Black Sheep: o wine bar que não segue o rebanho

Tudo começou quando Brian Patterson, um norte-americano a viver em Lisboa desde 2017, perguntou aos amigos: “Um lugar em Lisboa onde se possa beber vinhos de pequenos produtores portugueses, há?”. Bastou isto para, ao lado da sua companheira de longa data, Jennifer, abrir o seu próprio bar. O nome é Black Sheep, o que vai […]
Tudo começou quando Brian Patterson, um norte-americano a viver em Lisboa desde 2017, perguntou aos amigos: “Um lugar em Lisboa onde se possa beber vinhos de pequenos produtores portugueses, há?”. Bastou isto para, ao lado da sua companheira de longa data, Jennifer, abrir o seu próprio bar.
O nome é Black Sheep, o que vai de encontro ao conceito que serviu de alicerce para Brian e Jennifer erguerem o seu espaço: fora do banal, divergir da corrente. É na Praça das Flores, em Lisboa, e também funciona como loja, e os proprietários querem “dar a provar vinhos de terroir, na sua maioria naturais, orgânicos e biodinâmicos, que não se encontram nas prateleiras dos supermercados”, de Norte a Sul de Portugal Continental, e também das ilhas. Mas não é apenas por serem vinhos oriundos destes métodos de produção que Brian lhes dá relevo, e explica que “Prefiro fixar-me no carácter único e nas características de cada produtor. Sei que muitas pessoas vêm porque ouviram falar que aqui há a possibilidade de provar esse tipo de vinhos, inclusive a copo, mas eu prefiro pensar que eles vêm sobretudo pela oportunidade de provar e ficar a saber mais sobre os vinhos e produtores menos conhecidos”.
E a melhor parte é que o custo do vinho a copo não vai deixar ninguém a “arder”, variando entre os €3,50 e os €6,50.
DFJ Vinhos: Um colosso que sabe dançar

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[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
Quem o ouve falar até parece que não liga muito ao que já realizou até à data. Mas José Neiva Correia disfarça bem a sua paixão. A única diferença que notámos em relação a outros projectos é que este técnico e gestor não tem papas na língua e sabe como poucos fazer todas as continhas aos meandros da produção de vinhos. Pelo meio vai fazendo bons vinhos que agradam a palatos de todos os continentes.
TEXTO António Falcão NOTAS DE PROVA Mariana Lopes FOTOS Ricardo Gomez
Um tractor de grande tamanho vai correndo lentamente a planície ribatejana ao pé de Vila Chã de Ourique. Na traseira, uma espécie de estrutura enganchada nos braço hidráulicos suporta dois operadores que vão colocando varas de videira prontas num braço rotativo que a seguir as enterra no solo, a espaços certos. Embora não seja uma visão muito comum, nada disto é novidade: este sistema de plantação é rápido e eficiente, mas já é usado há vários anos. O que estranha, contudo, é o solo de aluvião onde estão a plantar a vinha, do mais fértil que existe. São solos quase sempre reservados para outras culturas, como milho, arroz ou tomate. “E depois, qual é o problema? O que conta é o rendimento que vou tirar da terra, e, para mim, nenhuma outra cultura o consegue como a vinha”. As palavras vêem do proprietário, José Neiva Correia, um dos produtores de vinho mais conhecidos e respeitados em Portugal (e não só). José Neiva é o dono da DFJ Vinhos, uma empresa cujo nome vem das iniciais dos três fundadores. Acabou por ficar sozinho, comprando as participações dos dois sócios ao longo dos anos. Antes disso, este enólogo chegou a fazer, diz ele, “cerca de 10% do vinho em Portugal”. Como é isto possível? Pois bem, antes de fundar a DFJ, José Neiva começou como enólogo na Adega Cooperativa de Torres Vedras, no dia 2 de Maio de 1974, através de uma figura importante da enologia portuguesa, Octávio Pato. Torres Vedras era a segunda maior adega do país. Não tardou a estender a sua consultoria a várias outras adegas cooperativas da região (São Mamede da Ventosa, Sobral, Azueira…), todas elas de grande tamanho. Junte-se mais alguns produtores privados que vieram, entretanto, e ao longo de vários anos passaram centenas de milhões de litros de vinho pelas mãos de José Neiva Correia.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Um homem nascido na vinha e no vinho”][vc_column_text]
José Neiva Correia usufruiu logo da vantagem de ser descendente de várias gerações de vitivinicultores e agricultores, com várias propriedades a norte de Lisboa. Ou seja, nasceu e cresceu no mundo da produção de uva e de vinho. O resto foi formação (em Portugal, França e na Alemanha), experiência e a capacidade de dar bom uso aos neurónios. A sua vontade e inteligência levou-o a estender os conhecimentos muito para lá da enologia, manejando bem as questões de viticultura e da gestão. Não espanta assim que, vinte anos após a fundação da DFJ Vinhos, a empresa tenha aumentado consideravelmente a produção, que atinge neste momento as 8 milhões de garrafas, e o seu património de terra e imobiliário, com quase 200 hectares de vinha e duas adegas de grande tamanho.
Falar com ele é uma delícia. Não se importa de transmitir os seus conhecimentos e opiniões, que nem sempre são consensuais com as actuais ‘modas’ da enologia e viticultura. Mas não falha uma justificação: ou seja, tudo foi pensado antes, com fundamentos estudados e/ou científicos. Por exemplo, na vinha usa sobretudo matéria orgânica derivada da compostagem. Porque mantém a humidade, vai cedendo nutrientes à vinha e ainda ajuda a oxigenar os solos. Diz José Neiva que “os antigos sabiam disso, mas os agricultores foram privilegiando a solução mais fácil, que era comprar umas sacas de fertilizante…” As soluções naturais não terminam aqui: nos produtos fitossanitários, só usa o estritamente necessário.
