Van Zellers Ocean Aged: 102 garrafas de Porto Vintage recuperadas do fundo do mar
No dia 16 de novembro, Dia Nacional do Mar, Francisca van Zeller resgatou do fundo do mar 102 garrafas de Van Zellers & Co Ocean Aged Porto Vintage 2020, o primeiro Porto Vintage a estagiar debaixo de água. Esta iniciativa foi associada à campanha de educação ambiental “Planeta Oceano” do Oceanário de Lisboa, que tem […]
No dia 16 de novembro, Dia Nacional do Mar, Francisca van Zeller resgatou do fundo do mar 102 garrafas de Van Zellers & Co Ocean Aged Porto Vintage 2020, o primeiro Porto Vintage a estagiar debaixo de água. Esta iniciativa foi associada à campanha de educação ambiental “Planeta Oceano” do Oceanário de Lisboa, que tem o objectivo de sensibilizar as crianças para a importância dos oceanos e da sua conservação.
As 102 garrafas foram disponibilizadas aos clientes da Van Zellers & Co logo a 8 de Junho — dia do lançamento oficial do vinho e Dia Internacional do Oceano — e já foram todas vendidas. Cerca de metade fica em Portugal, e as restantes destinam-se a países como Suíça, Finlândia, Áustria, Canadá e Reino Unido.
O lançamento, inédito, ocorreu em parceria com a Zouri Shoes, uma marca de calçado eco-vegan responsável pela criação da embalagem do vinho em forma de concha. Este packaging foi feito com plástico recuperado da costa portuguesa (cerca de uma tonelada colectada com a ajuda de 600 voluntários) e com desperdícios de fábrica, originando uma caixa 100% reciclada.
O Van Zellers & Co Ocean Aged Porto Vintage 2020 tem um preço de venda ao público de €1000, sendo que parte das receitas tem como destino o programa “Planeta Oceano” do Oceanário de Lisboa. O programa é direccionado a mais de 600 crianças em idade escolar, do concelho de São João da Pesqueira, que tiveram a oportunidade, entre 15 e 17 de Novembro, de aprender sobre a diversidade da vida marinha e formas de a proteger.
O Porto Vintage Ocean Aged foi afundado em Dezembro de 2022 no Porto de Sines, em colaboração com a empresa Ecoalga – Adega do Mar, especializada em armazenamento subaquático. Francisca van Zeller, gestora de Marketing e Comunicação da Van Zellers & Co, expressou entusiasmo pela iniciativa: “Este projecto é uma verdadeira fusão de tradição e inovação, um testemunho do nosso compromisso em elevar o vinho do Porto a novos patamares. Submergir as garrafas nas águas do oceano, onde a natureza exerce a sua influência única, foi uma experiência emocionante. Estou muito entusiasmada pela oportunidade de resgatar estas garrafas no Dia Nacional do Mar, celebrando a herança da minha família e a importância dos oceanos para todos nós. Este é um vinho que carrega a história do passado e a promessa do futuro, e estamos muito felizes por partilhá-lo com o mundo”.
Sustainable Wine Growing certifica Herdade dos Grous e Quinta de Valbom
O projecto alentejano Herdade dos Grous e o duriense Quinta de Valbom acabam de receber a certificação da Sustainable Winegrowing Portugal, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal. Esta certificação foi a primeira a ser atribuída pela […]
O projecto alentejano Herdade dos Grous e o duriense Quinta de Valbom acabam de receber a certificação da Sustainable Winegrowing Portugal, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal.
Esta certificação foi a primeira a ser atribuída pela Certis, entidade auditora que desenvolveu, na Herdade dos Grous e na Quinta de Valbom, um trabalho de avaliação de todos os critérios do referencial — que tem forte foco nas áreas Gestão e Melhoria Contínua, Ambiental, Social e Económica — em colaboração com equipa de Sustentabilidade destes projectos.
Para a obtenção da certificação, é necessário o agente económico cumprir com uma série de requisitos pré-estabelecidos. Estes requisitos percorrem todo o método de produção, desde a vinha até à expedição do produto, numa análise profunda de todos os intervenientes no processo.
