por esta razão é conveniente evitar comprar garrafas que estejam há anos e anos perdidas nas prateleiras. Apesar de ele viver bem em garrafa o tempo exagerado de estágio (espera?) em garrafa acaba por fazer com que perca brilho. Em segundo lugar, o vinho não requer decantação, mas há que ter algum cuidado na temperatura de serviço. Cerca de 30 a 45 minutos de frigorífico será o suficiente. Finalmente, ainda que possa beber com calma o seu Porto Ruby Reserva depois de abrir a garrafa, será ajuizado não a ter aberta mais de um mês porque o vinho irá perder frescura.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)
Crasto: Na vinha, onde tudo começa
Na Quinta do Crasto, nem todos os anos são anos de “Maria Teresa” ou “Ponte”. Do mesmo modo, os varietais de Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz não surgem em todas as vindimas, dependendo do comportamento de cada casta na vinha, mais regulares as duas primeiras, mais temperamental a última, exigindo também ao vinho […]
Na Quinta do Crasto, nem todos os anos são anos de “Maria Teresa” ou “Ponte”. Do mesmo modo, os varietais de Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz não surgem em todas as vindimas, dependendo do comportamento de cada casta na vinha, mais regulares as duas primeiras, mais temperamental a última, exigindo também ao vinho mais tempo de garrafa até chegar ao mercado. Precisamente, ao mercado chegaram agora os tintos de topo da Quinta do Crasto da colheita de 2019, desde logo o Vinha Maria Teresa (essa vindima não “deu” Vinha da Ponte), o Touriga Franca e o Touriga Nacional.
Para o enólogo Manuel Lobo “2019 foi um ano excepcional, caracterizado por uma produtividade acima da média (mais do que em 2017 e18). No entanto, a Primavera e Inverno foram bastante secos, levando níveis de reservas de água no solo demasiado baixos para as necessidades das videiras”. Porém, o deficit hídrico acabou por não afectar as videiras, uma vez que nos meses de Verão (Junho, Julho, Agosto) as temperaturas foram amenas (“menos 5ºC do que a média dos últimos 5 anos na Quinta do Crasto”, refere o enólogo). “As videiras mostravam áreas foliares equilibradas e de aparência saudável”, diz, e a vindima, iniciada com as uvas brancas no dia 26 de Agosto (as tintas começaram a 31 de Agosto), decorreu com noites frias e dias quentes. “Essencial mesmo foi a chuva que chegou nos dias 21 e 22 de Setembro, que ajudou a apurar a maturação das castas mais tardias”, adianta Manuel Lobo. No Crasto, a colheita encerrou no dia 11 de Outubro, com as uvas das vinhas situadas a maior altitude. “Um ano perfeito, de maturações lentas, como eu gosto”, confessa o enólogo.
Aqui, como em muitas outras propriedades no Douro, as diversas parcelas têm comportamentos muito distintos consoante a sua idade, castas plantadas, composição do solo, altitude ou exposição solar. Este último factor, por exemplo, é determinante nas vinhas (e consequentemente nos vinhos) Vinha Maria Teresa e Vinha da Ponte. Enquanto a primeira aprecia os anos quentes (“protegida do sol, às 4 da tarde já está à sombra”, diz Manuel Lobo), a segunda, mais soalheira, prefere os anos mais frios.
De qualquer modo, por melhores que sejam as uvas, para os vinhos de topo é feita muita selecção à entrada da adega. E depois da vinificação (na super-equipada “adega das vinhas velhas”, como lhe chamam na casa) e do estágio em madeira, só mesmo as melhores barricas chegam ao lote final de Maria Teresa ou Vinha da Ponte. As restantes vão parar ao Crasto Vinhas Velhas Reserva, que assim beneficia da qualidade e carácter que estas emblemáticas vinhas transmitem aos vinhos.
MARIA TERESA, PLANTA A PLANTA
Na Quinta do Crasto, rodeados por aquela paisagem magnífica, espraiando os olhos pelo rio Douro, qualquer conversa começa e acaba com as vinhas. E quando abordamos os três tintos de 2019 agora apresentados, isso torna-se ainda mais inevitável, já que todos têm uma origem bem precisa. E Tiago Nogueira, o responsável de viticultura da empresa, conhece-a melhor do que ninguém.
