Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa: Um grandíssimo tinto de Portugal

Crasto tinto Portugal

Maria Teresa. A elegância e harmonia do nome não passa despercebida, nome que não poderia adequar-se melhor ao vinho que o transporta e à vinha que lhe dá origem. Texto: Mariana Lopes Fotos: Quinta do Crasto Quinta do Crasto já é um dos produtores mais emblemáticos do Douro e de Portugal. Com muitas e diferentes […]

Maria Teresa. A elegância e harmonia do nome não passa despercebida, nome que não poderia adequar-se melhor ao vinho que o transporta e à vinha que lhe dá origem.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Quinta do Crasto

Quinta do Crasto já é um dos produtores mais emblemáticos do Douro e de Portugal. Com muitas e diferentes valências vitivinícolas — dos vários perfis de vinho que produz ao projecto do Douro Superior com a Quinta da Cabreira, passando pela investigação na área da viticultura — são as suas emblemáticas vinhas velhas que invocam para si um estatuto quase de Santo Graal. Isto surge tanto pelas características únicas destas vinhas, como pelos vinhos que nelas têm origem. São três as vinhas muito velhas do Crasto, Vinha dos Cardanhos, Vinha da Ponte e Vinha Maria Teresa, mas é esta última sobre a qual agora recai o “spotlight”, com o lançamento da colheita 2017 do sempre esperado tinto Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa.

A Vinha Maria Teresa é centenária e tem 4,7 hectares, tendo sido plantada em duas partes: uma há cerca de 111 anos e outra quando Constantino de Almeida (bisavô do administrador Tomás Roquette e do director de vendas Pedro Almeida) comprou a Quinta do Crasto, em 1918. O solo destas parcelas é sobretudo de xisto e a exposição é maioritariamente nascente, o que, segundo Manuel Lobo, enólogo-chefe do Crasto, “foi muito favorável e importante em 2017”. Como a generalidade das vinhas velhas do Douro, esta também tem dezenas de castas misturadas, e o Crasto já identificou 54 diferentes, apurando que a mais plantada é a Tinta Amarela. A produção média desta vinha é, como seria de esperar, bastante baixa, menos de 300g por videira, e a sua antiguidade traz algo inevitável: todos os anos morrem videiras. É aqui que a equipa do Crasto veste a capa de super-herói, movida pelo desígnio de salvar e preservar a identidade desta vinha, um património muito precioso que, na verdade, se está lentamente a perder por todo o Douro. Em 2013, iniciou o projecto Pat Gen Vineyards, um processo de mapeamento genético de cada casta ali plantada, para que a vinha pudesse ser “replicada” na mesma proporção, num “berçário” de videiras (ou campo de multiplicação de genótipos) e, no futuro, as videiras mortas repostas com variedades geneticamente idênticas. A ideia era, e é, “perpetuar desta forma o terroir e o ‘field blend’ desta vinha única”. Cada videira tem uma coordenada gps própria, e a equipa do Crasto acede a uma plataforma digital para supervisionar vários aspectos da vinha, como o estado de saúde de cada pé, a localização das variedades e muitos outros parâmetros. Os planos são para que, segundo Tomás Roquette, “ainda este ano se comecem a replantar as videiras mortas”.

O ano vitícola de 2017 originou, nas palavras de Manuel Lobo, “a vindima mais precoce de que temos memória, na Quinta do Crasto”. De acordo com o enólogo, as primeiras uvas tintas foram colhidas a 18 de Agosto e o primeiro corte na Vinha Maria Teresa deu-se no dia 25 de Agosto, algo que “nunca antes tinha acontecido”. Já o segundo corte nesta vinha, deu-se a 2 de Setembro e, dezassete dias depois, o último. Foi um ano “pouco produtivo, mas com excelente concentração”, explicou Manuel Lobo. Cachos mais pequenos e uvas de menor diâmetro, com óptimo rácio entre película e polpa, contribuíram para isso. Para o Crasto, 2017 “ficará certamente registado na História como um ano de vinhos excepcionais”, e é normal que o produtor assim pense, já que o Vinha Maria Teresa tinto 2017 arrebata qualquer um, mesmo na sua actual juventude. Estagiado durante 20 meses em barricas novas de carvalho francês, de 225 litros, este vinho é o resultado de uma “selecção exaustiva de barricas que tiveram melhor performance”, referiu Manuel Lobo.

E é precisamente por esta importância que as vinhas velhas têm para o Crasto, que o produtor concretizou recentemente “um sonho que tínhamos desde 2007”: a Adega Vinhas Velhas. Este é um espaço totalmente renovado, “cada cuba pensada para cada parcela de vinha velha, e com todas as condições necessárias para a optimização da expressão de identidade de cada uma”. Manuel Lobo tem um novo espaço para “brincar”, e dele só poderá sair coisa boa…

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2020)

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Douro tinto por menos de €10: Vinhos ambiciosos, compras inteligentes

Foram 36 os “candidatos” tintos e durienses com preços em euros até ao redondo 10, e o conjunto mostrou ser campeão na relação qualidade-preço, revelando frescura e complexidade. Será este segmento a compra inteligente do Douro? TEXTO Mariana Lopes FOTOS Ricardo Gomez Já se faz vinho no vale do Douro, segundo os mais antigos vestígios, […]

Foram 36 os “candidatos” tintos e durienses com preços em euros até ao redondo 10, e o conjunto mostrou ser campeão na relação qualidade-preço, revelando frescura e complexidade. Será este segmento a compra inteligente do Douro?

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Ricardo Gomez

Já se faz vinho no vale do Douro, segundo os mais antigos vestígios, há mais de 2 mil anos. No entanto, se olharmos apenas para os últimos dez, a evolução dos números desta região foi absolutamente notável, principalmente no que toca à produção e à comercialização. Segundo dados estatísticos recolhidos dos sites do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto e do Instituto da Vinha e do Vinho, a área total de vinha diminuiu de 2010 (45.553ha) para 2019 (43.608ha). No entanto, a área de vinha apta a Denominação de Origem (DO) Douro e Porto aumentou, no mesmo período, de 38.364ha para 40.071ha, o que significa que aquele decréscimo de área total de vinha representa, na verdade, boas notícias. Falamos de vinhas de uma região (e já que esta Grande Prova assenta em vinhos tintos) em que as castas tintas predominantes são a Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Tinto Cão, mas onde as (verdadeiras) vinhas velhas escondem dezenas de outras uvas antigas. São precisamente estas seis variedades de uva e também, de forma mais ocasional, a Sousão, que entram nos lotes de vinhos tintos do Douro com preço inferior a 10 euros, apenas variando entre elas e nas percentagens de cada uma. Note-se que a newsletter da associação ProDouro, na sua edição de Maio, deu conta de que já se pode oficialmente voltar a chamar Touriga Francesa à Touriga Franca. Nessa edição, pode ler-se: “Segundo o aviso nº 3999/2020 do Instituto da Vinha e do Vinho, publicado em Diário da República de 6 de Março «são incluídos na lista de castas anexa à referida Portaria [nº 380/2012 de 22 de Novembro] e da qual faz parte integrante as seguintes castas e sinónimos: (…) Casta Touriga-Francesa como sinónimo da casta Touriga-Franca (PRT52205), apenas na rotulagem da DO Porto, Douro e IG Duriense».”

Já no que toca à produtividade, devida aos solos pobres, clima agreste e orografia difícil, o Douro não é uma região que se caracterize por elevado rendimento, estando a produtividade permitida tabelada num máximo de 55 hectolitros (cerca de 7.500kg) por hectare. A produtividade média fica-se, inclusive, pelos 30 hectolitros (cerca de 4.100kg) por hectare, contra, por exemplo, os cerca de 7.600 kg/ha do Alentejo (dado de 2016).

Mas é quando chegamos aos números da produção de vinho que a coisa fica ainda mais séria. Em 2010, a produção total de vinho apto para poder originar DO Douro era de pouco mais de 50 milhões de litros. Em 2019, passou os 81 milhões. Em volume, as vendas de vinho tinto certificado DO Douro passaram, no mesmo período, de 17.543.521 litros para 30.024.831 litros, o que correspondeu, em valor, a um salto dos quase 80 milhões de euros para mais de 134 milhões. Tudo isto com um aumento de 43 cêntimos por litro, dos 4.04 euros para os 4.47, o que conclui que o Douro conseguiu aumentar a produção e as vendas sem baixar o preço, o que é sempre de louvar.