Luís Duarte, enólogo chefe e director geral, comenta: “Esta certificação é um passo muito importante para a nossa empresa! Depois de a Herdade dos Grous ter tido a primeira certificação em Produção Sustentável pelo Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, aderir à certificação Sustainable Winegrowing Portugal foi uma decisão natural, até pela possibilidade de incluir a nossa área de produção localizada no Douro, a Quinta de Valbom. Na verdade, desde o início do projecto da Herdade dos Grous, que começou com a plantação de 21ha de vinha em 2002, sempre houve uma preocupação e respeito pela Natureza. Em 2012, com a aquisição da Quinta de Valbom, a filosofia foi exactamente a mesma. Continuamos empenhados em investir fortemente na componente de sustentabilidade através da adopção de práticas de agricultura regenerativa e biológica em ambas as regiões, bem como na gestão da biodiversidade, da água, da energia, dos resíduos e a utilização de materiais mais sustentáveis nas embalagens dos produtos”.
Pedro Duarte eleito Bartender do Ano 2023
O mais importante concurso português de bar, Bartender do Ano, elegeu Pedro Duarte do Wine & Books Hotels Porto como grande vencedor. Pedro Duarte tem 30 anos e é natural de Vila Nova de Gaia. A final do concurso decorreu no dia 12 de Novembro, no Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras, município anfitrião da […]
O mais importante concurso português de bar, Bartender do Ano, elegeu Pedro Duarte do Wine & Books Hotels Porto como grande vencedor. Pedro Duarte tem 30 anos e é natural de Vila Nova de Gaia.
A final do concurso decorreu no dia 12 de Novembro, no Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras, município anfitrião da edição de 2023, organizada pela The Bottle Affair. Já a marca Villa Oeiras (Vinho de Carcavelos) foi o patrocinador principal.
Pedro Duarte consagrou-se Bartender do Ano 2023 numa final que contou com a concorrência de André Costa (Four Seasons Ritz Lisbon), Bruno Fernandes (Bistro 100 Maneiras, Lisboa), Luís Costa (Torto, Porto), Tiago Santos (Bairro Alto Hotel, Lisboa) e Vivaldo Queirós (Varandas Cocktail & Wine Bar, Faro). No 2º lugar ficou Luís Costa e o 3º lugar coube a André Costa.
O bartender vencedor apresentou ao júri três das suas criações: Perfect Serve de Villa Oeiras Superior 15 Anos, harmonizado com um macaron de abóbora e beterraba; Cracavellos” (Cocktail Villa Oeiras) e “Desobediência Artística” (Cocktail Artístico).
“Ganhar o Bartender do Ano significa muito para mim. É a concretização de um objectivo pessoal. Uma competição que tem uma tradição de vencedores únicos e daqui para a frente só me resta valorizar este nome para que a indústria de bar continue a crescer”, afirmou Pedro Duarte.
O júri presente na final foi constituído por Wilson Pires (Verso Cocktails e Presidente do Júri), Constança Cordeiro (Toca da Raposa e Uni), Fernão Gonçalves (Plateform) e Marcella Ghirelli (Cella). Foram ainda convidados a avaliar a prestação dos finalistas, Noah Zagalo, artista plástico responsável pela criação do troféu e Alexandre Lisboa, coordenador técnico do projecto da Vinha e do Vinho de Carcavelos Villa Oeiras.
“Desde 2014, a iniciativa celebra a coquetelaria portuguesa e contribui activamente para a sinalização e valorização dos seus profissionais. Para além de uma saudável competição, assume-se como uma plataforma de aprendizagem e de desenvolvimento para que os profissionais de bar possam aprender, partilhar e evoluir. Os concorrentes têm no concurso uma oportunidade de demonstrar as suas competências junto dos seus pares, naquele que pode significar um ponto de viragem no seu percurso profissional. Anteriores vencedores como Wilson Pires, Carlos Santiago, Jaime Montgomery, Daniel Carvalho e Luís António viram as suas carreiras impulsionadas pela conquista do título de Bartender do Ano”, explicam os organizadores.
PSVA2.0: Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo dá mais um passo
O PSVA2.0 foi agora apresentado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CRVA), a nova e melhorada versão do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, lançado em 2015. O PSVA2.0 resulta de uma parceria com a ANP/WWF (Associação Natureza Portugal e World Wide Fund for Nature) e a Universidade de Évora, num protocolo assinado em 2022. […]
O PSVA2.0 foi agora apresentado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CRVA), a nova e melhorada versão do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, lançado em 2015. O PSVA2.0 resulta de uma parceria com a ANP/WWF (Associação Natureza Portugal e World Wide Fund for Nature) e a Universidade de Évora, num protocolo assinado em 2022.