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Como tem que enfrentar uma fortíssima concorrência a nível internacional, o seu maior mercado, José Neiva procura fundamentalmente obter boas produções com boa qualidade. E nesse aspecto deverá ser dos produtores de vinho mais avançados do país. Começou na cuidadosa escolha de castas, continua no manejo da vinha e termina na adega. Vamos ver alguns exemplos.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Os segredos da viticultura”][vc_column_text]
Caladoc, já ouviu falar? Certamente pouca gente ouviu. Mesmo internacionalmente. Mas é uma das duas castas tintas que José Neiva usa mais. A outra é Alicante Bouschet. Porquê? Porque são castas que conseguem produzir muito bem e com boa qualidade. “O Caladoc, por exemplo, pode ir até às 30 toneladas por hectare e dar vinhos bastante razoáveis, com estrutura e boa cor”, revela José Neiva. Quanto ao Alicante, “vende-se melhor, mas é preciso saber vinificá-la”. E por isso não espanta que a DFJ se vanglorie de ter sido pioneira em Portugal a engarrafar um varietal 100% desta casta. O comportamento das castas na vinha também é importante, como, por exemplo, amadurecer cedo e resistir às diversas doenças.
Outras castas tintas não conseguem um alto binómio quantidade/qualidade. A Tinta Roriz e a Touriga Nacional, por exemplo, com produções altas, dão uns ‘vinhecos’; e aí ficamos, no máximo, pelas 10 a 13 ton/ha”, revela o técnico.
Nos brancos, como se sabe, a questão da produção é mais pacifica, mas, ainda assim, José Neiva vai plantar uma generosa área de Marsanne, uma casta branca que, mais uma vez, dá boa qualidade com produções generosas.
José Neiva não acredita em mondas para baixar produções (e, supostamente, aumentar qualidade). Se houver necessidade, usa-se a poda. E, salvo raras excepções, não usa o arrelvamento na vinha. Isso mesmo. Isto é um negócio e sem bom vinhos, a bons preços, não há equipa comercial que faça milagres. Felizmente, o clima vem dando uma ajuda…
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Longe vão os tempos em que chovia do princípio ao fim da vindima, como recorda José Neiva, com graves “problemas de podridão”. Afinal, eram outros tempos, outras castas, outros conhecimentos e outra viticultura. Mas era também, aparentemente, outra meteorologia. José Neiva diz-nos que “este ciclo quente e seco tem sido benéfico para as maturações da uva e, consequentemente, para a qualidade do vinho”. A sua vinha do Casal Madeira, ao pé de Torres Vedras, está a 10 quilómetros do Atlântico. Tem cerca de 25 hectares de videiras, quase tudo Pinot Noir (será a maior vinha contígua da Península Ibérica), e é aqui que vive o proprietário da DFJ Vinhos. As outras propriedades, como a Quinta de Porto Franco, onde José Neiva nasceu, estão ligeiramente mais para o interior, mas recebem também influência atlântica, que ajuda a conseguir maturações regulares. Como a Quinta do Rocio, logo ao lado de Porto Franco, que está a ser explorada, em termos vitícolas, pela DFJ. São mais 30 hectares de vinha. Ambas as propriedades (e outras da zona) pertenceram aos famoso Visconde de Chanceleiros. “Temos aqui boas produções por hectare e com boa qualidade”.
No campo, José Neiva conta com a ajuda do feitor da casa, homem de grande experiência. Mas apoia-se tecnicamente na agrónoma Sofia Figueiredo e na sua filha Carminho, também agrónoma, que dá também uma ajuda na adega.
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José Neiva Correia trabalha com duas adegas de grande tamanho: em Porto Franco e Fonte Bela. Ambas antigas, mas em belíssimo estado de conservação e ambas em frequente transformação para adaptações ao aumento de produção e a melhorias tecnológicas. Ou ainda a embelezamentos. “Este ano vou gastar aqui muito dinheiro”, garante José Neiva, em plena adega de Porto Franco. Gasta porque provavelmente tem poupado. Por exemplo, nas duas adegas existem muitos depósitos de cimento, como se fazia à antiga, mas estão praticamente todos em uso, incluindo para fermentações. O controlo de temperaturas faz-se com placas interiores (chamadas endógenas), que, diz José Neiva, “são mais eficazes que as cubas com camisas”. Assim poupa-se dinheiro, como se consegue poupar em muitas outras coisas, das prensas (em segunda mão, quase todas) a remontagens manuais (mais baratas e menos falíveis que as bombas). Neiva Correia é um técnico todo-o-terreno, sempre à procura de optimizar toda a operação, da vinha à adega. A casa possui lagares, mas José neiva não os usa: Acredito que o lagar só faz vinhos melhores porque são as melhores uvas que para lá vão. De resto, consigo reproduzir as operações de lagar sem precisar de os usar…”
Relativamente ao estilo de vinhos que produz, ele não hesita: “Muita gente pensa que eu faço muita manipulação no vinho. Na verdade, é exactamente o contrário, sou dos que menos mexo no vinho, faço uma enologia o mais minimalista possível – e por isso mais barata. E sou mais adepto da oxigenação do que da redução, com gases inertes”. Os tempos de oxigenação vêm da experiência, mas José Neiva acha que tudo vai mudar com aparelhos que aí vêm e indicam a quantidade de oxigénio necessária ao vinho.
Refira-se que todas as castas são vinificadas em separado e existem parcelas ou talhões que também o são.
Todos os vinhos da DFJ que temos provado ao longo dos anos mostram muita suavidade, mesmo em colheitas recentes. E quase sempre têm muita fruta e volume de boca, especialmente os tintos. José Neiva revela-nos que usa, nos tintos, “macerações pós-fermentativas longas, pelo menos um mês. A excepção é o Pinot, porque fica com taninos muito cortantes”. E porque o faz? “Ninguém gosta de vinhos delgados, às vezes confundidos com vinhos elegantes. Toda a gente gosta de vinhos com corpo, frutados, persistentes”.
Entramos no gosto do consumidor, área em que José Neiva também tem as suas ideias bem vincadas.
