Prémios Grandes Escolhas «Os Melhores do Ano» dia 1 de Março no Estoril

Como habitualmente, prevê-se que centenas de convidados possam assistir ao vivo o anuncio das escolhas da redacção da revista Grandes Escolhas dos vinhos e das personalidades, empresas, instituições e profissionais da área dos vinhos e da gastronomia em Portugal. No que se refere aos vinhos, a grande espectativa é mais uma vez revelar o Top […]

Como habitualmente, prevê-se que centenas de convidados possam assistir ao vivo o anuncio das escolhas da redacção da revista Grandes Escolhas dos vinhos e das personalidades, empresas, instituições e profissionais da área dos vinhos e da gastronomia em Portugal. No que se refere aos vinhos, a grande espectativa é mais uma vez revelar o Top 30, aqueles que o conjunto de provadores e críticos da Grandes Escolhas consideram serem os 30 melhores vinhos absolutos provados durante o ano 2023, e dentro destes, qual o melhor espumante, o melhor vinho branco, rosé, tinto e fortificado. Ainda nos vinhos são também anunciados os melhores em cada região, aquilo que a revista designa como “Os Melhores de Portugal”.

 

 

Já no que se refere aos Troféus Grandes Escolhas, serão anunciados no final do jantar os 20 Prémios Especiais, cobrindo as áreas da viticultura, da enologia, da performance dos produtores e das empresas, com assim como sommeliers e restaurantes. Em qualquer destes domínios a equipa da Grandes Escolhas escolhe por consenso os premiados que mais se distinguiram no ano transacto nas seguintes categorias:

Produtor Revelação

Produtor

Cooperativa

Empresa

Empresa de Vinhos Generosos

Produtor Singularidade

Enólogo

Enólogo de Vinhos Generosos

Viticultura

Organização

Enoturismo

Garrafeira

Loja Gourmet

Wine Bar

Restaurante

Restaurante Cozinha Tradicional

Restaurante Cozinha do Mundo

Sommelier

Premio Gastronomia David Lopes Ramos

Senhor/a do Vinho

 

Toda a cerimonia vai poder ser seguida por transmissão em directo através das plataformas digitais.

Manoella, Guru, Pintas: No coração do Douro

manoella wine & soul

Regressar à Manoella é sempre um prazer. Estamos nas margens do rio Pinhão e logo no trajecto entre a estrada e a casa no coração da quinta somos familiarizados com a extensa floresta de mata mediterrânica que se estende por 30 ha e pelas diversas casas em ruínas espalhadas pela propriedade, umas que foram armazéns, […]

Regressar à Manoella é sempre um prazer. Estamos nas margens do rio Pinhão e logo no trajecto entre a estrada e a casa no coração da quinta somos familiarizados com a extensa floresta de mata mediterrânica que se estende por 30 ha e pelas diversas casas em ruínas espalhadas pela propriedade, umas que foram armazéns, outras que foram adegas.

Hoje – em época de explosão do enoturismo – logo nos interrogamos se para elas há projectos a curto prazo mas Sandra, cautelosa, lá vai dizendo que “para já não, temos outras prioridades mas… mais premente é o restauro da casa principal da quinta que se apresenta muito carente de obras”. O caminho é demorado e a estrada de terra obriga a condução cautelosa. Dá para ir percebendo que, por aqui, há quase tudo – vinhas, oliveiras, medronheiros, muitas árvores de fruto, apiário e ervas aromáticas indígenas. Um verdadeiro microcosmos.

É nesta quinta que funciona o centro de operações da Wine & Soul para o vinho do Porto, com a adega cheia de tonéis, balseiros e barricas. Com o tempo, e tendo começado no DOC Douro, a Wine & Soul tem vindo a produzir, adquirir e armazenar vinho do Porto e o portefólio já se estende por muitas categorias como Tawny e Ruby Reserva, Branco 10 anos e 10 anos Extra-Dry, tawny 10 e 20 anos, todos com a chancela Manoella e o Vintage, da marca Pintas. Bem guardado e à espera do momento certo para ser lançado, há também em arquivo um Porto branco muito, muito velho que cirurgicamente é dado à prova e que se inscreve naquela categoria do “néctar dos deuses”, algo que pudemos comprovar no local.

manoella Wine&soul

É na Manoella que funciona o centro de operações da Wine & Soul para o vinho do Porto, com a adega cheia de tonéis, balseiros e barricas.

 

Uma vertical de Guru

As nossas provas desenrolaram-se em dois momentos. Parte foi feita ao jantar, na casa que Jorge e Sandra têm no Pinhão e onde moraram antes de zarparem para Vila Real com os filhos em idade escolar; a segunda parte foi nas instalações da empresa em Vale de Mendiz, localizadas por cima da adega dos lagares onde, desde sempre, se fizeram os vinhos tintos. Ao jantar, e em ambiente descontraído, pudemos revisitar algumas colheitas mais antigas como o Guru 2012 em magnum, um branco notável, mineral e rico com excelente acidez; nos tintos, o sempre surpreendente Pintas Character 2008, o Pintas 2011 em magnum, a revelar-se muito firme na imensa qualidade que apresenta e o Porto Vintage Pintas 2003 também ele a mostrar uma boa evolução.
Já em Vale de Mendiz tivemos a oportunidade de conhecer quase toda a equipa (neste momento são 23 pessoas) e onde se incluem alguns estagiários e quatro timorenses a quem, em acordo com a Caritas, a Wine & Soul se dispôs a dar casa e trabalho. Aqui funciona também o enoturismo com imensas visitas (com provas), com equipa destacada para o efeito.
Junto à adega existe um armazém onde se vinificam os brancos em barrica; não é bonito, nada tem de fashion, mas cumpre, como nos diz Jorge, a função primordial “conseguimos aqui vinificar os brancos com controle de temperatura de fermentação barrica a barrica, porque elas não são iguais e os mostos também não; estamos nisto desde 2012.” A isto pode-se chamar uma enologia de precisão, conceito que Jorge e Sandra aplicam sobretudo aos brancos que produzem.