O objectivo, segundo a CVRA, é que os produtores aderentes ao PSVA – que representam já 58% da área total de vinha do Alentejo – possam, através da utilização mais responsável dos recursos necessários à cultura das vinhas, tornar a produção mais resiliente e adaptada às condições naturais, no fundo, “manter o Alentejo tal como o conhecemos e, independentemente do passar dos anos, garantir que os vinhos têm a mesma qualidade, sem comprometer o ambiente e respondendo da melhor forma possível às crescentes pressões derivadas das alterações climáticas”, explica João Barroso, coordenador do Programa de Sustentabilidade.
A CVRA descortina, ainda, que esta revisão do PSVA foi feita sob um olhar atento para vertentes como a biodiversidade, pesticidas, clima e água e a nova versão passa agora a incluir dois novos capítulos, perfazendo um total de 20. “Acrescentou-se uma secção destinada à ‘Resiliência e adaptação às alterações climáticas’, na qual se podem encontrar variáveis como medidas de adaptação e mitigação às mudanças climáticas, ou a avaliação da necessidade de água ou a pegada de carbono; e incluiu-se um capítulo sobre ‘Economia Circular’, onde se destacam questões relacionadas com materiais e equipamentos ou com subprodutos e resíduos de vinificação”.
Foram mantidos os 171 critérios de avaliação da primeira versão do programa, mas 74% foram melhorados e foram incluídos 29 novos itens, dando-se destaque a variáveis como o uso de castas mais resilientes e de diversidade genética; a eficiência dos factores de produção (como água e eletricidade); a promoção do consumo responsável de vinhos junto dos consumidores; a equidade salarial entre géneros; ou, ainda, o contributo para a inserção social de pessoas com deficiência.
Super Bock Collector’s Edition 2023: a cerveja especial que celebra os 96 anos da marca
De aroma intenso e sabor onde se cruza o caramelo dos maltes com os toques frutados tropicais dos lúpulos, nasce a mais recente obra-prima da Super Bock. A 3.ª edição especial de Super Bock Collector’s Edition vem celebrar os 96 anos da marca, distinguindo-se por preservar a tradição cervejeira e o património de qualidade. É […]
De aroma intenso e sabor onde se cruza o caramelo dos maltes com os toques frutados tropicais dos lúpulos, nasce a mais recente obra-prima da Super Bock.
A 3.ª edição especial de Super Bock Collector’s Edition vem celebrar os 96 anos da marca, distinguindo-se por preservar a tradição cervejeira e o património de qualidade. É limitada a 100 unidades e estará disponível na Super Bock Store no final de Novembro. A partir de hoje é possível registar-se para receber informação em primeira mão sobre o início da venda desta edição exclusiva, e quem estiver entre os primeiros vinte compradores, ganha inclusive um convite duplo para visitar a Super Bock Casa da Cerveja.
A Collector’s Edition é já uma tradição para celebrar o aniversário da Super Bock e, pelas suas características, é ideal para partilhar em convívios com amigos, para oferecer em momentos especiais ou para coleccionar e abrir na altura certa com as pessoas certas.
Nesta edição, a cerveja especial, desenvolvida pelos Mestres Cervejeiros da Super Bock, apresenta-se ao estilo de Triple India Pale Ale, com um aroma doce a frutos tropicais, como a manga ou a lichia, aos quais se juntam alguns suaves apontamentos cítricos. O paladar amargo é requintadamente equilibrado com o doce das notas a caramelo e biscoito provenientes dos maltes que compõem o sabor sublime e harmonioso desta cerveja. Para apreciar todos os detalhes únicos que se encontram reunidos nesta cerveja, deve ser degustada com tempo e sem pressas.
Inspirada nas antigas garrafas da Companhia União Fabril Portuense (CUFP) do final do século XIX, esta edição especial está disponível numa garrafa serigrafada que possui o retrato de um painel de Augusto Gomes na Sala de Cobre, a primeira sala de fabrico em Leça do Balio. Para enaltecer a experiência cervejeira que é proporcionada pela Collector’s Edition 2023, está disponível numa caixa com dois copos de pé alto de 66cl, podendo ser adquirida pelo valor de 75€ exclusivamente na Super Bock Store.
