Curral Atlantis: vinhos com sabor a mar

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O envolvimento da família Faria com o enólogo Paulo Laureano ao longo de duas décadas tem resultado num portefólio de vinhos de inquestionável qualidade e forte identidade, vinhos que expressam da melhor forma o inimitável terroir da ilha do Pico.

TEXTO Luís Lopes

Há 20 anos, ninguém no Pico sonhava que um dia os brancos da ilha seriam louvados por jornalistas e consumidores exigentes e apresentados como exemplo de singularidade e distinção. Naquela época, o objectivo dos picarotos mais envolvidos com a vinha e o vinho não passava por fazer grandes vinhos brancos e exportá-los para o mundo. A ambição era outra, bem mais simples e prosaica: substituir progressivamente o chamado “vinho de cheiro”, elaborado a partir de videiras não viníferas e autorizado unicamente para consumo local, por vinhos tintos de castas “europeias”, capazes (acreditavam) de relançar a indústria vitivinícola da ilha.
Foi com esse objectivo que o mais experiente viveirista do continente, o alemão Jorge Bohm, fundador da Plansel, começou a visitar o Pico no sentido de ali inserir as suas plantas, enxertadas com as variedades clássicas europeias e com os híbridos desenvolvidos no centro de investigação de Geisenheim. Havia que encontrar uma casta tinta de ciclo curto que, nas condições extremas do clima local, originasse vinhos com taninos maduros e suaves. O seu principal cliente no Pico era Manuel Faria, proprietário de uma empresa de venda de produtos e alfaias agrícolas. Da relação comercial e de amizade entre os dois surgiu a ideia de criar uma empresa produtora de uva e vinho e assim nasceu a Curral Atlantis em 1995.
A dupla adquiriu terrenos e, com o apoio da Universidade de Évora, plantou 3 hectares de uma vinha experimental, com 24 castas, entre elas Viosinho, Chardonnay, Gouveio, Pinot Grigio, Merlot, Syrah, Cabernet Sauvignon e diversos híbridos, videiras que foram conduzidas de forma “moderna”, em espaldeira, ao invés dos currais tradicionais. Em 1997 chegou o enólogo Paulo Laureano para, a partir daí e ao longo dos anos seguintes, vinificar os frutos desta vinha e retirar conclusões técnicas e científicas que alicerçassem o projecto. Não levou muito a perceber que daquela amálgama de castas apenas a Viosinho e as variedades clássicas da ilha, nomeadamente Arinto, Verdelho e Terrantez (tudo castas brancas…) ofereciam as garantias de qualidade pretendida.

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A vinha é desafio permanente
O projecto Curral Atlantis inverteu assim o sentido original e, a partir de 2010, a aposta seria total na vinha e castas tradicionais. Adquiriram-se terrenos, limparam-se matos e reconstruiram-se os currais. Actualmente, a empresa dispõe de 42 hectares de vinha, dos quais 8 hectares em zona plana (outrora em espaldeira, agora transformados em condução baixa, sem arames) e os restantes espalhados pelos inconfundíveis currais de pedra vulcânica. Para além desta matéria prima, o produtor conta com mais 20 hectares alugados a viticultores da região.
Entretanto, a Curral Atlantis tornou-se numa sociedade totalmente familiar, com Manuel Faria a adquirir a parte de Jorge Böhm e a integrar os seus filhos Marco e Rui no dia a dia da empresa. Com o actual “buzz” em torno dos vinhos do Pico e as vendas a crescerem no País e em diversos mercados internacionais, impõe-se agora a construção de uma nova adega, que estará pronta em 2020, primeiro a área de vinificação, mais tarde o enoturismo. Em velocidade de cruzeiro, o projecto conta produzir 250 mil garrafas/ano. A nova adega vai fornecer outras ferramentas a Paulo Laureano para afinar o perfil dos vinhos. O enólogo quer dar consistência ao que existe mas também fazer coisas diferentes (“precisamos saber até onde podemos ir no Arinto e no Verdelho”, diz) e dar outras condições de estágio aos licorosos (que, em rigor, o não são, pois o Curral Atlantis “licoroso” é um branco doce natural, sem adição de aguardente, como é tradição de alguns produtores do Pico).