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Para conseguir vender 8 milhões de garrafas todos os anos, a DFJ Vinhos tem que saber bem o que quer o consumidor, país a país. José Neiva desde cedo começou a viajar, falando com os enófilos e distribuidores. Hoje partilha essa tarefa com o seu filho Vasco e o responsável de vendas, Luís Gouveia. Que grandes ensinamentos foi trazendo desses contactos: desde logo, diz José Neiva, “o consumidor não é um especialista; ele quer um vinho que lhe saiba bem desde o início, que lhe dê prazer. E tem uma expectativa: encontrar o mesmo vinho, ou lá perto, quando compra a mesma marca meses ou anos mais tarde. Se a expectativa é gorada, ele não compra mais. Vai para a concorrência”. Isto coloca grandes desafios aos produtores e enólogos, que se vêm obrigados a oferecer, ano após ano, um vinho semelhante ao do ano anterior. Falamos, como é óbvio, de vinhos com tiragens de centenas de milhar de garrafas. O segredo… não tem segredo nenhum. Na opinião de José Neiva, “Temos que trabalhar para isso, principalmente na vinha e depois na adega”. Na adega, é aqui que entra a arte do lote, mas existem outras armas. José Neiva não o disse, mas os vinhos com maior percentagem de açúcar residual, não só ficam mais suaves, fáceis de beber, como ficam imediatamente mais semelhantes de colheita para colheita. Em alguns países, como no leste da Europa, os vinhos podem ter 30 gramas de açúcar por litro! “Em muitos países bebe-se vinho fora das refeições e os consumidores não aceitam um vinho adstringente, com taninos ou amargos, mesmo ligeiros”, salienta Luís Gouveia, o responsável pela exportação. Luis sabe do que fala, já que vendeu vinho um pouco por todo o mundo. E sabe bem que, quando o vinho não vai como os seus clientes querem, ele não se vende, ponto final.
[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”36669″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
Não se julgue, contudo, que os especialistas desdenham este tipo de vinhos. Os resultados da DFJ em concursos internacionais e na imprensa especializada são impressionantes. Desde 2010, a empresa tem quase 2.600 prémios de todo o tipo. Só no ano passado conseguiram mais de 500 medalhas/prémios, incluindo das mais apetecidas: troféus, duplo ouro e ouro. Bem como ‘best of’, “best buy” “best portugueses wine producer” e coisas do género (a lista está no site da empresa). Isto mostra uma consistência notável na casa e seriedade na produção.
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O aluvião de que falámos no início desta reportagem está mesmo pegado à Quinta da Fonte Bela, onde se situa a sede da DFJ Vinhos. Está na região Tejo e junto a Vila Chã de Ourique.
A quinta possui um enorme pátio central cercado por edifícios muito altos. É impressionante (cerca de 8.000 metros quadrados de área coberta!), mas é ainda mais espantoso o estilo arquitectónico do exterior. Dir-se-ia que tínhamos entrado de repente numa grande quinta de um país do norte da europa. Afinal, tudo foi edificado no terminar do séc XIX por um empresário que, na altura, teria dezenas de milhares de hectares de terra nesta região junto ao rio Tejo. Com 120 anos de idade, os edifícios estão impecáveis, mas, glória seja feita a José Neiva Correia, muitos dos telhados foram reconstruídos. Verdade seja dita também que vários tinham as asnas feitas em ferro, como o da generosa destilaria, alvo de frequentes visitas de arquitectos fascinados com a arquitectura industrial. Não é à toa que lhe chamam por ali a “Catedral do Vinho”. Este seria sempre um activo muito interessante para o enoturismo, mas a gestão ainda não está convencida. É uma vez mais a questão de equilibrar esforço/investimento/rentabilidade. José Neiva Correia prefere dirigir os seus investimentos para a ampliação de instalações e para a aquisição de mais área de terra/vinha. É o vinho que lhe dá o dinheiro e a empresa está neste momento a interagir com alguns players internacionais de grande monta. “O nosso projecto é para aumentar, e sobretudo com vinha própria; dentro de 3 a 5 anos espero duplicar a produção”, diz o proprietário da DFJ Vinhos. E acrescenta: “são os nossos clientes que nos tocam para a frente”.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”36675″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Histórico de sucesso”][vc_column_text]
A DFJ nasceu em 1998, com uma operação relativamente pequena e destinada à exportação. Vinte anos depois dá trabalho permanente a mais de 80 pessoas, sensivelmente metade delas no campo. Faz hoje 8 milhões de garrafas e gere directamente 200 hectares de vinha em produção. Principalmente na região de Lisboa e alguma coisa no Tejo. A casa tem mais de uma centena de marcas. São números reveladores do sucesso desta casa, que teima em não abrandar crescimentos. Será que José Neiva Correia está satisfeito? “Bom”, diz-nos ele com um sorriso trocista, “quando fazia 10% do vinho português, dormia uma pequena sesta todos os dias. Desde que passei a empresário, às vezes nem à noite durmo bem. Mas graças a Deus a vida tem-me corrido bastante bem…
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Edição Nº24, Abril 2019
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Belcanto de Avillez nos 50 Melhores Restaurantes do Mundo

Agora no 42º lugar da lista, José Avillez vê o seu Belcanto, de Lisboa, na afamada lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo. Segundo o jornal Público, a lista é liderada agora pelo francês Mirazur, seguido pelo Noma, na Dinamarca, e pelo espanhol Asador Etxebarri. A gala teve lugar em Singapura, há apenas algumas horas […]
Agora no 42º lugar da lista, José Avillez vê o seu Belcanto, de Lisboa, na afamada lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo. Segundo o jornal Público, a lista é liderada agora pelo francês Mirazur, seguido pelo Noma, na Dinamarca, e pelo espanhol Asador Etxebarri.
A gala teve lugar em Singapura, há apenas algumas horas atrás, com José Avillez e David Jesus (o seu número dois) presentes. O Público revelou também que ambos receberam a distinção e que a apresentadora da cerimónia salientou o “menu inspirado pela rica história de Portugal”.
