Vinhas Velhas ou Vinhas Antigas?

Julgo que nunca os rótulos e contra-rótulos das garrafas falaram tanto de vinha velha como hoje. Intensamente arrancadas nas últimas décadas, as vinhas velhas são agora uma espécie de pequeno “luxo” para quem procura estatuto e preço. TEXTO: João Afonso Um dos tópicos mais interessantes da vitivinicultura, e por inerência, no comércio de vinho que […]

Julgo que nunca os rótulos e contra-rótulos das garrafas falaram tanto de vinha velha como hoje. Intensamente arrancadas nas últimas décadas, as vinhas velhas são agora uma espécie de pequeno “luxo” para quem procura estatuto e preço.

TEXTO: João Afonso

Um dos tópicos mais interessantes da vitivinicultura, e por inerência, no comércio de vinho que lhe está ligado, é o conceito de “vinha velha”.
Interessante porque, em primeiro lugar, a maioria das pessoas atribui este conceito à unidade “tempo de existência” da vinha; e em segundo lugar porque os conceitos regionais deste pressuposto se confundem. Por exemplo, na sub-região de Monção e Melgaço, assim como no Alentejo, o conceito tem um valor, enquanto no Douro ou no Dão tem um valor totalmente diferente. Um vinha com 30 anos será uma vinha velha nas primeiras regiões e apenas uma vinha adulta nas segundas. Mas, apesar desta ambiguidade, nos rótulos o termo “vinha velha” procura chamar a atenção do consumidor para algo raro e especial que produz um vinho também ele especial e raro.

É também curioso observar como evolui o pensamento vitícola e as modas de consumo que o repercutem. Até aos anos 80, a “vinha velha” era um conceito pouco ou nada explorado pela vitivinicultura nacional. Normalmente, uma vinha velha era sinónimo de pouca produção e, portanto, de prejuízo para quem dela tentava colher o “pão” que punha à mesa. A partir da década de 90 foram as vinhas modernas, a maioria delas, se não mesmo a totalidade, já regada, com (poucas) castas de clones selecionados, plantadas por talhão, que deslumbrou todo sector vitícola e enológico nacional, assim como os enófilos fiéis e praticantes. Agora passadas quase duas décadas do virar do século e de mais de 3 décadas de modernidade, sugere-se, pela quantidade de rótulos com o termo “Vinha Velha” (no singular ou no plural) que o vinho de maior valorização vem da tal vinha velha que muitos desprezaram antes de todo o movimento renovador.

Escrevo em Abril de 2019. E nesta data ainda me é possível definir com alguma precisão (cultural e não temporal) o que eu entendo ser uma vinha velha. Mas não sei se em Abril de 2069, se alguém decidir escrever sobre o tema, o poderá fazer nas mesmas condições. No Douro ainda existem cerca de 15.000 hectares de vinhas ditas “velhas”. Na Beira de Pinhel, nos Trás-os-Montes de Bouça (Mirandela) a Rebordelo, na Serra de S. Mamede, na Bairrada e Dão, ainda podemos encontrar vinhas velhas (aqui não existem dados cadastrais) mas daqui a 50 anos o panorama será obrigatoriamente diferente e o conceito de “Vinha Velha” poderá ser ou será bastante diferente daquele que hoje defendo. Tudo dependerá do modo com as presentes gerações protegerem a diversidade ampelográfica e genética recolhida e construída pelas gerações que nos antecederam. Se não o fizermos, o meu colega jornalista de 2069 escreverá sobre vinhas velhas de um modo bem diferente do meu. E muito provavelmente é o que acontecerá! “Tudo tende a desaparecer” como dizia muito bem, o realizador Wim Wenders numa entrevista recente sobre cultura portuguesa.

Defendo para este conceito uma identidade portuguesa com fundamento histórico. Mas existem exceções em Portugal de vinhas velhas com castas estrangeiras. Vinhas com mais de 50 anos (se aceitarmos que 50 anos é uma idade “velha” para uma vinha) das castas francesas Syrah e Cabernet Sauvignon. E num conceito simples e restrito de “tempo” temos de aceitar que estas vinhas são velhas. Aliás até há muita vinhas de Syrah com envelhecimento precoce (perdoem a ironia) um pouco por todo o mundo, mas adiante, que este é outro assunto um pouco mais alarmante.

Se nos cingirmos ao conceito de “tempo”, o conceito de vinha velha é muito discutível e não possui, na minha opinião, suficiente robustez. Temos de o tornar mais completo, mais rico, para lhe darmos solidez e o tornarmos realmente único e especial. Será que há mais valia de “tempo” e “história” num vinho de Touriga Nacional vindo de uma vinha de 30 anos, regada, com clones selecionados, que o proprietário assegura que é “velha” porque foi plantada há 30 anos?

A “Vinha Velha” que aqui tento apresentar e defender é, como referi, uma “Vinha Velha Portuguesa”, ou será que devo escrever “Vinha Velha Mediterrânica” porque não é só em Portugal que ainda existem vinhas multifacetadas com uma incrível diversidade de castas brancas e tintas dentro do seu (por vezes muito pequeno) perímetro, numa coleção varietal selecionada “empiricamente” pelos nossos avós e bisavós, e por vezes mesmo, pelo acaso dos garfos que estavam mais “à mão” do enxertador que enxertava o “pau” (garfo) de videira europeia no cavalo americano.

Estas vinhas, de condução em taça, não aramadas, não regadas, sem clones selecionados, normalmente muito baixas (para não puxarem muito pela “bomba” de fluidos da planta) eram a maioria das vezes, acompanhadas de outras culturas, normal¬mente oliveiras, por vezes mais algumas árvores de fruto como macieira, pereira, ou no caso de vinhas de altitude, cerejeira e castanheiro.

Note-se que na consociação com olival a combinação é perfeita pois as raízes superficiais da oliveira não competem com as raízes profundas da videira. E era feita uma ocupação de solo com duas das três principais culturas mediterrânicas (vinha, olival, e trigo). Brilhante estratagema dos antigos viticultores.

Estas “Vinhas Antigas”, termo que prefiro a “Vinha Velha”, eram custosas de trabalhar. Tudo feito à mão, pulverizações com o pulverizador às costas, erva gadanhada e dada ao gado assim que o calor a fazia crescer (ainda no começo do ciclo vegetativo da videira), e mais tarde, antes calor a sério, vinha lavrada com homem, arado e macho; e nalguns casos de vinhas desordenadas ou não alinhadas, mais alguém à frente a conduzir o macho ou mula, entre o aperto das videiras, para que os flancos deste não batessem ou arrancassem os tenros rebentos primaveris. Estas vinhas consociadas, tinham também a grande vantagem, nas regiões do interior com maior insolação e mais expostas às altas temperaturas de Verão, de usufruírem da sombra das oliveiras nas horas de maior aperto de calor.

De um pequeno pedaço de terra tirava-se alguma fruta, azeito¬na, azeite, vinho e aguardente (depois de destilado o bagaço). É este modo de vitivinicultura (ou melhor dizendo, policultura), que terminou com a implantação da agro-indústria nos anos 50 do século passado, que no meu entender melhor se enquadra no conceito de “vinha velha”; sempre sinónimo de vinha multi varie¬tal, à partida não aramada, mas sempre de sequeiro, sem clones seleccionados e de preferência consociada com outras culturas.

