Um brinde aos vencedores do Concurso dos Vinhos de Lisboa

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Dois vinhos generosos, com a chancela Villa Oeiras, e duas aguardentes vínicas da Adega da Lourinhã recebem a Grande Medalha de Ouro da edição de 2025 do Concurso dos Vinhos de Lisboa. No âmbito dos vencedores da Medalha de Ouro, há 10 categorias a conhecer: Melhor Branco, Melhor Tinto, Melhor Rosé, Melhor Arinto, Melhor Vital, […]

Dois vinhos generosos, com a chancela Villa Oeiras, e duas aguardentes vínicas da Adega da Lourinhã recebem a Grande Medalha de Ouro da edição de 2025 do Concurso dos Vinhos de Lisboa. No âmbito dos vencedores da Medalha de Ouro, há 10 categorias a conhecer: Melhor Branco, Melhor Tinto, Melhor Rosé, Melhor Arinto, Melhor Vital, Melhor Leve Lisboa, Melhor Espumante, Melhor Vinho Generoso, Melhor Colheita Tardia e Melhor Aguardente Vínica. Destaque ainda para os quatro Top-5 divididos em brancos, tintos, Arinto e Leve Lisboa. Ao todo, foram distinguidas 45 referências vínicas entre as 150 provadas por um painel de críticos, especialistas e enólogos.

“Este é um concurso que mais uma vez posiciona e valoriza a qualidade, a consistência, a diversidade e a identidade dos Vinhos de Lisboa, uma das grandes regiões portuguesas, expressão de um carácter atlântico único, cada vez mais reconhecido em Portugal e nos principais mercados de exportação”, afirma Carlos Fonseca, Vogal da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, entidade promotora e organizadora deste desafio vínico.

A lista dos vencedores do concurso:

Grande Medalha de Ouro

Vinhos Generosos

Villa Oeiras Superior branco DOC Carcavelos (Melhor Vinho Generoso)

Villa Oeiras 12 Anos DOC Carcavelos 2010

Aguardentes Vínicas

Clássica 32ª Série Aguardente DOC Lourinhã XO (Melhor Aguardente Vínica)

Matriz Aguardente DOC Lourinhã XO

Top-5

Brancos

Adega da Vermelha Grande Reserva 2021 | Adega da Vermelha

Coragem Chardonnay 2024 | Vidigal Wines

Carlota A Imperatriz Sauvignon Blanc 2024 | QVBFG, Sociedade de Vinhos da Estremadura

Quinta das Cerejeiras Grande Reserva 2022 |Companhia Agrícola do Sanguinhal

Corrieira Juntos Arinto Chardonnay 2023 | Quinta da Corrieira Grande

Tintos

AdegaMãe Terroir 2016 | AdegaMãe

Vinhas do Lasso Garrafeira 2013 | Quinta do Pinto

Peripécia Merlot 2020 | Cerrado da Porta

Troviscal Grande Reserva 2018 | Cerrado da Porta

Adega da Vermelha Grande Reserva 2019 | Adega da Vermelha

Arintos

Quinta do Lagar Novo 2019 | TAG Wine

Carlota A Imperatriz 2021 | QVBFG, Sociedade de Vinhos da Estremadura

CH by Chocapalha 2021 | Casa Agrícola das Mimosas

Casa Santos Lima Oak Aged 6 Months 2023 | Casa Santos Lima

Casa Santos Lima 2023 | Casa Santos Lima

Leve Lisboa

Azulejo branco 2024 | Casa Santos Lima

Mirante branco | Adega Cooperativa da Carvoeira

Azulejo rosé 2024 | Casa Santos Lima

Solar da Marquesa branco 2024 | Casa Agrícola Horácio Nicolau

Félix Rocha branco 2023 | Félix Rocha

Medalha de Ouro

Brancos

Adega da Vermelha Grande Reserva 2021 (Melhor Branco) | Adega da Vermelha

Coragem Chardonnay 2024 | Vidigal Wines

Carlota A Imperatriz Sauvignon Blanc 2024 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura

Quinta das Cerejeiras Grande Reserva 2022 | Companhia Agrícola do Sanguinhal

Corrieira Juntos Arinto Chardonnay 2023 | Quinta da Corrieira Grande

Adega D’Arrocha Reserva Fernão Pires 2023 | Adega D’Arrocha

Quinta do Gradil Reserva 2018 | Quinta do Gradil

Carlota a Imperatriz Fernão Pires 2024 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura

Quinta do Lagar Novo 2019 (Melhor Arinto) | Quinta do Lagar Novo

Carlota A Imperatriz Arinto 2021 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura

CH by Chocapalha Arinto 2021 | Quinta de Chocapalha

Casa Santos Lima Arinto Oak Aged 6 Months 2023 | Casa Santos Lima

Empatia Superior Vital 2023 (Melhor Vital) | Adega da Labrugeira

Adega D’Arrocha Grande Escolha Vital 2023 | Adega D’Arrocha

Tintos

AdegaMãe Terroir 2016 (Melhor Tinto) | AdegaMãe

Vinhas do Lasso Garrafeira 2013 | Quinta do Pinto

Peripécia Merlot 2020 | Cerrado da Porta

Troviscal Grande Reserva 2018 | Cerrado da Porta

Adega da Vermelha Grande Reserva 2019 | Adega da Vermelha

Quinta do Pinto Reserva Touriga Nacional 2019 | Quinta do Pinto

Quinta de Chocapalha tinto 2020 | Quinta de Chocapalha

AdegaMãe Castelão 2021 | AdegaMãe

Reserva das Cortes Reserva tinto 2021 | Paço das Côrtes

Brutalis tinto 2020 | Vidigal Wines

Marquês de Lisboa Alicante Bouschet 2023 |

Chocapalha Vinha Mãe Tinto 2019 | Quinta de Chocapalha

Coragem Touriga Nacional 2021 | Vidigal Wines

Espumantes

Quinta Cerrado da Porta Grande Reserva Arinto 2015 (Melhor Espumante) | Cerrado da Porta

Quinta Cerrado da Porta Grande Reserva Chardonnay 2019 | Cerrado da Porta

Adega de São Mamede Reserva Branco 2022 | Adega de São Mamede

Colheitas Tardias

Quinta das Marés by Santa Bárbara 2021 (Melhor Colheita Tardia) | Lés a Lés

Generosos

Villa Oeiras 7 anos DOC Carcavelos | Município de Oeiras

 Aguardentes

Quinta do Rol VSOP Aguardente DOC Lourinhã | Quinta do Rol

Medalha de Prata

Romeira 2024 (Melhor Rosé) | Quinta da Romeira

Rua da Betesga Reserva Tinto 2020 | Adega Moor

Talismã Reserva Branco 2024 | Adega Cooperativa da Labrugeira

Casa Santos Lima Oak Aged 6 Months Chardonnay 2024 | Casa Santos Lima

Colossal Chardonnay 2024 | Casa Santos Lima

Casa Santos Lima Arinto 2023 | Adega Moor

Félix Rocha Arinto Reserva 2021 | Félix Rocha

A Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa engloba os Vinhos IGP Lisboa e as DOC de Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Óbidos, Encostas D’ Aire, Lourinhã, Carcavelos, Colares e Bucelas. Este território vitivinícola agrega 10 mil hectares de vinha certificada, o que se traduz em vendas anuais de 69 milhões de garrafas, com a exportação a registar os 80% para cerca de 100 países.

E se o vinho fosse menos caro nos restaurantes?

vinho

Esta é uma realidade comum, que tanto afeta o consumidor, como prejudica o consumo consciente e sustentado de vinho nos espaços de restauração. Mas, afinal, por que motivo o vinho é mais caro nos restaurantes? E mais importante ainda: poderá esta realidade ser diferente, sem comprometer a rentabilidade do negócio? Vamos explorar esta questão com […]

Esta é uma realidade comum, que tanto afeta o consumidor, como prejudica o consumo consciente e sustentado de vinho nos espaços de restauração. Mas, afinal, por que motivo o vinho é mais caro nos restaurantes? E mais importante ainda: poderá esta realidade ser diferente, sem comprometer a rentabilidade do negócio? Vamos explorar esta questão com uma análise clara, justa e através de propostas construtivas.

 Porque é que o vinho é mais caro nos restaurantes?

A valorização do vinho na restauração é uma prática comum em todo o mundo e, muitas vezes, assume proporções que afastam o consumidor. Vamos analisar alguns dos vários fatores que influenciam os preços:

  1. a) Margem comercial: a margem praticada pode variar entre 200% a 400%. Um vinho comprado por 5€ pode surgir facilmente na carta por 15€ a 25€. Esta margem cobre custos operacionais, desperdícios, impostos e, em muitos casos, ajuda a compensar as baixas margens dos pratos.
  2. b) Custo de armazenamento e stock: o vinho ocupa espaço, exige condições específicas (temperatura, humidade, luz), e nem sempre roda com rapidez. O capital investido em stock parado também é um risco que o restaurante tenta compensar com o preço final.
  3. c) Perdas e desperdício: uma garrafa aberta que não é vendida até ao fim pode representar perda total. É o maior risco quando temos vinhos a copo. A margem tem de cobrir este possível desperdício.
  4. d) Custo do serviço: bons copos, sommelier, formação da equipa e serviço de qualidade são diferenciadores. Este conjunto de factores tem um custo real que precisa de ser refletido.
  5. e) IVA elevado: em Portugal, o vinho é tributado com IVA de 23% na restauração. No retalho, é tributado com IVA de 13%. Esta diferença impacta diretamente no preço final ao consumidor, no restaurante.
  6. f) Necessidade de margem nos restaurantes pequenos: muitos restaurantes vivem com margens reduzidas na comida e usam o vinho e as bebidas como forma de equilibrar a rentabilidade global do serviço.

