O Alentejo de Manuel Lobo
Conhecido, sobretudo, pelo talento que empresta como enólogo aos grandes vinhos que faz no Douro e no Tejo, Manuel Lobo assume-se agora, também, enquanto produtor no Alentejo, liderando a casa de sua família, Lobo de Vasconcellos. Texto: Luís Lopes Fotos: Lobo de Vasconcellos e Luís Lopes A família de Manuel Lobo de Vasconcelos possui propriedades […]
Conhecido, sobretudo, pelo talento que empresta como enólogo aos grandes vinhos que faz no Douro e no Tejo, Manuel Lobo assume-se agora, também, enquanto produtor no Alentejo, liderando a casa de sua família, Lobo de Vasconcellos.
Texto: Luís Lopes
Fotos: Lobo de Vasconcellos e Luís Lopes
A família de Manuel Lobo de Vasconcelos possui propriedades no Tejo e no Alentejo desde há várias gerações. A vocação vitivinícola familiar vem, na verdade, desde o séc. XVIII, com maior expressão no século XIX, quando da construção da adega da Quinta do Casal Branco, em Almeirim. A chegada ao Alentejo aconteceu mais tarde: foi em 1968 que o avô de Manuel Lobo, adquiriu a Herdade da Perescuma, com 543 hectares, na Vendinha. No início dos anos 80, coube ao pai de Manuel, Francisco de seu nome, adquirir para a família a Herdade do Zambujal do Conde, perto de Évora, com 512 hectares. Cereal de sequeiro, pecuária, floresta, caça, foram as principais actividades agrícolas destas duas herdades ao longo de várias décadas. Tal como muitas outras, também estas terras foram ocupadas na sequência da revolução de 1974, tendo a última parcela sido devolvida apenas em 2014. Em 2020, fizeram-se partilhas dentro da família, tendo o tio de Manuel Lobo, José Lobo de Vasconcelos, ficado com a Quinta do Casal Branco, da qual é, desde há muitos anos, o administrador. Ao seu irmão Francisco coube o património alentejano.
Manuel Lobo tem na Herdade da Perescuma muitas das suas memórias de infância, ali passando largas temporadas em família. “Foi aqui, nas estradas de terra batida e sem trânsito, que aos 12 anos aprendi a guiar um carro”, confessa. A paixão pela agricultura ali nasceu também, mas, ao contrário das três gerações que o antecederam, não seguiu a carreira de agrónomo, optando pela enologia, concluindo o curso da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em 1999. O gosto pela vinha e pelo vinho fê-lo plantar as primeiras videiras em Perescuma ainda durante a sua formação na UTAD. A adega foi construída em 2006, aproveitando alguns financiamentos da União Europeia. No entanto, apesar de terem, na sequência lançado o tinto Perescuma, nunca se apostou muito na marca, rentabilizando a adega através do aluguer a algumas das maiores casas do Alentejo. Hoje, para fora, fazem apenas prestação de serviços. Paralelamente, um contrato com um gigante espanhol da olivicultura ocupa parte da propriedade com olival intensivo.
As partilhas efectuadas em 2020, com a separação patrimonial entre o Casal Branco e as propriedades alentejanas, foram o “click” para o arranque de um novo ciclo vitivinícola nas Herdades da Perescuma e Zambujal do Conde, hoje reunidas debaixo da mesma empresa e assinatura: Lobo de Vasconcellos Wines.
A profunda e enriquecedora experiência de vinha, adega e negócio de vinho alcançada por Manuel Lobo ao longo da sua vida profissional, sobretudo na Quinta do Casal Branco e na Quinta do Crasto (casas onde se mantém como responsável de enologia) foi determinante para o levar a assumir este desafio de criar de raiz uma nova marca no Alentejo, espelhada, num primeiro momento, nas iniciais que representam o nome de família, LV.
Entretanto, foi necessário mexer nos vinhedos. A fase vitícola inicial da Perescuma assenta em plantações de 1995 e 2000, feitas, parte, sob orientação da ATEVA e outra parte sob nfluência dos estágios de Manuel Lobo em Austrália e Bordéus, reflectindo assim a sua cultura vínica. Dessas primeiras plantações, desapareceram, entretanto, o Castelão, e também, Trincadeira, Aragonez e Bastardo, estas últimas “com muita pena, pois a culpa não era das castas, estavam em terrenos inadequados”, diz Manuel Lobo. Mantiveram-se, porém, as parcelas de Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon (plantado com varas de Pauillac), Syrah (da Côte du Rhone) e Touriga Nacional (da quinta do Vale Meão). As plantações mais recentes em produção são de de 2018, e incluem Touriga Franca, Touriga Nacional e Sousão. Em 2021, foram plantados mais 10 hectares, incluindo agora castas brancas, com Touriga Nacional, Verdelho, Sauvignon Blanc e Viosinho. Na Perescuma encontramos hoje 38 hectares, aos quais se somam os 8 hectares de Zambujal do Conde, plantados em 2006 com as variedades Alicante Bouschet, Petit Verdot, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Syrah e Verdelho. No total, são 46 hectares de vinha (85% de uvas tintas), prevendo-se neste ano de 2022 a plantação de mais 23 hectares, recuperando aí as variedades tradicionais entretanto desaparecidas da herdade, nomeadamente Trincadeira e Aragonez. Enquanto as novas vinhas não estiverem a produzir, a empresa arrenda e trabalha alguns vinhedos próximos, com uvas de castas que necessitam, como é o caso da Arinto.
Ambas as propriedades estão inseridas na DOC Alentejo-Évora e, como é habitual na região, espelham uma grande heterogeneidade de solos, com diversos perfis de argilas, areias e calcários. As vinhas são tratadas em modo “eco friendly”, recorrendo à produção integrada, com o mínimo de recurso a herbicidas, e respeitando a biodiversidade, com incremento da flora natural e disponibilidade de abrigos e alimento à fauna local.
Na Lobo de Vasconcellos, o trabalho de Manuel Lobo apoia-se numa equipa de profissionais experientes e motivados, com destaque para a enóloga Joana Lopes (que com ele trabalha também em Casal Branco) e Diogo Grilo, como enólogo residente.
Para já, a marca Perescuma ficou “congelada”, e foram colocadas no mercado em junho de 2021 quatro referências LV, dois brancos e dois tintos, Colheita e Reserva, num total de cerca de 40 mil garrafas. A casa transforma toda a sua produção de uva em vinho, mas apenas uma parte fica para as marcas LV, sendo o restante vendido a granel. Ainda assim, o volume de engarrafamento tem vindo a aumentar, acompanhando o crescimento das vendas, andando agora pelas 60 mil garrafas.