Provar vinhos destas vinhas é sempre muito estimulante. Cada vinha tem uma coleção de castas diferente que contribui com um carácter diferente para o vinho que dela se faz. Não é que as vinhas novas não façam vinhos diferentes, claro que sim! Mas os vinhos tirados de vinhas realmente velhas (ou melhor, de vinhas antigas) têm um carácter único, especial, mais insondável e obviamente menos focado no tantas vezes cansativo e banal “fruto”!
Os vinhos de Vinhas Velhas ou de Vinhas Antigas, são vinhos que espelham a fantástica expressão de terroir mediterrânico, que nada tem a ver com o mais famoso e caro terroir francófono, mas que em nada lhe fica atrás.

Defendo inclusivamente um futuro com certificações especiais para este tipo de vinhas e de vinhos. São património nacional. Devem ser protegidos!

Brett, esse defeito indesejável

Também chamado ‘suor de cavalo’ – ou estrebaria – o brett será talvez o defeito mais perniciosos do vinho contemporâneo, o qual, na maioria dos casos, já não apresenta defeitos maiores no fabrico. Castas como a Touriga Nacional e o Cabernet Sauvignon são particularmente sensíveis à levedura Brettanomyces / Dekkera. TEXTO João Afonso Brett é […]

Também chamado ‘suor de cavalo’ – ou estrebaria – o brett será talvez o defeito mais perniciosos do vinho contemporâneo, o qual, na maioria dos casos, já não apresenta defeitos maiores no fabrico. Castas como a Touriga Nacional e o Cabernet Sauvignon são particularmente sensíveis à levedura Brettanomyces / Dekkera.

TEXTO João Afonso

Brett é o nome comum do género de leveduras Brettanomyces / Dekkera bruxellensis. Podem-se encontrar na uva, mas o seu ambiente preferido é a barrica, onde ataca sobretudo o vinho tinto em estágio (quase não se manifesta no vinho branco). Insta¬la-se durante o estágio, nas borras finas, aumen¬tando lenta e progressivamente a sua produção de etilfenóis, que se dividem de duas formas: em 4-etilfenol, que dá aromas mais depreciativos de couro e suor de cavalo; nos piores casos os vinhos cheiram a pocilga ou estrebaria. Quando os etil¬fenóis se dividem em 4-etilguaiacol, surgem aromas queimados e medicinais. Os etilfenóis são um grande problema da enologia moderna.

Modos de combate

O Dióxido de enxofre é um forte inibidor da multiplicação e atuação da B. bruxellensis. Usa-se também Quitosano (quitina), um polímero natural, biodegradável e biofuncional que possui propriedade antimicrobianas e antifúngicas. Refira-se que o grau alcoólico acima de 13% limita a produção de etilfenóis. No engarrafamento é por vezes usado DMDC (dimetildicarbonato) ou filtração esterilizante para limitar ou evitar a presença desta levedura em garrafa. Mas é crucial o controlo periódico no vinho da presença e desenvolvimento desta levedura.

A opinião de Carlos Silva, enólogo

Uma dor de cabeça, é uma levedura de “fundo de corredor”, está sempre à espreita. Degrada o ácido para-cumárico e produz etilfenóis. Analiso os meus vinhos e vejo se têm ou não leveduras viáveis e decido atuação em face dessa análise. O limiar de perceção humana anda pelos 400 microgramas/litro mas há quem detete a 200 ou menos microgramas. A quantidade e a manifestação do etilfenol também depende do tinto: se for estruturado, aguenta mais do que se for delgado. Para lá de tudo isto temos duas escolas. A francesa que diz que a Brett é couro russo do melhor, e a australiana que por vezes com doses muito mais pequenas diz que o vinho está sujo e tem defeito. A Brett é também uma questão cultural.

Edição Nº25, Maio 2019

Vinhas mal dormidas

O repouso vegetativo, tal como o nosso sono, tem uma função para as plantas. Conhecemos bem os efeitos de uma noite mal dormida ou da privação continuada do sono por um longo período. Na vinha não conhecemos tão bem. Importará estarmos atentos neste ciclo vegetativo e tentar não importunar muito. A vinha, claro. TEXTO João […]

O repouso vegetativo, tal como o nosso sono, tem uma função para as plantas. Conhecemos bem os efeitos de uma noite mal dormida ou da privação continuada do sono por um longo período. Na vinha não conhecemos tão bem. Importará estarmos atentos neste ciclo vegetativo e tentar não importunar muito. A vinha, claro.

TEXTO João Vila Maior

Trabalho em viticultura desde 1996. Portanto, já lá vão mais de vinte anos e não tardará muito o quarto de século. E garanto-vos que passei muitas noites de sono mal dormidas por preocupações vitícolas. Especialmente quando tive a meu cargo algumas centenas de hectares.
Por isso sei bem do que falo e respeito muito quem continua, a cada dia, a ter a seu cargo vinhas e mais vinhas, controlando o que pode controlar e mitigando os problemas que não pode controlar. Durante este quase quarto de século, asseguro-vos, nunca vi dois anos iguais, dois anos em que fosse possível controlar tudo e, cada vez mais, louvo o saber popular que institui a expressão “até ao lavar dos cestos vai a vindima”.
Num ano dito normal, a vinha arranca com o abrolhamento na primavera ou ligeiramente antes, e experimenta uma forte expansão vegetativa com o aumento (não extremo) das temperaturas, especialmente enquanto goza dum conforto hídrico. Normalmente, com a chegada do verão, a dinâmica de crescimento diminui, o stress hídrico e as temperaturas mais extremas encarregam-se de frenar a expansão vegetativa. Algumas folhas acusam o desgaste, secam de muito fotossintetisar, por falta de água ou queimadas por golpes de calor. Estamos então no verão durante o qual, algumas castas e em algumas regiões, tem lugar a vindima. No outono vindimam-se as castas mais tardias e acentua-se o abrandamento da actividade vegetativa e a senescência foliar, muito ajudada pela diminuição das temperaturas e das geadas outonais. Isto é a preparação para a dormência, do merecido descanso, pois para o ano haverá mais.

DEITAR TARDE, ACORDAR CEDO…

No ano de 2018, do abrolhamento até julho, houve muita chuva que fez com que a temperatura do solo nunca fosse tão elevada. Também as temperaturas do ar foram menos
elevadas relativamente à norma. Consequentemente, as vinhas foram-se desenvolvendo com um atraso vegetativo assinalável. Depois, no início de agosto, tivemos uma onda de calor que durou 4 dias, que bateu recordes e que, em muitos casos, dizimou a produção com um escaldão de má memória. Por muito que não se diga, para jornalista não escrever e consumidor não ouvir… houve muitas maturações desequilibradas, pelo que a evolução dos vinhos é uma incógnita. Com tudo isto, as vindimas foram, como não tenho memória, mais tardias. Por sorte não choveu, fruto dum verão que entrou pelo outono dentro. As folhas tardaram a cair e penso que não exagerarei em afirmar que o ciclo acabou cerca de um mês mais tarde do que a média dos anos anteriores.
O outono e inverno vieram secos. Com o solo seco, a temperatura do solo subiu com facilidade fruto das temperaturas mais elevadas do final de fevereiro e março deste ano de 2019. Como consequência, as raízes iniciaram a sua atividade e o abrolhamento teve lugar uns quinze dias mais cedo do que o habitual.
Contas feitas, as vinhas terão entrado em dormência cerca de uns mês mais tarde do que o habitual e abrolharam uns 15 dias mais cedo, ou seja, terão tido menos um mês e meio de dormência. Estarão, certamente cansadas, intolerantes e irritadiças. Vamos ver as consequências que isto terá para a qualidade dos vinhos e para a perenidade das vinhas.

