Grande Prova: Douro tinto – A classe de uma região sem igual

Grande Prova Douro

É impressionante, como o Douro consegue ser uma das regiões mais completas no mundo. A fama dos Porto não impediu que a região crescesse enormemente na dimensão dos vinhos não fortificados. Os DOC Douro, e em particular os seus tintos, são hoje uma referência nacional e mundial. E como como a nossa prova o demonstra, […]

É impressionante, como o Douro consegue ser uma das regiões mais completas no mundo. A fama dos Porto não impediu que a região crescesse enormemente na dimensão dos vinhos não fortificados. Os DOC Douro, e em particular os seus tintos, são hoje uma referência nacional e mundial. E como como a nossa prova o demonstra, mais uma vez, a diversidade de estilos é acompanhada por um nível de qualidade ímpar.

Texto: Valéria Zeferino   Fotos: Ricardo Palma Veiga

Desde a demarcação de 1756, praticamente tudo girava à volta do vinho do Porto (chamado na altura “vinho de embarque”, mesmo não sendo aguardentado ainda) que deu a fama à região e era uma grande fonte de rendimento para a economia nacional. Ainda nos anos 30 do século passado, o vinho do Porto representava 75% das receitas do sector do vinho português.

Os vinhos não fortificados eram produção residual e tinham designações pouco apelativas, quase de desprezo, como “vinhos de pasto” ou “vinhos de consumo”, não ostentando nem denominação de origem, nem  regulamentação própria. Isto só aconteceu em 1982, quando “a designação “Douro” ficou reconhecida como denominação vinícola de origem, reservada aos “vinhos de consumo típicos regionais, brancos e tintos, tradicionalmente produzidos na mesma região demarcada que os vinhos do Porto”.

Antes disto existiam algumas marcas de vinhos de mesa. A Real Companhia Velha, por exemplo, tinha Grantom, Granléve e Evel (esta última marca, foi lançada em 1913 e existe ainda hoje) e Real Companhia Vinícola do Norte fazia Marquis de Soveral. Nos rótulos destes vinhos apareciam “tinto especial” ou “vinho maduro tinto” (para distinguir do Verde tinto, claro) e até “garrafeira”, mas nada de referenciar a região. Mesmo os primeiros Barca Velha também eram simplesmente “vinho tinto de mesa”.

A entrada de Portugal para a União Europeia em 1986 e o acesso a fundos comunitários deu o impulso importante aos produtores. A partir dos anos 90 e na viragem do milénio começa a moderna história dos DOC Douro, o que coincide com uma geração de novos enólogos, com formação universitária, talento e ambição e que hoje são bem conhecidos, mas na altura estavam a começar a sua aventura profissional. Jorge Moreira, Manuel Lobo, Francisco Olazabal, Tiago Alves de Sousa, Jorge Borges e Sandra Tavares da Silva, só para nomear alguns, que se vieram juntar aos pioneiros João Nicolau de Almeida ou José Maria Soares Franco, entre outros. Ao mesmo tempo, e na senda de nomes como Quinta da Pacheca ou Quinta do Côtto, aparecem os novos “vinhos de quinta”, como Quinta do Crasto, Quinta do Vale Meão, Quinta da Gaivosa, Quinta Vale D. Maria, Quinta do Vallado, Quinta da Leda, Pintas ou Poeira, muito deles tendo como mentor e impulsionador o visionário Dirk Niepoort.

O sucesso dos vinhos DOC e a crescente procura do consumidor pelos vinhos não fortificados motivaram várias casas produtoras de Porto a iniciarem-se nos vinhos de mesa. É o caso da Niepoort, Ramos Pinto, Quinta do Noval, Poças, Quinta do Vesúvio, entre outros. Mais tarde alguns pequenos produtores que forneciam uvas para o vinho do Porto aderem ao movimento e começam a criar marcas próprias.

Se no início, os vinhos do Douro entraram no palco internacional à boleia dos vinhos do Porto, ao longo das últimas décadas ganharam um lugar cimeiro alicerçado no mérito próprio. Não é de estranhar que, segundo os dados do IVDP, em 2021 a produção de vinhos com denominação de origem Douro tenha ultrapassado a produção do vinho do Porto, com 76.424.479 litros vs. 72.746.586 litros, respectivamente.

Os topos de gama com designações Grande Reserva e equivalentes representam 1,6% dos vinhos comercializados em volume e 5,7% em valor, com um preço médio de 16 euros por litro. Se bem que esta informação é relativa, porque nem todos os topo de gama do Douro ostentam estas designações de qualidade. A começar pelo próprio Barca Velha, mas também Chryseia, Quinta do Vale Meão, Poeira, Quinta do Vesúvio, Quinta da Manoella ou Pintas, entre muitos outros.

O Douro e a mudança

A mudança é inevitável e constante. Mudam as filosofias, práticas de viticultura, abordagens enológicas, hábitos de consumidores e os estilos de vinhos. E no meio disto tudo ainda acontecem as mudanças climáticas e as alterações demográficas na região que condicionam o resto.

Tiago Alves de Sousa, enólogo da nova geração da família Alves de Sousa, explica que nos anos 60 houve uma grande vaga de emigração que reduziu drasticamente a mão-de obra. O Douro precisava de soluções que passaram por mecanização, e acabámos por “adaptar a encosta à máquina”.

Nos anos 80 foi iniciado o chamados PDRITM, um programa de desenvolvimento assente em novas plantações e reestruturações da vinha existente, financiado com fundos comunitários. Mais tarde, passando o entusiasmo, ficou evidente o seu impacto ambiental negativo como a modificação de encostas, a alteração da sua cobertura vegetal e a erosão hídrica, que é um dos efeitos mais graves das plantações do PDRITM.

Há 25 anos as condições e os problemas eram outros: difícil maturação, falta de arejamento na vinha, muitas doenças – conta Jorge Moreira. “Importaram-se uma série de práticas e massificaram-nas rapidamente. A tradicional forma de condução das videiras, Guyot de tronco baixo, foi substituída pelo cordão bilateral ou unilateral. Na altura fazia sentido ter uma grande parede foliar para amadurecer cachos bem expostos. Agora não temos água para tanta folha. E temos de proteger os cachos da radiação solar e calores extremos”, continua o produtor e enólogo de Poeira, La Rosa e Real Companhia Velha. O cordão, devido a orografia e vinhas inclinadas, não permite escolher a exposição, e algumas vinhas apanham sol na mesma face do meio-dia até as 7 da tarde.

Já para Tiago Alves de Sousa, “o cordão é basicamente um painel fotovoltaico: pode ser bom para regiões com baixo nível de insolação, mas nós temos sol a mais. Com uma só camada de folhas o cacho fica mais exposto e vulnerável ao escaldão. No modelo Guyot, a vegetação envolve mais o cacho com 2-3 camadas de folhas e protege melhor.”

Para além disto, a poda em cordão implica muitos cortes na videira que são uma porta de entrada para as doenças do lenho. Exigência de produção e extensão de cordão acaba por esgotar a planta. Muitas vinhas plantadas há 20 anos nunca chegam a ser centenárias.

Alterou-se assim a forma de plantar vinha. Pelos viveiristas foram propagados os enxertos prontos para facilitar a plantação e diminuir a necessidade de mão de obra e o tempo que uma vinha leva a entrar em produção. Mas, dizem vários técnicos, parece que esta prática não ajuda ao desenvolvimento de raízes.  Jorge Moreira descreve que o enxerto americano se regava cerca de 2 anos antes da enxertia, desenvolvia raízes, e esperavam-se mais 3 ou 4 anos para a formação da planta. Agora com rega em 3 anos pomos a planta a produzir. É mais rápido, mas as raízes acabam por não ser bem desenvolvidas e os exertos prontos têm maior tendência para doenças de lenho. Nas vinhas velhas não se encontram tantas.

Os porta-enxertos também são diferentes do tradicional. Segundo Tiago Alves de Sousa os porta-enxertos tradicionais (Rupestris du Lot, chamado “Montícola”) que quebra o xisto, mas induzia vigor vegetativo e a produção não acompanhava, foram substituídos por outros, que são todo-o-terreno e com maior potencial produtivo. As produções por videira duplicaram ou triplicaram, o que altera, naturalmente, as caracteristicas qualitativas das uvas no final da maturação. Para contrariar este efeito e amadurecer cachos mais abundantes, é necessária uma parede vegetativa mais ampla. E chegámos a um círculo vicioso.

Grande Prova DouroOs desafios actuais

Os grandes desafios do Douro, actualmente: situações mais extremas, temperaturas mais altas, invernos mais secos que não repõem os níveis de água no solo e as precipitações mais agrupadas (cai uma grande quantidade de chuva em pouco tempo). A queda de granizo tornou-se numa constante anual. O ano de 2020 – foi continuamente seco, o 2022 também, exemplifica Manuel Lobo, enólogo da Quinta do Crasto. As vinhas velhas aguentaram-se melhor e pela primeira vez viram-se muitas videiras do PDRITM secas, não se sabendo se vão rebentar para o ano.

“A frequência e a duração de ondas de calor aumentou”, acrescenta Tiago Alves de Sousa, – “este ano não foi uma onda, foi uma maré de calor com o impacto forte nas maturações.”

Quando, no final dos anos 90 início dos 2000 se começou a falar da questão da rega, a maioria dos produtores era contra. Discutiam-se várias questões, sociais, económicas, etc., menos a questão técnica. Depois dos anos muito secos como 2015 e 2017, percebemos que temos mesmo de regar, mas outra questão se coloca agora – com que água?

Num mundo ideal, a rega é uma ferramenta poderosíssima, mas a água é um bem cada vez mais escasso. Por outro lado, a rega não é um penso rápido. Há formas de diminuir perdas de água por transpiração, por exemplo, a sombra no próprio solo diminui a evaporação. A plantação com densidade mais elevada também estimula o enraizamento, obrigando a raiz ir ao fundo por falta de espaço ao lado e ter acesso à água durante mais tempo.

Manuel Lobo explica que no Douro Superior, a vinha da Cabreira tem rega instalada que garante homogenidade produtiva e estabilidade qualitativa. Mas a viticultura de precisão é essencial. Usam sondas para obter informação e perceber qual é a capacidade de campo, quanto tempo a água se vai manter no solo e qual é a quantidade disponível para a planta e o consumo da própria planta.

“Não há uma solução universal que sirva para tudo”, – aponta Jorge Moreira. “Se seguirmos uma política mais intensiva na produção, temos que assumir que vamos ter de replantar a cada 20 anos”, refere.

Na casa Alves de Sousa, desde 2014 plantam vinha tradicional com bacelo e porta-enxerto antigo, de alta densidade em Guyot duplo, com co-plantação de castas (cerca de 15) a apontar para 8 mil videiras/ha. Uma espécie de “novas vinhas velhas”. “O factor mão-de-obra não pode ditar-nos como plantar” – defende Tiago. Plantam assim a vinha a pensar nos próximos 100 anos. A zonagem correcta é importante, considera Tiago Alves de Sousa. Há castas que estão plantadas nos sítios errados e em vez de fazer um pouco de tudo em todo o lado, tem de se prestar mais atenção às condições de cada zona específica. Ele também acredita que com desenvolvimento científico e experimental, vão surgir novas oportunidades, como por exemplo, o uso de drones agrícolas.

Vinhas e castas

 A vinha na região do Douro ocupa mais de 43.000 ha, com a maior parte na sub-região de Cima Corgo com mais de 20.000 ha, cerca de 13.000 ha no Baixo Corgo e cerca de 10.000 ha no Douro Superior – dizem-nos os dados mais recentes do IVDP.