Em termos de volume, o objectivo de Manuel Lobo passa por engarrafar com a sua marca todo o vinho que produz. No que ao perfil dos vinhos respeita, quer diferenciar e expressar os diferentes terroirs que ali encontra e potenciar as características que mais o entusiasmam nos vinhos na casa, em particular a acidez natural e a mineralidade. “Não me preocupo muito com a fruta”, diz, “quero vinhos sérios, frescos, que possam crescer na garrafa”. Mas quatro referências chegam para mostrar tudo isso? Manuel admite que tem alguns trunfos na manga. “Queremos ir mais além, claro. Para já, precisámos evidenciar algum volume e consistência com estes LV Colheita e Reserva. É uma marca nova, que necessita ser implementada, solidificando o nome e o posicionamento. Mas já temos na adega algumas novidades e vinhos ainda mais ambiciosos. Aliás, para nós, a vindima de 2021 foi extraordinária, trouxe muitas coisas que vão dar que falar”. Fica a promessa.
(Artigo publicado na Edição de Março de 2022)
[products ids=”83354,83356,83358,83360″ columns=”4″
Foz Côa debate alterações climáticas no Douro Superior
Os desafios das alterações climáticas para viticultura No âmbito das actividades que integram o Festival do Vinho do Douro Superior (FVDS), decorrerá no dia 28, Sábado, pelas 10.00 horas no auditório da ExpoCôa um Colóquio-Debate com um tema que pensamos ser do interesse de todos os viticultores e produtores do Douro Superior: «As Alterações Climáticas […]
Os desafios das alterações climáticas para viticultura
No âmbito das actividades que integram o Festival do Vinho do Douro Superior (FVDS), decorrerá no dia 28, Sábado, pelas 10.00 horas no auditório da ExpoCôa um Colóquio-Debate com um tema que pensamos ser do interesse de todos os viticultores e produtores do Douro Superior:
«As Alterações Climáticas e os «Desafios para a Vitivinicultura do Douro Superior»
Com a participação de dois reputados técnicos da ADVID (Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense) , propomos-mos aqui debater os problemas que as alterações climáticas levantam numa sub-região fustigada por secas crónicas e aumento das temperaturas, com consequências importantes na produção de uvas e na qualidade dos vinhos. Como ponto de partida para o debate, são apresentadas duas comunicações de grande qualidade.
«Medidas de Adaptação da Viticultura Duriense às Alterações Climáticas», por Luis Marcos, Eng. Agrónomo pela UTAD e Director dos Serviços Técnicos da ADVID
Atendendo ao histórico do clima, ao adicionarmos as projeções para o clima futuro, com um agravamento generalizado destas condições, o desenvolvimento de trabalhos no âmbito das medidas de adaptação reveste-se da máxima importância, possibilitando uma mais eficiente adequação das condições de crescimento das plantas e de otimização da produção e da qualidade das uvas.
A apresentação versará em duas componentes: a) análise das condições climáticas da Região Demarcada do Douro e perspectivas do clima futuro com base na informação de modelos de projecções de alterações climáticas e os potenciais impactos decorrentes desse agravamento de condições; b) discussão de um conjunto de estratégias/medidas de adaptação que permitam reduzir esses mesmos potenciais efeitos negativos, para que o sector vitivinícola esteja precoce e celeremente adaptado para fazer face aos desafios das Alterações Climáticas.
«Sistemas de suporte à decisão: Ferramentas de adaptação do Douro Superior às alterações climáticas?» por Leonor Pereira, Doutorada em Genética Molecular Comparativa e Tecnológica pela UTAD, Mestre em Genética Molecular pela UM e Licenciada em Engenharia Biotecnológica pelo IPB. colaboradora do CoLAB Vines&Wines, ADVID, sendo responsável pela área de mecanização, sensorização, automação e digitalização.
A viticultura enfrenta actualmente uma série de desafios, entre os quais podemos apontar a necessidade de soluções tecnológicas e mecanizadas, a carência de mão de obra, a instabilidade Global, e o cenário de alterações climáticas que estamos a vivenciar neste momento, sendo que este último aspecto assume particular relevância na região do Douro Superior. Nesse sentido, as ferramentas de suporte à decisão têm grande relevância, tendo sido nos últimos anos apontadas como uma solução transversal a muitas das dificuldades enfrentadas pelo sector vitivinícola. Será discutida a importância deste tipo de ferramentas, com base na apresentação de casos concretos.
A participação neste Colóquio -Debate é livre para todas os produtores participantes no FVDS mas obriga a inscrição prévia.
Inscreva-se e garanta desde já o seu lugar neste importante e útil Colóquio-Debate.
(lugares limitados à lotação da sala)
Email para inscrição: geral@grandesescolhas.com
Adega de Redondo: Nova imagem, vinhos surpreendentes
Em Portugal muitos conhecem a marca icónica Porta da Ravessa, mas talvez nem todos saibam que o vinho é produzido pela Adega de Redondo, pois a fama desta brand ultrapassou o seu criador. Sofreu uma transformação recentemente e agora apresenta uma nova imagem aliada a significativo acréscimo qualitativo. Texto: Valéria Zeferino Fotos: Adega Coop. de […]
Em Portugal muitos conhecem a marca icónica Porta da Ravessa, mas talvez nem todos saibam que o vinho é produzido pela Adega de Redondo, pois a fama desta brand ultrapassou o seu criador. Sofreu uma transformação recentemente e agora apresenta uma nova imagem aliada a significativo acréscimo qualitativo.
Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Adega Coop. de Redondo
O moderno conceito de storytelling obriga hoje em dia muitos produtores a inventar histórias à volta das suas marcas para comunicar ao consumidor. Mas há empresas que não precisam de inventar nada, pois a história da sua marca é bem real e antiga. É o caso da icónica Porta da Ravessa responsável por cerca de 50% da faturação da empresa. Aliás, é um verdadeiro case study em como a popularidade da marca tornou célebre o lugar histórico em que foi inspirada. Mas vamos por partes.