Os anos vitícolas 2017 e 2018

Quase todos os vinhos provados são das colheitas de 2017 (maioria) e 2018, dois anos vitícolas que se revelaram bastante díspares. A família Symington, com mais de 1000 hectares de vinha no Douro, produz óptimos relatórios de vindima que são excelentes apoios para qualquer trabalho, e o disposto a seguir foi baseado nesses mesmos relatórios, podendo ajudar a perceber os perfis dos vinhos destas colheitas. O ano de 2017 foi, em geral, bastante quente e seco, com a maioria dos seus meses a registar um nível de precipitação bem abaixo da média. Março, Abril e Maio foram, inclusive, cerca de 2.6ºC mais quentes do que a média e Abril, em concreto, foi o mais quente desde 1931. Junho também não quis ficar atrás, e foi o mais quente desde 1980, com a temperatura a atingir os 43ºC. Julho manteve-se seco e quente. Já Agosto mostrou-se mais moderado, com noites relativamente frescas. Consequentemente, e devido a esta seca, as produções em 2017 acabaram por diminuir.

A seca prolongou-se até Março de 2018, ano que acabou por divergir bastante do anterior porque em Março, Abril e Maio choveu abundantemente, a um nível que chegou a ser duas vezes acima da média destes meses. Depois, a 28 de Maio deu-se um episódio dantesco que poucos esquecerão: uma tempestade acompanhada de forte granizo, tendo a zona do Pinhão sofrido uma precipitação de 90mm em menos de duas horas. Foi desastroso e muitos produtores viram os seus solos arrastados para o rio e as vinhas destruídas, e também por isso as perdas na produção em 2018 foram muito grandes, mesmo com o resto do ano vitícola (com a excepção de um Setembro bastante mais quente do que o habitual) a revelar-se “normal”, com números próximos da média. Em 2017, a produção total de vinho DO Douro foi de 51.564.497 litros e em 2018 caiu de forma impressionante para os 38.530.429 litros. 

Como são os tintos do Douro até €10?

A amostra de 36 tintos do Douro com preço até 10 euros, é já suficiente para que se possam tirar algumas conclusões interessantes, a partir dos pontos em comum que apresentaram, e até dos que divergiram por alguma razão. Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que a faixa de preço se situou, na maior parte dos casos, nos 7, 8 e 9 euros. Uma das ilações, e a minha favorita, é o facto de este conjunto dos tintos ter apresentado uma enorme frescura transversal, e também um nível de complexidade já bem “jeitoso” para o segmento de preço. Os enólogos de alguns dos vinhos mais bem pontuados desta Grande Prova vieram ajudar a perceber isto e várias outras coisas. Francisco Baptista, autor do Andreza Reserva 2017, da Lua Cheia em Vinhas Velhas, explica que “o Douro é uma região que se tem adaptado as novas tendências, de vinhos com frescura e complexidade, e isto deve-se à riqueza de todo o vale, como as diferentes altitudes, vinhas em encosta com diferentes exposições, e três sub-regiões totalmente diferentes. Esta vindima [2017] foi complicada, pois começámos em Agosto com imenso calor e a maturação foi rápida nas zonas perto do rio, mas os mostos eram ricos em antocianas, polifenóis e ácidos. Na meia encosta, em vinhas viradas a Norte e nos planaltos, o equilíbrio era extraordinário”. Quanto à complexidade, o enólogo diz que esta “não é de admirar”, porque “a viticultura tem feito um trabalho notável na região e, se as castas estiverem nos sítios certos, a partir daí o trabalho na adega é facilitado”. Manuel Lobo, enólogo-chefe dos vinhos Quinta do Crasto, vai de encontro à ideia da pluralidade de terroirs do Douro com que se pode “jogar”, e acrescenta que “a resposta está na “nova era” de enologia, que assenta os seus pilares no respeito pela vinha e consequentemente pelo seu equilíbrio natural”. Em relação ao ano 2017, Manuel Lobo conta que “para encontrar o equilíbrio e frescura, foi fundamental não falhar o ponto óptimo de maturação, evitando assim os aromas de sobre-maturação, e privilegiar a altitude e exposições Norte e Nascente”. E é precisamente esta a exposição das vinhas que dão origem ao Flor das Tecedeiras, cuja enologia está a cargo de Rui Cunha (também do Quinta dos Avidagos Reserva 2017), que reforça que “isso contribui muito para o seu lado de frescura”. Jorge Moreira, responsável pelos vinhos da Real Companhia Velha, neste caso o Quinta dos Aciprestes 2017, e também pelos Quinta de La Rosa, lembra que “no passado havia uma grande procura por concentração e potência, mas hoje os enólogos estão muito mais virados para o equilíbrio. Assim, a frescura e a própria acidez passaram a ser uma das nossas maiores preocupações”. Paulo Coutinho, que assina os vinhos da Quinta do Portal, é ainda mais assertivo quando fala de complexidade e afirma que esta “vem claramente de um ano quente, pois a vinha, para produzir um bom vinho, precisa de sofrer. Mas, por exemplo, 2003 foi bem mais quente, produzindo ainda maior complexidade, mas faltou acidez e frescura. Já 2017 beneficiou do que 2009 já tinha beneficiado no Douro, que foi uma busca incessante por maior elegância e frescura. O enólogo da região tentou, desde aí, combater a concentração nos anos mais quentes com a acidez, seja recorrendo à altitude, ao portefólio das castas, ou ao controlo na viticultura, com práticas que nos permitem proteger a folha e fruto da agressividade do tempo quente”.

Mas, o que deve ser um vinho deste segmento de preço, tendo em conta o que o consumidor procura neles? José Manuel Sousa Soares, enólogo da Quinta de Ventozelo, da Gran Cruz, elucida de forma muito pertinente que, para si e nesta empresa, é “necessariamente um vinho da gama média em qualidade e com um preço pouco superior à entrada de gama. Pretende-se que a força, o carácter e a complexidade do lugar sejam evidentes num vinho acessível, marcado pela expressividade das castas que o compõem”. Jorge Moreira concorda e, além de falar na identidade regional, refere que “devem ser equilibrados e estar em bom momento para serem consumidos”, e que são vinhos que estão “no nosso segundo patamar qualitativo, tendo em conta que os de entrada de gama têm carácter regional, os do segundo patamar já mostram a Quinta de onde vêm, num terceiro mostram a casta e/ou a vinha, e assim sucessivamente”. Uma hierarquia e perspetiva interessante, demonstrada por este enólogo.

Rui Cunha, por sua vez, defende o contraditório de uma forma válida: “De uma forma geral, nós (e eu também sou consumidor) procuramos aqui vinhos equilibrados, coerentes, com complexidade e bom final de boca. Mas não há uma definição de como deve ser um vinho ‘nesta faixa de preço’. No projecto das Tecedeiras, o Flor das Tecedeiras está na gama de entrada mas, nos Avidagos, o Avidagos Reserva é um ‘premium’. Este é só um dos argumentos”. Já Paulo Coutinho vê esta questão um pouco como um “jogo de cintura”, explicando que “esta é uma gama de preço onde o consumidor procura chegar sempre que quer um pouco mais de sofisticação e complexidade do que o habitual. Já não é o vinho do dia-a-dia. Além disso, é quando o consumidor pensa não só nele, mas na companhia para o tomar, e normalmente escolhe esta gama dos [quase] 10 euros para iniciar o jogo antes de passar o ponto alto, ao nível acima. Assim, tem de ter a complexidade suficiente para não defraudar”. Manuel Lobo acrescenta que “devem ser vinhos que despertem também no consumidor a curiosidade para conhecer melhor a região”.