Por conseguinte, a valorização do vinho não surge de forma arbitrária. Resulta, isso sim, de uma série de condicionantes económicas, logísticas e fiscais.

 O Impacto da margem elevada no consumo

Apesar de compreensíveis, estas práticas têm efeitos colaterais claros:

Menor consumo por parte do cliente: muitos evitam pedir vinho à refeição ou limitam-se ao jarro ou à garrafa mais barata.

Desinteresse em vinhos mais valiosos: vinhos de gama média e alta ficam esquecidos na carta por terem preços pouco atrativos ou, até mesmo, proibitivos.

Perda de oportunidade de valor: um cliente que gasta menos em vinho não representa apenas menos receita; representa menos prazer, menos partilha e menor experiência.

O vinho não deve ser encarado como um extra; pode, isso sim, ser o fio condutor de uma refeição memorável. Contudo, quando o preço se impõe como barreira, perde-se a oportunidade de criar fidelização e valor.

 Boas práticas e alternativas sustentáveis

O caminho não passa por eliminar a margem, mas por ajustá-la com estratégia. Aqui ficam algumas sugestões:

  1. a) Margens mais realistas: em vez de aplicar uma margem linear a toda a carta, importa considerar escalas variáveis. Vinhos mais baratos podem ter margens mais altas, enquanto os de gama média podem ter margens menores, tornando-se mais acessíveis e com maior rotação.
  2. b) Cartas inteligentes e curadas: menos referências, maior conhecimento sobre os produtos, melhor formação da equipa. Uma carta bem pensada pode rodar melhor e exigir menos margem, ganhando valor no volume.
  3. c) Parceria com distribuidores competentes: em Portugal, o contacto direto com o produtor ainda é limitado, mas um distribuidor com boa curadoria e apoio ao restaurante pode criar valor.
  4. d) Opções por copo com sistema de preservação: investir em sistemas, como o Coravin ou semelhantes permite servir vinhos mais caros a copo sem risco de desperdício.
  5. e) Educação do cliente: cartas com informação clara, storytelling sobre o vinho, origem, produtor e harmonização. Uma carta que educa gera confiança e valor percebido.

Com boas práticas, é possível reduzir as margens e, paradoxalmente, aumentar o consumo e o lucro final. É a diferença entre vender duas garrafas com muita margem ou 10 com margem mais moderada.

Benefícios de um modelo mais acessível

Fidelização do cliente: preços justos aumentam a perceção de valor e a satisfação.

Aumento de ticket médio: se o vinho se torna mais acessível, o cliente pede mais vezes.

Mais rotação de stock: reduz o capital imobilizado e melhora a gestão.

Criar cultura de vinho: torna-se um hábito, valorizando toda a cadeia sem se tornar um luxo ocasional.

Conclusão: um convite ao equilíbrio

O vinho é cultura, prazer, partilha. Mas também é negócio e, como em todo o negócio, o segredo está no equilíbrio: margens justas, experiência positiva, relação de confiança entre restaurante e cliente. Não se trata de abdicar do lucro, mas de pensar a longo prazo. De transformar cada refeição com vinho num momento que fideliza. Num país produtor, onde o vinho faz parte da identidade, não faz sentido continuar a tratá-lo como um produto de luxo inalcançável. O convite fica feito aos restauradores: vamos refletir sobre a forma como tratamos o vinho nas cartas. E se, em vez de pensar em quanto mais podemos ganhar com cada garrafa, pensássemos em quantas mais podemos vender?

vinho

 

 

 

 

 

 

Por: Helder Cunha* Enólogo e produtor de vinho

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)

O churrasco perfeito

churrasco

O sucesso é uma estrela de muitas pontas e cada pormenor conta para o resultado final. Ao mesmo tempo, há que garantir a condução de calor correcta a cada peça e em cada momento. E há que garantir o maior prazer de todos os momentos. Não há churrascos aborrecidos e a toada é sempre de […]