O momento – uma mini vertical de brancos da marca Guru – foi também aproveitado para revisitar algumas colheitas mais antigas. A marca nasceu em 2004 e o vinho é feito com uvas das zonas mais altas e frescas, de Porrais e Martim. Sempre que é possível, Jorge e Sandra continuam por ali a comprar parcelas de vinhas. São zonas de xisto em transição para granito, um xisto rico em quartzo e minerais. É uma região onde domina a casta branca Códega do Larinho. As vinhas que estão na base do Guru obrigam a duas semanas de vindima, são vindimadas parcela a parcela e há uma hierarquia de momentos de vindima. “É um vinho de precisão”, como nos foi referido e como são muitas parcelas e há pouco tempo para fazer a vindima, é muito exigente em mão de obra. Provámos o Guru 2009, citrino, fcom ruta madura, leve floral, cheio de classe, sem excessiva evolução; ainda cheio de força na boca, com vida pela frente, em muito boa forma.

Na altura já não era só barrica nova. (18,5); o 2010 um pouco mais carregado na cor, menos falador no aroma, discreto na fruta madura, bem na boca mas com mais evolução, com menos promessa de vida em cave (18); o 2013 com muito fósforo no aroma, mesmo em dose excessiva mas, algo surpreendentemente, resulta muito bem na boca, evolui bem no copo, é vinho mais para falar do que para beber (18); da colheita de 2015 chegou-nos um Guru notável no equilíbrio que mostra entre o aroma e o sabor, uma frescura incrível e muito fino na boca, dá imenso prazer a beber e é obviamente um branco apto para a cave, perfeito na fruta citrina e na acidez (18,5); um notável vinho em prova foi o 2019 com grande perfeição aromática, com fruta de grande requinte. Fino e elegante, com toques minerais e a elegância a percorrer toda a prova (18,5/19)

manoella Wine&soul

 

A mini vertical de Guru foi também aproveitada para revisitar algumas colheitas mais antigas. A marca nasceu em 2004 e o vinho é feito com uvas das zonas mais altas e frescas, de Porrais e Martim.

 

 

Novidades na mesa

A novidade agora apresentada, o Guru Vinha da Calçada, tem origem numa única parcela de quase 100 anos “seguramente anterior a 1932”, com 0,5 ha, a 600 metros de altitude e com mistura de castas. Fermentação e estágio em foudre durante 2 anos e mais um ano em garrafa. A madeira não tem tosta “o que favorece a tensão nos vinhos e o formato do foudre gera uma movimentação de borras finas de forma natural”, refere Sandra Tavares da Silva.
Os tintos são feitos a lagar com corte a pé e pisa a pé à noite durante 3 noites. Durante o dia usam a pisa mecânica para baixar a manta. Os tintos fazem a maloláctica já na barrica porque “isso ajuda a integrar muito melhor a madeira no vinho, mas correm-se alguns riscos porque o vinho está desprotegido sem sulfuroso” salienta Jorge Borges. Mais atenção e mais precisão, de novo.
Para o Pintas Character entram 5 parcelas em Vale Mendiz, com castas misturadas, lagar e barrica usada; no caso do Pintas “sempre pensámos o vinho em termos de mercado externo e o PVP (mesmo alto) é sempre o mesmo lá e cá; desde o princípio que procurámos diversificar os mercados e, entre outros, estamos na Suíça, Alemanha, Inglaterra, USA, Brasil, Macau. Trabalhamos com 25 países e vamos agora exportar para a Austrália”, contou Sandra.

No Porto Vintage esta é a 14ª edição, “estamos a vindimar para Vintage mais cedo do que mandava a tradição, não exagerando na sobrematuração das uvas, mas é uma luta vender estes vintages porque quem compra vai sempre dirigir a escolha para as marcas consagradas”. Tempos nem sempre fáceis para os pequenos produtores de Porto, para quem estes vinhos são muito mais um complemento de portefólio do que propriamente uma boa fonte de rendimento.
Da Quinta da Manoella, a grande novidade apresentada foi o tinto Vinha Alecrim que tem origem numa parcela plantada pelo trisavô de Jorge Borges instalada em terraços pré-filoxéricos, rodeado de alecrim e floresta mediterrânica. Foi engarrafado em 2017 e teve 6 anos de garrafa. Como nos diz Sandra “tem origem numa parcela que sempre se distinguiu, sempre originou um vinho diferenciador”. Com tanta vinha de vetusta idade não será de espantar que outras parcelas da Manoella sejam, no futuro, escolhidas para vinhos muito especiais.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)

SOGRAPE DISTINGUIDA COM CERTIFICAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE

A Sogrape foi distinguida com a Certificação de Sustentabilidade concedida pela ViniPortugal, que reconhece e confirma o empenho da empresa em promover práticas responsáveis em todas as regiões nacionais onde produz vinho. A Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola é transparente e independente e baseia-se em auditorias realizadas por organismos acreditados. Nelas é avaliada a […]

A Sogrape foi distinguida com a Certificação de Sustentabilidade concedida pela ViniPortugal, que reconhece e confirma o empenho da empresa em promover práticas responsáveis em todas as regiões nacionais onde produz vinho.
A Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola é transparente e independente e baseia-se em auditorias realizadas por organismos acreditados. Nelas é avaliada a gestão sustentável da organização e o seu compromisso em relação à produção sustentável de vinhos de qualidade.
Estabelecido para garantir a credibilidade e confiabilidade dos vinhos portugueses nos mercados internacionais, o processo envolve todos os temas ligados à sustentabilidade e inclui 86 indicadores distintos em termos ambientais, sociais e económicos, que foram avaliados em todas as áreas e mais de 30 instalações da Sogrape, através de auditorias realizadas pela Certis – Controlo e Certificação.
Para Mafalda Guedes, diretora de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Sogrape “a distinção é o reconhecimento do trabalho desenvolvido na área da Sustentabilidade e no âmbito do programa Seed the Future, e dá-nos ainda mais motivação para continuarmos empenhados em sustentar o nosso planeta para as gerações vindouras e em garantir que o vinho e a sua cultura possam ser preservados para aqueles que nos sucedem.”