Edição Nº25, Maio 2019

Almaviva – Velho e Novo Mundo no Chile

O projecto Almaviva foi pensado de raiz, resultando de uma joint-venture entre o velho e o novo mundo, um château em território chileno; eis Almaviva, um tinto cuja qualidade e consistência não se esquecem. TEXTO Nuno de Oliveira Garcia FOTOS Almaviva Ao contrário da vizinha Argentina, o Chile tinha pouca tradição de vinho até aos […]

O projecto Almaviva foi pensado de raiz, resultando de uma joint-venture entre o velho e o novo mundo, um château em território chileno; eis Almaviva, um tinto cuja qualidade e consistência não se esquecem.

TEXTO Nuno de Oliveira Garcia

FOTOS Almaviva

Ao contrário da vizinha Argentina, o Chile tinha pouca tradição de vinho até aos anos ’80 do século passado. Ainda hoje, o consumo de vinho no país é relativa¬mente residual, apesar da produção ter, entretanto, explodido, fazendo do Chile um dos grandes produtores mundiais (sétimo, mais precisamente). Nos anos 90, muitos produtores passaram a olhar para o Chile, sobretudo para a região de Maipo (não muito longe da capital, Santiago), como um destino dos seus investimentos. Para isso também contribuíam as excelentes condições do país, como sejam terrenos e mão-de-obra pouco dispendiosos, solos relativamente férteis, permitindo boas produções, e um clima tendencialmente mediterrânico, sem muitas oscilações, e temperado por influência do oceano pacífico.
Os dados revelam que em 1995 existiam cerca de vinte adegas e produtores no Chile; agora são praticamente trezentos…

UMA PARCERIA DE SUCESSO

Um dos projectos mais aliciantes desde o início, cuja primeira colheita foi a de 1996, foi o Almaviva, resultado de um acordo celebrado entre a Baronesa Philippine de Rothschild e Eduardo Tagle, ou melhor entre os gigantes empresariais Baron Philippe de Rothschild (França, Bordéus) e Vinícola Concha y Toro (Chile, Maipo). Como é sabido, o grupo Baron Philippe de Rothschild marcou presença vínica em vários países na viragem do século, numa clara política de dispersão de investimentos, quase sempre recorrendo a parcerias com produtores locais (inclusivamente em Portugal), sendo que Almaviva, a par do projeto americano Opus One, tem sido das mais bem-sucedidas.
A influência bordalesa, e a lógica de châteaux (a própria casa da propriedade tem inspiração francesa), foi sempre evidente, predominando no encepamento e no lote (é praticamente um field blend) o Cabernet Sauvignon, sempre maioritário. Igualmente relevante é a presença de Carménère, a casta rainha do Chile (mas francesa de origem), confundida no passado por Merlot. O ‘sal e a pimenta’ ficam a cargo do Cabernet Franc e do Petit Verdot, com a primeira casta a chegar quase aos 10% em algumas colheitas. No solo da propriedade – são 63 hectares em produção dos 68 totais da propriedade – é visível a presença de muita pedra rolada advinda do leite do rio Maipo e a pluviosidade raramente ultrapassa os 200ml. A propriedade, sita em Puente Alto, é muito próxima da vinha que produz outro ícone chileno – Don Melchor – o que atesta a grandeza deste terroir. Igualmente revelador da preponderância francesa, o escoamento dos vinhos é feito quase todo – cerca de 90% – para Bordéus, e daí para o mundo, com cerca de 5% a ser comercializado pela Concha & Toro e outros tanto que fica para consumo interno no Chile e alguns clientes privados muito especiais.

Vinha com a cordilheira nevada em plano de fundo.

NOME DE ORIGEM FRANCESA

Apesar do bonito nome soar espanhol, vem da literatura francesa clássica, pois o Conde de Almaviva era o herói das Bodas de Fígaro, a famosa comédia de Pierre-Augustin Beaumarchais, adaptada para ópera por Mozart. A marca é sinónimo do que melhor se faz no Chile, sendo agraciado com fama e prestígio dentro e fora do seu país. Em viagem que fizemos há algum tempo ao Chile, e na qual percorremos várias regiões, podemos comprovar isso mesmo. Almaviva é porventura o nome mais repetido no Chile quando se pergunta qual o ícone vínico que mais respeita a qualidade e consistência, ao lado de nomes famosos como Don Melchor, Viña Santa Rita Casa Real, Viña Montes Alpha M, Viñedo Chadwick e Lapostolle Clos Apalta.

PROVA VERTICAL: 2015 BRILHOU A GRANDE ALTURA

Recentemente tivemos a oportunidade de fazer uma pequena vertical do vinho a convite do importador nacional, a Luxury Drinks (www.luxury-drinks.pt), empresa que, como o nome indica, é especialista na importação de marcas de renome como Gaja, Ornellaia ou Domínio de Pingus. Das várias colheitas provadas, comprovou-se a excelência do ano 2015 (o vinho obteve 100 pontos na Wine Spectator, atribuídos por James Suckling), um tinto absolutamente sedutor, com uma prova de boca sedosa e leve-mente mineral; um verdadeiro must! A colheita de 2010 revelou-se jovem ainda, ou seja, a dar boas indicações quanto à longevidade da marca. Isto comprovou-se com a prova das colheitas de 1999 e 2000, ainda que estas revelassem um perfil mais bordalês e menos novo-mundista (inclusivamente com um toque de fenol volátil no 1999…). A mais recente colheita no mercado é a de 2016, mantendo um registo muito acessível e prazeroso, de enorme atração, mas sem a complexidade demonstrada no vinho de 2015.

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Edição Nº25, Maio 2019

Reguengos Garrafeira dos Sócios – A desafiar preconceitos

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Fizemos a proposta à CARMIM e foi aceite de imediato: uma vertical desta marca que sempre se assumiu como o topo de gama da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz. O resultado foi surpreendente e contraria os que defendem que os vinhos do Alentejo são para ser apreciados enquanto jovens.

TEXTO João Paulo Martins                     FOTOS Mike The Axe

A CARMIM, mais do que uma adega cooperativa é uma Cooperativa Agrícola. A diferença tem razão de ser porque uma grande percentagem dos sócios não é produtora de uva mas sim de azeitona. Estamos em terras quentes e onde dominam as culturas de sequeiro. Essa característica foi de resto determinante para que, apesar da proximidade com a albufeira do Alqueva, Reguengos ficasse inicialmente fora do perímetro de rega. Há então cerca de 45% dos produtores que só fazem viticultura de sequeiro. A água da albufeira só chegará em 2022, segundo Miguel Feijão, presidente da CARMIM. Viticultura de sequeiro significa também que a produtividade é muito baixa, não chegando às seis toneladas/hectare. Já o olival não tem conhecido grande expansão porque “não há terrenos livres e os que há são de muito pequena dimensão; encontrar um terreno livre de 10 hectares é um luxo”, lembra o presidente, também ele viticultor.