O sucesso é uma estrela de muitas pontas e cada pormenor conta para o resultado final. Ao mesmo tempo, há que garantir a condução de calor correcta a cada peça e em cada momento. E há que garantir o maior prazer de todos os momentos. Não há churrascos aborrecidos e a toada é sempre de festa. Jamais esquecerei a iluminação que foi conviver em plena Andaluzia com um grupo de amigos argentinos.
Para nós, portugueses, o churrasco é actividade essencialmente ao ar livre, mas percebi que, para eles, é uma questão de sobrevivência e nutrição. Aprende-se tudo na escola primária e pratica-se ao longo de toda a vida. Um argentino sabe atear lume em qualquer recipiente, e sabe como grelhar a carne no ponto certo. Provavelmente vem do tempo das pampas e das grandes transumâncias de gado bovino, em que a necessidade de sacrificar uma ou duas peças para alimentação do pessoal levou ao desenvolvimento da técnica. Nesse caso específico, falamos do próprio lume de chão. É notável.
A nossa cozinha de pastor contempla em certa medida essa mesma actividade, mas a uma escala incomparavelmente inferior. E quando muito, sacrificava-se uma peça com lume de chão, no entanto, tendencialmente, foi sempre a grelha em casa ou nos telheiros, o lugar supremo do processamento. Aquilo a que chamamos cozinha de pastor é, ao fim e ao cabo, uma cozinha de proximidade, feita a partir de ingredientes simples e minimalista na execução.

churrasco

Há a questão dos legumes que melhor acompanham as diferentes peças de carne. E ligada a esta, a interrogação sobre as saladas e os molhos a que queremos chegar

 

O prazer de planear

Um bom churrasco exige um conjunto de preparações prévias. Claro que o mais importante se prende com as carnes sacrificiais propriamente ditas, mas os acompanhamentos não são menos importantes. Além disso, pêssego, ananás, melancia e manga, por exemplo são frutos que reagem bem ao calor das brasas. Por que não os incluir? Emeril Lagasse, o mítico e mediático cozinheiro de New Orleans temperava e trabalhava os pêssegos da mesma forma que a carne de porco. Foi com ele que perdi o medo de passar as metades do fruto pelo forno a 200 ºC.
Depois, há a questão dos legumes que melhor acompanham as diferentes peças de carne. E ligada a esta, a interrogação sobre as saladas e os molhos a que queremos chegar. Aqui, o meu pensamento foge para Paris, para uma experiência excepcional entregue aos cuidados do chef tri-estrelado Alain Passard. Ficou para sempre na memória a forma como ele abordava a raiz de aipo e como explicava, ao mesmo tempo, que se trata de uma peça que não tem eixo preferencial e, consequentemente, não tem orientação possível para o corte. Genial a forma como, mais tarde, pude ver as combinações possíveis com mel de acácia. Talvez por isso, passei a incluir o legume em praticamente todos os pratos de base vegetal. Aconselho vivamente. Assim como aconselho não utilizar a mesma grelha com peças de natureza diferente.

O chef Rui Teixeira, da Peixaria, em São Jacinto, utiliza cada grelha apenas uma vez por dia. De facto, a contaminação de cheiros e sabores é a maior ameaça quando o que está em causa é conseguir resultados inexcedíveis. E nem sempre a peça ideal de carne é o maior desafio. Um simples tomate pode ser bem mais difícil de controlar, pois absorve praticamente tudo por onde passa. Nesta fase, tudo é importante, mas aligeiremos, que vamos passar ao assunto central. Está na altura das opções definitivas e de dar a primazia ao mais importante.

 

O osso que liga ambas as partes tem a forma de “T”, o que inevitavelmente baptizou uma das peças mais conhecidas de bovino. Vem de 1843 a designação

 

O acém redondo é maravilhoso e reage muito bem ao calor intenso das brasas

 

Ao trabalho!

Para organizar o churrasco fui ter com Cláudio Couceiro Cipriano, proprietário e CEO do Grupo C’s, em Antes, Mealhada. A solidez dos seus conhecimentos e a vasta experiência na actividade de corte e desmanche de carcaças fazem com que o ouvir seja sempre uma grande instrução. Além, claro, de um imperativo de consciência, que visa sempre sabermos o que comemos. Para o jovem sábio Cláudio Couceiro Cipriano, um bom churrasco tem pelo menos oito elementos fundamentais.