Quinta Nova: Um futuro construído no interior do passado

quinta nova

Se num lançamento, o vinho é o “verbo”, a vertiginosa veia de projecção e criação de Luísa Amorim insiste em levar-nos para a imensidão de feitos que, desta vez na Quinta Nova, se moldam e erguem numa constante busca do sublime e exclusivo. Dentro do edifício original, construído em 1764, ungido pela pequena capela que […]

Se num lançamento, o vinho é o “verbo”, a vertiginosa veia de projecção e criação de Luísa Amorim insiste em levar-nos para a imensidão de feitos que, desta vez na Quinta Nova, se moldam e erguem numa constante busca do sublime e exclusivo.
Dentro do edifício original, construído em 1764, ungido pela pequena capela que a ladeia, nasce uma nova adega onde a tecnologia mais recente convive com a inspiração tradicional, onde o cimento possui, agora, um papel cada vez mais presente e persistente na concepção e definição de perfil dos vinhos DOC Douro. A orografia duriense replica-se na disposição das cubas de cimento de fabrico italiano, criadas à medida da adega, imitando os altos patamares e as curvilíneas formas das vinhas. São 35 novas cubas que aliam a tecnologia às fórmulas tradicionais de vinificação, valorizando-se a preservação da matéria-prima, permitindo uma evolução lenta do vinho e uma micro-oxigenação não redutiva dos vinhos. Com uma vertente promoção de identidade, valoriza-se igualmente a microflora que se desenvolve no interior das cubas nos processos de fermentação e estágio, conduzindo à expressão única de cada uma delas e a vinhos diferenciados e únicos. As mudanças climáticas e a antecipação dos seus efeitos são, igualmente, uma preocupação latente associada à preservação das florestas. A opção pelo cimento é uma prática cada vez mais difundida nos mais reconhecidos produtores franceses, vanguardismo que o universo de Luísa Amorim – Quinta Nova, Taboadella e Aldeia de Cima- procura seguir.
Não revelando os valores do investimento, a produtora afirmou com segurança que, não obstante o montante elevado, augura-se que o mesmo seja amortizado num espaço de 4 a 5 anos.
Prevista para estar concluída no final de 2024 a início de 2025, está a ampliação da unidade de alojamento e serviços de enoturismo de vertente ecológica. Serão mais 6 a 8 quartos, inseridos numa nova unidade dotada de spa e piscina semiolímpica panorâmica, com vista privilegiada para o rio Douro.

Dois tintos e um Vintage

No já longínquo ano de 1979 e até 1981, decorreram na Quinta Nova os primeiros estudos para a plantação monovarietal no Douro, centrados nas castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e também Touriga Francesa. No âmbito desses trabalhos, foram criadas várias parcelas de vinha, cifrando-se hoje em 41, cada uma com cerca de 3500 plantas por hectare, plantadas entre a cota mínima de 80 metros e a máxima de 287 metros. Os Quinta Nova Vinha Centenária P28/P21 e P29/P21, ambos da colheita de 2020, resultam desse compromisso entre duas parcelas de Touriga Nacional, num caso, e Tinta Roriz, noutro, com a magnificência e complexidade das Vinhas Centenárias, património genético com um total de 7 hectares onde pontificam cerca de 80 castas identificadas.
O primeiro Vintage da Quinta Nova nasce apenas em 1992 e, desde então, procura-se manter um perfil com um cunho muito pessoal da casa, afirmando um estilo próprio e identificável na prova. O Quinta Nova Porto Vintage 2021 é um arauto de personalidade e manutenção dessa marca, impondo concentração de fruta, robustez e estrutura, não descurando a tensão e a frescura num conjunto de profunda harmonia.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)

VINHA DA CASA AMÉRICO CERTIFICADA COM RESÍDUO ZERO

A Casa Américo Wines obteve a certificação Resíduo Zero para a vinha da Quinta do Paço, a primeira da Península Ibérica certificada pelo ZERYA®, referência que garante a produção de alimentos seguros e rentáveis através de um sistema de produção sustentável, amigo do ambiente e capaz de satisfazer as necessidades dos consumidores. A certificação Resíduo […]

A Casa Américo Wines obteve a certificação Resíduo Zero para a vinha da Quinta do Paço, a primeira da Península Ibérica certificada pelo ZERYA®, referência que garante a produção de alimentos seguros e rentáveis através de um sistema de produção sustentável, amigo do ambiente e capaz de satisfazer as necessidades dos consumidores.
A certificação Resíduo Zero permite o uso combinado de fitofármacos de origem química e biológica, fauna auxiliar e controlo biotecnológico, desde que se obtenha um produto de qualidade livre de resíduos de pesticidas. Ou seja, não se restringe ao uso específico de determinados produtos. Inclui também uma a boa gestão da flora, fauna e águas pluviais, como acontece na Quinta do Paço, onde há muros dos patamares que servem de resguardo a cobras e lagartos, manchas de bosque que são zonas de refúgio para os animais, jardins com sebes de alfazema e outras plantas capazes de atrair polinizadores, enrelvamento natural que permite uma maior infiltração e a possibilidade de encaminhamento de águas pluviais para uso posterior em rega.
Uma vinha com certificação Resíduo Zero é mais sustentável, porque utiliza todos os recursos com mais eficiência, contribuindo para uma menor pegada ecológica e para a promoção da biodiversidade.