Na vinha e na adega

Há um elemento comum nas respostas dos enólogos, que é a vinha, o respeito por ela, e a importância da viticultura, e isto não só nesta prova, mas em muitas outras que a Grandes Escolhas já fez. O que nos leva a indagar sobre se, para cada tipo de vinho, haverá ou não uma viticultura especifica, e até, em concreto no Douro, castas favoritas ou “essenciais” para tintos deste segmento. José Manuel Sousa Soares começa por expor que “na viticultura temos de escolher métodos que expressem bem o carácter das castas e dos locais de produção, de forma a que a produção seja equilibrada com o potencial vitícola em causa, quer do ponto de vista qualitativo como quantitativo, e que promova a boa sanidade vegetal. Não há, portanto, soluções únicas nem sempre vencedoras, até porque os anos, do ponto de vista climático, não se repetem e originam alteração do potencial das uvas. É necessário um acompanhamento muito próximo da evolução anual que possibilite a escolha acertada das datas de vindima em cada parcela”. Este enólogo escolheu integrar Alicante Bouschet no lote do Ventozelo 2016, juntamente com Touriga Francesa e Sousão, porque aquela casta “está instalada numa meia encosta virada a Nascente-Norte e, em 2016, apresentava frescura com algum carácter vegetal muito importante para o resultado final”. Além deste pormenor, que confere alguma originalidade, José Manuel Soares acredita que, neste tipo de vinho, “a Touriga Franca [ou Francesa] é essencial na estruturação”. Jorge Moreira e Francisco Baptista também elegem a Touriga Francesa como favorita nestes lotes, este último dizendo que dá “pouco álcool, boa acidez, e fruta vermelha intensa e fresca”. E Manuel Lobo reforça que não há receitas, mas que “é fundamental estarmos presentes. O modelo deve ser de equilíbrio e de respeito pela identidade o que, na minha opinião, só se consegue com uma viticultura de precisão.”. E defende, nestes vinhos, a tríade “Touriga Nacional, para aroma e frescura, Touriga Franca, para volume e estrutura, e Tinta Roriz, que dá elegância e persistência”. Depois de confessar que lhe dá gozo voltar a usar o nome “Francesa”, Paulo Coutinho confessa que esta é a “pacificadora do lote”, mas que adora a Tinta Roriz para esta categoria, achando “incrível para o frutado que pretendo”. E Rui Cunha volta a trazer o fundamental contra-argumento: “De nada serve dizer que uma determinada casta é fundamental se o local não lhe é favorável. Felizmente, a região do Douro é rica em castas que estão muito bem-adaptadas aos variadíssimos ‘micro-terroirs’”.

Quanto à enologia destes vinhos, e quando falamos do ano quente de 2017, Manuel Lobo diz que “foi essencial controlar muito bem as extracções e as temperaturas de fermentação” para que não se perdesse frescura. Jorge Moreira e Paulo Coutinho sublinham a pouca extracção e o primeiro fala também da necessidade de vindimar cedo “quando ainda temos fruta fresca”, e do “cuidado com a madeira nova para não descaracterizar os vinhos”. Rui Cunha toca estes pontos mas acrescenta (e muito bem) o factor higiene. E depois de tudo isto, só há uma coisa a desejar, nos tempos que correm: haja higiene e saúde para beber vinhos desta qualidade!

Não foram encontrados produtos correspondentes à sua pesquisa.

Artigo da edição nº38, Junho 2020

Alentejo tinto até €8: Muita qualidade a preço acessível

O vinho do Alentejo é, de longe, líder nacional de vendas, apreciado pelos consumidores em todo o país. É ainda uma região com beleza paisagística que oferece enoturismo de excelência, quer em unidades hoteleiras, quer a nível de gastronomia. E por fim, o espírito inovador está presente em vários projectos desafiantes na região. TEXTO Valéria […]

O vinho do Alentejo é, de longe, líder nacional de vendas, apreciado pelos consumidores em todo o país. É ainda uma região com beleza paisagística que oferece enoturismo de excelência, quer em unidades hoteleiras, quer a nível de gastronomia. E por fim, o espírito inovador está presente em vários projectos desafiantes na região.

TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Ricardo Gomez

Desde o ínicio de produção de vinho no território que agora se chama Alentejo, pelos tartessos e fenícios, passaram várias épocas de ouro e crises profundas: invasão muçulmana; guerra de independência;  aposta de Marquês de Pombal no desenvolvimento da região do Douro com arranque de vinhas no resto do país; a praga da filoxera; primeira guerra mundial ou a campanha cerealífera do “Estado Novo”.

Nos últimos 30 anos, a dimensão de vinha cresceu de 11.510 para 24.709 hectares registados em 2019 (dados do IVV). Tem a segunda maior área de vinha em Portugal, a seguir ao Douro e ultrapassando a região do Minho.

Em termos de volume de produção, ocupa o terceiro lugar em Portugal com 1.092.617 hl, que corresponde a 18% de produção nacional a seguir às regiões do Douro (21%) e Lisboa (19%). O facto de ter maior área de vinha e produzir menos do que na região de Lisboa tem a ver com a produtividade média por hectare de vinha, que é inferior no Alentejo (cerca de 44 hl/ha versus 60 hl/ha em Lisboa).

Alentejo é a região mais presente no retalho em Portugal, com quota de mercado superior a 35% em valor, seguido pela região de Vinhos Verdes com mais de 18% e Península de Setúbal com 16,5%, valores registados em 2019. Em volume, a quota de mercado aumenta para 39,5% em 2019 e acima de 40% no ano anterior.

Alentejo ou Regional Alentejano?

O principal objectivo da DO (Denominação de Origem) Alentejo é preservar a identidade de uma determinada área de produção, enquanto a IG (Indicação Geográfica) Regional Alentejano alberga a possibilidade de alguma ousadia. Mesmo assim, a regulamentação a nível de DO não é estanque, tendo sido objecto na última década de várias alterações.

Em 2010 foram simplificadas as regras das 8 sub-regiões do Alentejo e introduziu-se o conceito de castas obrigatórias generalizadas a todas elas, que devem representar, isoladamente ou em conjunto, 75% do lote. Eram 9 brancas (todas tipicamente alentejanas) e 8 tintas, entre as quais para além de tradicionais (Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Cabernet Sauvignon, Castelão e Trincadeira) passou a figurar a estrela portuguesa Touriga Nacional e Syrah que conquistou produtores nacionais e entrou nos lotes alentejanos como uma casta melhoradora. Em 2014, ao leque de castas obrigatórias juntaram-se mais quatro, que bem representam a região: Grand-Noir (curiosamente, a casta esteve sempre presente no encepamento de Portalegre e em casas histórias de Reguengos, como José de Sousa), Moreto, Tinta Caiada e Tinta Grossa. Para além destas, existe uma lista de 47 castas, nacionais e estrangeiras, que podem ser utilizadas na elaboração de vinhos com DO, não ultrapassando 25%.

Obviamente, a IG oferece mais flexibilidade ao produtor: permite mais rendimento por hectare e muito mais castas à escolha. Quem quiser, pode fazer 100% Chenin Blanc, Chasselas, Vinhão ou Zinfandel.

Não existe grande diferença entre DO e IG em termos de qualidade exigida para aprovação.  Por exemplo, um vinho designado como Reserva tem de obter no mínimo 70 pontos e Grande Reserva 80 pontos (escala 0/100), independentemente se for para certificar como DO Alentejo ou Regional Alentejano.

Se analisar a produção só de vinhos tranquilos, sem tomar em consideração espumantes e licorosos, na última campanha de 2018/2019 há mais vinhos produzidos com DO do que com IG, sendo 591.407 hl versus 479.688 hl, respectivamente. Cerca de 75% são tintos e rosés. As sub-regiões de Reguengos e Borba representam o maior peso na produção da região.

Explorar a região de forma inovadora

Apesar de ter uma posição confortável no mercado nacional, a região não parou no tempo, promovendo várias iniciativas, quer a nível de produtores, quer a nível institucional.

Para além das sub-regiões conhecidas historicamente e com carácter diferenciador, como Vidigueira, Évora, Borba ou Reguengos, há projectos interessantes noutras zonas, como a DO Portalegre ou o litoral Alentejano, onde o clima é temperado pela altitude ou pela influência atlântica, respectivamente.

Outro projecto altamente inovador é o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo desenvolvido pela CVR Alentejana em parceria com a Universidade de Évora. Este programa pioneiro em Portugal visa a adaptação de melhores práticas na vinha e na adega para produzir uvas e vinho de qualidade e de forma economicamente viável, protegendo ao mesmo tempo o meio ambiente. Isto consegue-se através de optimização na gestão de energia e água na vinha e na adega, redução, reutilização e reciclagem de resíduos. Sendo o Alentejo uma região com disponibilidade de água limitada (que se pode agravar com as alterações climáticas), a gestão eficiente deste recurso torna-se particularmente relevante para os produtores.

Para dar um exemplo, no Alentejo, o consumo de água varia entre os 1,2 (nos casos mais eficientes) e os 14,4 litros de água por litro de vinho. As ferramentas previstas no programa permitirão a redução do consumo de água até os 0,75 e 1 litro de água por cada litro de vinho produzido. O melhoramento na eficiência energética levará à redução de consumo e custos associados; redução de emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa; permitirá aliviar circuitos sobrecarregados (sistemas de frio ou aquecimento, sobretudo na vindima que é altura de maior consumo energético). O programa é de adesão voluntária e gratuita e actualmente conta com 396 membros.