Picanha. A picanha parece feita de propósito para se sacrificar nas brasas. Encontramo-la em qualquer rodízio gaúcho, montada em espeto, para depois fatiar para o prato do cliente. A melhor forma de processar na grelha é justamente essa. Cortar em peças grossas com a parte mais gorda sempre presente e espetar de forma a que a gordura fique do lado mais exterior. Nesta e noutras peças, jamais salgar antes de grelhar. Na picanha, fazê-lo pode ter o efeito dramático de secar prematuramente as peças. Há que ter sempre em conta a reação inevitável da carne crua, desvirtuando-a, quando ela deve ser tratada nas palminhas. A maioria dos falhanços do amador está aqui e devem ser evitados a todo o custo. Há quem prefira fatiar logo a picanha e, depois, levar a grelhar, e isso não está inteiramente errado. A tolerância a falhas e singularidades, contudo, é maior quando partimos de peças maiores, e quanto maiores melhor, para enfrentar o calor sem risco de chamuscar. É fundamental grelhar até ao bom ponto – leia-se rosado – e evitar, a todo o custo, passar demasiado a carne.

Costeleta em T. Também conhecida como T-Bone. Quando cortada a preceito, apresenta vazia de um lado e lombo do outro. O osso que liga ambas as partes tem a forma de “T”, o que inevitavelmente baptizou uma das peças mais conhecidas de bovino. Vem de 1843 a designação, obviamente da responsabilidade dos Estados Unidos, com especial menção ao estado do Oregon, onde é conhecido como Oregon steak ou bife de Oregon. Está em vias de ganhar honras de certificação, mas lá como cá, o assunto não é simples. Os passos para lá chegar são diversos e tortuosos. O que faz deste corte único de carne famoso é a riqueza de sabor e a bondade acrescida pelo trabalho da grelha. O lado mais pequeno do T-Bone é, nada mais, nada menos, que o filet mignon, celebrado e amado entre os grandes apreciadores de carne. Grelhado a contento e com respeito, o T-bone é sinónimo de felicidade e rendimento de sabor. Em Itália é conhecido como bife Fiorentina e é obtido de gado muito seleccionado. É um emblema importante da cozinha clássica italiana e pesa cerca de 1,5 quilos. Por cá, é conhecido como costeleta em T e Cláudio Couceiro Cipriano tem muita procura no seu talho.

Ossinhos. Demorei algum tempo a perceber o que seria esta peça, que, para o nosso herói, é de importância primordial para o êxito do churrasco. Pedi para ver a peça e constatei que se trata da tira das costelas. É cortada como na Argentina e processa-se como a tira de entrecosto de porco. Grelha maravilhosamente bem e o sabor é dos mais marcantes dentre todas as peças sacrificadas. Parece-me que, quanto mais tempo for exposta junto às brasas mais mortiças, melhor. A alquimia do sabor ganha muito com essa exposição prolongada e, no final, os ossos e a carne são muito fáceis de separar. Atrevia-me a rebatizar esta peça como tira, mas, no caso, gosto de respeitar a indicação do mestre. É a minha peça favorita do churrasco e não tiro os olhos dela enquanto grassam o fumo e o calor. Admite e pede marinada prévia, apesar de isso ser, evidentemente, uma questão de gosto.

Naco do acém redondo. O acém é composto por três partes distintas: acém comprido, acém redondo e coberta de acém. Os dois primeiros são cortes ditos de primeira categoria e variam no ponto de extração, ou corte, quanto à proximidade do pé. Extrai-se também do acém a que é conhecida como cobertura, que grelha muito bem, mas dá mais sabor e textura a estufados longos e, por isso, é muitas vezes o seu destino. O acém redondo é maravilhoso e reage muito bem ao calor intenso das brasas, além de possuir mais gordura entremeada que o acém comprido. Quando Cláudio Couceiro Cipriano fala de naco, refere-se a uma peça alta e mais resistente às brasas. Ao mesmo tempo, oferece-se à transformação e criação de sabor. O resultado é fantástico e suculento. Os bifes à cortador são extraídos lés-a-lés destas partes mais ricas. Uma delícia, para resumir. A ideia, em termos de churrasco, é dar-lhe a exposição necessária, e depois do proverbial período de repouso, reduzi-la a fatias contra o veio. No prato, serão o céu, tanto em sabor como em textura.

churrasco

Confesso que, sempre que há frango numa celebração braseira, também não dispenso uma coxa ou asa de um bom exemplar. Come-se com a mão e os mais novos adoram

 

Frango de churrasco. Pois é! Cláudio Couceiro Cipriano não dispensa o bendito frango no elenco do churrasco. Confesso que, sempre que há frango numa celebração braseira, também não dispenso uma coxa ou asa de um bom exemplar. Come-se com a mão e os mais novos adoram. Como de resto é o caso com o frango de churrasco enquanto staple food familiar. Curiosamente, ganhou fama e reputação entre nós, principalmente com o regresso à pátria das comunidades das antigas colónias. Lisboa em particular, tem diversas bases de prédios convertidas em churrasqueiras. Angola e Moçambique trouxeram-nos a grande glória que é a cafriela, cuja base é justamente a grelha nas brasas. Leva depois uma passagem pelo tacho, seguindo-se o forno para acabar. A variante moçambicana leva leite de coco e é conhecida como zambeziana. As patas de frango são deliciosas quando processadas nas brasas. Tasquinha-se à mão, com um dip picante ao lado. Como aliás toda a cafriela. Fez muito bem o grande Cláudio Couceiro Cipriano chamar a atenção para as virtudes e a bondade do frango no churrasco.