Grande Prova: Tintos do Alentejo

Grande Prova Alentejo

A história da região é longa, desde os fenícios e tartessos, gregos e romanos que deixaram o legado das ânforas e trouxeram técnicas agrárias e cultura da vinha e do vinho. Em 1898, a superfície de vinha no Alentejo era de 20.000 hectares, mas devido a conjunturas políticas e económicas desfavoráveis, a região só voltou […]

A história da região é longa, desde os fenícios e tartessos, gregos e romanos que deixaram o legado das ânforas e trouxeram técnicas agrárias e cultura da vinha e do vinho. Em 1898, a superfície de vinha no Alentejo era de 20.000 hectares, mas devido a conjunturas políticas e económicas desfavoráveis, a região só voltou a atingir esta dimensão 100 anos depois, no início dos anos 2000.
A partir dos meados do século passado surgem as adegas cooperativas de Granja-Amareleja, Portalegre, Borba, Redondo, Reguengos e Vidigueira que não só tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da vinha e produção do vinho na época, mas conseguiram modernizar-se e estão bem presentes e activas nos tempos actuais.
O verdadeiro boom dos vinhos alentejanos ocorre por altura dos anos 80-90 com a demarcação da região em 1988. Surgem marcas como Cartuxa, na década dos 80 e Pêra Manca lançada em 1990, ambas da Fundação Eugénio de Almeida, que se juntam aos clássicos José de Sousa, Tapada do Chaves, Mouchão, Quinta do Carmo. Em 1985, realiza-se a primeira colheita sob a marca Esporão (que este ano ficou novamente reconhecida pela revista Drinks International como uma das 50 marcas de vinho mais admiradas do mundo).

Júlio Bastos assinala esta época com os seus famosos Garrafeiras da Quinta do Carmo (de 1985, 1986 e 1987), marca que hoje pertence à Bacalhôa. A partir de 2000 o produtor avança com um novo projecto – Dona Maria – que rapidamente se torna num novo ícone da região.
Os enólogos João Portugal Ramos, com projecto próprio a partir da década dos 90 e o australiano David Baverstock que entra na Esporão em 1992 foram os grandes promotores de mudança no estilo de vinhos, conta Mário Andrade, enólogo e profundo conhecedor da história vitivinícola do Alentejo. Introduziu-se madeira nova e meia barrica. Antigamente os vinhos ou não tinham madeira ou estagiavam em madeira usada de 500 litros ou toneis de maior capacidade. Usava-se sobretudo o carvalho português, por vezes até o castanho; o carvalho francês e americano chegaram nos finais dos anos 90.
Na primeira década de 2000 surgem projectos como Herdade do Rocim, Fita Preta de António Maçanita, Herdade da Malhadinha que hoje estão bem consolidados e reconhecidos.
As características da região e o seu sucesso junto do consumidor motiva produtores de outras regiões e até os empresários estrangeiros a investir no Alentejo. Torre de Palma é um projecto completo de hotel de charme, um restaurante e uma adega numa vila romana perto de Monforte. Esta grande aventura de um casal de farmacêuticos, Ana Isabel e Paulo Barradas Rebelo começou na segunda década de 2000.

Grande Prova Alentejo
Em 2015 o casal de brasileiros Alberto Weisser e Gabriela Mascioli adquiriram a histórica Tapada de Coelheiros, em Arraiolos, pela qual se apaixonaram numa viagem pelo Alentejo.
Em 2017 a Symington Family Estates alargou as suas operações para o Alentejo, iniciando o projecto de Quinta da Fonte Souto, em Portalegre, com 43 hectares de vinha instalada entre os 490 e os 550 metros de altitude.
A empresária Luísa Amorim, responsável pela Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, no Douro e Taboadella, no Dão, num regresso às origens, em 2017 investiu num projecto pessoal com o seu marido, Francisco Rêgo, e fez renascer a Herdade da Aldeia de Cima, na Serra do Mendro, junto à Vidigueira, terras onde costumava passar às férias na sua infância.
No mesmo ano, o empresário alemão Dieter Morszeck adquiriu a propriedade Quinta do Paral, na Vidigueira, onde reabilitou e ampliou a vinha existente e adquiriu muitas parcelas de vinhas com mais de 70 anos, não aramadas, na zona de Vila de Frades.

Em 2018, pela Família Cardoso, foi construída de raiz a adega da Herdade de Lisboa (berço da clássica marca Paço dos Infantes), na Vidigueira e David Baverstock em parceria com o empresário Howard Bilton inaugurou a adega no projecto Howard’s Folly, em Estremoz.
E ainda mais recentemente foram lançadas as marcas Herdade Monte da Costa Boal Family Estates e Lobo de Vasconcellos Wines do conhecido enólogo do Douro Manuel Lobo.

 

 

 

 

Castas de ontem e de hoje

Não restam quaisquer dúvidas de que o Alentejo foi e é terra de grandes vinhos. O que muda com o tempo é o estilo, o perfil. Outrora, o elenco varietal era outro e toda a performance era diferente. No starring de antigamente entravam Castelão com fruta e Trincadeira com tanino, e o estrelato de hoje pertence a Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Syrah e Aragonez. “Os vinhos eram elegantes, com taninos super macios” – refere com certa nostalgia Mário Andrade. “Com o tempo começou-se a preferir vinhos mais estruturados, fechados, com mais madeira”
Se olharmos às estatísticas do IVV do ano 2000, as principais castas do Alentejo eram Trincadeira com 16% e Castelão com 15% de plantação, logo a seguir vinha o Moreto com 8%, embora este produzisse muito e raramente se destinasse aos topos de gama. Os dados da CVR Alentejo mostram que hoje o protagonismo é da variedade Aragonez, que lidera as plantações com 22,6%, embora haja quem o considere um erro de casting por ter “taninos ordinários e grau com fartura”.