Maria Teresa, cujo nome deriva da neta de Constantino de Almeida, fundador da Quinta do Crasto, é uma vinha mais do que centenária, e é também uma das maiores (se não a maior) vinha velha do Douro, com os seus impressionantes 4,7 hectares em socalcos tradicionais virados a nascente. São 54 castas as que ali se encontram identificadas. Representa uma autêntica arca do tesouro que a família Roquette, proprietária da quinta, tem procurado preservar e multiplicar, já que, como é natural em vinhas desta idade, muitas videiras vão morrendo ao longo do tempo (na Maria Teresa há 30% de falhas).
O primeiro grande passo no sentido dessa preservação foi o projecto PatGen Vineyards, implementado em 2013, já lá vão mais de 10 anos, portanto. “Precisávamos de salvaguardar e, consequentemente, perpetuar o património genético das vinhas velhas, dada a antiguidade destas plantações e a multiplicidade de variedades, incluindo as minoritárias ou mesmo inexistentes noutros locais”, explica Tiago Nogueira.
Assim, numa primeira abordagem, foi então realizada a piquetagem da vinha (com geo-referenciação diferencial com precisão à videira) resultando no mapeamento das 58 parcelas que compõem a vinha Maria Teresa e a sua integração num Sistema Integrado de Gestão de Propriedades (SIGP). No final, foram contabilizados 31.825 pontos de plantação com coordenadas GPS (que representam o somatório do número de videiras, falhas e bacelos), das quais 21.922 são videiras. Com recurso a drone e imagens de satélite, que possibilitam imagens de alta resolução, é igualmente possível antecipar a perda de material genético e a contagem de plantas em risco. Toda esta informação fica disponível de forma digital, funcionando como uma espécie de “vigia”, que permite perceber o estado de saúde de cada uma das plantas que existem na vinha, cuidando-as de forma mais optimizada às suas necessidades.
“Com a informação fornecida, as equipas de viticultura e enologia podem intervir, por exemplo, na fertilização manual de videiras que estejam mais vulneráveis ou em falência, e até decidir a data de vindima. Esta tecnologia permite igualmente identificar os pontos débeis e actuar com rapidez, fazendo as correcções necessárias na planta ou salvaguardar esse material genético”, refere Tiago Nogueira.
No âmbito deste trabalho, foi igualmente feita uma classificação ampelográfica das videiras, por parte de ex-colaboradores do IVDP, culminando na identificação visual das tais 54 variedades, maioritariamente tintas (tais como Alvarelhão, Casculho, Pilongo, São Saul), contabilizando-se também uma variedade tinta desconhecida e 4 brancas (Alvaraça, Malvasia Fina, Malvasia Rei e Gouveio). Como base em todo este manancial de informação, foi criado um campo de multiplicação de genótipos na propriedade, ou seja, uma espécie de “viveiro reserva” onde todas estas castas estão representadas, o que permite proceder à reposição das videiras que morrem por variedades geneticamente idênticas, perpetuando, desta forma, o encepamento integral da vinha Maria Teresa. Numa terceira abordagem, em parceria com a UTAD, está-se a proceder à caracterização genética, agronómica e química/enológica das castas desta histórica vinha.
“Queremos ter um conhecimento mais profundo da tipicidade e diversidade de variedades do Douro, um dos factores diferenciadores mais importantes da região. Quanto maior for esse conhecimento, maiores serão também as hipóteses de fazer face a pragas, doenças e alterações climáticas”, diz o viticólogo. Num futuro próximo, a Quinta do Crasto espera extrapolar este trabalho para as restantes vinhas velhas da propriedade, nomeadamente a igualmente histórica Vinha da Ponte.
