Douro tinto, a hora dos magníficos

São grandes tintos do Douro, mas são sobretudo grandes vinhos em qualquer parte do mundo. Em poucas décadas, muitos dos vinhos não fortificados da região saíram de um quase anonimato para se tornarem nomes distinguidos pelos apreciadores de todo o mundo. A viticultura de montanha e a enorme diversidade da região fazem do Douro um […]

São grandes tintos do Douro, mas são sobretudo grandes vinhos em qualquer parte do mundo. Em poucas décadas, muitos dos vinhos não fortificados da região saíram de um quase anonimato para se tornarem nomes distinguidos pelos apreciadores de todo o mundo. A viticultura de montanha e a enorme diversidade da região fazem do Douro um cadinho onde se constrói a excelência.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga

A região do Douro parece ter um íman, algo que atrai de forma irresistível quem se aproxima. Não são só os visitantes turistas, são também os profissionais do sector, sejam eles jornalistas, sommeliers, importadores, distribuidores e todos os apreciadores de vinho. A paisagem e as qualidades naturais da região para originar um grande vinho são razões que bastam para que a tal atracção não tenha parado de crescer nos últimos anos. É verdade que há um “visitante de raspão” que passa sem verdadeiramente entrar na região, que vê a paisagem do seu barco de turismo e que não chega a entender nada de nada, mas, e ainda bem, há cada vez mais turistas que querem ver, falar, palmilhar caminhos e descobrir os vinhos do Douro. Para um turismo de qualidade requer-se uma oferta que lhe corresponda e o Douro tem conhecido um enorme desenvolvimento neste campo. Todos beneficiam com isso. O tema da atracção poderia estender-se a uma quantidade de produtos que se dão muito bem na região, desde o azeite aos produtos hortícolas, dos citrinos aos frutos secos. Terra abençoada dizem uns, terra difícil e muitas vezes ingrata dizem os que lá vivem.

A produção de vinho DOC Douro interessa cada vez a mais produtores que tradicionalmente já eram produtores de uvas para Porto. Não se estranha assim que surjam constantemente novas marcas que procuram entrar no mercado em patamares elevados de preço, o que não é fácil. Não é fácil vender, desde logo por falta de empresas de distribuição dispostas a agarrar mais uma marca; e o consumidor precisa de reconhecer uma qualidade continuada à marca para estar disponível para pagar caro por uma garrafa. Muitos desses vinhos são editados em quantidades muito limitadas que, por outro lado, não chegam a todo o país. O tema é de difícil resolução e a oferta de vinhos DOC Douro a preços elevados é muito, muito grande. A qualidade poderá amplamente justificar o que se paga, mas esse não é o único factor a ter em conta na formação do preço de uma garrafa de vinho.

A região continua a produzir mais Vinho do Porto do que DOC Douro, com o Cima Corgo a ser a principal sub-região, logo seguida pelo Baixo Corgo e, bem mais abaixo, o Douro Superior. No total falamos, dados relativos a 2018, de cerca de 38,5 milhões de litros, sensivelmente metade do que a região produz em Vinho do Porto. Já em termos de vinho comercializado, o Douro já suplantou o Porto em virtude da lei do terço que obriga os operadores do Vinho do Porto a apenas poderem comercializar 1/3 do stock. Os vinhos IG Duriense (que conhecemos pelo nome de Vinhos Regionais) têm aqui uma expressão muito pequena, principalmente se comparados com outras regiões do país. Do ponto de vista das variedade de uva utilizadas, as principais são as tradicionais (ver caixa) e as castas vindas de fora (da região ou do país) são raramente plantadas. Temos assim uma área de vinha de cerca de 40 000 hectares aptos à produção de vinhos Douro e um pouco mais de mil agentes (1.082), que vão dos pequenos produtores-engarrafadores aos armazenistas (engarrafadores não vinificadores) e grandes empresas produtoras.

Da produção ao comércio

Os vinhos DOC Douro não são dos mais consumidos entre nós (estão bem atrás do Alentejo e Vinho Verde, por exemplo) mas são dos que têm mais procura em alguns segmentos do mercado, nomeadamente na gama média/alta dos apreciadores. Jaime Vaz, da Garrafeira Nacional em Lisboa, tem cerca de 500 referências de vinhos do Douro. Neste número incluem-se, naturalmente, várias colheitas da mesma marca (Pintas, Quinta do Vale Meão, por exemplo) e se pensarmos apenas em marcas diferentes, diz-nos Jaime, serão cerca de 400. O negócio de uma garrafeira é bem diferente do de uma grande superfície e aqui vêm sobretudo consumidores que são conhecedores e estrangeiros que procuram os grandes nomes da região. Não se estranha assim que cerca de metade dos vinhos que estão disponíveis nas prateleiras se situem numa gama de preço acima dos €40. A procura tem crescido, têm sido acrescentadas novas marcas mas nada que “dê vazão” à quantidade enorme de produtores que aparecem na loja com a expectativa de ali poderem vender os seus vinhos. As mais recentes entradas na lista da Garrafeira Nacional contemplam a Quinta da Vacaria, Quinta da Zaralhôa, Quinta do Côtto e Quinta do Vale da Perdiz (marca Cistus). Conseguir vender é o enorme desafio dos pequenos produtores.

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O negócio dos vinhos na região tem matizes que se têm alterado, tal como as condições climáticas. Tradicionalmente a zona do Baixo Corgo – fértil e com grande pluviosidade – era sobretudo a região onde se faziam vinhos do Porto das entradas de gama, onde se colhiam uvas com baixa graduação e pouca estrutura. A situação está a alterar-se com as mudanças climáticas e, ironicamente, para melhor. Segundo Paulo Ruão, enólogo da empresa Lavradores de Feitoria, a diminuição da chuva no Baixo Corgo veio a beneficiar os vinhos e, onde antes se encontravam vinhos com 11% de álcool hoje vendem-se com 13% e, mais importante, “os vinhos têm mais estrutura também por via de uma melhor viticultura; na zona de Mesão Frio, que está a ser cada vez mais procurada, conseguem-se comprar hoje vinhos de uma qualidade muito superior à que estávamos habituados há apenas 5 anos”. Este fenómeno liga-se directamente às alterações climáticas e, ainda segundo Paulo Ruão, “o desafio do futuro próximo é muito mais a adaptação das melhores castas do que a introdução da rega”.

É também esta a opinião de Manuel Vieira, enólogo consultor, que não se mostra muito preocupado com o futuro uma vez que “há que tirar partido do património de castas que temos e escolher as que melhor possam responder; também a localização das vinhas passará a ter uma importância fundamental e as encostas viradas a norte e as vinhas em altitude que outrora eram consideradas zonas menores, terão no futuro um papel fundamental”. Neste novo quadro é possível que se tenha de tomar mais atenção aos porta-enxertos, escolhendo sobretudo os mais resistentes à seca (que eram os que tradicionalmente e usavam na região) e é provável que algumas castas tendam a perder importância, como a Tinta Barroca, Tinta Amarela e Tinta Roriz. Ainda sobre o tema das castas, quer Manuel Vieira quer Paulo Ruão concordam com a capacidade da Touriga Nacional para responder a estes desafios mas há menos certezas em relação a castas que têm sido muito faladas como a Sousão, que precisa de clima fresco, como nos Verdes (Ruão) e a Alicante Bouschet que produz bem mas ainda é cedo para se perceber se será casta com muito futuro. E castas que antes amadureciam mal (como a Tinta Francisca) estão agora a dar muito boa resposta.

Há aqui um enorme desafio que se coloca às empresa e produtores: pesquisar, estudar e compreender muitas das castas antigas que estiveram “em arquivo” e apenas presentes nas vinhas velhas e que poderão responder bem às mudanças do clima. A região tem, no entanto, uma enorme vantagem, como salienta Paulo Ruão: o solo xistoso que permite a passagem das raízes entre os fragmentos da rocha e a capacidade do xisto de conservar alguma frescura mesmo em ambiente de pouca pluviosidade, são grandes vantagens, é algo de muito original no Douro”.

O negócio dos vinhos na região tem matizes que se têm alterado, tal como as condições climáticas. Tradicionalmente a zona do Baixo Corgo – fértil e com grande pluviosidade – era sobretudo a região onde se faziam vinhos do Porto das entradas de gama, onde se colhiam uvas com baixa graduação e pouca estrutura. A situação está a alterar-se com as mudanças climáticas e, ironicamente, para melhor. Segundo Paulo Ruão, enólogo da empresa Lavradores de Feitoria, a diminuição da chuva no Baixo Corgo veio a beneficiar os vinhos e, onde antes se encontravam vinhos com 11% de álcool hoje vendem-se com 13% e, mais importante, “os vinhos têm mais estrutura também por via de uma melhor viticultura; na zona de Mesão Frio, que está a ser cada vez mais procurada, conseguem-se comprar hoje vinhos de uma qualidade muito superior à que estávamos habituados há apenas 5 anos”. Este fenómeno liga-se directamente às alterações climáticas e, ainda segundo Paulo Ruão, “o desafio do futuro próximo é muito mais a adaptação das melhores castas do que a introdução da rega”.

É também esta a opinião de Manuel Vieira, enólogo consultor, que não se mostra muito preocupado com o futuro uma vez que “há que tirar partido do património de castas que temos e escolher as que melhor possam responder; também a localização das vinhas passará a ter uma importância fundamental e as encostas viradas a norte e as vinhas em altitude que outrora eram consideradas zonas menores, terão no futuro um papel fundamental”. Neste novo quadro é possível que se tenha de tomar mais atenção aos porta-enxertos, escolhendo sobretudo os mais resistentes à seca (que eram os que tradicionalmente e usavam na região) e é provável que algumas castas tendam a perder importância, como a Tinta Barroca, Tinta Amarela e Tinta Roriz. Ainda sobre o tema das castas, quer Manuel Vieira quer Paulo Ruão concordam com a capacidade da Touriga Nacional para responder a estes desafios mas há menos certezas em relação a castas que têm sido muito faladas como a Sousão, que precisa de clima fresco, como nos Verdes (Ruão) e a Alicante Bouschet que produz bem mas ainda é cedo para se perceber se será casta com muito futuro. E castas que antes amadureciam mal (como a Tinta Francisca) estão agora a dar muito boa resposta.