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Mas também na vinha há muito por fazer. “Os desafios vitivinícolas no Pico são diferentes dos de há 20 anos”, refere. “Temos um terroir extraordinário, mas com enorme dificuldade de maneio e, paralelamente, muita falta de mão de obra. Precisamos controlar de forma mais adequada os infestantes, melhorar a resiliência das plantas e optimizar a produção – que não passa de 1,5 ou 2 kg por cepa”, enumera Paulo Laureano.
Fazer vinha e produzir vinho no Pico não é para qualquer um, é bem evidente. A Natureza impõe-se aqui de forma esmagadora, nada é oferecido, tudo é alcançado com muito labor e cuidados. Mais uma razão para que os produtores da ilha aprendam, cada vez mais, a trabalhar em conjunto em torno de objectivos comuns.

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“Há que saber comunicar e vender a forte identidade vínica do local”, diz Paulo Laureano. “Para o conseguirmos, salvaguardando o modelo de negócio e o estilo de cada um, deveremos todos caminhar no mesmo sentido, valorizando o Pico e os seus vinhos”. Nada mais certo.

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Edição Nº30, Outubro 2019

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À sombra do vulcão

Em menos de cinco anos, a Azores Wine Company revolucionou por completo o negócio e a imagem dos vinhos do Pico. O lançamento dos novos brancos de 2017 foi o pretexto para uma visita à belíssima ilha vulcânica. O que lá encontrei, reforça a urgência de voltar.  “O vinho do Pico não só he muito, […]

Em menos de cinco anos, a Azores Wine Company revolucionou por completo o negócio e a imagem dos vinhos do Pico. O lançamento dos novos brancos de 2017 foi o pretexto para uma visita à belíssima ilha vulcânica. O que lá encontrei, reforça a urgência de voltar.

 “O vinho do Pico não só he muito, mas justamente o melhor, o que muito mais se deve entender do vinho que n’aquella Ilha chamão vinho passado, porque he tão generoso, e tão forte, que em nada cede ao que em a Madeira chamão Malvazia. “

 – in Saudades da Terra, Gaspar Frutuoso, 1589

TEXTO E FOTOS Luís Lopes

O apreciador de vinhos que, pela primeira vez, visita a ilha do Pico, não está preparado para o que vai encontrar. A paisagem vitícola é absolutamente esmagadora, de uma força telúrica apenas comparável ao Douro vinhateiro, e tal como este, justamente elevada a Património Mundial pela Unesco, em 2004. Os periclitantes muretes (currais ou curraletas, lhes chamam) de blocos de lava, empilhada pedra a pedra para libertar espaço no solo e abrigar as vinhas da brisa marítima, revelam um trabalho minucioso, quase insano, feito ao longo dos séculos. Mas ainda mais impressionantes do que os muros que se admiram, em aparentemente aleatórias quadrículas, são os muros que se adivinham escondidos pelo mato denso e quase impenetrável e que comprovam a importância avassaladora que, em tempos, a cultura da vinha teve nesta ilha atlântica.
Gaspar Frutuoso (1522-1591), historiador, teólogo, sacerdote e humanista nascido em Ponta Delgada, escreveu um conjunto de obras de referência sobre as ilhas atlânticas da Madeira, Açores e Canárias que nos dão uma visão muito realista da vida e actividades locais na época. Mais do que uma vocação, a viticultura no Pico foi uma necessidade, uma vez que o terreno pedregoso e inóspito e a escassez de água determinaram que poucas culturas ali vingassem e limitaram a criação de gado.