As castas tintas mais plantadas no Douro são Touriga Franca que ocupa 23% de plantação, Tinta Roriz com 16,4%, Touriga Nacional com 10,6% e Tinta Barroca com 7,4%.  É um facto que as castas do Douro sempre foram pensadas na óptica do vinho do Porto. Quanto ao estudo de castas, no ultimo relatorio da Estacao Vitivinicola (então já designada por CEVD), elaborado em 1979 pelo Engº Gastão Taborda (o grande responsável pela recuperação da casta Touriga Nacional graças a inúmeros estudos experimentais que realizou sobre as castas do Douro) escreveu: “O número exageradíssimo de castas de uvas para vinho existentes na Região – mais de 130 – constitui um dos problemas mais graves e difíceis de resolver, mas que é preciso encarar a sério, dada a influência que a casta tem na qualidade do Vinho do Porto.”

A pouco e pouco, o universo das 70 castas tintas e 50 brancas foi grandemente reduzido, ao ponto de quase se resumir às 5 castas seleccionadas, que se encontram em maioria no encepamento e formam o blend típico dos DOC Douro (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinto Cão). E a verdade que as mesmas castas também produzem óptimos vinhos do Douro, complementando-se em qualidades.

A Touriga Franca, basicamente é a coluna dorsal de um lote, dá dimensão e volume. Tem uma película mais espessa, a folha é mais rugosa, o que permite aguentar melhor o stress hídrico e térmico, “só é pena não ter acidez da Touriga Nacional”, diz Manuel Lobo. Tiago Alves de Sousa acrescenta que a Touriga Franca é mais sensível ao stress térmico do que ao stress hídrico. Com o calor, pode chegar até 10-10,5% de álcool provável e de repente pára.  Algumas nem com a chuva recuperam.

Já a Touriga Nacional confere frescura, elegância e também alguma estrutura. É muito flexível na adega. No entanto, exige algum cuidado com exposição solar para evitar que as folhas de base sequem e que fique com aromas sobremaduros. A Tinta Roriz nunca foi consensual. Tem um teor de tanino muito alto e quando produz em demasia, não amadurece bem e é muito dependente do terroir. Por isto raramente tem um papel a solo, mas há excepções, como é o caso da Quinta Nova e da Quinta do Portal, sendo ambos os vinhos excelentes exemplos da casta.

A Tinta Barroca é uma uva precoce, ganha açúcar elevado e perde acidez, ainda por cima, tem pouca cor. É importante para o vinho do Porto de estilo tawny, mas a sua participação nos topos de gama do Douro é muito reduzida. O Tinto Cão é o oposto da Tinta Barroca – casta muito tardia de ciclo longo e preserva bem a acidez; tem tanino notável, produz vinhos com frescura e algum potencial de envelhecimento. No entanto, nem todos os produtores apostam nesta casta. Manuel Lobo, por exemplo, acha que em termos enológicos não é muito interessante, adapta-se melhor para rosés.

As vinhas velhas com castas misturadas ainda se encontram em vários encepamentos no Douro e espelham o notável património varietal da região. E o DOC Douro foi a primeira denominação de origem em Portugal a regulamentar a designação “Vinhas Velhas” (com mais de 40 anos). A Quinta do Crasto foi a primeira no Douro a introduzir a menção Vinhas Velhas no rótulo (até chegou a ser marca registada…) e a produzir e comunicar, desde 1998, os vinhos das centenárias e famosíssimas Vinha da Ponte e Vinha Maria Teresa.

Hoje o Crasto faz tudo para preservar estas vinhas. Manuel Lobo conta que identificaram 54 genótipos na parcela Maria Teresa (com 111 anos). Dispõem da sua base genética e do campo de multiplicação, onde ficam os bacelos. Isto para garantir que quando é necessário substituir uma planta, o mesmo genótipo é plantado na mesma coordenada GPS.

Os vinhos das vinhas velhas são muitas vezes vistos pelo produtor e pelo consumidor como vinhos de qualidade superior pela sua autenticidade e pela história que contam. E nesta prova houve muitos belíssimos exemplos. Entretanto, é preciso lembrar que estes vinhos precisam de uma abordagem correcta nas adegas. Como muitas vezes têm castas com pouca estrutura, não aguentam muito tempo em barrica, sobretudo nova e com muita tosta. Perdem a sua autenticidade e delicadeza. Também tivemos em prova casos destes.

Grande Prova DouroO estilo dos vinhos

O estilo de vinhos no Douro também está sujeito a mudanças. Já passou por uma fase de robustez, concentração e grande extracção. Basicamente, era uma versão seca dos vinhos do Porto. O uso de madeira, até há bem pouco tempo, também era excessivo. Aprendeu-se aplicar o estágio em barrica com parcimónia, e introduziram-se vasilhas de madeira de maior capacidade, para marcar menos o vinho. O momento certo de vindima em função da casta e da parcela tornou-se um ponto essencial. Os vinhos tendem hoje a ser mais frescos, mais leves, com menos extracção e concentração.

Jorge Moreira conta a sua experiência na Quinta de La Rosa e na Real Companhia Velha: “antes a extracção era total e profunda, agora cada vez mais usam bagos inteiros, cachos inteiros, prensam mais cedo, não deixam extrair tanto em macerações longas. Mesmo no seu Poeira, que começou há 20 anos e já na altura era um dos vinhos mais leves, frescos e ácidos do Douro, ele releva a diminuição da extração e acentuar frescura. As alterações no estilo e perfis dos vinhos, no entanto, devem sempre ter em conta as características da região, das suas uvas, do seu clima, do seu solo, no fundo a sua identidade, aquilo que faz os Douro cheirarem e saberem a Douro. “Não podemos exagerar e procurar fazer de um Douro um Borgonha”, alerta Manuel Lobo. E com inteira razão.

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2022)

 

Grande Prova Douro tinto – Por menos de €15, melhor é difícil

São acessíveis, mas não para todos os dias. Dão um prazer imediato, mas a maior parte deles irá evoluir muito bem em garrafa nos próximos 5 ou 10 anos. Muitos destes vinhos portam-se melhor à mesa do que numa prova técnica. Alguns são mesmo tintos surpreendentes, de enorme gabarito, autênticas grandes escolhas que não arruínam […]

São acessíveis, mas não para todos os dias. Dão um prazer imediato, mas a maior parte deles irá evoluir muito bem em garrafa nos próximos 5 ou 10 anos. Muitos destes vinhos portam-se melhor à mesa do que numa prova técnica. Alguns são mesmo tintos surpreendentes, de enorme gabarito, autênticas grandes escolhas que não arruínam a carteira.

Texto: Valéria Zeferino

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Nesta gama de preços encontra-se toda a variedade da região, do mais chuvoso Baixo Corgo ao árido Douro Superior; de edições limitadas de 5.000 garrafas, como o Letra F do António Maçanita até quase meio-milhão de garrafas do Vinha Grande da Sogrape. Podemos falar de vinhos que já se tornaram clássicos, contando com duas-três décadas da existência, ou ainda mais, como o Vinha Grande, cuja primeira colheita é de 1960; é há vinhos dos projectos mais recentes, lançados nos últimos anos pela Magnum Carlos Lucas, António Maçanita ou Santos&Seixo.

Muitos vinhos trazem no rótulo as menções tradicionais para expressar os níveis de qualidade como o Reserva ou, em alguns casos, o Grande Reserva ou Reserva Especial. Estas menções (tirando a “Garrafeira” pouco utilizada no Douro) não estão conotadas com duração e tipo de estágio. Em termos qualitativos obrigam à obtenção de uma determinada pontuação na Câmara dos Provadores do IVDP, compatível com vinhos de “muito boa qualidade” e “elevada qualidade”. Dão melhor ideia da hierarquia de qualidade dentro do portfólio de cada produtor, do que de uma forma transversal. Nem tudo o que se designa como “Reserva Especial” é quase Barca Velha.

E já agora, nem todos os produtores querem utilizar as designações como Reserva ou Grande Reserva. Alguns optam pelo modelo bordalês, onde o vinho de maior renome, o grand vin, ostenta o nome da propriedade, e o segundo vinho, que custa menos e normalmente é feito para ser consumido mais cedo, tem no seu nome alguma semelhança com a casa produtora. A enóloga e produtora Sandra Tavares explica que no início do projecto com o seu marido Jorge Borges optaram por este modelo, porque queriam evitar a banalização das designações como “reserva” e outras deste género. Há mais exemplos: o Meandro da Quinta do Vale Meão ou o Pombal do Vesúvio da Quinta do Vesúvio.

Pedro Correia, responsável de enologia na Prats&Symington explica que o Post Scriptum é o irmão da Chryseia, a filosofia é a mesma. A distinção Chryseia vs. Post Scriptum começa na classificação da uva com critérios qualitativos e históricos das parcelas. A vinificação é quase igual. Trabalha-se muito com sub-lotes, sendo que 80% das fermentações nascem como Chryseia a acabam Chryseia e o mesmo acontece com Post Scriptum. Tudo é provado 2 vezes por dia durante a fermentação e maceração para avaliar o potencial que ainda não está cá fora e definir se, no final de contas, vai para Chryseia ou para Post Scriptum.

Douro blend hoje – como é?

As castas tintas mais plantadas no Douro são Touriga Franca com 10.121 ha, Tinta Roriz com 5.960 ha, Touriga Nacional com 4.228 ha e Tinta Barroca com 3.019 ha.

As primeiras três, basicamente, integram o famoso trio duriense responsável pela maior parte dos vinhos da região. Em alguns casos no lote entra Sousão, Alicante Bouschet, Tinta Barroca, Tinto Cão, Tinta Amarela ou alguma outra casta, mas na qualidade de “sal e pimenta”.

De um modo geral, os produtores e enólogos concordam que Touriga Nacional e Touriga Franca são as peças-chave.

Pedro Correia explica que “a Touriga Nacional é uma casta versátil e se pode confiar nela independentemente das condições. A Franca é mais sensível a condições menos favoráveis (tendo em conta já de si baixas produções)”.

Para o enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo, Touriga Franca é a espinha dorsal de um lote, dá dimenção e volume, enquanto Touriga Nacional confere frescura, elegância e também alguma estrutura. No entanto, “exige algum cuidado com exposição solar para evitar que as folhas de base sequem e que fique com aromas sobremaduros”. “A Touriga Franca é a casta que se melhor adapta no Douro Superior, suporta exposição solar directa com mais conforto. Em contrapartida pode apresentar falta de acidez e pH alto e às vezes peca por falta de elegância”.

A Tinta Roriz nunca é consensual. Pedro Correia acha que não tem potencial equiparável a Touriga Franca e Touriga Nacional. Tem um teor de tanino muito alto e quando produz em demasia, não amadurece suficiente. No Quinta de Ataíde não tem protagonismo e no Post Scriptum entra apenas com 7%, sendo de um clone favorável de uma vinha mais velha.

Para Manuel Lobo a Tinta Roriz é “tanino e persistência”. “Precisa de solos mais fracos e algum stress hídrico. Assim, os bagos são de diâmetro menor e mais separados.”

Já o enólogo Paulo Coutinho defende Tinta Roriz no sítio certo. Para o Quinta do Portal Reserva utiliza a Touriga Nacional e a Tinta Roriz quase em partes iguais, deixando para a Touriga Franca um papel secundário com 15% no lote. Explica isto pelo facto de Tinta Roriz no vale do rio Pinhão ser mais expressiva, desenvolvendo melhor a parte aromática.

A Tinta Barroca é uma casta precoce, ganha açúcar elevado e perde acidez, ainda por cima, tem pouca cor. Importante para Vinho do Porto, tem pouco interesse enológico para DOC Douro na opinião de Pedro Correia.