A nível de enoturismo, recentemente foi inaugurado um novo espaço da Rota dos Vinhos de Alentejo, onde os interessados podem conhecer melhor a região, não só através de provas de vinhos, mas também de forma interactiva. É possível cheirar os aromas das castas principais da região; aprender mais sobre solos, cujas amostras estão disponíveis para observar; organizar uma viagem através de uma plataforma interactiva que disponibiliza informação sobre os produtores com aplicação de vários filtros (tem ou não restaurante ou unidade hoteleira, por exemplo).

O que são vinhos “até 8 euros”

A nossa prova centrou-se em vinhos tintos do Alentejo com preço médio de mercado igual ou inferior a €8. É muito curioso verificar que ao subir um degrau de preço, de 5 para 8 euros, por exemplo, já estamos num patamar diferente em termos de qualidade. Muitos dos vinhos nesta faixa de preços não são propriamente os vinhos de entrada de gama. No caso de alguns produtores mais pequenos, até os vinhos que abrem o portefólio produzidos em maior quantidade, nada têm a ver com os vinhos básicos e simples, normalmente associados a entradas de gama. Ao mesmo tempo não são vinhos caros, representando uma óptima oferta para um consumidor mais exigente.

O enólogo Ricardo Constantino, da Herdade das Servas, está seguro da importância deste segmento de preço para o consumidor. “Nem todos podem comprar vinhos caros. A gama de entrada pode ser mais simples, mais versátil e consensual; a gama média é para um consumidor mais esclarecido.” Se dos vinhos de entrada produzem 1.000.000 garrafas vendidas a 5 euros PVP, desta gama média fazem 150.000 garrafas de tinto (e 30.000 de branco). Procuram “alguma complexidade, algum tanino sem ser muito marcado, nem madeira muito presente, apenas para dar o equilíbrio a fruta”.

Na Herdade da Calada, o vinho Caladessa representa uma gama média, da qual produzem metade dos vinhos de entrada e o dobro dos topos de gama. Vendem mais no canal horeca no mercado interno. O enólogo Eduardo Cardeal repara que “os vinhos da gama média são importantes para o sustento das casas: têm uma margem maior, comparativamente às entradas de gama, acabam por ser uma mais valia.”

Segundo o enólogo Oscar Gato, a gama de monovarietais foi criada na Adega de Borba para dar resposta ao mercado que procura perceber melhor as castas que normalmente entram em lotes. Estes vinhos não estão nas grandes superfícies e, curiosamente, vendem-se muito bem na loja online da própria adega. Mas são quantidades limitadas. Do Senses Syrah, por exemplo, só produzem cerca de 5.000 garrafas.

No caso da HMR, Pousio Selection é um entrada de gama, mas de um patamar diferente. Como não conseguem competir com as adegas cooperativas e outros produtores de grande dimensão, não apostam no vinho de combate, não vendem os seus vinhos nas grandes superfícies e procuram que o preço não seja o factor principal na decisão de compra pelos seus parceiros e pelo consumidor final. Na definição do perfil deste vinho o enólogo Nuno Elias dá primazia à fruta em detrimento de estrutura. A gama Selection fazem 120.000 garrafas de tinto, 47.000 de branco e 20.000 de rosé que em conjunto representam mais de metade da produção total de 320.000 garrafas.

O vinho Carlos Reynolds também consubstancia a entrada de gama para Reynolds Wine Growers. Fazem 50.000 garrafas que representam 25% da produção. Segundo o enólogo Nelson Martins, pretende-se um vinho menos estruturado, com mais frescura e pureza de fruta.

O objectivo do projecto Bojador de Pedro Ribeiro é mostrar a elegância e autenticidade do terroir da Vidigueira, onde trabalha vinhas velhas em viticultura biológica. Começou pequeno e cresceu nos últimos anos, chegando a quase 400.000 garrafas, onde o entrada de gama representa cerca de 50%.

Mas quais são os factores que contribuem significativamente para que o vinho de qualidade possa ser acessível em termos de preço?

Uma viticultura com contas

A orografia relativamente plana do Alentejo e extensão de vinhas oferecem possibilidade de mecanização o que reduz o custo de produção. O clima quente e seco durante a maturação e vindima minimiza a carga de doenças na vinha. Não é por acaso que o Alentejo tem a segunda maior área de vinha em agricultura biológica (a seguir a Trás-os-Montes) com 991 hectares, o que corresponde a 28% da área de vinha em produção biológica em Portugal continental (de acordo com os dados mais recentes da Direcção de Agricultura e Desenvolvimento Rural).

Alguns produtores fazem a diferenciação logo na vinha, por castas e por parcelas. E não limitam tanto a produção, como para os vinhos de gama alta, procurando um compromisso entre várias componentes que contribuem para o produto final.

Eduardo Cardeal confirma que as produções por hectare são maiores, a monda dos cachos, se for necessária, é muito reduzida. Fazem segmentação na vinha, não é tanto em função da casta, como das parcelas. Uma parcela de Touriga Nacional produz 10 tn/ha e outra 5 tn/ha.

Nelson Martins também refere que “a vinha é trabalhada de maneira diferente. Por exemplo, em vez de limitar a produção de Alicante Bouschet ou Alfrocheiro a 4-5 tn/ha, deixam produzir até 7 tn/ha. Desta forma, as uvas também conservam mais acidez, o que é bom para vinhos gastronómicos”.

Nuno Elias tem opinião semelhante, ao dizer que a mesma casta em talhões diferentes pode ter produtividade e características bem distintas. Por exemplo, o Alicante Bouschet que entra no lote do Pousio Selection não é o mesmo que serve de base ao monovarietal.

Na Herdade das Servas a selecção de castas é feita em função do perfil de vinho desenhado para esta gama. Pretende-se alguma complexidade e tem que se sentir o contributo de cada casta. “Propositadamente utilizamos Cabernet Sauvignon e Trincadeira para transmitir alguma sensação vegetal para o vinho ser mais gastronómico, não apenas frutado. Alicante Bouschet para dar complexidade e Touriga Nacional para transmitir uma fruta mais fresca e boa acidez. A Touriga nunca entra na gama mais baixa”, repara Ricardo Constantino.

No caso da HMR a abordagem é diferente. “As castas seleccionadas para esta gama são menos taninosas e com boa fruta, como Alicante Bouschet, Syrah e Touriga Nacional. Por exemplo o Cabernet Sauvignon ou Petit Verdot não entram nesta gama”, explica Nuno Elias.

Cuidados na adega

Há várias formas de fazer vinho para atingir um equilíbrio entre custos de produção, qualidade do produto e preço moderado para consumidor. Os produtores com quem falámos, de um modo geral, têm cuidado com extracção, preferem uma maceração pré-fermentativa a frio, evitando a pós-fermentativa num ambiente mais extractivo por causa do álcool. Nuno Elias até prefere prensar logo quando acaba a fermentação para não extrair tanino em demasia.

As temperaturas de fermentação são geralmente mais baixas (22-25˚C) para não elevar a extracção de compostos fenólicos e realçar o componente frutado no aroma.

Na Reynolds, Nelson Martins presta especial atenção às leveduras e para os vinhos mais jovens, prefere as leveduras que aportam mais fruta. No início não usam Saccharomyces, adicionando-as para finalizar a fermentação e não deixar açúcar residual.

Pedro Ribeiro, pelo contrário, fermenta com leveduras indígenas e é apologista de enologia de intervenção mínima em termos de utilização de produtos enológicos. Porque o projecto nasceu pequeno, apenas 100.000 garrafas e a filosofia era esta. Hoje, quando o volume aumentou significativamente, é um risco assumido, sabendo que não pode continuar a crescer em volume para manter a filosofia.

Eduardo Cardeal, na Herdade da Calada, recorre à maceração carbónica das castas “com aromas primários clássicos – Touriga Nacional, Syrah, Touriga Franca, Alfrocheiro. Mas não faz o mesmo com a Tinta Caiada, por ter precursores de pirazina.”

Nuno Elias não faz maceração carbónica, mas coloca algumas camadas de bagos inteiros (depende de colheita e da maturação), o que impede contacto inicial com grainhas e películas e promove alguma fermentação intracelular para libertar os precursores aromáticos sem extrair tanino.

Obviamente, nesta faixa de preço há muitos vinhos que não estagiam em madeira. Também se utilizam madeiras alternativas, como aduelas, por exemplo, que são mais aproximadas às barricas pela sua grossura, comparativamente aos chips/aparas. O estágio em barricas, quando é praticado, ocorre em barricas usadas, onde às vezes estagia apenas uma parte do lote.