Com base nos registos históricos e nas provas evidentes no terreno, a ilha do Pico foi, outrora, um mar de vinha, com cerca de 6 mil hectares em produção e centenas de adegas e alambiques, que exportavam vinho e aguardente através do porto da Horta, capaz de admitir navios de maior porte, na vizinha ilha do Faial. O Pico produzia, os comerciantes do Faial, através de empreendedores britânicos, exportavam o vinho (para as Américas, do Norte e do Sul, sobretudo), tornando o eixo Pico/Faial numa plataforma de relevo nas rotas transatlânticas.
O vinho gerava uma economia fervilhante que acabaria abruptamente arrasada pela praga do oídio, em 1853, e pela filoxera algumas décadas mais tarde. A vitivinicultura do Pico nunca mais recuperou da catástrofe. Dos 6.000 hectares de outrora, e apesar dos esforços abnegados de muitos carolas e viticultores apaixonados, congregados na sua esmagadora maioria em torno da Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico, fundada em 1949, em 2003 existiam apenas cerca de 120 hectares.

A classificação Unesco, em 2004, foi o primeiro passo para a mudança. Com ela veio a atenção do mundo, dos governantes, dos fundos europeus. Centrada nas zonas dos Lajidos da Criação Velha e de Santa Luzia, foi aí que os trabalhos de reabilitação começaram tendo, de então para cá, sido investidos cerca de 20 milhões de euros na recuperação de muros e conservação de vinhedos. A intervenção nas vinhas do Pico, esteve quase toda confinada à zona classificada Unesco e à chamada “zona tampão” que a envolve, o que obriga a que a recuperação seja feita reabilitando os muros, respeitando a geometria pré-existente, e mantendo as castas e métodos tradicionais. Existem vinhas que têm uma quadrícula mais apertada, outras quadrículas mais aberta. O apoio variou consoante a quantidade de muros a recuperar. O valor máximo do apoio terá chegado aos €28.000 por hectare em quadrícula apertada, e a €19.000 em vinhas sem muros internos. O suficiente para incentivar muitos viticultores a recuperar o património existente. Em 2014, dez anos depois da elevação a Património Mundial, a área de vinha na zona classificada e na zona tampão tinha passado de pouco mais de 100 hectares para 340.
Mas património é uma coisa e negócio é outra. Para se criar (ou recriar, no caso) uma economia vitícola, não basta recuperar e preservar património. É preciso que a uva seja transformada em vinho de qualidade, que esse vinho entre nos canais de comercialização adequados, e que seja capaz de gerar as mais valias necessárias para remunerar de forma compensadora os viticultores. A viticultura do Pico estava agora preservada do ponto de vista histórico e patrimonial, mas faltava dar-lhe o impulso de profissionalismo que a tornasse num negócio compensador. E foi aí que a Azores Wine Company, de António Maçanita, Paulo Machado e Filipe Rocha, teve um papel determinante.

A afirmação não podia vir de fonte mais insuspeita. Daniel Rosa, respeitado empresário local e vice-presidente da Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico, o maior produtor da região (recentemente premiado pela Grandes Escolhas como Adega Cooperativa do Ano), não tem meias palavras: “Há um antes e um depois de António Maçanita ter chegado ao Pico. Com ele, tudo mudou”.
Vinda de quem vem, um “concorrente”, a frase reforça mais ainda o papel que António e seus sócios têm tido na revolução por que hoje passam os vinhos do Pico. A estória conta-se em poucas palavras. O enólogo António Maçanita, com carreira firmada no Alentejo desde 2004, há muito se interessava pelos vinhos do Açores, de onde sua mãe é natural. Com o apoio do Governo Regional, realizou diversos trabalhos de investigação a partir de 2010 sobre as castas locais (nomeadamente o trio maravilha, Terrantez do Pico, Arinto dos Açores e Verdelho) e o seu entusiasmo cresceu com os resultados obtidos. Em 2013, quando orientava uma acção de formação para viticultores açorianos, surgiu a hipótese de criar um apoio técnico à generalidade dos produtores da região. O projecto regional não avançou, mas a visão de António Maçanita despertou o interesse de Paulo Machado.