Original Reserva Branco é o grande vencedor do Concurso de Vinhos e Espumantes da Bairrada
O Concurso de Vinhos e Espumantes 2023, organizado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), aconteceu no passado 31 de Outubro, dia em que 14 jurados avaliaram, em prova cega, 120 vinhos. O anúncio dos vencedores e a entrega de prémios tiveram lugar em Águeda, no Palácio da Borralha, no dia 3 de Novembro, sendo que […]
O Concurso de Vinhos e Espumantes 2023, organizado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), aconteceu no passado 31 de Outubro, dia em que 14 jurados avaliaram, em prova cega, 120 vinhos. O anúncio dos vencedores e a entrega de prémios tiveram lugar em Águeda, no Palácio da Borralha, no dia 3 de Novembro, sendo que o vinho Original Reserva branco 2020, do produtor Quatro Cravos, foi o grande vencedor da competição, com a pontuação mais elevada.
Os restantes vinhos e espumantes bairradinos premiados dividiram-se em seis categorias, destacando-se o melhor em cada uma. No que toca aos espumantes, o Montanha Chardonnay & Arinto Grande Cuvée branco 2018 (Caves da Montanha) foi eleito o Melhor Espumante em absoluto e o Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto Natural branco 2021 (Aliança Vinhos de Portugal) arrecadou o título de Melhor Espumante Baga Bairrada.
O já referido Original Reserva branco 2020 (Quatro Cravos) recebeu dois galardões, ao ser eleito o Melhor Branco, prémio ao qual somou o de Grande Vencedor do Concurso.
Do produtor Idálio de Oliveira Estanislau, o Pedra Só 2022 ganhou na sua categoria, como Melhor Rosé, tendo o António Marinha Grande Reserva tinto 2015 (António Marinha Vinhos) se destacado como Melhor Tinto.
O Encosta da Criveira Reserva tinto 2021, de Isaura Conceição Reis, levou para casa a distinção de Melhor Vinho das Terras de Sicó.
Foram, ainda, atribuídas três dezenas de medalhas de Ouro, 12 das quais a espumantes, 9 a vinhos brancos e 9 a tintos. Como director do Concurso de Vinhos e Espumantes da Bairrada, marcou presença o director editorial da Grandes Escolhas, Luís Lopes, ao lado de Pedro Soares, presidente da CVB. Já no júri estiveram reconhecidos enólogos da região, um representante de media bairradino e alguns sommeliers, nomeados para esta acção pela Associação Escanções de Portugal.
Consulte AQUI a lista completa de premiados do Concurso de Vinhos e Espumantes da Comissão Vitivinícola da Bairrada 2023.
Prioridade total ao sabor
A harmonização de comida com vinho tem vivido sobretudo de dogmas, a que é mais que tempo de renunciar e ao mesmo tempo urge substanciar racionalmente. Além de novos perfis vínicos que os produtores têm vindo a oferecer, o gosto evoluiu muito nas últimas décadas. Hoje acreditamos que o grande objectivo da ligação é que […]
A harmonização de comida com vinho tem vivido sobretudo de dogmas, a que é mais que tempo de renunciar e ao mesmo tempo urge substanciar racionalmente. Além de novos perfis vínicos que os produtores têm vindo a oferecer, o gosto evoluiu muito nas últimas décadas. Hoje acreditamos que o grande objectivo da ligação é que vinho e comida sucumbam harmoniosamente nos braços um do outro, sem vencedor nem vencido. Bem-vindos ao fascinante mundo do equilíbrio e ousadia à mesa.
O assunto é delicado, mais apropriado seria dizer que é pouco visitado. No entanto, precisamos absolutamente de um jogo coerente à mesa para conseguir chegar ao objectivo supremo de uma digestão feliz. A plataforma universal de conhecimento tem de assentar muito mais no racional do que o nosso sistema fisiológico consegue identificar do que simplesmente numa cartilha sensaborona tacitamente adoptada. O magistral e fundador trabalho de Brillat-Savarin lavrado no fundamental livro “A fisiologia do gosto” estabelece quatro sabores fundamentais: ácido, doce, amargo, salgado e um quinto sabor “do qual ainda ouviremos falar muito”, e que baptizou como osmezoma. Aprendemos a chamar-lhe umami com a instalação das chamadas cozinhas orientais, principalmente a japonesa. Se nos apoiarmos nestes cinco pilares dos alimentos da nossa mantença, temos já belíssimos pontos de partida para a exploração vínica.