Neste momento, o Belcanto é o único restaurante português na lista que, apesar do nome, contempla 120 estabelecimentos.
Rosés Casa Santos Lima distinguidos pelo Washington Post

Os vinhos rosé Confidencial Reserva e LAB, foram distinguidos como duas das três melhores escolhas do mundo, na categoria rosés, para a Primavera/Verão de 2019, pela publicação norte-americana The Washington Post. Na descrição que faz do Confidencial Reserva, Dave McIntyre, colunista no Washington Post e especializsta em vinhos, ressalta que este vinho é “Muito bem […]
Os vinhos rosé Confidencial Reserva e LAB, foram distinguidos como duas das três melhores escolhas do mundo, na categoria rosés, para a Primavera/Verão de 2019, pela publicação norte-americana The Washington Post.
Na descrição que faz do Confidencial Reserva, Dave McIntyre, colunista no Washington Post e especializsta em vinhos, ressalta que este vinho é “Muito bem produzido, de cor rosa pálido, leve, fresco, descomplicado para um consumo do dia-a-dia”.
Relativamente ao LAB Rosé, o mesmo colunista descreve-o como uma excelente compra: “(…) procure este vinho com personalidade atractiva e cativante, com uma excelente relação preço/qualidade e aromas intensos a frutos vermelhos, que o transportará para os dias de lazer de Primavera/Verão. A garrafa que provei parecia ter uma fuga, pois ficou vazia muito rapidamente!”.
As marcas LAB e “Confidencial Reserva”, são referências que têm elevado sucesso comercial nos Estados Unidos e também em outros mercados.
Foto de Stacy Zarin Goldberg para The Washington Post
Quinta da Boa Esperança, uma outra face de Lisboa

Na Zibreira, a 20km do oceano e entre este e a Serra de Montejunto, foi recuperada uma propriedade sobre solos argilo-calcários onde encontramos vestígios de algas. Nesta Lisboa que é do mar e da terra, a Quinta da Boa Esperança apresenta novidades nos vinhos e um novo projecto de enoturismo. TEXTO E NOTAS DE PROVA […]
Na Zibreira, a 20km do oceano e entre este e a Serra de Montejunto, foi recuperada uma propriedade sobre solos argilo-calcários onde encontramos vestígios de algas. Nesta Lisboa que é do mar e da terra, a Quinta da Boa Esperança apresenta novidades nos vinhos e um novo projecto de enoturismo.
TEXTO E NOTAS DE PROVA Mariana Lopes
FOTOS cortesia Quinta da Boa Esperança
Na Quinta já se produzia vinho há cerca de 100 anos, mas esse vinho não é o mesmo de que falamos agora. Artur Gama e Eva Moura Guedes adquiriram a propriedade de 16 hectares em 2014. Desde aí que têm posto em prática uma vontade antiga: criar um espaço contemporâneo, reflexo do seu modo de pensar e de viver, num ambiente histórico e rural. O símbolo da Quinta da Boa Esperança diz muito sobre os valores-base do projecto. O Homem Verde, figura da mitologia celta, simboliza a natureza e o renascimento, a Primavera, a natureza e o crescimento. Isto vai de encontro à sustentabilidade e à protecção do ambiente, que foram sempre objectivos muito claros para Artur e Ana.
A Quinta da Boa Esperança tem cerca de 10 hectares de vinha em produção, numa encosta com exposição a nascente e poente, tão ampla que o sol toca quase todos os seus pontos, durante todo o dia. Por baixo, solos argilo-calcários, onde corre um lençol freático que vem de Torres Vedras e isso tem uma grande influência no perfil dos vinhos da casa, frescos e salinos, a lembrar a brisa oceânica e com boa acidez, factores que equilibram a influência da barrica nova de carvalho francês, presente em quase todos os vinhos. Nas vinhas, estão as castas tintas Caladoc, Aragonez, Castelão, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, e as brancas Arinto, Fernão Pires e Sauvignon Blanc, sendo que, em breve, será plantado menos de um hectare de Alvarinho. Os processos são quase totalmente artesanais e a vindima é manual, como já lá se fazia há uma centena de anos. Dessa época antiga, manteve-se uma adega de 1914 que, juntamente com outros vestígios rústicos, confere à Quinta uma mística de velhos saberes, perfeitamente integrados com a postura moderna do casal proprietário. Os novos espaços, alguns de construção bem recente, denotam o bom gosto de Eva, que actualmente se dedica ao restauro de peças antigas mas que tem queda para o design de interiores. A parte nova está repleta de pequenos cantos muito “cozy” onde apetece relaxar, com apontamentos decorativos boho-chic combinados com portas dos anos 20. Apenas oito pessoas compõem a equipa local, o que nos dá uma sensação familiar e que nos faz sentir muito bem recebidos.
A enologia está nas mãos da residente Paula Fernandes, que está na Quinta desde o início do projecto, e do consultor Rodrigo Martins. A primeira vindima foi em 2015 e um dos vinhos que dela saiu, o Quinta da Boa Esperança Alicante Bouschet, foi o maior sucesso vínico da empresa, até hoje. A maior parte dos vinhos tem um número limitado de garrafas, e esse sempre foi outro objectivo da casa, assentar qualidade e não em quantidade. No total, a produção está entre as 70 e as 80 mil garrafas, metade para mercado nacional e a outra metade para exportação, divididas por onze referências.