Agrónomo, de uma família ligada à viticultura do Pico desde há várias gerações e proprietário da Insula Wines, viu aí uma oportunidade e desafiou o enólogo para fazer um vinho em conjunto. O resultado, um Arinto dos Açores, agradou de tal forma a ambos que resolveram ir mais além, criando um projecto agregador e de grande potencial. O desafio incluiu outro açoreano, Filipe Rocha, até então ligado à formação turística e hoteleira em Ponta Delgada, e que ficou incumbido da gestão financeira e comercial do novo projecto. Em 2014 nascia a Azores Wine Company (AWC) e de então para cá, como refere Daniel Rosa, nada mais foi como dantes na ilha do Pico.

Em 2013, só estavam disponíveis os 12 hectares de vinha de Paulo Machado. Foi com muita coragem e bastante ambição que os três sócios se lançaram na tarefa de fazer crescer a fonte de matéria prima, através de uvas compradas, vinhas arrendadas e, é claro, plantação de novas vinhas. Começaram por adquirir 33 hectares de terrenos tapados de mato, colocando depois a descoberto os muros originais, recuperando-os e plantando vinha. A pouco e pouco a empresa foi adquirindo outras parcelas, chegando aos 50 hectares. Paralelamente, realizaram arrendamentos de longo prazo em terrenos que foram igualmente recuperados e plantados: 38 hectares em Baía de Canas, 32 em São Mateus, mais 5 no Lajido de Santa Luzia, em plena área Património Mundial. Entre as vinhas da empresa e as de Paulo Machado estão sobretudo plantadas as castas brancas Arinto dos Açores, Verdelho, Terrantez do Pico, Boal de Alicante e Malvasia (a que chamam Boal dos Açores) e as tintas Saborinho, Bastardo, Rufete e Malvarisco, para além de híbridos como a Isabela, casta em que assentou a recuperação dos vinhedos açorianos após a filoxera. Aparte a vinha própria ou arrendada, a AWC adquire uvas a cerca de 90 pequenos viticultores.
Partindo da pequena produção inicial, a empresa já vinificou em 2018 cerca de 140 mil litros. Pode parecer pouco em termos de litragem (não esquecer que castas como Verdelho, Arinto dos Açores ou Terrantez do Pico produzem a ridicularia de pouco mais de 1.000 Kg por hectare…) mas estes investimentos mexeram totalmente com a forma como os picoenses passaram a encarar a cultura da vinha. Acima de tudo porque a valorização dos vinhos da AWC (a exportação, para 20 mercados, supera os 60%) contagiou toda a produção local, fazendo disparar os preços das uvas: em 2004, os preços médios andavam entre os €0,90 e €1,20 por quilo de uva; em 2018, o Terrantez do Pico chegou a €4,80 (€5,50/Kg nas uvas adquiridas em São Miguel), o Verdelho a €4,70, o Arinto dos Açores a 3,60€ e as castas tintas a €2,20. Resultado? Dos 340 hectares de vinha existentes em 2014, a ilha do Pico passou para 940 hectares e, tudo o indica, brevemente chegará ao milhar. Para se ter uma ideia do que isto significa, lembremo-nos que a Madeira tem cerca de 450 hectares de vinha certificada…
Talvez a maior prova do acreditar da AWC no futuro dos vinhos do Pico esteja na nova adega agora em construção no Cais do Mourato, concelho da Madalena. São cerca de 2.000 metros quadrados, num investimento de 2,9 milhões de euros e que, em velocidade de cruzeiro, produzirá 250 mil garrafas. Se pensarmos que o vinho mais barato da AWC custa €16 e o mais caro cerca de €100, andando todos os outros por preços intermédios, convenhamos que 250 mil garrafas bem vendidas é qualquer coisa…