Há aqui um enorme desafio que se coloca às empresa e produtores: pesquisar, estudar e compreender muitas das castas antigas que estiveram “em arquivo” e apenas presentes nas vinhas velhas e que poderão responder bem às mudanças do clima. A região tem, no entanto, uma enorme vantagem, como salienta Paulo Ruão: o solo xistoso que permite a passagem das raízes entre os fragmentos da rocha e a capacidade do xisto de conservar alguma frescura mesmo em ambiente de pouca pluviosidade, são grandes vantagens, é algo de muito original no Douro”.

Desafios de futuro

Nos anos mais recentes a região conheceu um novo problema que em 2018 assumiu contornos de tragédia: a escassez de mão de obra na vindima. Os relatos que nos chegaram de produtores que queriam vindimar, tinham gente contratada e que no dia acordado tinham 5 pessoas quando tinham contratado 20 (este número é um mero exemplo) mostra bem o drama que se está a viver. O recurso a mão de obra estrangeira contratada apenas para a vindima não só é, dizem-nos, complicada do ponto de vista legal como tudo se agudiza por serem trabalhadores que vêm de países não produtores que de vinha nada percebem e de vinho não consomem. A solução, ainda com Paulo Ruão, tem duas direcções: pagar melhor a mão de obra e “já em 2019 notámos que por termos aumentado a jorna, tivemos menos dificuldade nos vindimadores e, nas zonas onde for possível, introduzir a máquina de vindimar”. As primeiras experiências no sentido da mecanização da vindima foram feitas pelo grupo Symington e os resultados são animadores. A Lavradores de Feitoria já usou este ano a vindima mecânica na zona vitícola do palácio de Mateus e os resultados, segundo Ruão, foram excelentes: “poder vindimar no dia e na hora que se quer, inclusivamente de noite, é um avanço tremendo; já estamos a rentabilizar a máquina alugando a produtores da zona.”

Charles e Rupert Symington estão a utilizar máquinas de vindimar em zonas difíceis com resultados animadores, sobretudo em patamares de um bardo. Não vai decorrer muito tempo para que se veja a replicação destas experiências.

Uma prova de excelência

Os vinhos que provámos são do melhor que se faz na região e em Portugal. Seria impossível estarem todos na nossa mesa de provas, mas percebe-se muito facilmente porque a região do Douro interessa a cada vez mais wine writers, winemakers, sommeliers e investidores estrangeiros. A originalidade do terroir do Douro é transmitida ao vinho e o que aqui tivemos é uma espécie de “passeio da fama” onde desfilam vinhos de enorme qualidade e carácter, vinhos que nos entusiasmam vivamente. O preço elevado a que muitos são vendidos é a certidão do reconhecimento nacional e internacional e reflecte a relação entre a oferta e a procura. São vinhos de excelência de uma região que, apesar dos desafios que enfrenta, atingiu já um elevadíssimo patamar. Sabendo que, com as condições de solo, clima, património varietal e sobretudo, dinamismo e talento dos seus viticólogos, enólogos e produtores, muito tem ainda para descobrir, crescer e oferecer aos apreciadores.

As tourigas e as outras

Tal como acontece com outras regiões, o Douro tem um universo muito extenso de variedades que podem entrar na composição dos lotes, quer de brancos quer de tintos. Nas vinhas velhas encontramos uma proliferação enorme de castas, algumas delas “esquecidas”, mas actualmente a conhecerem mais notoriedade, como a Alicante Bouschet, a Tinta Francisca, Tinta da Barca ou Tinta Carvalha, por exemplo. No entanto, apesar da escolha ser enorme, a verdade é que a história e a tradição foram impondo como mais importantes um conjunto relativamente restrito de castas. São estas que constituem a espinha dorsal dos tintos da região. Em primeiro lugar a Touriga Franca, desde sempre a casta mais plantada, a que mais adaptada está a um clima de intenso calor estival e de produtividade baixa; depois, a Touriga Nacional, com notável “boom” nos anos 90 e que veio a impor-se como casta diferenciadora, cada vez mais casada com a Touriga Franca. Muitos dos vinhos que avaliámos nesta prova resultam de lotes destas duas castas. A Tinta Roriz surge em seguida, já foi mais apreciada, mas continua a ser uma referência, fazendo parte do “núcleo duro” das castas durienses. Menos usada nos vinhos de topo, mas muito presente na região, a Tinta Amarela (Trincadeira). As castas “de tempero” estão a adquirir cada vez mais importância, como Sousão e Tinto Cão, agora acrescentadas das novas variedades renascidas, como a Donzelinho tinto, Bastardo, Casculho ou Malvasia Preta. A Tinta Barroca está tendencialmente a desaparecer dos vinhos DOC Douro sendo apenas usada para fazer Vinho do Porto. A produtividade, apesar de estar autorizada até aos 55hl/hectare, situa-se por norma nos 30 hectolitros, o que mostra a baixa produção que é característica da região.

Edição Nº31, Novembro 2019

Bairrada, a excelência em tons de branco

A Bairrada é uma pequena região de grandes vinhos. E a sua dimensão qualitativa vai muito além da notoriedade dos sólidos tintos de Baga e dos frescos espumantes. Na verdade, a Bairrada é uma das melhores regiões do país para produção de belíssimos vinhos brancos, com uma longevidade invejável. TEXTO Valéria Zeferino FOTOS Ricardo Gomez […]

A Bairrada é uma pequena região de grandes vinhos. E a sua dimensão qualitativa vai muito além da notoriedade dos sólidos tintos de Baga e dos frescos espumantes. Na verdade, a Bairrada é uma das melhores regiões do país para produção de belíssimos vinhos brancos, com uma longevidade invejável.

TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Ricardo Gomez

Há até quem considere que a Bairrada é mais região de brancos do que de tintos e é fácil de perceber porquê. A casta predominante na Bairrada é a Baga, que amadurece tarde, muitas vezes ultrapassando as chuvas de equinócio e, quanto a chuva se prolonga, nem sempre consegue a melhor performance. As castas brancas, amadurecendo mais cedo, têm mais condições para uma maturação perfeita e consistente de ano para ano.
Esta prova evidenciou que os vinhos brancos da Bairrada são de altíssima qualidade e que melhoram substancialmente com o tempo em garrafa.
Em termos quantitativos, os vinhos brancos certificados (sem contar com os vinhos base para espumantes) são em minoria e correspondem a cerca de 20% da produção na Bairrada (de 400 a 450 mil garrafas). Isto deve-se a uma menor popularidade de brancos entre os consumidores e, tirando os Vinhos Verdes, a verdade é que o tinto predomina em todas as regiões do país.Condições edafo-climáticas
A Bairrada está situada no centro litoral do país, orientada no sentido Norte-Sul entre as cidades Águeda e Coimbra e os rios Vouga e Mondego. A leste fica naturalmente demarcada pelas serras do Caramulo e do Buçaco e a oeste estende-se até à orla marítima que exerce forte influência atlântica na região. O clima é temperado, com verões não demasiado quentes, invernos brandos e moderada amplitude térmica anual. As temperaturas médias anuais situam-se entre os 12,5˚C e os 15˚C (em comparação, no Alentejo varia de 15˚C a 17,5˚C). A maioria das zonas da Região da Bairrada usufrui de cerca de 2.500 horas de sol por ano. A precipitação vai de 800 a 1600 mm/ano (este último valor está ao nível da região dos Vinhos Verdes), aumentando de Oeste para Este e concentrando-se nos meses de Outono e Inverno.
Trata-se uma região bastante plana com colinas pouco acentuadas. As vinhas encontram-se plantadas entre os 40 e 120 m de altitude, o que faz sentir a influência Atlântica em toda a região. Geologicamente é muito heterogénea e os solos variam em composição de argila e calcário, com algumas zonas arenosas. Os solos mais argilosos precisam de ser bem drenados e dificultam a sua mobilização e os com mais calcário apresentam cor esbranquiçada e uma maior pedregosidade. Actualmente, conta com cerca de 6000 hectares de vinha.Marcos históricos
A cultura da vinha na região remonta à época da Reconquista cristã aos Mouros que teve início no século VIII. Demonstrou um grande crescimento nos séculos X – XII graças a ordens monásticas.
A produção de vinho estagnou após a demarcação da região do Douro em 1756, quando o Marquês de Pombal decretou o arranque das vinhas nas margens e campinas dos rios Mondego e Vouga. Para além de proteger a origem dos Vinhos do Porto, queria substituir o cultivo da vinha na região, que era abundante, pelo cultivo dos cereais, pois o pão escasseava.
No início do sêculo XIX, lentamente, a vitivinicultura bairradina começou a recuperar, mas mal o vinho voltou a ser valorizado, muitos produtores gananciosos cederam à tentação de plantar vinha em terrenos impróprios. Isto levou à primeira tentativa da demarcação na Bairrada que foi feita pelo político e cientista António Augusto Aguiar em 1867, baseada na relação entre constituição geológica dos terrenos e tipos de vinho.
O vinho de melhor qualidade chamava-se “Vinho de Embarque” e era destinado à exportação, e o vinho de qualidade mais fraca – “Vinho de Consumo” para o mercado interno. Os vinhos brancos de embarque eram produzidos na margem esquerda do rio Cértima até Óis do Bairro, São Lourenço do Bairro e Mogofores. No século passado, a partir dos anos 20, na Bairrada começaram a proliferar as Caves (Irmãos Unidos/Caves São João, Caves do Barrocão, Cave Central da Bairrada, Caves Messias, Caves Aliança, Caves Valdarcos, Caves Borlido, Caves Neto Costa, Caves do Solar de S. Domingos entre outras) que não tendo vinha própria, compravam vinho feito e estagiavam-no nas suas instalações. E não eram vinhos provenientes só da Bairrada, loteavam-se com os vinhos de outras regiões, nomeadamente Ribatejo, Beiras, Douro e Trás-os-Montes. A maior parte do vinho vendia-se a granel, algum em garrafões e muito pouco em garrafas. Os principais mercados de venda, para além do interno, eram as antigas colónias.
Os anos 50 foram marcados pela criação de adegas cooperativas – Adega de Cantanhede, de Mealhada, de Souselas, de Mogofores e Vilarinho do bairro. Até aos dias de hoje sobreviveu apenas a primeira.
Em meados da década de 70 com a independência das colónias, os produtores tinham que procurar mercados alternativos. O vinho foi canalizado para o mercado da saudade nos países europeus (França, Bélgica, Luxemburgo, Suíça e Alemanha) e nas Américas (Estados Unidos, Canadá, Brasil e Venezuela). Mas só este mercado também não era sustentável a longo prazo, à medida que os emigrantes da primeira geração regressavam à Patria e os seus filhos tinham hábitos diferentes. Os novos destinos de exportação trouxeram maiores exigências em termos de qualidade e assim a pouco e pouco começou-se a investir na modernização: higiene, novos equipamentos, cubas de inox, controlo de temperatura, clarificação dos mostos. Esta revolução tecnológica, que se deu um pouco por todo o país, contribuiu para a qualidade crescente dos vinhos – com aromas mais limpos, vinhos menos oxidativos e com óptimo equilibrio.
Em 1979 a Bairrada foi reconhecida como Denominação de Origem e procedeu-se à sua demarcação oficial que recentemente festejou os 40 anos. Nas decadas 70 e 80 surgem os primeiros produtores engarrafadores, que produzem vinho da sua vinha e com a sua marca. A demarcação, embora tenha colidido com o negócio de volume, encorajou os pequenos e médios produtores a avançarem com os seus projectos próprios.
Luís Pato, Quinta das Bágeiras, Casa de Saima, Campolargo, Sidónio de Sousa, entre outros, deram credibilidade e potenciaram a nova imagem da Bairrada a partir do início do século XXI.A polémica Maria Gomes
De acordo com os dados da Comissão Vitivinícola da Bairrada, 70% a 75% uvas produzidas na região são tintas, deixando os restantes 25 a 30% para castas brancas. A mais expressiva em termos de plantação é a Maria Gomes, conhecida noutras regiões como Fernão Pires, seguida de Bical e Arinto. Nos últimos anos registou-se um incremento de Cercial e Sauvignon Blanc. O Chardonnay é bastante valorizado para a produção de espumantes.
O trio principal para um lote bairradino consiste em Maria Gomes, Bical e Cercial, onde cada variedade tem o seu papel. A Maria Gomes, sendo a mais aromática das três, é responsável pelos aromas, sobretudo nos primeiros anos. O Bical dá corpo e untuosidade ao vinho e o Cercial contribui com a estrutura acídica.
A casta Maria Gomes, conhecida também como Fernão Pires no resto do país e que é a casta branca mais cultivada a nível nacional. A sua origem é desconhecida, mas foi mencionada em 1788 relativamente às regiões Tejo, Beiras e Douro. Alguns produtores constatam que nos encepamentos antigos esta casta na Bairrada apresenta uma morfologia ligeiramente diferente e tem bagos mais pequenos, que, provavelmente, poderão ser alguns dos clones diferentes de outras regiões.Maria Gomes amadurece cedo e tem uma curta janela de vindima, pois acumula muito açúcar e perde rapidamente a acidez. Muitas vezes é mal-amada pelos enólogos. As “culpas” são exuberância aromática e falta de acidez. João Soares, o enólogo da Messias aponta as mesmas razões “baixa acidez e normalmente com potencial de guarda reduzido, é muito terpénica, não deixa reflectir o solo”.
O produtor Nuno do Ó também confessa que não morre de amores por esta casta, mas se trabalhar com ela, prefere apanhá-la mais cedo “com carácter mais mineral e menos exuberante”.
Já Mário Sérgio da Quinta das Bágeiras defende a casta que, embora tenha menos acidez, tem aromas interessantes de geleia e floral. E a sua experiência diz-lhe que a qualidade depende da quantidade de uva na videira. A casta naturalmente é muito produtiva e este aspecto tem que ser controlado. Frequentemente colhe Maria Gomes em óptimo estado de maturação, com 14% de álcool, e perfeito equilíbrio ácido, com 7,5 g/l de acidez total e 3 pH.
O experiente Luís Pato, exemplo para muitos produtores de dentro e fora da região, planta a Maria Gomes em solo arenoso para manter acidez (no barro dá vinhos mais gordos), mas com rega, porque a casta é muito sensível ao stress hídrico, “os bagos mirram ainda antes de amadurecerem”. É uma casta muito importante para vinhos de entrada de gama, fornecendo-lhes aromas imediatos e apelativos, mas também ser a base de vinhos de topo.A elegante Bical
Bical, também apelidada como Borrado das Moscas devido às pequenas manchas castanhas que apresentam os bagos maduros. É uma casta autóctone, situada maioritariamente nas regiões das Beiras. Por não ter o porte erecto, dificulta a vida dos viticultores. É muito sensível aos ataques de oídio na floração e a sua produção varia bastante de ano para ano. Comporta-se melhor em solos medianamente férteis, com boa drenagem e não muito alcalinos.
Amadurece mais tarde do que a Maria Gomes, em meados de Setembro e é resistente à podridão graças aos seus cachos com bagos soltos.
É mais neutra em termos aromáticos, confere estrutura e corpo ao vinho. Atinge menos grau alcoólico do que a Maria Gomes e tem menos acidez do que a Cercial. Também tem que ser colhida no momento certo, porque “facilmente perde acidez numa semana”, refere Luís Pato.
O enólogo da Casa de Saima, Paulo Nunes, que também trabalha muito no Dão, confessa que nunca plantaria Bical no Dão, mas que na Bairrada com o clima Atlântico e neblinas matinais frequentes preserva muito melhor a acidez.
Já João Soares é um fã da Bical. Para ele, é a casta que melhor mostra a região, com notas de barro, iodo, maresia, se for apanhada atempadamente. Quando sobremadura desenvolve notas tropicais e de goiabas. Com idade, os vinhos de Bical evoluem para resinas e cera de abelha, fazendo lembrar o cheiro de pranchas de surf. Acha que não tem grande aptidão para ir à barrica e apresenta grande capacidade de envelhecimento em garrafa que considera o mérito da região.
Nuno do Ó também gosta de Bical pela sua austeridade e potencial de guarda. Aguenta vinificação oxidativa (o mosto fica acastanhado por uns tempos, mas depois já não oxida). Utiliza prensa aberta, onde os chachos vão com engaço. Prefere barricas usadas, porque a casta já tem aromas de especiaria e o excesso de barrica não lhe fica bem. Com 2-3 anos de guarda os vinhos cheiram a barro molhado.A nova estrela: Cercial
Deve ser uma das castas cujo nome provoca mais confusão, não só no meio de consumidores, mas também na sua classificação e caracterização histórica. Cercial da Bairrada não é a mesma casta que Cerceal Branco utilizado no Dão e Douro, e também não tem nada a ver com Sercial da Madeira (que no continente é chamado Esgana Cão). Apenas a acidez natural elevada é comum a estas três castas, de resto são bem diferentes.
Amadurece relativamente tarde e é suceptível à podridão dos cachos devido à sua película bastante fina. Tem aroma discreto e enorme capacidade de envelhecimento.
Na opinião de João Soares, a Cercial, tal como Bical, é bastante neutra aromaticamente (fruta branca delicada com um toque de bechamel) , “transparecem atlanticidade”, mas a Cercial é mais vertical, mais tensa.
Mário Sérgio não tem dúvidas que Cercial é uma casta fabulosa. É capaz de, com 14% de álcool provável apresentar 8 g/l de acidez e 2,98 de pH. O problema é que apodrece com facilidade. Porta-se melhor em talhão estreme do que misturada com outras nas vinhas velhas (matura mais sedo e apodrece) e tem maior potencial. Ao envelhecer desenvolve os aromas de favos de mel. Produz relativamente pouco, 5 a 6 mil litros por hectare.
Segundo Luís Pato, a casta tem acidez vibrante, demonstra elegância e tem óptima aptidão para estágio em madeira.
Entre as outras uvas presentes nas vinhas bairradinas, releva a Arinto, que é uma casta nobre plantada em quase todo o país, conferindo acidez aos lotes em que entra. Na Bairrada amadurece mais tarde, nos finais de Setembro, é normalmente a última a ser vindimada, explica Nuno do Ó. Mostra o seu lado “mais salino, mais calcário, com frescura nervosa, o vinho é mais vertical e austero, menos gordo do que em Bucelas”.
Há ainda outras castas com menos expressão, como o Rabo de Ovelha que produz muito e tem cachos grandes, de maturação tardia e conhecida pela acidez alta. Sercialinho, que é muito aromática e com óptima acidez. E as castas internacionais, como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Blanc e Viognier também são permitidas na legislação regional de DOC (com excepção da categoria Bairrada Clássico), sendo muitas vezes utilizadas em lote com as variedades tradicionais, mais raramente engarrafadas a solo.
Independentemente da casta, o terroir bairradino imprime o seu carácter nos vinhos ali produzidos, e os brancos da região, amplos, vibrantes, longevos, merecem toda a atenção do apreciador exigente.

Edição Nº30, Outubro 2019

Curral Atlantis: vinhos com sabor a mar

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O envolvimento da família Faria com o enólogo Paulo Laureano ao longo de duas décadas tem resultado num portefólio de vinhos de inquestionável qualidade e forte identidade, vinhos que expressam da melhor forma o inimitável terroir da ilha do Pico.

TEXTO Luís Lopes

Há 20 anos, ninguém no Pico sonhava que um dia os brancos da ilha seriam louvados por jornalistas e consumidores exigentes e apresentados como exemplo de singularidade e distinção. Naquela época, o objectivo dos picarotos mais envolvidos com a vinha e o vinho não passava por fazer grandes vinhos brancos e exportá-los para o mundo. A ambição era outra, bem mais simples e prosaica: substituir progressivamente o chamado “vinho de cheiro”, elaborado a partir de videiras não viníferas e autorizado unicamente para consumo local, por vinhos tintos de castas “europeias”, capazes (acreditavam) de relançar a indústria vitivinícola da ilha.
Foi com esse objectivo que o mais experiente viveirista do continente, o alemão Jorge Bohm, fundador da Plansel, começou a visitar o Pico no sentido de ali inserir as suas plantas, enxertadas com as variedades clássicas europeias e com os híbridos desenvolvidos no centro de investigação de Geisenheim. Havia que encontrar uma casta tinta de ciclo curto que, nas condições extremas do clima local, originasse vinhos com taninos maduros e suaves. O seu principal cliente no Pico era Manuel Faria, proprietário de uma empresa de venda de produtos e alfaias agrícolas. Da relação comercial e de amizade entre os dois surgiu a ideia de criar uma empresa produtora de uva e vinho e assim nasceu a Curral Atlantis em 1995.
A dupla adquiriu terrenos e, com o apoio da Universidade de Évora, plantou 3 hectares de uma vinha experimental, com 24 castas, entre elas Viosinho, Chardonnay, Gouveio, Pinot Grigio, Merlot, Syrah, Cabernet Sauvignon e diversos híbridos, videiras que foram conduzidas de forma “moderna”, em espaldeira, ao invés dos currais tradicionais. Em 1997 chegou o enólogo Paulo Laureano para, a partir daí e ao longo dos anos seguintes, vinificar os frutos desta vinha e retirar conclusões técnicas e científicas que alicerçassem o projecto. Não levou muito a perceber que daquela amálgama de castas apenas a Viosinho e as variedades clássicas da ilha, nomeadamente Arinto, Verdelho e Terrantez (tudo castas brancas…) ofereciam as garantias de qualidade pretendida.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40755,40756,40757″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_image”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