A CARMIM tem há 15 anos um posto de enoturismo que recebe muitos visitantes (6.000 por ano) e uma loja no centro da vila onde a venda de produtos é até mais forte do que na própria cooperativa. Miguel Feijão diz também, com orgulho que “toda a electricidade que gastamos é produzida por nós em placas foto-voltaicas e nas nossas instalações vinificamos cerca de 20 milhões de quilos de uva, numa laboração muito planeada que nos permite fazer vinhos de perfis e estilos muito diferenciados. Somos também dos maiores exportadores do Alentejo”.

Há muitos anos a dirigir a enologia está Rui Veladas, agora coadjuvado por Tiago Garcia que esteve anteriormente na Herdade das Servas. São 3,300 hectares de vinha que têm de apoiar e todos os anos há entre 200 e 300 ha a serem reconvertidos. Por aqui ainda existem muitas vinhas com castas antigas, como Tamarez, Moreto, Periquita e Carignan e, nas vinhas velhas de castas misturadas também aparece o Alicante Bouschet. Foi na sequência da identificação de vinhas velhas com as antigas castas da região que nasceu o tinto Primitivo, um vinho sem barrica de que se fizeram 10.000 garrafas. Há alguns vinhos varietais e um vinho de parcela (ainda sem nome) que incorporará Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira de vinhas dos anos 80. Nos brancos a CARMIM apronta um Verdelho (que Rui Veladas fez questão de salientar que não é Gouveio) e vai haver um re-lançamento do espumante. Os vinhos “de combate” mantêm-se, com as marcas Reguengos e Terras d’el Rei.

Ao contrário do que vêm fazendo vários produtores da região, a cooperativa ainda não decidiu engarrafar vinhos de talha; já têm dois anos de experiência mas não há lançamentos previstos até porque só há duas ta-lhas preparadas. Estágio em ânfora “talvez possa ser interessante, vamos ver”, confessa Rui Veladas. Ao contrário de outras cooperativas, a CARMIM certifica praticamente tudo o que produz, ou seja, mais de 15 milhões de garrafas.

UMA MARCA COM HISTÓRIA

O Garrafeira dos Sócios é o mais clássico vinho da casa e foi durante muito tempo um ex-libris do Alentejo, com a fama a justificar o crescimento do número de garrafas produzidas em cada colheita. Antes, houve outros vinhos, claro, como o Reguengos de Monsaraz 1972, o primeiro tinto da cooperativa e que também provámos.

O 1972, que não tem teor alcoólico indicado no rótulo, foi feito por Paulo Lourenço, um enólogo da antiga Junta Nacional do Vinho e que apoiou tecnicamente várias cooperativas alentejanas quando da sua fundação. Foi o primeiro vinho da adega. Quanto a castas, é muito provável que tenha Moreto, Periquita (Castelão), Tinta Caiada, entre outras.

O 1982, sem as indicar, diz que foi feito com “castas recomendadas” e no rótulo ainda menciona “vinho do Rei”. João Portugal Ramos entrou na cooperativa em finais dos anos 80, coincidindo com o crescimento de notoriedade da marca Garrafeira dos Sócios.

O 1989 é o primeiro vinho a surgir com a então muito recente denominação de origem Alentejo (VQPRD) e deixa ao mesmo tempo de se chamar Terras d’el Rei. Foi feito em depósitos de cimento e balseiros, uma vez que a adega, na época, ainda não possuía cubas inox.
Como curiosidade, refira-se que na prova efectuada verificámos que os vinhos dos anos 80 quase não deixam depósito na garrafa, ao contrário dos da década de 90 que mostram imensa precipitação. Não temos uma explicação conclusiva para esse facto.

A partir da colheita de 2001 o Garrafeira dos Sócios passa a centrar-se nas castas Trincadeira e Aragonez, com um toque de Cabernet Sauvignon. O 2003 é o primeiro a assumir a DOC Alentejo. Finalmente, desde a colheita de 2011 o vinho tem menos Trincadeira e Aragonez e mais Alicante Bouschet.

No conjunto, a prova do Reguengos Garrafeira dos Sócios revelou-se uma excelente surpresa que evidenciou o potencial da região do Alentejo para fazer vinhos que desafiam o tempo. E derrubam pre-conceitos…

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Edição Nº25, Maio 2019

A Touriga que é Nacional

A Touriga Nacional é uma casta de grande personalidade, capaz de produzir todo o tipo de vinhos – desde espumantes de alta qualidade até Vinhos do Porto. É expressiva, com muita frescura aromática, numa fina elegância que integra os traços inconfundíveis de violeta, bagas e citrinos de bergamota. Mesmo tendo o carácter varietal bem definido, […]

A Touriga Nacional é uma casta de grande personalidade, capaz de produzir todo o tipo de vinhos – desde espumantes de alta qualidade até Vinhos do Porto. É expressiva, com muita frescura aromática, numa fina elegância que integra os traços inconfundíveis de violeta, bagas e citrinos de bergamota. Mesmo tendo o carácter varietal bem definido, deixa transparecer o terroir, a abordagem enológica e até o estilo do produtor, sem perder a sua identidade. Nesta prova de 50 vinhos de Touriga Nacional, a grandeza e versatilidade da casta ficaram bem evidentes.

TEXTO Valéria Zeferino FOTOS Ricardo Gomez

A casta tinta mais nacional nem sempre foi apelidada como tal. Ao longo da sua existência teve muitas sinonímias em várias zonas do país – Tourigo e Touriga, Tourigo Fino e Touriga Fina, Mortágua, Preto Mortágua e até Azal. Considera-se que, precisamente, os nomes Tourigo e Mortágua indicam a origem da casta, ligando-a à região do Dão, onde existem duas localidades com o mesmo nome. De acordo com o Estudo de Ampelografia Portuguesa de 1865, a Touriga era de longe a casta mais plantada no Dão antes da filoxera.
As primeiras referências do seu cultivo surgem em 1790 por Lacerda Lobo e em 1791 é Rebelo da Fonseca que a caracteriza como “uma casta produtiva e de maturação precoce”. Vis¬conde de Villa Maior em 1865 elogia a Touriga, dizendo que “é excelente e dá vinho muito coberto, resiste ao oídio (…)”.
Em 1900, Cincinato da Costa referiu a variedade no seu monumental O Portugal Vinícola como “casta tinta de valor, geralmente aprecia¬da em todo o norte do país pelo grande rendimento que dá e a superior qualidade dos vi¬nhos que origina.” Dizia ainda que na região da Beira e em especial entre os rios Mondego e o Dão, “os vinhedos têm um cunho muito característico e são justamente afamados, é a Touriga a casta predominante (…)”.