Os vinhos são absolutamente entusiasmantes. Naquelas curraletas basálticas, lavadas pelo vento salgado, nascem uvas que originam vinhos naturalmente diferentes, mas onde a qualidade, mercê do talento de António Maçanita e Cátia Laranjo (enóloga residente), acompanha sempre a diferença. Personalidade, frescura, firmeza, assim posso globalmente caracterizá-los, brancos ou tintos.
Tive oportunidade, durante a visita, de fazer uma prova vertical dos vinhos das várias castas brancas, desde a primeira colheita comercializada até aos mais recentemente lançados no mercado (apresentados em separado nestas páginas), e a conjugação entre solo, clima, uva e intervenção humana é reveladora. Os vinhos de Verdelho mostram uma elegância contida, menos atractivo o 2014 (a podridão inerente à vindima chuvosa não ajudou), leve e bonita evolução no 2015, muito fino e expressivo o 2016, ainda bem jovem. O Arinto dos Açores é todo ele acidez e firmeza, e aqui destaco a complexidade do 2014, o afinamento do 2015, as belas notas salinas e de pólvora do 2016. Na versão Arinto dos Açores “sur lies” os resultados são diferentes, com alguns vinhos um pouco mais envelhecidos, o 2014 macio e suave, faltando a precisão ácida, o 2015 profundo, untuoso, de grande equilíbrio, o 2016 mais evoluído que o seu congénere “normal”. Globalmente, poderia ser questionável a opção “sur lies”, não fora o extraordinário 2017…
O Terrantez é mineralidade, salinidade, especiaria. Tive no copo a primeira experiência, 2010, o vinho que lançou António Maçanita na recuperação da casta, e mostrando natural evolução, está ainda muito bem. Excelente o 2013, cheio de raça, mais maduro e menos fresco o 2015 (ano quente), muito salino, com excelentes amargos, belíssimo o 2016.
Os brancos dos Açores estão bem acima dos tintos no foco das atenções dos apreciadores. Mas também há tintos, e os que provei, da AWC e de outros produtores, reforçaram uma convicção que tenho desde há muito: o futuro dos tintos açorianos (e, já agora, madeirenses) não está nos Merlot, Syrah e Cabernet, geralmente bem inferiores aos seus congéneres de outras paragens. O futuro pode estar, isso sim, na “proibida” Isabela (não se arranja uma excepção legislativa?) para resolver o problema das baixas produções, ou no Saborinho (Tinta Negra), para se alcançar o patamar da excelência.
De qualquer forma, com brancos e tintos destes, o futuro será aquilo que os açorianos quiserem.

Ilha do Pico, toda a frescura do Atlântico

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Os vinhos brancos dos Açores já andam no radar de muitos consumidores. Com as novas monocastas da Cooperativa da Ilha do Pico vai ser ainda mais difícil passar ao lado da frescura salina proveniente do coração do […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Os vinhos brancos dos Açores já andam no radar de muitos consumidores. Com as novas monocastas da Cooperativa da Ilha do Pico vai ser ainda mais difícil passar ao lado da frescura salina proveniente do coração do Atlântico Norte.