Tiras de entremeada. É parte interessante e fundamental num bom churrasco. Escusado será dizer que não há outlet churrasqueiro que não tenha no cardápio uma boa entremeada. Talvez seja boa ideia deixar, para a etapa final do nosso churrasco, as tiras de entremeada. É uma forma de glorificar a carne de porco nos nossos redutos familiares. Claro que existe sempre a opção de pura e simplesmente grelhar nas brasas as fatias, mas espera-nos glória bem maior em cozinhar previamente a baixa temperatura as finas peças deliciosas. O ideal seria cozinhar primeiro em vácuo e a baixa temperatura. É a arte ao alcance de poucos, bem sei, mas a impressão em boca é mesmo muito boa. Não impede, antes beneficia ganhar crocância nas brasas logo a seguir. O fumo é o veículo ideal da transformação alquímica que se dá no nosso prato. Vai ver como no palato se desfaz e transforma em iguaria dos deuses. A experiência nada tem a ver com a entremeada grelhada directamente a partir da fase crua. Este é, de resto, um dos pressupostos da cozinha modernista, em que o resultado final se consegue por passos iniciais ou intermédios como este. Além disso, quem dispensa uma boa entremeada?

Salsicha fresca. Este pequeno e sápido ingrediente tem uma capacidade notável de se converter em iguaria deliciosa. Se pensarmos no modelo clássico e ancestral de salsichas enroladas em couve lombarda, depressa nos precipitamos para esta solução, quando não para a fritura directa em sertã a alta temperatura. A verdade é que o churrasco gosta da salsicha fresca, e esta gosta muito do churrasco. A insistência de Cláudio Couceiro Cipriano em incluir o pequeno ensacado faz todo o sentido, pois representa uma grande ponte de sabores, aromas e texturas. Com o tempo e os ingredientes adequados, poderá mesmo vir a produzir as suas próprias salsichas frescas. Utilizando ingredientes naturais e fresquíssimos, a exposição ao calor das brasas vai resultar em mais sabor e riqueza de texturas. E no dia do churrasco, vai dar por si a procurar com ansiedade as salsichas passadas pelas brasas.

Chouriça. Gosto muito de chouriço de Goa, que é, porventura, o enchido mais picante e, ao mesmo tempo, mais saboroso de toda a nossa salsicharia. Curiosamente, foi a partir de várias experiências culinárias, com a simpatia e a paciência de amigos goeses, que me apercebi do potencial de sabor que está contido em cada chouriço. Em certas preparações, é mesmo o único tempero necessário para temperar um cozido inteiro. O chouriço de carne, ou chouriça, tem o mesmo papel temperador na totalidade do churrasco. Pode processar-se no início e reservar-se para a fase de finalização de toda a empreitada. Será sempre o toque salino e especiado de que precisa para a fruição perfeita do seu churrasco. Apenas há que escolher a chouriça perfeita. O esforço será vastamente recompensado.

churrasco

Este pequeno e sápido ingrediente tem uma capacidade notável de se converter em iguaria deliciosa

 

E o vinho?

Os argentinos têm muita sorte em ter ao seu alcance a casta Malbec. Parece que nasceu nas pampas, ao lado da montagem de lume de chão em que tradicionalmente se sacrificam carcaças de bovino. Tem força e, simultaneamente, elegância, e, sobretudo, tem a grande virtude de não interferir no sabor da carne grelhada. Antes acrescenta, com notas especiadas e de madeira, que acrescentam à noção de complexidade que desejamos e se nos instala na alma. Tenho feito diversas experiências neste capítulo e há dois perfis vínicos que se mostram eficazes na assessoria vínica de um bom churrasco.

O primeiro é um Aragonês alentejano, com pouca ou nenhuma madeira, conseguindo vingar pela frescura e pelo sabor resultante da fusão do vinho com o palato. O segundo é um Cabernet Sauvignon marítimo, da Península de Setúbal, com estágio de seis anos em barricas de carvalho francês. Importante mesmo é fazer as suas próprias experiências e, acima de tudo, explorar as explorações a que se prestam. E não se esqueça jamais da importância de ousar enveredar por caminhos inteiramente novos. Boas experiências!