A estruturante acidez
A salada acompanha e equilibra muitas vezes um prato, à maneira da janela que se abre para entrar ar fresco e que o prato ganhe luz e matizes diferentes de sabor. Azeite, vinagre e ervas aromáticas como o agrião ou o manjericão operam facilmente essa transformação. Umas simples gotas de limão avivam uma ostra fazendo sobressair a sensação marítima do vibrante bivalve de que Portugal é porta-estandarte. Este costume de deitar uns pingos sobre a membrana da ostra era para ver se estava viva. A reacção ao ácido fazia-a reagir indicando por isso que estava em condições para consumir. Com a certificação dos tempos modernos, há apenas que procurar produtores acreditados, a frescura está garantida. Igualmente fresco é o sorvete de limão que se tornou vezeiro em sobremesas diversas supostamente para criar frescura, mas há que atender ao sabor que no caso tende a ser dominante. A raspa da casca de uma laranja ou limão pode ser o toque de frescura que faz abrir e impressionar um simples bolo, frango assado ou o merengue italiano que cobre uma tarte. Menos perceptível, mas igualmente estruturante é a acidez num prato quente. Mas se num caldo ou prato de tacho quase se pode medir pelo pH – e nesse caso devemos procurar obter 4 ou menos – num prato estruturado e com vários componentes há que fazer prevalecer o bom senso e a experiência. O tomate é sempre um elemento forte em saladas frias, comporta-se em cru como fruto rico em licopeno, fortemente antioxidante, mas conhece bem o seu caminho quando incluído em configurações culinárias de cozinha lenta. O mesmo é dizer que tem honras de fundo fundamental de cozinha o que afinal é o elemento ácido indispensável e único na libertação lenta e sustentada. O alho e a cebola contribuem de forma particularmente eficaz para o perfil acídulo do trabalho culinário. O primeiro infelizmente tem mais detractores que adeptos fervorosos, o grelo que está dentro de cada dente do hortícola deve ser removido antes de toda a sequência de preparação, depois é que surge a glória do que é um dos mais felizes moderadores de acidez da história da cozinha. Há além disso que ter a garantia da boa origem do alho, é muito sensível às águas de rega na horta, a garantia bio é sem dúvida fundamental. Procure pequenos produtores da sua confiança ou mesmo que conheça pessoalmente e vai ver a diferença. A cebola de boa semente portuguesa comporta-se de forma abnegada e sistematicamente aceita papel secundário. Picada, liberta ácido sulfúrico, de resto responsável pelas lágrimas que jorramos no processo, cortada em gomos transforma-se fundindo harmoniosamente com a restante assessoria. Ligações felizes: Arinto de Lisboa sem madeira. Vinho Verde Alvarinho. Tintos baseados na casta Castelão. Aragonez do Alentejo.
O capítulo das coisas doces estimula particularmente o sentimento nacional e talvez por isso mesmo tenhamos copiosa oferta vínica para as acompanhar. Passou de moda o saudável costume de beber um copo de licor como digestivo no final da refeição, e aparentemente não volta tão cedo ao altar da mesa. Permanece, contudo, a esperança de que as aguardentes bagaceiras e vínicas prossigam nas suas sendas felizes, indispensáveis para os portugueses. Imparáveis estão o whisky e o gin, que são bebidas duras geralmente de qualidade excepcional, há que dizê-lo. Isto enquanto não aparecem projectos sólidos de destilados de fruta que temos e é tão boa. Mas adiante, que estamos na festa doceira, há muito por que festejar. Leite-creme, arroz-doce, mousse de chocolate são glórias quotidianas que vão adoçando a boca às famílias, receitas registadas nos canhanhos que vão animando os frigoríficos. A concorrência dos preparados instantâneos é feroz e lá cedemos à pressão, que a gente tem pressa.