TEXTO Nuno de Oliveira Garcia
FOTOGRAFIAS José Carlos Silva

O telemóvel de Bernardo Cabral tocou faz pouco mais de ano e meio e com ele surgiu o convite da Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico. Foi o tempo de o enólogo se lembrar das conversas que tinha mantido meses antes com o produtor e também enólogo António Maçanita, grande entusiasta dos vinhos açorianos e sócio de um projeto na Ilha do Pico… Imediatamente depois, sem hesitar portanto, Bernardo aceitou o convite e o desafio de ir fazer vinhos para mais uma nova região no seu currículo, mas desta feita não uma região qualquer.
Bernando chega ao Pico e fica no estado em que todos os que chegam ao Pico ficam: apaixonado pela montanha e pelo vulcão, seduzido pela pacatez da vida local, e completamente devoto aos vinhedos da ilha que, tal como sucede nos demais elementos do arquipélago, se espraiam defronte do mar protegidos da ventania e dos sais marinhos por currais, autênticos retângulos de solo de dois metros de largura e pouco mais de comprimento, ladeados por muros de um metro de altura. Tenho para mim que, mesmo que os vinhos da ilha do Pico não fossem o que são (belíssimos, adiante-se), já valeria a pena a viagem e estadia neste local tão especial, pela mera observação dos vinhedos e pela magnífica natureza que os rodeiam. A mesma opinião deve ter tido a UNESCO que, em 2004, reconheceu e classificou a área de vinha da ilha como Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha, elevando-a ao estatuto de Património Mundial da Humanidade.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32009″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Sucede que, como em tantas regiões esbeltas no mundo, a beleza da natureza convive com a excelência do vinho aí produzido. De tal forma isso é verdade na ilha do Pico que a fama do seu vinho tem longa data, e não há muitos séculos o vinho era uma das principais culturas da ilha, cujo apogeu se estima ter sido em pleno século XVIII, com exportações para Inglaterra, Brasil, Alemanha (Hamburgo) e Rússia. Por isso, é abundante a área de plantação, com parte ainda abandonada, espalhada por toda a superfície circundante à vila da Madalena, com destaque para as terras da Criação Velha e Candelária, e Lagido de Santa Luzia até São Roque.
Em meados do século XIX, devastadores ataques de oídio castigaram as vinhas das ilhas açorianas, tendo os agricultores da região optado por replantações de espécies vindas da América, mais resistentes à doença. Se é verdade que com as novas vinhas americanas o oídio amenizou, também o é que com elas surgiu a praga da filoxera, autêntico golpe final nas aspirações dos produtores açorianos até ao início do século XX.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32011″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A morte de muitos vinhedos, e a substituição por algumas castas tintas menos propícias ao clima específico das ilhas açorianas, bem como as dificuldades genéricas da produção de vinho nas ilhas do Atlântico, fez com que uma parte significativa dos vinhedos acabasse ao abandono. Hoje, apesar da recuperação nos últimos anos, ainda são visíveis muitos currais abandonados à espera de serem retomados.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]CRIAÇÃO DE VALOR
Em meados do século XX (1949) é criada a Cooperativa da Ilha do Pico, que, mesmo num cenário de dificuldades naturais, se conseguiu manter em produção ininterrupta graças a um número significativo de produtores, quase sempre proprietários de pequeníssimas quantidades de terra (em muitos casos, com menos de 0,5ha). Recentes incentivos relevantes à plantação de vinha, e a expectativa de um potencial mercado cada vez mais sedento de vinhos diferenciadores, fez com que a área de vinha tenha quadruplicado nos últimos anos.
Aguarda-se que, dentro de três a cinco anos, quando a totalidade das vinhas estiverem em produção, a ilha terá cerca de 1000 hectares em pleno funcionamento. Até lá, é bem visível um clima de concorrência e de corrida às uvas existentes (sobretudo em anos de pouca produção), o que não espanta dada a qualidade das mesmas, o que se reflecte no preço. As uvas mais caras são as de Terrantez, com valores próximos, e por vezes mesmo superiores, a €4 o quilo. Trata-se de um valor único no panorama nacional, no qual o quilo de uvas raramente ultrapassa o valor de €1 nas castas mais valorizadas, como o Antão Vaz ou o Alvarinho no continente.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32013″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A par da Cooperativa, que se mantém como o maior produtor dos Açores, com mais de 200 membros, encontramos na ilha do Pico outros operadores vinícolas, como Curral Atlantis ou Cancela do Porco (Ancoradouro), e ainda Czar e Azores Wine Company (na qual António Maçanita é sócio e enólogo). Quanto a estes últimos, é justo dizer que o produtor Czar replica com mestria os vinhos licorosos que deram fama à ilha, projectando-os a um nível muito alto e exportando-os para os quatro cantos do mundo, e a Azores Wine Company tem sido um dos mais importantes dinamizadores para o negócio na ilha, introduzindo novos conceitos e conquistando público jovem nas ilhas e no continente.