O potencial enológico da Touriga Nacional foi com¬provado, o que não só a salvou da extinção, como fez dela o primeiro objecto de investigação clonal aprofundada em Portugal, que permitiu identificar do universo de 197 clones os melhores em termos de resistência a doenças, rendimento, açúcar, acidez etc.
O combate da filoxera obrigou o uso de porta¬-enxertos americanos, resistentes ao insecto malicioso. Esta medida, embora tenha resolvido o problema da praga, não foi particularmente acertada no caso da Touriga Nacional, reduzindo drasticamente a sua produtividade. A casta, com “muita parra e pouca uva”, passou de bestial a besta no meio dos viticultores, pois o rendimento baixíssimo (menos de 800 gramas por planta) não era comercialmente viável.
A recuperação da fama foi lenta e só aconteceu a partir de meados do século passado graças aos estudos de Gastão Taborda no Douro nos anos 50 (continuados posteriormente por José António Rosas e João Nicolau de Almeida) e Alberto Vilhena no Dão dos anos 60. O potencial enológico da Touriga Nacional foi com¬provado, o que não só a salvou da extinção, como fez dela o primeiro objecto de investigação clonal aprofundada em Portugal, que permitiu identificar do universo de 197 clones os melhores em termos de resistência a doenças, rendimento, açúcar, acidez etc.

ADAPTÁVEL MAS COM MUITA PERSONALIDADE

A Touriga dá-se bem em todos os tipos de solos, mesmo pesados e férteis. Continua a ser uma casta com vigor vegetativo notável e tem porte retumbante, crescendo para os lados, o que exige mais trabalho na vinha e pode causar danos físicos à planta em condições de ventos fortes. Para além do baixo rendimento, a Touriga Nacional ainda tem a tendência para o desavinho e a bagoinha, com abrolhamento e floração precoce, problemas que podem acentuar-se nas condições climáticas adversas na primavera. Actualmente, com conhecimento adquirido, é possível controlar o vigor e o rendimento através de clones e porta-enxertos apropriados e da poda correcta conforme as condições.
A Touriga Nacional amadurece algo tarde, sendo uma casta de ciclo longo, cujo amadurecimento completo às vezes pode ser comprometido pelo frio e chuvas de outono. Produz cachos pequenos de cerca de 100-200 gramas, raramente atingindo 250 gramas. Os seus pequenos e relativamente soltos bagos possuem uma película bastante grossa que é rica em polifenois e protege o bago do sol e do calor. É uma autêntica trabalhadora, resiste bem ao calor e continua a fazer fotossíntese até a última graças à elevada eficiência do uso da água. Entretanto, o stress hídrico tem que ser controlado, sobretudo quando combinado com calor excessivo. Nestas condições, a Touriga é sensível ao escaldão das folhas e tem tendência a livrar-se delas, expondo os cachos ainda mais ao sol.

N’O Portugal Vinícola, a Touriga é referida como uma casta aneira que produz muito num ano para dar pouco noutro. O enólogo Manuel Vieira (Caminhos Cruzados) não a considera aneira do ponto de vista enológico e é até bastante regular em termos qualitativos: não varia do óptimo para péssimo, antes oscila entre óptimo e muito bom ou bom. Tinta Roriz e Alfrocheiro, neste aspecto, são mais aneiras, diz Manuel Vieira. Mas o factor ano acaba por ser importante quando se quer fazer um vinho varietal de grande qualidade, repara o enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo. Como diz, e bem, Pedro Rodrigues, da Quinta dos Termos, a Touriga Nacional dá o que toda a gente quer: cor, álcool, tanino, acidez e um aroma atraente.
É uma casta terpénica pela concentração elevada de terpenos livres, responsáveis pelos aromas florais e frutados que, curiosamente, são mais intensamente encontrados sobretudo em variedades brancas como Moscatel, Gewurztraminer, Viognier ou Alvarinho.
A Touriga ainda é particularmente rica em norisoprenóide beta-ionona, associado ao aroma de violeta. Conforme os estudos do Instituto Superior de Biotecnologia, a concentração deste composto diminui com a presença de oxigénio, o que explica porque os aromas de violeta são mais evidentes quanto menos barrica se usa na vinificação.

Sabe-se também que a nossa Touriga é atreita a desenvolver fenóis voláteis (o desagradável aroma de suor de cavalo) por ter grande teor de ácido ferúlico e cumárico, utilizados no metabolismo de brettanomyces. Se, ainda por cima, o vinho for estagiado em barricas novas que mais rapidamente absorvem o sulfuroso, é preciso um controlo redobrado.
A Touriga funciona bem nos vinhos de entra¬da de gama por ter um aroma imediatamente atractivo e ser naturalmente muito equilibra¬da. Mas existem Tourigas que evoluem muito bem. Manuel Lobo atribui à Touriga uma longevidade média, já Graça Gonçalves afirma que na Quinta do Monte D’Oiro tem Tourigas de 2004 e estão óptimas, e Manuel Vieira lembra-se de provar no final dos anos 80 as mini-vinificações de Touriga Nacional feitas nos anos 50 pelo Eng.º Vilhena em Nelas, que estavam de perfeita saúde.

A TOURIGA E A BARRICA

“Touriga é uma casta muito plástica, capaz de dar vinhos bem diferentes uns dos outros. Sem barrica dá vinhos elegantes, mas também tem especial apetência pela barrica, não se deixa comer pela madeira. Tem personalidade, é uma casta criativa.” – defende Manuel Vieira. O enólogo costuma fazer maceração pré e pós-fermentativa, ao que Touriga responde bem. Utiliza barricas de primeiro, segundo e terceiro ano, prefere tosta média, mas varia o nível de tosta para fazer um lote final.
Já Manuel Lobo indica que a casta não tem muito tanino, comparativamente com a Tinta Roriz ou Touriga Franca. Às vezes falta-lhe um pouco de dimensão e de persistência e não tem camadas como algumas outras castas. Precisa de madeira para lhe conferir algum tanino, mas prefere barricas com porosidade apertada e não gosta de tosta muito elevada.
Graça Gonçalves menciona que a Touriga Nacional se porta muito bem na fermentação alcoólica, costuma ser a mais rápida a atingir o pico, por isto é necessário um bom arrefecimento na vinificação. Tem uma cor fabulosa, mas perde-a com alguma facilidade por não ter muito tanino a fixar antocianinas. Prefere Touriga em barricas usadas, mas utiliza 30% de barrica nova com tosta média.
Na Quinta dos Termos opta-se por um lote de barricas de carvalho francês e húngaro. Pro¬curam “não matar a frescura”. Utilizam madeiras com tempo de secagem longo (8 anos) pela convicção que é preferível do que usar uma barrica velha com poros saturados, ex¬plica Pedro Rodrigues.
Bernardo Cabral, enólogo da Companhia das Lezírias, afirma que quando é feito um bom trabalho de campo, a Touriga equilibra-se bem na adega. Não gosta de utilizar carvalho americano, que mascara a personalidade da Touriga Nacional, ao contrário do carvalho francês que eleva a casta. E sempre tem uma parte sem barrica para compor o lote final.
Na opinião do enólogo e produtor António Maçanita é o perfil aromático que define a casta, por isto não utiliza barrica para preservar a pureza dos aromas varietais. “É mais difícil fazer uma grande Touriga de concentração do que uma Touriga igual a si própria. Não vale a pena forçar. Há outras castas para potência”, refere.