O Alicante Bouschet aumenta a sua presença de ano para ano e já atingiu 19,4%. A casta chegou a Portugal no final do século XIX de França, trazida pela família Reynolds e trazida para a Herdade do Mouchão. Contudo, o seu sucesso não foi imediato. Na Reynolds Winegrowers a casta faz parte da identidade dos vinhos. Hoje, é fácil encontrar grandes vinhos feitos desta casta e difícil encontrar topos de gama que não a tenham no lote. É uma casta tintureira – com antocianas concentradas também na polpa para além da película – com grande capacidade cromática, estrutura firme e personalidade forte. Gosta de clima quente e precisa de muitas horas de sol, o que faz do Alentejo uma boa casa para esta uva. Mas para amadurecer os seus taninos maciços, é preciso esquecer a moderação no teor de álcool. A Trincadeira ainda está no terceiro lugar em área plantada, com 13,9%, mas claramente não tem a popularidade de outrora e está em franco declínio, ainda que, muito recentemente, vários produtores a ela retornem, pela capacidade de suportar o calor e stress hídrico.

A Syrah parece ser uma paixão geral. Há apenas 30 anos ninguém sabia o que era e obviamente, não constava nas castas autorizadas da região. Entrou “incognitamente” nos encepamentos e nos vinhos alentejanos pela Herdade Cortes de Cima em 1991 e não deixou ninguém indiferente. Hoje ocupa o 4º lugar no ranking de castas mais plantadas no Alentejo, com 12,1%.
A Touriga Nacional, na sua marcha conquistadora pelo país, desceu das regiões do Norte e fica aqui em 5º lugar, com 8,3%. Há muitos argumentos a favor, começando pela maturação longa o que traz vantagens no Alentejo. Aguenta bem a seca, mantendo o bago túrgido. Aromaticamente agradável, mas às vezes no Alentejo não entrega qualidade todos os anos e com frequência torna-se um pouco enjoativa. Castelão, casta tipicamente alentejana dos tempos passados, literalmente, perde terreno e agora só conta com 4,9%. Cabernet Sauvignon tem 4,2% e mantém-se relativamente estável. Foi emblemática na Tapada de Coelheiros, quando em 1981 foi forte a aposta nas castas internacionais, considerada uma inovação. Os garfos até vieram de Margaux. A casta entra com bastante frequência em lotes, nem que seja como “sal e pimenta”, e até protagoniza alguns vinhos, como por exemplo o 100% Cabernet Sauvignon da Herdade de Lisboa.

 

Alentejo continua a ser o líder absoluto em termos de presença no mercado nacional, com 33,8% em volume, seguido do Minho (Vinho Verde) e Península de Setúbal com mais de 17% cada; e 35,5%, em valor, à frente das regiões Douro e Minho. A região comercializa 70% do vinho no mercado nacional, sendo que apenas 30% é exportado.

Outra casta do Norte que parece conquistar cada vez mais adeptos alentejanos, é a Touriga Franca – é de ciclo longo, agronomicamente adaptou-se bem, não perde folhas basais durante a seca e dá vinhos muito interessantes. Cresce em área plantada a olhos vistos e já ocupa 3,9% das plantações. Alfrocheiro com 2% tem uma certa tendência de diminuir a sua presença e Petit Verdot, com 1,9%, ao contrário, parece estar a crescer. O Moreto com 1,2% também não tem entrado nos vinhos de topo, a menos que seja das vinhas velhas ou para vinhos de talha.
Ao longo das décadas, na vinha também mudou muita coisa: os porta-enxertos (os que são usadas de hoje induzem uma maturação mais precoce o que não é propriamente uma vantagem para uma região quente); as formas de plantação e condução da vinha (antes eram em taça ou guyot que permitia melhor gestão de água e protegia do calor); as vinhas de sequeiro agora são raras e a água para rega é escassa. Aprendeu-se a controlar as produções, orientar a viticultura para a planta ser mais eficiente na sua capacidade fotossintética, escolheram-se clones menos produtivos, pratica-se monda de cachos, sobretudo para os topos de gama. O reverso da medalha, às vezes, é álcool a mais.

Grande Prova Alentejo

Futuro: adaptável e sustentável

As provas verticais proporcionadas por alguns produtores, funcionam como uma máquina do tempo, permitindo sentir as mudanças de castas e estilos. Os mais antigos geralmente com menos corpo e pujança, alguma rusticidade e o teor de álcool à volta dos 13%.
A mudança é imparável, acontece em todas as regiões mundiais devido às alterações, actualizações, modas e melhorias. É preciso não entrar em exagero e manter o equilíbrio.
O futuro das castas no Alentejo, provavelmente, é destinado a aquelas que aguentam melhor o calor e a falta de água. Um certo movimento revivalista vai, com todo o propósito, preservar vinhas velhas de sequeiro e desencantar algumas castas minoritárias. Também me parece que para além da escolha de casta mais fundamentada em múltiplos ensaios, o grande cuidado será aplicado na selecção dos clones (material policlonal), porta-enxertos, locais de plantação e métodos de condução apropriados para cada casta. Chamaria isto escolha de precisão e adaptabilidade mútua.
Voltando à questão do potencial e do investimento, é de notar que as empresas importantes e bem instaladas na região, investem também no conhecimento que pode não gerar lucros a curto-médio prazo, mas gera valor acrescentado a longo prazo e para toda a região.

A Sogrape na Quinta de Peso fez um investimento em plantação de várias parcelas num total de 42 hectares de vinha com castas Syrah, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Tinta Miúda, Tinto Cão, Touriga Franca, Gran Noir etc. Uma parte foi plantada em vaso (gobelet), com fruta mais à sombra e melhor gestão de água. É mais trabalhoso, requer mais mão-de-obra, obviamente, – explicou numa conversa o enólogo Luís Cabral de Almeida. Fizeram também o estudo de solos e mediante estes resultados, irão plantar a vinha apenas nos solos apropriados para o efeito.
A Herdade do Esporão está envolvida no projecto WineClimAdapt com o INIAV e outras entidades com o objectivo de selecção e caracterização das castas melhor adaptadas a cenários de alterações climáticas. Nos 10ha de campo ampelográfico encontram-se em estudo 189 castas (alentejanas, nacionais de outras regiões e estrangeiras).