A vinha é desafio permanente
O projecto Curral Atlantis inverteu assim o sentido original e, a partir de 2010, a aposta seria total na vinha e castas tradicionais. Adquiriram-se terrenos, limparam-se matos e reconstruiram-se os currais. Actualmente, a empresa dispõe de 42 hectares de vinha, dos quais 8 hectares em zona plana (outrora em espaldeira, agora transformados em condução baixa, sem arames) e os restantes espalhados pelos inconfundíveis currais de pedra vulcânica. Para além desta matéria prima, o produtor conta com mais 20 hectares alugados a viticultores da região.
Entretanto, a Curral Atlantis tornou-se numa sociedade totalmente familiar, com Manuel Faria a adquirir a parte de Jorge Böhm e a integrar os seus filhos Marco e Rui no dia a dia da empresa. Com o actual “buzz” em torno dos vinhos do Pico e as vendas a crescerem no País e em diversos mercados internacionais, impõe-se agora a construção de uma nova adega, que estará pronta em 2020, primeiro a área de vinificação, mais tarde o enoturismo. Em velocidade de cruzeiro, o projecto conta produzir 250 mil garrafas/ano. A nova adega vai fornecer outras ferramentas a Paulo Laureano para afinar o perfil dos vinhos. O enólogo quer dar consistência ao que existe mas também fazer coisas diferentes (“precisamos saber até onde podemos ir no Arinto e no Verdelho”, diz) e dar outras condições de estágio aos licorosos (que, em rigor, o não são, pois o Curral Atlantis “licoroso” é um branco doce natural, sem adição de aguardente, como é tradição de alguns produtores do Pico).

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Mas também na vinha há muito por fazer. “Os desafios vitivinícolas no Pico são diferentes dos de há 20 anos”, refere. “Temos um terroir extraordinário, mas com enorme dificuldade de maneio e, paralelamente, muita falta de mão de obra. Precisamos controlar de forma mais adequada os infestantes, melhorar a resiliência das plantas e optimizar a produção – que não passa de 1,5 ou 2 kg por cepa”, enumera Paulo Laureano.
Fazer vinha e produzir vinho no Pico não é para qualquer um, é bem evidente. A Natureza impõe-se aqui de forma esmagadora, nada é oferecido, tudo é alcançado com muito labor e cuidados. Mais uma razão para que os produtores da ilha aprendam, cada vez mais, a trabalhar em conjunto em torno de objectivos comuns.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][image_with_animation image_url=”40754″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

“Há que saber comunicar e vender a forte identidade vínica do local”, diz Paulo Laureano. “Para o conseguirmos, salvaguardando o modelo de negócio e o estilo de cada um, deveremos todos caminhar no mesmo sentido, valorizando o Pico e os seus vinhos”. Nada mais certo.

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Edição Nº30, Outubro 2019

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Casa Cadaval: A nobreza num copo de vinho

Ocupando uma parte da povoação a norte de Muge, a Casa Cadaval é um dos mais antigos e prestigiados produtores de vinho da região do Tejo. Tem nobres pergaminhos na sua história, nacionais e internacionais, e os vinhos seguem o mesmo caminho, com carácter, qualidade e polimento de mãos dadas. TEXTO António Falcão NOTAS DE […]

Ocupando uma parte da povoação a norte de Muge, a Casa Cadaval é um dos mais antigos e prestigiados produtores de vinho da região do Tejo. Tem nobres pergaminhos na sua história, nacionais e internacionais, e os vinhos seguem o mesmo caminho, com carácter, qualidade e polimento de mãos dadas.

TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA Mariana Lopes
FOTOGRAFIAS Ricardo Gomez

Teresa Schönborn é descendente de nobreza nacional, mas ostenta ainda o título de Condessa de Schönborn e Wiesentheid, um título germânico com centenas de anos de história. Teresa teve uma educação esmerada e fala sete línguas diferentes, mas a sua maneira de ser dificilmente poderia transmitir mais simpatia e simplicidade. Como administradora da Casa Cadaval, esta executiva passa parte do seu dia no meio de tractores, estradas poeirentas, gado e cavalos, vinhas e adega. E aqui sente-se feliz, conseguindo ainda ser pessoa muito respeitada na zona, até porque muito tem ajudado a freguesia de Muge, do concelho de Salvaterra de Magos, em pleno Ribatejo.
Esta é uma casa com centenas de anos de história ilustre. Pertenceu a D. Nuno Álvares Pereira de Melo, personagem de grande relevo na história de Portugal e nomeado 1º Duque do Cadaval, em 1648 (não confundir com o general que derrotou Castela em Aljubarrota).
Teresa Schönborn é descendente desta família e o nome alemão vem do casamento de sua mãe, Graziela Álvares Pereira de Melo, com Friedrich Karl Anton, conde de Schönborn-Wiesentheid. A família possui vinhas na Alemanha, na Francónia (bem no coração do país) e no Reno, mais para o lado da França. “Já se faz lá vinho há 800 anos!”, graceja Teresa.
Por cá o terreno é muito maior. De facto, a Casa Cadaval é uma das maiores explorações agrícolas nacionais, com quase 5.000 hectares de terra. Sem contar com o pessoal adstrito à já famosa coudelaria de cavalos lusitanos (que data de pelo menos 1648!), aqui trabalham em permanência 37 pessoas, geridas por António Saldanha, o braço direito de Teresa. Para lá dos tractoristas da casa, que são muitos, a maior parte dos tratamentos e amanhos da vinha são realizados por pessoal de fora.
A herdade abrange muitas culturas – arroz e outros cereais, leguminosas, como tomate, gado de carne, uma enorme floresta de montado e, claro, vinha. Possui cerca de mil hectares de terra extremamente fértil e com abundância de água, dois factores que marcam fortemente a riqueza de uma exploração agrícola e o respectivo valor dessas terras. É por isso que o negócio do vinho nem sequer é o mais importante da Casa Cadaval. “A vinha (e o vinho) dá dinheiro, mas também muito trabalho”, diz-nos Teresa. No entanto, a maioria dos solos da Herdade de Muge é relativamente pobre e é exactamente aí que reside o enorme montado… e a vinha.

Um pulo às vinhas
Vinha e adega estão a cargo de Raquel Santos, a enóloga residente, e do consultor Mário Andrade, conhecido enólogo com um grande pendor na viticultura. Raquel entrou há cerca de um ano, vinda do Alentejo, mas a sua origem é do Dão e tem avô e pai viticultores. Ou seja, dois enólogos que adoram estar nos 45 hectares de vinha, espalhadas por três manchas: Adua, Serradinha e Amoreira. A primeira é a maior, a que tem a vinha mais velha e é onde estão, diz Raquel, “as castas com maior importância para nós”. Ou seja, é da Adua que saem os monocastas da casa, o topo de gama Marquesa de Cadaval, e por aí fora. As melhores partes e as uvas brancas são vindimadas à mão, juntamente com as vinhas muito jovens; o resto fica para uma máquina, alugada.
A vinha mais velha é de Trincadeira e data ainda de tempos antigos, quando a Casa Cadaval chegou a possuir 416 hectares de vinha, numa zona de areias. Na altura da plantação as coisas foram feitas a preceito, com a consultoria de técnicos franceses. A uva ia para vinho a granel e foi só por acção do pai de Teresa (e da avó) que a situação mudou, apostando-se antes em vinho com outras exigências de qualidade. Friedrich Karl Anton era, aliás, um “estudioso da vinha”, diz a filha. A área de vinha foi assim sofrendo reduções sucessivas. Com a nova vinha, e uma parcela de velha, o produtor começou a enviar vinho para a Alemanha, para a adega do pai de Teresa, onde era engarrafado com o rótulo Casa Cadaval. Isto por volta de 1975/1976. Por isso é que a marca tardou alguns anos a ser conhecida por cá, coisa que terá acontecido só por volta do início dos anos 80, altura em que existiam ainda muito poucas marcas no mercado português.
A era moderna da produção de vinho começou com o pai de Teresa, Friedrich, que, à semelhança do que acontecia na Alemanha, achava que as vinha tinha que ser plantada por castas e também que seriam feitos vinhos monovarietais. Hoje é corriqueiro, mas na altura era quase revolucionário. A Casa Cadaval foi assim das primeiras a lançar vinhos de uma só casta. E nas castas tintas apareceu Trincadeira, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Merlot, e, nas brancas, a casta bem típica do Ribatejo, o Fernão Pires. Só bem mais tarde aparecem, por exemplo, outras castas brancas, como Riesling, Viognier e Verdelho.

Os solos de areia
Nos solos predominam as areias, algumas partes com argila no subsolo. Sondas colocadas o ano passado mostram bem os teores de humidade a um metro de fundo e têm ajudado muito os técnicos a planear a rega: “evitamos estar a regar demais ou de menos”, declara Mário. Aqui não há problema de falta de água. A enorme barragem, ao pé da sede agrícola da casa, os canais interiores e a proximidade ao Tejo asseguram que, mesmo nos Verões mais secos, exista sempre água em abundância. E o subsolo é também rico.
Ainda assim, a maioria da vinha está em solos com pouca fertilidade: “em média não conseguimos mais de 5 a 6 toneladas por hectare”, diz-nos Raquel. A técnica sabe que é pouco e que será bom para vinhos de qualidade, mas gostava de ter mais, mantendo o equilíbrio das uvas produzidas. Mário Andrade está de acordo e acrescenta: “aqui, com clima quente e solo pobre, até convém ter os bagos um pouco maiores, porque resistem melhor à seca e aos golpes de calor. Os antigos já o sabiam”.
Apesar de nenhuma vinha estar em terras de aluvião, Mário acredita que estes solos muito férteis são “excepcionais” para vinhos brancos, dando vinhos mais aromáticos e com menos taninos”. Para tintos, é melhor a charneca, a zona de solos mais pobres, que “dá vinhos mais estruturados e com mais taninos”.