A juntar às novas colheitas, a grande novidade da Quinta da Boa Esperança é o arranque do projecto de enoturismo. “Queremos que seja um enoturismo familiar e intimista”, explicou Artur Gama. Visitas, provas e refeições fazem parte do cardápio, mas tudo com um toque muito especial e original. A oferta inclui, por exemplo, uma visita e aquisição de marisco nas lotas costeiras, à qual se segue um showcooking do mesmo marisco por um chef junto à piscina, com um saxofonista e a presença de Paula Fernandes, que explica os vinhos. Outro programa é a “Portuguese Experience”: um passeio pelas vinhas, adega e sala de barricas, seguido de almoço volante tardio no largo da Quinta, com os próprios pescadores a grelhar sardinhas assadas e o produtor de suínos a assar um porco no espeto, tudo acompanhado por um rancho folclórico da terra, que convida os presentes a dançar. Também a “Fire Experience” promete surpreender, a qual inclui quatro fogueiras de chão onde quatro chefs, recorrendo a cepas velhas, elaboram os seus melhores pratos, aromatizados com os vinhos Quinta da Boa Esperança. Estas experiências e outras mais, incluindo as provas simples, “são totalmente personalizáveis”, disse Artur Gama.
As novidades vínicas não ficam atrás de tudo isto, belos vinhos, diferentes uns dos outros mas que têm um fio condutor entre eles: dos brancos aos tintos, passando pelo rosé, todos denotam boa estrutura, corpo e uma grande frescura intrínseca, extraída com perícia daquele terroir.
Edição Nº23, Março 2019
Lisboa e os seus tintos

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]De Colares a Leiria estamos na região de Lisboa. Os seus melhores tintos procuram agora afirmar-se como referências, deixando para trás o paradigma que durante muitos anos esteve associado à região: granel e vinhos baratos. Numa Lisboa […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]De Colares a Leiria estamos na região de Lisboa. Os seus melhores tintos procuram agora afirmar-se como referências, deixando para trás o paradigma que durante muitos anos esteve associado à região: granel e vinhos baratos. Numa Lisboa com evidente diversidade, o potencial para a grandeza está lá e começa a ser descoberto pelos apreciadores.
TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga
Fazer uma prova de vinhos tintos da região de Lisboa, outrora conhecida com Estremadura, resulta num encontro entre mundos diferentes, entre passado e futuro. A região é demasiado extensa para poder ser considerada uma unidade territorial com pontos de contacto a unir as várias zonas que a integram. Quando se fez a demarcação da região em sub-regiões terá sido esta diversidade que esteve na mente do legislador, para além das rivalidades regionais. Criaram-se então múltiplas sub-regiões com identidade e uniformidade próprias. Para além das clássicas e antigas regiões à volta da cidade de Lisboa (Colares, Bucelas e Carcavelos), a região desdobrou-se depois em várias sub-regiões: Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Óbidos, Encostas d’Aire, Lourinhã e Alta Estremadura.
De tão vasta região chegam vinhos tão diferentes que vão dos antigos e famosos vinhos de Colares, Bucelas e Carcavelos até ao Vinho Leve e às aguardentes da Lourinhã. Mas, apesar das várias sub-regiões, a região de Lisboa é sobretudo produtora de vinhos com a indicação Vinho Regional. Esta categoria é bem mais maleável em termos de castas e procedimentos e terá sido essa a razão que levou a maioria dos produtores a adoptarem esta designação e não a DOC (Denominação de Origem Controlada), o que é evidente nos vinhos provados: para além de dois vinhos de Colares, somente três pertencem à denominação Óbidos; das outras sub-regiões não chegaram representantes à nossa mesa.
A região como um todo continua muito ligada à produção de vinho a granel, mas agora é possível exportar vinho a granel com Indicação Geográfica (IG) e engarrafada no destinatário com supervisão da CVR. Mesmo no mercado interno é normal que circule vinho entre regiões, uma vez que a designação Vinho Regional autoriza que 15% do lote seja de fora da região. Para António Ventura, enólogo com larga experiência na região, Lisboa tem de “fazer melhor e subir preços médios, porque é muito mau para a região que ela esteja colada ao estigma de vinhos baratos, ainda que muito bons”. O crescimento das exportações tem sido constante e, ainda segundo Ventura, os provadores e wine writers internacionais que provam os vinhos acham escandalosamente baixos os preços a que são oferecidos no mercado externo. Assim sendo, há que cambiar o paradigma da região: em vez de ser terra sobretudo produtora de “vinhos de entrada de gama”, há que mostrar valor acrescentado nos vinhos e subir preços.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Uma região e tanto” title_align=”separator_align_left” align=”align_left”][vc_column_text]Lisboa é terra de vinho. Segundo dados do IVV, a região de Lisboa teria, em 2017, 18.641 hectares (ha) de vinha. Destes, apenas 1.041 estão inscritos para a produção de vinhos com direito a DOC e 7.255 para a produção de Vinho Regional. O site da CVR tem números diferentes, especialmente no total, referindo mais de 30.000ha! No site referem-se ainda as antigas e clássicas regiões à volta de Lisboa: 17ha em Colares, 10 em Carcavelos e 142 em Bucelas. Por outro lado, a região da Lourinhã, onde só as aguardentes têm direito à Denominação de Origem, integra 50ha de vinhas. Em 2018 (ainda sem números definitivos) a região chegará aos 100 milhões de litros produzidos e aos 50 milhões de garrafas, com um aumento significativo de 18% em relação a 2017. Lisboa é, segundo Carlos Pereira da Fonseca, produtor e vogal da Direcção da CVR, a segunda região que mais produz a seguir ao Douro e a que mais exporta, absorvendo o mercado externo cerca de 80% da produção. Outrora bem mais numerosas, as adegas cooperativas em laboração, são actualmente nove, contando-se alguns gigantes, como S. Mamede da Ventosa, Azueira ou Labrujeira; outras bem pequenas, como Alcobaça, Batalha, Cadaval ou Vermelha; e duas de média dimensão, Dois Portos e Carvoeira.
J.P.M.[/vc_column_text][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”34079″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Mudar ou conservar?
A região teve inicialmente de repensar os seus encepamentos quando criou as denominações de origem. Muitas das castas estavam vocacionadas para a produção excessiva, contando sobretudo a quantidade em detrimento da qualidade. Basta uma vista de olhos na listagem de castas autorizadas na região, sobretudo para a produção de Vinho Regional, para se perceber que é quase tudo possível, mas que estamos perante uma ficção: a maioria das castas não existe ou está em extinção e são as novas castas, muitas delas internacionais ou vindas de outras regiões nacionais, que acabaram por vingar.