A marca Porta da Ravessa surgiu na década de 90 do século passado, a seguir à Real Lavrador, lançada pela Adega de Redondo em 1985. Na altura foi uma inovação em relação à prática de colocar nos rótulos simplesmente o nome do produtor e da origem. A primeira marca homenageava o Rei D. Dinis, “O Lavrador”, figura incontornável na história de Portugal e particularmente de Redondo, concedendo à vila a carta de foral em 1318. Hoje a marca Real Lavrador já não tem conotação com realeza, mas com os verdadeiros lavradores, sendo a imagem do rei substituída pelas pegadas de botas, deixadas na terra.
A história da Porta da Ravessa está ligada ao Castelo de Redondo de traços góticos no centro da Vila. O acesso ao interior do recinto faz-se por duas portas, reforçadas por duas torres de cada lado: a Porta do Postigo virada a poente, por onde sai o caminho em direcção a Évora, e a Porta da Ravessa virada a nascente que dava acesso à feira da povoação. Em cima da porta fica o brasão das armas de Portugal e na pilastra que sustenta o arco do lado direito encontra-se gravado o padrão das medidas lineares utilizadas no Portugal medieval para comercializar tecidos: a vara, correspondente a cinco palmos (110 cm) e o côvado correspondente a três palmos (66 cm). Estas marcas do século XIV são bem visíveis ainda hoje.
No final dos anos 90 houve um grande investimento em comunicação e marketing incluindo anúncios na rádio e TV, patrocínio dos jogos de futebol e desportos motorizados (com Pedro Lamy nas competições de Fórmula 1 e Carlos Sousa no Paris Dakar). A adega tinha uma equipa de ciclismo profissional que em 2000 ganhou a Volta a Portugal com Vitor Gamito. Esta estratégia deu os seus resultados e em 2004 a Porta da Ravessa era uma super brand não só no Alentejo, mas em Portugal inteiro e claramente contribuiu para a popularidade dos vinhos do Alentejo no mercado interno. Os turistas, ao visitar o Castelo de Redondo, impreterivelmente procuram a tal Porta da Ravessa retratada no rótulo.
Na altura de 2010/2011 a Adega de Redondo passou por um período difícil e teve que fazer um saneamento financeiro e rever a sua estrutura de custos. Todo o reconhecimento que a marca ganhou, conseguiu-se manter ao longo dos anos, graças à excelente relação qualidade/preço. Ainda há 3 anos de acordo como índice Nielsen, a Porta da Ravessa era a terceira marca mais vendida em volume e quinta em valor.
No ano passado, no meio de pandemia, decorreu silenciosamente uma grande renovação da imagem de todas as marcas e da própria adega. A imagem da Porta da Ravessa no rótulo ficou mais estilizada com traço moderno, destacando os elementos gráficos do brasão das armas em cima e da vara e côvado. A nova apresentação visa ser apelativa na conquista do consumidor mais jovem.
Equipa jovem e dinâmica
A Adega de Redondo é o maior empregador privado do concelho e conta com 57 funcionários, entre os mais antigos, como o adegueiro que trabalha lá há 40 anos e dizem a brincar que “está casado com a adega”, e mais recentes, jovens e dinâmicos, competentes e dedicados como o Director Geral Nuno Pinheiro de Almeida e o Director Comercial Bernardo Malhador.
A enóloga Mariana Cavaca é responsável de produção. Ao finalizar o Mestrado em Enologia e Viticultura no ISA, estagiou na Quinta do Crasto e reconhece Manuel Lobo como o seu primeiro orientador na profissão escolhida. Depois trabalhou na Solar dos Lobos e Tiago Cabaço Winery. Em 2016 ingressou na Adega de Redondo, no início a trabalhar com Pedro Hipólito, que também considera seu mentor. Desde 2021 assumiu a responsabilidade como Directora de Enologia.
O trabalho de Mariana não tem nada a ver com glamour de estar numa propriedade com um nome sonante. Na altura de vindima, entram 600 toneladas de uva por dia! A produção de vinho em grande volume não deixa margem para passos arriscados, nem perdoa a falta de profissionalismo. A consistência é a palavra chave. Produzir cerca de 15 milhões de garrafas por ano, coerentes em diversas gamas, mantendo a consistência colheita após colheita, é obra. Juntemos aqui a dificuldade acrescida de trabalhar com duas centenas de sócios, sendo que para muitos deles a viticultura é uma actividade adicional. O que vale é que 40 sócios são responsáveis por 80% da produção (32 sócios têm mais de 20 ha cada). Estes já têm uma visão mais empresarial e noção que quanto melhor for a qualidade de uva que entregam, melhor será para a Adega e, consequentemente, para eles. A Adega de Redondo, por sua vez, tem uma atitude de acompanhamento e aconselhamento, não de imposição.
A equipa de viticultura levou a cabo o cadastro de vinhas e castas de todos os sócios, que é actualizado anualmente. Isto permite a gestão de perfis de vinhos, a consistência de qualidade e separação de uva logo na vindima por via de conhecimento sobre o potencial da matéria prima por parcela, por casta e por sócio.
Para assegurar a qualidade de colheita em cada ano, foi elaborado o Programa de Qualidade para vinhos tintos, brancos e rosés que estabelece requisitos de qualidade e os incentivos relacionados, que é actualizado todos os anos pela equipa de enologia e viticultura.
Por exemplo, de acordo com o Programa de Qualidade, as uvas deverão apresentar um bom estado sanitário e estar maduras, mas sem sobrematuração, ou seja as castas brancas têm de apresentar o álcool provável entre as 11 a as 12,5%, com excepção do Arinto que pode ser vindimado com 10,5% para contribuir com a sua acidez natural aos lotes; as referências para as castas tintas podem variar dos 13 às 15%. Privilegia-se a entrega por casta e não em conjunto, pois isto permite uma melhor gestão dos lotes na vinificação (a Tinta Caiada, por exemplo, está mesmo proibida de entrar misturada com outras castas). Se houver problemas fitossanitárias, a uva não vai para a produção de vinho, segue para destilação. Ao fazer lotes também é preciso paciência e concentração. Ensaiam primeiro tudo na sala de provas, pois “30-40 mil litros fazem diferença nos 4 milhões”, explica Mariana.
As instalações são bem equipadas e para além de cubas de cimento antigas de uma arquitectura bonita e pouco comum, dispõe de cubas de inox e 10 cubas com sistema Ganimede capazes de receber 120 toneladas de uva e que dão óptimos resultados – uma remontagem bem feita, extração de cor e parte aromática sem dilaceração de películas, fermentação rápida, grande poupança da energia, exigindo pouca mão-de-obra. Na unidade de acabamento de vinhos, brilha um filtro tangencial para uma filtração delicada e de baixo impacto ambiental. Também há uma sala de barricas para o estágio dos topos de gama da Adega.