À procura daquele solo especial
Mário e Raquel enfrentam, entretanto, num novo desafio, que é o de encontrar o espaço certo para plantar uma nova vinha. Já fizeram vários ensaios, em locais diferentes, mas até agora nenhum conseguiu reunir as condições certas para os requisitos dos técnicos. Os técnicos procuram, em termos muito simples, uma boa parcela, com solos de estrutura e perfil diferentes (para melhor) das existentes. Existe ainda muita terra para explorar e os ensaios vão continuar, porque esta não vai ser apenas mais uma vinha: “tem que ser boa e identitária”, diz Mário Andrade.
Com tanta mexida no campo, Raquel diz-nos que, no último ano, passou mais tempo na vinha que na adega. E vai conseguindo bons sucessos: as podas feitas este ano, por exemplo, foram de correcção. E o resultado foi muito bom, deixando Raquel muito contente: “Via-se que as plantas estavam mais felizes”, gracejou a técnica, enquanto nos dirigíamos para a adega.

Uma adega em remodelação
A adega foi em tempos concebida para vinificar milhares de toneladas de uva, por isso espaço é coisa que não falta. Chegaram-se a vinificar aqui 4 milhões de litros por ano e tudo estava em cimento, como era tradição, em quatro grandes alas. Muita coisa já mudou, entretanto, e outras vão mudar ainda nos próximos tempos. A traça original e vários depósitos vão-se manter, mas o laboratório desce do primeiro andar para o rés-do-chão e as seis prensas Titan – da Casa Hipólito, com 50 anos de idade – vão ser recuperadas. “São óptimas para tintos”, diz Mário.
Descemos ao piso subterrâneo, onde existem tegões de recepção, depósitos e muita maquinaria antiga, que vão sofrer remodelações e restaurações. É aqui que vão passar a ficar as barricas, até porque é o sítio mais fresco. Mário Andrade já espiolhou tudo e fica espantado com o planeamento da adega na altura e com algumas soluções engenhosas. Parece que, de facto, toda a adega foi planeada de raiz por enólogos franceses, há muitas décadas atrás. O enólogo acha que a adega é uma pequena jóia da arqueologia industrial.
De resto, Mário e Raquel são adeptos de vinificações minimalistas e das leveduras indígenas, sempre que possível. “É tudo o mais simples possível”, garante Mário Andrade, que fez centenas de testes ao longo dos anos e os vinhos feitos com métodos mais naturais (os testemunhas) estavam sempre entre os melhores. Por isso a receita é ter “uvas sãs, higiene e deixar correr o processo natural; dá menos trabalho, é mais barato e dá melhores resultados”.

Enoturismo a toda a força
Quem trata de toda a estratégia comercial e de marketing é Cátia Casadinho, com muita experiência nacional e internacional. Cátia organiza ainda o enoturismo da casa, com uma bela loja de vinhos, de generosas dimensões. A loja tem cada vez mais visitas, o resultado, diz Cátia, da crescente notoriedade turística de Portugal (e do seu vinho). As próprias agências pedem visitas, até porque a distância para a capital não é muita (75 km).
Na altura da nossa visita, um grupo de franceses tinha acabado de entrar, atraídos pelo sinal da loja de vinhos. É frequente fazerem aqui vários programas à volta do vinho (ver em www.casacadaval.pt), várias vezes com actividades complementares, como o baptismo de montar um cavalo lusitano, ou conhecer o montado de sobro. “Criamos aqui uma sinergia que acaba por gerar muita curiosidade nas visitas e é para nós uma mais-valia”, diz-nos Cátia. Outros atractivo é, por exemplo, a arqueologia. Prova disso são as vitrines na recepção com toda a espécie de artefactos de várias idades – do neolítico à época romana – encontrados um pouco por toda a herdade. Quase a querer dizer que, de facto, esta casa tem bem mais do que os 400 anos de história…

Edição Nº30, Outubro 2019

Reynolds Wine Growers: O oásis de um homem de paixões

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]À frente da Reynolds está um empreendedor que não tem mãos a medir, de uma energia invejável. Julian Reynolds sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]À frente da Reynolds está um empreendedor que não tem mãos a medir, de uma energia invejável. Julian Reynolds sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à dos seus antepassados.

TEXTO E NOTAS DE PROVA Mariana Lopes

Estávamos no Monte da Figueira de Cima, em Arronches, e uma das primeiras coisas que Julian Reynolds nos desvendou foi “gosto muito da estética das coisas e de desfrutar delas”. Nota-se, a vinha junto às casas, culminando num monte de sobreiros, é um autêntico jardim de flores e as paredes caiadas a branco, com o friso azul a subir desde a base, estão imaculadas. Não há um canto desarranjado nem um telhado desalinhado. Os bonsais são uma das suas grandes paixões e sabe tudo sobre eles. O interior dos edifícios está recheado de belas obras de arte. Afinal, a formação original de Julian é em Belas Artes (o seu tio Joshua Reynolds fundou The Royal Academy of Arts), passando pelo Cinema (trabalhou seis anos na Columbia Pictures), e também pela Economia, um homem de sete ofícios que já fez de tudo um pouco. Agora, assentou no Alentejo e dedica-se ao vinho, ainda gerindo outros negócios à distância. “Sinto-me responsável pela beleza do Mundo”, disse Julian, com um sorriso sereno, parafraseando o imperador romano Adriano.

O nome Reynolds vem dos seus antecessores ingleses. Tudo começou quando, em 1820, o marinheiro e comerciante Thomas Reynolds chegou a Portugal atraído pelo negócio do vinho e pelas trocas comerciais entre Inglaterra e a Península Ibérica. Em 1838, Thomas e os seus filhos dedicam-se à indústria corticeira em Portugal e Espanha, especificamente em Albuquerque (apenas a 28km, em linha recta, de Arronches), local onde, entretanto, nasceram onze antepassados de Julian. Já em 1850, a família fixa-se em Estremoz. Alguns partiram, depois, para a Nova Zelândia com ovelhas merinas “debaixo do braço”, sem nunca mais voltar. Mas Robert, um dos filhos de Thomas, ficou e, com o mesmo espírito empreendedor que Julian herdou, toma conta dos negócios e cria mais uns tantos, adquirindo novas terras e produzindo ali vinhos de qualidade. Alguns Reynolds depois, nasce Gloria, mãe de Julian e talentosa violinista, e é a ela que este dedica o seu trabalho quando chega ali e compra a propriedade em 1996, criando em 2002 um vinho que leva o seu nome no rótulo: Gloria Reynolds. “Nessa altura, poucos faziam vinho nesta zona, apenas a Adega Cooperativa e a Tapada do Chaves”, contou Julian.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”40724″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]DA SERRA À ADEGA, COM CONVICÇÃO

Como afirmou o produtor, “A História é importante mas o essencial é o que se faz agora, e como se faz”. Não há dúvidas de que estamos num local largamente influenciado pelo microclima da Serra de São Mamede. O vento que sentimos diz-nos isso e é bem-vindo, ajudando as videiras a prevenir-se de doenças. Entre os 200 hectares totais, com gado e plantações diversas, 40 são de vinha, até aos 420 metros de altitude, mais doze na Serra, até aos 600. “Altitude, boa drenagem, solos bastante minerais, excelente exposição e grande amplitude térmica é o que temos aqui, e o que se reflecte nos vinhos”, explicou o proprietário, que também revelou ter comprado aqueles terrenos a conselho do enólogo Francisco Colaço do Rosário. Os solos são xistosos, mas comportam em si muita variedade mineral, incluindo pedras de cariz vulcânico, e Julian lembrou que aquela área tem forte tradição mineira. Para obter mais concentração, reduzem a produção dos vinhedos, onde a casta mais presente é a Alicante Bouschet, bem como nos vinhos, e isso tem uma explicação: foi o bisavô e o seu irmão que trouxeram esta uva para o Alentejo, no século XIX. É caso para dizer “that’s quite a big deal”! Tanto que Julian afirma, e concretiza, “Quero que o Alicante seja a identidade dos nossos vinhos tintos”. Afinal, está-lhe “no sangue”. Mas também outras uvas tintas tradicionais da região marcam presença, como a Trincadeira, o Aragonez e o Cabernet Sauvignon, e brancas como Antão Vaz e Arinto. Quem pega em todas elas e as transforma em vinho são os enólogos Nelson Martins, braço direito de Julian no projecto, e Ana Real. Mas em todos eles se vê a mão do produtor, que sabe muito bem o que quer e transmiti-lo à sua equipa. “Fui criticado por lançar um Arinto, na altura em que estava a começar o projecto, porque me diziam ser uma casta desprezível, que só tinha boa expressão na costa atlântica”, confessou. Estamos a falar de uma casta que, hoje em dia, sabemos ser a branca mais viajável por todo o país, mas é perceptível que um dos grandes segredos do sucesso da Reynolds Wine Growers é a convicção de quem a gere.
O processo de produção está praticamente todo ali, incluindo linha de engarrafamento. A adega está num dos edifícios mais antigos, que outrora foi estábulo de bois, e que agora tem mais de duas dezenas de cubas da tanoaria francesa Seguin Moreau. Debaixo delas, um chão de ardósia com porosidade nula, que ao ser regado mantém a água na superfície e arrefece o ambiente, humidificando-o. Aliás, este é uma das industrias de Julian, a ardósia, e este conhece-a bem. A manutenção destas condições ideais de climatização é muito importante para a Reynolds, que é conhecida por fazer estágios bastante prolongados dos seus vinhos premium, em madeira e em garrafa. “É no campo da excelência e do bom gosto que me sinto confortável”, disse Julian, “e devo tudo à minha equipa, sem eles não faço nada e, aqui, todos ajudam em tudo”. A Reynolds, que produz cerca de 200 mil garrafas por ano, tem três marcas no mercado: Carlos Reynolds (o nome do filho de Julian, entrada de gama), Julian Reynolds e Gloria Reynolds (em anos de “excelente colheita”). Também um licoroso de Alicante Bouschet muito interessante faz parte do portefólio, Robert R. Reynolds, com notas de café e chocolate negro.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”40723″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]SUSTENTABILIDADE DISCRETA