MANTENDO O CARÁCTER REGIONAL

O terreno do Douro com um número infinito de exposições multiplicadas por diversas altitudes permite fazer um lote de vinhas como, por exemplo, acontece na Quinta do Crasto. Utilizam uvas oriundas das três vinhas com exposições diferentes: uma virada a nascente, outra a sul e a terceira apanha um pouco de exposição norte. As vinhas ficam à altitude de cerca de 300m, que parece ser a ideal, por¬que estão afastadas dos calores das cotas baixas, mas sem comprometer a maturação. Como as vinhas não são rega¬das, é importante que em baixo do xisto, a um metro de profundidade, exista argila que retém água do inverno.
No mais húmido Dão, a resistência da casta às chuvas é um requisito importante. Manuel Vieira explica que a película da Touriga Nacional é bastante elástica e não deixa o bago rebentar quando incha, como acontece com Alfrocheiro. A Touriga Nacional do Dão tem frescura, equilíbrio e complexidade. Os aromas raramente chegam a lembrar fruta em compota. O clássico aroma ao citrino bergamota é para Manuel Vieira associado a pouca maturação.
António Maçanita trabalha com Touriga Nacional em duas regiões. No Alentejo, inicialmente andava à procura da concentração na Touriga. Em 2015 ficou impressionado com o seu perfil aromático (pétalas de rosas, flor de laranjeiro), quando vindimada mais cedo.

A partir daí privilegia a elegância à concentração. No Douro, a sua Touriga do Cima Corgo também só estagia em inox para acentuar os aromas, mas a do Douro Superior tem mais consistência e estrutura, por isto já utiliza alguma barrica.
Segundo Pedro Rodrigues, na Beira Interior a Touriga demora muito a amadurecer, sendo geralmente das últimas a ser colhida. A acumulação de açúcares não acontece rápido, por isso tem tempo para desenvolver os aromas. Mesmo que chova não há problema, porque resiste à chuva. Considera que o factor ano é importante para o perfil do vinho monovarietal. Em 2016 conseguiram o perfil que tanto procuravam – leve, elegante e aromático.

A TOURIGA E O CONSUMIDOR

Nas lojas de vinhos nacionais os consumidores, normalmente, não procuram os vinhos pela variedade, diz Vanessa Neves da garrafeira Empor Spirits & Wine em Lisboa, mas quando se sugere a Touriga Nacional a maioria reconhece e valoriza a casta. Ivone Ribeiro, a proprietária da garrafeira Garage Wines em Matosinhos, nota que há algum interesse pelos monovarietais, quando o consumidor vai à procura da essência das castas. Alguns grupos de clientes até se juntam para provar, por exemplo 10 Tourigas diferentes.
Ambas apontam que a casta funciona sempre bem como opção de oferta. Os Tourigas estruturados e com madeira normalmente impressionam, mas os consumidores mais “exigentes” ou com mais conhecimento de marcas e estilos procuram Touriga mais fresca e elegante.
Mesmo tendo muito orgulho na nossa Touriga Nacional, temos que ter noção que para maioria dos consumidores estrangeiros a casta continua uma ilustre desconhecida. Marco Alexandre – diretor do Table Group com 8 restaurantes no centro de Lisboa, onde 95% da clientela é internacional, afirma que os estrangeiros procuram mais aquilo que conhecem – Sauvignon Blanc, Chardonnay e Cabernet Sauvignon. Mas aceitam provar um vinho de Touriga Nacional quando é sugerido e normalmente gostam.
Inegável é o facto de que, entre as mais de 250 castas portuguesas, a Touriga Nacional é a variedade tinta que possui mais notoriedade e imagem mais consolidada entre os enófilos e os profissionais. O ritmo de crescimento da Touriga nas novas plantações é o reflexo disso mesmo. E lá fora, é quase sempre a casta bandeira do país, autêntica embaixadora quando se fala de vinhos de Portugal. Elegante, personalizada, impositiva, exuberante (demasiado, por vezes), a Touriga Nacional não deixa ninguém indiferente.

Cada vez mais plantada
Em 1989 (há 30 anos) a Touriga Nacional nem sequer fazia
parte das 15 castas mais plantadas de Portugal, ou seja,
representava menos de 1% dos encepamentos nacionais
(na altura a lista era liderada por Fernão Pires, Castelão e
Baga com 9, 8 e 5% respectivamente).
De acordo com os dados mais recentes do Instituto da
Vinha e do Vinho, a Touriga Nacional subiu ao terceiro lugar
(a seguir a Aragonez e Touriga Franca) e ocupa 13.032 ha, o
que corresponde a 7% da plantação nacional. A maior área
da Touriga está no Douro – 4.524 ha. No Dão é a 2ª casta
mais plantada, a seguir à Jaen, com 3.191 ha. No Alentejo
ocupa 1.313 ha, em Trás-os-Montes 1.169 ha, ficando as
Beiras (Bairrada + Beira Interior) com 930 ha, a região de
Lisboa com 646 ha e o Tejo com 504 ha.

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Edição Nº25, Maio 2019

O Dão de Carlos Lucas, e a Quinta de Santa Maria

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Não é o mais antigo produtor do Dão, mas o vinho não escolhe idades. Com um portefólio diverso, de qualidade mais do que comprovada, Carlos Lucas continua a adquirir terreno e a alargar os horizontes da empresa.

TEXTO Mariana Lopes     NOTAS DE PROVA Luís Lopes e Mariana Lopes     FOTOS Anabela Trindade

Carlos Rodrigues é o braço direito de Carlos Lucas.

Há vinhos que se associam a um homem e um não faz sentido sem o outro. Condição sine qua non. É o caso do Ribeiro Santo e de Carlos Lucas, dois nomes que juntamos desde o ano 2000, data do primeiro vinho assim baptizado. Localizada em Oliveira do Conde, Carregal do Sal, a Magnum Carlos Lucas Vinhos materializa-se numa adega bonita e discreta, mas moderna e prática, bem ao estilo pragmático do seu mentor. Mas é aqui que esta palavra se torna plural: mentores. Sempre ao lado de Carlos Lucas está Carlos Rodrigues e, juntos, estes dois enólogos criam vinhos no Dão e também além das suas fronteiras, essencialmente no Douro (com os vinhos Baton) e no Alentejo (origem dos Maria Mora).
Carlos Lucas iniciou a sua carreira em enologia em 1992, na Adega Cooperativa de Nelas, após ter concluído a formação em Montpellier. Um par de anos mais tarde, dedicou-se à fundação e administração de outros projectos, uma era que culminou na criação da empresa que tem o seu nome, em 2011, e à qual acoplou a marca Ribeiro Santo. Enquanto tudo isto, várias consultorias tomaram lugar e também a responsabilidade pelo projecto Quinta da Ala¬meda de Santar, que partilha com o amigo Luís Abrantes. Carlos Rodrigues, por sua vez, é bairradino e foi nessa região começou a actividade enológica, sob a orientação de Mário Pato, um dos primeiros enólogos a ensinar o ofício em Portugal. Provavelmente foi essa vivência que o fez ligar-se tanto à investigação e participar em vários estudos científicos. Apesar de ter feito vinhos em várias regiões do país, foi na Bairrada que se afirmou como “mestre” em espumantes, experiência que hoje aplica na Magnum Vinhos.