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)

Soluções tecnológicas, em nome do futuro da enologia

Enartis

A Enartis, que faz parte do Esseco Group e é líder mundial no desenvolvimento e fornecimento de produtos e tecnologias para a indústria enológica, anuncia o acordo assinado para a aquisição da Parsec, empresa italiana especializada na produção de sistemas de controlo para a vinificação e o envelhecimento de vinhos, graças às tecnologias patenteadas e […]

A Enartis, que faz parte do Esseco Group e é líder mundial no desenvolvimento e fornecimento de produtos e tecnologias para a indústria enológica, anuncia o acordo assinado para a aquisição da Parsec, empresa italiana especializada na produção de sistemas de controlo para a vinificação e o envelhecimento de vinhos, graças às tecnologias patenteadas e instaladas em mais de 30 países. Esta união estratégica surge na sequência da aquisição da portuguesa Winegrid, em 2023, e tem como ponto de partida a criação de um polo de competências agregador a nível mundial.

Eis o passo para a concepção de uma plataforma, com a capacidade de reunir e oferecer soluções integradas e tecnologicamente avançadas, desde a recepção da uva até ao engarrafamento, a todas as adegas do mundo. O objectivo consiste em optimizar cada fase de produção no que à eficiência, à sustentabilidade e à qualidade diz respeito.

No âmbito deste novo capítulo, Giuseppe Floridia, Director Executivo da Parsec, manterá o cargo. De acordo com o comunicado, declara: “escolhemos a Enartis, porque encontramos neles a nossa visão e uma profunda vocação para a inovação.” A estas palavras, Samuele Benelli, Director Executivo da Enartis, acrescenta a importância de ambas estarem alinhadas com a “mesma cultura de serviço ao cliente”, bem como “as competências extraordinárias da equipa da Parsec, aliadas à nossa presença global, criarão um potencial incrível.”

Piermario Ticozzelli, Diretor Comercial da Enartis, vai mais longe: “a complementaridade entre as competências das duas empresas representará um poderoso motor de crescimento, capaz de gerar novas oportunidades de negócio. Juntos, nos tornaremos o parceiro estratégico para as vinícolas de todo o mundo que olham para o futuro.”

Re:Boxed, reaproveitar em nome da sustentabilidade

Re:Boxed

Os Vinhos do Alentejo desenvolveram um projecto pioneiro ao transformar resíduos industriais em caixas de transporte de vinho, ao qual deu o nome de Re:Boxed. Traduz-se num processo que permite a produção de embalagens feitas a partir da reciclagem da fita dos rótulos, evitando que muitas toneladas de resíduos sejam colocadas em aterros ou sejam […]

Os Vinhos do Alentejo desenvolveram um projecto pioneiro ao transformar resíduos industriais em caixas de transporte de vinho, ao qual deu o nome de Re:Boxed. Traduz-se num processo que permite a produção de embalagens feitas a partir da reciclagem da fita dos rótulos, evitando que muitas toneladas de resíduos sejam colocadas em aterros ou sejam queimadas. Ao mesmo tempo, está disponível para os produtores da região, como uma opção de embalagem, viável e sustentável, de transporte nacional e internacional, para as vendas online, os enoturismos ou os concursos de vinhos.

Esta iniciativa está a ser desenvolvida desde o início do ano em parceria com a empresa Partícula Verde, no âmbito do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, e já permitiu que 14 toneladas de fita de rótulos deixassem de ser descartadas. Ao mesmo tempo, reforça a vertente da sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo.

“Para uma ideia mais visual de todo o impacto desta iniciativa, se estendermos as fitas adesivas utilizadas nos rótulos de vinhos do Alentejo, só no ano passado, daria o comprimento de 20 mil quilómetros, o que equivale à distância entre o Alentejo e a Nova Zelândia. Até agora, este material era frequentemente aterrado ou incinerado, mas através deste processo é transformado em embalagens, gerando valor e promovendo uma verdadeira economia circular”, esclarece João Barroso, diretor de Desenvolvimento Sustentável e I&D dos Vinhos do Alentejo.