VINHA NOVA, À MODA ANTIGA
No entanto, apesar de todos os cuidados, a vinha Maria Teresa não vai durar eternamente. Do mesmo modo, como acontece em todas as vinhas velhas, nem todas as castas que lá se encontram são excelentes do ponto de vista enológico. Assim, de forma faseada, em 2019, 2021 e 2023, a Quinta do Crasto resolveu plantar dois hectares de vinha em socalcos tradicionais suportados por muros de pedra de xisto. O material genético para as enxertias veio, naturalmente, da vinha Maria Teresa, mas das 54 variedades ali identificadas foram seleccionadas “apenas” 40, aquelas que se enquadram no perfil enológico pretendido por Manuel Lobo, descartando-se as castas que por norma são rejeitadas no campo e na mesa de escolha durante vindima. Das castas seleccionadas, foram pré-definidos “blends de variedades” para em função dos conhecimentos existentes sobre cada casta, se poderem aplicar especificamente a diferentes zonas da parcela, tentando obter o melhor enquadramento entre a casta e as características microclimáticas e de solo. Ou seja, sendo um field blend, a localização/enxertia de cada casta não foi feita forma aleatória. Tiago Nogueira exemplifica: “Numa zona mais fértil e húmida da parcela, fez parte do blend de variedades pré-definido, por exemplo a Tinta Barroca e o Sousão, e evitamos nestas micro-zonas, a presença, por exemplo, de Tinta Roriz ou Tinta Amarela, que naturalmente ocuparam zonas de solo mais pobre e seco.” Ou seja, respeitando os princípios tradicionais, estes foram aplicados de forma científica e com base nos conhecimentos de hoje. Das três plantações de porta-enxertos, a de 2019 já se encontra enxertada e em produção, a de 2021 foi enxertada no ano que passou, e a de 2023 será enxertada em 2025. A plantação, em alta densidade (6500 videiras por hectare) está a ser conduzida no tradicional Guyot e apoiada por rega gota-a-gota para garantir o sucesso da implantação.
“Este modelo tem muitas vantagens”, defende Tiago Nogueira. “Desde logo, a maior densidade de plantação implica menor vigor e menos produção por cepa, o que irá aumentar a qualidade da uva e dos mostos sem baixar a produtividade por hectare. Por outro lado, acreditamos que não vamos precisar de esperar tantos anos quanto num modelo convencional para obter vinhos de primeira linha. E conseguimos obter o blend pretendido directamente do campo para a adega, tentando mimetizar as vinhas velhas mais importantes da Quinta do Crasto. Há também uma componente estética: a beleza da vinha tradicional enquadra-se no património paisagístico da propriedade.”
Nem tudo são vantagens, porém. O declive dos socalcos e o compasso de plantação não permitem a mecanização da maioria das tarefas, sendo muito dependente de mão de obra, um bem cada vez mais escasso no Douro. “É uma questão de proporção”, diz Tiago Nogueira. “Por enquanto, a capacidade operativa da estrutura de viticultura da empresa consegue lidar bem com a área de vinha tradicional existente”.
TOURIGAS, NACIONAL E FRANCA
A verdade é que nem só de field blend e castas raras com nomes estranhos vivem os vinhos de topo da Quinta do Crasto. As igualmente clássicas, ainda que menos “exóticas”, Touriga Nacional e Touriga Franca são muito importantes para a construção do vasto portefólio da empresa. E, desde logo, para os seus mais famosos vinhos varietais. No entanto, tal como acontece com os tintos Maria Teresa e Vinha da Ponte, também aqui a vinha faz diferença, e muito. E estas parcelas de Nacional e Franca (e Roriz, já agora) têm também uma estória para contar.