Portugal tem âncora forte e sápida na chamada doçaria conventual, sabedoria de matriz regional crivada de conhecimento popular. Ganhou especial impulso no início do séc. XIX, quando a extinção das ordens religiosas conduziu a que o que tinha crescido nas cozinhas dos conventos passasse a fonte principal de rendimento. O torrão real e o fartes de Portalegre, fortemente baseados em ovos e frutos secos são glórias universais da doçaria, são dois exemplos apenas de um vastíssimo receituário de que ainda hoje gozamos suaves rendimentos. Os livros de receitas sobreviveram graças sobretudo ao facto de muitas das oficiantes estarem ao serviço durante o dia mas iam dormir a casa, e assim foram adquiridos conhecimentos preciosos. O que seria de nós sem esse manancial? Nem pastel de nata teríamos, quanto mais papos de anjo, ovos moles ou castanhas doces. A refinação de açúcar é assunto relativamente recente, o mel é ancestral e natural e marca presença de vulto na doçaria nacional, tanto directamente em receitas de pastelaria como em molhos e outros condimentos. O chocolate é outra descoberta recente, tudo se passa na era pós-descobrimentos, mas não foi por isso que o adoptámos com menos fervor e continua a ser desafiante no que toca à harmonização com vinhos.
O percurso vínico da variante doce da nossa alimentação tem sido mais ou menos errático, movido mais por dogmas do que razões. Quem nunca experimentou casar doçaria conventual com um tinto velho com mais de vinte anos não sabe o que perde. A estrutura está mais aberta e a componente doce é preservada. O caso do pastel de nata resolve-se com um moscatel de Setúbal ou um Carcavelos. Já as sobremesas com chocolate negro – mais de 70% de cacau – pedem um Porto Vintage novo. O chocolate de leite gosta mais de Madeira Malvasia. Nos bombons, pralinés ou recheados, a opção certa pode ser um Porto Tawny 30 ou 40 anos.
Os injustiçados amargos
Não há equilíbrio sem extremos e o grupo de amargos é aquele de que menos se fala. Mesmo na prosápia da crítica de vinhos é que mais estranheza provoca no leitor, por se tratar de uma área que inspira defeito, quando é um sabor fundamental ao nível dos restantes. Convivemos bem com ele e sem ele a vida é sensaborona. Apercebi-me disso pela primeira vez quando há muito tempo me foi servida uma entrada unicamente de beterraba crua sem qualquer marinada ou molho. Sabemos que é rica em açúcar, mas há que sabê-la trabalhar para que o amargo não domine demasiado o conjunto. No contexto certo torna-se deliciosa, e até base de saladas tépidas exóticas. Na ligação com o vinho há apenas que ter o cuidado de optar por vinhos com pouca ou nenhuma madeira, para não puxar demasiado pelos polifenóis presentes na bebida. Num campo bem diverso estão os igualmente diversos amargos do peixe. Destaco os fígados, parte importante e particularmente injustiçada e que raramente se leva à mesa requintada e na qual está muito do sabor. Há que ter a ousadia de por exemplo servir em iscas tal como se faz com porco ou vitela e depois saber-lhe dar a devida assessoria, trabalhando fundos e molhos. O vinho azedo, quase vinagre que se aplica nas axilas e coxas do leitão antes de se entregar ao fogo sacrificial vai mais tarde fazer a grande diferença no sabor final. O vezeiro espumante cumpre bem o seu desígnio, mas um tinto de Baga pode ajudar na leitura do requinho de que todos tanto gostamos. Temos surpresa garantida colocamos espinafres crus numa salada fria, os amargos presentes nas folhas podem destruir o objectivo primordial, que seria a harmonia integradora. Mas curiosamente se as passarmos primeiro numa frigideira anti-aderente sem gordura, a estrutura vegetal abre e deixa-se impregnar de condimentos e temperos, piscando o olho a um bom Pinot Noir. Mesmo quando os vai utilizar num gratinado, vale a pena dar este tratamento prévio. O forte amargo que caracteriza a semente de cacau pode ser uma mais-valia na preparação e processamento culinário de certos pratos, funcionando como intensificador de sabor. O registo vínico feliz será neste caso um Arinto da Bairrada com madeira. O café é também um referencial amargo e não é em vão a inclusão em estufados longos ou em molhos. A perdiz adquire estatuto de realeza e o bife ganha dimensão universal.