Metodicamente investe-se na modernização. Os investimentos mais recentes incluem um novo armazem destinado a produto acabado, o que permite aumentar o tempo de estágio, e uma nova linha de engarrafamento com capacidade para 14 mil garrafas/hora.
É claro que há sempre mais algum “brinquedo” que Mariana gostava de ter na sua sala de vinificações para realizar novas ideias, porque há sempre espaço para introdução de melhorias nos processos enológicos. Contudo, está satisfeita com o seu trabalho. “Sinto-me orgulhosa a provar os vinhos da nossa adega” – diz a enóloga e tem toda a razão, pois as gamas são bem definidas, com consistentes patamares de qualidade dentro de diferentes referências (tem mais marcas para além da Porta da Ravessa e Real Lavrador). Alguns dos vinhos só têm um problema – são escandalosamente baratos. Por exemplo, se me dissessem que o Porta da Ravessa Reserva branco com PVP 6 euros, custava 10 ou 12 euros, não me sentiria defraudada pela qualidade que apresenta e prazer que proporciona. Infelizmente, a guerra de preços dos vinhos neste país, com a pressão dos hipermercados e a aplicação de “descontos” absurdos de 50-70%, deixa os produtores de mãos atados.
Com forte presença dos vinhos da Adega de Redondo no mercado nacional, a exportação corresponde apenas a 15-17% de produção. O mercado nº1 é o Brasil, e também há operações nos Estados Unidos, Rússia, Polónia e “mercado da saudade”. Curiosamente, é mais fácil vender os vinhos lá fora, nota Bernardo Malhador, porque não existe o “estigma” dos “vinhos de adegas cooperativas” e o consumidor não faz juízo de valor em relação ao produtor ser mais ou menos “nobre”: se gosta do vinho, compra-o.
(Artigo publicado na edição de Março de 2022)
[products ids=”83333,83335,83337,83339,83341,83343,83345,83347,83349,83351″ columns=”4″
Editorial: Uma oportunidade para os rosés
LUÍS LOPES “Give peace a chance”, a famosa frase/canção de John Lennon é hoje, infelizmente, mais actual do que nunca. Mas permitam-me que a tome emprestada para evidenciar um tema muito menos sério: os vinhos rosados. Vinhos que, incensados em público, desvalorizados em privado, também precisam de uma oportunidade. Editorial da edição nº61 (Maio 2022) […]
LUÍS LOPES
“Give peace a chance”, a famosa frase/canção de John Lennon é hoje, infelizmente, mais actual do que nunca. Mas permitam-me que a tome emprestada para evidenciar um tema muito menos sério: os vinhos rosados. Vinhos que, incensados em público, desvalorizados em privado, também precisam de uma oportunidade.
Editorial da edição nº61 (Maio 2022)
O tema de capa desta edição da Grandes Escolhas é o vinho rosé. No caso, através de um trabalho de Nuno de Oliveira Garcia (NOG) que procura, com a apresentação e prova de 46 rosados, mostrar que esta categoria de vinhos pode, e deve, ser encarada pelo consumidor mais exigente com o mesmo respeito com que encara brancos e tintos. O que, convenhamos, não é tarefa fácil. Para tal, NOG propõe-se, através de bem fundamentada argumentação (ou não fosse o autor, na sua vida profissional, um dos mais ilustres advogados fiscalistas da nossa praça) desmontar os quatro “dogmas” ou, diria eu, preconceitos, que limitam a ascensão dos rosés ao mais elevado grau de respeitabilidade vínica: são feitos com menos cuidados; têm origem em uvas ou castas menos nobres; evoluem mal e mostram menor qualidade absoluta; são, sobretudo, vinhos baratos e bons para beber no Verão.
A argumentação e prova dão inteira razão ao NOG: produzimos neste momento em Portugal, numa grande diversidade de regiões, um conjunto de vinhos rosados capazes de ombrear com o que de melhor fazemos em brancos e tintos. Os rosés de superior ambição não existem em grande número, é certo, mas acredito que, ano após ano, serão cada vez mais.
A desvalorização do rosé não é, longe disso, um problema exclusivo do mercado português. Nunca mais me esqueço das palavras que ouvi, há quase duas décadas, de um famoso jornalista nórdico: “não há nada que um rosé faça que um branco ou um tinto não possam fazer melhor.” Confesso que, enquanto fervoroso consumidor de rosés, a frase me chocou de início. Mas depois, e ao longo de vários anos, dei-lhe razão. Dissecando o meu consumo de rosés, percebi que os encarava como um vinho de momentos. Bom para um aperitivo; bom para um salmão, uns enchidos, umas sardinhas; bom para relaxar numa tarde de Verão; bom para isto ou aquilo, bebido com frequência, mas nunca encarado como verdadeiramente “grande”. Que diabo, se os rosés fossem assim tão bons, porque é não representavam nem 2% da minha garrafeira?
O que é que mudou desde então, para hoje olhar para os rosés com outros olhos? Na verdade, quase tudo, a começar pelos vinhos em si. Primeiro, a qualidade média subiu muitíssimo, em todos os segmentos de preço. Depois, no patamar mais elevado do mercado, em preço e ambição, surgiram em Portugal rosés de grande categoria. Finalmente, diversos produtores começaram, eles próprios, a valorizar o que produziam, posicionando o seu rosé de topo, pelo menos, ao nível do seu branco de topo (os tintos continuam, regra geral, no cimo da pirâmide de marcas).
Na verdade, os rosés nacionais valem tudo isso. Por vezes, até valem mais do que isso. Sobretudo quando comparados com os sobrevalorizados Provence que, acreditem, na sua grande maioria, estão muito abaixo dos seus congéneres portugueses que custam menos de metade do preço.
O que falta, em resumo, para que o mercado, como um todo, valorize os rosés nas lojas, nos restaurantes, em nossas casas? Provavelmente, apenas tempo. Tempo para os rosés fazerem o seu percurso natural no comércio; tempo para os produtores testarem castas e clones na vinha e diferentes técnicas na adega; e, talvez mais importante do que tudo, tempo de estágio em casa dos apreciadores. Somente ultrapassando a prova do tempo, um vinho, branco, rosé ou tinto, pode denominar-se grande.