 

Re:Boxed

Academia de vinhos portugueses em terras de Sua Majestade

No próximo dia 3 de Novembro, a ViniPortugal vai organizar a Wines of Portugal Academy for Sommeliers – Nível Intermédio, formação conduzida pela Wine Educator da ViniPortugal Sofia Salvador, no The Caledonian Club, em Londres. Esta ação tem como objectivo reforçar o conhecimento e o prestígio dos vinhos portugueses junto do segmento On Trade Premium. […]

No próximo dia 3 de Novembro, a ViniPortugal vai organizar a Wines of Portugal Academy for Sommeliers – Nível Intermédio, formação conduzida pela Wine Educator da ViniPortugal Sofia Salvador, no The Caledonian Club, em Londres. Esta ação tem como objectivo reforçar o conhecimento e o prestígio dos vinhos portugueses junto do segmento On Trade Premium. O público-alvo abrange profissionais que concluíram a fase anterior, bem como escanções que demonstram um enorme conhecimento sobre os vinhos portugueses e querem aprofundar a especialização.

“O Reino Unido é um mercado estratégico para os vinhos portugueses, em particular no segmento On Trade Premium. A formação de sommeliers é uma aposta essencial para aumentar o reconhecimento e a recomendação dos nossos vinhos nos melhores restaurantes. Esta Wines of Portugal Academy é mais um passo importante para consolidar a imagem de qualidade e diversidade dos Vinhos de Portugal junto de quem influencia directamente o consumidor final”, declara, em comunicado, Frederico Falcão, Presidente da ViniPortugal. A iniciativa confere a continuidade dada ao programa com nível intermédio e, ao mesmo tempo, enfatiza a valorização do vinho português.

O futuro do vinho português “Entre Garrafas”

BA Glass

No próximo dia 31 de Outubro, às 11h00, a BA Glass promove um encontro na Estufa – Tazte Secret Spot, em Monsanto, Lisboa, centrado no futuro do sector vinícola. Chama-se “Entre Garrafas” e tem o propósito de reflectir sobre o posicionamento do vinho português no mundo, as tendências do mercado, bem como a competitividade e […]

No próximo dia 31 de Outubro, às 11h00, a BA Glass promove um encontro na Estufa – Tazte Secret Spot, em Monsanto, Lisboa, centrado no futuro do sector vinícola. Chama-se “Entre Garrafas” e tem o propósito de reflectir sobre o posicionamento do vinho português no mundo, as tendências do mercado, bem como a competitividade e a sustentabilidade do sector.

Neste evento, os convidados terão a oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido pela BA Glass no segmento do vinho, através de quatro das gamas de garrafas produzidas – Regular, Prestige, Lightweight e Espumantes – representativas da diversidade de soluções disponibilizadas pela BA Glass.

Estas peças traduzem-se, ao mesmo tempo, num portefólio que combina responsabilidade ambiental e inovação, em resultado de um investimento contínuo tecnologia de ponta deste grupo fundado há 110 anos. Com uma produção anual de 12 mil milhões de frascos e garrafas, a empresa opera em 14 fábricas distribuídas pela Europa e América do Norte, com vendas para mais de 70 em mercados.

Aposta na sustentabilidade, na tradição vinícola e na gastronomia algarvia

Algarve

No passado dia 17 de Outubro, a Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA) realizou a II edição do Algarve Wine Session. O evento reuniu 25 produtores e contou com a presença de mais de uma centena de visitantes, no Hilton Vilamoura, que acolheu profissionais da indústria e do canal horeca, e público em geral. No âmbito deste encontro, teve […]

No passado dia 17 de Outubro, a Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA) realizou a II edição do Algarve Wine Session. O evento reuniu 25 produtores e contou com a presença de mais de uma centena de visitantes, no Hilton Vilamoura, que acolheu profissionais da indústria e do canal horeca, e público em geral.

No âmbito deste encontro, teve lugar uma palestra sob o tema “Raízes Regenerativas: Inovação e Sustentabilidade na Viticultura Algarvia”, as quais têm conquistado cada vez mais produtores da região. O programa incluiu a masterclass “Alma do Algarve: Vinhos e Gastronomia” conduzida pelo escanção Miguel Martins, em que a harmonização de vinhos algarvios foi acompanhada por pratos típicos deste território. Já os diferentes terroirs deste território vitivinícola foram explorados por Gilmar Brito, especialista em vinhos e formador certificado, no âmbito da prova “Entre Barrocal e Mar: Os Vinhos do Algarve”. Ambos os momentos proporcionaram uma viagem sensorial pelo universo dos vinhos algarvios, bem como os sabores da gastronomia local.

Sobre o evento, centrado na tradição vitivinícola e no reforço do sector enoturístico, Sara Silva, Presidente da CVA, declara “o Algarve Wine Session é uma iniciativa que reforça o compromisso da Comissão Vitivinícola do Algarve em promover a qualidade, a autenticidade e a sustentabilidade dos vinhos da região. Pretendemos aproximar o público dos produtores e valorizar o enoturismo como um pilar essencial do desenvolvimento do território”, que continua a afirmar-se com a exclusividade da casta Negra Mole.