A QUINTA DO RIBEIRO SANTO

Conta a história que nesta quinta havia um ribeiro que nunca parava de correr, nem nos anos mais secos. Tendo outrora sido quinta de fidalguia, foi depois adquirida por um padre, que crismou esse ribeiro e o tornou “santo”. Mais tarde, em 1994, a Quinta do Ribeiro Santo tornou-se propriedade da família de Carlos Lucas, que encetou a reconversão das vinhas. Plantadas, no solo de granito pobre, estão as uvas tradicionais do Dão, as tintas Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinto Cão e a branca Encruzado. Além do vinho homónimo, é desta quinta que saem nomes como Automático, Envelope e o icónico E.T. (nome que vem de Encruzado e Touriga Nacional), entre outros.
A produção anual já vai nos 200 mil litros, mas Carlos Lucas revelou que vão “duplicar a capacidade das cubas de inox até ao Verão”, o que significa que esse número continuará a crescer. Para fora de Portugal vai 60% dessa produção, principalmente para o Brasil, que é o melhor mercado da Magnum Carlos Lucas Vinhos. No entanto, “as vendas crescem cada vez mais nos países da Europa e nos Estados Unidos”, disse o enólogo.

APOSTANDO NA REGIÃO, E NÃO SÓ…

Natália Korycka, Nádia Rodrigues e Carlos Lucas na Quinta de Santa Maria.

Foi com as aprendizes e jovens enólogas Natália Korycka e Nádia Rodrigues que Carlos Lucas nos levou à Quinta de Santa Maria, propriedade adquirida por si em Maio de 2018. São dez hectares em Cabanas de Viriato, uma vila com um encanto muito próprio, daquele que só as pequenas localidades do Dão comportam, com as casas em pedra onde o sol reflecte e reluz ao amanhecer. Com muita história, Cabanas de Viriato é o berço de Aristides de Sousa Mendes, cuja casa ainda lá figura.
O primeiro impacto ao pôr os pés no terreno é a deslumbrante vista para a Serra da Estrela, em plano de fundo. A quinta, murada em todo o seu redor, tem vinhedos com 18 anos e esteve abandonada durante cinco, antes de passar para as mãos da Magnum Vinhos. Era posse de uma família de Nelas que lá tinha raízes e Carlos já conhecia bem o potencial daquelas parcelas, tendo sido ele a plantá-las quando do seu anterior projecto. Rodeadas por oliveiras e retalhos de bosque, as uvas são 30% brancas e 70% tintas, com Encruzado, Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinto Cão a crescer no solo típico da região, pobre, granítico e arenoso, de raízes superficiais. Mas ainda há planos para plantar mais Encruzado nos espaços livres, deixando sempre as manchas de pinheiros bravos. “A partir de agora, tudo o que eu puder plantar será branco”, revelou Carlos Lucas.
Caminhando pela propriedade adentro, chega-se a uma adega antiga, ainda intocada, que será remodelada, mantendo o seu carácter tradicional. Depois, uma casa que parece descansar ali há muito tempo… Virando a sua esqui¬na, somos surpreendidos por uma pérgola de granito coberta por musgos, condição própria de um habitat que está quase sempre à sombra da casa. O interior está “romanticamente” abandonado, com algum mobiliário velho e esquecido, e algumas garrafas de vinho, de outro tempo, partidas no chão. E é quando passamos para a frente desta que entendemos tudo: aquele local tem um grande potencial para enoturismo e Carlos Lucas sabe disso. Toda essa zona, protegida por árvores, convida a um almoço “on site” descontraído a olhar para as videiras, harmonizado com os vinhos Magnum. “Vamos remodelar a casa e construir mais quartos no meio da vinha, para que o visitante possa ter aqui a experiência completa”, adiantou Carlos Lucas. Mas esta quinta tem um objectivo maior: fazer um vinho de topo, um Vinha Santa Maria. Por enquanto, temos de esperar por ele.
A expansão, no entanto, não acaba aqui. Foi em jeito de notícia em primeira mão que o enólogo nos contou que 109 hectares, no Douro, já são seus, dez desses de vinha. “Eu não quero ser a maior empresa, quero ter credibilidade, bons vinhos e uma equipa feliz”, confessou. Daquilo que apurámos, parece que tudo se confirma.

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Edição Nº25, Maio 2019

Vercoope, uma adega muito especial

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Que caso especial é este? De facto, não existe nenhum projecto semelhante em Portugal. E existe há umas boas décadas na região dos Vinhos Verdes, embora poucos enófilos o conheçam. Veja o relato de uma associação que não só teima em singrar, como está apostada em fazer mais e melhor.

TEXTO António Falcão       NOTAS DE PROVA Luís Lopes      FOTOS Anabela Trindade

Em Portugal, a maioria das cooperativas vitivinícolas nasceu nos anos 60 do século passado. Nestas últimas décadas, a história encarregou-se de validar este modelo empresarial (e social) e, olhando para trás, chegamos à conclusão de que foram muitas as que, entretanto, tombaram, caindo no esquecimento dos consumidores. Sobretudo por falhas de gestão, e, dentro destas, por falta de capacidade comercial.
Nos anos 60, um conjunto de seis cooperativas da região dos Vinhos Verdes teve a visão de se associar para, em conjunto, conseguirem ter mais força no mercado. Assim nasceu a Vercoope, criada em 1964 e que reuniu sete adegas cooperativas: Alto Cávado, Amarante, Felgueiras, Guimarães, Paredes, Vale de Cambra e Vila Nova de Famalicão. Algumas tinham já anos de laboração, como Felgueiras e Amarante. Outras tinham acabado de nascer.
O objectivo era o de criar uma espécie de braço comum para receber os vinhos vinificados por cada um dos associados, fazer os respectivos lotes, engarrafar e tratar de todo o marketing e da comercialização do vinho.
Esta filosofia de funcionamento seria pouco comum nos dias de hoje, mas nos anos 60 terá certamente sido extraordinária. Melhor ainda, o projecto foi singrando ao longo dos anos e hoje mantém-se de pedra e cal. Implica entre 4.000 e 5.000 viticultores e muita gente se teria questionado que, se não tivesse existido a Vercoope, quantas destas adegas ainda estariam vivas…
A Cooperativa de Felgueiras é a maior por boa margem e por isso não espanta que o administrador da Vercoope tenha vindo de lá.

DA VINHA ATÉ À ADMINISTRAÇÃO

A ‘cabeça’ da Vercoope chama-se Casimiro Alves e é engenheiro agrónomo de formação. Teve, contudo, um percurso muito sui generis, quase sempre ligado à Adega de Felgueiras: começou na vinha, mas passou depois para a adega, como enólogo. Algum tempo depois transitou para a área comercial, antes de entrar, em 2011, como administrador da Vercoope. Ou seja, Casimiro conhece todo o processo de produção e, melhor ainda, os meandros da comercialização. Esse conhecimento certamente lhe faz muito jeito no dia a dia, nomeadamente no relacionamento com João Gaspar, o enólogo residente da Vercoope.
O trabalho de João passa fundamentalmente por provar (e analisar) os vinhos nas respectivas adegas e depois fazer lotes, já nas instalações da Vercoope. A maioria do vinho vem das adegas em monocasta e o facto de ir para lote ou ser engarrafado como varietal é depois decisão de João Gaspar, que toma resoluções depois de consultar a área comercial e de gestão. Em alguns casos, João faz lotes de meio milhão de litros, como o Escolha da marca Via Latina.
No total, contudo, a Vercoope produz anualmente cerca de 9 milhões de garrafas.