Antes de mais, é preciso ver o contexto: nos anos 80, a Quinta do Crasto produzia unicamente vinho do Porto. Antecipando, quem sabe, a possibilidade de desenvolver um projecto de vinhos Douro (o que viria a acontecer na vindima de 1994), o casal Leonor e Jorge Roquette decidiu plantar cerca de 10 hectares de vinha nas encostas da Quinta do Crasto. Para tal, solicitaram o apoio do conceituado viticólogo Professor Nuno Magalhães que os aconselhou a plantar as três castas mais estruturantes da região: Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. Escolheram-se as parcelas de meia encosta, entre os 250 e os 350 metros de altitude, situadas acima das emblemáticas vinhas velhas da Quinta que, contra o pensamento dominante na época, entenderam preservar. Assim, em 1984, 1985 e 1986, numa encosta com um declive de 30 a 40% de inclinação, exposta maioritariamente a Sul, construíram-se os patamares de 2 linhas de plantação que começavam a surgir no Douro como forma de permitir a mecanização das vinhas, até à data pouco frequente. A plantação foi feita com porta-enxertos, depois enxertados com varas de selecção massal recomendadas por Nuno Magalhães. Estas novas parcelas, plantadas em sequeiro (sem rega), totalizaram 5 ha de Tinta Roriz, 3,5 de Touriga Nacional (a Touriga “antiga”, não a de selecção clonal) e 1,5 ha de Touriga Franca.
A enxertia foi feita em ‘rupestres du lot’ e (“afortunadamente”, como diz Tiago Nogueira), foram utilizados clones pouco produtivos. “No caso da Tinta Roriz é por demais evidente, quando comparamos a produção desta parcela com as parcelas de Roriz plantadas mais recentemente, estas produzem 3 a 4 vezes mais”, refere o técnico. Somando a isto o facto de as parcelas em causa estarem bem expostas, em solos de baixa fertilidade, e serem constituídas por videiras com quase 40 anos é relativamente fácil perceber que a fruta ali originada “merece ser vinificada de forma isolada e aparecer no mercado em vinhos varietais”, remata o enólogo Manuel Lobo.
DE VOLTA AO VINHO
Ainda que não envolvidas nos vinhos agora apresentados, importa referir que a Quinta do Crasto tem também uvas brancas, de parcelas plantadas entre 2015 e 2017 nas zonas mais altas da propriedade. São cerca de 10 hectares de vinha ao alto, a mais de 500 metros de altitude, plantada com as castas Viosinho, Gouveio, Verdelho, Folgasão e Arinto. Nos últimos anos tem sido ali feito um trabalho muito intenso de melhoria da fertilidade do solo e em 2023 foi instalado um sistema de rega-gota-a-gota para complementar a disponibilidade hídrica das plantas e promover o seu equilíbrio. O destino destas uvas é o Crasto branco.
Para terminar esta volta por algumas das mais emblemáticas vinhas do Crasto, nada como regressar ao ponto de partida, o tinto Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa. Ao lado do 2019 agora apresentado, tive oportunidade de provar os 2017 e 2018. E, mais uma vez, como tantas outras ao longos destes 30 e muitos anos de escrita de vinhos, fiquei convencido de que só percebemos inteiramente a grandeza de um vinho quando o colocamos ao lado de outros potencialmente tão grandes quanto ele. Se o 2018 se mostra fechado de aroma, mais em elegância do que potência, muito redondo, polido, profundo, rico, cheio de classe, o 2017 é ainda uma criança, enorme, tenso, pleno de raça, com fruta madura de enorme qualidade, textura de seda, especiaria, muita frescura e imenso brilho, com anos e anos pela frente. Só que, comparado com estes, o 2019 vai ainda mais longe, atingindo uma dimensão até agora, porventura, inalcançada. A nota de prova reflecte aquilo que o Maria Teresa 2019 mostra ser: absoluta perfeição numa garrafa.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)
Caves Velhas: O regresso de uma marca com história
A Enoport Wines apresentou recentemente, ao mercado, os três primeiros vinhos da gama Prestige da marca Caves Velhas, um branco de Bucelas, um tinto do Dão e outro de Lisboa. O evento decorreu na antiga adega das Caves Velhas, em Bucelas. Segundo Nuno Santos, CEO da empresa, a história da marca começou em 1940, quando […]
A Enoport Wines apresentou recentemente, ao mercado, os três primeiros vinhos da gama Prestige da marca Caves Velhas, um branco de Bucelas, um tinto do Dão e outro de Lisboa. O evento decorreu na antiga adega das Caves Velhas, em Bucelas.