Vamos então dar uma oportunidade aos rosés? Não porque o Verão esteja a bater à porta. Apenas porque são muito bons.
Adega do Monte Branco: São os LouCas de Estremoz…
…Que não nos fazem duvidar, pelo contrário. Na Adega do Monte Branco fazem-se verdadeiros vinhos de Estremoz, e isso também pode significar vinhos como os LouCa: únicos, experimentais, com imensa personalidade e qualidade. Sai agora a terceira edição. Texto: Mariana Lopes Fotos: Adega do Monte Branco e Luís Lopes Luís (Lou)ro e Inês (Ca)pão são […]
…Que não nos fazem duvidar, pelo contrário. Na Adega do Monte Branco fazem-se verdadeiros vinhos de Estremoz, e isso também pode significar vinhos como os LouCa: únicos, experimentais, com imensa personalidade e qualidade. Sai agora a terceira edição.
Texto: Mariana Lopes
Fotos: Adega do Monte Branco e Luís Lopes
Luís (Lou)ro e Inês (Ca)pão são a dupla que faz nascer, na solarenga propriedade do Monte Branco, em Estremoz, os vinhos da marca que agrupa o sobrenome de ambos, os experimentais Lou e Ca, que são uma autêntica batalha amigável entre os dois enólogos: Louro faz o Lou e Capão faz o Ca, sempre na procura dos melhores vinhos possíveis de produzir com técnicas de vinificação “de boutique”, e com as castas que ambos consideram ter potencial nesse ano para originar um grande branco ou tinto.
Luís Louro, fundador (e proprietário) do projecto Adega do Monte Branco, desde 2004, quando tinha apenas 23 anos, escolheu a uva Arinto para criar o LOUca branco 2019, que originou 2200 garrafas, por acreditar que esta é a grande casta branca portuguesa. “Adapta-se com facilidade e produz grandes vinhos em todas as regiões de Portugal. O Alentejo não é excepção”, refere. Aqui, com “o objectivo de fazer um grande vinho branco, profundo, mineral e longevo”, Luís seleccionou as melhores uvas de duas parcelas distintas, uma em solo de xisto e outra em calcário. Metade do mosto, das primeiras prensas, fermentou em barricas novas de 500 litros sem clarificação, enquanto a outra parte fermentou, clarificado por sedimentação natural, em barricas usadas com a mesma dimensão. O estágio fez-se durante nove meses nas barricas.
Já o louCA branco 2019 (nesta edição os dois são brancos, mas não é obrigatório), surge quase como o conceito filosófico de Aristóteles da “tábua rasa”, teoria empirista segundo a qual o espírito, antes da experiência, não possui ideia alguma: “Com a plantação da nossa nova vinha de branco em 2017, cresceram as possibilidades para fazer várias experiências com castas sobre as quais não tinha conhecimento, e por isso quis fazer um novo vinho branco para o louCA 2019”, explica Inês Capão, que entrou na Adega do Monte Branco em 2008, depois de passar por outras empresas no Norte de Portugal. Assim, esta vinha plantada em 2017, em solo de transição com xisto e calcário, forneceu ao mais recente louCA as castas Rabigato (40%), Verdelho (30%) Arinto (15%) Galego Dourado e Esgana Cão. Com três experiências no mesmo vinho, parte dele foi feita com maceração pelicular, outra com prensa directa e clarificação, e o restante foi mosto de Arinto “mais verde e ácido”, segundo a enóloga, em curtimenta com massas maduras de Verdelho. Todas estas “experiências” fermentaram em barricas de carvalho francês usadas, com 600 litros de capacidade, e estagiaram durante nove meses. São 2500 garrafas.
A par do lançamento dos LouCa, estão agora no mercado o Alento Reserva branco 2020 e o Monte Branco tinto 2017. O primeiro é um lote de Arinto e Antão Vaz que fermenta e estagia em barricas usadas por seis meses, e o segundo, maioritariamente de Alicante Bouschet, com Aragonez, é vinificado em lagar e estagia entre 12 a 15 meses em barricas novas de 300 litros.
Um projecto em crescimento
Quando imaginou a Adega do Monte Branco, Luís Louro viu um projecto de “castas portuguesas, vinhos autênticos e respeito pela história e pela natureza”, como o próprio diz. Alentejano de nascença e criação, no mundo vínico desde os oito anos — quando o pai, Miguel Louro, se tornou produtor na Quinta do Mouro — escolheu Estremoz devido “ao seu microclima, aos solos de xisto e calcário e a uma certa altitude (cerca de 400m). É uma das regiões mais frescas do Alentejo, onde é possível fazer vinhos com grande equilíbrio, frescura, carácter e potencial de guarda”. Com esta premissa, Luís e Inês almejam mostrar que Estremoz tem uma enorme diversidade, onde é seguramente possível produzir excelentes vinhos tintos e brancos, assegurando uma produção sustentável. “No nosso perfil há cada vez mais uma influência do Alentejo dos anos 80/90, quando os vinhos eram frescos e longevos, mas sem a rusticidade que caracterizava a época”, desenvolve o proprietário.
Hoje a produzir entre 250 a 300 mil garrafas por ano, a Adega do Monte Branco foi crescendo gradualmente também em vinha própria, com um maior incremento nos últimos anos e uma clara aposta em sequeiro. Actualmente, a empresa de Luís Louro é proprietária de 30 hectares de vinha, e arrendatária de 18. Estes últimos, com o nome Vinha dos Cardeais, são ainda de onde provém a maior parte das uvas, uma plantação de 2001 em solo de xisto muito pobre e pedregoso, maioritariamente tinta, com Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet, Syrah; e também Arinto, Verdelho e Antão Vaz.
Mantendo-se mais duas vinhas plantadas também em 2001, com uma parte mais velha de 1996 com mistura de quatro castas (3,2 hectares), em 2017 iniciaram-se novas plantações. Neste ano, por exemplo, surgiu a vinha que deu origem ao louCA 2019, junto à adega, quatro hectares com as brancas Esgana Cão, Arinto, Rabigato e Galego Dourado, e as tintas Alicante Bouschet, Tinta Miúda e Sousão. É neste momento a principal parcela de brancos, e só não é maior porque culmina numa zona de mármore à superfície, onde não foi possível plantar mais. Daqui vem também uma novidade absoluta ainda não lançada, que ainda precisa de mais tempo em garrafa, um branco chamado “Monte Branco Vinhas Novas”, nome “em protesto contra a ‘aldrabice’ dos supostos Vinhas Velhas que se vêm à venda”, contesta Luís Louro.