A aposta na sustentabilidade (o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, criado, implementado e certificado localmente é um modelo para o país e para o mundo) é hoje um dado adquirido e um desígnio para todos os agentes económicos locais. Os resultados estão á vista. Se provamos os vinhos antigos do Alentejo com certa nostalgia, e muitos vinhos de hoje com orgulho, acho que, no futuro, ainda iremos ser bem surpreendidos pela positiva. na edição

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)

A Escolha do Mestre: A arte do lote

A criação de um bom lote é obtida através da sobreposição de componentes com atributos únicos usados para melhorar aspectos como cor, frescura, estrutura ou adicionar características específicas de frutas ou especiarias com a finalidade de realçar sabor, ganhar complexidade, aperfeiçoar o equilíbrio e dar ao vinho melhor qualidade. Fazer o ‘lote’ ou ‘blend’ é […]

A criação de um bom lote é obtida através da sobreposição de componentes com atributos únicos usados para melhorar aspectos como cor, frescura, estrutura ou adicionar características específicas de frutas ou especiarias com a finalidade de realçar sabor, ganhar complexidade, aperfeiçoar o equilíbrio e dar ao vinho melhor qualidade. Fazer o ‘lote’ ou ‘blend’ é simplesmente o acto de misturar diferentes vinhos com o objectivo de obter um produto cuja soma das partes é superior às partes individuais.
Em épocas distantes, diferentes castas eram misturadas na mesma parcela como uma espécie de seguro contra pragas, doenças, guerra ou desafios da natureza, com o objetivo de proporcionar um rendimento regular. Através desse método, ainda utilizado hoje, uvas provenientes de vinhedos mistos, conhecidas como “field blends”, são colhidas, esmagadas e fermentadas em conjunto. Os resultados são menos previsíveis e precisos, mas a combinação dos diferentes estágios de maturação ajuda proporcionar equilíbrio e complexidade.
De certa forma, é possível considerar a maioria dos vinhos como vinhos de lote, pois mesmo no caso de um ‘Single Vineyard’ a fruta é oriunda de diferentes partes do vinhedo cujo microclima específico irá adicionar nuances ao resultado final.
Exceptuando alguns casos específicos, como o vinho do Porto, antes do século XX, quando as leis que supostamente governavam a produção de vinhos raramente eram respeitadas, o acto de fazer lote em vinhos tranquilos tinha pouco a ver com qualidade, chegando mesmo a ser utilizado para fins comerciais ilícitos. Fazer um lote era algo visto como suspeito, quase uma falsificação. Actualmente, o acto de fazer um lote é frequentemente utilizado como uma ferramenta para oferecer um produto de qualidade superior.
Os vinhos de lote elaborados hoje foram lapidados ao longo dos anos e o método de eleboração sobreviveu ao teste do tempo pelo facto de ter produzido bons resultados. O interesse dos consumidores por vinhos distintos tem incentivado os produtores portugueses a lançar vinhos monovarietais, o que tem ajudado viticultores e enólogos a compreender o extraordinário potencial de castas menos conhecidas. A herança histórica, experiência e o extraordinário número de variedades encontradas no território português oferecem um número invejável de componentes que permitem aos produtores demonstrar criatividade e gerar alguns dos melhores e mais interessantes vinhos de lote do mundo. Alguns desses vinhos são misturas regionais clássicas bem estabelecidas, outros são vinhos incomuns, exóticos, capazes de surpreender os paladares mais exigentes.

Escolha do lote

Estilos e segmentos

A arte do lote é vital tanto na produção dos vinhos mais ambiciosos quanto na criação de vinhos para o dia à dia. Para vinhos mais simples, o lote pode ajudar mitigar imperfeições e suavizar diferenças entre as vindimas, conferindo consistência. Eis porque, na maioria dos países europeus, a legislação permite a adição de até 15% de uma colheita, casta ou origem diferente da que está especificada no rótulo. Carlos Lucas, enólogo e CEO da Empresa Magnum, acredita que fazer um lote para um vinho de entrada de gama pode muitas vezes ser um grande desafio, no sentido em que se torna importante adicionar um elemento vital na equação, ou seja, volume. Não basta apenas ir ao encontro do vinho pretendido, mas é preciso levar em consideração as respectivas quantidades disponíveis e avaliar o que é possível fazer. A exigência de quantidade e consistência que existe no segmento dos vinhos dos primeiros escalões de preço pode tornar o processo de execução de lote desafiante e envolvente.
Para Pedro Correia, enólogo chefe dos vinhos Douro da Symington, fazer lotes para vinhos de entrada de gama significa demonstrar preocupação em manter certo estilo ou perfil pré-determinado da marca, levando em consideração as características do público-alvo. Por outro lado, vinhos premium exigem, além de harmonia, tipicidade e alta qualidade, a capacidade reflectir as características da colheita e do terroir. Como refere Luís Sottomayor, director de enologia da Sogrape no Douro, o lote de um vinho de alta qualidade precisará de componentes com mais amplitude e complexidade e, como tal, vai necessitar uma gama de aromas e sabores mais diversos.