Segundo Nuno Santos, CEO da empresa, a história da marca começou em 1940, quando as Adegas Camilo Alves — empresa de volume criada em 1881 por João Camilo Alves — já estava bem estabelecida no mercado nacional, sobretudo em Lisboa. A aposta na produção e comercialização de vinhos de melhor qualidade “foi uma iniciativa do neto do fundador da empresa, João Júlio Camilo Alves, que criou a marca Caves Velhas, a primeira de qualidade que as Adegas Camilo Alves tiveram”, explicou o gestor durante o evento. Os vinhos foram comercializados como “Garrafeira”, na altura o símbolo maior de qualidade para o mercado nacional.
Brancos e tintos de Bucelas
Caves Velhas eram vinhos de uvas de Bucelas. Não apenas brancos da casta Arinto, cuja qualidade já era reconhecida pelo mercado na época, mas também tintos, já que o encepamento da região, na altura, também incluía variedades que os produziam. Numa época em que não havia ainda grande preocupação em destacar denominações de origem como símbolo de qualidade, salientava-se a casa produtora, a marca e a qualidade do vinho contido nas garrafas.
Muitos anos mais tarde, as Caves Velhas, que já tinham bons resultados com os seus Garrafeira e Romeira, passaram a tê-los, a reboque, também com os seus vinhos do Dão. Entretanto, as Caves Velhas criaram uma pequena diferenciação, na altura com mais duas a três empresas que acabaram por desaparecer, o lançamento de garrafas de vinho envolvidas em juta, que se tornaram numa espécie de ícone das Caves Velhas. Isto foi o que ocorreu de mais significativo desde os anos 40 até 1980, os de maior sucesso da marca até agora.Em 2015, a Enoport Wines — empresa proprietária da marca Caves Velhas, após ter adquirido as Adegas Camilo Alves e outras empresas, e procedido à sua fusão — tinha um universo de marcas muito grande e não conseguia focalizar-se, ou desenvolver e investir em marketing em nenhuma delas.
“A solução encontrada foi parar para pensar e concluir que era impossível trabalhar com mais de 100 marcas”, contou Nuno Santos. A decisão tomada depois foi reduzir o portefólio para dez referências, que não deveriam ser apuradas de ânimo leve, já que isso poderia ter um impacto significativo no negócio. “O processo teve de ser bem estudado e fundamentado”. Foram definidos critérios para a escolha, como o volume de vendas, a margem libertada ou o potencial de crescimento das marcas seleccionadas. Como muitas referências reuniam as características necessárias, foram acrescentados mais dois critérios: a sua história e o património que lhes estava associado, o que levou a marca Caves Velhas a passar para o topo da selecção, apesar de, na altura, estar em grande declínio. “Quando entrou na esfera da Enoport, em 2000, Caves Velhas não era uma das referências que sobressaia no grupo, nem tinha potencial de crescimento significativo”, revelou Nuno Santos, acrescentando que a empresa até pensou em abandoná-la.
Quando foi definido o portefólio final, que incluiu a marca, iniciou-se o processo de investigação sobre a sua história, que tem hoje mais de 80 anos, “também para se descobrir o que tinha resultado em termos de gestão para a referência ter sucesso, e os problemas que levaram ao seu declínio”, salientou o gestor. Isso foi feito para se encontrarem formas de pegar no caminho feito pela marca nos seus anos de ribalta, actualizando-as para as exigências e critérios dos dias de hoje. “O objectivo era fazer com que a marca tivesse sucesso novamente, o que não aconteceria, necessariamente, de um dia para o outro”, disse Nuno Santos.
Nem sempre as modas resultam
Depois de definidas as características principais que definiam a marca, o que fazia os consumidores reconhecerem-na e valorizarem-na, “chegou-se à conclusão que foi o critério de não seguir modas”, explicou o gestor. De todo esse trabalho resultou um processo que levou à divisão da marca em três segmentos: Signature, o mais baixo, Prestige, o intermédio e Elite, o mais alto, que ainda não foi lançado. Após terem saído os vinhos da primeira, no ano passado, a Enoport lançou, este ano, a segunda, que inclui algumas aguardentes e vinhos Garrafeira da colheita de 2018.
(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2023)