Grupo salgado
O sal está diabolizado e procura diariamente clemência junto de consumidores, médicos e nutricionistas. É um fenómeno social cíclico que está à mercê de revoadas de opinião e radicalismo geralmente pouco informadas e de certa forma alarmistas. O gosto português, contudo, não o dispensa e está na base da história da nossa alimentação desde há muitos anos. Deve utilizar-se com muita moderação, apenas como intensificador de sabor, embora saibamos que usamos e abusamos dele na cozinha. E se é pouco razoável o extremismo cego, urge instalar uma nova consciência em todo o espectro do consumo. A manteiga portuguesa, a mesma com que barramos o pão do pequeno-almoço, tem muito sal, devíamos ter o grau “meio sal” dos franceses para compensar tudo o que pomos no pão, ele próprio já rico em sal. A expressão pejorativa de pãozinho sem sal diz quase tudo sobre o assunto e no restaurante o vezeiro saleiro tem de estar ao lado. Trata-se, portanto, do sabor fundamental que domina o gosto de um prato e ao mesmo tempo o aviva. Não imaginamos o nosso maravilhoso fumeiro sem o sal. Não há presunto tradicional sem a forte salga inicial, que o ajuda a secar também e o ajeita para a empreitada do fumo. A cura do queijo concentra nele a tonalidade salina, por força da evaporação da componente líquida, indo de pasta mole a velho. O molho de soja de que abusamos na forma como comemos sushi e sashimi faz-nos ir muito além no sal, devíamos passar as peças pela soja muito ao de leve, e nem todas precisam sequer de passar. Tornou-se um hábito social que acaba por arruinar a experiência de pureza e verdade que procuramos junto dos bons sushimen que temos de norte a sul do país. Além disso, não damos hipótese a que o vinho brilhe, recorremos à cerveja numa espécie de jogo de opostos que nada tem a ver com a majestade implicada na cozedura da lâmina que tornou famosa a cozinha japonesa. Pelo fenómeno da criação de dimetilamina já referido, o vinho tinto está excluído da harmonização, pelo que deve optar por brancos de álcool moderado e acidez pronunciada. Já o queijo velho pode gostar da companhia de um tinto vigoroso com madeira. Para o presunto, há que considerar a maridagem com brancos de curtimenta com alguma evolução e ir contra o preconceito cego de acompanhar com tinto. Tudo depende da idade e cura do presunto e da gordura disponível. No geral, os enchidos curados de fatia pedem o corte da acidez, pelo que pode dar-se o caso da oportunidade para um tinto do Dão sem madeira. Já no caso da alheira clássica, deve levar-se perfurada com alfinete nas pontas e levar-se a uma frigideira anti-aderente sem qualquer gordura, lume no mínimo. Vai bem com branco de Trás-os-Montes, servida com grelos salteados e ovo estrelado.
Umami, o sabor que sabe bem
Eis-nos chega dos ao quinto sabor, o umami, que está na moda e na boca dos chefs. Numa escala de intensidades, o leite materno é campeão, seguido cá muito em baixo pelo caldo de vitela da primeira fervura, que em francês se diz “fond de veau” e está na base de muitos cozinhados. Não é tanto a intensidade, mas a envolvência e sensação de satisfação que leva a que os nossos bebés gostem tanto do leite materno no período de aleitação. Se atribuirmos 300 unidades de umami a essa essência materna, ao caldo de vitela damos 75. O terceiro classificado é o caldo dashi de camarão da cozinha chinesa e japonesa, com cerca de 50 unidades. Depois vêm todos restantes alimentos, com menos de dez pontos. Brillat-Savarin sabia bem de que falava no seu matricial livro Fisiologia do Gosto. As cozinhas orientais têm-nos ensinado muito sobre equilíbrio e completude de uma refeição e no fundo tem muito a ver com digestibilidade. A mesa kaizeki, alta cozinha japonesa composta de uma sequência de pratos de grande recorte técnico, representa todo um tratado de alimentação. Nós, ocidentais temos beneficiado muito da fusão e confrontação lúcida e intelectualmente orientada com as técnicas e sabores das cozinhas orientais. Apreciamos sobretudo a plenitude de sentidos sem pesar demasiado e a digestão fácil e simples. Tofu e seitan estão a entrar no nosso léxico nutricional justamente por esta razão. Há uma procura de equilíbrio que deve envolver a totalidade da refeição em vez de apenas partes e é imperativo que abracemos de forma culta e instruída tudo o que formos integrando pacificamente nas nossas cozinhas. Os vinhos resultantes de práticas biodinâmicas têm-me surpreendido muito sobretudo por esta vertente de umami e compreende-se que muitos menus de degustação do famoso Abade de Priscos começassem por um consomé de aves e fossem acompanhados por Madeira Sercial, ponte divinal apenas alcançável por mestres dos equilíbrios. Temos produtores entre nós que estão apostados nesta via, adoptando práticas que dão saúde à terra e nos integram nas suas paisagens. Um simples queijo fresco do dia acompanhado por um Vinhão de Vasco Croft, da região dos Vinhos Verdes representa bem a redenção que todos queremos. E merecemos.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
Editorial Novembro: Há cada coisa…
Editorial da edição nrº 79 (Novembro 2023) “Os olhos também comem”, já dizia a minha avó. A expressão popular traduz um fenómeno que todos conhecemos: a forma ajuda a enaltecer o conteúdo. O desenho ou a embalagem podem induzir uma percepção de qualidade/sofisticação, facilitar a venda, criar notoriedade de marca. Isto é válido para todo […]
Editorial da edição nrº 79 (Novembro 2023)
“Os olhos também comem”, já dizia a minha avó. A expressão popular traduz um fenómeno que todos conhecemos: a forma ajuda a enaltecer o conteúdo. O desenho ou a embalagem podem induzir uma percepção de qualidade/sofisticação, facilitar a venda, criar notoriedade de marca. Isto é válido para todo o tipo de bens, dos automóveis ao têxtil, do mobiliário doméstico à perfumaria.