Os desafios do lote

São vários os desafios na hora de fazer um lote, desde limitações de componentes, fatores logísticos, espaço e estabilidade química, dentre outros. Carlos Lucas descreve o lote como a combinação de três factores: inspiração, habilidade técnica e experiência. Todos são cruciais para se obterem vinhos equilibrados e elegantes. Explicado de forma simples, Luís Sottomayor acredita que manter o equilíbrio entre as distintas variedades de uva e, ao mesmo tempo, permitir que as mesmas expressem seus aromas e demonstrem as suas características, são os principais desafios. Na opinião de Pedro Correia o aspecto mais desafiante é tentar encontrar uma combinação perfeita entre os diferentes componentes, de modo que, o resultado seja melhor do que as partes individuais. Além disso, caso haja um perfil organoléptico a manter, o desafio é chegar ao mesmo resultado partindo de um conjunto de componentes diferentes ano após ano. Dependendo do estilo do vinho, existem parâmetros que se tornam mais relevantes na hora de executar o lote. De acordo com Carlos Lucas, a cor é algo importante a considerar independentemente do estilo, mas quando se trata de um vinho tinto é crucial pensar também na estrutura e taninos da mesma forma que quando se trata de um branco, espumante e rosé é importante considerar o perfil aromático e acidez acima de tudo. Fazer um lote para espumantes, para Carlos Lucas, constitui uma arte bastante mais especifica (e, também, especializada). O objectivo é iniciar com uma base neutra e isso requer do enólogo experiência e capacidade de previsão, visto que o vinho ainda deve passar pela segunda fermentação, período de envelhecimento, seguido pelo ‘degorgement’ e adição do ‘licor de expedição’; tudo isso vai alterar o vinho radicalmente antes de ele chegar ao mercado.
Já para Pedro Correia, é importante ter em conta se o vinho tem data de colheita, caso em que o blend deve reflectir as características do ano; ou caso se trate de uma mistura de anos (como acontece num Porto tawny, por exemplo), será fundamental manter inalterado, em cada engarrafamento, o estilo e perfil da marca ou produtor.

Escolha do lote

 

Exercendo controlo

Para assegurar sucesso é importante que o enólogo tenha o objetivo claro antes da fruta chegar na adega e que desde o início esteja no controle do processo. Luís Sottomayor considera mais vantajoso fazer o lote o mais cedo possível para que o vinho já nasça com seus componentes ligados, o que pode acontecer mesmo na cuba onde irá fermentar, salvo algumas excepções, pois acredita que sua harmonia será melhor, mais natural e equilibrada. Pedro Correia prefere manter os componentes separados ou fazer uma junção parcial e acompanhar a evolução do lote por cerca de 12 meses dando tempo para uma melhor consolidação da matriz para então fazer nova avaliação antes de definir o blend final, evitando engarrafar demasiadamente cedo. Carlos Lucas recomenda abstrair-se de uma prova muito técnica e prefere pensar em como agradar o consumidor final. Para Pedro Correia, o segredo é nunca ter pressa, ponderar decisões, dar tempo de modo a não tomar decisões precipitadas. Luís Sottomayor diz que “seguir a intuição” é um dos melhores conselhos que já lhe foi dado.

As mudanças climáticas

Melhor análise de parâmetros enológicos e novas tecnologias laboratoriais tem resultado em vinhos de lote de maior precisão e qualidade. Luís Sottomayor complementa dizendo que a grande evolução que aconteceu nos últimos anos está relacionada com a experiência pessoal que torna os enólogos mais aptos e confiantes no seu trabalho, o que consequentemente gera maior índice de sucesso. Para Pedro Correia o aprofundamento do conhecimento das castas, de como evoluem e a capacidade de integração de cada uma delas tem contribuído significantemente para elaboração de vinhos cada vez melhores e mais profundos. Já Carlos Lucas defende que, actualmente, é possível fazer lotes com mais convicção e com características que permitem ao vinho manter-se na garrafa durante mais tempo.
Entretanto, as mudanças climáticas que estamos observando nos últimos anos vão requerer capacidade de adaptação. Além de mudança no perfil da fruta, devemos esperar, também, colheitas irregulares, e que as castas mais frágeis desapareçam. Carlos Lucas prevê que castas capazes de suportar as ameaças climatéricas, e oferecer rendimento adequado, ganharão muito maior expressão, tanto a nível varietal como em lotes. Isso vai exigir mais investigações das castas autóctones, muitas delas ainda não devidamente estudadas. Os lotes serão dominados por castas mais resistentes ao calor, não tanto por estilo, mas por necessidade. Luís Sottomayor concorda que será imprescindível conhecer melhor as castas, suas características e principalmente como respondem às diferentes condições climatéricas, mas acrescenta que Portugal, devido ao seu terroir tão heterogéneo, terá a possibilidade de misturar uvas oriundas de locais com exposições e altitudes distintas para obter o resultado esperado.

Escolha do lote

Portugal e os lotes do futuro

A arte de fazer vinhos de lote teve origem há seculos desde quando vinhas plantadas com muitas castas, brancas e tintas, serviam como uma garantia contra desastres naturais e calamidades. Crescente investigação, desenvolvimento das técnicas de viticultura e métodos de vinificação modernos proporcionam hoje aos produtores melhor controle e mais precisão na hora de fazer o lote. Os produtores portugueses, grandes mestres na arte de fazer lote, contam com invejável número de castas para demostrar a sua criatividade e gerar vinhos únicos, o que em muitos casos pode significar uma vantagem comercial formidável. Para consumidores que buscam algo diferente e autêntico, é inegável que os vinhos portugueses oferecem excelentes alternativas. No entanto, os desafios impostos pelas mudanças climáticas certamente exigirão adaptações por parte dos produtores para conseguir manter o estilo, qualidade e a consistência dos vinhos no futuro. Para que isso aconteça é crucial investir tempo, energia e recursos agora. É preciso aprimorar ainda mais a compreensão sobre o comportamento das castas para que no futuro os produtores portugueses continuem sendo os mestres da arte do lote.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)

 

Chocapalha: Uma família, uma quinta, uma adega

Chocapalha família quinta

A paisagem é convidativa, montes e vales em ligeira ondulação, serras ao fundo, mar não muito longe, terrenos apropriados, vento quanto baste e javalis também por perto. Tudo assim se conjugou para o desenvolvimento de um projecto de família, que assentou arraiais numa quinta em tempos pertença de um inglês e, posteriormente, na posse da […]