Segundo Eduardo Cardeal “a amortização de preço já foi feita nos vinhos de topos de gama.” Por isso o Caladessa estagia 12 meses em barricas usadas.

Na Adega de Borba existe um parque de 1.200 barricas; as novas destinam-se aos vinhos premium, as usadas servem para gama média, como é o caso do Senses Syrah que estagia 9 meses em barrica de carvalho. Existem regras internas para a reutilização das barricas, normalmente durante 7 anos.

Na Reynolds Wine Growers, para o estágio de vinhos mais jovens utilizam balseiros de carvalho de 10.000 litros que também não representam custo, nem marcam o vinho.

Na HMR, nos vinhos de entrada 80% do lote não vê barrica, mas no final engloba cerca de 20% de vinhos que estagiaram em barrica para reserva.

Pedro Ribeiro fermenta em cubas de cimento e balseiros de madeira, depois estagia 6 meses em barricas usadas de 500 litros para dar uma boa textura e não marcar muito o vinho.

Na Herdade das Servas para os vinhos de gama média prevêem um estágio bastante prolongado: um ano em barrica, mais um ano ou ano e meio em cuba para manter frescura e mais 6-8 meses em garrafa antes de lançar para o mercado.

Óscar Gato toca mais num aspecto importante que tem certo peso no PVP – os atributos do produto final que não têm a ver com a qualidade do mesmo, como é o caso das garrafas e dos rótulos. “Podíamos fazer uma garrafa ‘xpto’ com um rótulo pujante, mas nós escolhemos garrafas mais leves, ligeiramente troncocónicas e um rótulo adequado.”

É entusiasmante ver esta diversidade de abordagens e estilos, bom senso a par com alguns desafios pelo meio. O resultado está à vista: eleva-se a fasquia do “bom e barato” para “muito bom e acessível”.

Não foram encontrados produtos correspondentes à sua pesquisa.

Artigo da edição nº37, Maio 2020

[ADIADO]Prova e colóquio “Os tintos do futuro na região dos Vinhos Verdes”

ADIADO PARA 26 DE MAIO, NO MESMO LOCAL, EM VIRTUDE DOS ÚLTIMOS DESENVOLVIMENTOS DO COVID-19 Será na Casa do Vinho Verde (sede da CVRVV) que acontecerá a prova e o colóquio organizados pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes em parceria com a Grandes Escolhas. Sob o tema “Os tintos do futuro na […]

ADIADO PARA 26 DE MAIO, NO MESMO LOCAL, EM VIRTUDE DOS ÚLTIMOS DESENVOLVIMENTOS DO COVID-19

Será na Casa do Vinho Verde (sede da CVRVV) que acontecerá a prova e o colóquio organizados pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes em parceria com a Grandes Escolhas. Sob o tema “Os tintos do futuro na região dos Vinhos Verdes”, Luís Lopes, director da revista Grandes Escolhas, orientará uma prova de trinta vinhos desta região e de outras, como Rias Baixas, Ribeiro e Ribeira Sacra . De seguida, no colóquio em mesa redonda, Luís Lopes e os enólogos Frederico Falcão, Anselmo Mendes e António Ventura – que apoiarão o crítico também na prova – discutirão, com a contribuição dos participantes, assuntos como as castas, perfis de vinho, quais devem ser os tintos do futuro na região, e outros.

Programa

09:00 – Recepção dos participantes
09:30 – Dos tintos que produzimos para os tintos que queremos – Manuel Pinheiro (Presidente CVRVV)
10:15 – Prova comentada de vinhos. Mesa redonda com Luís Lopes, Frederico Falcão, Anselmo Mendes e António Ventura
13:30 – Almoço

Duração: 4h

Inscrições aqui.

Valor e modo de pagamento: €50 (inclui o almoço e a prova dos 30 vinhos). A inscrição é aceite após o pagamento para o NIB PT50 0007 0410 00611980005 21.

Prova e colóquio “Os tintos do futuro na região dos Vinhos Verdes”

Será na Casa do Vinho Verde, no dia 1 de Abril, que acontecerá a prova e o colóquio organizados pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes em parceria com a Grandes Escolhas. Sob o tema “Os tintos do futuro na região dos Vinhos Verdes”, Luís Lopes, director da revista Grandes Escolhas, orientará uma […]

Será na Casa do Vinho Verde, no dia 1 de Abril, que acontecerá a prova e o colóquio organizados pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes em parceria com a Grandes Escolhas. Sob o tema “Os tintos do futuro na região dos Vinhos Verdes”, Luís Lopes, director da revista Grandes Escolhas, orientará uma prova de trinta vinhos desta região e de outras, como Rias Baixas, Ribeiro e Ribeira Sacra . De seguida, no colóquio em mesa redonda, Luís Lopes e os enólogos Frederico Falcão, Anselmo Mendes e António Ventura – que apoiarão o crítico também na prova – discutirão, com a contribuição dos participantes, assuntos como as castas, perfis de vinho, quais devem ser os tintos do futuro na região, e outros.

Programa

09:00 – Recepção dos participantes
09:30 – Dos tintos que produzimos para os tintos que queremos – Manuel Pinheiro (Presidente CVRVV)
10:15 – Prova comentada de vinhos. Mesa redonda com Luís Lopes, Frederico Falcão, Anselmo Mendes e António Ventura
13:30 – Almoço

Duração: 4h

Inscrições aqui.

Valor e modo de pagamento: €50 (inclui o almoço e a prova dos 30 vinhos). A inscrição é aceite após o pagamento para o NIB PT50 0007 0410 00611980005 21.

O Melhor do Alentejo: 57 tintos apaixonantes

Provar mais de meia centena de tintos alentejanos de topo é depararmo-nos com um conjunto de vinhos de grande categoria, espelhando conceitos e perfis muito distintos. Entre estilos mais “clássicos” e outros mais “modernos”, o Alentejo é todo um mundo onde a qualidade é o denominador comum. TEXTO Mariana Lopes            […]

Provar mais de meia centena de tintos alentejanos de topo é depararmo-nos com um conjunto de vinhos de grande categoria, espelhando conceitos e perfis muito distintos. Entre estilos mais “clássicos” e outros mais “modernos”, o Alentejo é todo um mundo onde a qualidade é o denominador comum.

TEXTO Mariana Lopes                               FOTOS Mário Cerdeira

O Alentejo tem muitas faces. É como se fosse um prisma que refracta a luz, originando várias cores. A sua multiplicidade de solos, castas, climas e até de conceitos, tornam-no numa região muito rica, apaixonante, diversa, e que transpõe tudo isso para os seus vinhos. Fazer uma prova como esta, de quase 60 tintos do mesmo segmento, já não é um “gira o disco e toca o mesmo”, como seria há uma dezena de anos. São todos diferentes, mesmo que a identidade regional esteja quase sempre presente.
Há duas coisas muito interessantes numa Grande Prova, as curiosas conclusões a que se chega, por comparação, e as várias opiniões, por vezes completamente díspares, das pessoas com quem se fala, quer sejam enólogos ou administradores das empresas. E indagar sobre o que estes pensam sobre as tais conclusões, é ainda mais divertido. Mas vejamos o que se espremeu de tudo isto. Em primeiro lugar, o Alicante Bouschet tem cada vez mais domínio nos lotes, e até em estreme. Mas apesar de uma certa rusticidade habitual na casta, os vinhos que a comportam mostraram-se elegantes, com essa rusticidade bem domada. Pedro Baptista, enólogo da Fundação Eugénio de Almeida e criador de um dos três vinhos melhor classificados na prova, o Scala Coeli Alicante Bouschet, explica que esta casta “acaba por ser muito interessante e importante no Alentejo porque guarda muito bem a acidez, sobretudo na fase de maturação fenólica. Este Scala Coeli, por exemplo, já foi vindimado perto do início de Outubro”, e acrescenta que “por outro lado, esta personalidade de bosque que o Alicante tem, faz dele um vinho muito apelativo”. Quanto à domesticação da rusticidade, afirma que “tem que ver com o momento da vindima e com o saber esperar pelo ponto ideal dos taninos, e para isso é preciso sensibilidade. Além disto, com rigor controlado na produção e solos menos ricos, ele consegue dar a concentração que procuramos, mas também o equilíbrio correcto”.