O Tinto Cão é o oposto da Tinta Barroca – casta muito tardia de ciclo longo; tem tanino bem presente, produz vinhos com frescura e algum potencial de envelhecimento.

O Alicante Bouschet representa interesse, mas “é preciso controlar o rendimento, porque tem a tendência para subir muito a produção o que impacta com a maturação” – lembra Pedro Correia.

Manuel Lobo defende que o Sousão tem um papel importante, conferindo frescura e acidez natural ao vinho e assegurando a sua longevidade, mas é muito dominante e tem de ser utilizada no lote em quantidades mínimas.

Alguns vinhos neste patamar de preços, são de vinhas velhas, como é o caso do Lua Cheia, da Saven, ou o Quinta dos Aciprestes, da Real Companhia Velha, onde predomina Tinta Barroca para além da Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão e Tinta Amarela; e Manoella da Wine&Soul, com vinhas plantadas em patamares ainda pelo pai de Jorge com as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz and Tinta Francisca.

Os monovarietais não são muito comuns neste segmento de preço, porque as quantidades disponíveis são reduzidas e o preço normalmente ultrapassa os 15 euros. Nesta prova esteve presente apenas um monocasta de Touriga Nacional, da Quinta de Ventozelo.

O facto de se usar um reduzido número de castas nos lotes não significa que a riqueza ampelográfica da região se perdeu. Na Quinta do Ataíde, conhecida pelo início da recuperação da Touriga Nacional, desde 2014 existe uma colecção de 53 variedades autóctones com algumas estrangeiras para efeitos de comparação. Todos os anos são feitas vinificações em extreme para avaliar o potencial dos vinhos e a adaptabilidade das diferentes castas às condições específicas do Douro, conta Pedro Correia.

Douro tinto melhorMultiplicidade de abordagens

 A filosofia de cada produtor por detrás dos seus vinhos nesta gama pode ser diferente, mas de certa forma, todos concordam que reflectem o Douro fielmente, quer através do lugar onde nascem, quer através do estilo da propriedade. Normalmente recorre-se ao estágio em barrica, mas com muito menor expressão de madeira nova do que para os topos de gama.

Paulo Coutinho considera o Quinta do Portal Reserva como um vinho mais tradicional do Douro. O Colheita é o mais fácil e o Grande Reserva é mais trabalhado, um Douro moderno, mais polido. Na sua opinião é o Reserva que deverá manter a tradição, sendo um vinho mais austero e gastronómico. Assim, o estilo começa na vinha: para o Grande Reserva as uvas são provenientes das vinhas mais velhas e com mais exposição; para o Colheita, mais altitude; e o Reserva é um vinho de cotas intermédias, da meia-encosta, onde as uvas amadurecem bem, mas ficam sempre com algum nervo. “Só à mesa conseguimos apreciá-lo na plenitude”, defende Paulo Coutinho.

Jorge Moreira, cuja experiência enológica, para além do projecto próprio de Poeira, se estende para três casas – Real Companhia Velha, Quinta de La Rosa e Quinta das Bandeiras – explica que os vinhos Quinta dos Aciprestes, La Rosa e Passagem, respectivamente, são todos “vinhos de quinta”. Ou seja, o objectivo é mostrar inequivocamente o carácter de cada propriedade. Como também são vinhos de maior volume de cada uma das quintas, partilham um factor comum muito importante: têm de ser equilibrados e ter potencial de envelhecimento de pelo menos 5 a 10 anos.

A idade e condições diferentes das vinhas ditam a abordagem na adega. Por exemplo, na Quinta dos Aciprestes as vinhas velhas (com predominância da Tinta Barroca que não tem muito volume e cor mas é aromática e suave) originam vinhos com estrutura menos potente. Neste caso, o mais adequado é o estágio em balseiros de 20.000 litros para reduzir o contacto com oxigênio. Na Quinta de La Rosa, as uvas provêm de vinhas com Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz de diferentes altitudes, geralmente de cotas médias, e com exposição a sul. São cheios de pujança, aguentam bem pisa em lagares antes de fermentação e as barricas de 225 litros, parcialmente novas.

O produtor António Maçanita queria mostrar um Douro diferente. O nome do vinho é de certa forma autoexplicativo – Letra F, o que tem a ver com a classificação das parcelas do Douro em função da sua aptidão para produzir Vinho do Porto. Esta é a última letra que dá direito ao benefício, pois as restantes letras G, H e I já não.

São parcelas de vinha situadas em Carlão perto de Alijó, numa zona de transição de xisto para granito entre os 500 e 720 metros de altitudes. Tratam-se vinhas bastante velhas, entre 50 e 100 anos, com castas tintas e brancas misturadas (estas são fenólicas, de película grossa que também dão estrutura ao vinho).

Pode não ser muito típico, mas o “Douro também é isto” – defende António Maçanita. Ao fazer o vinho, recorre a extrações longas, mas suaves. Forma uma “sanduíche” com cachos inteiros no meio dos cachos estalados, o que permite conduzir fermentações em dois tempos. Os cachos estalados em cima ao fermentar protegem os do meio, que libertam o açúcar mais tarde, prolongando a fermentação. A logística da adega é mais difícil assim, porque os recipientes ficam ocupados mais tempo, exige mais controlo durante a vinificação, mas ganha-se na estrutura e tanino do vinho final.

Viticultura cirúrgica e fine-tuning

 O Douro, sem dúvida, é uma região com muita tradição. Resistiu à proliferação de castas estrangeiras, a vindima, salvo raras excepções, é manual (única possível em socalcos e patamares) e ainda se utilizam lagares e pisa a pé, mesmo para os vinhos DOC.

Isto não significa que a região cristalizou no tempo. Há cada vez mais conhecimento empregue na “viticultura cirúrgica”, como lhe chama Manuel Lobo. E é particularmente importante numa região tão promissora, mas desafiante como o Douro Superior. É muito seca, com precipitação escassa e para obter uvas equilibradas é fundamental trabalhar a exposição correcta em função da casta. A Quinta do Crasto tem a vinha plantada na Quinta da Cabreira desde 2004. As videiras já atingiram uma maturidade interessante, mas não se tratando de uma vinha velha, precisam de muita atenção. A rega tem de estar afinada com variações de solo e videiras e é preciso garantir o equilíbrio entre quantidade de uva e área foliar.

A mesma visão tem Pedro Correia quando se refere ao Vale de Vilariça, onde estão plantadas as vinhas da Quinta de Ataíde em viticultura biológica. É um terroir quente, onde o controlo do estado hídrico da planta é gerido de perto para garantir que o stress hídrico não impeça a fotossíntese. Uma rega qualitativa é indispensável. Começam a ser utilizadas certas espécies de leveduras capazes de proteger a planta contra o stress hidrico e abiótico. É uma alternativa sustentável a uso de substâncias químicas.

Como naquela zona a mecanização é possível, a vindima é feita à máquina e os resultados não são inferiores a uma vindima manual. Entre a colheita e o processamento das uvas, recorrem à bio proteção através de utilização de uma cultura de leveduras que domina o meio sem afectar e protege do arranque de fermentação antes do tempo.

Para as uvas tintas, não adicionam sulfuroso antes da fermentação e o objectivo é no futuro evoluir, diminuindo o sulfuroso sem prejudicar a qualidade.

Antes e durante a fermentação recorrem ao uso de diferentes leveduras com vários propósitos de fine-tuning. As leveduras não fermentativas funcionam durante a maceração pré-fermentativa, permitindo extração mais lenta. É como cold-soaking, mas sem uso de energia para arrefecer o mosto, explica Pedro Correia. As leveduras não-saccharomyces permitem criação de compostos aromáticos mais interessantes no início de fermentação.

Estatísticas e mercados

 Mesmo com o crescimento em popularidade e prestígio dos vinhos tranquilos do Douro, o grosso da produção na região continua a ser o Vinho do Porto. Segundo o IVDP, em 2020 produziu-se 47.884.768 litros de vinhos DOC Douro e 70.540.505 litros de vinhos do Porto.

Em termos de comercialização, nos últimos 10 anos, os vinhos DOC Douro foram ganhando o terreno aos Vinhos do Porto que diminuiram em vendas de 85.292.747 litros em 2010 para 68.353.804 litros em 2020, enquanto os vinhos DOC Douro cresceram de 21.415.054 para 38.899.224 litros. Mesmo assim, produz-se mais vinho do que se consegue vender.

Os preços médios por litro subiram de 3,95 para 4,15 euros nos vinhos DOC e de 1,23 para 3,1 euros nos IGP, provavelmente, devido a produção de vinhos de alta qualidade de castas não abrangidas pela DOC. Mas sabemos que estes preços não reflectem a realidade do Douro, onde o custo de produção se mantém alto.

Os maiores mercados para vinhos DOC Douro, tirando o mercado nacional com mais de 60%, são o Canadá com mais de 3 milhões de litros, Reino Unido com 1,9 milhões de litros, Brasil com quase 1,5 milhões de litros, Alemanha com 1,2 e Suíça com 1,1 milhões de litros. Em valor a distribuição é um pouco diferente, sendo o mesmo Top 5: Canadá, Reino Unido, Suíça, Brasil e Alemanha.

A presença de vinhos DOC Douro no mercado do Canadá quase triplicou nos últimos 10 anos (a comparar 2010 e 2020) e o preço médio também cresceu de 3,88 para 4,05 euros. No Reino Unido cresceu 7 vezes, mas o preço registou um descréscimo de 4,6 para 3,17 euros. Na Alemanha quase duplicou a venda e o preço subiu ligeiramente de 4,47 a 4,65 euros. No Brasil o crescimento é de cerca de 60%, sem grande alteração no preço. Na Suíça cresceu mais do dobro e em preço também um pouco de 5,13 a 5,29.

Uma dinâmica positiva também foi registada nos mercados como os Estados Unidos (que cresceu bastante e sobretudo a nível do preço, de maneira que as vendas em valor quase duplicaram), a Bélgica, França, Polónia, a Rússia (a presença dos DOC Douro aumentou de 7 mil para 263 mil litros mas com uma substancial diminuição do preço médio de 7,28 para 3,12 euros). A título de curiosidade, os preços médios mais altos para os vinhos do Douro foram registados em 2020: no Uruguai 17,91 euros e na Georgia 15,59 euros. É pena que a presença de vinhos durienses nestes países seja residual.