Todos sabemos, igualmente, que nem sempre forma e conteúdo (ou forma e função) correspondem. Uma cadeira elegante pode ser altamente desconfortável; um automóvel de estética exuberante pode ser um desastre (literalmente) em termos de condução; uma t-shirt atractiva pode ficar disforme na primeira lavagem. E, como é óbvio, um elaborado empratamento pode corresponder a uma desilusão gastronómica e uma garrafa muito bem vestida ter lá dentro um vinho que não vale metade do que custa.
Vivemos bem com isso, faz parte do jogo de sedução que as marcas fazem connosco. No caso dos vinhos, um dos exemplos mais prementes é o das garrafas pesadas. As incontornáveis desvantagens ambientais são superadas pelas evidentes vantagens comerciais. Dificilmente um vinho de elevada qualidade e preço pode ser vendido numa garrafa leve (só algumas regiões francesas alcançaram estatuto que o permite) ainda que, tudo o indica, a fileira vitivinícola, pressionada pela lei e/ou consciência ambiental, caminhe a pouco e pouco no sentido da leveza.
Mas o que dizer quando a forma é de tal modo impositiva, tão intrusiva, tão “in your face” (para usar a expressão inglesa), que praticamente grita: “seu palerma, o conteúdo não tem qualquer importância, o que estamos a vender é estatuto e diferença”?
Também aqui, a indústria das bebidas é fértil em exemplos. Um dos mais antigos é o dos licores e espumantes com chamativos “flocos de ouro”. E essa até é uma forma barata de usufruir do luxo ilusório. E se for uma garrafa de espumante com 45 litros? Foi o que fez uma conhecida casa francesa (não de Champagne, felizmente, apesar desta região ter um apreciável histórico em extravagâncias do género) fundada em 1898. Diz a notícia que a Zeus, da Luc Belaire, “é a maior garrafa de espumante do mundo, tem mais de um metro de altura, pesa 72,5 kg cheia e exige a força de 4 homens para a carregar e servir”. Confesso que adoraria assistir a esse espectáculo! Mas não devo ter essa sorte porque, até ao momento, foram produzidas apenas duas garrafas Zeus (vão fazer digressão mundial) e os “3 mil milhões de bolhas” (delicioso detalhe!) que cada uma contém não me irão, certamente, passar pelo goto.
Resta contar que a Luc Belaire é especializada em grandes formatos, nomeadamente os 15 litros e, ao que parece, com grande sucesso. As gigantes garrafas, sobretudo do Rosé Belaire (que a casa adianta ser “o espumante rosé nº1 na América”) tornaram-se, segundo a press release, “uma referência para celebridades, influenciadores, artistas e desportistas de todo o mundo, que têm vindo a celebrar marcos de carreira, lançamentos de álbuns e vitórias em campeonatos acompanhados de Belaire”.
Confesso que desde que li a notícia sou assaltado por uma interrogação. Como se refresca e serve adequadamente uma garrafa de 45 litros? Ou de 15 litros, já agora? Ou isso não importa porque o objectivo não é beber o vinho, mas sim “celebrar” com ele? Há vários dias que não durmo a pensar nisto…