Já Hamilton Reis, enólogo de Cortes de Cima e de outro dos vencedores da prova, o Cortes de Cima Reserva, concorda com a necessidade de ser controlado na vinha, de forma a produzir menos, mas tem outra convicção quanto à “meiguice” da casta: “O Alicante é uma casta tramada, não é simples como as pessoas dizem. Produz de forma desmesurada e, para ter a identidade que queremos dele, necessita de ter produções menores, entre 7 e 8 toneladas por hectare. Se o deixarmos à solta, pode chegar facilmente às 15”. Na adega, diz ser “um erro extraí-lo demais, porque fica com os tais taninos rústicos. Com maturações delicadas e bem pensadas, e vinificação com engaço, por exemplo, funciona muito bem. É preferível usar um pouco de engaço e acalmar nas maturações. Em vinhas novas, também é difícil obter equilíbrio, tem de ser de uma vinha com alguns anos, para se domesticar a ele próprio. O mesmo acontece com a Touriga Franca”, desenvolveu. Susana Esteban, autora do Procura Vinhas Velhas e também consultora no Monte da Raposinha (produtor do Furtiva Lagrima, que é um 100% Alicante Bouschet), tem uma teoria para esta “tendência”. “O Alicante sempre esteve muito presente nos topos de gama do Alentejo, a questão é que cada vez se fazem melhores vinhos, então há mais com Alicante”. E adiantou que “para o domar, utilizo madeira porque acho que precisa dela, mas com cuidado e, na vinificação, vou mantendo muita atenção à maceração, fazendo uma extracção adequada a cada ano”. Para Luís Patrão, enólogo da Herdade de Coelheiros desde 2016 (o Tapada de Coelheiros Garrafeira ficou no pódio desta prova), é tudo uma questão de identidade. “O Alentejo está a entrar numa nova era, à procura da sua identidade. Neste novo tempo, a identidade para o Alentejo será o Alicante Bouschet. Ele destaca-nos das outras regiões e, talvez por isso, seja essa a tendência”, afirmou. “No caso de Coelheiros, tínhamos muito pouco Alicante mas, agora que eu e esta equipa entrámos, passará a ser a dominante nos vinhos. Terá de ser domesticada através de uma boa viticultura, até de uma condução diferente na vinha. Um factor muito importante é o estágio de barrica e também o de garrafa. É uma casta relativamente neutra de aroma e ganha muito com o estágio em garrafa, onde os terciários começam a aparecer. É isso que a torna não especial”.

Fluxo de imigração

Se se nota bem a predominância de Alicante Bouschet, também é verdade que castas ditas mais recentes, ou menos tradicionais no Alentejo, desempenham um papel considerável nos lotes da região. A Touriga Nacional, por sua vez, é um bom exemplo disso. É aqui que surge a “velha-nova” questão: a sua presença desvirtua, ou não, o carácter alentejano? Afecta, ou não, a sua expressão? É certo e sabido que esta “top model”, como a apelidou Luís Lopes em editorial antigo, chama a atenção onde quer que esteja, polvilhando notas florais expressivas e por vezes cítricas no aroma dos vinhos, mas será que arrebata sempre tudo o que as outras castas conferem, matando assim um sentido de lugar? Luís Cabral de Almeida, enólogo da Herdade do Peso (Sogrape) e do vinho Essência do Peso, é seguro nas suas palavras: “Eu vou contra a opinião da maior parte dos meus colegas. A Touriga Nacional não é diferente do Cabernet no que toca a marcação, por exemplo. Mas claro, tem de ser utilizada com medida. A preocupação é engarrafar vinhos com carácter regional, obviamente, mas é possível tê-lo com essas castas. No nosso caso, estamos muito contentes com a Touriga Nacional. É de ciclo longo e permite-nos garantir acidez. Na nossa zona, confere um carácter arbustivo e não floral, sempre com elegância de taninos, dando prolongamento em boca. Hamilton Reis concorda, e reforça, dizendo que “no nosso Reserva nunca passei sem ela, embora variando na quantidade. Na sua vertente mais fresca, elegante e precisa, a Touriga Nacional entrega ao meu vinho finesse. Nunca deixamos transparecer a expressão da casta propriamente dita, apenas a sua elegância. A Syrah, por exemplo e também neste vinho, também costuma marcar bastante, mas nós não deixamos que comande. Apenas consentimos que o Aragonez comande. É o piloto aromático do vinho. Para mim, a Touriga Nacional não desvirtua, principalmente se usarmos uma que sabemos ser apropriada para um determinado lote, que nem todas são. Uso-a apenas como casamenteira, agregadora de lote”. Na óptica do produtor, Duarte Leal da Costa, da Ervideira, está convicto das vantagens da casta no Alentejo, atestando que “sou favorável a castas novas que já comprovaram melhorar os vinhos do Alentejo. Se for apenas para ter diferente, como o caso do Pinot Noir, não fazem falta nenhuma. Se a Touriga Nacional veio dar coisas boas aos lotes, como o Alvarinho também o fez, sou completamente a favor. Não é uma monocasta para o Alentejo, mas em lote, sim”. Usando do princípio do contraditório, temos Luís Patrão e Pedro Baptista. O primeiro, refere que a Touriga Nacional “afecta e retira um bocadinho de identidade. Ela domina, é assertiva no nariz. É importante no Alentejo para fazer vinhos de entrada, mais jovens, por exemplo. Mas para um público que procura diferenciação, não”, e acrescenta que “há quatro ou cinco anos, a Touriga estava em todos os lotes, caiu-se no exagero. Em sobrematuração, é tudo menos elegante, entra nas compotas. No Alentejo central, é difícil”. Pedro Baptista, na mesma linha de pensamento, retorque que “a Touriga Nacional talvez seja, das mais recentes, com que temos de ter mais cuidado na utilização nos lotes. É importante salvaguardarmos que as características mais importantes dos vinhos alentejanos estejam lá. No entanto, se houver um controle efectivo, e até institucional, sobre isso, tudo tem lugar”.

Moderno vs. Clássico

Esta questão das castas recentes e das antigas, leva imediatamente a outra. São bem evidentes dois estilos base nos vinhos do Alentejo, um mais moderno, assente na pureza de fruta, onde a Touriga Nacional (e a Syrah) muitas vezes tem um papel, e outro mais clássico, no qual predominam notas balsâmicas, resinas, vegetal seco, especiarias. Seria de esperar que os produtores e os enólogos se identificassem mais com um ou com outro, mas isso acontece com poucos. Hamilton Reis e Duarte Leal da Costa são os únicos com uma preferência clara. “O estilo clássico é o que me diz mais, mas na Cortes de cima faço os dois e no mesmo segmento, dos topos de gama. O Reserva é mais clássico e o Incógnito mais moderno”, diz Hamilton. Duarte Leal da Costa é mais radical: “O nosso estilo é mais o da elegância. O problema dos clássicos poderosos é que ao primeiro copo dizemos ‘uau!’ e ao terceiro estamos enjoados”. Uffa, esta foi forte. Mas ninguém podia ter feito da Ervideira o que ela é hoje sem esta franqueza e pragmatismo. Pedro Baptista fala do caso da Fundação Eugénio de Almeida, e expõe que “sendo o Cartuxa que define a casa, será o estilo mais clássico a prevalecer. Mas quando falamos do Scala Coeli, que tentamos que seja símbolo de vitalidade e de outras interpretações da uva, depende da casta que escolhemos em cada ano. Gosto dos dois estilos porque é uma questão de enquadramento. A minha base, e onde me sinto melhor, é a trabalhar a pureza da fruta e o que ela nos dá”. Luís Patrão também toca nos dois estilos, fazendo essa diferenciação entre gamas. “Acho que há espaço para os dois e gosto dos dois”, declara.