UMA ADEGA DE GENEROSO TAMANHO

Já se adivinha que, para armazenar e engarrafar todo este vinho, a adega tem de ser grande. E é de facto enorme, ocupando vários pavilhões industriais junto à estrada nacional 105, vizinha à povoação da Agrela, concelho de Santo Tirso. Estas instalações foram inauguradas em 1980, mas já foram alvo de muitas obras. Como as que foram feitas para acomodar as duas linhas de engarrafamento, usadas não só para os produtos da casa, mas ainda para algumas marcas feitas pelas próprias adegas associadas. Ou ainda para terceiros. Uma das linhas consegue 5 a 6 mil garrafas/hora; a outra, mais moderna e totalmente automatizada, de 8 a 10 mil. Estas linhas trabalham praticamente to¬dos os dias da semana.
A adega inclui um laboratório bastante completo, agrupando a parte química e microbiológica. “Todos os dias se fazem aqui análises, de vinhos a encher até vinhos que recebemos”, diz o administrador. E continua: “os vinhos são pagos consoante a qualidade; aqui fazemos a parte laboratorial; a prova organoléptica é feita na Comissão de Viticultura, no Porto”.
O quê? Análises? Químicas e sensoriais? E de repente, nós paramos, atónitos.

UM MODELO BASEADO NA RESPONSABILIDADE

Pois é, apesar de os fornecedores serem associados (leia-se, sócios), aqui não há facilidades. Ou o vinho que vem das adegas é bom, e o preço compensa, ou é fraco e mal se paga a si mesmo. E os parâmetros de análise são os mais completos que vimos até hoje. Refira-se que a prova sensorial na Comissão dos Vinhos Verdes é cega: os provadores/avaliadores não sabem o que estão a provar. Este serviço, claro, é pago pela Vercoope.
Quer isto dizer que se um vinho não vier em condições, ele pode nem ser pago pela Vercoope ao associado. É para se ver a seriedade com que se trabalha aqui; ou seja, não existem filhos e enteados. “Trabalhamos em clima de confiança total com os nossos accionistas”, garante o administrador.
O preço base do litro adquirido ronda os 75 cêntimos para o branco (o tinto é mais barato) e depois pode ir valorizando até quase ao euro. A única excepção é a casta Alvarinho, que vale quase o dobro. A propósito, a Vercoope também tem Alvarinho de Monção e Melgaço, mas adquire-o na região a produtores locais.
Embora possam parecer baixos, estes preços são compensadores para os associados. De tal maneira que, segundo nos revelou José Sequeira Braga, presidente da Adega de Guimarães e membro da administração da Vercoope, não existem grandes tentações de os próprios accionistas fazerem, por exemplo, o seu vinho ‘especial’ à margem da Vercoope.

EM CONSTANTE CRESCIMENTO

A adega foi sendo remodelada ao longo dos anos, no sentido de melhorar as condições, modernizar a tecnologia e criar condições para certificações cada vez mais exigentes. E agora vai ser ampliada, diz-nos Casimiro. Mais milhão e meio de litros de armazenagem, mas também para fermentação de mostos fora de época. Os mostos são amua¬dos (não se deixam fermentar por acção de sulfuroso) e vão sendo fermentados à medida das necessidades. Isto é benéfico para vinhos de baixa gama, que ficam assim com fruta mais fresca e maior vivacidade. A parte técnica também vai receber novos equipamentos, para aumentar a eficiência e a qualidade dos vinhos. Este ano e nos próximos a Vercoope vai investir 300.000 euros por ano.
Em termos de quantidades, a adega está a receber 10% mais vinho todos os anos. O enorme crescimento vem da reconversão e novas plantações nas vinhas/terras dos associados das respectivas adegas. Este ano deverá superar-se a barreira das 10 milhões de garrafas.
As vendas crescem também mais de 10% ao ano. “Não há muita gente que se possa orgulhar disto”, garante Casimiro Alves, visivelmente satisfeito. Os pagamentos às adegas associadas são por isso rápidos e já ocorreram casos que foram antecipadas, por alguma necessidade pontual. A Vercoope tem estofo financeiro para isso…

Equipa ganhadora: José Castro, marketing e exportação, João Gaspar, enologia e Casimiro Alves, administrador.

3 VINHOS NO TOP 10 DA REGIÃO

As grandes marcas da casa são duas: Via Latina e Pavão. Mas aqui que são também feitas outras referências muito importantes, como Terras de Felgueiras e Urbe Augusta (esta exclusivo Pingo Doce), as duas com mais de um milhão de unidades por ano. A Via Latina vai, na sua maioria (60%), para a exportação, com a Rússia à frente. Todas as outras marcas são muito fortes no mercado interno. No total, a Vercoope tem 3 marcas no top 10 da região.
Só para se ter uma ideia do que tem sido o percurso desta empresa, há 15 anos, por vasilhames, a casa vendia um terço em garrafão, outro terço em garrafa de litro e o restante na normal garrafa de 0,75l. Hoje é quase tudo em garrafa de 0,75. “Ainda não conseguimos acabar com o garrafão, porque alguns clientes, incluindo internacionais, o exigem”, explica Casimiro Alves. Outra exigência do mercado é o vulgar gás adicionado a praticamente todos os vinhos da casa na altura do engarrafamento.

UMA CASA A AUMENTAR EM VELOCIDADE

Casimiro diz-nos ainda que “as vendas estão a correr bem e diversificamos bastante o nosso portefólio, com vários varietais e bi-varietais (Alvarinhos, Loureiro, Azal, Arinto, Espadeiro, etc), Escolhas e Grandes Escolhas…” O monocasta que mais vende é o de Loureiro, mas é a uva Arinto a mais usada nos vinhos da Vercoope. Vai é sobretudo para lotes…
Em termos de mercados, a VVV apenas exporta cerca de 30% da produção. O objectivo, contudo, é aumentar este valor, tarefa a cargo de José Castro, responsável de exportação: “queremos vender este ano 3 milhões de euros em exportação”.
A nossa visita chega ao fim. Não vimos um pé de vinha, quase não se falou em terroir, solos ou climas. São temas importantes, claro, mas aqui na Vercoope o fulcro é manter esta associação de boa saúde para que possa cumprir os seus encargos e que sobre espaço para crescer. Afinal, tal como qualquer empresa que se preze. O que lhe falta? O bem-disposto Sequeira Braga diz na brincadeira que falta “um brasão no portão, o palacete, o charme”. Casimiro Alves pensa em outros voos, como os de fazer conseguir aumentar paulatinamente o preço médio dos vinhos. Afinal, diz ele, “os nossos vinhos têm vindo a melhorar bastante”.

Edição Nº25, Maio 2019

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