(Artigo publicado na edição de Abril 2022)

Península de Setúbal – Mais tinto, por favor

Tintos Península Setúbal

Os tintos da Península de Setúbal estão cada vez melhores, não só pela qualidade absoluta que apresentam, mas porque combinam em sim dois factores que garantem sucesso nos mercados: complexidade e, em simultâneo, enorme harmonia, o que os faz apelar a um grande leque de consumidores. Texto: Mariana Lopes Fotos: Ricardo Palma Veiga  A região […]

Os tintos da Península de Setúbal estão cada vez melhores, não só pela qualidade absoluta que apresentam, mas porque combinam em sim dois factores que garantem sucesso nos mercados: complexidade e, em simultâneo, enorme harmonia, o que os faz apelar a um grande leque de consumidores.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Ricardo Palma Veiga

 A região da Península de Setúbal tem um nome que chama a atenção para o factor “peninsular”, mas nem só da Península é feita. De Almada e Sesimbra ao Montijo, e deste até Santiago do Cacém — passando, grosso modo, por Seixal, Barreiro, Moita, Setúbal, Alcochete, Palmela, Alcácer do Sal, Grândola e Sines — temos Indicação Geográfica Península de Setúbal, delimitando, assim, toda uma região de clima misto de influência atlântica, sub-tropical, mas com um forte cunho mediterrâneo, condicionado pelos rios Tejo, Sado, e pela Serra da Arrábida. Embora isto signifique uma extensão de terra nada pequena, com uva e vinho a serem produzidos um pouco por toda ela, há três polos que se afirmam por características climáticas e orográficas marcadamente díspares que influenciam de maneira diferente os vinhos que nascem num sítio ou no outro. Por um lado, temos a zona junto à Serra da Arrábida, de solos de maior relevo (com altitudes que variam entre os 100 e os 500 metros), predominantemente argilo-calcários, zona essa que vai desde o Cabo Espichel até aos montes de Palmela, incluindo Sesimbra e Setúbal. Origina, de modo geral, vinhos tintos com maior acidez, frescura e elegância, e menos álcool. Por outro, as famosas “areias de Palmela”, o que na verdade é uma simplificação das planícies de solos arenosos que se estendem sobretudo por este concelho e até ao limite Este do Montijo. Esta é a área com mais vinha plantada, maiores amplitudes térmicas, e onde reina a uva Castelão. Os vinhos tintos que lá nascem costumam ser mais estruturados, potentes e concentrados, pois as uvas apanham mais sol e mais calor e os solos são menos férteis, mais pobres. Apesar de muita gente ficar por aqui quando o assunto são os terroirs da Península de Setúbal, há obviamente um terceiro (sem desprezar os micro-terroirs dispersos), que vai de Tróia para Sul, até ao final de Santiago do Cacém, onde o clima é mais quente e seco, mas onde o Oceano Atlântico tem bastante influência, oferecendo frescura às noites. Aqui já se encontram algumas manchas de xisto. É certo que os dois primeiros são aquilo que podemos considerar como os terroirs mais clássicos da Península de Setúbal, albergando a maioria das também mais clássicas (ou mais antigas) empresas da região — como José Maria da Fonseca, Bacalhôa, Adega de Palmela, Adega de Pegões, Quinta do Piloto, Venâncio da Costa Lima, Horácio Simões ou SIVIPA, entre outros — mas o terceiro é também muito importante: inclui em si produtores mais pequenos, alguns relativamente recentes, a fazer um belo trabalho — falamos de Herdade da Arcebispa, Herdade da Barrosinha, Quinta Brejinho da Costa, Herdade do Cebolal, Monte da Carochinha ou Herdade do Portocarro, entre outros — e é a zona com mais espaço e potencial para brotarem novos projectos.

Tintos Península SetúbalUma região em afirmação

A área de vinha total, inscrita na Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), está neste momento acima dos 7112 hectares e, segundo Henrique Soares, presidente da CVRPS, tem havido, nos últimos anos, um aumento da dimensão média das parcelas. Desta área de vinha, 75% é tinta, com a Castelão a representar quase metade do encepamento da região (mais de 3252 hectares), seguindo-se Syrah (473), Alicante Bouschet (309), Aragonez (289,55), Cabernet Sauvignon (258), Touriga Nacional (223), Trincadeira (163), Merlot (96), Touriga Franca (72), Moscatel Roxo (52,99), entre outras. Na última década, Syrah e Alicante Bouschet têm vindo a ser as tintas mais plantadas — provavelmente por serem uvas que permitem consistência nos factores rendimento/qualidade — bem como Moscatel Roxo, pela sua valorização. Já as Castelão, Aragonez e Trincadeira têm perdido expressão nos encepamentos, talvez por serem castas que, face a outras, não garantem tanta consistência face às variações climáticas anuais.

E se os vinhos da Península de Setúbal têm cada vez mais quota no mercado nacional (20 605 442 litros em 2020 face a 14 042 265 litros em 2016, apenas atrás do Alentejo, em volume), também é verdade que nos últimos dez anos a produção total da região aumentou em 166 278 hectolitros, dos 308 857 em 2011/12 para os 475 135 em 2020/21, com algumas oscilações pelo meio (dados de Abril de 2021, do Instituto da Vinha e do Vinho). No entanto, é bem mais impressionante o aumento da produção DO (Setúbal + Palmela) no mesmo período, tendo passado dos 86 072 hectolitros para os 207 283, incrementada sobretudo pelo crescimento da produção DO Palmela. A evolução da IG Península de Setúbal foi igualmente positiva, em 2020/21 com 228 548 hectolitros, face a 157 851 em 2011/12.

As exportações para o mercado intra-comunitário têm também registado um aumento anual, tanto em volume como em valor, fixando-se em 2020 nos 1 641 363 litros e acima dos 6 milhões de euros, com a Polónia, os Países Baixos e o Luxemburgo à cabeça da lista dos maiores importadores de vinho da Península de Setúbal. Já a exportação para países terceiros, alavancada pelo Brasil (sobretudo), Canadá e Reino Unido, foi de 4 534 976 litros em 2020, o que correspondeu a mais de 12 milhões de euros.

Vinhos que fazem sonhar

Nesta Grande Prova brilharam tintos de vários “cantos” da Península de Setúbal. À data de escrita do texto (durante a vindima) não foi fácil falar com os responsáveis pelos vinhos mais bem pontuados, mas todos acabaram por dedicar algum tempo à causa, o que muito agradecemos. António Saramago tem mais de 50 anos de enologia e é um dos maiores advogados da uva Castelão (todos os vinhos do seu portfólio a incluem), que integra em 100% o tinto António Saramago Superior. “Não é uma casta fácil de trabalhar, mas eu gosto de coisas difíceis. Para sair bem, temos de dar tudo de nós. Na minha opinião, os grandes vinhos da região serão sempre Castelão, é a nossa identidade e não podemos fugir dela!”, afirmou. Este vinho foi feito numa cuba pequena e estagiou em barrica nova, de tosta média, durante 18 meses. Depois, ficou em cuba mais 6 e, em garrafa, mais de 4 anos. Vasco Penha Garcia, coordenador de enologia da Bacalhôa, é da opinião de que se encontra o maior equilíbrio nos solos de transição franco-arenosos. E é precisamente na zona de transição das colinas da Arrábida — com forte influência do mar, maiores amplitudes térmicas durante o período de maturação e exposição Norte — que estão localizadas as vinhas da Quinta da Bacalhôa, zona que o enólogo acredita ser “capaz de produzir vinhos de Cabernet Sauvignon, e Merlot, de classe mundial”. O Quinta da Bacalhôa Cabernet Sauvignon 2016 é, na sua opinião “das melhores colheitas desta marca que existe desde 1979”. Com 10% de Merlot, foi sujeito a macerações longas, fermentativas e pós-fermentativas, e a um estágio de 13 meses em carvalho francês e de 6 em garrafa. Já o Hexagon teve a sua primeira colheita em 2000 e, segundo Domingos Soares Franco, vice-presidente e enólogo da José Maria da Fonseca, “foi um produto de experimentação de castas e da sua longevidade, que demorou 12 anos a apurar”. Domingos contou: “Quis fazer um desafio a mim próprio, um vinho com 8 castas, mas não saiu como eu queria. Deitei uma fora, Castelão, ficaram 7, e mesmo assim não deu. Deitei outra fora, o Aragonez, ficaram 6 e cheguei ao resultado pretendido. É por isso que o vinho se chama Hexagon, e não por sermos a sexta geração da família, como por vezes é interpretado. Este 2015 é já muito diferente dos primeiros, porque nós, enquanto pessoas, também vamos evoluindo com os anos. Hoje é um vinho com menos madeira, menos álcool e mais elegância, que é actualmente o meu conceito de vinhos”. O lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Trincadeira, Syrah e Tannat — provenientes de solos arenosos e calcários, pois Domingos considera que é na mistura dos dois que está o maior equilíbrio — vinificou em lagar de inox e acabou a fermentação em barricas de carvalho, onde ficou em borras finas durante 3 meses, com bâtonnage. O estágio deu-se durante 10 meses em meias pipas novas de carvalho francês.

Já o Quinta do Monte Alegre Homenagem Grande Reserva é feito por André Santos Pereira, e revelou-se uma excelente surpresa. Também fã de Castelão — com uma queda mais recente para a Touriga Nacional, confessou o enólogo — considera que um dos factores mais importantes dos vinhos da casta é, quando muito bons, a grande capacidade de envelhecimento em garrafa. “Este vinho reflecte o nosso propósito de homenagear as vinhas velhas de Castelão que ainda persistem, muitas vezes por mera teimosia de quem as cuida e pelo afecto que se cria ao longo dos anos. É um vinho de uma vinha só, plantada pelo meu avô há cerca de 45 anos, em chão de areia e com produções baixíssimas.”, explicou. Fermentou em lagar de inox “com remontagens manuais durante quase toda a fermentação, recriando a vinificação tradicional, mas com recurso a controlo de temperatura”. Depois da maceração pós-fermentativa, terminou a maloláctica em barricas novas e nelas estagiou por 12 meses. Em garrafa, ficou 24 meses antes de sair para o mercado. Por sua vez, Jaime Quendera, enólogo consultor da Casa Ermelinda Freitas (e da Adega de Pegões), aponta a abundância de horas de sol e a proximidade ao mar como dois trunfos que fazem maravilhas pelos tintos da região, “juntamente com a tradição e ‘saber fazer’ existente na Península de Setúbal, que leva à produção de uvas de grande qualidade e, consequentemente, a vinhos de grande qualidade “. O tinto Dona Ermelinda Grande Reserva “surgiu da ideia de fazer um grande vinho, produzido apenas nos melhores anos, mas sem Castelão, para não conflituar com o outro topo de gama da casa, o Leo d’Honor, que é feito exclusivamente com esta casta”, lembrou Jaime Quendera. Assim, surgiu um lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Syrah, vinificadas e estagiadas (em barrricas) separadamente. Por último, mas não em último lugar, Luís Mota Capitão, enólogo e cara actual da Herdade do Cebolal, falou-nos do Lufinha 100/10, um tinto com muita personalidade. Devido à localização da Herdade, na zona Sul da região, em Santiago do Cacém, Luís elege não só a Castelão como sua favorita, “a casta-mãe da região com provas dadas nas últimas gerações”, mas também Alicante Bouschet, que diz ser “ideal para a região da ‘Costa Alentejana’, onde encontramos uma maior diversidade de solos e climas, que favorecem as maturações fenólicas”. A vinha que dá origem a este tinto encontra-se a 9 quilómetros da praia de Porto Covo, em solos argilo-calcários e argilo-xistosos proporcionados pela “proximidade da Serra de Santiago do Cacém e da Serra do Cercal”. O nome do vinho, Lufinha 100/10, suscita curiosidade e tem uma explicação bem interessante: “Este vinho vem fazer a ponte entre passado e presente: o 100 representa o centenário do nascimento do meu avô, António Lufinha, e o 10 refere-se aos meus 10 anos de vitivinicultura. O símbolo labiríntico circular, presente no rótulo, é uma alusão à Pedra de Lufinha, testemunho neolítico encontrado na Serra do Caramulo. Associamos esta pedra à parte holística da nossa família e à filosofia do nosso trabalho agrícola”, desenvolveu o enólogo. As castas plantadas pelo avô António — Castelão, Alicante Bouschet, Aragonez e Cabernet Sauvignon — vinificaram em lagares antigos com pisa tradicional, e estagiaram durante 42 meses em barricas de carvalho francês.

Quase 30 tintos da Península de Setúbal foram aqui provados e confrontados, e, a par da tipicidade de cada um e das diferentes origens, há um denominador comum à maioria: são tintos complexos, estruturados e acima de tudo muito harmoniosos e suculentos, com o poder de nos deixar a pedir… “mais tinto, por favor”.