No caso dos tintos será que alguém se arrisca a colocar no mercado um tinto de lote com a participação das variedades Amostrinha, Cabinda, Preto Cardana e Tintinha? E, mesmo que se disponha a isso, encontrará plantas para iniciar o projecto? Ao lado destas castas que hoje não têm mais do que um interesse meramente ampelográfico, chegaram à região as variedades que hoje todos plantam: Syrah, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Caladoc e, em algumas zonas, Pinot Noir.
O perfil está assim a mudar, ainda que castas como o Castelão devam ser mantidas. É essa a opinião de Sandra Tavares da Silva, enóloga em Chocapalha, onde mantém cerca de 7ha de Castelão, agora com 30 anos. Já em relação à Tinta Miúda, decidiram “arrancar porque apodrecia facilmente”, mas em relação a outras tiveram de “ter paciência, porque a Touriga Franca, por exemplo, só agora com 15 anos de idade é que começou a mostrar o que vale e o Alicante Bouschet funciona muito bem, mas somente nas vinhas velhas”.
Também António Ventura vem em defesa do Castelão, que vê como “casta altamente diferenciadora e que merece continuar a fazer parte dos encepamentos”: “A Tinta Miúda, outrora tão vulgar em Arruda, precisa de condições especiais de calor para se dar bem, mas era uma boa casta. Já a Caladoc, cada vez mais vulgar, parece-me ser casta que não acrescenta qualquer valor aos vinhos da região; para além de produzir muito, é bastante atípica e favorece apenas os vinhos de entrada de gama. Das novas que aqui chegaram, sem dúvida que a Syrah foi a que melhor se mostrou e essa é para continuar, mas a aposta deverá ser sobretudo nas castas portuguesas, já que é daí que vem a diferenciação”, disse.
Os pontos fortes da região de Lisboa são conhecidos e sublinhados por Sandra: uma frescura muito grande nos mostos, quer brancos quer tintos, maturações fenólicas mais integradas, acidez bem equilibrada. Os tintos são estáveis e com boa longevidade, todos beneficiando do clima ameno e das maturações prolongadas, tão habituais na região que levam a que as vindimas se estendam bem mais no tempo do que em outras zonas do país.
Por vezes mais referida como região de brancos, Lisboa tem excelentes condições para os tintos e disso foi prova este conjunto de vinhos agora provados. Cá continuam os originais e “fora do baralho” tintos de Colares, que são sempre vinhos que precisam de ser enquadrados para melhor serem apreciados. Os estilos possíveis são muitos, as combinações de castas também. Tudo a favor de tintos com grande aptidão gastronómica e boa capacidade para resistir à cave e ao tempo.
Muito há ainda por fazer e por mudar (a começar pelo website da CVR Lisboa, assustadoramente desactualizado, até na imagem que dá da região), mas o potencial, natural e humano, está todo lá.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]
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Edição Nº21, Janeiro 2019
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Restaurante Faz Figura com nova app de vinhos

O histórico Faz Figura, restaurante Lisboeta com mais de 40 anos de história, fechou portas no início do ano passado para uma renovação. Portugal Wine & Food by Faz Figura faz um ano com um novo conceito, uma nova carta só com receitas e produtos nacionais, mais petiscos, mais vinhos e uma rede de pequenos […]
O histórico Faz Figura, restaurante Lisboeta com mais de 40 anos de história, fechou portas no início do ano passado para uma renovação. Portugal Wine & Food by Faz Figura faz um ano com um novo conceito, uma nova carta só com receitas e produtos nacionais, mais petiscos, mais vinhos e uma rede de pequenos produtores, de norte a sul do país, para celebrar a gastronomia portuguesa.
Para apimentar as coisas, o restaurante estreou recentemente uma aplicação dedicada aos vinhos, que servirá de suporte ao serviço no restaurante e a toda a experiência self-service de descoberta dos vinhos portugueses. Esta app inclui informação sobre todos os vinhos disponíveis no espaço e é baseada numa representação visual dos dispensadores de sistema Coravin. Funciona assim: ao clicarmos no vinho que nos interessa, temos acesso a uma ficha com todas as informações relevantes, como o nome, região, castas, ano de colheita, produtor, nota de prova e harmonização. A aplicação tem, ainda, um pequeno manual didáctico sobre o vinho em Portugal, permitindo a aprendizagem de forma simples e intuitiva.
BUCELAS, CARCAVELOS, COLARES: A cintura verde de Lisboa

De outros tempos mantêm o nome e o prestígio, mas onde havia tradições agrícolas dominam agora as pressões imobiliárias. Em Bucelas, Carcavelos e Colares, a vinha luta agora pela sobrevivência. Roteiro enoturístico pela cintura verde que enfrenta a maré de betão da zona metropolitana de Lisboa. TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga Em Oeiras, […]
De outros tempos mantêm o nome e o prestígio, mas onde havia tradições agrícolas dominam agora as pressões imobiliárias. Em Bucelas, Carcavelos e Colares, a vinha luta agora pela sobrevivência. Roteiro enoturístico pela cintura verde que enfrenta a maré de betão da zona metropolitana de Lisboa.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga
Em Oeiras, um hectare de terra em zona urbanizável pode custar entre um e dois milhões de euros. Que ainda prosperem vinhas é quase inimaginável, mas os terrenos da Estação Agronómica Nacional resistem à pressão urbanística e é aqui que se mantém erguida a bandeira do histórico vinho Carcavelos. Em Colares, há menos de 20 hectares de vinha em chão de areia, em tempos a imagem de marca da região. Até em Bucelas os ecos da expansão urbana se fazem ouvir há já algum tempo. Pode a viticultura resistir na franja de uma grande cidade?