A paisagem é convidativa, montes e vales em ligeira ondulação, serras ao fundo, mar não muito longe, terrenos apropriados, vento quanto baste e javalis também por perto. Tudo assim se conjugou para o desenvolvimento de um projecto de família, que assentou arraiais numa quinta em tempos pertença de um inglês e, posteriormente, na posse da família de João Portugal Ramos. Foi em resultado da conjugação feliz de vários factores que a família Tavares da Silva tomou posse da quinta nos finais dos anos 80. E não faltou muito para que Sandra, uma das filhas, já então ligada à enologia, desafiasse o pai para fazer um vinho. Assim começou a história dos vinhos Chocapalha, inicialmente numa adega de garagem (que ainda conheci), e mais tarde apostando numa adega de raiz que comemora agora 10 anos. Motivo mais que suficiente para mostrar o que se tem feito e o que está para vir. À nossa espera estavam os pais de Sandra, Paulo e Alice, a irmã Andrea (economista e directora executiva da casa) bem como toda a equipa da adega e quinta.
Logo no projecto inicial houve castas que marcaram território – Arinto, Castelão e Touriga Nacional, esta última com garfos que se foram buscar ao Dão. O Castelão, dizem-nos agora, “era difícil de vender porque tinha pouca cor. Mas com a mudança do gosto, agora o ter pouca cor é uma vantagem. É incrível como tudo muda tão depressa»”, refere Sandra. A aposta no Arinto revelou-se muito acertada e a área de vinha irá alargar-se. Sandra Tavares da Silva não esconde que «” Arinto é a casta de eleição do meu pai; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo”. Com sorte, dizemos nós, ainda se cruza com um javali, dos muitos que há na zona e que se escondem nos arvoredos que proliferam na propriedade. Apontamos para uma parcela vazia, sem nada plantado e indagamos o que se vai plantar ali; a resposta é desconcertante: nada, aquele terreno vai ficar em pousio por 3 ou 4 anos, dizem-nos! Para que conste…

 

Chocapalha família quinta

A Arinto é a casta de eleição de Paulo Tavares da Silva; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo.

 

Adega nova, problemas antigos

Foi para comemorar os 10 anos da nova adega que se juntaram na quinta a família e a comunicação social. Passados estes anos, está a acontecer o que era previsível: a adega já não comporta tudo o que é preciso e já se suspira por um espaço que possa albergar mais cubas e mais barricas. Porquê? Porque a filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio. A quinta produz mais do que comercializa, “ainda vendemos muitas uvas, infelizmente pagas a muito baixo preço”, como Paulo Tavares da Silva (oficial de marinha, convertido em agricultor) nos confidenciou, e a produção actual – situada nas 180.000 garrafas -, poderia alagar-se mais. Mas a ideia de conservar os vinhos em cave por longo tempo acaba por impedir esse crescimento. Para termos uma ideia, somos informados que ainda têm em cave as colheitas de 2019, 20 e 21 engarrafadas e a de 22 em barrica, tudo à espera de um dia ir para o mercado. Internamente são distribuídos pela Decante e só vendem no canal Horeca, com a excepção do Corte Inglès e do Supermercado Apolónia, no Algarve. Exportam boa parte da produção e, no caso do Quinta de Chocapalha tinto, as vendas lá fora atingem mesmo 65% do engarrafado.
A casta Arinto é a menina dos olhos de Paulo Tavares da Silva. Ele é, de resto, o verdadeiro guia do processo, apaixonado pela terra e pela vinha, sempre atento e vigilante. Foi do Centro de Estudos de Nelas que trouxe as primeiras varas de Touriga Nacional que aqui plantaram e que depois alargaram a outras castas, como a Viosinho, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Alicante Bouschet e Castelão, por exemplo. Na adega estão a dar cada vez mais uso às barricas usadas e, mesmo comprando apenas 25 a 30 barricas novas por ano, a verdade é que adega das barricas começa a ficar sobrecarregada.

 

A filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio.

Chocapalha família quinta

Fizemos uma prova alargada dos vinhos da casa e ao almoço provámos apenas vinhos da colheita de 2013, a colheita que, tal como a adega, comemora agora 10 anos de vida. Foi uma prova e tanto, com os vinhos a mostrarem que 10 anos não é tempo demais para eles, com o Arinto a dar cartas, terpénico e num registo que se poderia confundir, tanto com Alvarinho como com Riesling. Parentescos, quem sabe…
Toda a família presente, pais, irmãs e equipa de enologia e viticultura que mantém o projecto bem vivo. Nos vinhos há novas edições de marcas já consagradas, como Vinha Mãe, os Reserva e o CH (Confederação Helvética) que “é um tributo à minha mãe que é suíça”, diz Sandra. Alice Tavares da Silva, nascida no cantão alemão, o tal que fala uma língua que ninguém entende mas, como nos confidenciou “vou várias vezes por ano à Suíça e acabo por falar a minha língua natal”.
Nas novas edições, destaca-se o Arinto Antigo, um branco de curtimenta que tem longa espera antes de ser comercializado e o Guarita, um varietal de Alicante Bouschet, uma casta bem difícil porque, como lembrou Sandra “é preciso muita paciência porque só nos dá uma pequena janela para fazermos a vindima no ponto certo; se deixarmos passar esses dias fica tudo em passa; e só quando a vinha atingiu os 30 anos é que entendemos que as uvas tinham qualidade suficiente para o vinho ser comercializado como varietal”.
Em final de vindima estavam os lagares com pisa mecânica a trabalhar e na adega a azáfama era a habitual – mangueiras por um lado, água em abundância para tudo lavar, bombas a trasfegar e aquele cheiro característico das adegas onde fermentam as uvas. Tudo normal, portanto…

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)