Além do tratamento de águas e reutilização, e da produção da própria electricidade, a Reynolds Wine Growers adopta medidas sustentáveis na viticultura que, actualmente, está em produção integrada. Contam com vários instrumentos tecnológicos, para melhor planificar a estratégia do ano vitivinícola, como estação meteorológica, sondas de humidade de solo, sondas de humidade das folhas e sondas de condutividade do solo. Não fazem tratamentos com nada vindo de fora da Herdade. Para fertilizar o solo produzem, “em casa”, uma massa orgânica composta por restos das podas, coberto vegetal e resíduos de vinificação, como bagaços e borras, juntamente com estrume dos animais. Isto também permite uma maior oxigenação e hidratação do solo. Já durante o desenvolvimento vegetativo, utilizam choques de aminoácidos provenientes das leveduras indígenas. Para conviver com as doenças e as pragas, na vinha, favorecem o aparecimento de predadores naturais. Isso é feito através da construção de abrigos naturais para coelhos, com restos de poda, pois a multiplicação dos coelhos leva ao aparecimento de aves de rapina que, por sua vez, afugentam pequenas aves que consomem as uvas. Utilizam cobre e enxofre de forma muito limitada e, para o evitar, aplicam infusões de plantas. Fazem, também, várias podas em verde para que haja mais arejamento das plantas, eliminando a humidade nas folhas e, consequentemente, evitar o desenvolvimento de fungos. Quanto ao gado, não têm mais do que podem alimentar com a própria plantação.
Julian, que emana uma aura positiva detectável a milhas, declarou: “Hoje, aqui, a fazer o que faço, estou de férias, porque foi pelas fantásticas férias que passava em Portugal, na minha infância, que decidi voltar e ficar. Mas não paro, a minha tarefa é continuar a procurar identidade”.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_text_separator title=”VINHOS EM PROVA”][vc_column_text]

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Edição Nº28, Agosto 2019

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Adrian Bridge: “Vale a pena proteger o ambiente. Afinal, esta é a nossa casa”

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] Ao longo da última década e meia Adrian Bridge tem vindo a revolucionar completamente o grupo de vinho do Porto “Taylor Fonseca”. Inovação no produto e na forma de o comunicar, aposta forte na hotelaria, na […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Ao longo da última década e meia Adrian Bridge tem vindo a revolucionar completamente o grupo de vinho do Porto “Taylor Fonseca”. Inovação no produto e na forma de o comunicar, aposta forte na hotelaria, na cultura, na gastronomia são a sua imagem de marca. Mais recentemente, a criação do Porto Protocol revelou ao mundo a sua preocupação com a sustentabilidade ambiental. Acredita que o sector do vinho pode liderar a luta contra as alterações climáticas e explica-nos porquê.

TEXTO Luís Lopes
FOTOS Anabela Trindade

Adrian Bridge teve o primeiro contacto com o sector do vinho do Porto em 1982, quando conheceu a sua esposa Natasha, a filha mais velha de Alistair Robertson, presidente do grupo The Fladgate Partnership, detentor das marcas Taylor’s e Fonseca, entre outras. Após quase uma década ligado à carreira militar e à gestão financeira, Adrian veio com Natasha para o Porto, onde fixou residência e começou a trabalhar na empresa.  Em 2000 assumiu o cargo de Director Geral do grupo, tendo promovido a aquisição de outras casas do sector como a Croft e a Delaforce, e reorganizado toda a estrutura empresarial. De então para cá, o crescimento tem sido constante, assente em grandes investimentos em vinhas e adegas, renovação de marcas clássicas e criação de novos produtos (como o Croft Pink ou os chamados “super tawnies” –  velhos, grandiosos e caros), estreando novas formas de comunicar e promover o vinho do Porto. O ano de 2010 marcou o início de uma nova era no grupo: a hotelaria de luxo, com a inauguração do The Yeatman em Vila Nova de Gaia, a que se seguiu mais tarde a aquisição e reformulação do Vintage House, no Pinhão e Infante de Sagres, no Porto. Em fase adiantada de construção está o World of Wine, um grandioso complexo cultural, gastronómico e comercial situado ao lado da Taylor’s, em Gaia.

Adrian Bridge é igualmente líder e mentor do Porto Protocol, uma iniciativa global para mitigar as alterações climáticas, nascida na sequência das conferências Climate Change Leadership promovidas pela Taylor’s. Aos 56 anos, adepto e praticante de montanhismo, esqui, fotografia e aguarelas tem uma relação íntima com a natureza, e a preservação do ambiente, a biodiversidade e a sustentabilidade estão no centro das suas preocupações. Ao nível pessoal, mas também profissional. Porque, como nos diz, “Sentimos o efeito directo das alterações climáticas no nosso negócio. E temos de fazer alguma coisa”.

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O que é que o motivou a avançar para o desafio de organizar anualmente a conferência Climate Change Leadership?

A nossa empresa está profundamente envolvida com o tema há mais de 20 anos, preocupada com a diversidade e a sustentabilidade ambiental. Em 1998, por exemplo, lançámos um vinho do Porto elaborado com uvas orgânicas, um primeiro indício das nossas preocupações nessa área. De então para cá avançámos muitíssimo em práticas sustentáveis nas nossas vinhas, adegas e empresas. Mas a verdade é que nada se consegue sozinho. O clima nas nossas quintas não é diferente do clima nas quintas dos vizinhos. A partir de 2015 temos vindo a sentir de forma cada vez mais acentuada os efeitos das alterações climáticas e achámos que tínhamos de fazer alguma coisa para chamar a atenção para este problema. Pessoalmente, penso que o sector do vinho tem uma grande capacidade de liderar a luta global para contrariar e minimizar os efeitos das alterações climáticas. O projecto Climate Change Leadership é o resultado de tudo isso.

[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][vc_column_text]Onde é que o sector do vinho faz a diferença?

Essencialmente, em quatro aspectos. Em primeiro lugar, a vinha e o vinho estão presentes em muitos locais remotos do mundo onde constituem a única actividade económica relevante. Nós, enquanto sector do vinho, protegemos esses ambientes e evitamos a sua desertificação. Depois, uma enorme parte da economia da vinha e do vinho assenta em empresas familiares, é um negócio geracional baseado em muito do que avós e pais fizeram. E aquilo que hoje fazemos é feito a pensar nos nossos filhos e netos, a quem queremos deixar um futuro melhor.  Em terceiro lugar, o vinho é praticamente o único produto agrícola que é vendido com marcas. Nós comemos três ou quatro refeições por dia e, na esmagadora maioria dos casos, não temos qualquer ideia de onde veio aquilo que comemos. Com o vinho isso não acontece. Há uma origem, uma marca responsável, podemos falar directamente com quem o produziu e até visitar o local de produção. Finalmente, o mundo do vinho tem uma grande capacidade de comunicar directamente com o consumidor. E isso é uma enorme vantagem quando sabemos que o consumidor está cada vez mais preocupado com as alterações climáticas e com o ambiente.

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Acha que a comunicação do vinho com o consumidor tem sido a mais correcta e eficaz?

Não, mas tudo isso pode mudar. O marketing dos vinhos está demasiado focado em fornecer ao consumidor informações que não lhe interessam, por exemplo, como o vinho foi fermentado, quantos meses esteve nas barricas, onde e quando fez a maloláctica… Mas se eu der informação relevante, por exemplo, se eu disser ao consumidor que para produzir este vinho utilizámos dois litros de água e para fazer aquele foram utilizados dez litros, ele vai certamente optar pelo que tem menos impacto nos recursos naturais. Há cada vez mais consumidores a optar por vinhos orgânicos porque pensam que o orgânico é melhor para o ambiente, o que nem sequer é necessariamente verdade. O orgânico é bom para muitas coisas, mas a pegada de carbono da viticultura orgânica é mais pesada do que a da viticultura convencional. Na Fladgate, mais do que uma viticultura orgânica, nós praticamos uma viticultura sustentável.

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Em resumo, acredita que sector do vinho pode liderar o processo global de mudança para práticas mais sustentáveis…

Sem dúvida. As alterações climáticas têm um efeito visível no nosso negócio, o sector do vinho tem a capacidade de mobilizar as preocupações e atenções em torno deste assunto e podemos liderar porque somos uma indústria que abarca o mundo inteiro interagindo muito directamente com os consumidores e a população.

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O que espera do Porto Protocol?

Ghandi disse algo como, “o que quer que faças, provavelmente não será muito notado, mas é importante que o faças”. Cada contribuição isolada conta pouco, mas se todos fizermos alguma coisa, isso já terá um impacto grande. De forma simplificada, o Porto Protocol é, em primeiro lugar, um compromisso entre os seus subscritores, oriundos de vários sectores de actividade, para adoptar práticas sustentáveis. Em segundo lugar, o Porto Protocol implica partilhar. Os produtores de vinho têm a mesma planta, que plantam um pouco por todo o mundo. Muitos destes produtores estão bastante avançados em práticas sustentáveis e em mecanismos de defesa das suas vinhas contra as alterações climáticas. Não há tempo nem necessidade de reinventar a roda. Há soluções mais do que testadas, colocadas em prática com sucesso. Partilhar informação é absolutamente fundamental, não apenas na área da vinha e do vinho mas também noutros sectores. Um dos parceiros do Porto Protocol é a Toyota, por exemplo, mas está também a Amorim, da indústria da cortiça, e diversos parceiros da área da logística.

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Ter sido a Taylor’s a dar o primeiro passo é importante para credibilizar o projecto?

Nós fizemo-lo, em primeiro lugar, porque nos preocupamos. E depois, porque temos 327 anos e isso dá-nos credibilidade para falar sobre o que vai acontecer daqui a 20 ou 50 anos. Há também outra razão: o Porto não faz concorrência às grandes marcas de vinho no mundo. A Taylor’s é uma marca bem conhecida e prestigiada, mas é um nicho. E assim as grandes empresas de vinho do mundo não terão problemas em associar-se a um projecto iniciado por nós.

Mas é importante que fique claro: eu não estou a promover a Taylor’s. Eu estou a promover soluções para os problemas existentes. Mas é evidente que, dentro no nosso grupo, entre acionistas e colaboradores, há orgulho por termos assumido esta pasta. Numa empresa com 327 anos o lucro é importante, precisamos dele, mas não é tudo. Precisamos sobretudo de proteger as pessoas, o território, o vale do Douro, a cidade do Porto que é a nossa casa há mais de três séculos. E vale a pena proteger o ambiente em que vivemos. Esta é a nossa casa.

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Como podemos, em conjunto, direcionar consumidores e produtores numa via mais sustentável?