Em todo o caso, o papel de principal produtor da ilha tem cabido à Cooperativa, que, com a chegada de Bernardo Cabral, viu os seus vinhos aumentarem tremendamente de qualidade. O enólogo confidenciou-nos que está radiante com este novo projeto, o que comprovámos em visita recente à adega. Falando da adega, podemos atestar que a mesma está muito bem apetrechada, com vários equipamentos modernos, sendo que o presidente Losménio Goulart estima poder haver ligeiros investimentos para a tornar ainda mais eficiente.
Quer Losménio quer Bernando Cabral destacam como mais-valia a dedicação dos membros da Cooperativa que entregam com orgulho as uvas que cuidam durante todo o ano. Sinal disso é o próprio ‘braço direito’ de Bernardo, o adegueiro Humberto, que é simultaneamente sócio da Cooperativa e que, com algum justificado envaidecimento, nos disse que as ‘suas’ uvas entram no fantástico lote do Terrantez monocasta agora apresentado.
A gama da Cooperativa passa por brancos e tintos e, a partir de 1997, começou a contar também com licorosos (marca Lajido). Talvez o vinho mais conhecido da empresa seja o Frei Gigante, um branco que se revela sempre muito afinado e é feito a partir do blend das castas brancas da ilha. Na colheita de 2017, a Cooperativa e o seu enólogo decidiram dar um passo à frente e subir a parada com a apresentação de três monocastas que se posicionam um patamar acima do Frei Gigante. Todos muito bons, mantendo a tipicidade do terroir e com uma limpidez e foco acima da média, mas destaque inevitável para o Terrantez, um branco incrível que, logo na sua primeira edição, se posiciona a um nível excelente. O facto de se tratarem de pouco mais de 800 garrafas torna-o uma raridade a não perder. No futuro próximo é esperada ainda uma reorganização das marcas existentes, e uma aposta em novos conceitos de licorosos que ainda estão por desvendar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Em todo o caso, o papel de principal produtor da ilha tem cabido à Cooperativa, que, com a chegada de Bernardo Cabral, viu os seus vinhos aumentarem tremendamente de qualidade. O enólogo confidenciou-nos que está radiante com este novo projeto, o que comprovámos em visita recente à adega. Falando da adega, podemos atestar que a mesma está muito bem apetrechada, com vários equipamentos modernos, sendo que o presidente Losménio Goulart estima poder haver ligeiros investimentos para a tornar ainda mais eficiente.
Quer Losménio quer Bernando Cabral destacam como mais-valia a dedicação dos membros da Cooperativa que entregam com orgulho as uvas que cuidam durante todo o ano. Sinal disso é o próprio ‘braço direito’ de Bernardo, o adegueiro Humberto, que é simultaneamente sócio da Cooperativa e que, com algum justificado envaidecimento, nos disse que as ‘suas’ uvas entram no fantástico lote do Terrantez monocasta agora apresentado.
A gama da Cooperativa passa por brancos e tintos e, a partir de 1997, começou a contar também com licorosos (marca Lajido). Talvez o vinho mais conhecido da empresa seja o Frei Gigante, um branco que se revela sempre muito afinado e é feito a partir do blend das castas brancas da ilha.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32016″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Na colheita de 2017, a Cooperativa e o seu enólogo decidiram dar um passo à frente e subir a parada com a apresentação de três monocastas que se posicionam um patamar acima do Frei Gigante. Todos muito bons, mantendo a tipicidade do terroir e com uma limpidez e foco acima da média, mas destaque inevitável para o Terrantez, um branco incrível que, logo na sua primeira edição, se posiciona a um nível excelente. O facto de se tratarem de pouco mais de 800 garrafas torna-o uma raridade a não perder. No futuro próximo é esperada ainda uma reorganização das marcas existentes, e uma aposta em novos conceitos de licorosos que ainda estão por desvendar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]

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Edição Nº18, Outubro 2018

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