É também relevante a nova Vinha da Freira, de 2020, 12 hectares em xisto e calcário que incluem um campo de ensaios, numa zona argilosa onde, devido à erosão de uma serra próxima, o solo chega a ter 30 metros de profundidade e elevada capacidade de retenção de água. É onde foram plantadas várias castas antigas típicas alentejanas e de outras regiões. Assim, na Vinha da Freira existe Trincadeira (na zona mais alta, pobre e rochosa de xisto), Alicante Bouschet, Tinta Miúda, Moreto, Castelão, Tinta Carvalha, Marufo, Tinto Cão, Arinto e Roupeiro. Ainda de 2020, em solo calcário, de terra fértil e profunda, há a vinha da Courela Estreita, apenas um hectare com 32 castas misturadas, brancas e tintas.
Por agora, ficamos com os LouCa, com o Alento Reserva branco e com o Monte Branco tinto. Mas haverá mais novidades daqui a uns meses, além do Vinhas Novas e do Monte Branco branco. Varietalmente falando, digamos. Mas não foi de mim que “ouviram”.
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2022)
[products ids=”83073,83075,83077,83079″ columns=”4″
V. N. De Foz Côa acolhe 9º Festival do Vinho do Douro Superior
Entre 27 e 29 de Maio, decorre mais uma edição do certame que pretende projectar e promover a identidade da sub-região do Douro Superior como produtora de vinhos de qualidade e com identidade e carácter próprios. Este ano, com a presença especial de Dirceu Vianna Junior, Master of Wine. O Festival do Vinho do Douro Superior […]
Entre 27 e 29 de Maio, decorre mais uma edição do certame que pretende projectar e promover a identidade da sub-região do Douro Superior como produtora de vinhos de qualidade e com identidade e carácter próprios. Este ano, com a presença especial de Dirceu Vianna Junior, Master of Wine.
O Festival do Vinho do Douro Superior volta com a sua nona edição nos dias 27, 28 e 29 de Maio após dois anos sem realizar-se devido à pandemia. A mostra vai decorrer no EXPOCÔA – Centro de Exposições de Vila Nova de Foz Côa.
Organizado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa com a produção da ‘Grandes Escolhas’, o Festival do Vinho do Douro Superior que tem a abertura oficial agendada para o dia 27 de Maio pelas 18:00 horas, tem como objectivo consolidar a sub-região do Douro Superior, os seus produtores e os seus vinhos como expoentes da qualidade da feira do vinho em Portugal. No âmbito do festival, que tem este ano mais de 80 expositores, voltam a realizar-se um conjunto de iniciativas que enriquecem o evento.
É o caso do prestigiado ‘Concurso de Vinhos do Douro Superior’, onde um júri diversificado composto por jornalistas, bloggers especializados, profissionais da restauração, garrafeiras, e distribuição avaliam cerca de centena e meia de vinhos, entre brancos, tintos e vinhos do Porto, numa prova que surpreende sempre pelo grande nível das amostras apresentadas.
“Este é um concurso muito especial em que habitualmente os produtores enviam os seus topos de gama para a competição, reunindo-se aqui os melhores vinhos do Douro Superior, que raramente são apresentados em concursos”, afirma João Geirinhas, director de negócio da revista Grandes Escolhas.
Da programação faz também parte um Colóquio, a realizar na manhã de sábado, dia 28, que este ano traz para tema de debate uma discussão premente para os produtores da região: “As alterações climáticas e os desafios vitícolas do Douro Superior”. Dinamizada pela ADVID (Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense), conta com intervenções de Luís de Matos, com uma comunicação intitulada “Medidas de Adaptação da Viticultura Duriense às Alterações Climáticas”, e de Leonor Pereira “Sistemas de suporte à decisão: Ferramentas de adaptação do Douro Superior às alterações climáticas.
Para além da mostra dos vinhos e iguarias do Douro Superior presente para exposição e venda durante todo o evento, destacam-se as provas comentadas – “Grandes tintos do Douro Superior” (dia 27), pelo jornalista Fernando Melo, “Grandes Brancos do Douro Superior” (dia 28), pela crítica de vinhos Valéria Zeferino e “Vinho do Porto” (dia 29), pelo especialista Luís Antunes, para além de uma prova de azeites da região.
O espectáculo musical também faz parte da agenda com concertos ao vivo, de “HMB” e “Sons do Minho”, que irão animar os visitantes do festival.
O Festival do Vinho do Douro Superior é já uma referência do calendário dos grandes eventos vínicos do país, contribuindo, deste modo, para a afirmação da identidade do Douro Superior, num sector de destaque da economia nacional.
#ircomsedeaopote: Fogo de Chão e Potes no Quintal 2022
Após o sucesso da primeira edição da experiência FOGO DE CHÃO E POTES NO QUINTAL, em 2020, Renato Cunha, chefe e proprietário do restaurante Ferrugem, e a sua mulher, Anabela Rodrigues Cunha, arquitecta, desenharam um ciclo de experiências de cozinha ao ar livre, a realizar no quintal da Casa Ana Monteiro, já a partir do […]
Após o sucesso da primeira edição da experiência FOGO DE CHÃO E POTES NO QUINTAL, em 2020, Renato Cunha, chefe e proprietário do restaurante Ferrugem, e a sua mulher, Anabela Rodrigues Cunha, arquitecta, desenharam um ciclo de experiências de cozinha ao ar livre, a realizar no quintal da Casa Ana Monteiro, já a partir do próximo dia 7 de Maio de 2022, com 11 edições entre Maio e Outubro.
Há dois anos que o casal aposta em experiências imersivas na ruralidade, juntando três espaços, cujas funções se complementam: o restaurante Ferrugem e o alojamento local, Casa de Maganhe e Casa Ana Monteiro. A afinidade de objetivos e a proximidade física destes lugares, estabeleceu, naturalmente, um cluster integrado, com um propósito de autossuficiência baseada no produto local, na identidade, no conhecimento e na cultura. A cerca de 200m do Ferrugem, a Casa Ana Monteiro é uma pequena quinta da família, com uma habitação de arquitectura popular, actualmente destinada à exploração turística.