Dou-lhe um exemplo. Há muitos produtores a engarrafar vinhos em garrafas pesadas, de 900 gramas ou 1 quilo, porque muitos consumidores associam as garrafas pesadas a vinhos de maior qualidade. Mas nós sabemos que não há qualquer relação entre o peso da garrafa e a qualidade do vinho. Se nós comunicarmos isto claramente e chamarmos a atenção ao consumidor de que garrafas pesadas não ajudam ninguém dentro da rede logística, de que garrafas pesadas deixam uma maior pegada ambiental, o consumidor vai acabar por preferir vinhos em garrafas leves. Eles querem vinho, não vidro. E se o consumidor rejeitar garrafas pesadas, os produtores vão adoptar outro comportamento.

Nunca devemos esquecer que o consumidor reage rápido. Só há dois ou três anos é que se começou a falar do plástico a sério. Hoje em dia é uma preocupação generalizada do consumidor e as empresas são obrigadas a encontrar soluções diferentes.

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A Fladgate tem investido bastante (e com sucesso, diga-se) no sector hoteleiro. Em que medida é que o negócio de viagens e hotelaria está ciente da necessidade de implementar soluções que vão ao encontro da sustentabilidade ambiental?

Efectivamente, trata-se de um sector com peso importante nesta área. Existe a nível mundial um grande debate sobre a pegada de carbono gerada pelo tráfego aéreo. Mas a verdade é que as pessoas vão continuar a viajar. Não é menos verdade que a optimização de gestão e a evolução tecnológica fazem com que as pessoas viagem, hoje em dia, em aviões cheios e em aviões modernos, bem mais eficientes em termos de consumo. Mas os viajantes quando chegam ao hotel também têm a expectativa que o hotel respeite o ambiente. No caso do Yeatman, por exemplo, todo o aquecimento de águas é feito através de painéis solares. A água oferecida ao cliente, para beber, é recolhida na rede pública, filtrada, refrigerada e gaseificada por nós. As águas utilizadas nos banhos são captadas em minas existentes debaixo do hotel. E depois dos banhos, as águas são tratadas e reutilizadas nos sanitários e na rega dos jardins. Estima-se que, diariamente, no mundo inteiro, há um bilião de pessoas que utiliza água bebível na descarga das sanitas; e mais de dois biliões de pessoas não têm água potável para beber. Esta é, infelizmente, uma realidade e, portanto, o uso racional da água é muito importante para nós.

Mas existem outras vertentes onde a hotelaria pode fazer muito mais e melhor. A forma como se utiliza energia é crucial. Porque é que um cliente precisa chegar ao quarto e ter a televisão ligada? Em alguns hotéis de luxo, por vezes, um cliente sai para jantar, desliga a electricidade, mas quando volta, quatro horas depois ,está tudo ligado de novo porque entretanto um camareiro passou no quarto. Não tem lógica, quando um simples cartão pode ligar à entrada e desligar à saída… O tratamento de lixos é outra vertente importante. No Yeatman, por exemplo, possuímos uma máquina de compostagem do lixo da cozinha. Mas, como disse, há ainda muito para melhorar na hotelaria e nos restaurantes do ponto de vista ambiental.

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Permita-me uma transição temática para o Vinho do Porto, no fundo, a razão da existência desta casa. Dir-se-ia que os tempos não vão a favor do Porto: é um vinho doce e com teor alcoólico elevado, ao arrepio dos padrões de consumo…

Mas é muito bom!

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Estamos de acordo. Mas o que é possível fazer para tornar o Porto mais atractivo para os novos consumidores?

A nossa empresa, que está muito focada nas categorias especiais (os Porto de nível superior) tem o seu negócio em crescimento. Lento, é certo, mas a crescer. O que é preciso? Sobretudo, inovação. Inovação de produtos, de “packaging”, de qualidade. O consumidor é exigente e tem acesso a muita informação, pelo que devemos conhecer bem o que ele pretende, o que bebe, quando e como bebe. Muitas vezes, o problema não está no consumidor, mas na rede de distribuição. Basta que alguém diga que não quer um determinado vinho na sua rede de 500 supermercados para que milhões de pessoas fiquem sem acesso a esse produto. Não porque não o queiram, mas porque não está lá.

É verdade que o Porto tem 20 graus de álcool, mas o gin tem 40 graus e fez um enorme trabalho de regeneração de toda a categoria. O álcool não é o problema. Os australianos fazem muitos Shiraz com 15 e 15,5%. Não há assim tanta diferença para o Porto. Quanto ao ser doce, há muita gente que diz que não quer doce, mas gosta de doce. Temos é que saber quando e como servir o Porto. Não faz sentido sugerir um Porto LBV para acompanhar uma picanha, há vinhos de mesa que cumprem melhor esse papel. Mas se sugerirmos esse mesmo LBV com um brownie de chocolate, então temos um casamento perfeito.

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O renascer do interesse pela mixologia, pelos cocktails, pode ajudar o negócio do Vinho do Porto?

É óbvio. Os mixologistas têm uma mente aberta, estão acostumados a experimentar coisas novas. O Croft Pink , por exemplo, pode deixar desconfiado um sommelier, porque não o estudou na escola, mas é bastante atractivo para um mixologista que pode utilizá-lo como base para desenvolver a sua criatividade. Há um restaurante chamado Little Big’s em Houston, Texas, que faz um granizado com o rosé. Nós fazemos agora um granizado com o ruby Fonseca Bin27.

O vinho do Porto tem orgulho nas suas tradições e beneficia delas, mas devemos incentivar a inovação e, sobretudo, a acessibilidade ao vinho do Porto, deixando de lado a ideia de que este vinho só se bebe com fato escuro ou sentado à lareira. Ou, pior ainda, quando temos cabelos brancos. Nós precisamos relaxar! Não estou aqui para fazer regras, mas sim para fazer um bom produto e deixar que as pessoas o integrem na sua vida.

Não há uma forma certa e errada de beber Porto. Nem um local certo ou errado. Abrimos recentemente um winebar Taylor’s em Lisboa. Porquê só oferecer Porto ao turista na cidade do Porto ou no norte do País? Vinho do Porto é Portugal!

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O vinho e o ambiente, manual prático

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] São cada vez mais os consumidores que se preocupam com a forma como são produzidos os alimentos que levam à sua mesa e a proteção do ambiente tornou-se tema importante em toda a cadeia de produção. […]

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São cada vez mais os consumidores que se preocupam com a forma como são produzidos os alimentos que levam à sua mesa e a proteção do ambiente tornou-se tema importante em toda a cadeia de produção. O vinho é, seguramente, um dos produtos mais evoluídos em termos de sustentabilidade ambiental. O objecto deste trabalho é apresentar aos nossos leitores, de forma simples e concisa, os modelos e soluções encontradas para cuidar do ambiente na indústria da vinha e do vinho.

 TEXTO Luís Lopes

Portugal tem feito avanços enormes na vertente da proteção ambiental no setor do vinho. Hoje em dia, a consciência ambiental é transversal a todas as regiões vinícolas portuguesas e uma grande parte dos produtores segue, pelo menos, a denominada “proteção integrada”, que é o primeiro passo no modelo de boas práticas agrícolas e vitícolas. Para além deste, existem outros caminhos que visam a proteção e sustentabilidade ambiental na vinha, sendo os mais comuns a produção integrada, produção biológica e produção biodinâmica.

A proteção integrada é o modelo mais básico de proteção ambiental e consiste na avaliação ponderada de todos os métodos de proteção das culturas disponíveis, utilizando apenas os produtos e as quantidades económica e ecologicamente justificáveis, procurando a menor “perturbação” possível do ecossistema agrícola. É apenas um primeiro passo no longo e árduo caminho da sustentabilidade mas, apesar disso, infelizmente, ainda não generalizado a todos os produtores de vinho.

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Já a produção integrada inclui igualmente a proteção integrada, mas vai muito mais além. Em produção integrada, as atividades agrícolas são encaradas como um todo, sendo essencial a preservação e melhoria da fertilidade do solo e da biodiversidade e a observação de critérios éticos e sociais. O planeamento é a base da produção integrada. Cada parcela de vinha tem um plano de exploração próprio, que incide, por exemplo, sobre a conservação do solo, biodiversidade, nutrição das plantas, rega (reduzindo o consumo de água) e proteção contra os inimigos da videira, com tudo isto interligado. São utilizados fertilizantes orgânicos e minerais e no combate às pragas são preferidos insetos “bons” e organismos vivos, só podendo ser utilizados produtos fitofarmacêuticos em “caso de emergência”. E mesmo assim estes só podem ser usados se forem homologados para a prática de produção integrada e nas quantidades máximas estabelecidas por lei.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40706″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

A produção biológica é outro caminho no sentido da proteção ambiental, mas também um mais “arriscado”, pois qualquer desatenção, ou atraso na intervenção, pode levar à perda da colheita por praga ou doença. Regra geral, as intervenções na vinha são igualmente mais frequentes e onerosas, encarecendo o produto final. Tal como a produção integrada, a viticultura biológica permite o uso de produtos fitoquímicos (enxofre e cobre são mais comuns, ainda que não completamente inofensivos para o ambiente…), mas, ao contrário desta, interdita totalmente a aplicação de produtos químicos de síntese nas plantas ou no solo. Para o controlo de ervas infestantes são utilizados sobretudo o corte manual ou mecânico ou ainda ou animais herbívoros, como ovelhas. O fomento da biodiversidade é uma das pedras de toque da viticultura orgânica, promovendo o equilíbrio entre as várias espécies vegetais (plantando ou semeando outras culturas) e animais.

Em qualquer um destes modelos (proteção integrada, produção integrada ou produção biológica), os produtores obrigam-se a seguir regras específicas e são submetidos a um processo de controlo e certificação.

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Uma indústria atenta  

No entanto, a preocupação ambiental não se esgota na terra, na componente agrícola do vinho: passa também, e muito, pela forma como esse vinho é produzido, embalado ou distribuído.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Qualquer instalação de vinificação já tem, por lei, que cumprir um vasto conjunto de medidas de protecção ambiental, sendo a mais evidente a construção de uma ETAR para tratamento de efluentes. Os resíduos do vinho, por sinal, até são bem fáceis de tratar, já que são muito pouco poluentes (nada que se compare com os resíduos do azeite, por exemplo), bastando a correção do pH e o arejamento numa ETAR relativamente simples. A principal “agressão ambiental” do vinho está no elevado consumo de água. Estima-se que para cada litro de vinho sejam gastos 3 a 5 litros de água, sobretudo em lavagens (sem falar na água utilizada na rega da vinha). É possível, porém, reduzir enormemente este desperdício (para 1 litro de água por 1 litro de vinho) e são muitos os produtores que o fazem, quer através da implementação de práticas mais rigorosas (controlando o caudal das mangueiras, a concentração dos produtos de lavagem e o tempo de cada lavagem), quer através da reutilização da água tratada pela ETAR ou do armazenamento de água da chuva.