A importância do equilíbrio

Praticamente todos os vinhos da prova têm um grau alcoólico de elevado a bastante elevado. Muitos com 14,5%, alguns com 15% e até dois com 16%. Mas o que é surpreendente é a frescura transversal a todos estes tintos, mesmo com evidentes maturações. Para Susana Esteban, é o factor “serra” que lhe dá o equilíbrio. “No meu caso, é o terroir, a serra de São Mamede, e isso foi o que me cativou nela. São solos de granito, o que também contribui em muito para a frescura deste Procura Vinhas Velhas”, explicou. Luis Cabral de Almeida toca num ponto em que todos estão de acordo, a viticultura: “Cada vez temos melhor viticultura. O grande desafio do Alentejo é mostrar que se fazem vinhos de alto nível e de grande equilíbrio, e isso está a conseguir-se agora. O negócio de vinho barato no Alentejo está a desaparecer, porque já todos percebemos que temos de trabalhar muito perto da vinha e vindimar na altura certa, sobretudo. Antigamente, nesta região, estava tudo vendido à partida, não se pensava como agora. Hoje, os produtores e enólogos têm de se virar para dentro da vinha, perceber o que lá há e o que é preciso fazer para produzir vinhos mais caros, e isso são vinhos que têm obrigatoriamente de ter grande equilíbrio. No Alentejo, dois dias de atraso na colheita podem significar um desequilíbrio total”. Pedro Baptista fala de exposição solar e da sua experiência no biológico (a FEA tem 160 hectares em produção bio, 35 dos quais certificados), defendendo que “o álcool no Alentejo é sempre um assunto presente. Fazer vinhos que atinjam um grau de maturação completo sem álcool elevado é muito difícil. Mas a questão aqui é o equilíbrio ácido. Por exemplo, neste Alicante do Scala Coeli (talhão bio) há uma exposição Norte que o protege do excesso de calor, e isso conta muito. Se tivermos condições de solo, exposição, castas, e um bom equilíbrio entre a área foliar e a quantidade de fruta, está aqui a resposta. E outro factor: pela minha experiência de 12 anos no biológico, já constatei que a percepção de acidez é muito diferente nesse modo de produção. A percepção de acidez e frescura é mais directa, mais óbvia, mais limpa”. Hamilton Reis, por sua vez, desmistifica o conceito de frescura, e afirma que “tem a ver com os taninos, se forem bem trabalhados, dão frescura ao vinho. As pessoas muitas vezes confundem tanino com acidez do vinho. Os taninos bem casados entregam muita frescura e reactividade de boca. Daí o engaço ser tão interessante para o Alicante. Engaço bem maduro, claro”. A fugir da tendência, e como não poderia deixar de ser, está o Conde d’Evideira Private Selection, com apenas 13%. Na prova, ficou ao lado de grandes vinhos com álcool bem mais elevado. A isso, Duarte Leal da Costa responde que “apenas é preciso saber trabalhar. Na Ervideira, em finais de Julho, começamos a fazer o gráfico de evolução da maturação das uvas. Temos capacidade de vindima e de vinificação, então podemos controlar tudo, e quando entendemos que as uvas estão no ponto ideal de maturação, ordenamos a colheita ao campo. Não é o que o campo manda, mas o que a adega manda por análise do que se passa no campo”.

Além do factor “F”, de frescura, temos o factor “M”. Nestes topos de gama, é cada vez mais reduzida a percepção de madeira, isto é notável, principalmente se tivermos em conta o segmento de preço e que praticamente todos a têm. Luís Patrão justifica: “O Alentejo, nesta nova fase, percebeu que o exagero não era o caminho. A procura é cada vez mais pelo que vem da vinha, com discrição no uso da madeira. Todos os meus vinhos passam por madeira, em todas as regiões em que trabalho, mas esta nunca se sente. Hoje, a aposta de Coelheiros é nos foudres. Quando tive de renovar o parque de barricas desta casa, foi a melhor forma que encontrei, os formatos grandes, fazendo também estágios longos”. Hamilton Reis fala de um “shift” na maneira de operar das tanoarias e algo que muitas vezes é esquecido: a higiene. “Essa tem sido a evolução do paradigma dos vinhos, até a nível nacional. A madeira é cada vez mais para entregar complexidade, profundidade e reactividade. Consegue-se com menos carvalho novo, muito menos americano do que no passado e tempos de contacto com as barricas muito menores. Existem tanoarias, bosques e tostas cada vez mais adequados aos dias de hoje. Temperaturas também muito mais controladas e baixas, o que dá muito menos impacto aromático de barrica. Todos nós temos vindo a baixar a percentagem de madeira e também a higienizar muito mais as madeiras”, expõe. Luís Cabral de Almeida passou a utilizar tonéis, e apenas utiliza barricas para o Syrah, porque “os 3000 litros não estragam o sentido de origem, mas dão estrutura. O tonel respeita o que queremos engarrafar, os taninos e a acidez da uva, e não interfere, apenas ajuda a amadurecer. O Essência do Peso é o primeiro a ser lançado estagiado nos tonéis (a parte do Alicante Bouschet)”. Pedro Baptista reforça a importância das tostas, “estamos a trabalhar com tostas longas, ditas borgonhesas, mais suaves. Por vezes, fazemos alguma bâtonnage nos tintos, o que também permite essa melhor integração. Há um respeito pelo vinho muito grande”.

Todos os enólogos e produtores têm um input útil e relevante a dar, sobre todas estas matérias e mais algumas. Pudesse-se entrevistar todos os da região, ficaríamos completos, retirando o melhor de cada contribuição. Quase como uma geringonça do vinho, em bom. Talvez um dia.
O Alentejo é o perfeito exemplo da dispersão cromática, um autêntico arco-íris na sua diversidade e qualidade. Estes 57 tintos topos de gama são a prova disso. Infeliz aquele que pensar o contrário.

Nota: A disposição dos vinhos encontra-se aleatória.

Edição n.º32, Dezembro 2019

Top Touriga Nacional | Maio 2019

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Porque uma Boa Escolha dá sempre um grande gozo, aqui ficam 7 tintos provados em Maio que mereceram o nosso selo Boa Escolha 2019.

São 7 Boas Escolhas da casta maravilha – Touriga Nacional!

*Selo atribuído aos vinhos com a melhor relação preço/qualidade.

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Veja mais em Pesquisa de Vinhos

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Lisboa e os seus tintos

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[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]De Colares a Leiria estamos na região de Lisboa. Os seus melhores tintos procuram agora afirmar-se como referências, deixando para trás o paradigma que durante muitos anos esteve associado à região: granel e vinhos baratos. Numa Lisboa com evidente diversidade, o potencial para a grandeza está lá e começa a ser descoberto pelos apreciadores.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga

Fazer uma prova de vinhos tintos da região de Lisboa, outrora conhecida com Estremadura, resulta num encontro entre mundos diferentes, entre passado e futuro. A região é demasiado extensa para poder ser considerada uma unidade territorial com pontos de contacto a unir as várias zonas que a integram. Quando se fez a demarcação da região em sub-regiões terá sido esta diversidade que esteve na mente do legislador, para além das rivalidades regionais. Criaram-se então múltiplas sub-regiões com identidade e uniformidade próprias. Para além das clássicas e antigas regiões à volta da cidade de Lisboa (Colares, Bucelas e Carcavelos), a região desdobrou-se depois em várias sub-regiões: Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Óbidos, Encostas d’Aire, Lourinhã e Alta Estremadura.
De tão vasta região chegam vinhos tão diferentes que vão dos antigos e famosos vinhos de Colares, Bucelas e Carcavelos até ao Vinho Leve e às aguardentes da Lourinhã. Mas, apesar das várias sub-regiões, a região de Lisboa é sobretudo produtora de vinhos com a indicação Vinho Regional. Esta categoria é bem mais maleável em termos de castas e procedimentos e terá sido essa a razão que levou a maioria dos produtores a adoptarem esta designação e não a DOC (Denominação de Origem Controlada), o que é evidente nos vinhos provados: para além de dois vinhos de Colares, somente três pertencem à denominação Óbidos; das outras sub-regiões não chegaram representantes à nossa mesa.
A região como um todo continua muito ligada à produção de vinho a granel, mas agora é possível exportar vinho a granel com Indicação Geográfica (IG) e engarrafada no destinatário com supervisão da CVR. Mesmo no mercado interno é normal que circule vinho entre regiões, uma vez que a designação Vinho Regional autoriza que 15% do lote seja de fora da região. Para António Ventura, enólogo com larga experiência na região, Lisboa tem de “fazer melhor e subir preços médios, porque é muito mau para a região que ela esteja colada ao estigma de vinhos baratos, ainda que muito bons”. O crescimento das exportações tem sido constante e, ainda segundo Ventura, os provadores e wine writers internacionais que provam os vinhos acham escandalosamente baixos os preços a que são oferecidos no mercado externo. Assim sendo, há que cambiar o paradigma da região: em vez de ser terra sobretudo produtora de “vinhos de entrada de gama”, há que mostrar valor acrescentado nos vinhos e subir preços.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Uma região e tanto” title_align=”separator_align_left” align=”align_left”][vc_column_text]Lisboa é terra de vinho. Segundo dados do IVV, a região de Lisboa teria, em 2017, 18.641 hectares (ha) de vinha. Destes, apenas 1.041 estão inscritos para a produção de vinhos com direito a DOC e 7.255 para a produção de Vinho Regional. O site da CVR tem números diferentes, especialmente no total, referindo mais de 30.000ha! No site referem-se ainda as antigas e clássicas regiões à volta de Lisboa: 17ha em Colares, 10 em Carcavelos e 142 em Bucelas. Por outro lado, a região da Lourinhã, onde só as aguardentes têm direito à Denominação de Origem, integra 50ha de vinhas. Em 2018 (ainda sem números definitivos) a região chegará aos 100 milhões de litros produzidos e aos 50 milhões de garrafas, com um aumento significativo de 18% em relação a 2017. Lisboa é, segundo Carlos Pereira da Fonseca, produtor e vogal da Direcção da CVR, a segunda região que mais produz a seguir ao Douro e a que mais exporta, absorvendo o mercado externo cerca de 80% da produção. Outrora bem mais numerosas, as adegas cooperativas em laboração, são actualmente nove, contando-se alguns gigantes, como S. Mamede da Ventosa, Azueira ou Labrujeira; outras bem pequenas, como Alcobaça, Batalha, Cadaval ou Vermelha; e duas de média dimensão, Dois Portos e Carvoeira.
J.P.M.[/vc_column_text][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”34079″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Mudar ou conservar?
A região teve inicialmente de repensar os seus encepamentos quando criou as denominações de origem. Muitas das castas estavam vocacionadas para a produção excessiva, contando sobretudo a quantidade em detrimento da qualidade. Basta uma vista de olhos na listagem de castas autorizadas na região, sobretudo para a produção de Vinho Regional, para se perceber que é quase tudo possível, mas que estamos perante uma ficção: a maioria das castas não existe ou está em extinção e são as novas castas, muitas delas internacionais ou vindas de outras regiões nacionais, que acabaram por vingar.
No caso dos tintos será que alguém se arrisca a colocar no mercado um tinto de lote com a participação das variedades Amostrinha, Cabinda, Preto Cardana e Tintinha? E, mesmo que se disponha a isso, encontrará plantas para iniciar o projecto? Ao lado destas castas que hoje não têm mais do que um interesse meramente ampelográfico, chegaram à região as variedades que hoje todos plantam: Syrah, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Caladoc e, em algumas zonas, Pinot Noir.
O perfil está assim a mudar, ainda que castas como o Castelão devam ser mantidas. É essa a opinião de Sandra Tavares da Silva, enóloga em Chocapalha, onde mantém cerca de 7ha de Castelão, agora com 30 anos. Já em relação à Tinta Miúda, decidiram “arrancar porque apodrecia facilmente”, mas em relação a outras tiveram de “ter paciência, porque a Touriga Franca, por exemplo, só agora com 15 anos de idade é que começou a mostrar o que vale e o Alicante Bouschet funciona muito bem, mas somente nas vinhas velhas”.
Também António Ventura vem em defesa do Castelão, que vê como “casta altamente diferenciadora e que merece continuar a fazer parte dos encepamentos”: “A Tinta Miúda, outrora tão vulgar em Arruda, precisa de condições especiais de calor para se dar bem, mas era uma boa casta. Já a Caladoc, cada vez mais vulgar, parece-me ser casta que não acrescenta qualquer valor aos vinhos da região; para além de produzir muito, é bastante atípica e favorece apenas os vinhos de entrada de gama. Das novas que aqui chegaram, sem dúvida que a Syrah foi a que melhor se mostrou e essa é para continuar, mas a aposta deverá ser sobretudo nas castas portuguesas, já que é daí que vem a diferenciação”, disse.
Os pontos fortes da região de Lisboa são conhecidos e sublinhados por Sandra: uma frescura muito grande nos mostos, quer brancos quer tintos, maturações fenólicas mais integradas, acidez bem equilibrada. Os tintos são estáveis e com boa longevidade, todos beneficiando do clima ameno e das maturações prolongadas, tão habituais na região que levam a que as vindimas se estendam bem mais no tempo do que em outras zonas do país.
Por vezes mais referida como região de brancos, Lisboa tem excelentes condições para os tintos e disso foi prova este conjunto de vinhos agora provados. Cá continuam os originais e “fora do baralho” tintos de Colares, que são sempre vinhos que precisam de ser enquadrados para melhor serem apreciados. Os estilos possíveis são muitos, as combinações de castas também. Tudo a favor de tintos com grande aptidão gastronómica e boa capacidade para resistir à cave e ao tempo.
Muito há ainda por fazer e por mudar (a começar pelo website da CVR Lisboa, assustadoramente desactualizado, até na imagem que dá da região), mas o potencial, natural e humano, está todo lá.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº21, Janeiro 2019

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Monte Xisto: a ciência encontra a tradição

O Cais Novo, no Porto, foi o sítio ideal para o lançamento de um vinho com o selo Nicolau de Almeida. Debaixo de abóbadas de pedra maciça que encerram em si tempos idílicos, conhecemos o Quinta do Monte Xisto tinto 2015.   TEXTO Mariana Lopes NOTA DE PROVA Luís Lopes FOTOS Anabela Trindade “O nascimento […]

O Cais Novo, no Porto, foi o sítio ideal para o lançamento de um vinho com o selo Nicolau de Almeida. Debaixo de abóbadas de pedra maciça que encerram em si tempos idílicos, conhecemos o Quinta do Monte Xisto tinto 2015.

 

TEXTO Mariana Lopes NOTA DE PROVA Luís Lopes FOTOS Anabela Trindade

“O nascimento do nosso vinho é como a eleição do Papa: fechamo-nos todos numa sala e, se sair fumo branco, vamos em frente!” As palavras de João Nicolau de Almeida descortinam a seriedade que a sua família coloca em cada projecto, desde a criação do grande Barca Velha, pelo seu pai Fernando Nicolau de Almeida, passando pela enologia e administração da Casa Ramos Pinto pelo próprio, até à Quinta do Monte Xisto, criação conjunta com a sua esposa os seus três filhos. Este “fumo branco” refere-se à nova colheita, 2015, do tinto Quinta do Monte Xisto, quinto da sua linhagem, lançado agora para o mercado.

Os 40 hectares da Quinta do Monte Xisto começaram a ganhar forma em 1993, mas só em 2004 se encetava o processo de plantação dos 10 hectares de vinha da propriedade. Numa grande mancha de cereal em Vila Nova de Foz Côa, no Douro Superior, o solo era virgem e pronto para explorar. Por esta altura, os filhos de João Nicolau de Almeida, Mateus e João, estavam prestes a acabar os estudos em enologia e viticultura e foram, desde logo, incluídos no seu desafio: plantar as vinhas em altitude (entre 200 e 300 metros), numa área bastante reduzida. A filha Mafalda, por sua vez, assumiu a comunicação e a imagem do projecto.

Dizer que foi fácil seria mentir. O patriarca vinha com o seu próprio método e com o hábito de muitos anos e de umas quantas revoluções vitivinícolas na região do Douro, e os filhos frescos e com novas abordagens… mas a convergência era inevitável. “Algumas coisas foram feitas às minhas escondidas!”, confessou João Nicolau de Almeida em tom de brincadeira e, simultaneamente, de ternura. Imediatamente, Mateus repeliu: “É verdade, mas o meu pai sempre se interessou pela descoberta de novas aproximações à vinha. É muito gira, esta constante procura.”

Esta relação tão especial, entre eles e com a própria vinha, levou-os a enveredar pelo regime biológico com princípios de biodinâmica. “Quanto mais tempo passamos na vinha, melhor percebemos o que ela quer”, explicou Mateus, enquanto mostrava fotografias das parcelas. A biodiversidade era óbvia nas imagens, com os tons de lilás e vermelho das flores a sobressaírem entre os verdes e castanhos das videiras.

O novo Quinta do Monte Xisto tinto 2015 é a expressão disto mesmo, da terra e das pessoas. De Touriga Nacional, Touriga Franca e um pouco de Sousão, o vinho foi fermentado em lagares com pisa muito leve. Referindo-se aos seus filhos, Mateus Nicolau de Almeida brincou: “Para este efeito utilizamos crianças, é mais barato, mais leve e levanta menos problemas”, e todos nos rimos. O estágio foi feito em barricas, por 18 meses, na cave de rocha e ferro, debaixo do chão. Pelo semblante francamente feliz e descontraído de João Nicolau de Almeida, percebemos a sua sensação de dever cumprido. “O que pretendemos aqui é aplicar a ciência aos valores tradicionais. Acho que, com este vinho, cumprimos o objectivo que tínhamos: um vinho firme, que se aguentasse muitos anos, fácil de beber mas que contivesse em si todos os bons atributos.” Acho que “mestre João” até foi modesto…