Com jardim, horta biológica e excelentes condições para a criação de animais de capoeira, é o palco perfeito para as experiências de FOGO DE CHÃO E POTES NO QUINTAL, tanto pela beleza do espaço, como pela privacidade que a topografia do terreno lhe confere. Cozinhando em potes de ferro fundido e ao ar livre, a proposta baseia-se num exercício de partilha, em que o chefe mostra a sua versatilidade gastronómica e a paixão pelas origens, invocando pratos de conforto e que fazem parte do imaginário rural, resultando em iguarias de aspeto popular e sabor absolutamente sofisticado.
O #ircomsedeaopote conta com a participação de alguns chefes convidados e vários produtores de vinhos, a anunciar oportunamente. Estão já confirmados: Quinta da Faísca e Adega Casa da Torre, Quinta do Crasto, Quinta das Bágeiras, Quinta de Cottas, Quinta de Ceis, Covela e Quinta de Soalheiro.
Juntam-se ao evento outros produtores nacionais das mais variadas áreas, com destaque para a “Infusões com História”, parceiro oficial de 2022.
Portela, Vila Nova de Famalicão – 7 de maio | 21 de maio | 4 de junho | 18 de junho | 9 de julho | 23 de julho 6 de agosto | 10 de setembro | 24 de setembro | 8 de outubro | 22 de outubro
Cada edição está limitada a 35 pessoas, inicia às 17h00 e encerra às 22h00.
Após a confirmação da participação no evento #ircomsedeaopote, o cliente recebe em casa o ingresso, num estojo com duas prendas, cortesia da “Infusões com História”, parceiro oficial de 2022. Informações e reservas: +351 932 012 974 ou restaurante@ferrugem.pt
Nicolau de Almeida: Do Douro até Gaia
Os últimos anos têm sido de grandes mudanças na casa Nicolau de Almeida e no projecto da Quinta do Monte Xisto. A história familiar no negócio do Vinho do Porto impulsionou uma espécie de regresso às origens, traduzida não apenas no lançamento dos seus primeiros fortificados como também na instalação de um armazém em Vila […]
Os últimos anos têm sido de grandes mudanças na casa Nicolau de Almeida e no projecto da Quinta do Monte Xisto. A história familiar no negócio do Vinho do Porto impulsionou uma espécie de regresso às origens, traduzida não apenas no lançamento dos seus primeiros fortificados como também na instalação de um armazém em Vila Nova de Gaia para o estágio dos vinhos. Pelo meio, a linha de tintos da Quinta do Monte Xisto cresceu…
Texto: Luís Lopes
Fotos: DR
O casamento, em 1976, de João Rosas Nicolau de Almeida e Graça Eça de Queiroz Cabral, significou igualmente a união de duas famílias com uma rica história vitivinícola, ligada ao Douro e ao vinho do Porto. Em 1870, António Nicolau de Almeida Júnior, bisavô de João, tinha já a sua própria empresa de exportação de vinho do Porto, firma que no início dos anos 60 seria absorvida pela Real Companhia Velha. Fernando Nicolau de Almeida, seu pai, tornou-se famoso na Casa Ferreirinha enquanto enólogo e criador do icónico Barca Velha. Pelo lado materno, o seu tio-trisavô Adriano Ramos Pinto foi o fundador, em 1880, da casa com o seu nome e que ainda hoje perdura, englobada no grupo Roederer. A mesma Ramos Pinto onde João Nicolau de Almeida trabalhou várias décadas enquanto enólogo e administrador. As raízes de vinha e vinho de Graça Queiroz Cabral, não são menos impactantes. Seu bisavô paterno, Afonso Pereira Cabral, era proprietário da Quinta do Paço de Monsul e da Quinta do Cachão. Do lado materno, e através do seu tetravô José Maria Rebello Valente, a família foi durante quase 100 anos proprietária da Quinta do Noval. Dos três filhos de João e Graça, dois (Mateus e João), são enólogos; e Mafalda, ligada às artes e à cultura, é um dos motores e responsável pela comunicação da empresa familiar João Nicolau de Almeida & Filhos, criada para desenvolver o projecto da Quinta do Monte Xisto.
Apaixonado pelo Douro onde, inserido na casa Ramos Pinto, realizou notável trabalho de investigação e desenvolvimento vitícola e enológico, deixando legado técnico e científico que lhe valeu o unânime reconhecimento dos seus pares enólogos e produtores e também de apreciadores de todo o mundo, João Nicolau de Almeida começou no início dos anos 90 a sonhar com uma quinta e um vinho a que pudesse chamar seus. O local, um pequeno monte no concelho de Vila Nova de Foz Côa, no Douro Superior, foi identificado em 1993. Mas daí até que as diversas parcelas de terreno (num total de 55 hectares) com diferentes proprietários, chegassem às suas mãos, passou mais de uma década. O que cativou João de imediato foi a “anormalidade” geológica da zona, que proporciona ali características diferenciadoras às quintas de beira rio, sobretudo em termos de exposição solar das vinhas. Na quase totalidade do seu percurso, o rio Douro corre de este para oeste, portanto os terrenos ou estão expostos a sul ou a norte. Acontece que em Foz Côa existe uma falha tectónica, a Falha da Vilariça, que provocou um conjunto de curvas, fazendo com que o rio aqui corra de sul para norte. Como resultado, a propriedade do Monte Xisto, tem todo o tipo de exposição solar. A vinha, cuja plantação se iniciou em 2005, reflecte isso mesmo, com as castas ordenadas segundo a inclinação do terreno, a altitude e as horas de sol que cada parcela recebe.
Os vinhedos estão plantados “ao alto”, em solos de xisto, com parcelas separadas por casta e algumas com as variedades misturadas. São 10 hectares de vinha, que se estendem desde os 220 aos 320 metros de altitude, e incluem as tintas Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinto Cão, Tinta da Barca, Tinta Francisca, Sousão e Tinta Roriz; e as brancas Rabigato, Viosinho, Arinto e Códega.
O modelo de viticultura biológica (com alguns princípios biodinâmicos) está implementado de raiz na Quinta do Monte Xisto. Inicialmente céptico, o pai João acabou por ser convencido pelos filhos Mateus e João e hoje está imensamente satisfeito com os resultados. Tal como a família Nicolau de Almeida faz questão de salientar, este modelo de agricultura “vai muito além das restrições ou inibições de produtos químicos: trata-se, acima de tudo, de preservar e fomentar a biodiversidade trabalhando um mosaico cultural”. Nesse sentido, Monte Xisto junta à vinha uma extensa área de mata (zimbros, carrascos e cornalheiras, sobretudo), um olival de onde se faz azeite, amendoeiras, e um pequeno pomar de laranjeiras.