Outra preocupação passa pelo consumo de energia. Nas adegas modernas investe-se bastante em isolamento térmico, para minimizar o gasto energético no arrefecimento das cubas de fermentação e do espaço de vinificação, envelhecimento e armazenagem de vinhos.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”40710″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Esse isolamento/arrefecimento pode ser feito através de materiais específicos, mas também passa pela própria arquitetura da adega, por exemplo ventilação apropriada e coberturas naturais (prado, relva) ou espelhos de água da chuva nos telhados. Tudo isto, é claro, complementado com painéis solares e iluminação de baixo consumo. Práticas mais sofisticadas de sustentabilidade ambiental como a utilização de energia geotérmica ou a captura e armazenamento do CO2 produzido pela fermentação estão já em estudo em algumas adegas nacionais.

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Outra preocupação passa pelo consumo de energia. Nas adegas modernas investe-se bastante em isolamento térmico, para minimizar o gasto energético no arrefecimento das cubas de fermentação e do espaço de vinificação, envelhecimento e armazenagem de vinhos. Esse isolamento/arrefecimento pode ser feito através de materiais específicos, mas também passa pela própria arquitetura da adega, por exemplo ventilação apropriada e coberturas naturais (prado, relva) ou espelhos de água da chuva nos telhados. Tudo isto, é claro, complementado com painéis solares e iluminação de baixo consumo. Práticas mais sofisticadas de sustentabilidade ambiental como a utilização de energia geotérmica ou a captura e armazenamento do CO2 produzido pela fermentação estão já em estudo em algumas adegas nacionais.

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Dão tinto: prazer e carácter por menos de €8

Têm um preço muito conveniente, são grandes companheiros da refeição e deixam-nos saudades. São os tintos do Dão que continuam, passado mais de um século, a serem o que sempre deles esperámos: vinhos elegantes, envolventes e com sentido regional. TEXTO João Paulo Martins FOTOS Ricardo Gomez Foi no longínquo ano de 1908 que o Dão […]

Têm um preço muito conveniente, são grandes companheiros da refeição e deixam-nos saudades. São os tintos do Dão que continuam, passado mais de um século, a serem o que sempre deles esperámos: vinhos elegantes, envolventes e com sentido regional.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Gomez

Foi no longínquo ano de 1908 que o Dão ganhou foros de região demarcada mas só depois do 25 de Abril a região adquiriu novo impulso. Neste sentido pode dizer-se que seguiu de perto o movimento que, a partir daquela data varreu todas a regiões, criou organismos e estabeleceu regras precisas do que se podia ou não produzir. A fama que então já tinha e que vinha do início do século XX manteve-se e os consumidores sempre lhe notaram a qualidade dos vinhos. E numa época – anos 70 e 80 – em que ainda tudo estava por fazer, o Dão marcava presença no mercado com o selo da região demarcada.

As regras que se impuseram na altura foram claras: quem quisesse plantar vinha tinha de cumprir alguns requisitos e nos tintos apontava-se, basicamente, para quatro castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro e Jaen. A variedade Jaen era a mais plantada na região, logo seguida da casta Baga, a mesma que hoje conotamos com a Bairrada. Quatro décadas depois, uma muito elevada percentagem dos tintos da região mantém aquelas quatro variedades como as eleitas, quase em exclusivo. Nesta prova há nove vinhos que têm aquela composição e um outro que, além das quatro, ainda tem Rufete. Foi assim durante uns bons anos mas cremos que actualmente se está a caminhar num sentido um pouco diferente; a Jaen está a perder terreno nos lotes da região e assim, as restantes  – Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro – estão a surgir cada vez mais em trio em vez do tradicional quarteto.

Fomos tentar perceber o porquê e Manuel Vieira, enólogo com muita experiência na região, diz-nos que a Jaen é uma boa casta mas que funciona melhor para ser usada a solo num determinado tipo de vinho; “gera vinhos mais abertos de cor, mais joviais e que nem sempre acrescenta grande coisa em lote com as outras três. Para mim o grande lote da região são mesmo as restantes castas tintas desde que a Touriga Nacional tenha um peso maior, uma vez que é casta mais completa que temos no Dão”. Ficamos então num trio onde entra a mal-amada Tinta Roriz, uma variedade que tem adeptos e detractores. Pelo que pudemos observar, a Roriz tem comportamentos diversos conforme a localização da vinha, mas, se colocada nos terrenos mais pobres e bem arejados, pode dar um bom contributo para o lote de tintos. Peter Eckert, da Quinta das Marias é dessa opinião e a Roriz faz parte do seu trio de eleição. A tradição falava muito também de uma variedade hoje meio escondida: a Tinta Pinheira ou Rufete. Manuel Vieira volta à carga: com pouca cor e pouca estrutura, a Tinta Pinheira perde no lote mas, com as novas tendências de vinhos abertos, menos escuros e pouco álcool, a casta pode conhecer um certo renascimento. E foi por ser menos rica que foi arrancada na Quinta dos Carvalhais e também na Quinta das Marias.

O carácter regional

Tida como uma das regiões onde se nota um maior equilíbrio nos vinhos, o Dão tem quase tudo o que é preciso para fazer um belo tinto: tem solos graníticos, pobres em matéria orgânica que geram vinhos de boa concentração ainda que de baixa produção; tem dois rios – Dão e Mondego – que definem sub-regiões e marcam o perfil dos vinhos, algo que Paulo Nunes, enólogo na Quinta da Passarela, afirma categoricamente: “se comparamos por exemplo a zona de Silgueiros ou a zona da Serra da Estrela vemos que nesta última estão a começar as vindimas quando na outra estão já a acabar”. Em todas as sua sub-regiões o Dão gera vinhos de muito boa acidez que, em geral, não requerem qualquer correcção. Mas o facto de a região estar rodeada de montanhas leva a que haja uma maior protecção em relação à influência marítima. Paulo, que também faz vinhos na Bairrada salienta a menor intervenção que é necessária no Dão, onde as doenças fito-sanitárias têm menor expressão.

Mas não é tudo: as castas disponíveis aqui são uma importante ajuda para os enólogos quando chega a hora de fazer o lote. Salienta Manuel Vieira que “a diversidade que temos à disposição ajuda imenso quando se faz um lote e o perfil específico de cada casta permite resultado mais completo, ao contrário por exemplo do Douro onde há mais semelhança entre as principais variedades”. Se a isto juntarmos a disponibilidade de água no solo, a altitude, as 2500 horas de sol/ano e as noites frescas que se fazem sentir mesmo em pleno Verão temos um quadro completo que nos ajuda a entender melhor a região do Dão.

No que respeita aos tintos é também curioso verificar que algumas das castas mais plantadas na região não aparecem nas indicações dos contra-rótulos. É o caso da Baga, a segunda mais plantada a seguir à Jaen, e a Trincadeira que também é omissa nos rótulos embora tenha mais área de plantação que a Alfrocheiro e poucas foram as vezes que foi comercializada como varietal. Já nos brancos acontece algo de parecido porque a Fernão Pires, por exemplo, tem o dobro da área de vinha da Encruzado e, no entanto, é provável que poucos consumidores associem aquela variedade ao Dão.

O Dão e o mercado

Apesar de todas as suas qualidades, o Dão não está nas primeiras escolhas dos consumidores nacionais, situando-se actualmente em 5º lugar, atrás do Alentejo, Vinhos Verdes, Setúbal e Douro mas, se analisarmos apenas o consumo na restauração, está em 4º lugar nas preferências do mercado. No entanto, a região tem feito uma grande aposta nos vinhos DOP em detrimento dos Regionais (IGP) e a região está em 2º lugar atrás de Vinho Verde e Douro nas regiões que maior percentagem de vinhos DOP vendidos. No 1º trimestre de 2019, dados disponibilizados no site do IVV, nota-se uma pequena subida dos vinhos IGP e descida nos DOP mas ainda é cedo para conclusões.

O Canadá e o Brasil são os destinos principais dos vinhos do Dão; a China está em franco crescimento e os EUA em queda. Segundo informação da CVR do Dão, um problema com um importador nos EUA foi quanto bastou para que as vendas se ressentissem de imediato. A região conheceu uma completa mudança desde os anos 90 do século passado quando cresceram os produtores engarrafadores, diminuiu o número dos armazenistas (que compravam vinho a granel e o engarrafavam com as suas marcas) e fecharam algumas adegas cooperativas. Mudou assim, e muito, o panorama regional e hoje, para além de empresas grandes que marcam a região, como a Sogrape e Dão Sul, por exemplo, o Dão é campo fértil para empresas de média dimensão (casos de Lusovini, Caminhos Cruzados, Magnum-Carlos Lucas, Álvaro Castro, entre outros) e ainda muitos pequenos produtores, numa conjugação de experiências e ideias inovadoras.

A região tem mostrado que mesmo nas gamas de entrada e no patamar até aos 8/10 euros pode produzir vinhos de bom gabarito e a nossa prova demonstra isso mesmo. A qualidade média é muito boa, nota-se que há uma preocupação em originar vinhos equilibrados e intensamente gastronómicos. Paulo Nunes é claro: “nesta gama de preço o Dão permite fazer vinhos com muita qualidade, desde que não se abuse nem das extracções nem da madeira em excesso”. Ora neste painel a esmagadora maioria dos vinhos apresentou, de facto, aquela que é a mais notória característica da região: bom equilíbrio entre acidez/álcool, com taninos macios e muito elegantes (segundo Manuel Vieira a presença da Roriz justifica-se exactamente pela contribuição tânica), com resultados muito positivos. As classificações reflectem essa qualidade média bem elevada: estes são vinhos amigos do consumidor, um verdadeiro porto-seguro na hora da escolha. São também excelentes opções para os restauradores pela ampla margem de associação vinho/comida que permitem.

Com razoável visibilidade nas grandes superfícies e boa presença na restauração os tintos do Dão têm tudo para agradar ao apreciador exigente.

VINHOS EM PROVA

Edição Nº28, Agosto 2019