(Artigo publicado na edição de Outubro 2021)[/vc_column_text][vc_column_text]

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Lisboa é nome de (muito bom) tinto

Grande Prova Tintos Lisboa

Bastaria o nome para, a nível internacional, Lisboa ser a zona vitivinícola mais inequivocamente associada a Portugal. Juntando a isso, na última década e meia, os vinhos de Lisboa criaram um modelo de negócio de enorme sucesso, assente em bons vinhos a bom preço, transformando a região na maior exportadora relativa do país (vinho do […]

Bastaria o nome para, a nível internacional, Lisboa ser a zona vitivinícola mais inequivocamente associada a Portugal. Juntando a isso, na última década e meia, os vinhos de Lisboa criaram um modelo de negócio de enorme sucesso, assente em bons vinhos a bom preço, transformando a região na maior exportadora relativa do país (vinho do Porto à parte). Mas Lisboa é bem mais do que isso. Diversidade de solos, castas e clima associam-se ao factor humano para fazer nascer vinhos de primeira grandeza. Como é o caso dos tintos que provámos.

Texto: Valéria Zeferino e Luís Antunes

Notas de Prova: Luís Antunes

 A região de Lisboa começa a partir da capital e estende-se quase 140 km para Norte até Pombal. Em toda a sua extensão é delimitada pelo oceano Atlântico, ocupando em largura entre 20 e 40 km. Pela posição geográfica, a influência Atlântica é a principal “feature” da região, perdendo ligeiramente a sua força à medida que se afasta da orla marítima.

O clima apresenta características da transição entre o Atlântico e o Mediterrânico.  A Serra de Montejunto situada a cerca de 20 km da costa Atlântica, com orientação Noroeste-Sudeste, marca a divisão em parte norte e sul da região, impedindo a progressão das massas de ar marítima. A Noroeste as massas de ar húmido e frio, provenientes do oceano contribuem para a formação de densas neblinas; a Sudeste, ao abrigo dos ventos, com maior exposição solar e menos precipitação, as condições são mais quentes e secas. Até o tipo de vegetação muda de semelhante à da Europa Central para o coberto vegetal mais esparso e rasteiro típico do Mediterrânio.

Os níveis de humidade variam em função da proximidade do mar e orografia. Assim, o clima em Óbidos e Encostas d’Aire é considerado húmido; em Bucelas, Carcavelos, Colares e Torres Vedras – sub-húmido chuvoso; e em Alenquer e Arruda – sub-húmido seco, sendo esta uma zona de tintos por excelência.

Os solos ao longo da região também apresentam grande variedade. A Norte, as vinhas estão assentes no maciço calcário ao longo das encostas das serras de Sicó, Aire e Candeeiros, onde o terreno é formado por ondulações relativamente suaves. Nos vales, assim formados, os solos são bastante mais férteis. Mais a Sul, na zona de Bombarral, Cadaval e Caldas de Rainha variam de calcários aos argilo-calcários. Na zona litoral à volta de Óbidos, Peniche, Lourinhã, encontram-se arenitos, argilas e margas de elevada fertilidade. Em Alenquer e Arruda os solos são predominantemente argilo-calcários e em Bucelas derivados de margas e calcários duros. Carcavelos está assente em solos de formação calcárea e não podemos esquecer o famoso chão de areia de Colares. Assim, olhando para a localização da propriedade é relativamente fácil fazer a leitura das condições climatéricas que acompanham o ciclo vegetativo.

Tiago Correia, da equipa de enologia da Quinta do Gradil, localizada a 18 km do mar no lado norte do sopé da Serra de Montejunto, conta que de manhã há sempre humidade, que desaparece durante o dia. Em comparação, na Quinta do Rol, em Lourinhã ou em São Mamede da Ventosa a cerca de 8 km do mar, há dias de verão em que o sol não aparece.

Sandra Tavares da Silva, responsável pela enologia do projecto familiar na Quinta da Chocapalha em Alenquer (do outro lado da Serra de Montejunto) refere que naquela zona a influência Atlântica nota-se, mas não é “cáustica”. No verão, pode-se falar da clássica brisa marítima suave que até às 10h da manhã faz desaparecer as orvalhadas matinais.

A história é diferente em Torres Vedras, com exposição quase directa ao Atlântico. Os dias de amadurecimento das uvas são mais amenos e nas noites sente-se a frescura marítima. O enólogo da Adega Mãe, Diogo Lopes, nota a diferença em temperatura, por exemplo, desde a saída de Lisboa, com 30˚C, até chegar à adega já com 22-23˚C. É por isso que, para a produção de vinhos tintos, a Adega Mãe explora a Quinta de Dom Carlos em Alenquer.

Grande Prova tintos LisboaVinhas e castas

 Segundo os dados do Instituto da Vinha e do Vinho, a área de vinha da região de Lisboa ocupa 17 989 ha e, pela informação da CVR Lisboa, 10 000 ha correspondem à vinha certificada, apta a produzir uvas para vinhos DO e IG. Este valor mantém-se estável, mas com tendência para crescer, sendo a Região de Lisboa uma das que mais candidaturas tem apresentado para a plantação de novas vinhas. Estes 10 mil hectares são explorados por 2 mil viticultores o que dá uma área média por viticultor de 5 hectares, muito superior à média nacional.

O vinho tinto predomina na região com 75%, deixando 20% para branco e 5% para rosé. Em termos de diversidade varietal, se desconsiderar a Caladoc, utilizada maoiritariamente para vinhos sem denominação de origem, as castas com maior expressão são Castelão, Syrah, Aragonez/Tinta Roriz, Alicante Bouschet e Touriga Nacional. Sandra Tavares da Silva não hesita em afirmar que a Castelão sempre foi aposta da Quinta da Cocapalha, mas é preciso ter paciência. Está numa parcela virada à norte, produzindo vinhos com menos densidade e mais frescura.

Diogo Lopes confessa que hoje dá mais atenção a Castelão do que no início do projecto Adega Mãe. Gosta da sua acidez franca e fruta vermelha. Em parcelas certas com boa exposição e tendo em conta as alterações climáticas é uma opção interessante. Deve-se é evitar a tentação de extrair demais, procurando a sua originalidade e elegância.

Tiago Correia adianta que, no caso de Castelão, é preciso saber trabalhar com os clones certos.

A Tinta Roriz mostra-se bastante bem, mas nem todos os anos. “Dá grandes alegrias, mas também anos com dificuldade de amadurecer; mas é muito boa nos rosés”, – diz Tiago; e Sandra Tavares refere que a casta é extremamente sensível ao stress hídrico, mas em solos argilo-calcários profundos, virada a poente, consegue maturação suave e longa.

Com Alicante Bouschet conseguem-se bons resultados, mas, segundo Tiago Correia, precisa de gestão de produção muito cuidada, começando pela poda de inverno curta para controlar a rebentação, desladroamento a tempo, e monda de cachos ao pintor, se for preciso. A partir dos 8-9 toneladas perde completamente a identidade, acrescenta. No que toca a Touriga Nacional, é fácil de reconhecer o seu carácter, com descritores aromáticos bem presentes, mas às vezes pode faltar-lhe a maturação fenólica e corpo; não é homogénea, conclui Tiago.

Já Sandra Tavares gosta muito da sua experiência com Touriga Nacional, cujas varas trouxeram de Nelas. Dá vinhos com boa concentração, frescura e densidade. Surpreendentemente bem, deu-se na zona de Alenquer, a Touriga Franca. Foi difícil encontrar solos certos, pois fica melhor em terrenos mais pobres e com inclinação. Também é mais sensível à humidade, precisa de zonas bem arejadas e controlo do vigor. Mas segundo Sandra, o resultado vale a pena o esforço.

Já a variedade Ramisco, não tendo muita expressão em termos da área plantada, tem a sua importância, porque não existe em mais lado nenhum do país e no binómio com Colares origina vinhos de carácter único que ultimamente estão a gozar um merecido renascimento.

Algumas castas estrangeiras são populares na região a contribuir para uma diversidade de estilos, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot. A experiência com Tannat na Quinta do Gradil é um caso de sucesso. O Pinot Noir também aparece na região e consegue amadurecer de forma equilibrada em zonas onde, normalmente, são plantadas castas brancas.

Grande Prova tintos LisboaDe Lisboa para o mundo

 Segundo a informação da CVR Lisboa, as vendas anuais da região rondam os 65 milhões de garrafas. Este valor duplicou nos últimos 5 anos, sendo esta a região que mais cresceu neste período em termos absolutos. Em volume de vendas, é actualmente a 4ª maior região depois de Alentejo, Vinho Verde e Douro (sem Porto). Em 2020 o crescimento em vendas representou 17% (cerca de mais 10 milhões de garrafas). Nos vinhos não licorosos, Lisboa representa 14% das vendas totais de vinhos certificados, por comparação com o Alentejo, que detém cerca de 22%.

Mas o mais impressionante é que 80% do total de vendas da região de Lisboa corresponde à exportação para cerca de 100 destinos. Tirando o Vinho do Porto, é a região que mais exporta em percentagem do total das suas vendas. Nos últimos 5 anos, Lisboa foi responsável por 33% do crescimento das exportações de vinhos certificados ou seja, olhando apenas para o volume adicional das exportações nestes 5 anos, 1 em 3 garrafas exportadas foi de Lisboa. E para onde vai todo este vinho? Dentro da União Europeia, os principais mercados são Polónia e Países Escandinavos. No resto do mundo avultam os Estados Unidos, Rússia, Canadá, Brasil e Austrália.

Os grandes tintos de Lisboa

Em prova, a região mostra uma grande vitalidade neste segmento de topo, aparecendo vinhos de grande qualidade e também de preços altos. Os preços altos são um pau de dois gumes, se nós consumidores preferimos galinha gorda por pouco dinheiro, os produtores precisam de receitas e boas margens para assegurar a sustentabilidade dos seus projectos, e os preços altos são sempre indicador de sucesso e prestígio. Para uma região andar para a frente, é sempre preciso haver vinhos icónicos que lideram e fazem subir a ambição geral. Impressiona ainda a grande variedade de estilos, de castas, de combinações. Temos de ter em atenção que mudar uma vinha é sempre um projecto a longo prazo. Constatamos assim que estas apostas começaram já há muito tempo, e temos agora o resultado dessa experimentação na vinha, a que se segue experimentação na adega, e finalmente a adesão do público que pode ou não validar as apostas. Vemos assim castas trazidas do Douro e do Alentejo, outras de França, pensamos que numa tentativa (conseguida!) de recuperar algum do atraso que Lisboa leva junto da opinião pública, em relação a outras regiões mais populares. Vemos ainda uma gama variada de estilos, desde vinhos mais frescos e leves a vinhos mais concentrados, desde vinhos mais pálidos a vinhos totalmente opacos. Nota-se igualmente um pouco de indefinição de estilo, dentro de alguns produtores, com tintos de Castelão de cor estranhamente carregada, ou vinhos atlânticos com algum peso alcoólico, ou ainda vinhos com alguma idade que já terão passado os melhores dias. Ainda do lado da diversidade de estilo, aqui com traços bem positivos, vemos vinhos extremamente bem desenhados, por exemplo baseados em Syrah mas não só, com apelo e sedução imediatos, vemos o renascimento da Ramisco como uma grande casta com carácter saudoso único, a ser finalmente feito com enologia moderna que lhe dá afabilidade sem desvirtuar esse carácter, vemos ainda vinhos que já venceram a prova do tempo, com enorme qualidade e encanto, mas que se apresentam ainda prontos para durar muitos anos mais.

E nas recomendações gastronómicas que acompanham por vezes as notas de prova, vemos que estes vinhos são versáteis e amigos da mesa. Há excelência nos tintos de Lisboa, há belíssimas relações qualidade-preço, há a história de uma região com história, que agora se agrupa em torno de um nome, sem esquecer o seu passado se aponta para o futuro. Bravo!