A resposta não é fácil, nem linear, mas os sinais apontam para que sim. Haverá até quem diga que a viticultura, em particular, e a agricultura, em geral, são indispensáveis para conter os delírios urbanísticos e preservar a identidade dos locais. Nos últimos tempos, o processo de extinção dos vinhos da periferia lisboeta parece ter sido travado. Ainda é cedo para cantar vitória, mas as notícias são animadoras.
No que ao enoturismo diz respeito, a proximidade de um grande centro populacional – para mais, no centro da atenção mediática mundial – é um manancial de oportunidades. Resta aproveitar a maré humana que todos os dias desagua em Lisboa e saber cativá-la com propostas interessantes. E este processo parece estar a ser (ainda) mais lento do que o da recuperação do entusiasmo pela vitivinicultura. Normalmente, a prioridade é dada ao vinho e só depois vem o enoturismo. Mas neste cenário, as receitas e notoriedade que se garantem através dos turistas podem ser a verdadeira locomotiva para os vinhos da cintura verde da capital.A região é Bucelas, mas, para quem vai de Lisboa pela A8 ou A9, nem é preciso fazer o caminho todo: A-das-Lebres fica logo ali, junto a Loures. E a Quinta das Carrafouchas está na linha da frente, não só da actividade enoturística como também vitivinícola – num dos seus extremos já cresce uma pequena urbanização. São quatro hectares de vinha (3,5 tinta e 0,5 branca) e um mundo de surpresas que se escondem por trás da longa fachada cor-de-rosa estendida ao longo da estrada.
Entramos por uma sala de provas, com painéis de cortiça para os turistas assinarem e um balcão de madeira africana e pedra que já conta mais de 80 anos. Cá fora, uma extensão do espaço, para dias mais quentes; a seguir um salão para eventos com decoração rústica e onde as mesas redondas são, na verdade, bobinas de cabos eléctricos; no exterior, uma zona coberta limitada por paredes de vidro para apreciar a paisagem de copo na mão. Um dia, essa paisagem incluirá o rebanho de ovelhas saloias, uma espécie em risco de extinção, pastando por ali. As ovelhas já existem, o terreiro está a ser preparado.
É assim nas Carrafouchas: há sempre alguma coisa a ganhar forma. Mas também há sempre alguma coisa a acusar os efeitos do tempo. Nos últimos anos, a propriedade foi ganhando espaços funcionais para o turismo, mas o seu verdadeiro encanto está na profusão de recantos românticos que nos transportam para outros tempos. A construção actual data de 1714, mas já havia edifícios no local antes disso.
Descemos um caminho que bordeja as vinhas e damos de caras com um tanque rodeado em anfiteatro por painéis de azulejo representando as quatro estações. A água chega de uma mina encaixada num retábulo com uma enorme bacia em pedra e mais azulejos do século XVIII (num deles, são bem visíveis enormes garrafas de vinho num recipiente com água – a preocupação com as temperaturas de serviço não são uma modernice!). Mais à frente, um enorme tanque de 20x10m também semi-rodeado de muros ornamentados; colina acima encontramos uma nascente encaixada num pequeno edifício quadrangular, com azulejos, claro. Junto à casa, para lá de uma sebe de cedros, a surpresa de um jardim romântico de planta semicircular. O pátio exterior, com chão em calçada portuguesa e painéis de azulejos na varanda sobranceira. E a surpresa final da bem preservada capela.
Ainda um relance pela adega antiga, com o lagar e os velhos pipos de madeira, antes de regressar à sala de provas. Mesmo às portas de Lisboa, há muito para descobrir. Não esquecendo os vinhos, claro.
QUINTA DAS CARRAFOUCHAS
R. Francisco Franco Cannas, A-das-Lebres, Santo Antão do Tojal
Tel: 917 262 385
Mail: quintadascarrafouchas@gmail.com
Web: www.quintadascarrafouchas.com
A prova de vinhos (dois tintos e um branco, com petiscos regionais) custa 15 euros por pessoa, se incluir visita ao património da quinta o preço passa para 25 euros. Solicita-se marcação antecipada. O proprietário recebe pessoalmente, todos os dias (das 9 às 20h de segunda a sexta, das 9 às 12h e das 18h às 21h aos sábados e domingos).
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
Há edifícios em volta praticamente em todas as direcções e lá fora, para além dos muros de pedra e dos portões (abertos), há carros a circular, gente que se apressa a caminho sabe-se lá do quê, um supermercado com grandes letreiros. Mas aqui, nos terrenos da Estação Agronómica Nacional, entre oliveiras, cedros e vinhas, um ventinho frio soprando de norte, o brilho do mar cintilando ao longe para lá das colinas, estamos noutro mundo.
Estamos em Oeiras e quase soa a bónus que nestes terrenos cresçam as uvas que mantêm viva a tradição de um vinho generoso à beira da extinção. Mas é assim mesmo. Com 12,5 hectares de vinha (castas: Galego Dourado, Ratinho e Arinto, nas brancas; Castelão e Trincadeira, nas tintas) e duas adegas funcionais, a Câmara Municipal de Oeiras é, neste momento, o único produtor com actividade continuada que faz DOC Carcavelos, o mais esquecido dos nossos grandes vinhos licorosos.
A visita começa na Adega do Casal da Manteiga, instalada num edifício de planta hexagonal que era, a um tempo, infra-estrutura produtiva (abrigava os animais de trabalho e espaços para manteigaria e queijaria) e um local de lazer (a torre que remata o edifício funcionava como pavilhão de caça para o Marquês de Pombal (também conde de Oeiras) e seus convidados. Agora, uma das alas serve de adega, a outra está repleta de barricas, em galerias onde ainda são visíveis as antigas manjedouras em pedra.
Mas é mais abaixo, no vale, que esta dupla função produtiva e de lazer se afirma de forma mais evidente, testemunhando o pensamento pragmático do Marquês e exibindo soluções arquitectónicas e conceptuais que hoje parecem evidentes, mas que teriam o seu quê de revolucionário no século XVIII. A segunda adega, a Adega do Palácio, ocupa um edifício que inclui o recuperado Lagar de Azeite e ambas as infra-estruturas são contíguas ao palácio e seus jardins românticos cruzados pela ribeira da Lage.