Certas práticas da biodinâmica são aqui aplicadas, nomeadamente as infusões de diversas plantas que são pulverizadas na vinha com o intuito de prevenir doenças e proteger as videiras contra o calor, ou ainda, ser incorporadas no solo, funcionando como adubo. A vontade de experimentar e investigar esteve sempre presente na família Nicolau de Almeida. O mais recente projecto, inserido num consórcio sob a liderança da Deifil Technology, e onde participam igualmente a Sogrape, o Instituto Politécnico de Bragança e a ADVID (Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense), visa desenvolver uma solução fungicida de origem natural para o combate de míldio, oídio e podridão cinzenta.
O RETORNO A GAIA
O movimento de Vila Nova de Gaia para o Douro, por parte dos produtores tradicionais de vinho do Porto, estendendo a sua operação e investimentos para as quintas durienses, ocorre desde há muitas décadas. O que é absolutamente invulgar, ou até, de certo modo, inédito, é o movimento no sentido contrário. Ou seja, uma empresa que começa pela produção e comercialização a partir do Douro, estender-se para Gaia para aí centralizar o estágio, afinamento, engarrafamento e expedição dos seus vinhos. Mas foi precisamente isso que a João Nicolau de Almeida e Filhos fez, ao instalar-se na Rua Rei Ramiro, uma das mais clássicas e históricas artérias da “Gaia do Vinho do Porto”.
O propósito não foi apenas de ganhar maior eficácia logística com a proximidade dos circuitos de transporte e comercialização. Seguindo a lógica que sempre norteou as antigas casas de vinho do Porto, também a família Nicolau de Almeida confia no clima ameno da cidade, onde a influência atlântica proporciona aos vinhos perfeitas condições de temperatura e humidade para estágio prolongado, sem necessitar de climatização artificial. Assim, após a fermentação no Douro, os vinhos da Quinta do Monte Xisto vão de imediato o armazém de Gaia, onde estagiam em barricas de diversas capacidades, cubas de cimento e toneis de madeira. Parte dos 2018, todos os 2019 e colheitas seguintes já fizeram este percurso para Vila Nova de Gaia. “Em Gaia sempre se ‘fez’ vinho”, diz a propósito João Nicolau de Almeida, “é preciso recuperar e manter essa identidade, não podemos deixar que se transforme num enorme centro comercial”.
O primeiro Quinta do Monte Xisto nasceu na vindima de 2011 e ao longo de quase uma década manteve-se uma só referência, a perpetuar o nome da família com o símbolo da estrela que identificava a antiga casa Nicolau de Almeida no século XIX. Mas a linha de produtos tem estado a ser preparada para crescer e, da colheita de 2018, surgiu o primeiro Quinta do Monte Xisto Oriente. Agora, a gama ampliou-se significativamente, com o aparecimento de mais um tinto e, como não poderia deixar de ser, dado o histórico familiar, dois vinhos do Porto.
No mercado estão assim, neste momento três tintos, já da colheita de 2019. O primogénito, Quinta do Monte Xisto, é feito, como habitualmente, a partir das variedades Touriga Nacional e Touriga Francesa, com um toque de Sousão para “temperar”. Vinificado em lagar, com pisa a pé e leveduras indígenas, veio depois para Gaia estagiar em pipas de 600 litros e tonéis “foudres” de 2000 litros. Originou cerca de 7000 garrafas. A segunda edição do Quinta do Monte Xisto Oriente segue o conceito da inicial. Tem assim origem em duas pequenas parcelas viradas a leste (oriente, portanto), uma plantada com Tinto Cão e outra com Tinta Francisca. Fermenta em cuba de cimento e estagia depois em pipas de 600 litros, enchendo pouco mais de 1000 garrafas. Pelo perfil das castas e exposição solar da vinha, é sempre um tinto mais centrado na elegância e frescura do que na potência. Na vindima de 2019 estreou-se a nova referência em tintos, o Monte Xisto Órbita. Trata-se de um blend de várias castas, oriundas das parcelas que orbitam (daí o nome) em torno das videiras que dão origem ao vinho bandeira, o Quinta do Monte Xisto. Assim, tendo embora uma base muito importante (70%) de Touriga Nacional, inclui ainda 30% de uvas vindas de uma parcela, plantada em 2003, com várias castas misturadas. Propõe-se ser um vinho menos concentrado e com menos estágio em barrica do que o seu irmão mais velho. Fermenta em cuba de cimento e depois, já em Gaia, faz estágio em cimento e em pipas de 600 litros. A produção ronda as 6.000 garrafas.
Novidades são igualmente os dois Porto, comercializados sob a histórica marca Nicolau de Almeida. A abrir, um Porto branco leve seco. Baseado em Rabigato (70%), com Arinto, Viosinho e Códega, é pisado em cuba de cimento aberta, onde inicia a fermentação com a película ao longo de 3 dias. Depois de fortificado com aguardente, vai fazer o resto do estágio em cimento. O vinho agora colocado no mercado resulta de um lote de quatro colheitas, tem apenas 16,5% de álcool e 24 g/l de açúcar (leve e seco, não esquecer). Encheram-se 4000 garrafas de 500ml. Finalmente, e obviamente, um Vintage, também de 2019. São apenas 1200 garrafas de um vinho elaborado a partir de um blend semelhante ao Quinta do Monte Xisto original, ou seja, Touriga Nacional e Touriga Francesa com algum Sousão, de parcelas com exposição norte e sul. Pisado e fermentado em lagar tradicional e depois estagiado em cimento (algo pouco comum nesta categoria), reflecte inteiramente a matriz do Douro Superior bem como a pureza e frescura frutada dos vinhos da propriedade.
Em muito pouco tempo, portanto, a família Nicolau de Almeida operou uma quase revolução estratégica no seu modelo de negócio: por um lado, alargou consideravelmente o portefólio de referências; por outro, estendeu a produção até Vila Nova de Gaia, aproveitando assim por inteiro a dimensão histórica e geográfica da denominação de origem. Justifica-se assim que termine esta prosa repetindo o que escrevi em 2013, quando da estreia do Quinta do Monte Xisto e a propósito desta saga familiar: “É mais do que um vinho. É o destino.”
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2022)
[products ids=”60820,60822,60824,60826,60828″ columns=”4″