(Artigo publicado na edição de Agosto 2021)[/vc_column_text][vc_column_text]

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Tintos do Douro, A perfeição cada vez mais perto

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TEXTO: Nuno de Oliveira Garcia
FOTOS: Ricardo Palma Veiga

O consumidor atento sabe bem que o Douro é uma das regiões com mais prestígio no mercado, sobretudo quando falamos de tintos. A fama (mais do que merecida) do Vinho do Porto ajuda a essa percepção e, desde a segunda metade dos anos 90, a região encetou um movimento de criação de valor aos vinhos DOC. Actualmente, e falando ainda de DOC, é uma região pujante, quer ao nível dos números de produtores, quer ao nível da qualidade dos vinhos.
Trata-se de uma região grande em dimensão, com uma área de vinha de mais de 42.000 hectares (metade só no Cima Corgo), mas a produção por hectare é muito baixa se comparada com outras regiões. Em 2017, e apenas quanto a vinhos certificados, depois do Alentejo, Minho e Península de Setúbal, a região do Douro é quem mais vende em Portugal, com uma quota de mercado de 4,8%. As projeções para 2018 são de crescimento, para uma quota de 5,5%. O nível de crescimento nos últimos anos é importante, sendo a região apenas suplantada em 2018 pela Península de Setúbal como aquela que mais cresceu em relação a anos anteriores.
Mas mais ainda do que o volume que produz e vende, o Douro é uma região com valor, com um número de vinhos premium e super-premium absolutamente avassalador (como as dezenas de tintos provados neste painel atestam). Aliás, no que respeita a vendas em euros, é a segunda região do país e aquela que regista a subida mais acentuada nos últimos anos. E no que respeita ao preço médio por litro, tirando os casos muito específicos do Algarve (devido ao consumo turístico local) e das Terras de Cister (centrado nos espumantes de Távora-Varosa), é o Douro que reina.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”33139″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Buscar a diferença” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Com tanto sucesso, o desafio do Douro é outro que não apenas a liderança dos números: é buscar diferenciação face a outras regiões e com estilos diferentes dentro da região. No primeiro caso, e dada a existência de significativa área de vinha velha com dezenas de castas autóctones misturadas, bem como a quase exclusão de castas estrangeiras (excepção de Syrah e Alicante Bouschet, esta última, todavia, presente em alguns vinhedos antigos), a diferenciação está relativamente assegurada.
Quanto ao segundo aspecto, os anos 1990 e início do novo milénio apontaram para um perfil quase generalizado da região, centrado em tintos com fruto muito maduro e de recorte encorpado. No que respeitava a topos de gama, a essas características caberia adicionar o uso de barrica (quase sempre maioritariamente) nova e alguma tendência para elevados teores alcoólicos.
Atualmente a situação é bem diferente, como demonstra a nossa prova, onde os vinhos das colheitas mais recentes de 2015 e 2016 confirmam que estamos a viver um momento pivot, uma verdadeira mudança de paradigma, aspeto para o qual João Paulo Martins já tinha salientado na prova de topos de gama do ano passado (edição de novembro de 2017). Para tal, foi crucial a verificação de dois movimentos convergentes: por um lado, vários foram os produtores que passaram a procurar um estilo mais aberto e vivo, menos centrado no fruto maduro e no álcool quase sempre por imposição do mercado (vindimando mais cedo e fugindo da obsessão pela maturação fenólica); por outro lado, novos produtores e enólogos (muitos deles jovens) apareceram na região, e sentiram a necessidade de desenvolver estilos de tintos menos padronizados, procurando distinguir-se dos restantes, ora evitando barrica nova, ora procurando uvas em altitude e/ou com exposição que garantisse menor risco de sobrematuração.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” bg_color=”#e2e2e2″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Rolhas de topo” color=”black”][vc_column_text]Ao contrário do que sucedera na grande prova de vinhos topo de gama do Douro realizada em 2017, praticamente não tivemos problemas de rolha nesta prova. Apenas um caso de desclassificação foi taxativamente qualificado como tendo TCA, e em apenas duas outras situações foi necessário provar uma segunda garrafa para despistar problemas de rolha (não necessariamente de TCA). Tendo em consideração as várias dezenas de vinhos provados, e em comparação com outras provas menos recentes, é de notar este registo muito positivo. Os mais inovadores procedimentos de tratamento e/ou avaliação rolha a rolha poderão estar já a dar os seus frutos…[/vc_column_text][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”extra-color-1″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][vc_custom_heading text=”2016, ano de frescura e elegância” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Acresce ainda um significativo investimento estrangeiro (vindo de países como Alemanha, Angola, Brasil ou França), que tem ajudado a uma renovação mais rápida ao nível do perfil dos vinhos. Tintos provenientes dos projetos Xisto e Chryseia, ou das propriedades Quinta da Romaneira, Quinta do Pessegueiro (sobretudo nas primeiras edições) ou ainda Quinta Maria Izabel, todos resultados de maior ou menor investimento transfronteiriço, mostram alguma apetência por registos mais em elegância do que em músculo.
Por fim, e no que respeita à colheita de 2016, tratou-se de um ano climatericamente mais moderado do que o habitual, com poucas oscilações e raros picos de calor. Tal significou um ciclo tardio na maturação das uvas e permitiu o raro fenómeno de a fruta ter atingido a maturação fenólica mantendo acidez elevada e um grau alcoólico relativamente baixo para a média habitual da região. Por isso, os vinhos de 2016 revelam um equilíbrio absolutamente ímpar e uma prova de boca mais fresca e menos larga do que o normal, conservando-se a potência e profundidade comuns nos grandes tintos da região.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”33138″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Isso mesmo foi-nos confirmado pelo enólogo e produtor Jorge Serôdio Borges (Wine & Soul, Quinta do Passadouro e Maritávora), para quem o ano de 2016 foi muito específico, posto que “o ciclo muito longo e um ano muito ameno proporcionaram vinhos que não precisaram de ser vindimados cedo para se manterem frescos e com boa acidez; isso fez toda a diferença”. O enólogo e também produtor Jorge Moreira (Poeira, Real Companhia Velha e Passagem) concorda e confirma que 2016 foi muito diferente de 2015. “Em regra, os 2015 são mais encorpados e têm uma fruta muito bonita e profunda, resultante de um ano quente, enquanto os 2016 são mais frescos e elegantes”, diz-nos.
Curiosamente, confrontámos este último profissional com a circunstância de dois dos seus vinhos presentes no painel parecerem contradizer a matriz dos anos, pois o Poeira 2015 revela-se fresco e elegante e o Carvalhas Vinhas Velhas de 2016 mostra-se cheio e potente. “Nesse caso, a justificação é o terroir, pois enquanto a vinha da Quinta do Poeira tem muita sombra e é virada a norte, as vinhas velhas das Carvalhas tem bastante exposição solar todo o dia e proporcionam sempre vinhos de grande concentração”, confessa-nos. Ou seja, afinal o terroir ainda é o mais importante…
Por isso mesmo, reforçamos, nas várias dezenas de vinhos provados foram visíveis diferentes registos, resultantes da localização das propriedades (por exemplo o Baixo Corgo é, em regra, mais chuvoso e fresco do que o Cima Corgo e este mais fresco e chuvoso do que o Douro Superior,) ou mesmo resultantes do preciso posicionamento das vinhas dentro das próprias propriedades (cotas mais altas perante mais baixas, por exemplo, ou consoante a exposição a sul e poente, as mais quentes, ou a norte e a nascente, as mais frescas). Em suma, é um puzzle complexo que significa, no final do dia, a riqueza de uma região que se diversifica a cada ano que passa e que, mais importante ainda, tem na diversidade de estilos mais um caminho para um sucesso que, tendo já sido alcançado, teima em ser superado.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Em Prova” title_align=”separator_align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][vc_column_text]

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº20, Dezembro 2018

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Alentejo, terra de grandes tintos

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Provámos quase quarenta vinhos e os resultados confirmaram o que já sabíamos: a região gera grandes tintos e eles vêm de zonas tão distintas quanto Beja ou a serra de São Mamede. O actual Alentejo, que é […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Provámos quase quarenta vinhos e os resultados confirmaram o que já sabíamos: a região gera grandes tintos e eles vêm de zonas tão distintas quanto Beja ou a serra de São Mamede. O actual Alentejo, que é muito mais diverso do que se poderia imaginar, já pouco tributário é das castas de antigamente, mas há quem teime no regresso à tradição. Tudo isto com alterações climáticas pelo meio.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga

Os vinhos alentejanos continuam a ter a preferência dos consumidores nacionais. A palavra Alentejo soa, a muitos enófilos, como vinho de qualidade, encorpado, macio e fácil de beber, que se consegue consumir jovem, sem ter de esperar muito por ele. Só vantagens, em época em que tudo se faz no momento e a paciência da espera é coisa do passado. Os tintos são ainda hoje a principal produção da região. É que, dos cerca de 21.300 hectares plantados e aptos à produção de vinho com Denominação de Origem ou Indicação Geográfica (dados de 2017), cerca de 16.500 estão ocupados pelas castas tintas, com a restante área reservada a brancos.
As castas plantadas têm importância muito diversa e não são usadas da mesma forma para todos os lotes de vinho. Assim, apesar da importância crescente da Alicante Bouschet nos grandes vinhos da região (ver caixa), ela está muito longe de ser actualmente a casta mais plantada; esse lugar pertence, com grande destaque, à Aragonez e, de seguida, à Trincadeira, ou seja, as castas tradicionais da região ainda são as mais plantadas, ocupando um pouco mais de 44% da área de vinha. A própria tinta Castelão, actualmente arredada da primeira fila quando o assunto são os grandes vinhos, ainda tem uma presença muito forte, com mais de 1000 hectares plantados.
Temos assim dois tipos de Alentejo, o das marcas de referência, dos vinhos que fazem os consumidores falar, dos que são cobiçados e caros e que, há que não esquecer, dão nome e prestígio à região; e, depois temos o Alentejo dos tintos genéricos, que estão abundantemente presentes nas grandes superfícies, dos vinhos abordáveis, baratos e bem-feitos e que alegram as refeições e animam as mesas. No primeiro grupo vamos, como se imagina, incluir também a Syrah e a Touriga Nacional e, de forma mais marginal, a Cabernet Sauvignon (que ainda ultrapassa os 800ha), com uns “temperos” de Alfrocheiro e Touriga Franca.
De 2015 para 2017 a Touriga Nacional ultrapassou a Castelão em área de vinha, a Alicante Bouschet foi a que mais cresceu e a Trincadeira a que mais diminuiu de área. A Touriga Nacional, lembra Luís Cabral de Almeida, enólogo da Herdade do Peso, “como tem um ciclo longo e confere boa frescura aos vinhos pode ser um bom complemento para as castas que formam o núcleo duro, a Alicante Bouschet e a Syrah. Mas nos vinhos há vários Alicante Bouschet e não apenas um e isso ficou para mim bem claro quando tomei agora contacto com as vinhas da serra de São Mamede: feitos da mesma maneira obtiveram-se dois vinhos de Alicante completamente distintos”, disse.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32597″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Este é o novo Alentejo, aquele com que se pretende projectar a região como geradora de vinhos de referência, em Portugal e no estrangeiro. A preferência dos consumidores é clara, já que cerca de 40% do que se consome entre nós tem origem no Alentejo. No entanto, se falarmos com responsáveis de garrafeiras, verificamos que no Norte há um menor interesse nos tintos do Alentejo, exceptuando-se as marcas mais clássicas. Ivone Ribeiro (Garage Wines) diz-nos que que o que mais vende é Douro e em seguida os tintos do Dão, Alentejo muito pouco. Na Garrafeira Tio Pepe, também no Porto, a quebra tem sido significativa, uma vez que “em 1995, por exemplo, era a região que tinha mais procura mas de então para cá tem vindo a decair embora se note o interesse por especialidades, coisas originais, vinhos de talha”. “Só nesta época do Natal e por via de encomendas de empresas para prendas natalícias é que o negócio dos tintos alentejanos anima um pouco”, confirmou Luís Cândido, o proprietário. Uma situação completamente diferente da que encontramos no centro e sul do país, e sobretudo na região da Grande Lisboa, tradicionalmente um excelente mercado para os vinhos alentejanos.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Há mais do que um Alentejo” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]O consumo interno absorve a grande fatia da produção mas a exportação tem-se diversificado – abrange 118 países –, apesar de estar assente sobretudo em três mercados: Angola, Brasil e Estados Unidos. Fica a pergunta: que Alentejo queremos promover, que estilo queremos privilegiar? Para Paulo Laureano, enólogo e produtor, o Alentejo precisa de se mostrar como realmente é: uma manta de retalhos (sic), uma região muito diversa mas onde as diferenças não são suficientemente explicadas aos consumidores. “Até na zona da Vidigueira, que é a que conheço melhor, há diferenças enormes, logo a começar nos solos e exposições e a zona mais perto da fronteira com Espanha tem muito pouco a ver com a zona mais a oeste, mais marcada pela influência atlântica”, especifica.
É esta ideia de diversidade que poderia eventualmente levar a uma nova reorganização das sub-regiões do Alentejo, mas a CVR diz-nos que não estão para já em cima da mesa decisões nesse campo, apesar de haver debate no âmbito do Conselho Geral, a entidade que pode mudar o estado das coisas no que respeita ao desenho das regiões com direito a Denominação de Origem (DO). O consumidor depara-se com muito mais frequência com vinhos que têm a indicação Regional Alentejano do que com vinhos DOC Alentejo. [/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][image_with_animation image_url=”32599″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” bg_color=”#e2e2e2″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”A marca do Alicante Bouschet” color=”black”][vc_column_text]Avaliando as castas que integraram os vinhos provados, ressalta uma evidência: a crescente importância da casta Alicante Bouschet nos vinhos do Alentejo. Dir-se-ia que começa a ser difícil pensar-se num grande tinto do Alentejo que não a tenha no lote. Com frequência, com a companhia da Syrah e Touriga Nacional. Esta situação é relativamente nova na região, já que há 30 anos a Alicante Bouschet apenas tinha posição predominante em duas propriedades, a Quinta do Carmo e a Herdade do Mouchão. Houve uma enorme renovação dos vinhedos e os produtores descobriram na Alicante a casta que lhes confere consistência aos vinhos, uma vez que produz quase sempre bem e pode ter expressões diferentes conforme o local onde está plantada. Quer Paulo Laureano quer Luís Cabral de Almeida, ambos enólogos na região, apontam-lhe imensas virtudes, mas reconhecem que o Alicante Bouschet da serra de São Mamede nada tem a ver com o da Vidigueira, por exemplo. Mas Luís não tem dúvidas em afirmar que “o Alicante Bouschet está para o Alentejo tal como o Malbec está para Mendoza, na Argentina”, querendo com isto salientar que pode ser a espinha dorsal dos tintos da região. Mas a procura de novas castas por parte de alguns produtores continua e recentemente a CVR Alentejo aprovou, com o acordo do IVV, o pedido de reconhecimento para certificação de 14 castas novas onde, em tintas, se incluem Cabernet Franc, Carmenère, Camarate, Monvedro, Vinhão e Marselan. Entre tintas e brancas, estamos a falar de 100 hectares destas novas variedades para a região.[/vc_column_text][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”extra-color-1″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Há mais do que um Alentejo” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Durante muito tempo isto decorreu das limitações geográficas que existiam para que um vinho tivesse direito à DO, mas, e ainda segundo a CVR Alentejana, actualmente cerca de 73% da área de vinha está inserida nas oito regiões que têm direito à DO Alentejo. A realidade encarrega-se de baralhar estes dados, já que a maioria dos vinhos comercializados são Regional Alentejano.
O grande desafio para o futuro pode assentar em dois pilares: manter e mesmo acentuar a diversidade dos vinhos, conseguindo-se que eles espelhem as diversas zonas onde nascem e, em segundo lugar, perceber que as alterações climáticas nos poderão fazer regressar a variedades que, sendo antigas e fora de moda, mostraram ao longo do tempo uma boa adaptação à região, como a Tinta Grossa, a mal-amada Trincadeira, a Moreto, entre outras tintas; ou a Perrum, nos brancos.
O Alentejo, como alguém me dizia, não pode estar satisfeito por estar a servir cachorros quentes e ter uma grande fila de gente para os comprar; com o tempo, os consumidores enjoam-se de cachorros quentes e depois querem outras coisas e a região tem de estar preparada para diversificar, mudar o que for para mudar e não se dar por satisfeita. Costuma dizer-se que o Alentejo está na moda, mas, como lembra Laureano, “estar na moda é, no sector dos vinhos, um conceito muito perigoso”: “Estar permanentemente a optar por castas que geram vinhos fáceis mas sem história pode ser um caminho, mas para mim é para evitar.”
O Alentejo é um mundo, portanto, em diversidade, qualidade, preço. É líder nos vinhos de volume, como se sabe. Mas também no segmento superior do mercado, nos tintos de nicho, como ficou demonstrado na nossa prova, a região mostra dar muito boa conta de si.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32600″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Em Prova” title_align=”separator_align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][vc_column_text]

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº19, Novembro 2018

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Tintos do Dão: Carácter e elegância de uma região histórica

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A região que este ano celebrou 110 anos desde a sua demarcação já foi líder de mercado, quase caiu quase no esquecimento e agora está a renascer com força, novas ideias, produtores e marcas, mas baseando-se na […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A região que este ano celebrou 110 anos desde a sua demarcação já foi líder de mercado, quase caiu quase no esquecimento e agora está a renascer com força, novas ideias, produtores e marcas, mas baseando-se na tradição de sempre, mantendo os seus valores, a sua personalidade e a sua riqueza vitivinícola.

TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Ricardo Palma Veiga

A produção de vinho no Dão é milenar, e os vestígios arqueológicos, como as lagaretas encontradas em vários sítios da região, são testemunhos disto. A filoxera, um temido e imparável insecto que destrói a raiz da vinha, veio parar a Portugal com as videiras americanas em 1867. Para além de dizimar os vinhedos no Douro e a seguir no Dão, originou ainda outro problema que no início até não parecia problemático de todo. Portugal (como também Espanha, Itália e Hungria) tornou-se num dos principais fornecedores de vinhos para famosas regiões francesas, onde a filoxera tinha chegado mais cedo, e os estragos eram substancialmente maiores.
Esta conjuntura comercial impulsionou um enorme desenvolvimento na plantação das vinhas nas regiões, como o Dão e a Bairrada, na década de 80 do século XIX. Em 1882 foi até estabelecida a isenção da contribuição predial de dez anos para a plantação da vinha, e cinco anos para a replantação. Isto levou a que propriedades que cultivavam cereais passassem ao cultivo da vinha sem peso nem medida. As plantações invadiram os terrenos mais férteis e os volumes de produção dispararam.
Por volta de 1900, França deixou de ser o mercado preferencial de exportação, devido ao aumento de produção própria e ao facto de ter encontrado novos fornecedores de vinhos mais baratos, como a Argélia, por exemplo. A procura interna não era suficiente para escoar todo o vinho produzido – uma consequência da crise de abundância.
A conjuntura em Portugal também não era fácil. A vizinha região do Douro sempre teve mais privilégios a nível legislativo, e ao mesmo tempo começou a sentir-se a invasão dos vinhos do Sul (das actuais regiões de Tejo e Lisboa), que sofreram menos com oídio e filoxera e eram significativamente mais baratos.
A necessidade de demarcação da região tornou-se óbvia, o que acabou por acontecer em 1908. Poucos meses antes da queda da monarquia, em 1910, era aprovado o regulamento de produção e comercialização dos vinhos de mesa (chamados à época “vinhos de pasto”) da região do Dão.
Na altura do Estado Novo, o objetivo do Governo era criar cadeias de produção. Como o vinho era considerado um produto agrícola de importância, teriam que ser garantidas condições para que fosse produzido de uma forma estável e na quantidade necessária.
No Dão, sempre dominou o minifúndio. Um patchwork de parcelas minúsculas de cerca de 0,5ha, retalhadas entre florestas, faz 90% de vinha na região. Muitos agricultores que plantavam vinha não tinham capacidade de produzir vinho, nem de vendê-lo. As adegas cooperativas providenciaram equipamento e asseguraram a comercialização do produto acabado. A questão de competitividade não se colocava.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”31998″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A maior parte dos produtores entregava uvas a adegas cooperativas, mas também existiam diversas casas proprietárias de vinhedos que produziam vinho e vendiam a granel para as grandes marcas. A Casa da Ínsua, a Casa da Passarella ou a Casa Santos Costa, por exemplo, produziam vinho desde finais do século XIX e eram famosas junto dos principais engarrafadores. Os responsáveis pela criação das marcas nos anos 60 foram empresas na época chamadas “armazenistas” (correspondendo ao que em França se designa por “negociant”) e que compravam vinho aos pequenos produtores e às adegas cooperativas, engarrafando-o e comercializando-o sob a sua insígnia.
As Caves São João, um dos grandes negociantes em Portugal à data, lançou assim Porta dos Cavaleiros, a seguir ao bairradino Frei João. A Sogrape, que alargou as suas operações para o Dão em 1957, produzia um Dão Reserva conhecido como Dão Pipas e lançou a marca emblemática Grão Vasco, que teve um enorme sucesso. Tal como o Meia Encosta, da Sociedade dos Vinhos Borges, lançado em 1970, ou o Terras Altas, da José Maria da Fonseca.
O próprio Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, liderado pelo engenheiro agrónomo Cardoso Vilhena, que andava a explorar as potencialidades das castas da região, fez vinhos lendários, como os de 1963, 1970, 1975, 1980 e 1983.
O meu sogro costumava dizer “O vinho é do Norte” e para ele existiam só duas regiões – Douro e Dão. Era um consumidor fiel e acredito que muita gente da geração dele assim o era. Mas as gerações mais novas não partilharam desta lealdade e nas décadas 80 e 90 o Dão deparou-se novamente com ampla concorrência dos vinhos de mesa de outras regiões do país.
O Douro apostou em força nos vinhos de mesa, mas Alentejo e Setúbal também apareceram com vinhos em grande quantidade e de qualidade que os produtores do Dão não estavam a conseguir acompanhar. O consumidor virou-se para outras regiões, deixando ao Dão o desafio de se reinventar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Na viragem do século” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Os anos 90 assinalaram grandes mudanças na região. Começaram a aparecer os produtores de quinta com vinhos de excelência (Quinta dos Roques, Quinta da Pellada, Quinta dos Carvalhais, foram os que mais se destacaram na época) e até os negociantes investiram na vinha. Segundo o presidente da CVR do Dão, Arlindo Cunha, a partir de 2005 fez-se sentir a inversão do paradigma. Agora, a pouco e pouco, o consumidor vai (re)descobrindo os vinhos do Dão, começando pelos brancos.
Entretanto, as principais características orográficas da região não mudaram: as montanhas, os rios e os solos continuam a formar o seu terroir de excelência. O que realmente melhorou, no ponto de vista de Arlindo Cunha, é a parte da viticultura: restruturaram-se as vinhas, começaram a plantar em zonas mais secas e mais altas, com melhores condições para produção de vinhos de qualidade. Vieram à região muitos jovens profissionais: enólogos, viticultores e produtores dinâmicos. “Nos últimos cinco anos a produção dos vinhos DO Dão e IG Terras do Dão aumentou 47%”, frisa o presidente da CVR.
O enólogo Manuel Vieira lembra-se do seu início de trabalho na Sogrape, sendo responsável pela Quinta dos Carvalhais. Refere que em 1990, na sua primeira vindima, “as ideias eram muito indefinidas; as castas não eram pensadas”.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”20″][image_with_animation image_url=”31999″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” equal_height=”yes” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Na altura começaram a aprender sobre as castas em colaboração com o Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas, que estava a desenvolver um grande trabalho neste sentido. “Era importante perceber o que era o Dão e comunicar isto ao consumidor.”
Mais ainda há muito trabalho pela frente, diz Manuel Vieira, pois a região continua a ser “reconhecida pela elite e desconhecida pelo consumidor comum”.
O potencial da região confirma-se também pelo interesse que o Dão tem vindo a despertar em produtores de outras zonas vitivinícolas, sobretudo do Douro. O Grupo Amorim, proprietário da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, adquiriu recentemente a Quinta da Taboadella com adega e cerca de 40 hectares de vinhas a 500 metros de altitude. O projecto da Niepoort no Dão avançou em 2012. O trio de conceituados enólogos do Douro – Jorge Moreira (Poeira), Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão) e Jorge Borges (Wine&Soul) – lançou-se num projecto conjunto que resultou em vinhos M.O.B., produzidos na Quinta do Corujão. Jorge Moreira explica que escolheram o Dão porque queriam fazer um projecto interessante e de excelência numa outra região, sem ser o Douro. O Dão pareceu-lhes desafiante neste sentido. Aqui conseguem-se boas maturações fenólicas com grau de álcool provável mais baixo, preservando a preciosa acidez, e os vinhos adquirem equilíbrio com menos extração.
Estas empresas e figuras incontornáveis no mundo vitivinícola português de certa forma atraíram as atenções dos enófilos para o potencial da região.
O enólogo e produtor Carlos Lucas aponta para a importância de, na viragem do século, terem “dado entrada projetos sólidos”, com novos produtos que aliaram “boa enologia e visão do mercado”. Julia Kemper, Quinta do Sobral, Casa da Passarella, Pedra Cancela, Caminhos Cruzados são alguns dos exemplos que aponta. “Fazem belos vinhos, adaptados ao mercado, sem perder a essência do Dão. O valor de base é muito importante, e o marketing não resolve tudo, porque é a qualidade que fideliza os consumidores. Mas ao acrescentar aqui bom marketing – temos uma grande região!”, diz o produtor.
Até Robert Parker através de Marc Squires, ultimamente tem conferido pontuações a nível de 93-95 aos vinhos do Dão, algo que há 10 anos era impensável.
O enólogo da Casa da Passarella, Paulo Nunes, observa que no início de 2000 os produtores do Dão sentiam-se tentados a apanhar a onda do Novo Mundo, com muita concentração, seguindo perfis de maior valorização no palco internacional. Isto criava uma certa incoerência com o perfil dos vinhos dos anos 60, quando o Dão era chamado “Borgonha de Portugal”. Na sua opinião, os produtores actualmente estão mais fiéis à região: “Estamos mais próximos dos anos 60 agora, em termos de perfis de vinho, do que estávamos na viragem do século.”[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”A grande Touriga Nacional
” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Segundo aos dados do IVV de 2017, a área total da vinha no Dão é de 14.837ha. Destes, cerca de 80% corresponde a castas tintas. Mesmo na fase de reconquista do consumidor, o Dão resistiu ao boom das castas internacionais que se deu um pouco em todas as regiões. Pelo contrário, apostou fortemente na preservação das suas castas tradicionais, tintas e brancas. Como diz Arlindo Cunha: “A principal mudança no Dão foi a continuidade!”
Não se pode falar no Dão sem pensar na Touriga Nacional, a uva identitária da região e que, tudo indica, ali teve origem. O percurso da Touriga Nacional tem algo melodramático. Lembram-se do conto de fadas da Cinderela, que era a filha querida do papá, mas que passados os anos de desprezo da sua madrasta e as filhas desta, tornou-se finalmente uma princesa? É praticamente história da casta. Antes da filoxera, a Touriga Nacional estava muito presente no encepamento regional e era bastante apreciada pelas suas qualidades aromáticas e corantes. No Estudo da Ampelografia Portuguesa de 1865 era de longe a casta mais plantada no Dão, seguida de Alvarelhão e Jaen. A filoxera deu cabo não só das vinhas, mas também da reputação dela, pois a nossa Cinderela não funcionou bem com os enxertos americanos, que era a medida mais eficiente para combater a devastadora praga.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”32002″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A expressão “muita parra e pouca uva” tornou-se num sinónimo da Touriga Nacional, cujo vigor vegetativo comprometia a produção.
O que é que representavam dois cachos pequenos de bagos pequenos (100-150 g) por pé para um viticultor que vendia as suas uvas às adegas cooperativas? Pouca remuneração, claro, pois pagava-se por quilo. Assim começou o desinteresse dos produtores e consequente diminuição de plantações. Os ensaios de Cardoso Vilhena no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão começaram por restabelecer a reputação qualitativa da casta. E o trabalho de seleção clonal, realizado a partir dos anos 80, resolveu o problema da escassez de produção, tornando-a de novo querida dos viticultores.
É uma autêntica trabalhadora nas vinhas, aguenta bem temperaturas elevadas, a sua película grossa protege os bagos do calor, contribuindo com grande nível de polifenóis e fornece muita matéria corante ao vinho. A casta é pouco sensível ao míldio e oídio. Também é resistente às chuvas de Outono.
É muito fiel a si própria. Segundo Paulo Nunes, com 12% ou com 14% continua a ser Touriga Nacional. Ela também se comporta muito bem na adega, moldável a diferentes tipos de vinificação e com elevada capacidade de envelhecimento, particularmente em madeira.
Dá excelentes vinhos monovarietais, evidenciando os seus aromas primários pronunciados, e acrescenta riqueza ao lote onde entra (se bem que às vezes puxa a primazia para si e é acusada de “ser muito Touriga Nacional”). É facilmente reconhecível pelo aroma e o consumidor geralmente gosta daquilo que lhe é familiar.
Gostos à parte, não podemos negar que a Touriga Nacional tem um papel fundamental, ao lado do Encruzado, na identidade da região. O Dão não é só Touriga, mas também o Dão não seria o mesmo sem ela. Em termos de plantação actual na região, corresponde a 22%, ocupando uma área de 3191ha.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32004″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_custom_heading text=”Além da Touriga” font_container=”tag:h6|text_align:left” google_fonts=”font_family:ABeeZee%3Aregular%2Citalic|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal”][vc_column_text]Há vida (e castas) além da Touriga Nacional. A Jaen, por exemplo. Casta ibérica, cultivada na região do Dão desde século XIX, na Ampelografia Portuguesa de 1865 já é uma das castas dominantes no concelho de Mangualde. Em 2008 passou a ser a casta com o maior encepamento no Dão, com 2484ha, e continua assim até aos dias de hoje, ocupando uma área de 3528ha, o que corresponde a 24% das plantações da região.
Em Portugal tem pouca expressão fora da região, mas em Espanha, com o nome de Mencia, é responsável pelos vinhos elegantes do Bierzo. O seu nome tem origem espanhola e supõe-se que os peregrinos dos Caminhos de Santiago a teriam trazido até nós. Produz muito, sobretudo em terrenos férteis, pelo que a produção tem que ser controlada para evitar vinhos acídulos e aguados. Apodrece com facilidade, o que obriga a evitar zonas mais húmidas. Mas também não gosta de muito calor e, segundo Paulo Nunes, “tem uma janela de vindima muito pequena, pois com 12% de álcool provável fica muito verde, com 14% muito queimada”. Plantada no sítio certo, origina vinhos com boa cor, delicados em termos de acidez e com aromas florais nos primeiros meses de vida, desenvolvendo fruta vermelha como morango e framboesa.
Quanto ao Alfrocheiro Preto, apareceu no Dão após a filoxera, não se sabe exactamente quando. Tem sinonímias nas terras espanholas, sendo chamada Bruñal em Arribez del Duero, Caiño Gordo na Galiza, Albarín Tinto nas Astúrias e Baboso Negro nas ilhas Canárias. Está disseminada por toda a região, é a quarta casta em termos de plantação, ocupando uma área de 896ha e representando 6% do encepamento. É uma casta precoce, sensível ao calor e ao stress hídrico. Enologicamente proporciona equilíbrio notável entre álcool, taninos e acidez. Produz vinhos de cor e aromas intensos de morango selvagem maduro e amora. Os vinhos geralmente têm bom corpo, taninos firmes, mas delicados. Estando prontos para beber jovens, também envelhecem bem ao longo de vários anos.
Finalmente, a Tinta Roriz. A casta ibérica mais conhecida internacionalmente e que assume nomes diferentes em cada região onde é plantada: Tempranillo em Rioja é o mais popular, Tinto Fino em Ribeira del Duero, Tinta de Toro em Castilla-La Mancha, Ull de Llebre em Catalunha, Cencibel em várias regiões. Pensa-se que foi trazida para Portugal antes da filoxera, entrou pelo Douro e desceu até ao Alentejo, onde se tornou uma das castas mais importantes, com o nome Aragonês. É talvez a mais recente “aquisição” do Dão, onde apareceu já no final do século passado devido ao reconhecimento das suas aptidões pelo Centro de Estudos de Nelas. Em 1983 existiam apenas dois hectares de Tinta Roriz, mas assinalou o maior crescimento na região, ficando em terceiro lugar em termos de área e ocupando agora 2756ha, o que dá 19% da plantação.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]É uma variedade que produz bem, dependendo do clone, clima e tipologia de solo. Facilmente atinge produções elevadas, o que a faz perder drasticamente a qualidade. Quando o ano vitícola corre bem e assegurando produções controladas, origina vinhos de boa cor, intensos, complexos aromaticamente e bem estruturados. Desenvolve aromas de ameixa e frutos silvestres, ganha complexidade com envelhecimento e tem aptidão para estágio em madeira.
Para além destas quatro principais castas tintas, o património vitivinícola do Dão é bastante grande. A Baga tem uma presença relevante, correspondendo a 5% do encepamento, e Rufete, também conhecido como Tinta Pinheira, corresponde a 3%. Alvarelhão e Bastardo eram as mais cultivadas castas tintas a seguir à Touriga Nacional na Ampelografia Portuguesa de 1865, agora encontram-se nas vinhas velhas ao lado de Tinto Cão, Trincadeira Preta (Tinta Amarela), Marufo (Mourisco), Malvasia Preta (Moreto), Cornifesto e muitas outras a salvaguardar o património vitivinícola da região.
Juntando estas castas, ao clima, aos solos, e aos profissionais cada vez mais competentes e empenhados, o Dão é, na verdade, uma região que nasceu para o vinho. O que o Dão precisa agora é de criar a diferenciação, comunicando bem as suas castas tradicionais, e afirmar-se dentro e fora de portas como região de produção de grandes vinhos com frescura, riqueza aromática e notável equilíbrio, Na realidade, já o é.
[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][image_with_animation image_url=”31996″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Nos últimos anos, também têm saído produtos de grande qualidade da região dos Vinhos Verdes, sobretudo a partir da casta Alvarinho, mas também Douro, Dão, Tejo ou Alentejo estão a produzir cada vem mais espumantes e com qualidade muito consistente. Agora é só erguer um flute ou copo ao alto (ou uma tacinha, como dantes de dizia) e… SAÚDE![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Em Prova” title_align=”separator_align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][vc_column_text]

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº18, Outubro 2018

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