Com 70 metros de comprimento e orientação Norte-Sul, a adega auto-ventila-se por acção dos ventos dominantes e a frescura no Verão é assegurada pela mina de água que corre por baixo do chão. Em cima, um telhado “flutuante” deixava espaço para a secagem de cereais, o que funcionava como isolamento natural. As surpresas aparecem por todo o lado – na casa de banho das senhoras, por exemplo (uma parte das instalações alberga escritórios dos serviços da câmara), ainda são visíveis vestígios dos antigos lagares em pedra.
Entre as duas adegas, há quase 1200 barricas e é neste cenário que provamos os vinhos, com a novidade de um Carcavelos tinto (10 Anos) que em breve sairá para o mercado. Cá fora, silêncio e luz. No total, a Quinta do Marquês tem 135 hectares murados. Um oásis de verde no mar de betão.
VILLA OEIRAS
Adega Casal da Manteiga
R. da Mina, Tremês (GPS: 38º 42′ 16,04″ N, 9º 19′ 13,72″ W)
Adega do Palácio Marquês de Pombal
R. Aqueduto 222, Oeiras (GPS: 38º 41’ 34,44” N, W 9º 18’ 52,54” W)
A filosofia de animação turística do Palácio do Marquês está a mudar e, com ela, também os horários e os programas de enoturismo. Para informações actuais, consultar o site da Rota dos Vinhos Bucelas, Carcavelos e Colares (www.rotadosvinhosbcc.com), a Confraria do Vinho Carcavelos (Paulo Rocha: 912 714 554 / 924 014 860) ou a Câmara Municipal de Oeiras (www.cm-oeiras.pt).
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 1,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
De uma região que esteve à beira da extinção para outra que também parece ter escapado a esse destino. Em Colares, onde nunca foi fácil fazer vinho, a pressão imobiliária levou ao desaparecimento de muitas vinhas e o sector acabou reduzido a um punhado de produtores. Hoje, há menos de 20 hectares plantados em chão de areia, a imagem de marca destes vinhos feitos em cima do mar. Também aqui, tal como acontece em Bucelas e Oeiras, a natural preocupação com a sobrevivência tem deixado o enoturismo para segundo plano. Mas as coisas estão a mudar e Colares, neste particular, segue na frente.
A Adega Regional de Colares, fundada em 1931, é a mais antiga adega cooperativa do país (hoje tem cerca de 35 sócios) e um destino turístico com movimento muito significativo – são dezenas de visitantes, em média, por dia, levando os números anuais para cima dos 20.000. Mesmo quem chega sem aviso tem acesso à adega dos tonéis, que se estende a partir do espaço da loja ao longo de dezenas de metros. Estão aqui mais de 90 tonéis, o maior dos quais com capacidade para 19.590 litros – a capacidade total é de 700.000 litros. A lista de madeiras (tropicais) usadas nos depósitos é, só por si, um achado: câmbala, macaúba, vinhático…
Se é um enoturista viajado, não se espante se a visão lhe trouxer à memória o Moscatel de Setúbal – o edifício onde se encontra pertenceu, em tempos, à José Maria da Fonseca, que aqui tinha um armazém, e a traça arquitectónica é semelhante à que encontramos em Azeitão. Hoje, a Adega de Colares produz cerca de 100.000 litros anuais (só uma pequeníssima fracção provém de chão de areia, como se imagina; o resto é do chamado chão rijo, terrenos argilo-calcários) e a sua capacidade de armazenamento fala-nos de um passado em que Colares era uma generosa fonte de vinho para todo o país.
A visita guiada leva-nos pelos espaços sociais que estão a ser dinamizados (salas com capacidade para receber até 600 pessoas), pelos jardins e acessos que ligam os vetustos edifícios do complexo murado. E desagua na adega, uma verdadeira montra da evolução tecnológica do sector da vinificação – encontramos, lado a lado, equipamento técnico moderno e antigo (lagares em cimento, depósitos em inox, cubas troncocónicas em madeira com taça para remontagem automática), o que permite explicar a evolução das técnicas ao longo do tempo.
De regresso à loja, podemos optar por uma das várias provas disponíveis no cardápio e saborear o carácter único de uma região cheia de história. É uma bela forma de encerrar o périplo pela cintura verde de Lisboa, porque em nenhum outro lugar ele é tão intenso como aqui, na face Norte da serra de Sintra.
ADEGA DE COLARES
Alameda Cel. Linhares de Lima 32, 2705-351 Colares
Tel: 219 291 210
Mail: geral@arcolares.com
Web: www.arcolares.com
As visitas guiadas (com prova de dois vinhos) custam 15 euros por pessoa e estão sujeitas a marcação prévia e disponibilidade. Mas quem aparecer na loja sem aviso pode sempre dar uma volta pela adega dos tonéis e decidir depois se pretende fazer alguma das provas disponíveis, com preços que vão dos 4 aos 10,65 euros por pessoa. Horário: de segunda a sexta, das 9h30 às 12h e das 14h30 às 17h. Eventos para grupos com preços sob consulta.
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 1,5
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Não faltam opções para reconfortar o estômago neste périplo pelos arredores de Lisboa e seus sobreviventes vínicos. O carácter cosmopolita da região permite encontrar de tudo um pouco, mas escolhemos três restaurantes que simbolizam outros tantos estilos: o toque regional do Barrete Saloio, em Bucelas; a cozinha mais elaborada da Casa da Dízima, em Paço de Arcos; e a pureza dos produtos do mar do Adraga, na Praia da Adraga. Sempre com bons vinhos a acompanhar. Bom apetite!
BARRETE SALOIO – R. Luís de Camões 28-30A, Bucelas; 219 694 004
CASA DA DÍZIMA – R. Costa Pinto 17, Paço de Arcos; 214 462 965
ADRAGA – Praia da Adraga, Sintra; 219 280 028 / 961 910 833
Edição nº14, Junho 2018